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Polit. Public. Organz. Educ. Basica

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POLITICAS PUBLICAS E ORGANIZAÇÂO DA EDUCAÇÃO BASICA
AULA 01 >> A CRISE DO ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL >> Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo capitalista produziu duas tendências importantes. Por um lado, verificamos a expansão dos mercados, especialmente o mercado mundial de mercadorias, sob hegemonia e a pressão do mercado norte-americano. Por outro lado, foi o período de crescimento do Estado, de forma diferenciada, na Europa e no restante do mundo. A isto, na Europa Ocidental e na América do Norte, damos o nome de Estado de bem-estar social. Segundo Wood (2001:12), “o capitalismo é um sistema em que os bens e serviços, inclusive as necessidades mais básicas da vida, são produzidas para fins de troca lucrativa; em que até a capacidade humana de trabalho é uma mercadoria à venda no mercado; e em que todos os agentes econômicos dependem do mercado, os requisitos da competição e da maximização do lucro são as regras fundamentais da vida (...). Acima de tudo, é um sistema em que o grosso do trabalho da sociedade é feito por trabalhadores sem posses, obrigados a vender sua mão-de-obra por um salário, a fim de obter acesso aos meios de subsistência”. o Estado, deveria ser o motor propulsor do desenvolvimento e do bem estar social. "O Estado - leia-se governo - não poderia ficar paralisado sob a desculpa de que não tinha direito de intervir na economia do país". O Estado deveria tomar para si a responsabilidade de fazer com que a economia pudesse gerar emprego e renda, e o conseqüente reaquecimento seria o princípio da retomada econômica. Isso deveria ser conseguido através de "Obras e gastos públicos, de maneira a colocar todos para trabalhar, ganhar, comprar e gastar".
Talvez você ainda não tenha percebido, mas o que ocorreu a partir da mudança de modelo foi um desequilíbrio nas relações entre Estados, entre mercado e Estado e, consequentemente, entre Estado e indivíduo. 
Finalmente na década de 1990, não dava mais para esconder que o modelo de desenvolvimento capitalista da época estava em crise. Crise essa, que já se anunciava em grande parte do mundo, desde meados dos anos de 1970. Isso favoreceu a crítica dos economistas conservadores, neoliberais, que há tempos vinham combatendo o Estado de Bem-estar social. Os neoliberais afirmavam que a economia e a política do Estado Keynesiano, baseada no pleno emprego, altos salários e nos direitos sociais, impediam o controle da inflação e o corte de custos, tanto no governo quanto nas empresas privadas. Para eles, só o livre mercado seria capaz de fomentar a distribuição da riqueza e da renda. Ao se contrapor ao Estado de bem-estar social, segundo os preceitos do Consenso de Washington, o neoliberalismo defendia a privatização dos serviços públicos, como educação, saúde e previdência, de forma a aliviar o Estado e tornar esses serviços competitivos no mercado. Desta forma, direitos conquistados transformaram-se em mercadorias adquiríveis no mercado. A ofensiva neoliberal desqualificou ideologicamente o Estado como espaço de representatividade do público. Para tanto, a propaganda, neste modelo, buscou convencer que a coisa pública é ineficiente e mal gerenciada, enquanto o privado, em função da racionalidade e do bom gerenciamento se apresenta com qualidade.
A privatização do Estado, como parte da política neoliberal, rompeu com os preceitos democráticos de inclusão e participação e, ao contrário, embasou a organização societária sob a ótica da competição, da segmentação e da seletividade. Essa privatização, que demitiu milhares de trabalhadores e abalou a estrutura dos sindicatos do funcionalismo público, como defendia o projeto neoliberal, significou, antes de tudo, uma mudança ideológica e de mentalidade, pela qual os cidadãos foram obrigados a aceitar a redução e a desqualificação do espaço público. 
No entanto, os países capitalistas centrais que defendem essas políticas, não conseguiram de todo, implementá-las nos seus Estados. Como afirma Boron (1999), eles continuam com: “Estados grandes e ricos, muitíssimas regulações que organizam o funcionamento dos mercados, arrecadando muitos impostos, promovendo formas encobertas e sutis de protecionismo e subsídios e convivendo com déficits fiscais elevados” (Boron: 1999,9). A política neoliberal não produziu efeitos idênticos em todos os países ou regiões. Uma distinção básica deve ser estabelecida entre o neoliberalismo nos países centrais e nos países periféricos. Ora, o Estado de bem-estar apesar da interferência da política neoliberal, continua existindo na Europa Ocidental, inclusive, em função da resistência da população.
A melhor maneira de ilustrar tal realidade é através do aumento do número de trabalhadores desempregados. Enquanto nos países da periferia do capitalismo a população desempregada ocupa cada vez mais o espaço da economia informal, nos países centrais, ela continua sob a proteção do Estado, aumentando ainda mais os gastos sociais.
Ao longo das duas últimas décadas, a intensificação do processo de internacionalização das economias capitalistas, com ênfase nos mercados financeiros mundiais e a formação de grandes blocos econômicos, têm aumentado a pobreza e aprofundado as desigualdades no mundo capitalista globalizado. Sendo assim, a crise do Estado de bem-estar social está relacionada à construção de um novo modelo de capitalismo que, no afã de recuperar a lucratividade, contrapõe direito a investimentos e acumulação de capitais, e é responsável pela condução da reforma do Estado que tem provocado cortes substanciais no orçamento das políticas sociais dos países periféricos em benefício dos países centrais. 
AULA 02 >> EVOLUÇÃO HISTORICA DA POLITICA EDUCACIONAL E SEUS REFLEXOS >> A Constituição é a lei que estabelece as principais regras e normas jurídicas, políticas, econômicas e sociais de um país, dentre elas as da educação. Através do estudo dos textos constitucionais que o Brasil já viveu, podemos perceber a importância que a educação ocupou em diferentes momentos da nossa história. Você verá, a partir de agora, como cada Constituição que o Brasil conheceu tratou a questão educacional. 
Constituição Imperial de 1824: A necessidade da Constituição nasceu no momento em que o Brasil se tornou independente. A educação e tratada em um dos últimos itens do artigo 179, parte integrante do titulo que dispunha a cerca dos direitos dos cidadãos. Não chegou a mencionar a escolaridade obrigatória; limitou-se a estabelecer que a instrução primária era gratuita a todos os cidadãos, não sendo porém reconhecidos como cidadãos os escravos, e havia um silêncio sobre as mulheres o que gerava na prática uma restrição ao acesso a esta instrução. As taxas do analfabetismo apresentavam-se bem elevadas.
1891 – A primeira Constituição Republicana: A República proclamada em 1889 mudou o regime político no país, e como decorrência exigiu a elaboração de outro texto constitucional que correspondesse aos novos tempos. Vamos conhecer um pouco mais sobre a Carta Magna de 1891: 
Esta sequer faz referência à gratuidade, quanto mais a obrigatoriedade. A república, debatida durante muitos anos por um setor significativo da sociedade, não trouxe melhoria de condições para grande parte da população, que se manteve em estado de miséria, e em grande parte distante do processo de escolarização.
A Constituição de 1934: Longos debates entre educadores e um movimento social crescente começava a invadir a sociedade brasileira, exigindo reformas no país, sobretudo no campo educacional, a partir dos anos de 1920. A criação do Ministério da Educação é um exemplo das mudanças resultantes da pressão do movimento conhecido como Escola Nova. O capítulo II do texto legal abordou a questão educacional incorporando sugestões e idéias levantadas por intelectuais e professores da época, já apresentadas no Manifesto dos Pioneiros, publicado em 1932. Esta foi à primeira constituição que incluiu o binômio gratuidade e obrigatoriedade para o ensino primário; porém não fez nenhuma referência quantoa faixa etária a quem se destinaria a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário. Determinou a vinculação de percentual de impostos para o financiamento da educação. Sinalizou para elaboração de um Plano Nacional de educação.
1937 – A Constituição do Estado Novo: Estado Novo foi o nome dado por Getúlio Vargas à ditadura que instalou no Brasil a partir de 1937, que correspondeu a um longo período de autoritarismo e repressão. Em todas as áreas sociais, particularmente na educação, houve um enorme retrocesso. As conquistas apresentadas na Carta Constitucional anterior (1934), que nem chegaram a ser colocadas em prática, foram totalmente abandonadas na nova lei. Também garantiu a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário, porém cometendo o mesmo equívoco da anterior não fazendo referência a faixa etária. Retirou a vinculação de impostos e restringiu a liberdade de pensamento. E instituiu a cobrança de uma taxa, chamada de caixa escolar, para aqueles que não pudessem comprovar a pobreza, que daria direito à gratuidade.
A Constituição de 1946: Em 1945, a longa Era Vargas chega ao fim. Uma nova Carta Constitucional foi redigida para acompanhar os novos tempos. Tempos democráticos que se instalavam na vida brasileira, e que traziam alguns direitos sociais. Quanto à educação, o antigo debate dos Pioneiros de 1932 é recuperado em relação a alguns temas. Determinou que o ensino primário seria gratuito e obrigatório para todos, e o ensino ulterior ao primário seria gratuito para todos que comprovassem falta ou insuficiência de recursos.Trouxe de volta a vinculação de impostos para o financiamento da educação. Tempos democráticos que se instalavam na vida brasileira, e que traziam alguns direitos sociais. Quanto à educação, o antigo debate dos Pioneiros de 1932 é recuperado em relação a alguns temas. Aponta para elaboração de uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 
Constituição de 1967: Foi a primeira a fazer referência explícita a faixa etária, além da gratuidade e obrigatoriedade para o ensino primário nos estabelecimentos oficiais de ensino, a faixa seria dos 7 aos 14 anos, porém não representou uma ampliação da escolaridade obrigatória para oito anos, uma vez que o ensino primário era apenas de quatro anos. Somente com a promulgação da lei que reformou o ensino de 1º e 2º graus, é que se conseguiu dar tratamento a esta questão, a lei 5692/71 que unificou o primário com o ginásio tornando assim primário/primeiro o ensino de 1º grau, conseguindo a ampliação da escolaridade gratuita e obrigatória para 8 anos.
Constituição de 1988: Manteve a gratuidade e obrigatoriedade do ensino de 1º grau agora denominado ensino fundamental(8 anos), entendendo como dever do Estado e extensivo aqueles que não tiveram acesso na idade própria; afirmou a educação como o primeiro dos direitos sociais; consagrou o ensino fundamental como direito público subjetivo; vinculou percentuais de impostos para o financiamento da educação, estabelecendo programas suplementares de educação com destinação de verbas além das vinculadas. Estabeleceu o princípio da igualdade e da universalidade no que concerne aos negros, aos índios e aos portadores de necessidades especiais.Para o corpo docente estabeleceu ingresso somente por concurso público e plano de carreira. Estabeleceu o princípio da gestão democrática do ensino nos sistemas públicos.
Lei 11.274 de 06/02/2006: Art. 3o O art. 32 da Lei no�� HYPERLINK "http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm" 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:........
Art. 5o Os Municípios, os Estados e o Distrito Federal terão prazo até 2010 para implementar a obrigatoriedade para o ensino fundamental.
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 59, DE 11 DE NOVEMBRO DE 2009: "Art. 208. 
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (NR)
Art. 6º O disposto no inciso I do art. 208 da Constituição Federal deverá ser implementado progressivamente, até 2016, nos termos do Plano Nacional de Educação, com apoio técnico e financeiro da União. 
O Estado brasileiro, enquanto sociedade política, tem se revelado, no âmbito de suas Constituições, como o grande interlocutor das políticas educacionais desenvolvidas no País. uma sociedade de classes, como bem caracteriza o Brasil, só o Estado é capaz de garantir, de formal positiva, no seu ordenamento jurídico, a educação como direito social (de todos). Assim, a educação nas constituições e nas leis dela derivadas, sejam elas imperiais ou republicanas, outorgadas ou promulgadas, é a resposta da sociedade política à sociedade civil que colabora numa ação mais objetiva da parte do Estado em relação ao direito fundamental à educação. Daí, termos privilegiado, neste artigo, a relação Estado e Educação, em que esta, a nível constitucional, isto é, no âmbito das Constituições brasileiras, tem se convertido em intenção programática de Governo e em valor jurídico para o Estado.
Dois centros de interesse logo mereceram atenção em nossa reflexão: (a) a dicotomia centralização/descentralização da educação no âmbito do Estado, questão central da Federação brasileira e (b) educação como norma jurídica das Constituições brasileiras. O primeiro interesse resulta dos indícios históricos, políticos, educacionais e constitucionais, de que, desde o Império, ou, mais precisamente, desde o Ato Adicional de l834, o movimento centralização e descentralização do Estado brasileiro veio favorecer, no plano constitucional, um federalismo de equilíbrio entre as entidades intergovernamentais (Império/União, Províncias/ Estados, Municípios e o Distrito Federal), redefinindo, a cada nova organização constitucional, as competências constitucionais das quatro entidades federativas que hoje configuram o Estado Democrático de Direito no Brasil. O segundo interesse se justifica pelo fato de a Educação, nos anos 80 e início da década de 90, em especial no período de l987-1990, receber atenção das sociedades civil e política, tendo como ponto alto do processo de redemocratização do País a Assembléia Nacional Constituinte, instalada em 1987 e a promulgação da Constituição Federal, em l988, em que a Educação, como matéria constitucional, recebeu um registro significativo na estrutura normativa do texto constitucional, sendo, entre as demais matérias, norma positiva presente em todas as categorias estruturantes da atual Constituição, seja como matéria privativa, comum, concorrente das entidades federativas (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) seja como matéria presente nos dispositivos jurídicos que configuram, organicamente o Estado Federal brasileiro, fundado na descentralização política e na autonomia de seus entes federativos. 
Na investigação, sentimos, desde logo, a necessidade de referenciais teóricos no Direito Constitucional Positivo no Brasil, pouco aplicados nos clássicos da historiografia educacional brasileira como os de Otaíza de Oliveira Romanelli (1983) e de Maria Luisa Ribeiro (1987) posto que, na análise do conteúdo, teríamos como alvo a sistematização das normas referentes à Educação na evolução constitucional (1824-1967), na Constituição Federal de 1988 e nas Constituições Estaduais de 1989. Os fatos educacionais passaram a ser encarados por nós como fatos jurídico-constitucional [2] e, assim, nosso trabalho passou a caminhar mais em direção ao Direito Educacional, vale dizer, disciplina ainda sem objeto e metodologia autônomos no âmbito das Ciências da Educação ou das Ciências Jurídicas.
 Elementos Constitucionais: Definiremos, a seguir, cada um dos cinco elementos constitucionais em que as normas educacionais estão localizadas: 1) Elementos Orgânicos: normas que regulama estrutura e organização do Estado e do Poder e constituem aspectos do funcionamento do Estado. 2) Elementos Limitativos: normas que consubstanciam o elenco dos direitos e garantias fundamentais. Dão a tônica do Estado de Direito. 3) Elementos Sócio-Ideológicos: normas que revelam o caráter de compromisso das constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado Social. 4) Elementos de Estabilização Constitucional: normas destinadas à defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas, premunindo os meios e as técnicas contra sua alteração e infringência, exceto nos termos nela própria estatuídos. 5) Elementos Formais de Aplicabilidade: normas que estatuem regras de aplicação das constituições de forma imediata. 
A descrição das normas foi feita em tabelas a que denominamos na pesquisa de Mapas das Normas Educacionais, através de dois níveis: l) a nível de Constituições Nacionais (18124, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988) e 2) a nível de Constituições Estaduais, as promulgadas em 1989, distribuídas nas cinco regiões geográficas e unidades da Federação.
 	A Construção normativa do Estado Federal pressupõe, segundo o autor, a adoção de determinados princípios e técnicas, tais como: a) a decisão constituinte de se estabelecer um Estado Federal e suas partes indissolúveis, a União e os Estados-Membros; b) a repartição de competências entre a Federação e só Estados-Membros e c) o poder de auto-organização constitucional dos Estados-Membros, atribuindo-lhes autonomia constitucional. 
Educação e o Regime Federativo: no que se refere à Educação como diretiva do Estado Federal, Oswaldo Trigueiro (1952) é um das referências na historiografia da educação brasileira. O autor procura mostrar que a Educação, como matéria das constituições contemporâneas escritas, é compatível somente ao regime federativo. Fora do regime federativo, nem a tradição nem a técnica jurídica justificam, segundo o autor, a Educação enquanto dispositivo constitucional. Para Trigueiro, quando se registra a Educação como norma jurídica, estabelece-se, para a política educacional, padrões rígidos para a solução dos problemas da educação escolar. O momento em que uma Constituição insere na sua estrutura normativa um capítulo específico da Educação, como ocorreu com a Constituição de 1934 e as subseqüentes, tal medida resultaria de um momento histórico, da imposição de forças sociais emergentes, de uma resposta do Estado-Liberal intervencionista às demandas das coletividades integrantes do Estado Federal.
Educação e o Regime de Colaboração: Com a Constituição de 1988, André Haguette diz ter havido, por parte da sociedade, uma compreensão mais real do atendimento à Educação, ao se estabelecer, a partir do novo ordenamento constitucional, um regime de colaboração entre as entidades federativas, como preceitua o Artigo 211. A Constituição de 1988, segundo o autor, promoveu a co-responsabilidade coordenada e não uma municipalização pura e simples nem a divisão estanque de tarefa educacional entre as esferas intergovernamentais. Especificamente sobre Educação, como dispositivo constitucional, no âmbito das Constituições Estaduais de 1989 temos inicialmente o estudo de Luiz Antônio Cunha (1991). Faz o autor um estudo sobre a educação no processo constituinte. Após estudo comparativo da Educação nas Constituições estaduais de 1989, Luiz Antômio Cunha (1991) chega às seguintes conclusões: a) o detalhismo das constituições, em matéria educacional, reflete sua antecipação da Lei de Diretrizes Bases da Educação Nacional em várias questões, de diferentes níveis de relevância; b) As constituições estaduais apressaram-se em determinar a obrigatoriedade de certas disciplinas curriculares como solução para os problemas locais; c) Os funcionários públicos atuantes na área de ensino receberam benefícios e vantagens pessoais decorrentes dos dispositivos estaduais.
O autor é de opinião que muitos pontos tratados pelos constituintes estaduais inseridos nas Constituições Estaduais não são compatíveis com a constituição Federal de 1988, com repercussão negativa para o processo de adaptação estadual às orientações federais após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Romualdo Portela de Oliveira e Afrânio Catani (1003) fazem uma análise comparativa dos aspectos fundamentais relacionados com a matéria educacional presentes na Constituição Federal de 1988 e transpostos para as constituições estaduais de 1989. A principal contribuição da obra, decerto, é como conseguem os autores observar o nível de adequação dos dispositivos estaduais ao texto federal atentos para o detalhamento, introdução de inovações e possíveis ações decorrentes para a política educacional estadual.
Entre as considerações finais, citamos as seguintes:
As constituições estaduais procuram, em boa parte dos Estados, aperfeiçoar e precisar as formulações gerais sobre democratização dos sistemas de ensino proposta na Constituição Federal;
Equacionamento adequado de temas envolvendo a gestão democrática do ensino;
Preocupação em expansão da rede pública do ensino superior;
Excessivo detalhamento de indicações curriculares
Preocupação de contemplar modalidades de ensino como democratização da educação.
AULA 03 >> O SENTIDO DA LEI 4024/61: A ELABORAÇÃO DA PRIMEIRA LEI DE DIRETRIZES E BASES >> Nesta aula voltaremos a falar sobre o tema da Constituição de 1946 para que possamos aprofundar o nosso debate sobre o processo que desencadeou a elaboração da Lei 4024/61, que foi a primeira LDB que o Brasil produziu. Esse momento histórico foi marcado pelo fim do governo de Getúlio Vargas, entre os anos de 1930 e 1945 (caracterizado em seus últimos sete anos pela ditadura do Estado Novo). Instalou-se, em decorrência, um processo de democratização da sociedade, com novos partidos se organizando e a elaboração de uma constituição que representasse essa nova fase política. A título de curiosidade, no vídeo ao lado você vê cenas do “exílio voluntário” de Getúlio Vargas após sua saída do poder, bem como o tom “pomposo” pelo qual o narrador trata o então senador Getúlio. Mais tarde, ele voltaria ao poder. A retomada de práticas democráticas, sobretudo as parlamentares, permitiu um alongado debate sobre a legislação educacional do país. Nesse texto constitucional ficara determinado, entre outras questões, como já vimos anteriormente, que a educação era entendida como um direito de todos. Art. 5º - Compete à União: (...)
XV - legislar sobre: (...) d) diretrizes e bases da educação nacional.
A C.F. de 1946, vinculou verbas públicas para educação: Art. 156 - A União e os Municípios aplicarão nunca menos de dez por cento, e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento, da renda resultante dos impostos, na manutenção e no desenvolvimento dos sistemas educativos. Quanto gratuidade e obrigatoriedade: Art.168-II: “ o ensino primário será gratuito para todos;o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos.”
A carta constitucional de 1946, fixou que a União deveria elaborar as “ diretrizes e bases da educação nacional. A LDBEN, reformularia a estrutura educacional do país deixada pelo Estado Novo, através das leis orgânicas de Gustavo Capanema. Foi instalada em 1947, uma comissão de educadores pelo Ministro da Educação à época, Clementi Mariani, para elaboração do projeto.
A elaboração da primeira LDB que o Brasil conheceu demorou muitos anos. Na verdade, esse processo pode ser dividido em dois períodos, que corresponderam a discussões e polêmicas bem distintas. Uma primeira fase caracterizou-se pelo conflito partidário entre dois políticos, cujas trajetórias sempre estiveram vinculadas à educação. De um lado encontrava-se o Ministro do governo ora no poder, o Sr. Clemente Mariani. Mariani era filiado à UDN (União Democrática Nacional), partido ligado a setores conservadores, articulado às classes média e alta do país e à burguesia internacional, e de oposiçãoàs forças de Vargas. E do outro lado o ex-Ministro da Educação do Estado Novo, Deputado Gustavo Capanema, filiado ao PSD (Partido Social Democrático), apoiado pelas forças getulistas. O Ministro Mariani representando os interesses do governo, apresentou um projeto que possuía características descentralizadoras, que se chocou com os argumentos do deputado Gustavo Capanema, que propunha um sistema de ensino centralizador. O deputado redigiu um parecer que acabou por levar o projeto ao arquivamento. Essa disputa político-partidária adiou por alguns anos a discussão, que foi retomada efetivamente em 1957, quando da apresentação em plenário do projeto de lei conhecido como “Substitutivo Lacerda”.
Outra fase dessa longa trajetória de elaboração da LDB se iniciou. O debate, naquele momento, girou em torno da questão das verbas públicas. O Deputado Carlos Lacerda, que deu nome ao projeto, encampou a proposta dos representantes das escolas particulares, sobretudo os colégios confessionais, que sob o lema da liberdade do ensino, defendiam os interesses privatistas, reivindicando a aplicação de recursos públicos para a manutenção tanto de escolas públicas quanto de particulares. De outro lado, em torno da defesa de verbas públicas exclusivamente para escolas públicas, se colocaram educadores e intelectuais, como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes, entre outros. Eles chegaram a articular e publicar um outro Manifesto de Educadores, em 1959, intitulado “Mais uma vez convocados”. O famoso documento recuperou em parte as ideias presentes no movimento de 1932, defendendo destacadamente, a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário.
A Primeira Lei de Diretrizes e Bases: O texto final aprovado pelo Congresso Nacional em 1961, representou em parte a vitória dos setores privatistas, pois a lei, através de alguns mecanismos, permitia a transferência para as escolas particulares de recursos públicos, contrariando a proposta da “Campanha em defesa da Escola Pública”. A lei instituía a educação como um direito de todos. 
Estrutura do Ensino na 4024/61: Educação de Grau Primário: a) Educação Pré-Primária: destinada a menores até 7 anos. b) Ensino Primário: obrigatório a partir dos 7 anos, com duração mínima de 4 séries anuais, podendo chegar até 6 anos de duração. Educação de Grau Médio: Ministrada em dois ciclos: a) Ginasial, com duração mínima de 4 séries anuais. b) Colegial, com duração mínima de 3 séries anuais, nos ramos secundário, normal e técnico (industrial, agrícola e comercial). Educação de Grau Superior.
O desenvolvimento e formação do cidadão para a vida em sociedade, em uma perspectiva democrática de acordo com o momento histórico. A LDB tinha como seus principais títulos os seguintes:
1) Dos fins da educação – o desenvolvimento e formação do cidadão para a vida em sociedade, em uma perspectiva democrática de acordo com o momento histórico.
2) Do direito à educação – estabeleceu-a como um direito de todo cidadão cabendo à família a escolha do tipo de educação a ser oferecida.
3) Da liberdade de ensino – todos tinham direito a transmitir seus conhecimentos.
4) Da administração do ensino – afirmou que cabia ao MEC exercer as atribuições do poder público federal, e atribuiu competências ao Conselho Federal.
5) Dos sistemas de ensino – criou os sistemas de ensino federal, estaduais e municipais.
6) Dos recursos para a educação – instituiu que os recursos seriam aplicados preferencialmente nas escolas públicas, abrindo espaço para o setor privado. 
AULA 04 >> AS REFORMAS EDUCACIONAIS DA DITADURA MILITAR >> Logo após a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases, o Brasil mergulhou em um novo momento político quando se instalou, em 1º de abril de 1964, através de um Golpe de Estado, outro governo autoritário, fase conhecida como Ditadura Militar. Foram anos marcados por uma intensa repressão que perseguia opositores, cassando e torturando políticos; e impedia os movimentos sociais, inclusive a organização de estudantes que lutavam contra a ditadura. Uma nova Constituição vai ser redigida e outorgada à sociedade pelo governo militar. Esta foi a sexta Carta Constitucional do Brasil. Nela, os direitos dos cidadãos são restringidos, o Executivo Federal concentrava poderes, além de ser eleito de forma indireta pelo Congresso Nacional. No capítulo sobre educação, o direito de todos a ela é reafirmado, apesar de também ficar expresso que o ensino é livre à ação da iniciativa privada, que continua a ter acesso a incentivos e facilidades financeiras dos cofres públicos, como disposto na Constituição anterior. Conforme escrito na Carta: Art. 168. A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana.
§1º. O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos poderes públicos.
§2º. Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos poderes públicos, inclusive bolsas de estudo. Esse momento histórico exigiu alterações na legislação educacional. Não foi elaborada nova Lei de Diretrizes e Bases, mas sim duas leis que reformaram alguns aspectos da LDB vigente. Uma tratou de modificar os ensinos primário e secundário enquanto outra abordou o superior. As diretrizes básicas, estabelecidas pela lei 4024/61 (os 5 primeiros títulos), não são alteradas, demonstrando a continuidade da ordem socioeconômica mantida pelo golpe.
A LEI 5540/68: A reforma do ensino superior tinha por finalidade a desmobilização dos estudantes universitários. Para tanto, instituiu o sistema de créditos que obrigava os alunos a realizarem a matrícula por disciplinas, o que impedia a formação de grupos nas mesmas turmas, como no tradicional curso seriado, dificultando a organização de grupos de pressão. A repressão aos estudantes foi uma ação constante ao longo desse período. A lei 5540/68 também determinou que as disciplinas passassem a ser agrupadas por departamentos, deixando de se organizar por cursos, reforçando o caráter da fragmentação. Por fim, estabeleceu o vestibular unificado, desarmando as crescentes demandas, sobretudo dos estudantes secundaristas, por mais vagas nas universidades públicas. 
A lei 5692/71: Esta legislação é frequentemente chamada de lei de diretrizes e bases de forma errônea. Contudo, ela não pode ser confundida, pois se refere exclusivamente a dois segmentos da educação, que correspondem ao que nos dias atuais chamamos de educação básica. criou a estrutura de ensino que se organizava em 1º e 2º graus. O primeiro grau passou a abranger os antigos ensino primário e ginásio, atendendo às crianças dos 7 aos 14 anos;* ampliou a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos. A lei 5692/71, transformou o antigo curso secundário, que se apresentava como clássico, científico ou normal, em ensino de 2º grau, nivelando todos os cursos, e possibilitando que qualquer concluinte pudesse prestar vestibular para qualquer área universitária.
A lei 5692 não tratava, também, dos objetivos gerais e finalidades da educação para o país. Ela era específica para dois segmentos do ensino. A referida lei foi criada por um grupo de trabalho instituído pelo Presidente Médici, que tinha por objetivo adequar o ensino ao momento político instaurado pelo Golpe de 1964, e às necessidades sociais e econômicas que o governo militar se empenhava em garantir. O ensino profissionalizante tinha o objetivo de atender à formação de mão-de-obra no sentido de garantir o suporte para a ampliação do parque industrial brasileiro, em reposta aos preceitos liberais de divisão internacional do trabalho. Para isso, foi a primeira legislação educacional que criou um capítulo para tratar do ensino supletivo. 
O ensino supletivo abrangeria cursos e exames a serem organizados nos vários sistemas de acordo com as normas baixadas pelos respectivos Conselhos de Educação. CAPÍTULO IV -Do Ensino Supletivo       
Art. 24. O ensino supletivo terá por finalidade: 
a) suprir a escolarização regular para os adolescentes e adultos que não a tenham seguido ou concluído na idade própria; 
b) proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de aperfeiçoamento ou atualização para os que tenham seguido o ensino regular no todo ou em parte. 
Parágrafo único. O ensino supletivo abrangerá cursos e exames a serem organizados nos vários sistemas de acordo com as normas baixadas pelos respectivos Conselhos de Educação. 
A Lei 5692/71 também introduziu algumas propostas, que contribuíram para o debate pedagógico: Integração vertical: previa a integração entre os dois graus, entre os níveis (o 1ºe o 2ºsegmento do 1º grau) e entre todas as series de ensino das atividades, áreas de estudo e disciplinas, com proposito de garantir um trabalho de continuidade desde a 1ª serie do 1ºgrau, ate a ultima serie do 2ºgrau. 
Integração horizontal: buscava eliminar as diferenças entre os antigos ramos de ensino: agrícola, comercial, industrial e normal, articulando as áreas do conhecimento em cada serie. 
Valorização do magistério
Foram enormes as dificuldades financeiras de implantação de laboratórios e de instalação de equipamentos nas escolas, para o atendimento da obrigatoriedade da profissionalização cobrada pela Lei 5692/71. Muitas instituições escolares nunca chegaram a disponibilizar as disciplinas profissionalizantes para os estudantes, gerando uma pressão muito grande para o fim da exigência. A Lei nº. 7044, que entrou em vigor em 1982, alterou os dispositivos da Lei 5692/71, que estabeleciam a profissionalização do ensino de 2º grau. Essa reforma acarretou algumas mudanças na estrutura curricular vigente, liberando as escolas de segundo grau da obrigatoriedade da profissionalização, retornando a ênfase deste curso à formação geral. De acordo com essa lei, o 2º grau tornou-se obrigatoriamente profissionalizante. Essa medida se restringiu em grande parte apenas às escolas públicas que submetidas à exigência, procedem às adaptações, no prazo previsto na lei. Entretanto, as escolas particulares, se aproveitando dos prazos para a adequação, e por não sofrerem rigorosas fiscalizações, mantiveram, em sua maioria, o ensino propedêutico, até a revogação da obrigatoriedade do ensino profissionalizante.
AULA 05 >> A POLITICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NA TRANSIÇÃO DEMOCRATICA: A CARTA DE 1988 >> A constituição foi elaborada em um momento político bem característico, pois correspondia a uma grande mobilização popular que, diante do fim de um longo período ditatorial, exigia efetivas transformações na sociedade. A constituição em seu conteúdo apresentou alguns avanços nas áreas sociais e políticas, como: igualdade de direitos entre homens e mulheres; voto do analfabeto; voto aos 16 anos;racismo tratado como crime; e fim à censura. 
O texto constitucional estabeleceu, ainda, alguns dispositivos que defendem o cidadão quando seus direitos são negados, contra a arbitrariedade do Estado, em grande parte vem daí o fato dela ser conhecida por muitos políticos, e festejada pela imprensa, como a Constituição Cidadã. Foram direitos conquistados: *Habeas-corpus: assegura a reparação ou prevenção do direito de ir e vir, constrangido por ilegalidade ou por abuso de poder (as ditaduras assim que instaladas suspendem esse com o propósito de realizar prisões ilegais).*Habeas-data; garante ao cidadão o acesso às informações a seu respeito constantes do registro de banco de dados de qualquer entidade governamental. *Mandado de Segurança: protege o cidadão quando seus direitos estão prestes a ser desrespeitados por uma instituição. Agora, existe também o mandado de segurança coletivo, isto é, impetrado por sindicatos e associações da sociedade civil. *Mandado de injunção: assegura o exercício de um direito garantido pela Constituição. *Ação popular: tem como objetivo anular ato lesivo ao patrimônio público e punir seus responsáveis.
O texto constitucional estabeleceu a educação como o 1º dos Direitos Sociais(art.6º); e através de instrumentos legais, o poder de cobrança ao Estado, quando for negado. Na Constituição, o tema educacional é apresentado no Título VIII, que trata da Ordem Social. No Capítulo III, intitulado Da Educação, da Cultura e do Desporto, especificado na Seção I, chamada Da Educação, que se dispõe em dez artigos entre o 205 e o 214.
Art. 205 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho 
Os princípios do ensino foram especificados no artigo 206, do qual podemos destacar alguns: *garantia de igualdade de acesso e permanência à escola. *liberdade de ensinar e aprender. *gratuidade nas escolas públicas. *gestão democrática nas escolas da rede pública. *valorização dos profissionais da educação 
A OBRIGATORIEDADE DO ENSINO NA CF 1988: Art. 208 O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria.
Percebe-se, aqui, a preocupação do poder público em garantir a escolaridade mínima para a população.
O Regime de colaboração entre os entes federados (compromisso de oferta): A União, estados, distrito federal e municípios devem proporcionar o acesso à cultura, á educação e à ciência, e que todas as esferas têm competência para legislar sobre educação, desde que respeitadas as diretrizes e bases fixadas em seu texto. Apresenta, ainda, como dos municípios, a prioridade quanto à responsabilidade de manter programas para os níveis pré-escolar e ensino fundamental (cabendo à União complementar recursos, em casos de dificuldades dos municípios). 
Art. 211 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino (...).
§ 2º - Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. 
§ 3º - Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. 
§ 4º - Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. 
A Constituição de 1988 assegura ainda o direito à educação dos povos indígenas, garantindo que o ensino se realize em língua materna e na língua portuguesa. Permite, dessa maneira, a integração dos povos à sociedade brasileira, preservando sua cultura. Quanto à aplicação das verbas públicas, a Constituição estabelece que cabe à União aplicar no mínimo 18%, enquanto que os municípios e estados devem investir no mínimo 25% cada. Podemos considerar essa vinculação dos recursos como um avanço, pois predetermina uma parcela do orçamento que deve ser aplicada em educação. Fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário educação recolhido pelas empresas. Existência de programas suplementares de alimentação e assistência à saúde, financiados com outros recursos adicionais.( Art.212 §4º)
Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas ( sem fins lucrativos).(Art.213)
A Carta de 1988 consagrou alguns direitos sociais, resultado de intensas lutas que animaram durante muitos anos a sociedade brasileira, algumas iniciadas ainda antes da Ditadura Militar. A questão é que, assim que o texto foi publicado, mobilizações de setores contrários aos direitos aprovados começaram a se fazer notar, e buscavam caminhos para o retrocesso, seguindo premissas neoliberais. 
AULA 06 >> O SIGNIFICADO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE >> O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi o resultado de um longo debate travado na sociedade brasileira, que se iniciou em 1979 com a elaboração do Código deMenores, e que ganhou um novo impulso com a promulgação da atual constituição brasileira (CF/1988). Esse debate envolveu diferentes setores da sociedade, sob a forma de movimentos populares, incluindo-se as Organizações Não Governamentais (ONGs) e representantes dos Três Poderes da República. A discussão ganhou um novo impulso com a promulgação da atual constituição brasileira, a Constituição Federal de 1988. No plano internacional a assinatura da Convenção Internacional dos Direitos da Criança das Organizações das Nações Unidas, em 1989 acelerou decisivamente a transformação das políticas públicas voltadas para crianças e jovens. O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069/90, é o dispositivo legal que estabelece os direitos e deveres de crianças e adolescentes no Brasil. Apresenta os direitos relacionados à educação, à saúde, à vida familiar e à vida em sociedade, além de também dispor sobre os deveres. O texto do estatuto compõe-se de 267 artigos, e está organizado em duas partes: a Geral e a Especial, que por sua vez se dividem em Títulos, subdivididos em capítulos, e esses em seções. Os títulos tratam sobre: *Os Direitos Fundamentais; *A Prevenção; *A Política de Atendimento; *As Medidas de Proteção; *A Prática do Ato Infracional; *As Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável; *O Conselho Tutelar; *O Acesso à Justiça; *Os Crimes e as Infrações Administrativas.
O tema da Educação é tratado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente como um direito de todos e um dever do Estado. Apresenta-se sob a forma de sete artigos (do artigo 53 ao 59), em que estão estabelecidos os objetivos da educação, além de estarem especificados os papéis do Estado quanto aos deveres, a responsabilidade da família, as competências dos gestores escolares, o respeito aos valores culturais, artísticos e históricos da comunidade a qual o estudante pertence. 
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º - Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela freqüência à escola. 
“O Estatuto da Criança e do Adolescente mudou os paradigmas em relação ao menor, reconhecendo-o como sujeito de direitos, assegurando-lhe, entre outros, o direito fundamental à educação. Portanto mudou a lei que alterou a relação entre a criança, o adolescente e a educação.Todavia indaga-se: mudou a formação do professor? A sua formação contempla a questão da cidadania infanto-juvenil? A mudança da lei proporcionou alteração em sua prática diária na sala de aula?” (Ferreira, Luiz Antonio M. O Estatuto da Criança e do Adolescente e o Professor – reflexos na sua formação e atuação. S.P.: Cortez, 2008, p. 16)
A formação docente precisa acompanhar esses novos tempos iniciados com a publicação do Estatuto. É necessário incorporar novos conhecimentos na sala de aula e novas posturas que reconheçam os direitos das crianças e jovens cidadãos. A falta de informação sobre o dispositivo legal em questão acarreta problemas nas escolas, desrespeitos generalizados, violências indiscriminadas. O conhecimento da lei por todos os envolvidos no processo de aprendizagem contribuirá sobremaneira para a garantia desses direitos
Para essa lei, as crianças e os jovens adolescentes devem ser vistos como pessoas que estão em processo de desenvolvimento, sujeitos de direitos e passíveis de proteção integral. A lei 8069/90 é considerada um dos modelos legais mais avançados no mundo, tanto em termos políticos quanto jurídicos. O texto da lei evidencia o compromisso do Estado, e da sociedade civil de garantir o atendimento dos direitos das crianças e dos jovens. 
Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. 
Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. 
A questão principal é a de implementar o conteúdo que o Estatuto apresenta. Não basta que os textos legais se mostrem avançados em suas formulações, o fundamental é que os avanços se apresentem em conquistas sociais. É fundamental que todo professor conheça o texto do Estatuto da Criança e do Adolescente para que possa contribuir para o cumprimento de suas determinações, além de acompanhar a sua aplicação. Este deve estimular o conhecimento e a capacidade reflexiva em seus alunos. Educação e cidadania caminham juntas. “O preparo para o exercício da cidadania, que é apresentado como um dos objetivos da educação visa a assegurar a todas às crianças e aos adolescentes a efetividade de seus direitos (civis, sociais e políticos) e o cumprimento de suas obrigações.” Fazer cumprir o Estatuto da Criança e do adolescente, significa criar condições de manter todas as crianças nas escolas. É necessário que o educador conheça o Conselho Tutelar, seu funcionamento e atuação. Este é o órgão que recebe as denúncias, e assegura o cumprimento dos termos do estatuto. É composto por conselheiros eleitos na comunidade, que tem como objetivo acompanhar os casos de violações.
AULA 07 >> A POLÍTICA EDUCACIONAL NOS ANOS 90 >> A crise do endividamento, vivida pelos países da América Latina a partir dos anos 80, possibilitou uma maior interferência do Banco na política interna dessas nações. Sob essa perspectiva, o Banco Mundial, no final dos anos 80, formulou um conjunto de reformas a serem aplicadas nos países endividados para atender às necessidades de expansão do capital internacional. Essas reformas, que ficaram conhecidas como “Consenso de Washington”, defendiam principalmente: a) o equilíbrio orçamentário mediante a redução dos gastos públicos; b) a abertura comercial; c) a liberalização financeira; d) a desregulamentação dos mercados internos; e) a privatização das empresas e dos serviços públicos. Embora esses países pudessem enfrentar recessão e aumento da pobreza num primeiro momento de implantação das reformas, só assim, afirmava o Banco, seria possível retomar o crescimentoeconômico. Embora esses países pudessem, num primeiro momento, enfrentar recessão e aumento da pobreza, só assim, afirmava o Banco, seria possível retomar num futuro próximo ao crescimento econômico, enfim, ao desenvolvimento sustentável. Após todos esses anos, os países periféricos, que sofreram o ajuste neoliberal imposto pelos Organismos Internacionais, aprofundaram cada vez mais sua crise de endividamento, sua dependência ao capital financeiro internacional, o que tem permitido a esses Organismos, total controle da organização interna desses países. A reestruturação dos países periféricos, embasadas pelas políticas do Banco Mundial e do FMI, resultou no fim do desenvolvimento autônomo e na forte desestabilização da estrutura interna desses países, que passaram a apresentar índices elevados de desemprego, miséria e violência. 
O poder de decisão dos países no Banco Mundial e no FMI não se dá através do voto individual de cada país, mas sim, em função do capital depositado por cada um deles no Fundo. Sendo assim, desde a fundação até hoje existe uma divisão entre Europa e EUA, de modo que sempre o presidente do Banco Mundial é um americano e o do FMI indicado pela União Européia. O financiamento não é o único, nem o mais importante papel desempenhado pelo Banco no setor social, mas sim o caráter estratégico que vem desempenhando no processo de reestruturação neoliberal dos países dependentes.
A educação, como política social focalizada, tem lugar de destaque nas propostas do Banco Mundial para a América Latina. A Reforma da Educação instituída para priorizar a educação inicial em detrimento dos demais níveis de ensino é um bom exemplo do papel que desempenhamos nessa nova ordem mundial. Ora, se as condicionalidades impostas pelos Organismos Internacionais têm nos conduzido a um processo de recolonização, caracterizado pelo fim do desenvolvimento autônomo e dependência científica e tecnológica, qual seria a necessidade de se investir numa educação de longa duração?
A política educacional brasileira, dos anos 90, foi implementada através de um conjunto articulado de reformas, com orientação do Banco Mundial. A ideologia neoliberal apresentada como única via para enfrentar a crise nacional foi ganhando credibilidade gradativamente junto às elites brasileiras e tornou-se hegemônica a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso. 
Nesse sentido, as Reformas Educacionais indicadas pelo Banco Mundial apresentaram basicamente dois eixos. O primeiro voltado para uma educação racional e eficiente, capaz de reduzir os custos, o que implica na divisão de responsabilidades entre o Estado e a sociedade. O segundo, centrado na qualidade do ensino em função do diagnóstico apresentado pelo Banco acerca dos principais problemas da educação. Tais problemas estão relacionados ao acesso e permanência dos alunos na escola, crescimento acelerado da demanda de educação secundária e superior, alfabetização de adultos e aprofundamento da distância entre países da OCDE (Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e da América Latina e Caribe. Sendo assim, o documento do Banco Mundial (1995) que apresenta a sua posição e a sua prioridade para esse setor propõe mudanças no financiamento e na gestão do sistema educativo, de maneira a melhorar o acesso, a equidade e a qualidade. 
No Brasil, o Banco Mundial ampliou sua atuação a partir da década de 80, com um maior volume de empréstimos vinculados à interferência na elaboração dos projetos educacionais, como, por exemplo, o Projeto EDURURAL, ou Nordeste I, desenvolvido entre 1980 e 1987. Mas é na década de 90, com a incorporação das recomendações provenientes das Conferências Internacionais (1990, na Tailândia; 1993, em Nova Delhi) ao Plano Decenal Brasileiro para a Educação que vamos verificar, de fato, a importância que esse Organismo Internacional assume na política educacional brasileira.
A concepção neoliberal que passou a orientar essa política educacional tratou a educação não mais como um direito do cidadão, mas sim como uma mercadoria. Não seria por outro motivo que, Paulo Renato Souza, um economista que foi ministro da educação nos dois governos de Fernando Henrique, tenha ocupado uma vice-presidência no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). 
A educação ocupou um papel relevante na reforma do Estado brasileiro. Para tanto, o primeiro governo de Fernando Henrique (1995-1998) sofreu uma profunda reformulação, tomando como base o conceito de equidade social (Por equidade podemos entender a possibilidade de estender certos benefícios obtidos por alguns grupos sociais à totalidade das populações, sem, contudo, ampliar na mesma proporção às despesas públicas para esse fim (cf. Oliveira, 1999:74) da forma que aparece nos estudos produzidos pelos Organismos Internacionais ligados à ONU e promotores da Conferência de Jomtien.
A “Conferência de Educação para Todos” (Março de 1990, em Jomtien) estabeleceu como orientação priorizar o ensino fundamental em detrimento dos demais níveis de ensino. Ainda, defendeu que a tarefa de assegurar a educação é de todos os setores da sociedade. De acordo com essa postura, o dever do Estado foi relativizado. O eixo descentralização/racionalização tem, na municipalização do ensino e na criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), a principal articulação do governo federal para ampliar o atendimento ao ensino fundamental, sem aumentar os recursos destinados a esse nível de ensino. O governo federal repassa aos municípios, muitas vezes as unidades mais pobres da Federação, a responsabilidade com esse nível de ensino.
AULA 08 >> A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL: ELABORAÇÃO, CARACTERÍSTICAS, AVANÇOS E RETROCESSOS >> A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é considerada a lei maior da educação no país, e está subordinada à Constituição Federal e situa-se logo abaixo dela, definindo de uma maneira geral a nossa educação. Por ter um caráter abrangente, necessita de regulamentação, ou seja, de legislação específica para vários de seus dispositivos. Segundo Demerval Saviani, fixar as diretrizes da educação nacional: “(...) não é outra coisa senão estabelecer os parâmetros, os princípios, os rumos que se deve imprimir à educação no país. E ao se fazer isso estará sendo explicitada a concepção de homem, sociedade e educação através do enunciado, dos primeiros títulos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional relativos aos fins da educação, ao direito, ao dever, à liberdade de educar e ao sistema de educação bem como à sua normatização e gestão”. (Saviani, 1998, p.189)
Elaborada por força da Constituição Federal de 1988. Elaborada no período de redemocratização do país o que possibilitou um debate nacional. O projeto da sociedade civil, vinha sendo construído numa discussão que já durava cerca de 8 anos. O então senador da república Darcy Ribeiro, elaborou um projeto substitutivo e deu entrada no Senado Federal.Com o apoio dos parlamentares e do próprio executivo este projeto substitutivo é aprovado com pequenas emendas. O projeto da sociedade civil é abandonado com a aprovação do substitutivo.
Estabeleceu a educação como dever do Estado e da Família e como direito do cidadão.
Estabeleceu a tríplice finalidade do ensino: a) Pleno desenvolvimento do educando. b) Preparo para o exercício da cidadania. c) Qualificação para o trabalho.
Liberdade para ensinar e pesquisar com pluralismo de idéias e concepções pedagógicas. Gratuidade do ensino público em todos os níveis, gratuidade e obrigatoriedade para o ensino fundamental, inclusive para os que não tiveram acesso na idade própria. Gestão Democrática do ensino público garantida na participação da comunidade escolar na elaboração do PPP e dos conselhos escolares. Instituição dos Sistemas Municipais de Ensino.
Determinações das incumbências e abrangências de cada ente federado(União, Estados e Municípios) e do regime de colaboração entreos mesmos. Determinação das competências da escola e do professor. Garantia de acesso e permanência pelos princípios da universalidade e igualdade. Vinculação de percentuais de impostos para o financiamento da educação pública: a) 18% para União. b) 25% para Estados e Municípios.
Caracterização do que é considerado gasto e o que não é considerado gasto com educação. Reconhecimento da educação infantil como primeira etapa da Educação Básica. Estabelecimento da política de inclusão nas escolas regulares para os alunos com necessidades especiais. Educação profissional com oferta integrada e articulada com o ensino regular. Garantia de escolas indígenas com ensino bilíngüe, respeitando a língua materna.
Reconhecimento do ensino à distância nos níveis fundamental, médio, profissionalizante e superior como forma de universalização e democratização do ensino. Ingresso no magistério público somente mediante a concurso; direito a aperfeiçoamento profissional e plano de carreira
Organização da Educação Básica na LDBEN 9394/96: 
	NÍVEIS
	ETAPAS
	Educação Básica
	Educação Infantil
	
	Ensino fundamental
	
	Ensino Médio
	Educação Superior
	Graduação
	
	Pós graduação
Modalidades de Ensino: Educação de Jovens e Adultos: *Ensino Profissionalizante. *Educação Indígena. *Educação para alunos com necessidades especiais. *Educação à Distância.
Organização da Educação Básica: Organização em séries anuais, períodos semestrais, ciclos e grupos não seriados. *Classificação e Reclassificação de alunos, tendo como base as normas curriculares gerais. *Calendário Escolar adequado as peculiaridades locais, sem redução da carga horária mínima. *Carga horária mínima anual de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias letivos de efetivo trabalho escolar; *Avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos. *Possibilidade de aceleração de estudos. *Obrigatoriedade de estudos de recuperação. *Na educação infantil não há obrigatoriedade de carga horária mínima nem dias letivos, e a avaliação não tem objetivo de retenção e promoção mesmo para o ensino fundamental.
O texto final da atual LDB deve ser compreendido no processo de disputa de projeto político pelo qual passa o país no período final de seu longo trajeto na Câmara e no Senado. A vitória do projeto conservador, no final de 1994, liderado por Fernando Henrique Cardoso, significou para o país o avanço da política neoliberal, na qual o mercado se sobrepõe aos interesses da maioria da população. O resultado desse processo poderia ser assim enumerado (clique nas caixas para ver a descrição): Redução do dever do Estado com a universalização da educação básica – ao responsabilizar o poder público somente pela oferta obrigatória e gratuita do ensino fundamental e ao diminuir o compromisso da União para com a educação pública através da transferência de encargos para as esferas administrativas de nível estadual e municipal, a nova LDB acaba rompendo com o conceito de obrigatoriedade da educação básica, consolidando o disposto na emenda constitucional n° 14, que diz caber à União uma ação meramente suplementar no financiamento da educação. *Fragmentação da concepção de Sistema Nacional de Educação – o que estabelece a nova LDB é uma mera justaposição dos poderes municipal, estadual e federal, tendo sido os respectivos conselhos descaracterizados e destituídos de autonomia política, de representatividade social e de responsabilidade de conduzir e acompanhar a implementação das políticas educacionais. *Recursos financeiros – alguns aspectos importantes que constam na nova LDB acerca do financiamento da Educação têm origem no projeto da Câmara de Deputados debatido exaustivamente com a sociedade. Sendo assim, vamos destacar em primeiro lugar, a fixação de prazos para o repasse dos valores do caixa da União, dos estados e dos municípios ao órgão responsável pela educação. Outro ponto positivo é a delimitação do que pode e do que não pode ser considerado como despesa de manutenção e desenvolvimento do ensino. Essa medida estava presente no projeto original, e sua permanência representou uma importante conquista para o controle dos recursos públicos pela sociedade. No entanto, a lei aprovada não garantiu que os recursos públicos fossem destinados apenas para a educação pública, o que significou, mais uma vez, a vitória do setor privado ao manter o financiamento público para esse setor. *Descaracterização do profissional da educação – ao não estabelecer um piso salarial profissional nacional, a nova lei descaracteriza a figura do professor, descrevendo-a a partir de suas responsabilidades, ou a partir de sua formação. *Finalmente, os artigos 74 e 75 que tratam, respectivamente, do custo mínimo por aluno e da ação supletiva e redistributiva da União e dos estados, conjugados à emenda constitucional de n°14 e a Lei 9.424/96 que criou o Fundo, expressam a política educacional do governo federal, que propõe ao país uma educação mínima com obrigatoriedade apenas para o ensino fundamental, abrindo o terreno para a ação da iniciativa privada nos outros níveis da educação nacional.
AULA 09 >> PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO >> No Brasil, a educação, sobretudo a de escolas públicas, ainda é precária. Os professores são mal pagos, os alunos têm dificuldade de aprender e o sistema educacional é deficiente. O governo, na tentativa de minimizar a precariedade desse cenário, cria medidas de fomento a iniciativas públicas e privadas que visam dar subsídios para melhorar a qualidade de ensino no país. O Plano Nacional de Educação, votado e aprovado pelo Congresso Nacional, foi sancionado com nove vetos, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 09 de janeiro de 2001, transformando-se na Lei n° 10.172/01.
Coube a essa lei definir as metas a serem atingidas pela educação no país na década que começa com a sua aprovação, bem como os meios para que estas se realizem. Foram definidas 294 metas. A demora do Governo Federal para elaborar uma proposta de plano não fez com que a sociedade ficasse parada. Liderada pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, a sociedade organizada formulou e aprovou, no 1º e no 2º Congresso Nacional de Educação (Coned), uma proposta de PNE da sociedade brasileira. A proposta de plano que surgiu dessa mobilização foi apresentada ao Congresso Nacional antes da do governo pelo deputado Ivan Valente, que reuniu assinaturas de “mais de setenta parlamentares e de todos os líderes dos partidos de oposição” (Valente: 2002 97).
A proposta de Plano oriunda dessa ampla mobilização da sociedade foi apresentada ao Congresso Nacional, antes da proposta do governo, pelo deputado Ivan Valente que reuniu assinaturas de mais de setenta parlamentares e de todos os líderes dos partidos de oposição. Surgiu então, no dia 10 de fevereiro de 1998, o Projeto de Lei n° 4.155/98. Curiosamente, um dia após a apresentação do Projeto da sociedade brasileira, o governo federal se viu obrigado a: “desengavetar o seu projeto, apresentando-o ao parlamento (Projeto de Lei n° 4.173/98). Tal cronologia conferiu à tramitação do PNE uma situação inusitada: o projeto de FHC foi anexado ao da sociedade na discussão e deliberação da matéria no Congresso” (Valente: 2002, 97). O relator do projeto da sociedade brasileira, o deputado Nelson Marchezan (também do PSDB, e que pertenceu a ARENA no período da ditadura militar), utilizou a mesma tática, que os governistas já haviam utilizado na LDB, “a de apresentar um substitutivo que em sua estrutura e princípios gerais, pautou-se no PL n° 4173/98” (Pinto: 2002, 120). 
A mobilização popular e os debates na Câmara, promovidos pela Comissão de Educação, contribuíram para que o texto final do relator apresentasse alguns avanços, em especial, no que se refere ao financiamento da educação. Esses avanços não se concretizaram em função dos vetosdo presidente ao projeto aprovado na Câmara dos Deputados. As diferenças encontradas entre os dois projetos colocam em oposição duas propostas opostas de política educacional, assim como dois projetos de país. O projeto da sociedade defendia o fortalecimento da escola pública estatal e democratização da gestão educacional, como forma de universalizar a educação básica e ampliar o atendimento ao ensino superior. Isso implicaria, dentre outras medidas, em ampliar os recursos empregados na manutenção e desenvolvimento do ensino público, o que significaria passar de 4% para 10% do PIB, ao fim de dez anos do PNE.
O PNE aprovado, além de definir as metas e os objetivos da educação brasileira para a próxima década, determinou que estados e municípios, com base no Plano Nacional, elaborassem seus respectivos Planos. A discussão dos Planos Estaduais e Municipais de Educação poderia contribuir para a mobilização e o debate educacional descentralizado e criar um novo espaço de aprendizado de processos de planejamento coletivo, especialmente naqueles estados e municípios que têm exercido pouco esta prática. 
O ciclo de debates sobre o Plano Nacional de Educação (PNE) abordou todos os níveis da educação básica e as modalidades especial, do campo e de jovens e adultos. Mesmo que o país tenha democratizado o acesso à educação, é preciso considerar que a educação nunca foi de qualidade para todos e é neste ponto que residem as razões da evasão e da repetência. De acordo com o Censo Escolar mostra que, em média, 40% dos alunos que ingressam na primeira série do ensino fundamental não passam para a segunda série e que, nas regiões Norte e Nordeste, esse índice sobe para 65% a 70%. Quando trata do recorte racial, também mostra a desigualdade na escolaridade entre a população branca e negra. Os brancos têm, em média, 8,4 anos de estudo e os negros e pardos, 6,2 anos. 
Objetivos do PNE: *Elevação global do nível de escolaridade da população; *Melhoria da qualidade de ensino em todos os níveis; *Redução da desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência com sucesso na escola pública; *Democratização da gestão do ensino público nos estabelecimentos oficiais.
O PNE está orientado por três eixos: *A Educação como direito. *A Educação como motor do desenvolvimento econômico e social. *A Educação como meio de combater a pobreza e a miséria, revertendo o quadro de exclusão social. E suas prioridades são: *Garantia de ensino fundamental obrigatório de 8 anos a todas as crianças de 7 aos 14 anos: acesso, permanência e conclusão desse ensino. *Garantia de ensino fundamental a todos que não tiveram acesso na idade própria ou que não concluíram. *Ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino. *Valorização dos profissionais da educação. *Desenvolvimento de sistemas de informações e de avaliação em todos os níveis de ensino. 
O Plano de desenvolvimento da Educação refere-se a todos os segmentos do ensino, mas tem um foco prioritário na Educação Básica. As medidas devem ser implementadas conjuntamente pela União, estados e municípios e visam solucionar os problemas que afetam o rendimento, a frequência e a permanência do aluno na escola. 
O PDE foi uma iniciativa governamental e teve como eixo norteador o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que serviu como parâmetro para avaliar a situação de cada município brasileiro, a partir dos resultados obtidos na Avaliação Nacional da Educação Básica, na Prova Brasil e no Censo Escolar.
A elaboração do plano contou com a participação de ex-ministros da Educação, além de docentes e pesquisadores de diferentes áreas convidados a contribuir para sua construção. Após sua elaboração, o plano foi apresentado à sociedade através de um Congresso acadêmico, pelo ministro da Educação, em 2007.
AULA 10 >> FINANCIAMNO DA EDUCAÇÃO E SUAS VERTNTES: EMENDA CONSTITUCIONAL No. 14, FUNDF, FUNDEB >> Educação como investimento>> Benefícios para o Poder Público: *correlação entre escolaridade da população e desenvolvimento; * atração de investimentos; *Dinamização do consumo; *Benefícios para o cidadão; *melhoria da qualidade de vida; *maior acesso a empregos qualificados; *ascensão sócio-econômica.
Meios para assegurar o direito: Vinculação constitucional: Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências na manutenção e desenvolvimento do ensino.(*) (*) Regulamento nos arts. 70 e 71 da LDB 9394/96.
Primeira subvinculação: FUNDEB: Art. 60, I - cria, no âmbito de cada estado e do Distrito Federal, um Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização do Magistério, de natureza contábil (FUNDEB).(*) (*) Regulamentado pela Lei Federal 11.494/2007 de 20 de junho de 2007. Composto por: 20% de: ITCM, ICMS, ISS, IPVA, IPTR, FPE, FPM, IPI; b) Recursos da União: complementação aos fundos que não atingirem o valor mínimo anual por aluno. Características do FUNDEB: *Equidade >> No âmbito de cada estado, investimento mínimo igual por aluno, independente de ser escola de rede estadual ou municipal; *Contas específicas e automaticidade dos repasses; *Conselho de Acompanhamento e Controle Social; *Programação orçamentária específica. 
FUNDEB – Mecanismo redistributivo (I): *Valor mínimo anual por aluno. *Fixado nacionalmente por Decreto do Executivo Federal. Em 2007: -Creche-751,05; -Pré escolar-851,66; -Séries iniciais E.F(urbano)-946,29; -Séries iniciais E.F(rural)-993,61; -Séries Finais E.F(urbano)-1040,92; -Séries Finais E.F(rural)-1088,24; -Ens. Fund.(integral)-1182,86; -Ens. Médio(urbano)-1135,55; -Ens. Médio(rural)-1182,86; -Ens.Médio (Int.e/ou +prof.)-2209,80; -Educ. Especial-2039,82; -Educ. Indígena-2039,82; -EJA-1189,89;.
FUNDEB – Mecanismo redistributivo (II): Valor mínimo anual por aluno é diferenciado: *Valor anual estimado por aluno para o FUNDEB no âmbito dos estados: Segundo o número de matrículas apurado pelo censo escolar do ano anterior:
E.F e E.E= totalidade das matrículas. E.I; E.M e EJA= 1/3 das matrículas em 2007, 2/3 em 2008 e a totalidade à partir de 2009.
Segunda subvinculação: 60 % dos recursos do FUNDEB >> Pagamentos dos professores/profissionais do magistério, inclusive encargos patronais... 
Retorno do FUNDEB para Estado/ Municípios – Lei 11.494/2007 >> Outros Recursos (I) Salário-educação: *Marco legal: CF – art.212,§5°, Lei 11.494/2007. *Fonte adicional de financiamento da educação básica pública. *Alíquota: 2,5% sobre o total de remuneração pagas ou creditadas, a empregados; *Cota federal: 1/3 do montante total dos recursos, aplicado em: Universalização da educação básica. *Redução dos desníveis sócio-econômicos; *Cota estadual: 2/3 do montante total de recursos, dos quais no mínimo 50% devem ser redistribuídos entre estado e municípios, proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica.
Linhas de financiamento do FNDE(cota – federal do Salário – Educação >> Principais projetos/Atividades: *Merenda –PNAE; *Livro Didático-PNLD; *Saúde Escolar-PNSE; *Prod.Progr.Mat. Educativos; *Veículos Escolares- PNTE; *PROINFO; * TV Escola; *Combate ao analfabetismo; *Educação Especial.
Podemos dizer que o FUNDEF é a resposta do governo FHC ao Acordo Nacional de Valorização do Magistério da Educação Básica -   assinado em julho de 1994, no governo de Itamar Franco que, entre outras medidas, estabelecia o compromisso de se fixar um Piso Salarial Nacional de R$ 300,00. A criação dos conselhos para o acompanhamento e fiscalização dos recursos do fundo pela sociedade poderia ter iniciado uma nova cultura de participação e fiscalização da população no orçamento dos recursos públicos, mas, na prática, esbarrou na relação de poder estabelecida na nossa organização social. Em muitos estados e municípios, a composição 
desses conselhos tem sido complementada por lei específica, de forma a reduzir aparticipação relativa da sociedade civil, o que, aliado à incapacidade técnica da representação social para análise da documentação contábil relativa à receita do Fundo e aplicação dos recursos no ensino fundamental, não possibilitou, ainda, um maior controle por parte da sociedade. Isso contribuiu para o surgimento de uma série de irregularidades na utilização dos recursos do fundo, de forma que o mecanismo de controle social representou muito pouco para o avanço da participação popular na história do financiamento da educação pública.
O FUNDEB (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) foi criado em dezembro de 2006, através da Emenda Constitucional nº 53, para atender toda a educação básica (creche, pré-escola, ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos). Esse fundo substituiu o FUNDEF, que só previa recursos para o ensino fundamental. Ele é um fundo de natureza contábil, regulamentado pela Medida Provisória nº 339, posteriormente convertida na Lei nº 11.494/2007.  Sua implantação foi iniciada em 1º de janeiro de 2007, de forma gradual, com previsão de ser concluída em 2009, quando estará funcionando com todo o universo de alunos da educação básica pública presencial e os percentuais de receitas que o compõe terão alcançado o patamar de 20% de contribuição. Sua vigência está prevista para o ano de 2020, atendendo, a partir do terceiro ano de funcionamento, 47 milhões de alunos. Para que isto ocorra, o aporte do governo federal ao fundo, de R$ 2 bilhões em 2007, aumentará para R$ 3 bilhões em 2008, R$ 4,5 bilhões em 2009 e 10% do montante resultante da contribuição de estados e municípios a partir de 2010.
Retorno do FUNDEB
40 % MDE da Educação Básica.
60 % Magistério da educação Básica.
Remuneração Encargos patronais

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