Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 EXMO(A).SR(A). JUIZ(A) FEDERAL DA 10ª VARA DO TRABALHO DE BELÉM/PA. ______________________________________________________________________________ Processo nº 0001335-34.2015.5.08.0017 Reclamante: Glaucia Renata Pereira Maciel. Reclamada: COOPETPAN - Cooperativa de Transporte de Passageiros do Norte. ______________________________________________________________________________ COOPETPAN - Cooperativa de Transporte de Passageiros do Norte, já qualificada nos autos da Reclamação Trabalhista, ao norte indicada, vem, por seu procurador judicial infra- assinado, não se conformando com a preclara sentença prolatada, com fundamento no art. 895, inc. I, da CLT, interpor RECURSO ORDINÁRIO para o Colendo Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, ante as razões de fato e de direito colacionadas na fundamentação anexa, requerendo a Vossa Excelência que, recebido e processado, seja encaminhado àquela Superior Instância. Anexa a Recorrente os comprovantes de pagamento do depósito recursal e das custas processuais para admissão do presente recurso. Termos em que pede deferimento. Belém/PA, 03 de novembro de 2016. MAURO MARQUES GUILHON OAB/PA 9805 2 RECURSO ORDINÁRIO PROC. Nº 0001335-34.2015.5.08.0017 RECORRENTE: COOPETPAN - COOPERATIVA DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS DO NORTE. RECORRIDA: GLAUCIA RENATA PEREIRA MACIEL. RAZÕES DO RECURSO DO RECORRENTE Egrégio Tribunal Colenda Turma Eméritos Julgadores, A Autora, ora Recorrida, ajuizou a presente Reclamação Trabalhista pleiteando da Reclamada, ora Recorrente, parcelas referentes a acúmulo de função e reflexos, horas extras e reflexos, horas intrajornada e reflexos e indenização por dano moral. A decisão monocrática julgou parcialmente procedente os pedidos da Recorrida, referentes a horas extras e horas intrajornada, bem como seus reflexos sobre aviso prévio; 13º salário, férias + 1/3, Repousos Semanais Remunerados e FGTS mais 40%; contribuição previdenciária incidente sobre as parcelas de natureza remuneratória, ora deferidas; bem como, o valor devido pelo Reclamante a título de imposto de renda; julgando improcedentes os demais pedidos exordiais. Com a devida vênia, Exas., em relação às parcelas deferidas no decisum, entende a Recorrente que a decisão monocrática merece reforma. Vejamos: 1. DOS PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS DO RECURSO A Recorrente tomou ciência da r. sentença através de publicação da sentença no DJT em 27 de outubro de 2016 (quinta-feira), com término do octídio recursal em 04/11/2016 (sexta- feira) estando, portanto, tempestivo o presente recurso, além de subscrito por advogado regularmente constituído nos autos ( id 780e1c0). A Recorrente ratifica a juntada do comprovante de depósito recursal e do recolhimento das custas, conforme sentença (id 8838295). 2. DOS PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS DO RECURSO 3 A Recorrida ajuizou Reclamação Trabalhista objetivando a recebimento de valores referentes a acúmulo de função e reflexos; horas extras e reflexos; horas intrajornada e reflexos e indenização por dano moral. MM. Juízo a quo julgou a parcialmente procedente a presente ação, como já acima exposto. Quanto às parcelas deferidas (horas extras e horas intrajornada e seus consectários legais), a Recorrente, por não se conformar com o resultado do julgamento, passa a expor as razões para reforma da sentença: 2.1 DA PRELIMINAR DE NULIDADE DO PROCESSO POR CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA - INDEFERIMENTO DE SUBSTITUIÇÃO DE TESTEMUNHA Em audiência de instrução de 03/08/2016 (id b12f57b), a Recorrida requereu a substituição da testemunha João Carlos do Nascimento Lira, arrolada em audiência inaugural, por outra testemunha, Sr. Paulo Sebastião Lima Santos, motorista da Ré, presente à audiência de instrução, uma vez que o Sr. João Carlos havia sofrido um acidente e não poderia estar presente. O Juízo indeferiu a substituição da testemunha por entender que a Reclamada deveria ter feito prova do acidente ocorrido com a testemunha e da impossibilidade da mesma estar presente. Com a devida vênia, Exas., o indeferimento de substituição da testemunha, além de não encontrar respaldo legal, sequer é razoável, eis que, referida substituição não traria qualquer prejuízo para o andamento do processo. Ao contrário, ao indeferir essa substituição, o Juízo de primeiro grau feriu de morte o direito de defesa da Ré, que se viu privada de rebater as alegações exordias, sobretudo aquelas que ensejaram a condenação em horas extras e horas intervalares. Não há qualquer legalidade na decisão denegatória de substituição da testemunha, eis que a Lei não impede essa substituição. Conforme observamos no artigo 5º LV da CF, é assegurado aos litigantes de processo administrativo e judicial, o direito à ampla defesa e contraditório, o que foi cerceado na audiência do presente processo. O indeferimento da oitiva da testemunha do recorrente causou-lhe imenso prejuízo, já que não conseguiu provar os fatos sem a referida testemunha. Ademais, o artigo 794 e 795 da CLT tratam justamente dos casos de nulidade processual, como é o caso em tela, tendo em vista que houve imenso prejuízo à Recorrente, pelo o indeferimento da testemunha em questão. Com isso, podemos observar que o indeferimento causa nulidade relativa quando há prejuízo à parte que foi o que ocorreu com a Recorrente. 4 Por outro lado, exigir que a empresa apresentasse, não só a prova do acidente ocorrido com a Testemunha, como também prova da impossibilidade de seu comparecimento, também não encontra qualquer respaldo legal, sobretudo porque inexistiria qualquer prejuízo ao regular andamento do processo, já que sequer foi requerida a transferência da audiência para oitiva de testemunha em momento posterior. No processo civil são restritas as hipóteses de substituição de testemunhas, tendo em vista a obrigatoriedade de arrolamento prévio daquelas. Como no direito do trabalho não há arrolamento prévio de testemunhas, ainda que a parte o faça, poderá substituí-la por ocasião da audiência. Esse é o entendimento do Prof. Manoel Antônio Teixeira Filho. Vejamos: “Se a parte se houver comprometido de levar a testemunha à audiência, independentemente de intimação, mas esta não comparecer, presume a lei (CPC, art. 455, § 2º) que desistiu de ouvi-la. Tais disposições do CPC, em alguns casos, vêm sendo aplicadas, em manifesto equívoco, no processo do trabalho, como se a CLT não possuísse norma específica sobre a matéria. De efeito, a CLT em nenhum momento exige que os litigantes depositem em juízo os róis de suas testemunhas, conquanto não obste a que isso possa ser feito. Estamos cogitando, contudo, de uma imposição legal e não de uma faculdade da parte. Ora, bem. No processo do trabalho, as testemunhas, em regra, são apresentadas no dia da própria audiência, sem necessidade de qualquer nomeação anterior – salvo se se pretendia que se fossem intimadas. (...) Provavelmente por esse motivo não tenha o legislador processual trabalhista instituído, em caráter obrigatório, o referido rol, como fez o CPC. Não nos cabe, de qualquer forma, investigar a mens legislatoris, e sim apreciar a matéria à luz do texto legal, no qual não se encontra nenhuma exigência a esse respeito. A CLT, ao contrário, estatui que as testemunhas que não comparecerem serão intimadas de ofícioou a requerimento da parte interessada (art. 825, parágrafo único). Assim, qualquer interpretação concludente com o mencionado dispositivo pressupõe tenha sido requerida, previamente, a intimação (e à qual a testemunha não atendeu), é passível de censura acerba, porquanto visa instalar no corpo do processo do trabalho um espírito nimiamente civilista. Mesmo que a parte, no procedimento ordinário, tenha se comprometido em levar a testemunha à audiência, independentemente de intimação, e esta, por motivo inclusive desconhecido do litigante, não comparecer, caberá ao juiz providenciar a sua intimação, de ofício ou a requerimento do interessado, salvo se a parte desistir da inquirição.” [Comentários ao novo código de processo civil sob a perspectiva do processo do trabalho: (Lei n 1.105, 16 de março de 2015) / Manoel Antônio Teixeira Filho. – São Paulo : Ltr, 2015. P. 589] 5 Os arestos, abaixo transcritos, corroboram a tese da Recorrente: Processo: RR - 98900-76.2007.5.20.0006 Data de Julgamento: 18/11/2009, Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/11/2009. Ementa: RECURSO DE REVISTA. NULIDADE DA SENTENÇA. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. OITIVA DE TESTEMUNHA. Ausentes à audiência de instrução as testemunhas intimadas anteriormente e presentes outras trazidas espontaneamente pelo autor, uma vez negada a substituição, outra não seria a alternativa do que aquela preconizada no parágrafo único do art. 825 da CLT. A determinação coercitiva pelo D. Juízo de primeiro grau é medida que se impõe, sob pena de cerceamento do direito de defesa do reclamante. Recurso de revista conhecido e provido. Processo: TRT-9 - 4942010965902 PR 494-2010-965-9-0-2 (TRT-9) Data de publicação: 21/08/2012 Ementa: TRT-PR-21-08-2012 SUBSTITUIÇÃO DE TESTEMUNHA NA AUDIÊNCIA. POSSIBILIDADE. INDEFERIMENTO DE PROVA ORAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. As testemunham que não comparecerem na audiência serão intimadas "ex officio" ou a requerimento da parte (art. 825, parágrafo único, CLT), não se aplicando o preceito do art. 407 do CPC, que exige a apresentação do rol de testemunhas em cartório no prazo assinado pelo Juiz. Inexistindo omissão no ramo processual trabalhista, não se pode utilizar de normas processuais civis (art. 769, CLT). A substituição de testemunhas no processo do trabalho deve ser tratada de forma diversa do que preceitua o Código de Processo Civil (art. 408, CPC), haja vista que inaplicável no âmbito trabalhista o artigo 407 deste diploma legal. O fato de o Autor ter indicado nomes de algumas testemunhas a serem ouvidas não obsta o pedido de substituição da testemunha que não foi localizada. Não se ignora que o Juiz do Trabalho tem o poder- dever de velar pela rápida solução do litígio (art. 765, CLT), bem como de indeferir as diligências inúteis ou meramente protelatórias (art. 130, CPC), porém a inquirição de testemunha somente pode ser indeferida quando relacionada a fatos já provados por documento ou confissão ou quando só por documentos ou exame pericial puderem ser provados (art. 400, CPC), o que não se vislumbra no caso em análise. Acolhe-se a preliminar arguida pelo Autor, reconhecendo-se a nulidade processual por cerceamento de defesa em face do indeferimento da substituição de testemunha requerida em audiência. (sublinhamos) Processo: RO 01543201209403000 0001543-24.2012.5.03.0094 Relator(a): Convocado Jesse Claudio Franco de Alencar Órgão Julgador: Nona Turma 6 Publicação: 10/07/2013 09/07/2013. DEJT. Página 97. Boletim: Sim. Ementa SUBSTITUIÇÃO DE TESTEMUNHA. INDEFERIMENTO. CERCEAMENTO DE DEFESA. CONFIGURAÇÃO. O processo do trabalho possui regramento próprio acerca da substituição de testemunhas, conforme dispõe os artigos 825 e 845 da CLT, no sentido de que estas comparecerão à audiência juntamente com as partes, independentemente de intimação, não necessitando sequer de arrolamento prévio. Possibilita, inclusive, a substituição das testemunhas, sem qualquer formalidade, desde que observado o limite de três testemunhas. Cabe ao magistrado tolerar a substituição desde que o fato não importe em adiamento da audiência, considerados os princípios da celeridade e razoável duração do processo. (sublinhamos) Registre-se, ainda, que a Instrução Normativa 39-2016 do TST não faz qualquer referência aos artigos 451 e 455 do novel CPC, que tratam, justamente, da substituição de testemunha, o que se depreende que o Colendo Tribunal reputa inaplicáveis os comandos civilistas ao processo do trabalho. A manutenção da decisão monocrática, nesse aspecto, configura cerceamento do direito de defesa e violação ao artigo 5º, incisos LIV e LV, da CF/88. Conforme se evidenciou, o flagrante prejuízo ao recorrente em razão do indeferimento de sua testemunha pelo Juízo “a quo”, conforme dispõe o artigo 795 parágrafo 2º da CLT, razão pela qual se impõe a declaração de nulidade da sentença e o retorno dos autos à origem para o regular prosseguimento do feito, com a oitiva da testemunha da Recorrida, Sr. Paulo Sebastião Lima Santos. Caso não seja acatada a preliminar supra exposta, passemos à análise do mérito. 2.2 DAS HORAS EXTRAS E HORAS INTERVALARES E RESPECTIVAS PARCELAS CONSECTÁRIAS A Autora, ora Recorrida, pleiteou em sua exordial, “175,24 horas extras até os dias atuais, com acréscimo de 60%, percentual previsto na Norma Coletiva”. Para chegar a essa absurda e inverossímil jornada laboral, a Recorrida alegou que tinha que trabalhar iniciando sua jornada ou as 3:55 horas da manhã, ou as 10:15, sendo que este ultimo dia a mesma trabalhava por um dia nos dias trabalhados. 7 Sustentou a Autora que, quando trabalhava no primeiro horário as 3:55 horas da manhã a mesma largava os serviços as 21:00 horas. Já quando a mesma trabalhava no horário das 10:15 a mesma largava as 22:00 horas; sendo que, informa que este ultimo horário era apenas uma vez em cada 8 dias de trabalho. Prosseguindo em sua confusa exordial, aduziu: “Assim temos que a reclamante trabalhava a cada dia por 17 horas em 7 dias e no oitavo o mesmo trabalhava por 12 horas. Uma vez que a reclamante no mês trabalhava por 22 dias, pois a cada 5 dias de trabalho a mesma folgava 2 dias.” E prossegue em sua narrativa exordial: “Diante disto Chegamos a conclusão que a reclamante trabalhava por 22 dias sendo que em vinte dias a sua jornada diária era de 17 horas e nos dias que restavam pra completar os 22 dias de trabalho mensal a mesma trabalhava por 12 horas. Assim no mês o eu dá um total de horas trabalhadas de 364 horas trabalhadas no mês, sendo que dessas horas o reclamante não tinha direito a intervalo para alimentação, assim também como não recebia o ticket alimentação.” E para concluir, arremata o estapafúrdio cálculo de horas extras e horas intervalares: “A reclamante trabalhava na linha mosqueiro / Belém / Mosqueiro. Portanto, o obreiro realizava 364 horas por mês, sem ter direito a intervalo pra alimentação totalizando como já dissemos efetivamente laboradas. Levando em conta que o autor deveria trabalhar 364 horas efetivamente 188,76 horas por mês (resultado obtido através da multiplicação do número de horas da jornada semanal legal 44 pelo nº de semanas do mês 4,291 = 188,76) chegamos à conclusão que o obreiro laborou extraordinárias, não pagas pela reclamada.175,24 horas.” Exas., sem ainda adentrar nos fundamentos da condenação, é imperioso, desde já, destacarmos que a inverossímil jornada de trabalho suscitada pela Autoranão se sustenta pelos próprios horários que a mesma aponta na exordial. Isso posto, o Recorrente impugnou a jornada declinada pela Autora, aduzindo que a mesma não fazia horas extras. Quanto ao horário de trabalho da Obreira, informou que esta laborava das 07:00h/08:00h às 17:00h/18:00h, trabalhando 5 dias por semana. Os repousos semanais remunerados eram gozados, inclusive como se depreende da afirmação exordial de que a obreira folgava 02 (dois) dias por semana. Por sua vez, mesmo a Autora não produzindo na instrução processual qualquer prova quanto à alegada jornada de trabalho, a empresa recorrente foi condenada a pagar a absurda quantia de R$ 63.225,08, a título de horas extras horas intervalares e reflexos em ambas as parcelas. Um absurdo em termos de valor e de realidade fática! Como se depreende da decisão monocrática, a fundamentação é a de que a empresa, por não ter apresentado os controles de jornada da Autora, nos termos do art. 74, § 2º da CLT, não 8 teria se desincumbido de seu ônus probatório, nos termos do art. 818 da CLT e da Súmula 338 do C. TST. Com a devida vênia, Exas., e sem prejuízo da preliminar suscitada em razão o indeferimento de substituição da testemunha da empresa, o entendimento do Juízo monocrático encontra-se dissociado das provas produzidas na instrução processual, além afrontar o ônus probatório esculpido no art. 818, bem como, violar o disposto no próprio art. 74, § 2º, ambos da CLT. Nos termos da Súmula 338, I, do C. TST, a não-apresentação injustificada dos controles de frequência pela Reclamada gera presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário. Pedimos vênia para transcrever, integralmente, o depoimento da Autora/Recorrida, com destaques nossos: DEPOIMENTO DO(A) RECLAMANTE: (o(a) preposto(a) do(a) reclamado(a) deve aguardar fora da sala de audiência) que depoente trabalhava por escala; que o primeiro horário da escala iniciava as 03.55h; que os horários subsequentes iniciavam-se 20 minutos depois e assim sucessivamente ate as 10.00h; que a cada dia a depoente iniciava a jornada no horário subsequente; que a depoente realizava de 3 a 4 viagens por dia; que cada viagem redonda durava de 5 a 6 horas; que as vezes havia intervalo entre uma viagem e outra de 20 a 30 minutos e outras vezes não; que durante as viagens a depoente as vezes colocava ouro cobrador em seu lugar e ia ao banco fazer depósitos; que esses depósitos eram da renda; que os veículos da cooperativa são dos cooperados; que o pagamento da revisão e manutenção dos veículos era retirado da renda; que a depoente acompanhava o motorista ate a revisão ou manutenção. Às perguntas formuladas pelo(a) patrono(a) do(a) reclamada(o) respondeu: que os depósitos eram feitos em agencia bancária do BANCO DO BRASIL. NÃO HOUVE MAIS PERGUNTAS. ENCERRADO O DEPOIMENTO.” Portanto, no próprio depoimento da Autora, já existe contradição com a jornada declinada na exordial. Vejam Exas.: A Autora disse em seu depoimento que trabalhava em escala, contrariando a alegação exordial de que trabalhava iniciando sua jornada ou às 3:55 horas da manhã, ou às 10:15, sendo que este último dia a mesma trabalhava por um dia nos dias trabalhados. Prossegue em seu depoimento a Obreira: “(...) que os horários subsequentes iniciavam- se 20 minutos depois e assim sucessivamente ate as 10.00h; que a cada dia a depoente iniciava a jornada no horário subsequente; (...)” 9 Por outro lado, a Autora não informou o término de sua jornada de trabalho e, portanto, acabou por não declinar sua jornada efetivamente trabalhada. Em suma, o depoimento da Autora, além de contradizer os termos da exordial quanto aos horários de labor, foi, no mínimo, inconclusivo quanto a sua efetiva jornada laboral. Melhor sorte não assiste a Recorrida quanto ao depoimento da única testemunha que arrolou, para efeito de corroborar a jornada de trabalho declinada na exordial. Mais uma vez, pedimos vênia para transcrevermos, com destaques nossos, o depoimento dessa Testemunha: “DEPOIMENTO DA TESTEMUNHA ARROLADA PELO(A) RECLAMANTE: Sr.(a) NAZARENO SANTOS DA SILVA JUNIOR, já qualificada. AOS COSTUMES NADA DISSE. TESTEMUNHA ADVERTIDA E COMPROMISSADA NA FORMA DA LEI. Sendo indagado respondeu: que o depoente trabalhou na reclamada de maio de 2011 a maio de 2013 como motorista fazendo a linha BELEM/MOSQUEIRO/ BELEM; que são realizadas 3 viagens de ida e 3 de volta diariamente; que a ida dura de 2 horas e 30 minutos em media assim como a volta; que raramente há intervalo entre uma viagem e outra e quando isso ocorre é de 15 minutos; que algumas vezes o depoente levou o veiculo para revisão/manutenção mas isso ocorreu raramente; que as vezes o depoente era acompanhado pelo cobrador; que chegou a trabalhar junto com a reclamante no mesmo veículo, mas isso não ocorria muito; que todas as vezes que o depoente elevou o veículo para revisão/manutenção foi acompanhado com a reclamante; que a reclamante fazia esse serviço para um cooperado específico; que o depoente não sabe dizer se esse cooperado pagava algum valor para a reclamante fazer esse serviço; que a reclamante prestava contas da renda com o próprio cooperado; que o depoente na o sabe dize o que era feito do dinheiro recebido pelo cobrador. O depoimento, acima transcrito, não se presta a corroborar a Jornada da Autora, seja porque a testemunha, só excepcionalmente, trabalhou com a Autora; seja porque o período em que trabalhou para a Recorrida foi de maio/2011 a maio/2013. A presunção de veracidade dos fatos narrados na exordial, aplicada nos casos em que não foram apresentados controles de ponto pelo empregador, conforme redação da Súmula 338 do TST, é apenas relativa e, portanto, pode ser afastada por prova em contrário. No caso, o próprio depoimento da Autora, ora Recorrida, demonstra a inverdade da jornada de trabalho e horários declinados na exordial. A Reclamada, embora descumprindo o comando do art. 74 § 2º da CLT, não pode ser simplesmente punida com uma condenação em horas extras nos exatos limites da peça vestibular, 10 como se a presunção pela não apresentação de controles de jornada tivesse caráter punitivo de presunção absoluta: ou ainda: como se a empresa fosse revel e, como consequência de sua revelia, lhe fosse aplicada a pena de confissão ficta. A propósito, ainda que fosse o caso da confissão ficta em razão de revelia, nessa situação o Juízo também não estaria desobrigado de fazer o cotejo das provas produzidas na instrução processual, tal como no presente caso. Por conseguinte, não é minimamente razoável que a Obreira, tal como declinado na exordial, trabalhava a cada dia por 17 horas em 7 dias e no oitavo o mesmo trabalhava por 12 horas. Os arestos, abaixo transcritos, corroboram a tese da Recorrente: Processo: RR 1137001520035090020 113700-15.2003.5.09.0020 Relator(a): Maria de Assis Calsing Julgamento: 09/10/2013 Órgão Julgador: 4ª Turma Publicação: DEJT 11/10/2013 Ementa RECURSO DE REVISTA. HORAS EXTRAS. SÚMULA N.º 338, I, DO TST. PRESUNÇÃO RELATIVA DA JORNADA INDICADA. A presunção de veracidade da jornada de trabalho indicada pelo Autor, prevista no item I da Súmula n.º 338 do TST, não é absoluta, podendo ser ilidida por declaração do julgador que a entende inverossímil, nos termos do princípio da livre apreciação da prova, constante do art. 131 do CPC. Recurso de Revista não conhecido. Processo: RO 00009212420125010021RJ Relator(a): Leonardo Dias Borges Julgamento: 28/04/2014 Órgão Julgador: Terceira Turma Publicação: 21/05/2014 Ementa HORAS EXTRAS. CONTROLES DE HORÁRIO. AUSÊNCIA PARCIAL. SÚMULA N1 338 DO TST. APLICAÇÃO. PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE. A ausência de juntada de parte dos controles de jornada, por parte da empresa, enseja presunção relativa de veracidade acerca da jornada de trabalho indicada na petição inicial, a teor da Súmula n1 338 do C. TST e não presunção absoluta, invertendo-se, assim, o ônus da prova. Havendo prova oral do horário de trabalho do autor, ancorado em depoimento de testemunha, este deve prevalecer. 11 Processo: RO 00014354020145120040 SC 0001435-40.2014.5.12.0040 Relator(a): Nivaldo Stankiewicz Órgão Julgador: SECRETARIA DA 3A TURMA Publicação: 17/03/2016 Ementa SÚMULA Nº 338, I, DO TST. PRESUNÇÃO RELATIVA DA JORNADA DECLINADA NA INICIAL. A presunção juris tantum de veracidade da jornada declinada na inicial (Súmula n. 338, I, do TST), em razão da ausência da juntada dos cartões-ponto pela parte ré, é relativa, devendo o Juiz formar sua convicção em cotejo com as demais provas dos autos. Processo: RO 00101219120145010051 RJ Relator(a): Claudia Regina Vianna Marques Barrozo Julgamento: 18/03/2015 Órgão Julgador: Sétima Turma Publicação: 11/05/2015 Ementa HORAS EXTRAS. AUSÊNCIA INJUSTIFICADA DOS CONTROLES DE FREQUÊNCIA. SÚMULA N. 338 DO TST. PRESUNÇÃO RELATIVA. No caso, a testemunha conduzida pela própria Autora não confirmou, em sua integralidade, a jornada aduzida na inicial, tendo até contrariado a tese sustentada quanto a não fruição dos intervalos intrajornada, afastando, assim, a incidência da Súmula n. 338 do C. TST. Registre-se novamente que o quantitativo de horas extras declinadas na exordial resta erroneamente quantificado. Com efeito, nos termos da cláusula sétima das Convenções Coletivas da Categoria juntadas pela própria Reclamante, as horas trabalhadas que excederem a 44 (quarenta e quatro) horas semanais serão pagas com acréscimo de 60% (sessenta por cento) sobre o valor da hora normal, calculada de acordo com o salário-base mensal. Portanto, a condenação imposta pelo Juízo monocrático, sem contar com o embasamento do próprio instrumento normativo da categoria, apenas reproduz o petitório exordial, sem qualquer embasamento legal! Em suma, ainda que a Autora/Recorrida provasse a realização de horas extras nos horários declinados na exordial, ainda sim esse quantitativo não seria de absurdas 175,24 horas extras, já que, como extras, de acordo com o próprio instrumento normativo, só seriam computadas as que excedessem a 44 horas semanais! A reforma do julgado se impõe até por uma simples questão matemática! 12 O adicional de 60% previsto no instrumento normativo não se aplica a intrajornada, por absoluta falta de previsão legal! Portanto, no mérito do presente recurso, pugna a Recorrente pela reforma do julgado, para exclusão da condenação das parcelas de horas extras, horas intervalares e de consectários em ambas as parcelas. 2.3 DO PREQUESTIONAMENTO DAS MATÉRIAS SUCITADAS EM SEDE RECURSAL A Recorrente pugna para que todas as suas manifestações constantes dos autos, como parte integrante deste recurso, sejam apreciadas por esta C. Turma, dentro do efeito devolutivo ínsito ao recurso ordinário, requerendo, desde já, que todas as matérias suscitadas nas presentes razões recursais, sejam objeto de prequestionamento, a fim de viabilizar a eventual interposição do Recurso de Revista ao Tribunal Superior do Trabalho - TST. 3. CONCLUSÃO Por todo o acima exposto, pugna a Recorrente que esse Egrégio Tribunal, conhecendo o presente recurso, lhe dê provimento para: 3.1. Que, acatando a preliminar suscitada, anule a decisão recorrida, pelo cerceamento de defesa da Ré, em razão da negativa do Juízo monocrático de substituição da testemunha para inquirição, determinando, como consequência, o retorno dos autos ao mesmo Juízo oitiva dessa testemunha. 3.2. No mérito: que V. Exas., reformem totalmente a decisão recorrida, para excluir da condenação o pagamento de horas extras, de horas intervalares e demais parcelas consectárias de ambas, por ser medida de inteira e total Justiça. Termos em que pede deferimento. Belém/PA, 03 de novembro de 2016. MAURO MARQUES GUILHON OAB/PA 9805
Compartilhar