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EXMO(A).SR(A). JUIZ(A) FEDERAL DA 10ª VARA DO TRABALHO DE BELÉM/PA. 
______________________________________________________________________________ 
Processo nº 0001335-34.2015.5.08.0017 
Reclamante: Glaucia Renata Pereira Maciel. 
Reclamada: COOPETPAN - Cooperativa de Transporte de Passageiros do Norte. 
______________________________________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COOPETPAN - Cooperativa de Transporte de Passageiros do Norte, já qualificada 
nos autos da Reclamação Trabalhista, ao norte indicada, vem, por seu procurador judicial infra-
assinado, não se conformando com a preclara sentença prolatada, com fundamento no art. 895, 
inc. I, da CLT, interpor RECURSO ORDINÁRIO para o Colendo Tribunal Regional do Trabalho da 
8ª Região, ante as razões de fato e de direito colacionadas na fundamentação anexa, requerendo a 
Vossa Excelência que, recebido e processado, seja encaminhado àquela Superior Instância. 
 
 
Anexa a Recorrente os comprovantes de pagamento do depósito recursal e das custas 
processuais para admissão do presente recurso. 
 
 
Termos em que pede deferimento. 
 
Belém/PA, 03 de novembro de 2016. 
 
 
 
MAURO MARQUES GUILHON 
 OAB/PA 9805 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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RECURSO ORDINÁRIO 
PROC. Nº 0001335-34.2015.5.08.0017 
RECORRENTE: COOPETPAN - COOPERATIVA DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS DO 
NORTE. 
RECORRIDA: GLAUCIA RENATA PEREIRA MACIEL. 
 
RAZÕES DO RECURSO DO RECORRENTE 
 
Egrégio Tribunal 
 
Colenda Turma 
 
 
Eméritos Julgadores, 
 
 A Autora, ora Recorrida, ajuizou a presente Reclamação Trabalhista pleiteando da 
Reclamada, ora Recorrente, parcelas referentes a acúmulo de função e reflexos, horas extras e 
reflexos, horas intrajornada e reflexos e indenização por dano moral. 
 
A decisão monocrática julgou parcialmente procedente os pedidos da Recorrida, 
referentes a horas extras e horas intrajornada, bem como seus reflexos sobre aviso prévio; 13º 
salário, férias + 1/3, Repousos Semanais Remunerados e FGTS mais 40%; contribuição 
previdenciária incidente sobre as parcelas de natureza remuneratória, ora deferidas; bem como, o 
valor devido pelo Reclamante a título de imposto de renda; julgando improcedentes os demais 
pedidos exordiais. 
 
Com a devida vênia, Exas., em relação às parcelas deferidas no decisum, entende a 
Recorrente que a decisão monocrática merece reforma. Vejamos: 
 
 
1. DOS PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS DO RECURSO 
 
 A Recorrente tomou ciência da r. sentença através de publicação da sentença no DJT 
em 27 de outubro de 2016 (quinta-feira), com término do octídio recursal em 04/11/2016 (sexta-
feira) estando, portanto, tempestivo o presente recurso, além de subscrito por advogado 
regularmente constituído nos autos ( id 780e1c0). 
 
A Recorrente ratifica a juntada do comprovante de depósito recursal e do recolhimento 
das custas, conforme sentença (id 8838295). 
 
 
2. DOS PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS DO RECURSO 
 
 
 
 
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A Recorrida ajuizou Reclamação Trabalhista objetivando a recebimento de valores 
referentes a acúmulo de função e reflexos; horas extras e reflexos; horas intrajornada e reflexos e 
indenização por dano moral. 
 
MM. Juízo a quo julgou a parcialmente procedente a presente ação, como já acima 
exposto. Quanto às parcelas deferidas (horas extras e horas intrajornada e seus consectários 
legais), a Recorrente, por não se conformar com o resultado do julgamento, passa a expor as 
razões para reforma da sentença: 
 
 
2.1 DA PRELIMINAR DE NULIDADE DO PROCESSO POR CERCEAMENTO DO DIREITO DE 
DEFESA - INDEFERIMENTO DE SUBSTITUIÇÃO DE TESTEMUNHA 
 
Em audiência de instrução de 03/08/2016 (id b12f57b), a Recorrida requereu a 
substituição da testemunha João Carlos do Nascimento Lira, arrolada em audiência inaugural, por 
outra testemunha, Sr. Paulo Sebastião Lima Santos, motorista da Ré, presente à audiência de 
instrução, uma vez que o Sr. João Carlos havia sofrido um acidente e não poderia estar presente. 
 
 O Juízo indeferiu a substituição da testemunha por entender que a Reclamada deveria 
ter feito prova do acidente ocorrido com a testemunha e da impossibilidade da mesma estar 
presente. 
 
Com a devida vênia, Exas., o indeferimento de substituição da testemunha, além de não 
encontrar respaldo legal, sequer é razoável, eis que, referida substituição não traria qualquer 
prejuízo para o andamento do processo. Ao contrário, ao indeferir essa substituição, o Juízo de 
primeiro grau feriu de morte o direito de defesa da Ré, que se viu privada de rebater as alegações 
exordias, sobretudo aquelas que ensejaram a condenação em horas extras e horas intervalares. 
 
Não há qualquer legalidade na decisão denegatória de substituição da 
testemunha, eis que a Lei não impede essa substituição. 
 
Conforme observamos no artigo 5º LV da CF, é assegurado aos litigantes de processo 
administrativo e judicial, o direito à ampla defesa e contraditório, o que foi cerceado na audiência do 
presente processo. 
 
O indeferimento da oitiva da testemunha do recorrente causou-lhe imenso prejuízo, já 
que não conseguiu provar os fatos sem a referida testemunha. Ademais, o artigo 794 e 795 da CLT 
tratam justamente dos casos de nulidade processual, como é o caso em tela, tendo em vista que 
houve imenso prejuízo à Recorrente, pelo o indeferimento da testemunha em questão. 
 
Com isso, podemos observar que o indeferimento causa nulidade relativa quando há 
prejuízo à parte que foi o que ocorreu com a Recorrente. 
 
 
 
 
 4 
Por outro lado, exigir que a empresa apresentasse, não só a prova do acidente ocorrido 
com a Testemunha, como também prova da impossibilidade de seu comparecimento, também não 
encontra qualquer respaldo legal, sobretudo porque inexistiria qualquer prejuízo ao regular 
andamento do processo, já que sequer foi requerida a transferência da audiência para oitiva de 
testemunha em momento posterior. 
 
No processo civil são restritas as hipóteses de substituição de testemunhas, tendo em 
vista a obrigatoriedade de arrolamento prévio daquelas. Como no direito do trabalho não há 
arrolamento prévio de testemunhas, ainda que a parte o faça, poderá substituí-la por ocasião 
da audiência. 
 
Esse é o entendimento do Prof. Manoel Antônio Teixeira Filho. Vejamos: 
 
“Se a parte se houver comprometido de levar a testemunha à audiência, independentemente 
de intimação, mas esta não comparecer, presume a lei (CPC, art. 455, § 2º) que desistiu de 
ouvi-la. 
 
Tais disposições do CPC, em alguns casos, vêm sendo aplicadas, em manifesto equívoco, no 
processo do trabalho, como se a CLT não possuísse norma específica sobre a matéria. De 
efeito, a CLT em nenhum momento exige que os litigantes depositem em juízo os róis de suas 
testemunhas, conquanto não obste a que isso possa ser feito. Estamos cogitando, contudo, 
de uma imposição legal e não de uma faculdade da parte. Ora, bem. No processo do 
trabalho, as testemunhas, em regra, são apresentadas no dia da própria audiência, sem 
necessidade de qualquer nomeação anterior – salvo se se pretendia que se fossem 
intimadas. 
(...) 
Provavelmente por esse motivo não tenha o legislador processual trabalhista instituído, em 
caráter obrigatório, o referido rol, como fez o CPC. Não nos cabe, de qualquer forma, 
investigar a mens legislatoris, e sim apreciar a matéria à luz do texto legal, no qual não se 
encontra nenhuma exigência a esse respeito. A CLT, ao contrário, estatui que as 
testemunhas que não comparecerem serão intimadas de ofícioou a requerimento da parte 
interessada (art. 825, parágrafo único). Assim, qualquer interpretação concludente com o 
mencionado dispositivo pressupõe tenha sido requerida, previamente, a intimação (e à qual a 
testemunha não atendeu), é passível de censura acerba, porquanto visa instalar no corpo do 
processo do trabalho um espírito nimiamente civilista. 
 
Mesmo que a parte, no procedimento ordinário, tenha se comprometido em levar a 
testemunha à audiência, independentemente de intimação, e esta, por motivo inclusive 
desconhecido do litigante, não comparecer, caberá ao juiz providenciar a sua intimação, de 
ofício ou a requerimento do interessado, salvo se a parte desistir da inquirição.” [Comentários 
ao novo código de processo civil sob a perspectiva do processo do trabalho: (Lei n 1.105, 16 
de março de 2015) / Manoel Antônio Teixeira Filho. – São Paulo : Ltr, 2015. P. 589] 
 
 
 
 
 
 5 
 Os arestos, abaixo transcritos, corroboram a tese da Recorrente: 
 
Processo: RR - 98900-76.2007.5.20.0006 
Data de Julgamento: 18/11/2009, Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, 
Data de Publicação: DEJT 27/11/2009. 
 
Ementa: 
RECURSO DE REVISTA. NULIDADE DA SENTENÇA. CERCEAMENTO DO DIREITO 
DE DEFESA. OITIVA DE TESTEMUNHA. Ausentes à audiência de instrução as 
testemunhas intimadas anteriormente e presentes outras trazidas espontaneamente 
pelo autor, uma vez negada a substituição, outra não seria a alternativa do que aquela 
preconizada no parágrafo único do art. 825 da CLT. A determinação coercitiva pelo D. 
Juízo de primeiro grau é medida que se impõe, sob pena de cerceamento do direito de 
defesa do reclamante. Recurso de revista conhecido e provido. 
 
 
Processo: TRT-9 - 4942010965902 PR 494-2010-965-9-0-2 (TRT-9) 
Data de publicação: 21/08/2012 
 
Ementa: TRT-PR-21-08-2012 SUBSTITUIÇÃO DE TESTEMUNHA NA AUDIÊNCIA. 
POSSIBILIDADE. INDEFERIMENTO DE PROVA ORAL. CERCEAMENTO DE 
DEFESA. As testemunham que não comparecerem na audiência serão intimadas "ex 
officio" ou a requerimento da parte (art. 825, parágrafo único, CLT), não se aplicando o 
preceito do art. 407 do CPC, que exige a apresentação do rol de testemunhas em 
cartório no prazo assinado pelo Juiz. Inexistindo omissão no ramo processual 
trabalhista, não se pode utilizar de normas processuais civis (art. 769, CLT). A 
substituição de testemunhas no processo do trabalho deve ser tratada de forma diversa 
do que preceitua o Código de Processo Civil (art. 408, CPC), haja vista que inaplicável 
no âmbito trabalhista o artigo 407 deste diploma legal. O fato de o Autor ter indicado 
nomes de algumas testemunhas a serem ouvidas não obsta o pedido de substituição da 
testemunha que não foi localizada. Não se ignora que o Juiz do Trabalho tem o poder-
dever de velar pela rápida solução do litígio (art. 765, CLT), bem como de indeferir as 
diligências inúteis ou meramente protelatórias (art. 130, CPC), porém a inquirição de 
testemunha somente pode ser indeferida quando relacionada a fatos já provados por 
documento ou confissão ou quando só por documentos ou exame pericial puderem ser 
provados (art. 400, CPC), o que não se vislumbra no caso em análise. Acolhe-se a 
preliminar arguida pelo Autor, reconhecendo-se a nulidade processual por cerceamento 
de defesa em face do indeferimento da substituição de testemunha requerida em 
audiência. (sublinhamos) 
 
 
Processo: RO 01543201209403000 0001543-24.2012.5.03.0094 
Relator(a): Convocado Jesse Claudio Franco de Alencar 
Órgão Julgador: Nona Turma 
 
 
 
 6 
Publicação: 10/07/2013 
09/07/2013. DEJT. Página 97. Boletim: Sim. 
Ementa 
 
SUBSTITUIÇÃO DE TESTEMUNHA. INDEFERIMENTO. CERCEAMENTO DE 
DEFESA. CONFIGURAÇÃO. 
 
O processo do trabalho possui regramento próprio acerca da substituição de 
testemunhas, conforme dispõe os artigos 825 e 845 da CLT, no sentido de que estas 
comparecerão à audiência juntamente com as partes, independentemente de intimação, 
não necessitando sequer de arrolamento prévio. Possibilita, inclusive, a substituição das 
testemunhas, sem qualquer formalidade, desde que observado o limite de três 
testemunhas. Cabe ao magistrado tolerar a substituição desde que o fato não importe 
em adiamento da audiência, considerados os princípios da celeridade e razoável 
duração do processo. (sublinhamos) 
 
 
Registre-se, ainda, que a Instrução Normativa 39-2016 do TST não faz qualquer 
referência aos artigos 451 e 455 do novel CPC, que tratam, justamente, da substituição de 
testemunha, o que se depreende que o Colendo Tribunal reputa inaplicáveis os comandos civilistas 
ao processo do trabalho. 
 
 A manutenção da decisão monocrática, nesse aspecto, configura cerceamento do 
direito de defesa e violação ao artigo 5º, incisos LIV e LV, da CF/88. 
 
Conforme se evidenciou, o flagrante prejuízo ao recorrente em razão do indeferimento 
de sua testemunha pelo Juízo “a quo”, conforme dispõe o artigo 795 parágrafo 2º da CLT, razão 
pela qual se impõe a declaração de nulidade da sentença e o retorno dos autos à origem para o 
regular prosseguimento do feito, com a oitiva da testemunha da Recorrida, Sr. Paulo Sebastião 
Lima Santos. 
 
Caso não seja acatada a preliminar supra exposta, passemos à análise do mérito. 
 
 
2.2 DAS HORAS EXTRAS E HORAS INTERVALARES E RESPECTIVAS PARCELAS 
CONSECTÁRIAS 
 
A Autora, ora Recorrida, pleiteou em sua exordial, “175,24 horas extras até os dias 
atuais, com acréscimo de 60%, percentual previsto na Norma Coletiva”. 
 
Para chegar a essa absurda e inverossímil jornada laboral, a Recorrida alegou que tinha 
que trabalhar iniciando sua jornada ou as 3:55 horas da manhã, ou as 10:15, sendo que este ultimo 
dia a mesma trabalhava por um dia nos dias trabalhados. 
 
 
 
 
 7 
Sustentou a Autora que, quando trabalhava no primeiro horário as 3:55 horas da manhã 
a mesma largava os serviços as 21:00 horas. Já quando a mesma trabalhava no horário das 10:15 
a mesma largava as 22:00 horas; sendo que, informa que este ultimo horário era apenas uma 
vez em cada 8 dias de trabalho. 
 
Prosseguindo em sua confusa exordial, aduziu: “Assim temos que a reclamante 
trabalhava a cada dia por 17 horas em 7 dias e no oitavo o mesmo trabalhava por 12 horas. Uma 
vez que a reclamante no mês trabalhava por 22 dias, pois a cada 5 dias de trabalho a mesma 
folgava 2 dias.” 
 
E prossegue em sua narrativa exordial: 
 
“Diante disto Chegamos a conclusão que a reclamante trabalhava por 22 dias sendo 
que em vinte dias a sua jornada diária era de 17 horas e nos dias que restavam pra completar os 
22 dias de trabalho mensal a mesma trabalhava por 12 horas. Assim no mês o eu dá um total de 
horas trabalhadas de 364 horas trabalhadas no mês, sendo que dessas horas o reclamante não 
tinha direito a intervalo para alimentação, assim também como não recebia o ticket alimentação.” 
 
E para concluir, arremata o estapafúrdio cálculo de horas extras e horas intervalares: 
 
“A reclamante trabalhava na linha mosqueiro / Belém / Mosqueiro. Portanto, o obreiro 
realizava 364 horas por mês, sem ter direito a intervalo pra alimentação totalizando como já 
dissemos efetivamente laboradas. Levando em conta que o autor deveria trabalhar 364 horas 
efetivamente 188,76 horas por mês (resultado obtido através da multiplicação do número de horas 
da jornada semanal legal 44 pelo nº de semanas do mês 4,291 = 188,76) chegamos à conclusão 
que o obreiro laborou extraordinárias, não pagas pela reclamada.175,24 horas.” 
 
Exas., sem ainda adentrar nos fundamentos da condenação, é imperioso, desde já, 
destacarmos que a inverossímil jornada de trabalho suscitada pela Autoranão se sustenta pelos 
próprios horários que a mesma aponta na exordial. 
 
 Isso posto, o Recorrente impugnou a jornada declinada pela Autora, aduzindo que a 
mesma não fazia horas extras. Quanto ao horário de trabalho da Obreira, informou que esta 
laborava das 07:00h/08:00h às 17:00h/18:00h, trabalhando 5 dias por semana. Os repousos 
semanais remunerados eram gozados, inclusive como se depreende da afirmação exordial de que 
a obreira folgava 02 (dois) dias por semana. 
 
 Por sua vez, mesmo a Autora não produzindo na instrução processual qualquer prova 
quanto à alegada jornada de trabalho, a empresa recorrente foi condenada a pagar a absurda 
quantia de R$ 63.225,08, a título de horas extras horas intervalares e reflexos em ambas as 
parcelas. Um absurdo em termos de valor e de realidade fática! 
 
 Como se depreende da decisão monocrática, a fundamentação é a de que a empresa, 
por não ter apresentado os controles de jornada da Autora, nos termos do art. 74, § 2º da CLT, não 
 
 
 
 8 
teria se desincumbido de seu ônus probatório, nos termos do art. 818 da CLT e da Súmula 338 do 
C. TST. 
 
Com a devida vênia, Exas., e sem prejuízo da preliminar suscitada em razão o 
indeferimento de substituição da testemunha da empresa, o entendimento do Juízo monocrático 
encontra-se dissociado das provas produzidas na instrução processual, além afrontar o ônus 
probatório esculpido no art. 818, bem como, violar o disposto no próprio art. 74, § 2º, ambos da 
CLT. 
 
Nos termos da Súmula 338, I, do C. TST, a não-apresentação injustificada dos controles 
de frequência pela Reclamada gera presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho, a 
qual pode ser elidida por prova em contrário. 
 
Pedimos vênia para transcrever, integralmente, o depoimento da Autora/Recorrida, com 
destaques nossos: 
 
DEPOIMENTO DO(A) RECLAMANTE: (o(a) preposto(a) do(a) reclamado(a) 
deve aguardar fora da sala de audiência) que depoente trabalhava por escala; que o 
primeiro horário da escala iniciava as 03.55h; que os horários subsequentes iniciavam-se 20 
minutos depois e assim sucessivamente ate as 10.00h; que a cada dia a depoente iniciava a 
jornada no horário subsequente; que a depoente realizava de 3 a 4 viagens por dia; que 
cada viagem redonda durava de 5 a 6 horas; que as vezes havia intervalo entre uma viagem 
e outra de 20 a 30 minutos e outras vezes não; que durante as viagens a depoente as vezes 
colocava ouro cobrador em seu lugar e ia ao banco fazer depósitos; que esses depósitos 
eram da renda; que os veículos da cooperativa são dos cooperados; que o pagamento da 
revisão e manutenção dos veículos era retirado da renda; que a depoente acompanhava o 
motorista ate a revisão ou manutenção. 
 
Às perguntas formuladas pelo(a) patrono(a) do(a) reclamada(o) respondeu: que 
os depósitos eram feitos em agencia bancária do BANCO DO BRASIL. 
 
NÃO HOUVE MAIS PERGUNTAS. ENCERRADO O DEPOIMENTO.” 
 
Portanto, no próprio depoimento da Autora, já existe contradição com a jornada 
declinada na exordial. Vejam Exas.: 
 
A Autora disse em seu depoimento que trabalhava em escala, contrariando a alegação 
exordial de que trabalhava iniciando sua jornada ou às 3:55 horas da manhã, ou às 10:15, sendo 
que este último dia a mesma trabalhava por um dia nos dias trabalhados. 
 
Prossegue em seu depoimento a Obreira: “(...) que os horários subsequentes iniciavam-
se 20 minutos depois e assim sucessivamente ate as 10.00h; que a cada dia a depoente iniciava a 
jornada no horário subsequente; (...)” 
 
 
 
 
 9 
Por outro lado, a Autora não informou o término de sua jornada de trabalho e, portanto, 
acabou por não declinar sua jornada efetivamente trabalhada. 
 
Em suma, o depoimento da Autora, além de contradizer os termos da exordial 
quanto aos horários de labor, foi, no mínimo, inconclusivo quanto a sua efetiva jornada 
laboral. 
 
Melhor sorte não assiste a Recorrida quanto ao depoimento da única testemunha que 
arrolou, para efeito de corroborar a jornada de trabalho declinada na exordial. 
 
Mais uma vez, pedimos vênia para transcrevermos, com destaques nossos, o 
depoimento dessa Testemunha: 
 
 “DEPOIMENTO DA TESTEMUNHA ARROLADA PELO(A) RECLAMANTE: 
Sr.(a) NAZARENO SANTOS DA SILVA JUNIOR, já qualificada. 
 
AOS COSTUMES NADA DISSE. TESTEMUNHA ADVERTIDA E 
COMPROMISSADA NA FORMA DA LEI. Sendo indagado respondeu: que o depoente 
trabalhou na reclamada de maio de 2011 a maio de 2013 como motorista fazendo a linha 
BELEM/MOSQUEIRO/ BELEM; que são realizadas 3 viagens de ida e 3 de volta 
diariamente; que a ida dura de 2 horas e 30 minutos em media assim como a volta; que 
raramente há intervalo entre uma viagem e outra e quando isso ocorre é de 15 minutos; que 
algumas vezes o depoente levou o veiculo para revisão/manutenção mas isso ocorreu 
raramente; que as vezes o depoente era acompanhado pelo cobrador; que chegou a 
trabalhar junto com a reclamante no mesmo veículo, mas isso não ocorria muito; que 
todas as vezes que o depoente elevou o veículo para revisão/manutenção foi acompanhado 
com a reclamante; que a reclamante fazia esse serviço para um cooperado específico; que 
o depoente não sabe dizer se esse cooperado pagava algum valor para a reclamante fazer 
esse serviço; que a reclamante prestava contas da renda com o próprio cooperado; que o 
depoente na o sabe dize o que era feito do dinheiro recebido pelo cobrador. 
 
O depoimento, acima transcrito, não se presta a corroborar a Jornada da Autora, seja 
porque a testemunha, só excepcionalmente, trabalhou com a Autora; seja porque o período em 
que trabalhou para a Recorrida foi de maio/2011 a maio/2013. 
 
A presunção de veracidade dos fatos narrados na exordial, aplicada nos casos em que 
não foram apresentados controles de ponto pelo empregador, conforme redação da Súmula 338 do 
TST, é apenas relativa e, portanto, pode ser afastada por prova em contrário. 
 
No caso, o próprio depoimento da Autora, ora Recorrida, demonstra a inverdade da 
jornada de trabalho e horários declinados na exordial. 
 
A Reclamada, embora descumprindo o comando do art. 74 § 2º da CLT, não pode ser 
simplesmente punida com uma condenação em horas extras nos exatos limites da peça vestibular, 
 
 
 
 10 
como se a presunção pela não apresentação de controles de jornada tivesse caráter punitivo de 
presunção absoluta: ou ainda: como se a empresa fosse revel e, como consequência de sua 
revelia, lhe fosse aplicada a pena de confissão ficta. 
 
A propósito, ainda que fosse o caso da confissão ficta em razão de revelia, nessa 
situação o Juízo também não estaria desobrigado de fazer o cotejo das provas produzidas na 
instrução processual, tal como no presente caso. 
 
Por conseguinte, não é minimamente razoável que a Obreira, tal como declinado na 
exordial, trabalhava a cada dia por 17 horas em 7 dias e no oitavo o mesmo trabalhava por 12 
horas. 
 
Os arestos, abaixo transcritos, corroboram a tese da Recorrente: 
 
Processo: RR 1137001520035090020 113700-15.2003.5.09.0020 
Relator(a): Maria de Assis Calsing 
Julgamento: 09/10/2013 
Órgão Julgador: 4ª Turma 
Publicação: DEJT 11/10/2013 
 
Ementa 
RECURSO DE REVISTA. HORAS EXTRAS. SÚMULA N.º 338, I, DO TST. 
PRESUNÇÃO RELATIVA DA JORNADA INDICADA. 
A presunção de veracidade da jornada de trabalho indicada pelo Autor, prevista no item 
I da Súmula n.º 338 do TST, não é absoluta, podendo ser ilidida por declaração do 
julgador que a entende inverossímil, nos termos do princípio da livre apreciação da 
prova, constante do art. 131 do CPC. Recurso de Revista não conhecido. 
 
 
Processo: RO 00009212420125010021RJ 
Relator(a): Leonardo Dias Borges 
Julgamento: 28/04/2014 
Órgão Julgador: Terceira Turma 
Publicação: 21/05/2014 
 
Ementa 
HORAS EXTRAS. CONTROLES DE HORÁRIO. AUSÊNCIA PARCIAL. SÚMULA N1 
338 DO TST. APLICAÇÃO. PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE. 
A ausência de juntada de parte dos controles de jornada, por parte da empresa, enseja 
presunção relativa de veracidade acerca da jornada de trabalho indicada na petição 
inicial, a teor da Súmula n1 338 do C. TST e não presunção absoluta, invertendo-se, 
assim, o ônus da prova. Havendo prova oral do horário de trabalho do autor, ancorado 
em depoimento de testemunha, este deve prevalecer. 
 
 
 
 
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Processo: RO 00014354020145120040 SC 0001435-40.2014.5.12.0040 
Relator(a): Nivaldo Stankiewicz 
Órgão Julgador: SECRETARIA DA 3A TURMA 
Publicação: 17/03/2016 
 
Ementa 
SÚMULA Nº 338, I, DO TST. PRESUNÇÃO RELATIVA DA JORNADA DECLINADA NA 
INICIAL. 
A presunção juris tantum de veracidade da jornada declinada na inicial (Súmula n. 338, 
I, do TST), em razão da ausência da juntada dos cartões-ponto pela parte ré, é relativa, 
devendo o Juiz formar sua convicção em cotejo com as demais provas dos autos. 
 
Processo: RO 00101219120145010051 RJ 
Relator(a): Claudia Regina Vianna Marques Barrozo 
Julgamento: 18/03/2015 
Órgão Julgador: Sétima Turma 
Publicação: 11/05/2015 
 
Ementa 
HORAS EXTRAS. AUSÊNCIA INJUSTIFICADA DOS CONTROLES DE FREQUÊNCIA. 
SÚMULA N. 338 DO TST. PRESUNÇÃO RELATIVA. 
No caso, a testemunha conduzida pela própria Autora não confirmou, em sua 
integralidade, a jornada aduzida na inicial, tendo até contrariado a tese sustentada 
quanto a não fruição dos intervalos intrajornada, afastando, assim, a incidência da 
Súmula n. 338 do C. TST. 
 
Registre-se novamente que o quantitativo de horas extras declinadas na exordial resta 
erroneamente quantificado. Com efeito, nos termos da cláusula sétima das Convenções Coletivas 
da Categoria juntadas pela própria Reclamante, as horas trabalhadas que excederem a 44 
(quarenta e quatro) horas semanais serão pagas com acréscimo de 60% (sessenta por cento) 
sobre o valor da hora normal, calculada de acordo com o salário-base mensal. 
 
Portanto, a condenação imposta pelo Juízo monocrático, sem contar com o 
embasamento do próprio instrumento normativo da categoria, apenas reproduz o petitório exordial, 
sem qualquer embasamento legal! 
 
Em suma, ainda que a Autora/Recorrida provasse a realização de horas extras nos 
horários declinados na exordial, ainda sim esse quantitativo não seria de absurdas 175,24 horas 
extras, já que, como extras, de acordo com o próprio instrumento normativo, só seriam 
computadas as que excedessem a 44 horas semanais! 
 
A reforma do julgado se impõe até por uma simples questão matemática! 
 
 
 
 
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O adicional de 60% previsto no instrumento normativo não se aplica a intrajornada, por 
absoluta falta de previsão legal! 
 
Portanto, no mérito do presente recurso, pugna a Recorrente pela reforma do julgado, 
para exclusão da condenação das parcelas de horas extras, horas intervalares e de consectários 
em ambas as parcelas. 
 
 
2.3 DO PREQUESTIONAMENTO DAS MATÉRIAS SUCITADAS EM SEDE RECURSAL 
 
A Recorrente pugna para que todas as suas manifestações constantes dos autos, como 
parte integrante deste recurso, sejam apreciadas por esta C. Turma, dentro do efeito devolutivo 
ínsito ao recurso ordinário, requerendo, desde já, que todas as matérias suscitadas nas presentes 
razões recursais, sejam objeto de prequestionamento, a fim de viabilizar a eventual interposição do 
Recurso de Revista ao Tribunal Superior do Trabalho - TST. 
 
 
3. CONCLUSÃO 
 
Por todo o acima exposto, pugna a Recorrente que esse Egrégio Tribunal, conhecendo 
o presente recurso, lhe dê provimento para: 
 
3.1. Que, acatando a preliminar suscitada, anule a decisão recorrida, pelo cerceamento de defesa 
da Ré, em razão da negativa do Juízo monocrático de substituição da testemunha para inquirição, 
determinando, como consequência, o retorno dos autos ao mesmo Juízo oitiva dessa testemunha. 
 
3.2. No mérito: que V. Exas., reformem totalmente a decisão recorrida, para excluir da condenação 
o pagamento de horas extras, de horas intervalares e demais parcelas consectárias de ambas, por 
ser medida de inteira e total Justiça. 
 
 
 
Termos em que pede deferimento. 
 
Belém/PA, 03 de novembro de 2016. 
 
 
MAURO MARQUES GUILHON 
 OAB/PA 9805

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