Buscar

C Oficina Literária

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

OFICINA LITERÁRIA
Aula 1 — O que é literatura?
[Denotação]: é a linguagem informativa, comum a todos. Tem por objetivo expressar um conhecimento prático, científico. Nesse tipo de linguagem, as palavars são sempre empregadas em sentido real.
[Conotação]: é a linguagem afetiva, individual e subjetiva. Tem por objetivo a apreciação estética. Apresenta o uso da palavra no seu sentido figurado ou poético.
	
	A palavra texto deriva do latim textus que significa laçar, entrelaçar. Portanto, o texto é um elemento do processo comunicativo que apresenta um entrelaçamento de ideias, as quais são costuradas através das palavras. Todo texto é portador de um sentido, de um significado próprio, singular e pode ser falado ou escrito.
[Texto Não Literário]: é informativo, objetivo e apresenta uma linguagem denotativa, direta e impessoa. Está preso à realidade, a algo que pode ser comprovado como verdade. A nossa comunicação de todos os dias, ou seja, a nossa fala do cotidiano, com nosso amigos, com nossa família ou no nosso trabalho, é um exemplo. São textos que visam apenas à informação e à ação.
[Texto Literário]: é aquele que entrelaça suas ideias, utilizando uma linguagem conotativa, subjetiva. Por isso, o leitor é induzido a trilhar um caminho de múltiplas significações. Os sentindos nascem do texto. Os significados de determinadas palavras ou frases não têm comprovação imediata na nossa realidade. As palavras são símbolos. Elas ganham outros significados que vão muito além daqueles que têm na realidade. O texto literário é um tipo de discurso que trafega entre dois polos: 1. Falante/ouvinte; 2. Escritor/leitor. Eles são os agentes do discurso (Discurso: é um elemento que compõe o processo comunicativo. Trata-se de uma articulação de palavras que comporta uma intenção. Quando lemos um texto e percebemos as intenções do autor, é sinal de que o discurso está se realizando. Quando o receptor decifra o que está por trás do escrito ou do dito, o texto se transforma em discurso).
	O texto não muda, mas o discurso muda. O discurso é algo dinâmico, pois um texto pode ser lido em diferentes épocas, por diferentes pessoas e estar sujeito a uma plurissignificação. O discurso que trafega entre emissor e receptor põe em jogo as vivências de cada um. No momento de leitura, entram em jogo as vivências reais ou imaginárias, isto é, experiências que podem ter sido vividas ou adquiridas através de outras leituras.
	Podemos dizer que o discurso é um fato social, pois liga dois sujeitos situados em momentos históricos precisos e refere-se à situações localizáveis e datáveis. 
	A palavra é mola mestra do discurso. Ela está vinculada ao movimento social porque traduz as práticas de um determinado grupo ou classe. Trata-se de m signo neutro, mas que perde sua neutralidade quando inseirod nas realidades discursivas. Ninguém fala de graça. Toda palavra está sempre direcionada ao outro, portanto podemos dizer que a palavra estabelece relações dialógicas.
[Relações Dialógicas]: nascem do confronto estabelecido entre posições assumidas por diferentes sujeitos e expressas na linguagem. A palavra é sempre dialógica, pois a vida social é uma discussão permanente. O discurso só se realiza no contexto social se extiver semrpe direcionado ao outro. Em todo texto é possível ser ouvida a voz do seu autor. As relações dialógicas só existem quando se escuta a voz do outro.
DENTRO DESSE SISTEMA, COMO FICA A RELAÇÃO AUTOR-TEXTO-LEITOR?
	Devemos considerar que, no ato da leitura, o texto traz as marcas de quem o produziu. Tanto quem escreve quanto quem lê produz significados. No processo de produção, entram em jogo os problemas pessoas, as emoções, as limitações de quem o produziu. E a leitura? Se o texto é uma rede de relações que transmite possíves significações, cada leitura estabelece um novo viés de entendimento do texto. 
	O leitor produz os sentidos possívels do texto a patir de suas experiências reais ou imaginárias. Sendo assim, o grau de desenvolvimento da leitura vai depender do acervo simbólico do leitor. Quanto maior for esse acervo, maior será o envolvimento estabelecido com o texto. Assim, a segunda leitura nunca será igual a primeira, pois as experiÊncias do leitor mudam. A vida segue e, em seu curso, promove o amadurecimento do leitor. O que se pode dizer é que a primeira leitura produz significações que funcionam como repertório para a segunda.
	Não só o discurso literário é organizado por seleção e combinação, mas também o discurso da história. 
[Discurso da História]: o conceito de história vai muito além da histórica oficial que aprendemos na escola. Não são apenas grandes líderes e grandes fatos que fazem parte da história. A história é a vida de cada um de nós. Todos os dias escrevemos a história com nossos atos e valores. A literatura se apropria desses atos e valores que formam as sociedades de diferentes épocas para dar vida a personagens dentro dos mais diversos contextos. Por isso, a literatura, considerada por muitos como a arte da palavra, pode ser conceituada como um tipo de discurso que tenta dar conta da história.
Aula 2 — O Espaço das Representações
	É através de filmes, que literatura e vida real se interpenetram. Os conflitos, as tensões que fazem parte da nossa vida. O dramas vividos por personagens de filmes e por muitos na vida real, são semelhantes. Portanto, a literatura é um tipo de discurso que representa o real.
MÍMESIS
	Trata-se de um termo grego que significa imitação. Não é um conceito literário, mas filosófico que serve para explicar a arte. Mas, é imitação de quê? A arte literária usa a palavra para representar o real. Claro que não é um real exato, mas segundo um determinado olhar. O discurso não dá conta, integralmente, do real. Portanto, a imitação do real é segundo os olhos de quem vê. A mímesis é uma relação do signo com o real. Trata-se de uma imitação, mas não de uma cópia.
> para os pitagóricos, é a representação dos estados de alma.
> para Platão, é a imitação da aparência da realidade, ou seja imagem de imagem ou simulacro da realidade.
> para Aristóteles, é a imitação das essências. É o conhecimento profundo do ser humano e do mundo. É a revelação da plenitude do real.
	A mímesis acontece, por exemplo, quando um determinado segmento da sociedade se mostra, ou melhor, se revela. É a representatividade das ações deste segmento social. O homem só consegue recriar aquilo que faz parte da noção que ele tem de relações sociais ou de contexto cultural. Ele jamais se desprende de seu grau de entendimento.
	Neste processo de imitação, cabe ao homem revelar o natural e transformá-lo em patrimônio cultural. Imitar é sempre um processo revelador.
	O autor tem, no momento histórico, a fonte para sua criação. O contexto histórico, com todos os seus conflitos, as estratificações sociais e as relações de produção são os materiais que possibilitam a imitação do real. Futuro e Passado.
	Devemos ressaltar que a literatura, quando finge o particular, atinge a universalidade. É, portanto, possível pensarmos em outras realidades semelhantes. Isto traduz o poder de universalização da literatura.
CATÁRSIS
	Termo de origem grega que significa purgação. Na linguagem religiosa, era sinônimo de expiação ou purificação. Em sentindo psíquico, está relacionado à purgação das paixões ou tensões da alma. Faz parte do fenômeno literário. É a libertação promovida pela criação artística. Toda arte opera a catársis, porque opera no homem uma sensação de prazer, de plenitude. De alguma forma, através da catársis, ocorre uma transformação do leitor.
	Mímesis e catarsis estão sempre interligadas. Podemos dizer que a mímesis gera a catarsis, pois uma boa imitação do real gera um movimento das emoções do leitor, promovendo a sua transformação.
LINGUAGEM
	É uma das formas de apreensão do real. É qualquer sistema de comunicação que utiliza signos organizados de maneira particular. Por exemplo, os gestos dos surdos-mudos são considerados linguagem, pois, através dos sinais, estabelecem uma comunicação,veiculando uma determinada mensagem. Podemos dizer, ainda, que a linguagem é a capacidade que o homem tem de expressar seus estados mentais por meio da língua, representando o mundo interior e exterior.
	A linguagem literária se diferencia das demais porque graças ao seu caráter conotativo, abre o texto para muitas possibilidades de entendimento. Existe a relação entre literatura e cultura. A matéria literária é cultural. Só há literatura onde existe o desenvolvimento de uma cultura. Se o texto literário é conotativo, ele revela, no processo de leitura, as diferenças culturais.
[Cultura]: trata-se de um complexo de normas, símbolos, mitos e imagens absorvidos pelo homem. Tal complexo determina os seus instintos e move as suas emoções. Segundo a antropologia, é o conjunto e a integração dos modos de pensar, sentir e fazer de uma comunidade, na tentativa de solucionar os problemas vivenciados no seu interior. Se temos cultura brasileira, temos, automaticamente, literatura brasileira. Os textos nascem a partir de sociedades ue possuem determinada cultura. Dessa forma, cultura, língua e literatura estão fortemente vinculadas. A literatura se vale da língua para revelar elementos culturais de uma sociedade. A conotação do texto literário tem a sua pluralidade de acordo com o universo cultural de falantes e ouvintes ou escritores e leitores. Afinal de contas, eles estão presos às diferenças socioculturais.
Aula 3 — O Épico e suas Formas
	A imagem de luta, de povo em guerra, de coletividade e de herói à frente de um povo traduz bem o universo épico. Todas as ações são traçadas a partir da aprovação dos deuses. Mas, para falarmos em mundo épico, primeiramente, devemos conhecer os gênetos literários. 
	A palavra gênero deriva do latim genus, -eris. Ela significa tempo de nascimento, origem, classe, espécie, geração. Portanto, gênero literário é um agrupamento de obras literárias que pertencem a uma classe, espécie, origem ou tempo de nascimento. É um conjunto de obras literárias, as quais têm em comum, tempo e origem de nascimento. Os principais gêneros literários são: o épico, o dramático e o lírico. Mas, o nosso foco, aqui, é o épico.
EPOPEIA
	A epopeia é uma narrativa de caráter heróico, grandioso. Expressa sempre o interesse nacional e social. Neste universo narrativo, o homem não tem espaço como ser único, ou seja, como portador de uma individualidade, pois o texto épico é o espaço de representação da coletividade. Há também uma atmosfera maravilhosa. O impossível, o sobrenatural encontra aqui seu espaço de aparição.
	Os acontecimentos narrados, na epopeia, são históricos e situados em um passado muito distante. Há, nas histórias, uma reunião de mitos, heróis e deuses. Elas abrangem uma totalidade de acontecimentos (Theseus, Hércules, Vênus de Milo).
	A epopeia é um gênero que apresenta valores de uma única classe: a aristocracia. Esta aristocracia cede os príncipes que vão comandar a guerra. Esses chefes vão desenvolver atos heróicos. Trata-se de um universo fechado. E quem são os comandados? Claro que é o povo, ou seja, a gente simples, sem nenhum título nobiliárquico.
Como então são os heróis épicos? São os membros da aristocracia. Possuem uma linhagem, uma tradição. Além disso, aparecem, nas histórias, como grandes e fortes. O que caracteriza a epopeia é a motivação coletiva de todos os atos heróicos e da construção da imagem desses heróis.
	
	O objeto da epopeia é o passado heróico. Que passado é este? Ora, trata-se do mundo das origens, dos pais, dos ancestrais, o mundo dos primeiros e dos melhores. É um passado absoluto. É a única fonte de tudo que é bom para os tempos futuros. É neste passado absoluto que está mergulhada a história nacional. Ali estão posicionados os fundadores heróicos, os deuses e os melhores. É um passado muito distante do narrador. 
	A fonte da epopeia é a lenda. A memória é a principal força criadora. A epopeia resgata o passado porque é constituída de memória. Não importa a experiência pessoal. O que vale é a lenda nacional. Desta forma, o texto épico está impregnado de mitos e lendas.
	O tempo é um outro elemento que forma a estrutura da epopeia. O mundo épico é totalmente, isolado da contemporaneidade. A distância épica é absoluta. Há total afastamento entre o tempo da ação e o da narração.
	Os aedos narram partir de mitos e lendas. Eles não têm como chegar ao objeto, ou seja, não têm como chegar ao passado heróico nacional. Não estão inseridos neste passado. Por exemplo, entre a guerra de Tróia e o século de Homero, existe uma caixa preta de séculos de mitos e lendas. Os aedos e os ouvintes situam-se na mesma época e no mesmo nível de valores, mas o mundo representado pelas personagens situa-se em um nível de valores e de tempo totalmente diferente e inacessível. Isto é o que se denomina distância épica.
O que devemos dizer de nós enquanto leitores de hoje? Ora, o nosso tempo de leitura e entendimento está ainda muito mais distante. Se a epopeia é uma narrativa, ela possui um narrador. Que narrador é este? De onde ele narra? Todo discurso é produzido em um determinado espaço que visa à recepção. Por isso, é fundamental percebermos de onde narra. 
O que isto significa? O narrador épico não interfere no mundo narrado. Isto é impossível! Além disso, o fundamental é que ele narra de dentro do espaço da tradição. No mundo épico, o ponto de vista é único. É o ponto de vista da tradição. Os valores narrados também são únicos: são os valores da tradição. Dessa forma, a identidade entre narrador e universo narrado é absoluta. Não há questionamentos. O narrador épico é identificável com todos os valores representados. Identificável com o que narra. Ele não tem ponto de vista próprio, pois já o recebe da tradição. Nesse processo de construção do texto, o discurso é produzido por um descendente da tradição, da aristocracia e é passado para outros descendentes também da aristocracia. Você imagina qual a finalidade disto? Ora, o objetivo é perpetuar, na memória os valores da tradição, ou seja, aqueles valores que atravessam gerações. O passado deve ficar vivo na memória.
	No épico, a objetividade exterior é absoluta. Ninguém inventou os temas das epopeias. Tudo está, ao longo de séculos, registrado no mundo dos mitos e das lendas. Há uma objetividade. Tudo existe independente de qualquer coisa. Para o épico, a verdade é indiscutível.
	O passado absoluto representado é perfeito, fechado, está, integralmente, pronto e concluído. Tanto como evento real ou como um universo de valores, não pode ser modificado, reinterpretado ou reavaliado. É um mundo do qual não se pode aproximar. Ele está fora da área da atividade humana propensa às mudanças e às reavaliações. Tudo é indiscutível e imutável. Diante disto, cabe ao leitor apenas a atitude de aceitá-lo e reverenciá-lo.
	Toda epopeia é dividida em cinco partes: 
1. proposição: O passado histórico é resgatado. Está presente a imagem da luta e da coletividade. São espanhóis e portugueses lutando contra índios e jesuítas na região dos Sete Povos no Uruguai. Há uma motivação coletiva para a guerra. Vale ressaltar que Basílio não presenciou este acontecimento. Tudo se sabe através da história. Há distância entre tempo de ação e tempo de narração. É o que se propõe a contar. O primeiro canto define o motivo da guerra e apresenta os heróis.
2. invocação: O narrador pede proteção para aquilo que vai contar em versos: “Musa/ Protegei os meus versos” ou “Ninfas do mar, que vistes, se é que vistes,/ O rosto esmorecido, e os frios braços, / Sobre os olhos soltai as verdes tranças.” O texto apresenta a grandiosidade épica. Isto é visto em expressões como: “pavilhão purpúreo”, “ rica mesa” ou “taça de ouro”.
3. dedicatória: O poema é antecedido por um soneto. O que consta nesse soneto? É, claramente, uma dedicação ao Marquês de Pombal.
4. narração
5. desfecho
 O que é plasticidade? O que é claridade? 
A linguagem épica é plástica porque não sugere, mas esclarece. Tudo é apresentado como um acontecimento vivo. A claridaderefere-se ao olhar da narrativa dirigido para o mundo exterior. É o triunfo da luz em toda a sua dimensão. Opõe-se ao escuro, à morte, à obscuridade.
Aula 4 — Universo Romanesco
	O romance é o espaço literário para expor as individualidades, as subjetividades. É o espaço onde se entrecruzam protótipos da vida real com toda a sua subjetividade. Trata-se de um tipo de discurso que revela o indivíduo nos seus mais variados aspectos. Podemos dizer que é o discurso que vira o homem do avesso para revelar tudo aquilo que ele tem de mais recôndito. Neste contexto, até o silêncio fala, ou seja, até o silêncio deve ser entendido pelo leitor.
	Epopeia é o espaço de representação da coletividiade. Portanto, completamente diferente do romance. A panorâmica do romance é outra. Os valores são totalmente distintos dos valores épicos. Enquanto a epopeia apresenta uma aristocracia, o romance revela os diversos segmentos sociais. 
	A grande diferença entre epopeia e romance é a questão do tempo. A epopeia está presa ao passado. Ela vive de memória. O seu objeto de representação é o passado e a sua fonte está nos mitos e lendas.
	O objeto é o momento presente. A sua fonte, o dínamo propulsor da criação, são os fatos atuais. O romance não trabalha com memória, mas com registros atuais. Ele discute a contemporaneidade. Por exemplo, Jorge Amado, em seus romances, fala daquilo que vê e que conhece no seu tempo de criação. Ele fala dos tipos que circulam pelas ruas de Salvador ou daqueles que compõem o universo do cacau. Machado de Assis também é outro exemplo claro dessa questão. As personagens de seus romances representam homens e mulheres de seu tempo. É a sociedade que ele conhece.
	Todo discurso é produzido num determinado espaço com todas as suas facetas ideológicas. Portanto, é impossível ler um romance sem pensar que, nas suas entrelinhas, existe um viés ideológico. Fica claro então, que o tempo no romance é o presente. Ele fala daqueles e daquilo que está próximo. Seria impossível, no espaço romanesco, haver um deslocamento para o passado absoluto ou trazê-lo para a nossa realidade.
	Nesse contexto, o narrador exerce um papel fundamental, pois ele é aquele que fala de seu momento presente, para aqueles que são seus iguais, no patamar do tempo, e de acordo com o ponto de vista de sua época. Ele é o homem de sua época, ou seja, pensa como a sua época.
[Epopeia]: enquanto a epopeia é um universo fechado, acabado, o romance é um gênero aberto e imortal. Ele vive em constante estado de renovação.
	Uma outra questão importante é que a prosa romanesca quebra o verticalismo do mundo épico. Se o artista é um homem de sua época, como dissemos, tudo é colocado na horizontalidade. Não há, por exemplo, a imagem de um herói acima do bem e do mal. Muito pelo contrário! O homem aparece com todas as suas fragilidades. Ele não é estático. Por isso, a personagem está sempre em movimento, isto é, sempre em transformação.
	Ressaltamos também que, no desenrolar dos fatos, cada personagem expõe sua visão de mundo. Quando fala e age, revela a ideologia da classe da qual faz parte.
	O elemento essencial na trama romanesca é a aventura. A aventura é a busca, isto é, aquilo que move o indivíduo. É a busca por novidade. 
ESTRUTURA
1. Enredo: é a mesma coisa que trama um intriga. É a sequência de fatos ou a forma como os acontecimentos estão organizados.
2. Personagens: são os agentes da narrativa. Eles movimentam a trama, dando sentido às ações. podem ser, quanto ao papel que desempenham no enredo, protagonsitas, antagonistas ou personagens secundários.
3. Tempo: sabemos que toda narrativa apresenta fatos que acontecem dentro de um fluxo de tempo. Palavras ou frases organizam o discurso que podem apresentar tais fatos de forma cronológica ou não. Daí termos tempo cronológico ou psicológico.
4. Espaço: é um conjunto de elementos que caracterizam tanto o exterior quanto interior. As ações das personagens podem acontecer tanto no espaço físico quanto no psicológico.
5. Ponto de vista: também é chamado de foco narrativo. Trata-se da posição ocupada pelo narrador. Se narra em primeira pessoa, participando dos fatos narrados, é chamado de narrador-personagem. Se narra em terceira pessoa e está fora dos fatos narrados, é chamado de narrador-observador. Neste caso, ele tudo sabe, tudo vê e está em todos os lugares. Pode-se dizer que é onisciente e onipresente.
Aula 5 — O Conto
	A chave para se entender o conto, enquanto gênero, está na concentração de sua trama. Não é possível falar de vários assuntos ou apresentar várias situações dentro de um conto. Ele trata, geralmente, de uma situação, a qual se desenrola sem pausas e sem recuos.
	No conto, deve existir um cuidado na seleção de tudo aquilo que será apresentado ao leitor. Tudo deve ser muito simples, sem grandes complicações psicológicas e sem grandes peripécias. O seu foco é levar o leitor ao desfecho, que é, também, o clímax da história. É o momento com o máximo de tensão. Neste momento final, quase não há descrições. 
	O conto surgiu com as narrativas religiosas. Você já ouviu falar da parábola do filho pródigo, da mulher que tinha um fluxo de sangue, da ressurreição de Lázaro ou do conflito entre Caim e Abel? Todas são pequenas histórias bíblicas que fazem parte do nascimento do conto.
	Depois de anos, muitas narrativas religiosas foram, aos poucos, perdendo suas características, pois o folclore inseriu, em tais narrativas, dragões, seres fantásticos, fadas. Dessa forma, os contos de fadas e as fábulas vão absorver os elementos do folclore.
	A palavra conto deriva do verbo contar, que tem sua origem em computare, isto é, enumerar objetos ou enumerar acontecimentos. Na Idade Média, contar era a mesma coisa que enumerar fatos ou relatar algo, construindo, assim, narrativas. Só no século XVI, ganha, especificamente, um sentido literário, caracterizando-se como gênero. Quem já não ouviu falar de As mil e uma noites, Aladim e a lâmpada maravilhosa, Simbad: o marujo ou Ali-Babá e os quarenta ladrões? Pois é, são exemplos típicos de contos que surgiram na Pérsia, na Arábia e povoam, até hoje, o acervo cultural do mundo todo.
	O século XIX foi a época de maior esplendor do conto. É o tempo em que ele se torna nobre e passa a dividir espaço, no universo literário, com o romance. Surge, então, autores contistas como: Balzac, Flaubert, Machado de Assis.
	Como já dissemos, o conto não fala de várias situações. Ele gravita em volta de um só conflito. Isto lhe garante unidade de ação. E, de onde surge o conflito?
Ora, surge do embate entre as personagens.  Tudo pode detonar o conflito, ou seja, pode surgir da dor, de um sofrimento qualquer, da angústia, da inquietude, da consciência da morte ou mesmo da noção da fragilidade da existência humana.
	 Tudo que movimenta o conto converge para um único núcleo. O drama é só um, por isso não há grandes questionamentos a respeito de nada. Em Missa do Galo, de Machado de Assis, o conflito se estabelece pela atração entre a mulher de 30 anos e um rapaz de 17 anos. O diálogo sensual que os dois travam, antes da missa do galo, é uma situação única e importante na vida do narrador-protagonista. Tanto é assim que ele lembra de tudo que aconteceu em algumas horas daquela noite.
	 Em todo conto, há, sempre, uma limitação de espaço. As personagens não têm muito por onde circular. Pode ser uma rua, uma casa, um quarto ou uma sala. Qualquer um desses lugares serve para a organização e um enredo. À unidade de ação corresponde a unidade de espaço. O que isto significa? Ora, apenas um ambiente se configura como palco do conflito. Ali está concentrada a dramaticidade.
	Tudo, neste tipo de narrativa, se passa em um tempo curtíssimo. São, apenas, algumas horas ou dias. Há, também, o estabelecimento de um foco: o leitor. Ele tem que ser impactado pela história que vai ler. Para ser interessante, o conto tem que ter um tom que desperte no leitor uma única impressão, a qual pode ser: pavor, piedade, ódio, simpatia, ternura ou indiferença.
	Oconto sempre opera com ação. Não opera com caracteres. Isto, para despertar essa impressão única no leitor. Significa fazer com que os conflitos apresentados funcionem como espelho para o leitor. Cria-se um movimento de identificação. Por isso, o contista se esforça para criar um drama que desperte, de forma quase imediata, um sentimento forte no leitor. Esta unidade de tom é evidenciada pela tensão interna da trama narrativa. Sendo assim, nada pode, no texto, ser modificado, isto é, nenhuma palavra pode ser tirada ou acrescentada.
	Qualquer conto é construído a partir de uma só ideia, de uma só concepção da vida. Fica a impressão de que qualquer pessoa pode passar, na vida, por algum tipo de situação subentendida. Tais situações podem ser de qualquer ordem e só anos depois, muitas vezes, são avaliadas como decisivas para o destino de alguém.
	Enquanto, no romance, temos um bloco considerável de personagens, no conto são poucas. Há sempre um par dialético, isto é, há sempre um diálogo que dá a direção da história. Mesmo quando a personagem está sozinha, ela fala. O seu diálogo, neste caso, é com o seu próprio eu. Este eu é que vai ser o seu oponente dramático.
	A personagem do conto não cresce como no romance. Não passa por nenhuma transformação. Ela é estática, ou seja, não muda. Isto acontece porque é surpreendida num único instante de sua existência. Ela é imobilizada no tempo, no espaço e em sua personalidade. Apenas uma faceta do seu caráter aparece. Por isso, muitas vezes, nem sequer lembramos o nome de uma personagem. O mesmo não acontece no romance.
	Se a compreensão de um conto deve ser imediata, o leitor não pode se deparar com muitas metáforas. A linguagem, portanto, deve ser objetiva. Não há  espaço para segundas intenções nas palavras. Não há  espaço para obscuridades. As coisas são da forma como são ditas. As palavras, que movem os diálogos, constroem ou destroem alguma coisa. Os conflitos estão na fala. Estão em tudo aquilo que é dito ou pensado. Daí, a grande importância do diálogo. A discórdia, os mal-entendidos ou os subentendidos  estão no diálogo. É a base expressiva do conto. 
	A trama é linear e objetiva. O tempo predominante é o cronológico. Segue a marcação regular do tempo. O leitor vê os fatos acontecerem com a mesma sequência, com a mesma continuidade da vida real. O andamento é a ordem lógica da vida. Ele caminha sempre para frente e, a qualquer momento, pode desencadear um conflito. Além disso, o leitor só conhece os acontecimentos que antecedem ao fim, ou seja, que estão um pouco antes do clímax dramático, pois o conto, quando começa, já está perto do fim.
Aula 6 — A Crônica
	
	Trata-se de uma história curta que mostra com bom humor a questão do dia a dia. Mas, para mostrar isto, o autor não utiliza grandes recursos de linguagem nem cria situações complexas. O texto é leve, fácil de ser compreendido pelo leitor. 
	A palavra crônica deriva  do grego Chrônos, que significa tempo. Sendo assim, entendemos crônica como um conjunto de acontecimentos, de fatos,  que são relacionados seguindo a ordem cronológica. Trata-se apenas de um registro de fatos sem grandes interpretações, sem grandes aprofundamentos. 
	A crônica, muitas vezes, utiliza o jornal como veículo de divulgação. Porém, seu perfil não é exclusivamente jornalístico. O cronista capta o cotidiano, mas o reveste de fantasia, de imaginação, como acabamos de ver em A velha contrabandista. Não estamos falando da representação do real como ele é, mas daquele real que o cronista vê através de um olhar singular. É um processo de recriação.
	Claro que, em toda crônica, há um toque jornalístico. No entanto, esse toque se mistura ao literário. Sendo assim, podemos, através dessas características da ficção, considerar a crônica como texto literário. Como vimos, ela é sempre algo leve, breve e de fácil digestão. Afinal de contas, deve ser dirigida a qualquer tipo de leitor, pois apresenta ingredientes que tornam a leitura interessante. Há elementos como novidade, surpresa e assuntos variados do dia a dia das pessoas.
	A primeira característica é a brevidade. Por ser um tipo de texto destinado ao jornal ou à revista, deve ser curto, ocupando uma coluna de jornal ou uma página de revista. Pode ser em terceira pessoa ou primeira. O que é levado em consideração é a visão que o cronista tem dos fatos, os quais ele classifica ocmo importantes para si e para o leitor. Sendo assim, onde está a verdade dos fatos? Ora, não sabemos ao certo, pois a veracidade é emotiva.
	Devido à subjetividade, há um diálogo natural com o leitor. Tudo acontece como se o cronista estivesse conversando com o leitor. No entanto, existe um detalhe: o interlocutor é mudo. O leitor não pode expor suas considerações diante daquilo que está sendo contado. Concluímos, então, que ele fala consigo, mergulhado em suas reflexões. Uma das características essenciais da crônica é esta: a trivialidade. Atos como acordar, fazer o café e procurar o pão ganham uma relevância a ponto de se transformarem em objetos de criação literária. 
	O seu foco está nos acontecimentos rotineiros. Por isso, os nomes das personagens não têm nenhuma importância. Além disso, elas se apresentam em número reduzido e sem qualquer carga de profundidade psicológica.
	Percebemos, nas crônicas, uma linguagem direta, espontânea, jornalística e, por isto tudo, fácil de ser compreendida, mas com alguns aspectos literários. Não há espaço para devaneios. O cronista tem que se manter preso aos fatos. Mesmo quando a subjetividade aflora, ou seja, torna-se mais perceptível pelo leitor, o cronista não pode perder de vista o fato real. Trata-se, então de uma linguagem que flutua entre a referencialidade do jornal e a 
plurissignificação das palavras da literatura. Joga, portanto, com os dois lados da moeda.
	O cronista capta uma situação qualquer e dá a ela, através da linguagem, uma outra dimensão. Ao dar a uma situação banal um estilo ágil e, muitas vezes poético, a crônica conquista o leitor.
	A crônica se aproxima do ensaio por trabalhar com a subjetividade. Há um movimento do eu. Entretanto, são diferentes,  pois o ensaio tem sempre uma intenção e a crônica repele a intencionalidade. A crônica aproxima-se da poesia, pois ambas estão focadas no eu. Na crônica, assim como na poesia, o eu é o assunto e o narrador ao mesmo tempo. A crônica aproxima-se do conto, porque existe nela a preocupação com os fatos narrados, a preocupação com as situações que provocaram a atenção do escritor, dando origem ao texto.
Aula 7 — O Dramático e suas Formas
	A palavra drama significa, etimologicamente, ação. Por isso, em obras dramáticas, a história e as emoções não são imitadas através do discurso do narrador, mas são expressas através de personagens em ação. 
	A ação dramática encontra sua realização num espaço restrito e num tempo restrito. O espaço, geralmente, é um palco. O tempo é aquele necessário para representar uma história, estabelecendo uma comunicação entre obra e público. Trata-se de um tempo que passa num ritmo próprio, um ritmo que tem por objetivo o desfecho da história. Esse ritmo é desencadeado a partir do momento em que o espectador tem sua atenção voltada para a tensão. o que é tensão? A tensão é a essência do dramático. Ela é movida por duas características principais: pathos e problema.
[Pathos]: é o sentimento exacerbado. É a paixão. Para expressá-lo, o autor dramático cria um tipo de linguagem comovente e arrebatada. Esta linguagem traduz a resistência da personagem diante dos embates gerados pelo mundo que a cerca. A fala patética é impetuosa e pressupõe um outro que a ouça e com ela se comova. É uma comoção espontânea. Existem dois tipos de pathos: o pathos da dor e o pathos do prazer. A dor é a expressão do sofrimento e o prazer é a tradução do contentamento, da alegria. Esse sentimento grandioso, seja de dor ou de prazer, está sempre direcionado a algo em que se crê ou a algo em que se deposita esperança. É uma força que caminha, gradativamente, para um clímax, ou seja,para um ponto de maior tensão. Neste ponto, os objetivos são atingidos.
[Problema]: o problema é o ponto final que deve ser atingido. É algo previamente proposto e que deve ser solucionado. Quanto mais problemático for o desenrolar da história, maior será a ligação entre as partes, ou seja, maior será a dependência entre início, meio e fim. Nesta sequência, o início é a proposição da história e o fim é o objetivo dramático. A ação não deve ser retardada, pois, caso contrário, seria desviada da proposição inicial.
	Tanto o pathos quanto o problema movem o herói em busca de uma decisão. Há a expressão de um querer algo ou de um questionar algo. A partir daí, o público se identifica ou se simpatiza com o herói.
	Dentro do dramático, nós temos: a tragédia e a comédia.
	O que é a tragédia? Como surgiu? A palavra tragédia deriva do grego tragos, que significa bode, e oide, que significa canto. A partir de um entendimento mítico, acredita-se que tenha nascido de cultos religiosos praticados em honra ao deus Dionísio nos quais as pessoas apareciam travestidas com pele de bode e, usando máscaras, cantavam hinos à divindade que presidia a colheita da uva. Apresenta um choque entre o herói e seu destino.
	A tragédia baseia-se nas catástrofes causadas pelo desequilíbrio humano. O mundo apresenta-se dividido ou tensionado entre duas ordens opostas e inconciliáveis. Existe a presença da mímesis. Tudo isto surge diante de um espectador através de personagens em ação. Tais ações despertam piedade e terror. E qual é o efeito dessas ações? Ora, aliviar ou expurgar as tensões daqueles que as presenciam. É o efeito catártico. Isto fica claro em uma fala do coro em Édipo Rei, de Sófocles: “Ó geração de mortais, como vossa existência nada vale a meus  olhos! Qual a criatura humana que já conheceu a felicidade que não seja a de parecer feliz e que não tenha recaído após, no infortúnio, finda aquela doce ilusão? Em face do teu destino tão cruel, ó desditoso Édipo, posso afirmar que não há felicidade para os mortais!”
	Outra pergunta importante é: quem é o homem trágico? É aquele que crê em suas ideias e vive de acordo com elas, mas se vê, inesperadamente, diante do destino inevitável. Trata-se de um destino que contraria as suas verdades. De repente, tudo não é bem como ele acreditava ser. Por exemplo, Édipo, inesperadamente, vê-se como filho de Jocasta:
“Eu não teria sido o matador de meu pai nem o esposo daquela que me deu a vida! Mas... os deuses me abandonaram: fui um filho maldito, e fecundei no seio que me concebeu! Se há um mal pior que a desgraça, coube esse mal ao infeliz Édipo!” 
	O destino impõe ao herói trágico as suas normas, as suas vontades, as quais são compatíveis com a sua visão de mundo, com aquilo que ele idealiza. O destino mostra que é tudo ao contrário daquilo que se pensa ou espera. Há um choque entre o caráter do herói e o seu destino. Há uma oscilação entre dois polos. Há uma impossibilidade de opção. 
	O herói trágico não tem escolha. Ele está condenado a seguir o seu destino. A personagem está numa situação errada ou em atos errados, mas não tem consciência disto. Inconscientemente, é movida por uma força que a leva a viver no erro. De onde surge esta força? Ora, os deuses determinam. O destino já está traçado, não existe a menor possibilidade de mudá-lo.
	
	A ação trágica segue uma sequência:
1. Nó: vai do início até a mudança da sorte.
2. Reconhecimento: é o conhecimento do erro cometido pelo heroi.
3. Peripécia: é a mudança da ação.
4. Clímax: é o ponto máximo do conflito.
	A partir daí, abre-se o caminho para o acontecimento catastrófico. Como se vê, há uma unidade de ação, isto é, há princípio, meio e fim.
	E a comédia? O que é? Como Surgiu? Para Aristóteles, é a imitação de pessoas de qualidade moral ou psíquica inferior. É a exposição de vícios que caem no domínio do risível. Submetido ao riso, o homem percebe seus limites. O ridículo dispersa a tensão dramática. Supõe-se que a comédia tenha nascido dos festejos fálicos no culto à procriação.
	
	Qual é a diferença entre tensão trágica e tensão cômica? A tensão trágica caminha para o clímax. A interdependência das partes, na tragédia, é responsável pela tensão. Já a tensão cômica é permanentemente desfeita pelo riso. Surgem várias tensões que são dispersadas ou abolidas pelo ridículo ou pelo riso.
Aula 8 — O Lírico e suas Formas
	A palavra lírica deriva do grego lyrikós que significa algo referente à lira ou som da lira. O texto lírico tem, na sua estrutura, musicalidade. 
	Ainda, quanto à origem, a poesia lírica tem seu pés fincados em hinos religiosos e na tradição popular. Dentro desse mergulho, no túnel do tempo, encontramos, na Antiguidade, os momentos comuns da vida vinculados à poesia cantada. Assim, cantigas de ninar, lamentos de morte, cantos de pastores, hinos de vitória e adoração, cantigas de amor, manifestações coletivas ou isoladas de alegria ou tristeza tinham um viés poético. A lírica está ligada à livre imaginação onde a emoção supera o pensamento.
	Na Antiguidade, também falava-se numa lírica pessoal e outra impessoal. A lírica pessoal é aquela em que o poeta fala de si, dos seus sentimentos e de suas ideias. A expressão máxima de sua subjetividade está direcionada para ele mesmo. Na lírica impessoal, o poeta assume a voz da coletividade. O poeta expressa os sentimentos da coletividade. Ele fala em nome de todos, mas, claro, segundo o seu olhar. Os sentimentos dele estão ali irmanados. Ele jamais se isenta de alguma coisa. Tudo é visto e expresso de acordo com a sua forma de sentir.
	O que existe de importante no lírico é a relação entre o conteúdo e a forma, ou seja, é a relação entre o que está sendo dito e como está sendo apresentado. Assim, cada palavra é insubstituível. Toda palavra aliada ao som permite o acontecimento da lírica. Muitas formas líricas surgiram desde o século VII a.C. Por exemplo: a elegia, a poesia iâmbica, a ode, égloga, idílio, balada e o soneto. 
	Diante de um poema, nem sempre surge, no leitor, um estado de compreensão, de entendimento claro daquilo que está apresentado. Antes de atingir o entendimento, o leitor passa pelo plano da emoção. No entanto, para o leitor se emocionar é preciso estar de coração aberto. A sua sensibilidade tem que estar desperta. Afinal de contas, antes de entender, ele tem que sentir. Portanto, a alma tem que estar desarmada e afinada com a alma do poeta. Há um estado de receptividade por parte do leitor. Outra questão importante é que a poesia lírica trabalha com a liberdade. Ela não está presa à coerência gramatical, lógica e formal.
	
	Você sabe o que é eu lírico e eu biográfico? 
- Eu biográfico: é o comum de todos nós. Trata-se de um eu que vive as dificuldades do cotidiano e as alegrias da vida. É aquela parte do ser humano que está comprometida com os fatos, com o mundo e com a lógica.
- Eu Lírico: é algo, totalmente, diferente do eu biográfico. É aquele que não consegue se traduzie, porque não se compreende. Ele segue o fluxo da existência, deixando-se levar por tudo que está dentro e fora dele. O eu lírico quebra as distâncias temporais e espaciais. Dessa forma, ele, através da emoção, resgata fatos que estão localizados no passado como se fossem atuais. Toda a subjetividade do eu lírico é ativada neste processo de recordar. O eu lírico tem um olhar contemplativo para esse passado. A natureza é acolhedora, harmoniosa: “lago sereno” ou “céu bordado de estrelas.” Dessa forma, o poema apresenta um recordar, ainda que idealizado, de um tempo de felicidade. A inocência da criança é revivida, é novamente sentida na idade adulta. Há, então, uma quebra da barreira temporal 
	
	O lírico também estabelece um vínculo com os temas sociais e populares. Em Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, há o retrato do povo nordestino que vive uma vida sofrida no sertão. Todos são severinos porque estão unidos pela mesma vida sofrida. Severino é um nome comum no Nordeste. Sendo assim, esse substantivo próprio é, semanticamente, próximodo adjetivo. Os muitos severinos são iguais na morte e na vida. Tal vida é ganha com o suor do trabalho de todos os dias na tentativa de fazer brotar algo daquele solo seco. É a luta diária pela sobrevivência: “suando-se muito em cima,/ a de tentar despertar/ terra sempre mais extinta,/ a de querer arrancar/ algum roçado de cinza”.
	Diante desse quadro pintado pelo eu lírico, o leitor não fica passivo. Ele também sente a dor do outro e se comove com o sofrimento vivido pelos lavradores do sertão. Por fim, o lírico está presente também no universo popular como, por exemplo, o cordel. Ali, estão presentes, através de versos, os costumes, as crendices e o estilo de vida do povo nordestino. 
Aula 9 — Minhas Leituras I
	Como se vê, nas cenas iniciais do filme, tudo começa a ser contado a partir da morte do narrador-personagem, Brás Cubas. É do além-túmulo que ele vai contar muitos fatos de sua vida e da vida da sociedade em que viveu. 	Primeiramente, trata-se de um romance que, juntamente com Dom Casmurro e Quincas Borba, forma uma trilogia quanto ao tema, isto é, todos falam sobre a questão do adultério, mas de pontos de vista diferentes.
	Em todos três, há uma análise corrosiva do casamento: 1. Em Dom Casmurro, quem narra é o marido que se julga traído; 2. Em Quincas Borba, o marido induz sua esposa ao adultério; 3. Memórias póstumas, tudo é narrado do ponto de vista do amante.
	O narrador exerce um papel fundamental nos romances de Machado. Observe: em Memórias Póstumas, de onde ele fala? A grande novidade deste romance é que o narrador fala posicionado no mundo dos mortos. Ele não é um autor defunto, mas um autor. Portanto, Brás Cubas observa o mundo dos vivos de um ponto de vista atemporal. Por não estar mais entre os vivos, ele pode dizer tudo o que quer, sem se preocupar com a opinião pública. Esse deslocamento faz com o que o discurso seja liberado, seja descompromissado com qualquer forma de respeito ou etiqueta. O mundo dos vivos, então, perde a seriedade. Não há uma preocupação com a compostura. Sendo assim, há um discurso que gera o riso do leitor. Claro que se trata de um riso corrosivo, de um riso demolidor dos valores daquela sociedade carioca do século XIX. É um processo de demolição, principalmente, da classe aristocrática da qual Brás fazia parte. Dessa forma, Brás ri de tudo, de si mesmo e pouco se importa com o leitor: “A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-te da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote e adeus.” Observe também que as ações estão concentradas nos anos 40 e 50, mas o narrador está em 1881. Brás Cubas só narra 12 anos após sua morte e 72 anos após seu nascimento. Você sabe o que isso significa? 
	Todo esse processo de construção da narração apresenta um narrador muito distanciado, na linha do tempo, daquilo que é narrado. Dessa forma, os fatos contados passam pelo desgaste do tempo, ou seja, eles, ao perder a imediaticidade, são transformados pela memória, a qual é, extremamente, seletiva. Nem sempre tudo é lembrado como, realmente, aconteceu. Muita coisa se perde com o tempo. A memória não registra tudo. Ainda mais quando se trata de memórias póstumas. O desgaste temporal dos fatos nos leva a pensar que não podemos acreditar em tudo que está sendo dito. A veracidade dos fatos é algo colocado sob suspeita. Fica claro, então, que é com matéria de memória que o narrador delineia o perfil de suas personagens e a trama.
	O resgate de fragmentos do passado, através da memória, permite viver de novo os fatos, mas de forma organizada. A narrativa organiza tudo aquilo que, na vida, é bagunçado. Quando o narrador tenta fazer essa arrumação dos fatos da vida, dá maior nitidez aos acontecimentos, dá sentido àquilo que, na vida real, acontece de forma tão desordenada. São fatos selecionados pela memória e organizados pelo discurso.
	Como se vê, há um esvaziamento das significações. Quem é o pai de Brás? Um falsificador, um homem de conduta duvidosa. É falsificando que ele consegue fazer parte da genealogia de uma família aristocrática. No entanto, é alguém que o narrador define, primeiramente, como “bom caráter”. Dessa forma, o discurso do narrador relativiza conceitos e questões éticas. Vale lembrar que o narrador faz tudo isso articulado pelas mãos de Machado de Assis.
	Pois bem, uma outra questão importante é: qual é a classe social representada e como se dão as relações sociais? O romance Brás Cubas é composto por personagens representantes da aristocracia. Mas, como é esta aristocracia? Ora, Machado mostra tal classe como portadora de uma imensa vacuidade. Ela não tem projeto. Vive no vazio. Brás Cubas, enquanto representante dessa classe, não constrói nada. O seu único projeto, que foi a criação do emplasto, não dá em nada. 
	Vale observar, inclusive, que Brás Cubas não gerencia nem o próprio dinheiro. Pelo contrário! Ele gasta. É um dilapidador do capital. Além disso, as relações sociais são todas travadas por interesse. Trata-se de uma sociedade de vitrine, ou seja, seus membros vivem de aparência e constroem suas articulações em busca de dinheiro e status. Dentro desse mecanismo, são realizados os casamentos e são travadas as amizades.
	Outra questão importante, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, é a construção dos perfis femininos. Quem são essas mulheres que circulam pelo romance? Primeiramente, são mulheres comuns. Elas não têm profundidade. São vazias. Além disso, na maioria das vezes, são feias, medíocres, calculistas, astutas ou simplórias.
	A primeira relação amorosa de Brás foi com Marcela. Ele, ao se declarar apaixonado por ela, contraria os códigos sociais da época, pois o rapaz bem-nascido podia usufruir da prostituta, mas jamais se apaixonar. Sendo assim, a relação não é chamada de namoro, mas de ligação ou paixão. Pelos códigos sociais da época, era inconcebível o casamento com a prostituta, mas tê-la como passatempo era, perfeitamente, aceitável. O importante, nesse tipo de relação, era não dilapidar o capital, isto é, não gastar toda a fortuna. Há toda uma questão de poder econômico envolvendo essa relação, pois Brás paga por Marcela. É uma relação medida pela quantidade. Está tudo condicionado a cifras:”Bons joalheiros que seria do amor se não fossem vossos dixes e fiados? Um terço ou um quinto do universal comércio dos corações.” É nesse processo de comercialização que Brás afirma: “Marcela amou-me durante 15 meses e onze contos de réis; nada menos.” 
	O segundo relacionamento de Brás foi com Eugênia. Esta é uma moça pobre, filha ilegítima, nascida de um adultério. É chamada de Flor da Moita. Provavelmente, por ter sido gerada nos encontros amorosos da mãe numa moita. Você sabia que Eugênia é coxa? Como fruto do adultério, ela traz, no corpo, o castigo pelos erros cometidos pela mãe. O defeito físico é, através do discurso do narrador, colocado como um marco da culpa alheia. Além disso, por ser pobre, não poderia casar com Brás. Não era possível um membro da aristocracia descer na escala matrimonial. Os aristocratas podiam se relacionar com mulheres de outros segmentos sociais, mas apenas por diversão. Elas eram meros passatempos. Entretanto, para as bem-nascidas, ou seja, para aquelas tidas como iguais, oferecia-se casamento.
	Virgília foi o terceiro amor de Brás. Trata-se de uma mulher dupla face. Ela sabe bem a arte da simulação. É mãe e fiel esposa, mas, ao mesmo tempo, amante de Brás.É uma mulher rica. Economicamente, está, até mesmo, acima de Brás. Isto lhe garante não ser, totalmente, apagada no romance. Ela resiste ainda que seja como ruína: “Tinha então 54 anos, era uma ruína, uma imponente ruína. Imagine o leitor que nos amamos, ela e eu, muitos anos antes e que um dia, já enfermo, vejo assomar à porta da alcova...”
	Por último, surge Nhá-loló. É uma moça pobre e filha de um homem sem cultura. Com ela, Brás até pensa na possibilidade de união para deixar um herdeiro. No entanto, ela morre. Isso consolida o fato de que não há possibilidade de união entre classes diferentes.
	
	Vamos lembrar quetoda obra literária está inserida num processo de produção e consumo. Portanto, é importante identificar quem são os leitores, a que público está direcionada. Sendo assim, no século XIX, o público leitor era formado, basicamente, por mulheres. Portanto, todos esses perfis traçados por Machado, através do Brás Cubas, mostra o lugar de cada uma delas na sociedade de seu tempo. Se fosse diferente, causaria uma imensa subversão e, provavelmente, poucos livros seriam vendidos.
Aula 10 — Minhas Leituras II
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra disse: 
Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos 
e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo. 
	Esse poema abre o primeiro livro de poesia de Carlos Drummond de Andrade. Sendo assim, ele carrega marcas que vão se repetir em toda a produção literária do autor. São questões que o incomodam e o movem no processo de criação. Tem espaço, então, temas como: a vocação para ser poeta, o papel social que precisa desempenhar enquanto 
escritor, a dificuldade de compreender tudo aquilo que sente e a noção de família.
	O Poema de Sete Faces é a expressão da subjetividade do poeta. Ele revela, ou melhor, deixa fluir a sua forma de ver o mundo que o cerca. Trata-se de uma visão um tanto quanto diferente dos demais. O olhar do poeta é um olhar diferenciado. Por isso, ele 
se diz gauche, isto é, diferente, desajeitado. Há um tom de desencontro entre o eu lírico e o mundo. É como se ele vivesse num ritmo ou frequência diferente de tudo que está à sua volta. No entanto, há um enorme desejo de alcançar respostas para tudo que vê. Na fala do eu lírico, há um caráter reflexivo que perpassa toda a poesia de Drummond. Depois dessas sete faces, só nos resta dizer que esta é, apenas, uma leitura deste poema. É, apenas, uma maneira, dentre tantas, de sentir o texto.
	Para finalizar a aula, vamos analisar também a relação existente entre a música e a literatura? A música é uma forma de lirismo. Existe nela um olhar muito particular, uma forma única de sentir o mundo. Além disso, assim como a literatura, é um veículo de denúncia de grandes questões sociais. 
	Como se vê, a música tem um tom de protesto, de grito para que determinadas questões sociais sejam observadas. A música nos mostra que, tanto na periferia quanto nos altos patamares do governo, o Brasil é marcado pelo desrespeito e pela ilegalidade como prática natural: “Nas favelas, no senado/ Sujeira pra todo lado/ Ninguém respeita a constituição”. 
	E, o que significa, então, “Que país é esse”? A repetição desta pergunta, ao longo do texto, é o questionamento movido por um sentimento de indignação. É uma tentativa de despertar aqueles que ouvem para uma reflexão sobre tudo aquilo que se passa a sua volta.
		Como se vê, tudo isso são leituras. São formas de nos posicionarmos, enquanto leitores, diante dos textos. E, como cada leitura é um ato histórico novo, pode ser que, daqui mais um tempo, esses mesmos textos tenham para nós outros significados, muito além dos já identificados!