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TCC II Jacqueline Leiva RA 909204316

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
JACQUELINE LEIVA
O DESENVOLVIMENTO DO EGO CORPORAL
	
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PROCESSOS DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
	NOME DA ORIENTADORA: PROF.ª DR.ª ELAINE SOARES NEVES LANGE	
São Paulo
2014
JACQUELINE LEIVA
O DESENVOLVIMENTO DO EGO CORPORAL
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PROCESSOS DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA	NOME DA ORIENTADORA: PROF.ª DR.ª ELAINE SOARES NEVES LANGE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Nove de Julho - UNINOVE, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia. 
	
São Paulo
2014
SUMÁRIO
41- INTRODUÇÃO	�
62. JUSTIFICATIVA	�
73.OBJETIVOS	�
73.1 OBJETIVO GERAL	�
73.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS	�
84. MÉTODO	�
9CAPÍTULO 1 - DESENVOLVIMENTO PREJUDICADO OU INUMANIZAÇÃO?	�
15CAPÍTULO 2 - TORNAR-SE HUMANO	�
18CAPÍTULO 3 - O EGO CORPORAL	�
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1- INTRODUÇÃO
Nos primeiros meses de vida, o bebê necessita de atenção e cuidados especiais denominado por Winnicott (1983), como maternagem. A privação destes cuidados, acarretará em fases posteriores do desenvolvimento do indivíduo distúrbios afetivos, transtornos de comportamento ou de personalidade.
Winnicott (1983), observou que nos estágios iniciais do desenvolvimento emocional, o ego ainda não é uma unidade estabelecida e tendo como foco as problemáticas iniciais, ou seja, as angústias primitivas e impensáveis do bebê, desenvolverá diversos tipos de transtornos, gerando um ego enfraquecido que não suportará as frustrações.
Na obra de Freud (1923/1969, vol. 19, p. 13-23), esta questão é citada: " o ego primeiro é um ego corporal, para discriminar eu/não-eu é necessário um corpo para conter os conteúdos físicos que ensinará ao ego como conter os conteúdos psíquicos, não é simplesmente uma entidade de superfície, mas é ele próprio a projeção de uma superfície.
O ego corporal, que contêm os aspectos emocionais do indivíduo, não foi formado devido a "falha básica", segundo Balint (1968), que indica que por meio da transferência com o analista percorrendo os níveis mais primitivos, a falha básica poderá cicatrizar.
Fontes (2011), aponta a necessidade da construção do ego corporal como equivalente a uma pele psíquica, e afirma que a pele é a localização da psique no corpo. A formação precária do ego corporal dificulta a simbolização primária que é formada pelas experiências corporais do bebê.
Para Mahler (1977), o nascimento psíquico é um lento desabrochar, a partir das experiência corporais vividas pelo bebê.
Anzieu (1989), utiliza o termo "Eu-pele" similar ao "ego corporal" de Freud, definindo-o como uma estrutura intermediária do aparelho psíquico, adquirida entre a mãe e o bebê como inclusão mútua dos psiquismos na organização fusional primitiva. E ainda, afirma que são os estados-limite e/ou personalidades narcísicas que sofrem devido à fraqueza ou às falhas do envelope psíquico, pela falta de limites, incertezas sobre as fronteiras entre o Eu psíquico e o Eu corporal, entre o Eu realidade e o Eu ideal, entre o que depende do Self e o que depende do outro. 
Conforme as informações dos autores citados, uma questão é levantada, será a falha nos cuidados maternos que contribuem para o comprometimento da formação do ego corporal? A partir desta questão surgem outras dúvidas: A vivência do bebê, de forma positiva, em suas primeiras experiências corporais, facilitará o desenvolvimento do ego? O ego corporal funciona como um continente dos aspectos emocionais do indivíduo? Esta pesquisa visa encontrar as possíveis respostas para estas questões, norteada pela literatura psicanalítica.
Brêtas (2006), cita que a própria criança percebe a si e os seres e objetos que a cercam, em função de uma pessoa que lhe presta cuidados e sua personalidade ou sentido de existência se desenvolve conforme a consciência de seu corpo, de seu ser e a possibilidade de agir e transformar o mundo a sua volta. O ato de massagear, estimula e sensibiliza estruturas superficiais e profundas do corpo do bebê, informando a mente sobre as suas partes, contribuindo para o desenvolvimento da percepção, do esquema e imagem corporal e na adaptação espacial.
Montagu (1988), em comentários referentes à importância da estimulação tátil e do sentido da pele, menciona o filósofo Thomas Hobbes: "Pois não há idéia na mente de uma pessoa que antes não tenha sido gerada nos órgãos do sentido", e conclui que o contorno, a forma, e o espaço do mundo exterior da realidade são construídos pelo bebê a partir dos elementos básico de sua experiência, que entra por todos os sentidos, pelo critério do tato.
A relação do corpo e a estimulação tátil é explicitada sob o olhar de Dolto (2012) em sua obra, quando afirma que a imagem do corpo é a síntese viva de nossas experiências emocionais, portanto, a construção do ego corporal é condição para que aconteça o desenvolvimento saudável do indivíduo para a vida adulta, propiciando o nascimento psíquico no bebê.
2. JUSTIFICATIVA
O tema foi escolhido por possibilitar novas formas de análise e tratamento no campo psicoterapêutico para os transtornos de personalidade gerados pela má formação do ego corporal.
O interesse em pesquisar sobre o tema surgiu após um curso realizado no Instituto Fraternal de Laborterapia referente à "Alcoolismo e Drogadicção". Com o mesmo tema, mas com enfoque psicanalítico o Instituto Sedes Sapientae disponibilizou algumas palestras informativas mas que tinham como objetivo a psicoterapia. Os interessados tinham a possibilidade de participar adquirindo um conhecimento mais profundo à respeito de sua condição interna que propicia o desequilíbrio e fragilidade ao enfrentar as dificuldades cotidianas. Destas palestras, um livro foi compilado com o título de "Idealcoolismo", descrevendo o estado de desumanização em que se encontra, o indivíduo nesta condição de dependência química (drogadicção) e como originou-se a problemática na infância da relação mãe e bebê.
Para a sociedade a pesquisa facilitará a identificação e reconhecimento em adultos de falha no desenvolvimento do ego, ou seja, um ego enfraquecido, promovendo esclarecimento da condição e busca por tratamento efetivo.
3.OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
	
Descrever a partir de pesquisa bibliográfica, tendo como base os autores psicanalíticos, para verificar e analisar como ocorre o desenvolvimento do ego corporal.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar e citar as variações do conceito de ego corporal para os diferentes autores da Psicanálise.
Determinar quais são os cuidados essenciais saudáveis nos primeiros meses de vida para formar o ego corporal.
Estruturar e organizar as fases de desenvolvimento do ego corporal.
Analisar e comparar o desenvolvimento do ego corporal entre os autores.
Sintetizar e avaliar as propostas dos diversos autores.
4. MÉTODO
Considerando-se os objetivos descritos será realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema: O desenvolvimento do ego corporal. Os artigos estudados serão pesquisados nas bases de dados MedLine, Lilacs e Scielo usando as seguintes palavras chaves: ego corporal, pele-psíquica, eu-pele, nascimento psíquico, psicanálise do sensível, memória corporal, primeiros cuidados maternos, toque/simbolização. Será realizado um levantamento bibliográfico de obras em que o tema da pesquisa é citado. 
	A pesquisa bibliográfica, segundo Oliveira (1999), tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno, para comprovar a existência ou não de uma determinada hipótese que é ou foi objeto de estudo de outros pesquisadores, com a finalidade de elaborar o atual projeto de pesquisa.CAPÍTULO 1 - DESENVOLVIMENTO PREJUDICADO OU INUMANIZAÇÃO?
Para afirmar que o desenvolvimento foi prejudicado, presume-se que ocorreu uma falha, mas que o desenvolvimento prosseguiu apesar do dano, mesmo quando trata-se dos laços afetivos e emocionais. Já o termo inumanização aborda a questão emocional de uma forma mais profunda, quando Xavier e Tomazelli (2012) comparam com desumanização, fazendo um paralelo com os conceitos de não integração, integração e desintegração. Se algo está em um estado não integrado não pode se desintegrar, para ocorrer o processo de desintegração é preciso que ocorra antes uma integração. Com os termos inumano e desumano a comparação segue a mesma linha de raciocínio, para que eventos mentais sejam considerados desumanos é necessário que antes tenha-se alcançado minimamente algum aspecto humano.
 A condição de um bebê quando chega ao mundo é de total dependência, dos cuidados de outro ser da mesma espécie, para dar continuidade plena ao seu desenvolvimento e sua trajetória. A disponibilidade, que será observada pela demonstração de acessibilidade e receptividade, é que determinará se as necessidades do novo ser serão atendidas, segundo Bowlby (2004), pela figura materna, a pessoa a qual a criança dirige seu comportamento de apego.
Inicialmente, a atenção às exigências do bebê serão primordiais para sua sobrevivência, Winnicott (2007) denomina como cuidados maternos a satisfação das necessidades e proteção de agressão fisiológica provindas do ambiente. Quando ocorre falha no cuidado materno o bebê reage com irritação tornando-se perceptivo como resposta ao resultado da falha, interrompendo a continuidade de seu ser, sentindo-se ameaçado. Para adaptar-se as exigências externas, sofre um aniquilamento de seu ego, descrito por Winnicott (2007), como angústias e ansiedades inimagináveis por sobrevivência de seu ser.
É necessário que haja uma sintonia entre mãe e bebê para que as necessidades básicas sejam atendidas a contento, o bebê de início não percebe-se como diferente de sua mãe. Winnicott (2007) afirma, que a mãe normalmente alimenta esta sensação de onipotência do bebê e quando surge uma falha em satisfazer este gesto, como resultado da inabilidade da mãe em sentir suas necessidades, prevalecendo o gesto da mãe e ainda sendo validado pela submissão do bebê, que passa a reagir diante do ambiente externo, ocorrerá uma construção de personalidade com ego enfraquecido, baseado em reações de irritação ao meio, não atingindo um desenvolvimento favorável.
Em estudos de etologia a importância da estampagem sensorial é explicitada como fundadora do ser com base orgânica e biológica para sua existência entre os seres da mesma espécie. Rufo (2009), observa em filhotes de ovelha e ressalta que nas três primeiras horas após o nascimento, existe a necessidade de alimentá-los, lambê-los, cheirá-los e aquecê-los, se estes gestos não são dispensados pela própria mãe, nenhuma outra ovelha poderá reconhecê-lo em seu lugar. A sensorialidade é estabelecida instintivamente também entre humanos, mãe e bebê, como forma de reconhecimento e apego.
Os cuidados maternos são reconhecidos pelo bebê como um continente para suas necessidades e angústias. Ferrari (1995), cita que o continente primário são os cuidados dispensados pela mãe e que posteriormente servirá de base para formar um outro continente o invólucro físico, a superfície epidérmica exterior e interior, continente das primeiras experiências e sensações enteroceptivas. O continente fornecido pela mãe efetuará a transformação das experiências em significação, transmitindo apaziguamento das tensões corporais vivenciadas pelo bebê.
Na primeira infância, determinados distúrbios na relação mãe e bebê, propiciam fenômenos patológicos, segundo Spitz (2004). Nesta relação que envolve dois indivíduos diferentes, o que satisfaz a mãe é completamente diferente do que satisfaz a criança. As satisfações da mãe estão relacionadas ao papel que será desempenhado ao dar à luz, ter e criar um bebê e como estas funções são representadas em sua personalidade específica. Antes do nascimento, o bebê fez parte do corpo de sua mãe, que investiu o feto com catexia narcisista, que normalmente é dirigida ao próprio corpo. No processo de separação, que será gradual, os dois seres confundem-se nesta relação e os progressos ou fracassos obtidos pelo bebê, serão considerados pela mãe, como seus próprios. As satisfações do bebê passarão por mudanças conforme o avanço em seu desenvolvimento. Segundo Spitz (2004), inicialmente as necessidades do bebê serão de origem fisiológica, favorecendo segurança, descarga de tensão de necessidade e alívio da tensão de desprazer. A integração do processo de amadurecimento do bebê será facilitado conforme as respostas da mãe às solicitações do bebê. 
A relação entre mãe e bebê sustenta-se sob a sensação de harmonia e completude, de forma frágil, pois ocorrendo uma quebra nesta sintonia o bebê ficará exposto a sérios distúrbios. Spitz (2004), menciona que se a mãe estiver em desarmonia com o ambiente, influenciará o desenvolvimento da criança de forma ampliada gerando perturbações. 
 Spitz (2004), em suas observações sobre as relações prejudiciais entre mãe e bebê, concluiu que a ausência completa da mãe, ou de uma figura que a represente, e os distúrbios na personalidade da mãe podem ser os agentes provocadores das perturbações emocionais e do comprometimento no desenvolvimento psicológico posterior do bebê. Na privação da figura materna o fator gerador é quantitativo e nos distúrbios de personalidade materna o fator é qualitativo.
Nas relações qualificadas como inadequadas entre mãe e filho, Spitz (2004) as classificou em seis subtipos: rejeição primária manifesta, superpermissividade ansiosa primária, hostilidade disfarçada em ansiedade, oscilação entre mimo e hostilidade, oscilação cíclica de humor da mãe e hostilidade conscientemente compensada. Para as relações consideradas como insuficientes entre mãe e filho, Spitz (2004), apontou a carência como total ou parcial.
A "rejeição primária manifesta" pode ser ativa ou passiva segundo Spitz (2004), quando a mãe não aceita a maternidade, a gravidez ou a criança, ocorre a ativa e a passiva quando há reação do bebê em relação à mãe que não o aceita, sendo observados casos em que o bebê entra em estado de coma, como reação a rejeição. Nas duas formas de rejeições o bebê está em risco de abandono e morte. 
Por meio de estudos, citados por Spitz (2004), a cólica dos três meses foi relacionada ao comportamento de superproteção e preocupação excessiva da mãe em atender as solicitações de alimento do bebê, não obedecendo há horários fixos para amamentá-lo, caracterizando a "supermermissividade ansiosa primária". A mãe é amorosa e solicita, porém ansiosa e não conectada à comunicação com o bebê.
A ansiedade manifesta pela mãe nos cuidados com o bebê, em situações de eczema, revelaram hostilidade inconsciente reprimida. Por não proverem a necessidade de contato cutâneo do bebê, Spitz (2004) cita que o bebê reage com um esforço adaptativo e uma forma de solicitar, por meio do eczema, para que a mãe tenha que tocá-lo, com maior freqüência. Esta estado é temporário e limitado pelo processo de maturação, quando o bebê começar a andar e estabelecer outros vínculos, a doença é amenizada.
A incidência de caráter patológico, na atitude materna de "oscilação entre mimo e hostilidade", observado no comportamento de balanço em bebês, foi identificado por Spitz (2004), como uma atividade prazerosa para o bebê afetado e como uma opção de descarga de pulsão libidinal, ou seja, para alívio de tensão. As mães destes bebês possuem personalidades imaturas e constantemente expressavam explosões de emoções negativas e hostilidade violenta. Demonstravam comportamentos contraditórios e incongruentes em relação ao ambiente, prejudicando o estabelecimento de uma relação adequada com uma figura de apego.
Nos casos de mães com "oscilação cíclica de humor" e a conexão com o comportamentoda criança de manipulação fecal ou coprofagia, Spitz (2004), identificou que os bebês apresentavam-se geralmente com feridas e queimaduras, devido a atitudes repentinas da mãe, decorrentes da hostilidade inconsciente e rejeição compensadas por excessiva solicitude posterior. A mãe possuía personalidade com profunda ambivalência, manifestando sentimento de amor nos primeiros meses e hostilidade ao longo do crescimento do bebê. Spitz (2004), esclareceu o comportamento do bebê a partir de Freud, quando menciona que para o indivíduo depressivo é a incorporação oral do objeto perdido que produz apaziguamento. O humor depressivo da mãe origina uma inclinação depressiva na criança e quando a mãe depressiva afasta-se, a criança acompanha seu humor imitando a mãe. Este comportamento da mãe bloqueia o desenvolvimento normal do bebê, privando-o da oportunidade de completar a fusão, necessária no início de sua vida. A mãe serve como ego exterior e auxiliar, para que o bebê possa sobreviver, preenchendo sua estrutura psíquica incompleta e inadequada.
Spitz (2004), ao analisar as mães com "hostilidade conscientemente compensada", percebeu a dificuldade em identificar o comportamento que é disfarçado e dissimulado, sendo observado somente por um psiquiatra qualificado. O comportamento da mãe é resultado de um conflito consciente e sua atitude inadequada faz com que sinta-se culpada supercompensando com doçura melosa ou fornecendo brinquedos em exagero para suprir a falta de afeto pelo bebê. A criança para esta mãe não representa um objeto de amor, mas um objeto para sua satisfação narcisista e exibicionista. Esta atitude é comum em pais que possuem contato constante em círculos intelectuais e profissionais. Para a criança será prejudicial, pois o desenvolvimento na parte social de sua personalidade seguirá como modelo os tipos de relações proporcionadas pelos pais, e normalmente, desinteressa-se pelo contato com seres humanos e torna-se hostil quando abordada nas relações sociais ao longo da vida.
Nas relações insuficientes com a mãe, Spitz (2004), percebeu que a personalidade da mãe não influenciaria diretamente o desenvolvimento do bebê. A ausência física da mãe, substituto inadequado ou inexistente é que levava ao adoecimento do bebê, mesmo que fosse justificada, por moléstia, morte ou mesmo hospitalização do bebê. O desenvolvimento da criança fica comprometido por privação dos cuidados maternos e das privações afetivas vitais, que acontecem na troca com a mãe e o dano será proporcional à duração da privação.
Na privação afetiva parcial, Spitz (2004), observou que a depressão anaclítica era preponderante e que antes da separação o bebê manteve boas relações com a mãe, porém quando privado da mãe por mais de 3 meses, entre o sexto e o oitavo mês de vida, eram desencadeados alguns sintomas como retraimento, perda de peso, insônia e suscetibilidade a resfriados intermitentes. O significado do termo anaclítico é de apoiar-se e este tipo de depressão é decorrente das primeiras satisfações e estão ligadas as funções vitais como forma de preservação e sua recuperação mostrou-se favorável com o retorno da mãe em todos os casos.
O prejuízo é considerável na privação afetiva completa, Spitz (2004), cunhou o termo síndrome de hospitalismo a partir de observações do comportamento de bebês que sofreram privação sensorial e afetiva, em ambientes hospitalares, instituições de adoção e creches. Os bebês demonstravam os sintomas da depressão anaclítica, atraso motor, passividade, apatia e declínio acentuado do desenvolvimento, o que acarretava uma predisposição crescente à infecção, levando à altas taxas de mortalidade.
Spitz (2004) concluiu que todos os distúrbios verificados e identificados deixaram traços permanentes quando ocorreram no período em que o psiquismo estava ainda em formação, gerando cicatrizes em sua estrutura e funcionamento e criando uma predisposição para o desenvolvimento subseqüente de patologia. 
Por meio dos estudos e observações considerados por Spitz (2004), podemos correlacionar os comportamentos inadequados e insuficientes das mães com a precária formação de ego nos bebês ampliando para os adultos com personalidades aditivas, casos-limite, psicossomatizantes e estados deprimidos descritos por Ivanise Fontes (2010).
Para estes adultos há uma impossibilidade em simbolizar os contéudos e experiências reais, sentem somente o desconforto que as situações produzem em seu corpo, comunicando-se somente através de signos sensoriais recebidos do ambiente externo, expressos e registrados em seu corpo. Segundo Ivanise (2010), a angústia é arcaica e a memória corporal manifesta-se no lugar da linguagem verbal.
Observação semelhante é registrada por Balint (1968), quando menciona a falha básica, citada por seus pacientes, como uma espécie de deficiência que precisa ser corrigida, algo que está faltando, uma ausência provocada por alguém que descuidou-se, produzindo uma angústia e demanda desesperada que precisa ser preenchida, por uma quantidade suficiente de ingredientes que se possível fossem encontrados. Essas angústias tiveram origem nas discrepâncias ocorridas na fase formativa precoce do indivíduo, entre as necessidades biopsicológicas, o cuidado material e psicológico e a afeição disponível de pessoas do ambiente, gerando como conseqüência a não adaptação da criança e deficiências que posteriormente serão somente parcialmente reversíveis.
CAPÍTULO 2 - TORNAR-SE HUMANO
As interações iniciais entre mãe e bebê determinarão se as condições serão saudáveis ou prejudicadas, para a constituição da personalidade do futuro adulto. Winnicott (1983), descreveu em seu vasto trabalho, como seria um desenvolvimento ideal e saudável e como obter essas condições necessárias para que ao atingir a maturação emocional o adulto fosse considerado um ser integrado. 
No início de sua existência o bebê não conhece o mundo e será a mãe que o apresentará, através de processos bem sucedidos de maternagem, segundo Winnicott (1983). O ambiente psicológico percebido pelo bebê é primeiramente físico, que com o pleno desenvolvimento se estenderá para o campo emocional, psicológico e social. Nos procedimentos de maternagem dispensados ao bebê, a mãe atenderá as necessidades básicas e de afeto, tornando o mundo compreensível por meio de proteção física, aconchego, afeto, comunicação e vivências, para dar continuidade em sua existência e integração de seu ser. Os cuidados maternos, como acalentar, tocar e falar são estímulos contendo informações sensoriais e cinestésicas provocando sensações prazerosas no bebê indicando segurança para seu desenvolvimento.
Winnicott (1983) designou a atitude materna de envolver afetuosamente o corpo do bebê com os braços e o próprio corpo como "Holding", sendo uma forma de contenção física com afeto. Para a manipulação nos cuidados físicos como amamentação, banho e troca de fraldas adotou a expressão "Handling".
O processo de maternagem só tem início quando a mãe adquiriu um estado psicológico de identificação que envolverá dedicação e cuidado ao novo ser, segundo Winnicott (1983), na "preocupação materna primária" a mãe fornece sustentação emocional e apoio egóico, como fontes de um ambiente bom e adequado para um desenvolvimento saudável. Esta mãe que facilita com seus cuidados afetuosos um ambiente bom Winnicott (1983) a denominou como "mãe suficientemente boa" por proporcionar a dedicação solicitada pelo bebê.
O bebê tem participação ativa e é o maior beneficiado neste desencadear de processos nos cuidados maternos. Segundo Winnicott (1983), no início a necessidade e dependência do bebê é absoluta, dos cuidados físico e emocional propiciados pela mãe. A próxima fase é a de dependência relativa onde surgem a consciência da necessidade da mãe e os impulsos do bebê por suas preferências. Na fase à caminho da independência ocorre que o bebê torna-se capaz de incorporar e reter as memórias da maternagem e diminuir de forma gradual a dependência da mãe, vivenciando suaintegração de maneira segura e confiável. 
No desenvolvimento emocional humano, a relação face a face, entre mãe e bebê tem a função de espelho, segundo Winnicott (1983), quando o bebê olha para o rosto da mãe, o bebê vê a si mesmo sendo reconhecido e passando a existir num universo antes desconhecido, agora traduzido e apresentado, pelo olhar mãe que fortalece o sentimento de ser no ambiente. 
 Brêtas (2006), comenta que a mãe ao fornecer os cuidados necessários ao desenvolvimento adequado do bebê define e fortalece os contornos físicos e psíquicos, favorecendo a constituição da existência do ego e da personalidade em seu próprio corpo e separando o espaço interno e externo unificando as experiências motora, sensorial e funcional, facilitando o existir do bebê no corpo. O corpo é o resultado das experiências agradáveis e desagradáveis em que o ego está alicerçado e cristalizado o psíquico.
Outras teorias foram desenvolvidas para encontrar padrões nas relações saudáveis iniciais do bebê. Bowlby (2004), concluiu que nas interações entre mãe e bebê, um modelo funcional interno é criado por meio do estabelecimento de segurança e confiança ofertados pela mãe para prover o bebê. O modelo funcional descrito por Bowlby (2004), é baseado na relação de apego que o bebê estabelece com a mãe ou figura substituta. Este apego pode ser alicerçado na confiança, produzindo um apego seguro em que o bebê confia não somente em seus cuidadores, mas na própria capacidade de conseguir o que precisa. O apego inseguro proporcionará desconfiança no bebê. 
Segundo Bowlby (2004), a segurança denota confiança quando a mãe demonstra ser sensível e compreensiva para com as necessidades do bebê por meio de atitude positiva e oferecendo suporte emocional constante. A insegurança do bebê é determinada pela desconfiança para com a figura de apego quando a mãe demonstra instabilidade por meio de atitudes coercitivas e intrusivas, não estando receptiva nem acessível as necessidades da criança. A figura de apego demonstra disponibilidade somente quando é acessível às solicitações e mostra-se potencialmente receptiva para o bebê. Estes modelos funcionais estabelecidos no psiquismo interno da criança favoreceram posteriormente a classificação das personalidades adultas em maduras e imaturas. A pessoa considerada madura é considerada confiante e quando encontra obstáculos busca apoio em figuras de confiança para enfrentar o mundo. A pessoa imatura mostra-se sempre angustiada, em busca de apoio constante e não confia nas pessoas, a atitude de insegurança é conseqüência de uma interrupção no processo de desenvolvimento e é possível observar que as figuras de apego ofereceram respostas inadequadas e inapropriadas, quando solicitadas na infância.
Uma outra teoria é proposta por Didier Anzieu (1989), a do "Eu-Pele", que tem dentre suas funções a de continente das emoções e exerce a diferenciação entre o ambiente interno e externo, sendo uma estrutura intermediária do aparelho psíquico. Anzieu (1989), cita que toda atividade psíquica se estabelece sobre uma função biológica, portanto o "Eu-Pele" como representante psíquico do eu apóia-se sobre as diversas funções da pele e funciona como uma bolsa para conter e reter os primeiros conteúdos psíquicos dispensados pela mãe em seus cuidados iniciais, formando uma barreira protetora que limita o dentro e fora do corpo e é uma superfície de inscrição de traços deixados pelas relações em seu processo de comunicação.
Para descrever as funções do "Eu-Pele" Anzieu (1989), estabelece um paralelo entre as funções da pele e as funções do eu, correspondentes entre o orgânico e o psíquico, localizando nove funções que são de manutenção, continência, pára-excitação, individuação, intersensorialidade, sustentação da excitação sexual, recarga libidinal, inscrição dos traços e autodestruição. Os contornos do "Eu-Pele" situados na extensão corporal da pele segundo Anzieu (1989), precisam ser contidos inicialmente pela mãe para que o bebê vivencie as funções do "Eu-Pele" em seu próprio corpo formando um envelope a partir das experiências com os órgãos dos sentidos. 
Os envelopes identificados para conter as funções biológicas e formar os respectivos psicológicos foram classificados por Anzieu (1989), como envelope sonoro, envelope térmico, envelope olfativo, envelope gustativo, pele muscular, envelope de sofrimento e película do sonho. A formação destes envelopes ocorrem mediante o contato do bebê com a mãe sendo favorecido pela qualidade nos cuidados oferecidos pela mãe. No início os cuidados realizados de maneira afetuosa são percebidos como uma estimulação simples e quando o bebê sente-se seguro e confiante estes gestos são percebidos como uma forma de comunicação entre ambos.
CAPÍTULO 3 - O EGO CORPORAL
O trabalho de interpretação no processo psicanalítico, realizado em clínica, não adquiria um resultado positivo para pacientes específicos, psicossomatizantes, casos-limite, personalidade aditiva e depressivos, segundo Fontes (2011). Observou-se nestes pacientes que a investigação do recalque não era possível no processo analítico mas a retomada do desenvolvimento emocional e construção do psiquismo demonstrava ser mais efetiva. O ego ainda não havia obtido a característica de unidade psíquica como na neurose. Com a análise destes pacientes específicos ficou evidente a importância da elaboração de um ego corporal.
Para Freud (1923/1969, vol. 19, p. 13-23), a constituição do ego ocorre a partir da formação de uma instância corporal e da diferenciação entre o eu e não-eu e para esse processo ocorrer será preciso um corpo para conter os conteúdos físicos, ensinando ao ego como conter os conteúdos psíquicos, portanto o ego corporal contém os elementos corporais e o ego psíquico contém os sentimentos e pensamentos. Freud, menciona que o ego é a projeção mental da superfície do corpo, então a estruturação de um psiquismo a partir da percepção corporal é equivalente a construção de uma pele psíquica para integração do ego.
A repetição das vivências dos cuidados afetuosos da mãe, nos primeiros meses do bebê constrói um envelope tátil, o ego corporal que tem como finalidade conter as angústias primitivas. Fontes (2011) cita que a experiência corporal de envelopamento do bebê pelo corpo da mãe desperta a sensação de segurança e garante a continuidade de existir e tornando suportável o enfrentamento da diferenciação entre o bebê e a mãe. A experiência corporal de continência produz no bebê a sensação de sentir-se um recipiente com interiores e efetiva a discriminação entre eu e não-eu e a distinção de dentro e fora a partir da pele que é a localização da psique no corpo.
A formação de um ego corporal contribui para um outro processo psíquico, a simbolização primária que começa pelo corpo por meio das vivências de ser contido e de conter. (Fontes, 2011). Os pacientes com dificuldades de simbolização foram classificados por Kristeva (1993), como doentes da alma e pela fragilidade na formação do ego foram considerados por D. Anzieu (1989), P. Fédida (2002 apud Fontes, 2011, p.84) e A.Green (2002 apud Fontes, 2011, p.84), como pacientes com necessidade de constituição de uma "pele psíquica" que não foi ainda estruturada.
As fases de desenvolvimento do ego corporal são descritas por Fontes (2014), de forma clara e simples, iniciando-se o processo a partir do nascimento quando ocorrem as experiências de continência pelo corpo da mãe, seguindo o desenvolvimento por meio do ritmo de vaivém nos cuidados, após a identificação do espaço circular e por fim a sensação de existir.
Com o nascimento do bebê, as sensações corporais de desconforto provenientes do corte do cordão umbilical, luz ofuscante, perda do conforto e segurança serão apaziguadas pela mãe por meio da amamentação. Os primeiros olhares serão trocados e o bebê será acalentado pela mãe, sentindo os ritmos de seu coração e sua voz, o bebê terá a sensação de que está ainda dentro corpo da mãe, sente a continuidade da vida no útero.O bebê sente-se misturado com a mãe como se fossem um só.(Fontes, 2014).
Fontes (2014), menciona que na próxima fase ocorrerá um processo gradual de separação do corpo da mãe e as experiências corporais de continência serão sucessivas, onde o bebê precisará sentir-se seguro da continuidade de sua existência. Nas repetidas vivências que causarão sensações desprazerosas e angústia, o amparo pelo corpo da mãe, oferecerá a sensação de continência, confiando sua sobrevivência e obtendo alívio no colo seguro.
Na terceira fase, por volta dos dois meses, Fontes (2014), afirma que as experiências serão predominantemente rítmicas, as trocas de olhares entre a mãe e o bebê, o bico do seio na boca e a voz modulada da mãe, confirmadas pela experiência de ida e volta nas trocas afetivas, assegurarão que toda ida tem volta. O olho no olho combinado com o suporte da cabeça, nuca, pescoço e costas vão formar a estrutura rítmica. O olhar da mãe é enriquecido com um olhar que retorna. A voz melodiosa da mãe que duplica-se perguntado ao bebê e, ao mesmo tempo, respondendo por ele, terá o efeito de correspondência ao ritmo de vaivém.
A continência pelo próprio corpo é descrita por Fontes (2014), a partir da garantia de continuidade de existência proporcionada pela continência da mãe. O bebê aplacará as angústias primitivas com seu corpo, percebendo que ao mamar sente seu interior, identificando o aparelho digestivo e sentindo que a pele o envolve através do banho, massagem e carinho. Vivenciando a separação do interior e do exterior, o bebê perceberá, por volta do quarto e quinto mês, que tem partes corporais em dobro, braços, pernas e olhos. A coluna vertebral é o eixo de ligação das metades, e a união de cima e debaixo do tronco ocorrerão somente no quinto mês.
O bebê na próxima fase ficará atento à sua volta para tudo que tem a forma circular, pois estas experiências fornecem a sensação de que algo existe em torno do bebê, em volta dele. Segundo Fontes (2014), as vivências transmitirão a sensação de ser contornado por um círculo maternal e registrarão a interiorização de uma esfera continente.
Fontes (2014), menciona que os pais percebem reações diferentes no bebê, um misto entre triste e sonhador e uma quietude, está iniciando o processo do nascimento psíquico que ocorre com as primeiras consciências de separação, quando o bebê percebe a diferença entre seu corpo e o mundo.
Esta experiência é citada pelo cineasta Bernard Martino, ao filmar o trabalho realizado na "Casa de Loczy", um orfanato húngaro, onde cuidavam de bebês órfãos da 2ª Guerra. Martino faz uma comparação entre as sensações de estar diante de uma manifestação sagrada, do nascimento do primeiro pensamento e como os astrofísicos se sentem a algumas frações de segundos do nascimento do universo, tal é a admiração do processo do nascimento psíquico.
A questão corporal é abordada por Bastos (1998), quando cita Freud e suas proposições utilizando os termos encorpando e incorpando o ser, e menciona que o corpo para a psicanálise não se identifica com o conceito de organismo considerado pela biologia, nem com o somático, como a medicina se refere. Freud, em seus escritos, relata sobre um ser que é um corpo e não que tem um corpo, como Descartes supôs em seus escritos sobre o dualismo entre o corpo e o espírito, enfatizando uma oposição entre os registros da corporeidade e a subjetividade do sujeito, Freud propôs uma articulação entre estas duas instâncias.
Entretanto, considerando que o sujeito tem um corpo, destaca a idéia de oposição e separação entre mente e corpo, determinando que é encorpado, ao passo que ao afirmar que o sujeito é um corpo, amplia a dimensão do ser e de sua subjetividade, passando a ser considerado incorpado.
O corpo é alvo de afetos, ou seja, estímulos recebidos do meio ambiente, excitações nervosas vivenciadas pela intensidade das emoções, que podem sobrecarregar o sujeito e seu psiquismo, gerando um excedente descrito por Freud como afeto. A forma e o destino que o sujeito dava a esses excessos de afeto, ou excitações nervosas, determinavam o tipo de defesa desenvolvido pelo psiquismo, Bastos (1998).
A corporeidade em psicanálise, citada pela lógica do erotismo por Bastos (1998), é prevista em três dimensões e está relacionada com a pulsão, que não é psíquica nem somática, mas é uma força constante que se impõe ao psiquismo por sua ligação ao corporal. As pulsões nas primeiras experiências vivenciadas pelo sujeito são registradas no corpo pulsional, pelo fato da pulsão ser uma força que se materializa. No encontro com o outro, o corpo narcísico é formado e é criada uma unidade corpórea do eu para organizar a dispersão e o caos pulsional, elaborando o corpo realidade. Quando o corpo narcísico recebe um limite do outro, por meio de imposição de limite de fronteiras através da experiência de castração e do complexo de Édipo, há uma reorganização corporal para gerar o corpo realidade.
O corpo na visão psicanalítica foi considerado a partir da dimensão mais concreta, para se chegar a compreensão do adoecimento psíquico. O corpo anatômico foi objeto de estudo científico e produto de observação no campo médico e com a técnica de dissecção, a investigação propiciou o conhecimento do corpo geograficamente, em partes menores, portanto o corpo é um dado para compreender e representar, não possuindo ligação com o aspecto humano (Bastos, 1998).
Freud empenhou-se em estudar profundamente a histeria, que era considerada um enfermidade nervosa, porém os pacientes não indicavam nenhuma lesão anatômica. Bastos (1998), cita que Freud concluiu que o corpo real não apresentava lesão e que o corpo para o paciente era uma representação imaginária, carregado de excitação sexual, sem caminho psíquico para expressão, devido algum trauma sofrido na infância, definindo o corpo do sexo.
Os sintomas da histeria surgiam de um corpo representado, por uma vivência traumática, ocorrendo a conversão de uma forma simbólica entre o psíquico e o somático, um excesso psíquico se tornava um sintoma corporal, recebendo o corpo simbólico significado sexual e tornando-se um corpo sexual (Bastos, 1998).
A metáfora da árvore é utilizada por Françoise Dolto para descrever a junção entre o ego e o corpo, por meio dos conceitos de esquema corporal e imagem corporal, Dolto (2004), menciona o esquema corporal representado pela árvore sendo compreendido como as raízes, o tronco e os ramos servindo de estrutura para a verticalidade, a lateralidade, biodimensionalidade e sua tridimensionalidade. A imagem corporal tem semelhança com a folhagem, frutos, roupagem, favorecendo a idéia de que o corpo é ressignificado pela imagem, perpassado pela dinâmica das influências sócio-histórico-culturais buscando enraizamento na estrutura do esquema corporal.
O esquema corporal é formado pela aprendizagem e pela experiência, é evolutivo no tempo e no espaço e a imagem corporal se estrutura pela comunicação entre os sujeitos. Dolto (2004), considera que a criança torna-se um ser humano, à partir da experiência que possibilita o contato, com o outro, cruzando o esquema corporal, que é um lugar de necessidade orgânica, com a imagem do corpo, um lugar de desejo.
As vivências desconfortáveis, de dor ou tensão da criança, são estabelecidas no corpo, no esquema corporal, e são apaziguadas pelas palavras carregadas de afeto e de sentido da mãe, indicando a espera e permitindo que as percepções da criança sejam humanizadas, formando a imagem corporal. Dolto (2004), descreve o processo da formação de uma Imagem Dinâmica para a constituição da imagem corporal, sendo derivada de três aspectos: imagem de base, imagem funcional e imagem erógena. A imagem de base, permite a criança a sensação de existência e continuidade, resistindo às mudanças do corpo e aos processos evolutivos. De início a imagem de base é respiratório-olfativa-auditiva indicando à percepção do cavum e tórax, seguindo para a imagem de base oral, que propicia a percepção da zona bucal-faringo-laringe que produza sensação de cheio ou vazio do estômago, ligada a percepção de fome ou saciedade e a próxima fase é a formação da imagem de base anal, corresponde à percepção de retenção ou expulsão dos conteúdos da região inferior do tubo digestivo. A imagem funcional tem a função de atingir a satisfação dos desejos provenientes do esquema corporal, enriquecendo as relações e utilizando a via da comunicação. E por fim a imagem erógena, um local para vivenciar o prazer e desprazer associado à imagem funcional tornando a experiência humanizante ao ser partilhada, sendo expresso por gesto ou palavra formando um valor simbólico.
Dolto (2004), faz algumas observações sobre a formação da imagem corporal em relação às castrações que a criança vivenciará. As castrações permitirão que a criança realize a simbolização dos signos percebidos pelos sentidos e a primeira castração será a oral, pelo desmame que permitirá que a criança não seja dependente da mãe e desenvolva a linguagem verbal, compreensível a todos, além da mãe. A próxima castração será a anal, que possibilitará a humanização e a socialização da criança, por meio da autonomia que permitirá a descoberta da relação com os outros. A castração é uma proibição que se opõe à satisfação que auxiliará na estruturação da imagem corporal, por meio de emoções dolorosas, que servirão de limite para simbolizar a imagem do corpo conhecido.
A pele ou Eu-Pele, como o ego corporal é denominado por Anzieu (1989), funciona como um continente para o ego e possui três funções principais e são correlacionadas com o desenvolvimento emocional primitivo de Winnicott e as funções da mãe. A primeira função é a manutenção do psiquismo, e ocorre pelo fato da pele sustentar os músculos e o esqueleto, e se interioriza pelo "holding" materno. A segunda função da pele é de recobrir todo o corpo, envolvendo o psiquismo interiorizado pelo "handling" materno. E a terceira função é a de proteção contra os estímulos externos excessivos, como função de pára-excitação.
O conceito de "pele psíquica" é utilizado por Esther Bick, ( 1968 apud Aragão, 2007, p. 64), como um objeto continente introjetado pelo bebê para delimitar o ambiente interno do externo, e tem a função de unir partes da personalidade não diferenciadas ainda de partes do corpo. Inicialmente as partes da personalidade estão fragmentadas e são mantidas unidas de forma passiva pela pele, funcionando como limite. As partes não estão integradas ainda e dependerá de um objeto externo para cumprir esta função de integrador, e o objeto será introjetado iniciando a formação de fantasias e da noção de espaço interno e externo. O mecanismo psíquico, nesta fase é o de identificação projetiva, onde a criança utiliza a cisão e a idealização, como forma de relacionar-se com o outro. No início, o desamparo é vivenciado como um estado de não integração e passivo.
O ego corporal é considerado por autores da atualidade, como Násio, (2009 apud Esteves, 2010, p. 28-31) que afirma que o corpo é a via principal que conduz à revelação do inconsciente e explica que a imagem inconsciente do corpo é uma imagem constituida de sensações corporais antes da aquisição da palavra e são recalcadas no inconsciente quando na fase da imagem do espelho, que é a imagem de um corpo vísivel que torna-se consciente e prevalece sobre a imagem inconsciente que passa a ser recalcada. A imagem da sensação corporal é investida de afeto, pois dá sentido ao que sente, segundo Násio, (2009 apud Esteves, 2010, p. 28-31) precisa da presença interiorizada do outro para tomar forma e tem que repetir-se na história, precisa de constância no tempo. Portanto, as sensações experimentadas no corpo infantil registram as imagens inconscientes e são inscritas como memória e despertam sentimento de si.
Para Násio, (2009 apud Esteves, 2010, p. 28-31), o corpo na psicanálise tem quatro tipos de imagens que correspondem a quatro formas de viver o corpo: sentir o corpo, corresponde a "imagem mental" das sensações corporais; ver o corpo, corresponde a "imagem especular" da silhueta no espelho, ser superado pelo corpo, corresponde a "imagem-ação", o corpo em movimento, o desempenho e nomear o corpo, corresponde a "imagem nominativa", definindo um detalhe no corpo.
Násio, (2009 apud Esteves, 2010, p. 28-31), afirma que o corpo tem duas imagens principais a "imagem mental das sensações físicas" e a "imagem visível da silhueta no espelho" e estas duas imagens constituem o conteúdo do eu e produz o sentimento de si. A imagem inconsciente do corpo é uma formação psíquica carregada de libido. A imagem precisa da libido para existir e a libido tem necessidade da imagem para circular, é considerada uma instância que está sempre se organizando e exerce efeitos reais no corpo do qual é imagem fazendo crescer ou adoecer.
A imagem do corpo, para Zukerfeld, (1996 apud Esteves, 2010, p. 31-33) é uma estrutura psíquica com representação consciente e inconsciente identificada a partir de três registros: forma, conteúdo e significado. Para cada tipo de registro há um equivalente psíquico, o registro da "forma" ou figura são as representações conscientes de tamanho, postura, movimentos e superfície corporal, compreendendo à noção de esquema corporal. O registro de "conteúdo" ou interioridade corresponde às representações de percepção das sensações proprioceptivas e cinestésicas. O registro do "significado" é inconsciente e representa o corpo erógeno e constitui o desejo com expressão simbólica.
Para Sacks, (2003 apud Silva, 2007, p. 50-62), neurologista da atualidade, observa a imagem do corpo a partir da construção fornecida pelos sentidos, mais especificamente a propriocepção, que fornece a sensação de ter um corpo e que se move no espaço, é composta por toda a percepção da interioridade do corpo, estruturando a experiência enquanto a exterocepção é a percepção a tudo que é exterior ao corpo, propiciados pelos órgãos do sentidos, organizando os fenômenos extracorporais. Os sentidos da propriocepção são "os olhos do corpo" ou como o corpo se vê".
Para Damásio, (2004 apud Silva, 2007, p. 70-83), a construção da imagem do corpo ocorre por meio das emoções e sentimentos no "teatro do corpo" através da representação do corpo na rede neural. O corpo nada mais é do que uma representação no cérebro de processos neurais experienciados pela mente. O corpo é referência para as interpretações do mundo externo e para a construção da subjetividade. Damásio une três instâncias, mente, corpo e subjetividade em uma: o cérebro.

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