Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Patologias Pulmonares: Pneumonias e Tuberculose Pneumonias Agudas Adquiridas em Comunidade A maioria das pneumonias agudas adquiridas em comunidade apresenta etiologia bacteriana. O início geralmente é abrupto, com febre alta, calafrios, dor torácica pleurítica e tosse produtiva mucopurulenta; alguns pacientes podem ter hemoptise. S. pneumonie (isto é, pneumococos) é a causa mais comum de pneumonia aguda adquirida em comunidade. As infecções pneumocócicas ocorrem com maior frequência em subgrupos de pacientes: (1) com doenças crônicas concomitantes, como CHF, DPOC ou diabetes; (2) com defeitos imunoglobulínicos adquiridos ou congênitos (p. ex., síndrome da imunodeficiência adquirida [AIDS]); e (3) com função esplênica diminuída ou ausente (p. ex., anemia falciforme ou após esplenectomia). MORFOLOGIA Nas infecções pneumocócicas pulmonares, podem ocorrer tanto o padrão de broncopneuminia quanto de pneumonia lobar. Sendo que a broncopneumonia é mais prevalente nos extremos de idade. As pneumonias pneumocócicas evoluem através de quatro estágios: congestão, hepatização vermelha, hepatização cinza e resolução. A antibioticoterapia precoce altera ou para a progressão típica. No primeiro estágio denominado congestão, o(s) lobo(s) afetado(s) está(ão) pesado(s), vermelho(s) e úmido(s); histologicamente, observa-se congestão vascular com fluido proteináceo, neutrófilos disseminados e muitas bactérias nos alvéolos. Em alguns dias, sobrevém o estágio de hepatização vermelha caracterizado por lobos pulmonares com consistência hepática; os espaços alveolares estão preenchidos por neutrófilos, eritrócitos e fibrina. No próximo estágio, denominado hepatização cinza, os pulmões estão secos, cinza e firmes, uma vez que os eritrócitos foram lisados e o exsudato fibrinossupurativo persiste no interior dos alvéolos. A resolução ocorre nos casos não complicados à medida que os exsudatos no interior dos alvéolos são digeridos enzimaticamente para produzir debris granulares e semifluidos que são reabsorvidos, fagocitados por macrófagos, expelidos pela tosse ou organizados por fibroblastos que proliferam em seu interior. No padrão broncopneumônico, os focos de consolidação inflamatória estão distribuídos em um ou mais lobos, mais frequentemente, em padrões bilateral e basal. Lesões bem desenvolvidas de até 3-4 cm em diâmetro estão discretamente elevadas e são cinza-vermelhas a amarelas. O tecido pulmonar adjacente que circunda as áreas de consolidação está usualmente hiperêmico e edematoso, porém as áreas intervenientes estão geralmente normais. O envolvimento pleural é menos comum em relação à pneumonia lobar. Microscopicamente, a reação consiste em exsudação supurativa que preenche os brônquios, bronquíolos e espaços alveolares adjacentes. A co mpl eta resolução das lesões pulmonares em ambos os tipos de pneumonia pneumocócica é possível com terapia apropriada; entretanto, podem ocorrer complicações: (1) a destruição e a necrose tecidual podem levar à formação de abcessos; (2) exsudato supurativo pode acumular-se na cavidade pleural, levando ao empiema; (3) a organização do exsudato intra- alveolar pode converter áreas pulmonares em tecido fibroso sólido; e (4) a disseminação bacteriana pode levar à meningite, artrite ou endocardite infecciosa. Pneumonias Atípicas Adquiridas em Comunidade A designação atípica denota a quantidade moderada de esputo, ausência de achados físicos de consolidação, elevação moderada da contagem de leucócitos e ausência de exsudatos alveolares. A pneumonia atípica é causada por uma variedade de microrganismos; o mais comum é o Mycoplasma pneumoniae. As infecções por Mycoplasma são particularmente comuns entre crianças e adultos jovens, ocorrendo esporadicamente ou como epidemias locais em comunidades fechadas. Outros agentes etiológicos incluem os vírus influenza tipos A e B, vírus sinciciais respiratórios, metapneumovírus humano, adenovírus, rinovírus, vírus da rubéola e varicela, além de Chlamydia pneumoniae e Coxiella burnetii (agente da febre Q). O mecanismo patogênico comum é a aderência dos microrganismos ao epitélio respiratório seguido de necrose das células e resposta inflamatória. Nos casos em que o processo estende-se aos alvéolos, usualmente há inflamação intersticial. O dano e a desnudação do epitélio respiratório inibem a limpeza mucociliar e predispõem a infecções bacterianas secundárias. MORFOLOGIA Os padrões morfológicos nas pneumonias atípicas são si-milares, independentemente da causa. O processo pode ser focal ou envolver a totalidade dos lobos bilateral ou unilateralmente. Macroscopicamente, as áreas acometidas estão vermelho-azuis, congestas e subcrepitantes. O exa-me histológico revela reação inflamatória largamen-te confinada no interior das paredes dos alvéolos. Os septos estão ampliados e edematosos, além de conter um infiltrado inflamatório de linfócitos, histiócitos e, ocasionalmente, plasmócitos. Os espaços alveolares nas pneumonias atípicas estão livres de exsudato celular. Em casos menos severos e não complicados, o abrandamento da doença é seguido da reconstituição da arquitetura original. Tuberculose A tuberculose é uma doença granulomatosa crônica contagiosa, causada pelo Mycobacterium tuberculosis. Comumente, acomete os pulmões, mas pode afetar qualquer órgão ou tecido. Tipicamente, os centros dos granulomas tuberculosos são caracterizados por necrose de caseificação. Tuberculose Primária A tuberculose primária é uma forma de doença que se desenvolve em pacientes não expostos e, portanto, não sensibilizados. Pessoas idosas e pacientes profundamente imunossuprimidos podem perder a sensibilidade ao bacilo da tuberculose e desenvolver tuberculose primária mais de uma vez. Cerca de 5% desses pacientes novamente infectados adquirem doença siginificativa. As principais consequências da tuberculose primária (1) estão relacionadas com a indução de hipersensibilidade e aumento da resistência; (2) os focos de cicatrização podem portar bacilos viáveis por anos, talvez por toda a vida, e portanto constituir o ninho para a reativação posterior em condições de comprometimento da função imune do hospedeiro; e (3) incomumente, pode levar à tuberculose primária progressiva. Essa complicação ocorre em pacientes imunocomprometidos ou com diminuição inespecífica das defesas do hospedeiro, como a má nutrição em crianças e a idade em idosos. MORFOLOGIA Tipicamente, os bacilos inalados implantam-se nos espaços aéreos distais da porção inferior do lobo superior ou porção superior do lobo inferior, usualmente próximo à pleura. À medida que a sensibilização se desenvolve, surge o foco de Ghon, caracterizado por uma área de consolidação inflamatória cinza-branca. Na maioria dos casos, o centro desse foco sofre necrose caseosa. Os bacilos da tuberculose, livres ou no interior de fagócitos, seguem via drenagem linfática para os linfonodos regionais que também sofrem caseificação. A combinação de lesão parenquimatosa e linfonodal é denominada complexo de Ghon. O desenvolvimento de imunidade mediada por células controla a infeção em aproximadamente 95% dos casos. Portanto, o complexo de Ghon sofre fibrose progressiva, frequentemente seguida de calcificação detectável radiologicamente (complexo de Ranke). No exame histológico, os locais de envolvimento ativo são marcados por uma reação inflamatória granulomatosa característica que forma granulomas caseosos e não caseosos (Fig. 12-37, A e C), que consistem em histiócitos epitelioides e células gigantesmultinucleadas. Tuberculose Secundária (Tuberculose Reativada) A tuberculose secundária é um padrão de doença que surge em hospedeiros previamente sensibilizados. A tuberculose secundária pode surgir logo após a primária, porém, mais comumente, surge da reativação de lesões primárias dormentes muitas décadas após a infecção inicial, particularmente quando há queda na resistência do hospedeiro. Também pode surgir após a reinfecção exógena devido à queda na proteção proporcionada pela doença primária ou devido à inoculação de um grande inóculo de bacilos virulentos. Classicamente, a tuberculose pulmonar secundária localiza-se no ápice de um ou ambos os lobos superiores. O bacilo incita uma resposta tecidual rápida e marcada que tende a não se restringir ao foco. Os linfonodos regionais apresentam envolvimento menor nos estágios iniciais da doença. A ocorrência de cavitação na forma secundária é rápida, induzindo à erosão das vias aéreas e disseminação aerógena. Tais alterações tornam-se uma importante fonte de infecção, uma vez que agora o paciente produz esputo com bacilos. A tuberculose secundária deve sempre ser uma importante consideração em pacientes HIV-positivos e que apresentem doença pulmonar. MORFOLOGIA A lesão inicial, geralmente, é um pequeno foco de consolidação, menor que 2 cm de diâmetro, com 1-2 cm abaixo da pleura apical. Tais focos são nitidamente circunscritos, firmes, branco- acinzentados a amarelados, com quantidade variável de caseificação central e fibrose periférica. Histologicamente, as lesões ativas mostram tubérculos característicos coalescentes com caseificação central. A tuberculose pulmonar secundária, apical, localizada, pode curar espontaneamente ou depois da terapia, resultando em fibrose, ou a doença pode progredir e se estender por várias vias diferentes. Tuberculose pulmonar progressiva pode surgir. A lesão apical aumenta com a expansão da área de caseificação. A erosão em um brônquio evacua um centro caseoso, criando uma irregularidade, a cavidade irregular é forrada por material caseoso e grosseiramente circundada por tecido fibroso (Fig. 12-38). A erosão de vasos sanguíneos resulta em hemoptise. Com o tratamento adequado, o processo pode ser debelado, embora a cura por fibrose frequentemente deforme a arquitetura pulmonar. Com a tuberculose pulmonar progressiva, a cavidade pleural está invariavelmente envolvida e pode desenvolver efusões pleurais serosas, empiema tuberculoso ou pleurite fibrosa obliterante. Doença pulmonar miliar ocorre quando o organismo é drenado através dos ductos linfáticos, que desembocam no retorno venoso para o lado direito do coração e daí para as artérias pulmonares. Lesões individuais são focos microscópicos ou pequenos, visíveis (2 mm) de consolidação amarelo-branca espalhados através do parênquima pulmonar (a palavra miliar é derivada desses focos, que se assemelham a sementes de milho). Tuberculose laríngea, endotraqueal e endobrônquica pode se desenvolver quando material infeccioso é disseminado através dos canais linfáticos ou é expectorado. Tuberculose miliar sistêmica segue-se quando os organismos se disseminam através do sistema arterial sistêmico para quase todos os órgãos do corpo. Os granulomas são os mesmos dos pulmões. A tuberculose miliar é mais proeminente no fígado, medula óssea, baço, suprarrenais, meninges, rins, tubas uterinas e epidídimo. A tuberculose em órgão isolado pode aparecer em qualquer órgão ou tecido semeado hematogenicamente e ser a única manifestação apresentada na tuberculose. Os órgãos tipi- camente envolvidos incluem meninges (meningite tuberculosa), rins (tuberculose renal), suprarrenais, ossos (osteomielite) e tubas uterinas (salpingite). Linfadenite é a mais frequente forma de tuberculose extrapulmonar, geralmente ocorrendo na região cervical (“escrófula”). A linfadenopatia tende a ser unifocal, e a maioria dos pacientes não tem doença extranodal concorrente. RESUMO Pneumonias Agudas: • S. pneumoniae (pneumococos) é a causa mais comum de pneumonia adquirida em comunidade; a inflamação apre-senta distribuição lobar. • Morfologicamente, as pneumonias lobares evoluem através de quatro estágios: congestão, hepatização vermelha, hepa-tização cinza e resolução. • Outras causas comuns de pneumonias agudas em comuni-dade incluem H. influenzae e M. catarrhalis (ambas associadas a exarcebações agudas da DPOC), S. aureus (usualmente secundário a infecções respiratórias virais, K. pneumoniae (observada em pacientes alcoólatras crônicos), P. aeruginosa (visto em pacientes com fibrose cística, vítimas de quei- maduras e pacientes com neutropenia) e L. pneumophila, observada principalmente em receptores de transplantes de órgãos. • Ao contrário das pneumonias agudas, as pneumonias atípicas são caracterizadas por angústia respiratória não condizente com os sinais clínicos e radiográficos, e por inflamação confinada ao septo alveolar; geralmente, os alvéolos estão limpos. • As causas mais comuns de pneumonia atípica incluem in-fecções por M. pneumoniae, vírus da influenza tipos A e B, metapneumovírus humano, C. pneumoniae e C. burnetti (agente da febre Q). Tuberculose: • Tuberculose é uma doença granulomatosa crônica causada pelo M. tuberculosis, geralmente afetando os pulmões, mas visivelmente algum órgão extrapulmonar pode estar envol-vido na infecção isolada. • Exposição inicial a micobactérias resulta no desenvolvimento de resposta imune que confere resistência, mas também leva à hipersensibilidade (como determinada por um resultado positivo no teste da tuberculina). • Células T CD4+ do subconjunto THI têm papel crucial na imunidade mediada por células contra micobactéria; mediadores de inflamação e contenção bacteriana incluem IFN-g, TNF e óxido nítrico. • Os achados histopatológicos da reação do hospedeiro à tuberculose em pessoas imunocompetentes são a presença de granulomas, geralmente com necrose caseosa central. • A tuberculose secundária (reativação) surge em pessoas previamente expostas quando as defesas imunes do hos-pedeiro estão comprometidas, e usualmente se manifestam como lesões cavitárias nos ápices dos pulmões. • A tuberculose primária progressiva e a tuberculose secun-dária podem resultar em infecção sistêmica, causando risco de vida com formas da doença como tuberculose miliar e meningite tuberculosa. • O status de HIV-soropositivo é um fator de risco bem conhecido para desenvolvimento ou recrudescência de tuberculose ativa.
Compartilhar