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BIOSSÍNTESE E DEGRADAÇÃO DE NUCLEOTÍDEOS Universidade do Sul de Santa Catarina Campus da Grande Florianópolis Unidade Pedra Branca, Palhoça Professor Frederico Tourinho Bioquímica II - 2ª Fase do curso de Medicina Dalva Gomes Fernanda Donin Gabriel Vizzoto Maria Eduarda Valgas Sofia Rech Rafael Jadoski ESTRUTURA DOS NUCLEOTÍDEOS São compostos formados por uma base nitrogenada, um monossacarídeo e grupos fosfato (um, dois ou três). Existem duas famílias de bases nitrogenadas: purinas e pirimidinas. Nucleosídeo: pentose + açúcar Nucleotídeo: um ou mais grupos fosfato a um nucleosídeo Os papéis metabólicos variam desde funcionarem como segundos mensageiros de vias metabólicas até servirem de precursores para RNA e DNA. A farmacêutica tem utilizado isso para o desenvolvimento de medicamentos que funcionam como bloqueadores das vias de nucleotídeos para tratamento de doenças tumorais e virais. FUNÇÕES METABÓLICAS Metabolismo energético Monômeros em ácidos nucleicos Mediação fisiológica Composição de coenzimas Precursores I) Metabolismo energético: o ATP (adenosina trifosfato) é a principal forma de energia química disponível para as células. O ATP é importante por também funcionar como doador de fosfato para a geração de outros nucleosídeos. II) Monômeros em ácidos nucleicos: RNA e DNA nada mais são do que sequências de nucleotídeos. Assim, os nucleosídeos 5-trifosfatos são substratos para a atuação das RNA e DNA polimerases. III) Mediação fisiológica: Os nucleosídeos e nucleotídeos fazem a mediação de processos chave para o metabolismo: a adenosina é importante no controle do fluxo sanguíneo coronário, o ADP é essencial na coagulação sanguínea; o GTP é necessário para o capping do mRNA e na formação dos microtúbulos IV) Composição de coenzimas: NAD+, NADP+ e FAD têm como parte de sua estrutura resíduos de 5’-AMP. V) Precursores: o GTP atua como precursor na formação do óxido nítrico; UDP-glicose é um intermediário importante na glioneogênese Metabolismo de purinas 3. Excreção Síntese de novo 2. Vias de salvação Síntese de 5-fosforribosil-1-pirofosfato Síntese da inosina-5-monofosfato Formação de AMP e GMP a partir da IMP O anel de purina é principalmente formado no fígado, por uma série de reações em que os carbonos e nitrogênios são adicionados a uma ribose-5-fosfato (formada na via das pentoses). SÍNTESE DE NOVO 1) SÍNTESE DE 5-FOSFORRIBOSIL-1-PIROFOSFATO (PRPP) O PRPP é uma pentose que participa nas vias de síntese de salvação das purinas e pirimidinas. A molécula de açúcar do PRPP é uma ribose. Assim, a síntese de novo das purinas produz ribonucleotídeos; quando há necessidade de desoxirribonucleotídeos, a molécula da ribose é reduzida. A enzima responsável é a PRPP-sintetase e ela é ativada por fosfato inorgânico (Pi) e inibida pelos nucleotídeos púricos (inibição pelo produto final). 2) SÍNTESE DA INOSINA-5-MONOFOSFATO (IMP) Requer aminoácidos como doadores de carbono e nitrogênio, CO2 como fonte de carbono. Ponto de importância bioquímica: regulação que acontece na formação de 5’-Fosforribosilamina. Inibidores: AMP, GMP Ativador: PRPP Glutamina não exerce poder regulatório por sua quantidade não variar consideravelmente. Acontece no citosol AA que cedem carbono ao tetrahidrofolato: Serina, glicina, triptófano e histidina Dois pontos de importância clínica: Medicamentos análogos Importância do ácido fólico nessa via reacional MEDICAÇÕES ANÁLOGAS Metotrexato MEDICAMENTOS ANÁLOGOS AO ÁCIDO FÓLICO: Limitam a quantidade de tetra-hidrofolato disponível para o uso na síntese de novo, comprometendo a replicação do DNA e RNA. O metotrexato é um exemplo e ele pode ser utilizado no combate de tumores de crescimento rápido e também em pacientes com artrite reumatoide. Ele é um antagonista do ácido fólico e também inibe a produção de citocinas que produzem os sintomas da doença. Porém, sua atuação é sistêmica, então pacientes sob esse tratamento podem experimentar efeitos como a anemia, descamação de pele, distúrbios do trato gastrointestinal, imunodeficiência e perda de cabelo. Entre a formação da 5-fosforribosilamina e a IMP não se conhecem etapas reguladas. MEDICAÇÕES ANÁLOGAS Sulfonamida FUNCIONAMENTO DAS SULFONAMIDAS: As sulfonamidas inibem competitivamente a síntese bacteriana do ácido fólico (que é quem fornece o tetra-hidrofolato) – mas não interferem na síntese de purinas em humanos, porque nós não obtemos o ácido fólico a partir da dieta. Assim, o medicamento atua diminuindo a velocidade da síntese de purinas nas bactérias. A IMPORTÂNCIA DO ÁCIDO FÓLICO ÁCIDO FÓLICO NA GRAVIDEZ: O ácido fólico fornece o tetra-hidrofolato necessário para a replicação de DNA e RNA, vem daí sua importância durante o período pré-gestacional e durante a gestação. A falta desse composto na dieta da mãe pode levar a problemas como espinha bífida e anencefalia. 3) FORMAÇÃO DE AMP E GMP A PARTIR DA IMP Dois pontos de importância bioquímica: Regulação da IMP-desidrogenase Regulação da Adenilatosuccinato sintetase ÁCIDO MICOFENÓLICO Imunossupressor utilizado em transplantes. É um inibidor reversível da IMP-desidrogenase. O ácido micofenólico atua suprimindo componentes importantes para a síntese de linfócitos T e B GOTA Falta de regulação nessas vias e consequente produção aumentada desses nucleotídeos leva à ocorrência de um quadro clínico conhecido como GOTA GOTA FISIOPATOLOGIA DA GOTA Atividade aumentada da PRPP sintetase Deficiência de glicose-6-fosfase a deficiência na enzima de glicose-6-fosfatase resulta em uma maior produção de hexose monofosfato, que gera mais ribose-5-fosfato, que aumenta a produção de PRPP. (Ela ocorre em doenças de armazenamento de glicogênio, Doença de Von Gierke) Casos em que a gota é resultante de deficiencias metabólicas de nucleotídeos, o uso de medicamentos que fazem com que haja aumento do consumo de PRPP podem ser benéficos, como é o caso do Allopurinol. VIA DE SALVAÇÃO Importante para a economia de energia. Hipoxantina + PRPP → IMP + PPi Guanina + PRPP → GMP + PPi Adenina + PRPP → AMP + PPi HGPRTase APRTase Existem 2 vias: uma utiliza Hipoxantina e guanina e é realizada pela enzima hipoxantina-guanina-fosforribotransferase; Outra utiliza Adenina e é realizada pela adeninafosforribotransferase SÍNDROME DE LESCH-NYHAN Deficiência de HGPRTase, levando a: Não reutilização de hipoxantinas e guaninas Ativação excessiva da síntese de novo de purinas Ambas as situações contribuem para que haja excesso de ácido úrico nos portadores dessa doença. Na doença de Lesch-Nyhan, uma síndrome recessiva ligada ao cromossomo X, há deficiência quase total de HGPRTase, o que significa que não há reutilização de hipoxantina e de guanina (apenas de adenosina) levando a uma produção excessiva de ácido úrico. Sem essa via de salvação, níveis de PRPP ficam aumentados, levando ao aumento da síntese de novo das purinas. A síntese de novo aumenta porque o PRPP é um potente ativador da via, como já foi falado anteriormente. SÍNDROME DE LESCH-NYHAN Essa síndrome também conta com disfunção motora, déficit cognitivo, disturbios comportamentais, mas aqui vamos dar ênfase à hiperucemia e formação de urolitíase INTERCONVERSÃO DE NUCLEOTÍDEOS As células podem interconverter nucleotídeos de adenina e guanina, a fim de suprir as necessidades celulares adequadas. Não existe uma via direta de conversão de GMP a AMP, por exemplo, ambos devem ser levados a IMP para depois serem transformados na outra molécula. SÍNTESE DE DESOXIRRIBONUCLEOTÍDEOS Ribonucleotídeos são reduzidos pela enzima ribonucleotídeo-redutase. O poder redutor vem da tiorredoxina. A tiorredoxina doa seus 2 hidrogênios para a enzima, formando uma ligação dissulfeto. Ela precisa ser regenerada. A regulação da ribonucleotídeo-redutaseé complexa e acontece em 2 mecanismos: Ligação do inibidor nos sítios alostéricos (dATP faz isso) Mudança conformacional na enzima (dTTP faz isso) DEGRADAÇÃO DE PURINAS Divide-se em dois momentos: Degradação no intestino delgado Formação de ácido úrico Há hidrólise de ácidos nucleicos, sendo eles sequencialmente degradados, liberando bases livres, até chegarem a ácido úrico. Aqui pode-se fazer um paralelo com a degradação de lipídeos, em que eles vão gradualmente liberando moléculas de acetil-CoA. DEGRADAÇÃO DE NUCLEOTÍDEOS Ribonucleases e desoxirribonucleases hidrolisam DNAs e RNAs, formando oligonucleotídeos Oligonucleotídeos são hidrolisados novamente, formando mononucleotídeos. Nucleotidases removem os grupos fosfato dos mononucleotídeos, liberando nucleosídeos. Nucleosídeos são degradados a bases livres A degradação ocorre no intestino. As ribonucleases e desoxirribonucleases são produzidas pelo pâncreas. Depois de restarem apenas bases livres, as bases pirimídicas voltam a circulação para serem reutilizadas, enquanto a maior parte das bases púricas é excretada em forma de ácido úrico. FORMAÇÃO DO ÁCIDO ÚRICO Produção de IMP Formação de inosina e guanosina Inosina → hipoxantina Guanosina → guanina Guanina é desaminada, formando xantina Hipoxantina é oxidada, formando xantina. Xantina é oxidada, formando ácido úrico Quando moléculas como o DNA e o RNA voltarem a forma apenas de suas bases, estas podem ser convertidas em ácido úrico. DEFICIÊNCIA DE ADENOSINA-DESAMINASE Imunodeficiência grave Disfunções de células T, B e NK Herança genética Pacientes raramente sobrevivem mais que dois anos de progressão da doença Linfócitos é que possuem mais ADA, no organismo. É, tecnicamente chamada de imunodeficiência combinada grave. O tratamento requer transplante de medula óssea ou terapia de reposição da enzima DEFICIÊNCIA DE PURINA-NUCLEOSÍDEO FOSFORILASE (PNP) Semelhante à deficiência de ADA, mas mais branda Afeta apenas os linfócitos T Caracteriza-se por infecções de repetição e atraso no desenvolvimento neurológico Cabe aqui falar que a gota também pode ocorrer por deficiências na secreção de ácido úrico Síntese do TMP Síntese do UTP Formação de nucleotídeo pirimídico Síntese de carbamoil-fosfato Síntese de ácido-orótico METABOLISMO DE PIRIMIDINAS Diferentemente da síntese de purinas, em que utiliza-se uma ribose-5-fosfato já existente, na formação de pirimidinas o anel é sintetizado previamente, sendo DEPOIS ligado à ribose-5-fosfato. As fontes para esse anel são a glutamina, CO2 e ácido aspártico. Síntese de carbamoil fosfato: é o passo regulado da via. A carbamoil-fosfato sintetase II é inibida por UTP (produto final da via) e ativada por PRPP. Deficiência na ornitina-transcarbamoilase, do ciclo da ureia, promove a síntese de pirimidinas exagerada. Depois disso, há formação de carbamoil-aspartato e di-hidro-orotato, que é quando o anel é fechado. O que é interessante é que a enzima que produz o dihidroorotato está na membrana interna da mitocôndria, todas as outras vão estar no citosol. Depois de ser transformada em orotato, o anel pirimídico se torna um nucleotídeo (é adicionada uma ribose-5-fosfato - que é doada pelo PRPP), formando OMP O OMP é descarboxilado, formando UMP. UMP é fosforilado a UDP e UTP. ACIDÚRIA ORÓTICA Causas: baixa atividade SÍNTESE DE TMP Também utiliza o tetra-hidrofolato como fonte do grupo metila (assim como na síntese de purinas). Medicamentos análogos, inibidores da timidilato-sintase, são utilizados da mesma maneira, como anticancerígeno e também como bactericida VIA DE SALVAÇÃO DE PIRIMIDINAS Nucleosídeos quinases que utilizam ATP podem recuperar bases pirimídicas. É o mecanismo utilizado no tratamento da acidúria orótica hereditária. INTERCONVERSÃO DE PIRIMIDINAS Da mesma forma que acontece com as purinas, as pirimidinas podem ser interconvertidas. Também da mesma forma, não podem se converter diretamente no outro nucleotídeo, sendo necessário serem convertidos a dTTP primeiro DEGRADAÇÃO DE NUCLEOTÍDEOS PIRIMÍDICOS O anel purínico não é clivado nas células humanas, enquanto o anel pirimídico é aberto e degradado a produtos altamente solúveis. São excretados aminoácidos como a beta-alanina e o beta-aminoisobutirato, bem como NH4 e CO2. Entretanto, não é possível estimar o turnorver dessas substâncias, porque também são produzidas por outras reações. O que se pode fazer é medir o turnover do ácido beta-aminoisobutírico, que é excretado na urina APENAS na degradação de pirimidinas. Assim, percebem-se níveis aumentados desse composto em pacientes de quimioterapia ou radioterapia, uma vez que muitas células são mortas (levando a uma grande quantidade de DNA degradado). BASES BIOQUÍMICAS PARA A RESISTÊNCIA A DROGAS É possível estudar o fenômeno de resistência às drogas por meio de medicações estudadas neste trabalho: Resistência ao metotrexato: Defeito ou perda no transportador do folato Mutações genéticas que levam a alterações enzimáticas A maioria das células resistentes a múltiplas medicações apresentam as proteínas MDR1 ou MRP, que funcionam como verdadeiras “bombas” dependentes de ATP, que constantemente fazem o efluxo da droga dessas células. Defeito ou perda do transportador do folato → diminui a captação do metotrexato Mutações genéticas (...) → as enzimas ficam menos sensíveis ao medicamento Bomba de ATP: diminui a quantidade de medicação na célula, nunca chegando a quantidade citotóxica REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DEVLIN, T.M. Manual de Bioquímica com Correlações Clínicas, 7ª ed., Ed. Blucher, 2011. HARVEY, R.A.; FERRIER, D.R. Bioquímica Ilustrada, 5ª ed., Artmed, 2012. http://www2.ee.ufpe.br/codec/gslc/met_nucleotideos.pdf
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