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Aula IV Parasitologia Aplicada PROF. MARCIO LIMA E-MAIL : márcio-l ima@anhanguera.com PARASITOLOGIA APLICADA Complexo Teníase x Cisticercose TENÍASE-CISTICERCOSE O complexo teníase-cisticercose é formado por duas doenças diferentes causadas pelas formas adulta e larvar dos cestódeos do gênero Taenia, que acometem o homem constituindo uma importante zoonose e, que precisam do suíno e do bovino para completarem o seu ciclo de vida, gerando um considerável impacto econômico à pecuária brasileira. TENÍASE No homem, a teníase é conhecida como solitária. Esta patologia se caracteriza pela presença da forma adulta da Taenia saginata ou da Taenia solium (ou das duas tênias) no intestino delgado. A infecção ocorre através da ingestão de carne bovina ou suína, mal cozida e contaminada com larvas Cysticercus (C. bovis ou C. cellulosae), conhecidas como “canjiquinha” ou “pipoca” por causa dos seus aspectos morfológicos. CISTICERCOSE A cisticercose é uma zoonose, ou seja, a doença é transmitida do homem para o animal (ou deste para o homem). Esta zoonose se caracteriza pela presença das larvas Cysticercus nos tecidos musculares dos bovinos (cisticercose bovina), dos suínos (cisticercose suína) e do homem (cisticercose humana). O homem pode apresentar larvas Cysticercus também nas glândulas mamárias, nos olhos e nos órgãos do sistema nervoso central (constituindo a forma mais grave da doença, a neurocisticercose). ATUAÇÃO DO MÉDICO VETERINÁRIO O veterinário apresenta relevante importância no controle e na prevenção do complexo teníase-cisticercose, não somente quando atua na instituição da sanidade animal e na inspeção de carnes, mas também, e principalmente, quando utiliza o seu conhecimento na educação sanitária das pessoas. ASPECTOS GERAIS Essas parasitoses são conhecidas há muito tempo, mas os primeiros estudiosos acreditavam que se tratava de patologias diferentes, o que resultou em denominações diferentes para a forma larvária e para a forma adulta. MORFOLOGIA MORFOLOGIA Taenia saginata e Taenia solium A Taenia saginata ou tênia do boi, e a Taenia solium, ou tênia do porco, são parasitos que na fase adulta têm o homem como único hospedeiro normal. Ambas são conhecidas popularmente como “solitárias” porque os indivíduos com teníase em geral só apresentam um exemplar do helminto em seu intestino. São vermes grandes, medindo a Taenia saginata de 4 a 12 metros (*30 metros) de comprimento e tendo por hospedeiro intermediário Bovino. Taenia saginata e Taenia solium O estróbilo inicia-se com um pequeno escólex provido de 4 ventosas, seguido de uma região de crescimento (o colo) e das regiões de proglotes jovens, de proglotes maduras e de proglotes grávidas. As proglotes (ou ‘anéis da tênia’) vão se destacando uma a uma, na Taenia saginata, ou em pequenas cadeias, na Taenia solium. Elas são eliminadas com as fezes do paciente. CICLO DE VIDA DA TAENIA Os seres humanos são os únicos hospedeiros definitivos da T. saginata e da T. solium. Os bovinos são os hospedeiros intermediários da Taenia saginata, e os suínos são os hospedeiros intermediários da Taenia solium. CICLO DE VIDA DA TAENIA CICLO DE VIDA DA TAENIA CICLO DE VIDA DA TAENIA CICLO DE VIDA DA TAENIA O ciclo de vida da teníase começa quando um ser humano infectado evacua em um local sem saneamento básico e libera para o meio ambiente ovos ou proglotes grávidas (segmento do corpo da tênia que contém órgãos reprodutores) misturados às fezes. Uma vez no solo, esse ovos de tênia podem sobreviver durante dias a meses, dependendo das condições climáticas. Bovinos, no caso da T. saginata, e Suínos, no caso da T. solium, tornam-se infectados pela ingestão de vegetação contaminada com ovos ou proglotes grávidas. CICLO DE VIDA DA TAENIA No intestino desses animais, o embrião da tênia liberta-se do ovo, invade a parede intestinal e consegue atingir a circulação sanguínea. Uma vez no sangue, o embrião viaja até vários órgãos, como cérebro, olhos, coração e músculos, onde se desenvolvem para a forma de cisticerco. O cisticerco contém cerca de 0,5 a 1 cm e pode sobreviver na musculatura de bovinos e suínos por muitos anos. CICLO DE VIDA DA TAENIA CICLO DE VIDA DA TAENIA Os seres humanos se infectam através da ingestão de carne crua ou mal cozida que contenham cisticercos. Após ser ingerido, ao chegar ao intestino humano, o cisticerco usa suas ventosas e ganchos para ficar aderido à mucosa. Uma vez estabelecido no intestino, o parasito consegue completar seu ciclo de vida, tornando-se um verme adulto dentro de 2 meses. A maioria das pessoas apresenta apenas uma única tênia, chamada de SOLITÁRIA, mas se houver ingestão de muitos cisticercos, é possível que o paciente desenvolva mais de um verme adulto ao mesmo tempo. CICLO DE VIDA DA TAENIA A tênia é um verme que possui órgãos sexuais masculinos e femininos em suas proglotes, podendo ficar grávida sem a necessidade de um parceiro. A tênia possui cerca de 1000 proglotes, que, ao ficarem grávidas, destacam-se do corpo do verme e são liberadas nas fezes. Cada uma dessas proglotes pode produzir entre 50.000 e 100.000 ovos. CICLO DE VIDA DA TAENIA CICLO DE VIDA DA TAENIA CICLO DE VIDA DA CISTICERCOSE CICLO DE VIDA DA CISTICERCOSE A cisticercose humana inicia-se quando o indivíduo contaminado libera os ovos de Taenia solium nas fezes e, ele mesmo ou outros seres humanos, os ingerem ACIDENTALMENTE, como nos casos de ÁGUAS CONTAMINADAS ou manuseio de ALIMENTOS com a mãos não devidamente higienizadas após uma evacuação. Pessoas que moram na mesma casa de uma pessoa contaminada com Taenia solium são as que têm o maior risco de desenvolverem cisticercose. CICLO DE VIDA DA CISTICERCOSE Quando um indivíduo ingere acidentalmente os ovos da T. solium, o processo se dá de forma semelhante ao que ocorre nos porcos. Os ovos liberam o embrião do parasito dentro dos intestinos, o mesmo cai na corrente sanguínea e espalha-se pelo corpo do paciente. Se o ovo conseguir alcançar o cérebro, um cisticerco irá se desenvolver neste órgão, levando à neurocisticercose, a forma mais grave da doença. A cisticercose só ocorre com a ingestão de ovos da Taenia solium. Os ovos da Taenia saginata NÃO CONSEGUEM SE TRANSFORMAR EM CISTICERCO NOS HUMANOS, APENAS NOS BOVINOS. CICLO CISTICERCOSE RELEMBRANDO... A teníase ocorre por ingestão de carne mal passada de animais com cisticercose, seja ela por cisticerco de Taenia saginata (carne de vaca) ou cisticerco de Taenia solium (carne de porco). A cisticercose humana não tem nada a ver com ingestão de carne mal passada. Ela só ocorre se houver ingestão acidental de ovos de T. solium liberados nas fezes humanas. SINTOMAS DA TENÍASE A maioria dos pacientes com teníase não apresenta sintomas relevantes. Quando eles surgem, são mais comuns nos casos de Taenia saginata. Dor abdominal, náuseas, diarreia, perda de peso ou prisão de ventre são os sintomas de teníase mais frequentes. As crianças costumam ser mais sintomáticas que os adultos. Alguns pacientes parasitados podem passar anos sem saber que estão com solitária, até que, um dia, notam a presença das proglotes nas suas fezes. Essas proglotes têm movimento próprio e podem também sair espontaneamente pelo ânus, sem ser durante a evacuação, indo se alojar na roupa interior. Uma das complicações da teníase é a apendicite, que pode surgir caso uma dessas proglotes que se desprendem da tênia acabe ficando presa dentro do apêndice. Da mesma forma, o ducto biliar também pode ficar obstruído. SINTOMAS DA CISTICERCOSE Os sintomas da cisticercose variam de acordo com os locais onde o cisticercose implanta. A forma mais grave é a neurocisticercose, que surge quando há implantação de cisticerco no cérebro. Na neurocisticercose, os sintomas mais comuns são a dor de cabeça e a epilepsia. Porém, não incomum haver casos totalmente assintomáticos de neurocisticercose. O surgimento dos sintomas pode demorar anos. Na maioria dos casos, os sintomas só surgem 3 a 5 anos após a contaminação. Nos casos de contaminação maciça, com múltiplas implantações cerebrais do cisticerco, o paciente pode desenvolver um quadro de edema cerebral, crises convulsivas, náuseas, dor de cabeça, alterações da personalidade e até coma. SINTOMAS DA CISTICERCOSE A cisticercose também pode atingir os olhos. As manifestações clínicas mais comuns da infecção ocular incluem dor, visão turva ou cegueira. Os cisticercos também podem se depositar nos músculos, provocando um quadro de miosite (inflamação do músculo) ou na pele, levando à formação de nódulos subcutâneos. ENFERMIDADE NOS ANIMAIS A prevalência da cisticercose em bovinos é maior que em suínos, provavelmente devido ao bovino ser mais exposto à contaminação, por serem na grande maioria das vezes criados soltos em pasto, com acesso a águas superficiais de rios e lagos, sendo maiores as chances desse animal entrar em contato com ovos de tênia. Já a maioria dos suínos é criada em sistema intensivo onde tem alimento e água de melhor qualidade, pois são tratados com ração e com acesso à água através de bebedouros (Paiva, 2006). ENFERMIDADE NOS ANIMAIS A enfermidade em animais geralmente não se manifesta na forma clínica. A infecção experimental em bovinos com altas doses de ovos de Taenia saginata pode produzir febre, debilidade, anorexia e rigidez muscular. A morte pode ocorrer por miocardite degenerativa. No suíno infectado, pode-se observar, em casos isolados, hipersensibilidade no focinho, paralisia da língua e convulsões epileptiformes, porém a brevidade da vida dos suínos impede a observação de manifestações neurológicas (Acha & Szifres, 1986). IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO VETERINÁRIA NO CONTROLE DA TENÍASE-CISTICERCOSE HUMANA O controle da teníase/cisticercose depende das condições econômicas, sociais e culturais de cada local, pois a doença ocorre principalmente onde condições sanitárias são precárias, favorecendo, tanto a transmissão, como a manutenção do complexo, pois permitem que a carne parasitada com o cisticerco esteja disponível ao consumo (Sarti, 1997). O diagnóstico da cisticercose em abatedouros, somado à informação da origem do animal, possibilita a definição de áreas de ocorrência da doença, bem como a sua qualificação para que possam ser executadas medidas de controle, servindo para a implementação das ações de controle da sanidade animal (Ungar & Germano, 1992). DIAGNÓSTICO TENÍASE: Exame parasitológico de fezes. Observação de proglotes ou verme adulto nas roupas íntimas ou fezes. Observação de proglotes na tamização. Exames de imagens Colonoscopia CISTICERCOSE: Exames de imagens e/ou exames oftálmicos. DIAGNÓSTICO TRATAMENTO DA TENÍASE As opções de tratamento para a teníase incluem: Mebendazol: 200 mg, 2 vezes ao dia, por 3 dias, por via oral. Praziquantel, dose única, 5 a 10 mg/kg de peso corporal, por via oral. Albendazol, 400 mg/dia, durante 3 dias, por via oral Niclosamida, 2 gramas adulto e 1 grama para crianças, em dose única por via oral. Nitazoxanida, 500 mg 2 vezes ao dia, por 3 dias, por via oral Após o tratamento, pedaços da tênia podem permanecer sendo eliminados por vários dias. Após 3 meses, sugere-se novo exame parasitológico de fezes para confirmar a ausência de ovos nas fezes. TRATAMENTO DA CISTICERCOSE Nem todos os casos de cisticercose precisam de tratamento, principalmente se o paciente for assintomático. Em geral, o tratamento é indicado nos casos sintomáticos de neurocisticercose ou cisticercose ocular. As opções de tratamento da neurocisticercose são: Albendazol 15 mg/kg por dia por 15 a 30 dias, dependendo da gravidade da doença. Praziquantel 50 mg/kg por dia por 15 a 21 dias, dependendo da gravidade da doença. Além dos antiparasitários, indica-se também o uso de corticoides, como a dexametasona ou a prednisona, para amenizar o edema cerebral que ocorre pelo processo inflamatório gerado pela morte do cisticerco Nos casos de cisticercose muscular ou na pele, o tratamento com medicamentos tem pouca eficácia. Em geral, sugere-se a retirada cirúrgica do cisticerco nos casos sintomáticos. REFERÊNCIAS Paiva D.P. 2006. Conhecendo a prevalência da cisticercose suína e bovina no Brasil. Devemos rever nossos hábitos alimentares. Capturado em 01 de Setembro de 2009. Acha P. & Szifres B. 1986. Zoonosis y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los animales. 2ª ed. Washington: Organización Panamericana de la Salud. 989p. Sarti E. 1997. La teniosis y cisticercosis por Taenia Solium. Sal Púb Mex. 39: 225-31. Ungar M.L. & Germano P.M.L. 1991. Epidemiologia e controle da cisticercose bovina. Comun. Cient. Fac. Med. Vet. Zootec. 15(1):15-20.
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