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2 Direito de família introdução e evolução

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Família e evolução
A definição do que seja família não admite um único conceito, pois se modifica no tempo e no espaço.
O conceito de família antes de ser jurídico é sociológico e dentro da ciência jurídica não é o mesmo.
A constituição de uma família é uma consequência natural da vida. A forma de constituição é que vai variar no tempo, no espaço, em razão do clima, da cultura, da religião e até mesmo educação. Clovis Beviláqua em 1942, já falava em várias formas de família: matriarcado, patriarcado, monogamia, bigamia, dentre outras.
Durante muito tempo o casamento foi a única forma de família reconhecida pelo Estado. O casamento é um sacramento, é indissolúvel, foi estabelecido um sistema de impedimentos (dirimentes absolutos e dirimentes relativos), o casamento é solene e público, há obrigação de se manter um registro.
Casamento civil surgiu na França em 1767, com a Revolução Francesa.
Brasil, antes do Código Civil de 1916: manteve a legislação portuguesa, as ordenações. O casamento civil foi instituído por meio do Decreto n. 181/1890 de autoria de Rui Barbosa. O referido Decreto permitiu a separação de corpos com justa causa, mantendo o vínculo matrimonial indissolúvel e a técnica canônica dos impedimentos.
No Brasil, o casamento civil teve origem com a República. A partir de então, passou a ser a única forma oficial de constituição da família.
Código Civil de 1916: manteve a indissolubilidade, o processo de habilitação e os impedimentos que são de origem canônica. 
Lei n. 4.121/1967 – estatuto da mulher casada - emancipou a mulher casada. 
Lei n. 6.515/1977 – lei do divórcio – regulou as hipóteses de dissolução da sociedade conjugal e do vínculo matrimonial.
Constituição Federal de 1988 - revolucionou o conceito de família. Elevou-se ao prestígio de família a união estável (art. 1.723 do Código Civil) e a família monoparental e mais recentemente a união homoafetiva. 
Estabeleceu-se a igualdade de filiação.
Código Civil de 2002: Incorporou as alterações constitucionais em seu corpo, além de ter tratado da inseminação artificial e da família afetiva.
Família # casamento
Existe uma tendência legislativa e costumeira em confundir o conceito de família com o de casamento. Atualmente, pode-se definir o casamento como a união entre pessoas com o intuito de constituir família. É um ato formal e um dos mais solenes do direito (arts. 1.514, 1.534 e1.535 todos do Código Civil).
Código Civil português, a redação foi alterada para permitir o casamento homoafetivo, 1.577, lei do ano de 2010.
Família: evolução das características e finalidades:
1. Passado:
- assistencial: as pessoas no caso de invalidez e doença só podiam contar com seus familiares. O Estado não possuía essa finalidade, a previdência social surgiu no Brasil no século XX.
- social: a pessoa casada era mais considerada na sociedade em que vivia. A mulher que não se casava passava a ter o título de “solteirona” e voltava-se para a Igreja.
- procriação: sendo considerados legítimos os filhos oriundos do casamento. Recebiam nome, educação (alimentos) e direito sucessório.
- manutenção e aquisição de propriedade: membros da mesma família casavam-se entre si, com intuito de manter o patrimônio. Isso ocorria nas famílias mais abastadas. O casamento entre familiares também tinha por objetivo manter a limpeza do sangue (FREIRE, 2013, 425).
Ainda hoje, pode-se vislumbrar o casamento como uma forma de adquirir patrimônio, conforme norma do art. 1.667, do Código Civil. 
- patriarcal: a família tinha uma característica hierarquizada, sendo o homem o chefe da sociedade conjugal (patriarcado). 
- indissolubilidade.
Em Roma, o divórcio sempre foi permitido. Em Israel, o divórcio aparece com o nome de repúdio. No Brasil, a Lei n. 6.515/1977 autoriza o divórcio apenas uma vez e a Lei n. 7.841/1989 passou a autorizar o divórcio de forma ilimitada.
Fatores que influenciaram as mudanças de funções da família:
Segunda guerra mundial, em razão da morte de milhares de homens; movimento feminista; movimento dos homossexuais, a transição de uma sociedade agrária para uma sociedade urbana e industrializada, bem como a globalização.
	
Família atual ou contemporânea
Vislumbra-se uma família despatrimonializada, mais afetiva, sem caráter de permanência e caracterizada em formas variadas. 
Segundo doutrina portuguesa, No direito de família, a dimensão pessoal prevalece sobre a patrimonial (...) A família não é vista essencialmente como um meio de assegurar que certas pessoas sustentem outras. (PINHEIRO, 2011, p. 95-96)
Formas jurídicas de constituição da família.
	
O art. 226, da Constituição Federal de 1988, prevê como formas de família a união estável, o casamento e a família monoparental.
LÔBO, Paulo. Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2008, entende que a interpretação do texto constitucional deve ser extensiva, a fim de reconhecer outras formas de família, além das enumeradas na Constituição Federal.
Casamento: mencionado na sua concepção tradicional.
União estável: união duradoura entre pessoas com intuito de constituir família, art. 1.723, do Código Civil.
Monoparental: é a constituída por qualquer um dos pais e seus descendentes.
Embora não previstas na CF, existem outras formas de família que fazem parte do cotidiano: Família constituída por avós, filhos e netos, três gerações na mesma casa; casal e filhos do relacionamento anterior, pluriparentalidade, família poliafetiva, dentre outras.
Maria Berenice Dias, em sua obra Direito das famíliasm cita inúmeras hipóteses de arranjos familiares. Exs: Anaparental (duas irmãs vivendo por longos anos no mesmo teto), solteiro que mora sozinho, família paralela, dentre outras.
Súmula 364, do Superior Tribunal de Justiça - STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.
União de homossexuais ou homoafetiva: foi reconhecida como família pelo Supremo Tribunal Federal - STF.
Não obstante, a evolução do conceito de família em nível nacional e internacional, o islamismo, doutrina religiosa, que possui mais de um bilhão de muçulmanos espalhados pelo mundo segue a orientação consagrada no alcorão.
Vossas mulheres são vossas semeaduras. Desfrutai, pois, de vossa semeadura como vos apraz; porém, antes rogais em vosso favor; temei a Deus.
Direito Público ou Direito Privado
É da essência do Estado Social as interferências recíprocas entre público e privado.
Exemplo.: função social da propriedade, função social do contrato e art. 1.228, do CC. 
O que antes era reserva exclusiva da autonomia dos indivíduos transmudou-se em objeto de intervenção legislativa, judicial e administrativa do Estado. 
O direito de família é genuinamente privado, os sujeitos de suas relações são entes privados, embora exista predominância de normas cogentes ou públicas. Não há qualquer relação de direito público entre marido e mulher, entre companheiros e entre pais e filhos.
Exemplo de norma cogente: art. 1.521 do Código Civil:
Art. 1.521. Não podem casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
Situações típicas do direito de família: pessoa, família e patrimônio.
Não há nada mais privado do que a vida familiar, ou seja, a intimidade de cada um de seus membros. 	
Art. 1.513 do Código Civil:
“É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família”.
Da inter-relação com o direito das sucessões
O direito das sucessões trata datransmissão dos bens deixados pela pessoa física a seus herdeiros, em razão de sua morte. Não trata das variadas hipóteses de sucessão de titularidade de bens inter vivos, exemplos: doação e compra e venda.
No Brasil, a herança dá-se por meio da sucessão legítima ou por meio da sucessão testamentária (exercício da autonomia privada). 
A ordem da sucessão legítima deriva das relações de parentesco, conforme arts. 1.591, 1.592 e 1.829 do Código Civil.
Relação com outros ramos do Direito Civil
Os demais ramos do Direito Civil interferem direta ou indiretamente no Direito de Família. 	
Os protagonistas das relações de família contraem entre si obrigações contratuais e extracontratuais, adquirem, administram e transmitem bens.
O direito de família e os demais ramos do direito civil são autônomos e inter-relacionados.
Art. 1.647, do CC.

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