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Prefeitura Municipal de Cabo Frio Região dos Lagos – Estado do Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Educação Departamento Técnico Pedagógico Divisão de Supervisão Escolar Serviço de Educação Infantil REDE INFANTIL Referencial de Educação Infantil Trabalhar com Educação Infantil Para quê ? O quê? Como? Por quê? 1 Prefeito Dr. Marcos da Rocha Mendes Secretário Prof. Paulo Machado Massa Subsecretária Profª. Sueli Garcia Barreto Mendes Chefe de Gabinete Adm. Carlos Fernando Lima Silva Diretora do Departamento Técnico-Pedagógico Profª Tania Maria Gomes de Ávila Chefe da Divisão de Supervisão Escolar Profª Neide Estelita Pereira Chefe do Serviço de Educação Infantil Profa Maria Amália dos Santos Silveira 2 Elaboração 1. Cristina dos Santos Pereira 2. Eliane Caetano Pinheiro 3. Flávia Passos da Silva Peres 4. Jamel Junia Ribeiro 5. Lilian Gomes Gallo Martins 6. Luciana de Andrade Guimarães 7. Luciane dos Santos Albuquerque 8. Maria Amália dos Santos Silveira 9. Maria Elisa Certório Mendonça 10. Tania Maria Gomes de Ávila 11. Tereza Cristina Sherman de Souza Colaboração 1. Cleber de Mello Costa 2. Marcia Tardelli Vieira 3. Neide Estelita Pereira 4. Nilce Helena Dias Castro Aragutti 3 Sumário Página Apresentação 6 1. Um pouco de História........................................................ 7 1.1. Concepção de Infância ............................................... 7 1.2. As tendências pedagógicas da Educação Infantil ............ 8 1.3. A trajetória legal da Educação Infantil pós 1988 ............. 18 1.4. A Educação Infantil na rede municipal de ensino de Cabo Frio ......................................................................... 21 2. Objetivos ........................................................................ 22 2.1. Objetivos da REDE INFANTIL ....................................... 22 2.2. Objetivos da Educação Infantil .................................... 22 3. Diretrizes Gerais ............................................................. 23 3.1. Princípios .................................................................. 23 3.2. Práticas pedagógicas: cuidar, educar e brincar ............... 23 4. Planejamento ................................................................. 27 4.1. Tipos de planos ......................................................... 27 4.2. Rotina comentada ...................................................... 28 5. Organização Curricular .................................................... 36 5.1. Matriz Curricular ........................................................ 36 5.2. Conceituando conteúdos, habilidades e competências ..... 37 5.3. Movimento ............................................................... 39 5.4. Música ..................................................................... 43 5.5. Artes Visuais ............................................................. 44 5.5.1. Desenho Infantil ................................................. 45 5.6. Linguagem oral e escrita ............................................. 57 5.6.1. Consciência fonológica em crianças pequenas ......... 59 5.7. Natureza e Sociedade ................................................. 63 5.8. Matemática ............................................................... 67 6. Avaliação ....................................................................... 71 6.1. A Avaliação Mediadora ............................................... 73 6.2. Princípios da Avaliação Mediadora ................................ 74 6.3. Instrumentos de acompanhamento .............................. 74 7. O professor de Educação Infantil ....................................... 78 7.1. A formação e a identidade .......................................... 79 7.2. As competências necessárias para educar ..................... 79 8. O desenvolvimento social e a aprendizagem ....................... 81 9. A questão dos limites ...................................................... 83 10. A criança e a sexualidade ................................................. 86 10.1. As fases da sexualidade infantil ................................. 86 10.2. O conhecimento do corpo .......................................... 87 10.3. As brincadeiras amorosas ......................................... 89 10.4. O preconceito do adulto ............................................ 89 10.5. A Educação Sexual ................................................... 90 10.6. A família e o desenvolvimento sexual da criança .......... 91 10.7. A escola e a orientação da comunidade escolar ............ 92 4 11. Educação Infantil: primeiros passos para uma educação inclusiva ......................................................................... 93 12. Referências .................................................................... 96 Anexos ............................................................................... 99 Anexo 1: Quadro de matrículas na Educação Infantil por rede de ensino no município de Cabo Frio .............................. 100 Anexo 2: Número de alunos matriculados na Educação Infantil da rede municipal de Cabo Frio ................................. 101 Anexo 3: Crescimento do número de matrículas da Educação Infantil na rede municipal de ensino de Cabo Frio ........ 102 Anexo 4: Ficha de Anamnese ................................................. 103 Anexo 5: Pauta de Observação ............................................... 105 5 Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito e eu estava com pressa. Irritado, curvei-me e comecei a esquentá-lo com meu hálito. Eu o esquentava, impaciente, e o milagre começou a acontecer diante de mim, a um ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu e a borboleta saiu, se mostrando. Eu nunca hei de esquecer o que senti então: suas asas ainda não estavam abertas, e, com todo seu corpinho que tremia, ela se esforçava para desdobrá-las. Curvando-me por cima dela, eu a ajudava com meu hálito. Em vão. Era necessário uma paciente maturação, e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol; agora era tarde demais. Meu sopro obrigava a borboleta a se mostrar toda amarrotada, antes do tempo. Ela se agitou desesperada, e alguns segundos depois morreu na palma da minha mão. Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso menor que tenho na minha consciência, pois hoje entendo bem isso: é um pecado mortal forçar as grandes leis. Temos que não nos apressar, que não ficar impacientes, mas precisamos seguir, com confiança, o ritmo eterno. Nikos Kazantzaki 6 Apresentação Este trabalho foi elaborado para contribuir com o planejamento, desenvolvimento e avaliação da aprendizagem das crianças da Educação Infantil da redemunicipal de ensino de Cabo Frio. Sabemos que a função da escola é promover a apropriação de determinados conhecimentos, objetivando que a criança faça uso deles na sua vida cotidiana. Através de situações desafiadoras proporcionadas pelo trabalho pedagógico eficaz, os alunos devem participar e aprender, de forma prática e motivadora, os conhecimentos que irá utilizar nos diferentes contextos da vida. A instituição de educação infantil tem por dever se estruturar dentro da comunidade, conhecendo as famílias de suas crianças, a fim de realizar com elas um processo educacional harmônico. Por isso, é preciso que a comunidade e, principalmente, as famílias conheçam a organização da instituição e a importância do trabalho em parceria em prol do processo de desenvolvimento integral das crianças. A escola, de forma sistemática, tem a incumbência de planejar e organizar a sua prática educativa dentro desta perspectiva interacionista, promovendo, assim, a aprendizagem significativa e o desenvolvimento das capacidades e potencialidades da criança, visando à formação de cidadãos críticos, pró-ativos, responsáveis e que respeitem os princípios democráticos. Nessa perspectiva, o REDE INFANTIL se constitui num guia de orientação que deverá servir de base para discussões entre profissionais voltados para a Educação Infantil em todo o sistema municipal de ensino e, especialmente, no interior das instituições, na elaboração de seus projetos educativos. Pensamos que esta seja uma forma de garantir que o trabalho pedagógico nas creches e pré-escolas seja cada vez mais qualificado e que as crianças de nosso município possam ser cada vez mais saudáveis e felizes. Cabo Frio, 25 de agosto de 2008 Secretário Municipal de Educação 7 1. Um pouco de História 1.1. Concepção de Infância Criança não é somente o futuro, criança é presente. E deste presente, obteremos o resultado no futuro. Vygotsky Uma proposta de Educação Infantil assume significado a partir da concepção de infância que lhe dá sustentação e direciona a ação educativa. Historicamente, diferentes concepções de infância orientaram o atendimento à criança, seja no âmbito da família, seja nas instituições formalmente criadas para tal. Hoje, o conceito de infância distancia-se qualitativamente daquele que orientou o trabalho nas primeiras creches e pré-escolas. Nos séculos XVI e XVII compreendia-se a infância como um período de transição para a fase adulta. A criança era vista como um adulto em miniatura e a antecipação de vivências típicas da fase adulta somente contribuía para ultrapassar com maior rapidez esse período. Mais tarde essa visão cedeu lugar àquela em que a infância significava um momento que exigia cuidados e atenção para que a criança viesse a se tornar um adulto honrado e útil socialmente. Tratava-se de protegê-la das más influências do meio e preservar-lhe a inocência. Segundo essa visão, a criança era apenas um ser em preparação, num estado de ―vir-a-ser‖, ou seja, a criança era destituída de direitos enquanto sujeito social. Outra idéia difundida era a de uma criança universal, uma criança abstrata, idealizada. Nessa perspectiva, o trato com a infância constituía-se em buscar esse padrão, tido como o desejável. O não enquadramento da criança ou sua distância do modelo idealizado impunham práticas compensatórias que objetivavam suprir supostas carências, que acabavam por reforçar a discriminação. Porém, o resultado de pesquisas nas áreas de Psicologia, Sociologia, História e Neurociência foi, pouco a pouco, indicando novos caminhos, na medida em que o desenvolvimento infantil e o processo ensino- aprendizagem passaram a ser vistos com um novo olhar. Hoje, a perspectiva da Educação Infantil é voltada à formação integral da criança, pois a compreensão que se tem de criança é a de um ser histórico e culturalmente contextualizado, cuja diversidade, seja biológica, cultural ou cognitiva, precisa ser considerada e respeitada como específica de um sujeito com identidade própria e em processo de desenvolvimento em todas as dimensões humanas: afetiva, social, cognitiva, psicológica, motora, lúdica ou expressiva. Assim, a compreensão de que cada fase de desenvolvimento tem em si mesma uma identidade que exige uma educação própria, uma realização em si mesma e não um preparo para uma outra idade, permite que seja assumida uma concepção de infância que requer uma proposta pedagógica que considere o desenvolvimento da criança nos aspectos físico, emocional, social e cognitivo. 8 1.2. As tendências pedagógicas da Educação Infantil Embora a prática pedagógica dos professores de Educação Infantil seja muito mais complexa e abrangente do que qualquer classificação que lhe possa ser atribuída, ela está sempre fundamentada numa tendência que a referencia. Segundo Sonia Kramer (2006) as tendências predominantes hoje, no Brasil, em programas educacionais dirigidos às crianças da Educação Infantil são: a) a tendência romântica, que concebe a pré-escola como um jardim em que as crianças são as flores ou sementinhas e a professora é a jardineira. Segundo essa tendência, a educação deve favorecer o desenvolvimento natural da criança e, influenciada pelos princípios da ―escola nova‖ (valorização dos interesses e necessidades da criança, crítica ao conteudismo da escola tradicional, ênfase no caráter lúdico, prioridade ao processo de aprendizagem, entre outros), propõe um currículo que tem como centro a atividade infantil. Embora apresentando diferenças entre suas concepções, podem ser considerados representantes da tendência romântica Froebel e Maria Montessori. Froebel foi o primeiro educador a enfatizar a atividade lúdica e a apreender o significado da família nas relações humanas. Ele valorizava a família, responsabilizando-a pelo desenvolvimento da criança nos planos biológico, social, religioso e educacional. Para ele, a educação da infância se realiza através de três tipos de operações: a ação, o jogo e o trabalho. O alemão Friedrich Froebel viveu em uma época (1782-1852) de mudança de concepções sobre as crianças, sendo um dos primeiros educadores a considerar o início da infância como uma fase de importância decisiva na formação das pessoas. Ele foi o fundador dos ―jardins de infância‖ (kindergardens), nome que reflete um princípio que Froebel compartilhava com outros pensadores românticos de seu tempo: o de que a criança é como uma planta em sua fase de formação, exigindo cuidados periódicos para que cresça de maneira saudável. Ao mesmo tempo que pensou sobre a prática escolar, Froebel se dedicou a criar um sistema filosófico segundo o qual a natureza era a manifestação de Deus no mundo terreno e, por isso, a educação deveria trabalhar os conceitos de unidade e harmonia através dos quais as crianças alcançariam a própria identidade e sua ligação com o eterno. A criança, segundo o educador, trazia em si a semente divina de tudo o que há de melhor no ser humano. Cabia ao professor desenvolver esse germe e não deixar que se perdesse. 9 Idealizou recursos sistematizados para as crianças se expressarem, dando-lhes o nome de ―dons‖ porque Deus os oferecia para que as necessidades infantis fossem bem desenvolvidas. Os chamados "dons" eram a bola, o cubo e o cilindro. Os blocos de construção, chamados de materiais específicos, eram usados pelas crianças nas suas atividades criadoras. Os blocos eram utilizados em uma medida bem restrita, enquanto as demais atividades eram mais livres.Trabalhava com outros tipos de materiais, como: papel, papelão, argila e serragem. O desenho e as atividades que envolvem o movimento e os ritmos eram muito importantes. Para a criança se conhecer, o primeiro passo seria chamar a atenção para os membros de seu próprio corpo, para depois chegar aos movimentos das partes do corpo. Valorizava também a utilização de histórias, mitos, lendas, contos de fadas e fábulas. Enquanto os brinquedos físicos davam força e poder ao corpo, as histórias desenvolviam o poder da mente. Froebel usava o recurso da simbologia, como por exemplo: um taquinho de madeira podia ser um determinado animal, ou até mesmo, uma boneca. Baseando-se nisso, Froebel sentia uma atração especial pelo simbolismo. Froebel afirma em sua obra ―A educação do homem‖ que a educação é o processo pelo qual o indivíduo desenvolve a condição humana autoconsciente, com todos os seus poderes funcionando completa e harmoniosamente, em relação à natureza e à sociedade. Além do mais, era o mesmo processo pelo qual a humanidade, como um todo, originariamente se elevara acima do plano animal e continuara a se desenvolver até a sua condição atual. Implica tanto a evolução individual quanto a universal. Para Maria Montessori (1870-1952), médica, psicóloga e pedagoga italiana, a criança é a verdadeira potência do mundo e somente através dela e possível alimentar a esperança de construção de um mundo melhor. Para ela, o objetivo da escola era a formação integral da criança e, por isso, a filosofia de educação e os métodos por ela elaborados procuravam desenvolver o potencial criativo desde a primeira infância, associando-o sempre à vontade de aprender, de nutrir a paz e de desenvolver a capacidade de amar. 10 Na pedagogia montessoriana, a criança é vista como um ser biológico que, na interação com o meio, se torna social. O amadurecimento intelectual da criança dá-se na relação com o mundo, à medida que sua maturação biológica evolui. Individualidade, atividade e liberdade do aluno são as bases de sua teoria, com ênfase para o conceito de indivíduo como, simultaneamente, sujeito e objeto do ensino. A matéria prima do desenvolvimento da criança está dentro dela mesma e, por isso mesmo, a escola somente precisa estimular na criança a descoberta de suas potencialidades. (Montessori) Nas escolas montessorianas o espaço físico é cuidadosamente preparado para permitir aos alunos movimentos livres, facilitando o desenvolvimento da independência e da iniciativa pessoal: são os famosos ―cantinhos‖. Assim como o ambiente, a atividade sensorial e motora desempenha função essencial, pois Montessori defendia a idéia de que o caminho do intelecto passa pelas mãos, porque é por meio do movimento e dos sentidos que as crianças exploram e decodificam o mundo ao seu redor. Desta forma, o método montessoriano parte do concreto rumo ao abstrato, baseado na observação de que as crianças aprendem melhor pela experiência direta de procura e descoberta. Para tornar esse processo o mais rico possível, Montessori desenvolveu materiais didáticos que constituem um dos aspectos mais conhecidos de seu trabalho. Além do conhecido ―material dourado‖, ela produziu uma série de cinco grupos de materiais, que eram colocados nos cantinhos existentes nas salas de aula: materiais sensoriais, material de linguagem, material de matemática, material de ciências e material para exercícios da vida cotidiana. 11 b) a tendência cognitiva, que tem em Jean Piaget (1896 – 1980) , biólogo e psicólogo suíço, o mais importante de seus representantes, considera a criança um sujeito que pensa e a escola de educação infantil o lugar de tornar as crianças inteligentes. Deste modo, enfatiza a construção do pensamento infantil no desenvolvimento da inteligência e na autonomia. Para tanto, o eixo principal dessa tendência, de base psicogenética, é a interação organismo/meio. ―Desde o nascimento, o desenvolvimento intelectual é, simultaneamente, obra da sociedade e do indivíduo‖ (Jean Piaget) Piaget considera quatro períodos no processo evolutivo da espécie humana. Cada uma dessas fases é caracterizada por formas diferentes de organização mental que possibilitam as diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a realidade que o rodeia. De uma forma geral, todos os indivíduos vivenciam essas quatro fases na mesma seqüência, porém o início e o término de cada uma delas pode sofrer variações em função das características da estrutura biológica de cada indivíduo e da riqueza (ou não) dos estímulos proporcionados pelo meio ambiente em que ele estiver. No período da Educação Infantil a criança passa pelos seguintes estágios: A teoria piagetiana afirma que conhecer significa inserir o objetivo do conhecimento em um determinado sistema de relações, partindo de uma ação executada sobre referido objeto. Tal processo envolve, portanto, a capacidade de organizar, estruturar, entender e, posteriormente, com a aquisição da fala, explicar pensamentos e ações. Dessa forma, a inteligência vai-se aprimorando na medida em que a criança estabelece contato com o mundo, experimentando-o ativamente. Estágio sensório-motor, mais ou menos de 0 a 2 anos: a atividade intelectual da criança é de natureza sensorial e motora. Nesse período criança não representa mentalmente os objetos. Sua ação é direta sobre eles. Essas atividades serão o fundamento da atividade intelectual futura. A estimulação ambiental interferirá na passagem de um estágio para o outro. Estágio pré-operacional, mais ou menos de 2 a 6 anos: a criança desenvolve a capacidade simbólica; já não depende unicamente de suas sensações, de seus movimentos, mas já distingue um significante (imagem, palavra ou símbolo) daquilo que ele significa (o objeto ausente), o significado. Para a educação é importante ressaltar o caráter lúdico do pensamento simbólico. Nesse período predomina o egocentrismo, pois a criança não consegue colocar-se abstratamente no lugar do outro. Sua percepção abstrata começa a ser aguçada à medida que aumenta sua capacidade de simular, imaginar situações, figuras e pessoas semelhantes. 12 Segundo Vera Lúcia Câmara Zacharias (on line), uma escola de educação infantil que se diz fundamentada na teoria de Jean Piaget deve ter sua prática pedagógica orientada por alguns princípios básicos: ação - as crianças conhecem os objetos, usando-os. Um esquema é aplicado a vários objetos e vários esquemas são aplicados ao mesmo objeto. representação - toda atividade deve ser representada, de modo a permitir que a criança manifeste o seu simbolismo. atividades grupais - o desenvolvimento da criança acontece no contato e na interação com outras crianças, daí a necessidade da promoção de atividades em grupo. Não se trata aqui da concepção comum do trabalho em grupo (que a escola interpretou como um grupo de alunos obrigados a trabalhar em conjunto). Piaget pressupõe que o grupo se forme espontaneamente e que o tema pesquisado seja como um verdadeiro problema do grupo. organização - é adquirida através da atividade. É fazendo a atividade que a criança se organiza. professor problematizador - o professor é o desafiador da criança, ele cria dificuldades e problemas. Em escolas com essa fundamentação, a educação infantil não é um passatempo, e sim um espaço que permite a diversificação e ampliação das experiências das crianças, promovendoa sua autonomia. De acordo com a teoria de Piaget, o aluno é um sujeito produtor de conhecimento e o educador um facilitador do processo ensino – aprendizagem; portanto a relação professor – aluno deve ser de respeito mútuo e cooperação. áreas do conhecimento integradas - no currículo da educação infantil de orientação fundada nas teorias piagetianas, as diferentes áreas do conhecimento são integradas. O eixo central desse currículo são as atividades. É importante lembrar que Piaget não propõe um método de ensino, mas elabora uma teoria do conhecimento e desenvolve muitas investigações cujos resultados são utilizados por psicólogos e pedagogos. Desse modo, suas pesquisas recebem diversas interpretações que se concretizam em propostas didáticas também diversas. Piaget não aponta respostas sobre o quê e como ensinar, mas permite compreender como a criança aprende, fornecendo um referencial para a identificação de suas possibilidades e limitações. Desta maneira, propõe ao professor uma atitude de respeito às condições intelectuais do aluno e um modo de interpretar suas condutas verbais e não verbais para poder trabalhar melhor com elas. ―A inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são, em geral, demasiadamente negligenciadas.‖(Piaget) 13 c) a tendência crítica vê a escola como um lugar de trabalho em que a criança e o professor são cidadãos, sujeitos ativos, cooperativos e responsáveis. Desta forma, a educação deve estar voltada para favorecer a transformação do contexto social. Para Freinet as práticas pedagógicas não podem ignorar aspectos sociais e políticos e a ênfase maior deve ser dada ao trabalho: as atividades manuais são consideradas tão importantes quanto as intelectuais e a disciplina e a autoridade são frutos de um trabalho organizado. Seu objetivo essencial era desenvolver uma escola popular. Segundo Freinet, ―A escola prepara alunos, mas esquece de preparar homens.‖ Em relação à educação infantil, Freinet fez críticas a certas práticas e métodos adotados na época, afirmando que duas tendências pedagógicas opostas ameaçavam a ―Escola Maternal‖ (Educação Infantil): - a tendência escolástica, que queria orientar depressa demais as crianças para os trabalhos e lições escolares, dirigindo-se para as atividades que visavam preparar as crianças para as aquisições formais da leitura e da escrita; - a tendência infantil que, ao contrário, parecia querer conservar a criança num estado que ela já havia ultrapassado, preocupando-se em mandar o aluno brincar e entreter-se com algo, só com o intuito de obter o silêncio e a ordem. Foi entre estas duas tendências que ele se posicionou, propondo, uma reformulação pedagógica radical, com uma visão social e crítica, pois a pedagogia de Freinet era contra tudo que pudesse induzir a criança ao adestramento mental e físico, já que ele buscava o prazer e o movimento que havia dentro de cada aluno para, em cima deles, construir o conhecimento. Segundo Freinet, a criança passa por períodos de desenvolvimento, que devem ser conhecidos pelos professores que lidam com Educação Infantil a fim de organizar o seu trabalho docente com fundamentação psicológica. São eles: - período de ―prospecção tateante‖, em que a criança experimenta, procura, examina, ensaia, para se familiarizar com o meio ambiente e afastar cada vez mais o mistério e o desconhecido que ameaçam o seu poder. Este período completa-se por volta dos dois anos, quando a criança anda e adquire mais autonomia nas reações, utilizando as mãos para as primeiras atividades construtivas. - período de ―arrumação‖, em que a criança começa a organizar a vida, e as suas experiências tateantes agrupam-se e aglutinam-se Uma das propostas pedagógicas mais significativas dentro dessa tendência é a de Celéstin Freinet (1896 – 1966). Crítico da escola tradicional e da ―Escola Nova‖, Freinet foi criador, na França, do movimento da ―Escola Moderna‖ que atinge, atualmente, professores de vários países, da Educação Infantil à Universidade. Esse movimento pode ser caracterizado por sua dimensão social, demonstrada na defesa de uma escola centrada na criança, vista não como um indivíduo isolado, mas fazendo parte de uma comunidade. 14 Livro da Vida inconscientemente em torno das suas necessidades psicológicas essenciais. Mas ainda não sai de si própria, tudo está por fazer e não pode, deste modo, entregar-se a nenhuma atividade continuada. Este período corresponde ao egocentrismo descrito por tantos psicólogos e se estende até, aproximadamente, quatro anos. - período de ―trabalho‖, no qual a criança parte para a conquista do mundo. Esta conquista efetua-se pelo trabalho, que é a atividade pela qual o indivíduo satisfaz as suas grandes necessidades psicológicas. Neste período a criança trabalha, se as circunstâncias do meio e o adulto lhe permitirem. Freinet construiu uma pedagogia, mas não utilizou um método como caminho fechado. Considerando que a sala de aula deve ser prazerosa e bastante ativa, pois o trabalho é o grande motor da pedagogia, criou técnicas, com base na experimentação e documentação, usadas até hoje, que fornecem à criança instrumentos para aprofundar seu conhecimento e desenvolver a sua ação. Entre elas podem ser destacadas: - a correspondência e os intercâmbios interescolares; - o jornal escolar (mural, falado e de circulação); - os fichários escolares cooperativos; - o desenho e a expressão artística ( modelagem, cerâmica, gravura); - o Livro da Vida; - a literatura infantil; - o estudo do meio local (aulas-passeio / pesquisas) - a música, o teatro livre e o cinema; Livro da Vida Jornal Mural 15 Além desses pensadores e educadores citados por Kramer, dois outros nomes de enorme influência no cenário educacional merecem destaque na fundamentação teórica das propostas pedagógicas de Educação Infantil. São eles: - Lev Vygotsky: Como seres humanos passamos a construir nossa história exclusivamente com a participação dos outros e da apropriação do patrimônio cultural da humanidade. Assim, uma idéia indispensável para a compreensão da concepção sobre o desenvolvimento humano como processo sócio-histórico é a idéia de mediação: enquanto sujeito do conhecimento, o homem não tem acesso direto ao objeto, mas acesso mediado por várias relações. Existem dois níveis de desenvolvimento identificados por Vygotsky: um real, já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria, e um potencial, ou seja, a capacidade de aprender com outra pessoa. Vygotsky cria um conceito para explicar o valor da experiência social no desenvolvimento cognitivo. Segundo ele há uma zona de desenvolvimento proximal que se refere à distância entre o nível de desenvolvimento real – determinado pela solução de problemas pela criança sem ajuda de alguém mais experiente – e o nível potencial de desenvolvimento – medido através da solução de problemas sob a orientação de adultos ou em colaboração com crianças mais experientes. A psicologia sócio-histórica, que tem por base a teoria de Vygotsky (1896 – 1934), concebe o desenvol- vimento humano a partir das relações sociais que a pessoa estabelece no decorrer da vida. Desde o nosso nascimento somos socialmente dependentes dos outros e entramos em um processo histórico que, de um lado, nos oferece os dados e visões sobre o mundo e, de outro lado, permite uma visão pessoal sobre este mesmo mundo.16 O aprendizado é o responsável por criar a zona de desenvolvimento proximal na medida em que, em interação com outras pessoas a criança é capaz de operacionalizar vários processos de desenvolvimento que sem a ajuda externa seriam impossíveis de ocorrer. Esses processos se internalizam e passam a fazer parte de seu desenvolvimento individual. É por isso que Vygotsky afirma que aquilo que é a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) hoje será o nível o nível de desenvolvimento real amanhã, ou seja, o que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã. O papel do professor muda radicalmente a partir da teoria de Vygotsky. Ele não é mais aquele professor que se coloca como o centro do processo, que ensina para que os alunos passivamente aprendam; tampouco é aquele organizador de propostas de aprendizagem que os alunos deverão desenvolver sem que ele tenha que intervir. Ele é o agente mediador deste processo, propondo desafios a seus alunos e ajudando-os a resolvê-los, realizando-os com eles ou proporcionando atividades em grupos em que aqueles que estiverem mais adiantados poderão cooperar com os demais. Com suas intervenções estará contribuindo para o fortalecimento de funções ainda não consolidadas ou para abertura de zonas de desenvolvimento proximal. E para que todo esse processo tenha condição de se desenvolver, o diálogo deve permear constantemente o trabalho escolar, pois para Vygotsky a linguagem é a ferramenta mais importante. A verdadeira comunicação humana pressupõe uma atitude generalizante, que constitui um estágio avançado do desenvolvimento do significado da palavra. As formas mais elevadas da comunicação humana somente são possíveis porque o pensamento do homem reflete uma realidade conceitualizada. (Vygotsky) Vygotsky enfatiza a importância do brinquedo e da brincadeira do faz-de-conta para o desenvolvimento infantil, pois cria zonas de desenvolvimento proximal à medida que coloca a criança em situações de repetição de valores e imitação de papéis e regras sociais e salienta que a criança também aprende com outra criança, em situações informais de aprendizagem. 17 - Henri Wallon: A teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon é conhecida como psicogênese da pessoa completa e se baseia em quatro elementos básicos que estão todo o tempo em comunicação: afetividade, emoções, movimento e formação do eu. afetividade: possui papel fundamental no desenvolvimento da pessoa pois é por meio dela que o ser humano demonstra seus desejos e vontades. As transformações fisiológicas de uma criança, nas palavras de Wallon, revelam importantes traços de caráter e personalidade. emoção: é altamente orgânica e ajuda o ser humano a se conhecer. A raiva, o medo, a tristeza, a alegria e os sentimentos mais profundos possuem uma função de grande relevância no relacionamento da criança com o meio. movimento: a motricidade tem um caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento, quanto pela maneira com que ele é representado. Por isso, a escola, ao insistir em manter a criança imobilizada, acaba por limitar o fluir de fatores necessários e importantes para o desenvolvimento completo da pessoa. formação do eu: a construção do eu depende essencialmente do outro, com maior ênfase a partir de quando a criança começa a vivenciar a "crise de oposição", na qual a negação do outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria. Isso acontece mais ou menos em torno dos 3 anos. Imitação, manipulação e sedução em relação ao outro são características comuns nesta fase. Nasceu na França (1879 – 1962) e, antes de chegar à Psicologia, passou pela Filosofia e Medicina mas, ao longo de sua carreira, foi cada vez mais explícita sua aproximação com a educação. Wallon realizou um estudo centrado na criança contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa profundas mudanças nas anteriores. 18 1.3. A trajetória legal da Educação Infantil pós 1988 A criança, ao contrário do que era considerada no passado, mostra- se como um ser que pensa, tem sentimentos e emoções e, portanto, é participante ativa do mundo. Lidar e relacionar-se com a criança, nos dias de hoje, alcança uma dimensão que vai além da guarda, proteção e assistência; aponta para um objeto muito mais amplo que é o de educar, respeitando sua individualidade e formas de aprender. Jacilene Mesquita Viana Toda a legislação recente relativa à Educação Infantil é conseqüência da Constituição Federal de 1988, que definiu uma nova doutrina a respeito da infância: a doutrina da criança como sujeito de direitos. Realmente, a partir da promulgação de nossa Carta Magna, ficou legalmente estabelecido que os pais, a sociedade e o poder público têm que respeitar e garantir os direitos das crianças definidos no artigo 227, que diz: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Desta forma, todos - os pais, as instituições de atendimento, os diversos setores da sociedade ou do governo - são obrigados a considerar a criança como um cidadão possuidor de direitos que devem ser respeitados. Além disso, determina também que as creches e pré-escolas são instituições de caráter educacional e não simplesmente assistencial, como muitas vezes foram consideradas, o que se verifica nos seus artigos abaixo: Art. 208 - O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (...) IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal no 8.069/1990, explicitou melhor cada um dos direitos da criança, também contemplados pelo Plano Nacional de Educação. Segundo essas diretrizes, reconhecer a criança como sujeito de direitos significa: entendê-la como um ser social a quem deve ser garantido o direito à educação, saúde, alimentação, proteção e ao lazer; respeitá-la em sua individualidade, interesses e necessidades; compreendê-la em sua historicidade, nas marcas de seu universo étnico, religioso e social; reconhecê-la como um ser que tem potencialidades, a quem deve ser oportunizada a construção da identidade e da autonomia. 19 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei Federal 9394/96, regulamenta a Educação Infantil e estabelece, no artigo 29, como sua finalidade, o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. A creche e a pré-escola têm, portanto, uma função de complementação e não de substituição da família, como muitas vezes é entendida. Elas devem integrar-se com a família e com a comunidade para que juntas possam contribuir para o desenvolvimento integral da criança de 0 a 5 anos. Assim, a Educação Infantil está deixando de ser um ―artigo de luxo‖ para tornar-se prioridade e, pela primeira vez no Brasil, é considerada legalmente comoparte integrante da educação básica. (art. 21). A LDBEN define, ainda, em consonância com a Constituição Federal, que os Municípios incumbir-se-ão de ―oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência...‖ (art. 11, V), bem como de ―baixar normas complementares para o seu sistema de ensino‖ (art. 11; III). Assim, em nosso Município, a Educação Infantil é regida por legislação emanada do Conselho Municipal de Educação, atualmente, através da Deliberação nº 15/2008, que fixa normas para seu funcionamento tanto nas instituições da rede municipal quanto nas da rede privada que fazem parte do sistema municipal de ensino. Com base na referida deliberação, a Educação Infantil da rede municipal está organizada da seguinte maneira: (art. 6º) - Creche III: a partir de 2 anos - Creche IV: a partir de 3 anos - Pré I: a partir de 4 anos - Pré II: a partir de 5 anos No § 1º do referido artigo, a Deliberação 15/2007 determina que essas idades deverão ser completadas até 31 de março. O espaço físico não apenas contribui para a realização da educação, mas é em si uma forma silenciosa de educar. Por isso, a Del. nº 15/2008 /CME estabeleceu parâmetros para que a educação infantil aconteça com qualidade nas instituições ligadas ao seu sistema, determinando: Art.10. Os estabelecimentos de Educação Infantil deverão possuir, no mínimo, as seguintes instalações com seus devidos equipamentos: I- salas destinadas à administração : secretaria, gabinete do diretor, recepção, etc... II- salas de aula que atendam às exigências do art. 11; III- instalações sanitárias de uso exclusivo dos alunos, adequadas à faixa etária e em número suficiente para a quantidade de crianças; IV- cozinha, despensa e refeitório, indispensáveis nos estabelecimentos de ensino de tempo integral e que atendam às normas de segurança, saúde e higiene; V- bebedouros equipados com componente filtrante, de dimensões e características que facilitem o uso pelas crianças e em número compatível com a capacidade física de matrícula; 20 VI- área externa, destinada à recreação dirigida, ao lazer e à prática de Educação Física, com piso natural ou revestido; VII- áreas de circulação livres que não ofereçam perigo à integridade física da criança. § 1º - Os aparelhos fixos de recreação são opcionais, mas, existindo, devem atender a faixa etária a que se destinam e as normas de segurança, devendo ser objeto de conservação e manutenção periódica. § 2º - Os estabelecimentos que atenderem a crianças de creche deverão possuir ainda: - berçário bem ventilado, com espaço mínimo de 3 m2 por criança e 50 cm entre os berços, fraldário, lactário e sala de estimulação para bebês ( creche I e II ); - sala de repouso; - espaço para o banho de sol das crianças. Art. 11 - As salas de aula reservadas à Educação Infantil deverão ter as seguintes características: I- área mínima de 1 m2 reservada a cada aluno, sendo permitida a ocupação máxima correspondente a 80% da área física; II- paredes pintadas ou revestidas com material lavável; III- piso revestido de material lavável; IV- mobiliário de dimensões e características que proporcionem conforto e segurança às crianças atendidas; V- boas condições de ventilação e iluminação. Para garantir a qualidade do atendimento às crianças de Educação Infantil no sistema municipal de ensino, o Conselho Municipal de Educação determina na Del. 15/2007: Art. 20. Os parâmetros para a organização de grupos decorrerão das especificidades da proposta pedagógica, recomendada a seguinte relação: Creche I: até 10 crianças / 01 professor/ 01 ajudante Creche II: até 10 crianças / 01 professor / 01 ajudante Creche III: até 15 crianças / 01 professor / 01 ajudante Creche IV: até 20 crianças / 01 professor / 01 ajudante Pré I e Pré II: até 20 crianças / 01 professor § 1º : O número de alunos especificado no caput deste artigo será reduzido em caso de atendimento educacional especializado a alunos com deficiência e/ou problemas de desenvolvimento de todos os níveis e tipos na proporção de 1(um) para cada 10 (dez) alunos. 21 1.4. A Educação Infantil na rede municipal de ensino de Cabo Frio Quando falamos de Educação Infantil não podemos deixar de refletir sobre a história desta etapa da Educação Básica em nosso Município. Os primeiros registros do oferecimento legal de Educação Infantil em nosso município datam de 1983 quando a Secretaria Estadual de Educação autorizou o funcionamento de nove escolas criadas e mantidas pelo Poder Público Municipal de Cabo Frio que, além de oferecer as séries iniciais do 1º segmento do Ensino Fundamental, também ofereciam educação infantil em turmas de pré-escolar (E.M. Agrisa, E.M. Antonio da Cunha Azevedo, E.M. Araçá, E.M. João Bessa Teixeira, E.M. João Evangelista dos Santos, E.M. João Rocha, E.M. Maria José Barroso, E.M. Oswaldo Santa Rosa, E.M. Pedro Jotha). Ainda antecedendo a Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN) foram criadas também duas Creches de horário integral para atender crianças de 04 meses a 03 anos e 11 meses, sob a supervisão da Secretaria de Saúde (Creche Escola Vovó Olívia e Creche Escola Vovó Cinha). A partir da nova LDBEN, porém, a Educação Infantil passou a ter o dever não apenas de cuidar, mas também de educar. Foi nesta perspectiva que a Secretaria Municipal de Educação de Cabo Frio também passou a ter as creches sob sua supervisão. Reconhecida pela importância na formação do sujeito histórico, a Educação Infantil ainda não é constitucionalmente obrigatória, porém é ―direito da criança, opção da família e dever do Estado‖, e é neste contexto que o município de Cabo Frio busca implementar políticas educacionais que garantam o oferecimento de vagas nesta etapa da Educação Básica, além de buscar,também, e cada vez mais, maior qualidade em seu oferecimento. Hoje, Cabo Frio oferece Educação Infantil em 14 (quatorze) escolas exclusivamente de Educação Infantil, e em 17 (dezessete) escolas que também oferecem outros segmentos, atendendo a cerca de 5350 crianças da Creche III ao Pré II, em regime parcial e/ou integral (nas creches). (anexos 1 e 2). Entretanto, sabemos que no atual contexto histórico e social, em que a mulher cada vez mais necessita estar no mercado de trabalho, esse número de escolas ainda é insuficiente para atender a demanda. Estamos, porém, planejando o contínuo crescimento de matrículas para esse atendimento (anexo 3) com responsabilidade social e sem perder a qualidade necessária para possibilitar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, buscando a formação de crianças felizes e saudáveis. 22 2. Objetivos 2.1. Objetivos Gerais do REDE INFANTIL Contribuir com um conjunto de referências e orientações pedagógicas que favoreçam a implantação ou implementação de práticas educativas de qualidade que possam promover e ampliar as condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças; Destacar, no processo curricular, o envolvimento dos sujeitos não somente cognitivos, mas afetivos, sociais e políticos; 2.2. Objetivos Gerais da Educação Infantil: Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil(MEC/SEF, 1998) a prática da educação infantil deve se organizar de modo que as crianças desenvolvam as seguintes capacidades: desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações; descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidados com a própria saúde e bem-estar; estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua auto-estima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social; estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração; observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação; brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades. utilizar diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva; conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade. 23 3. Diretrizes Gerais De acordo com a Resolução CEB nº 1, de 7 de abril de 1999, do Conselho Nacional de Educação, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, as Propostas Pedagógicas das instituições de Educação Infantil devem respeitar os seguintes fundamentos norteadores: 3.1. Princípios (art. 3º, I) a) Princípios Éticos da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum; b) Princípios Políticos dos direitos e deveres de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática; c) Princípios Estéticos da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais. 3.2. Práticas pedagógicas: cuidar, educar e brincar ―As instituições de Educação Infantil devem promover em suas Propostas Pedagógicas, práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/ lingüísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível‖ (art. 3º, III) Dessa forma, ser, sentir, brincar, expressar-se, relacionar-se, mover-se, organizar-se, cuidar-se, agir e responsabilizar-se são partes de um todo de cada individuo. Menino ou menina, desde bebês, gradual e articuladamente, aperfeiçoam esses processos, nos contatos consigo próprio, com as pessoas, coisas e o ambiente geral. 24 Assim, ―as Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, ao reconhecer as crianças como seres íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo próprios, devem buscar a partir de atividades intencionais, em momentos de ações, ora estruturadas, ora espontâneas e livres, a interação entre as diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã, contribuindo assim com o provimento de conteúdos básicos para a constituição de conhecimentos e valores.‖ (art. 3º , IV) Um trabalho realmente preocupado com o desenvolvimento integral da criança reconhece, no brincar, a sua importância, proporcionando condições de desenvolvimento de diferentes aspectos de sua individualidade: aspectos físicos, sociais, emocionais e cognitivos, já que nem sempre elas são entendidas desta forma. Muitas vezes ouvimos educadores dizerem ―eles estão só brincando‖, ou ―acabou a brincadeira, agora vamos estudar que é hora de aprender‖. Diante disso, é preciso tornar efetivo à criança o direito a uma educação que respeite seu processo de construção do pensamento, que lhe permita desenvolver-se nas linguagens expressivas da brincadeira, como instrumentos simbólicos de leitura e escrita do mundo, contribuindo para uma educação significativa, pois através da brincadeira a criança se expressa e representa o mundo que vivencia. A brincadeira, como linguagem dominante na infância, possibilita que a criança se aproprie das funções sociais e culturais da realidade na qual está inserida. As crianças conferem diferentes significados ao cotidiano que utilizam na brincadeira e no processo de administração do tempo e do espaço em que vão definindo os diferentes temas do seu brincar. Elas têm a possibilidade de levantar hipóteses, resolver problemas e ir ascendendo, a partir da construção de um sistema de representações, a um mundo mais amplo ao qual não têm acesso no seu cotidiano infantil. Brincando, a criança reorganiza e transforma o mundo das coisas e das pessoas. Assim, brincar se constitui numa atividade muito séria, onde a criança realiza, também, seu desejo de ser igual ao adulto ao vivenciar papéis, quando brinca, por exemplo, de ser mãe, pai ou professora. O brincar é imprescindível também aos igualmente complexos processos de construção subjetiva. 25 Brincar com criança não é perda de tempo, é ganhá-lo. Se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los enfileirados em salas de aula, com exercícios estéreis, sem valor para formação do homem. Carlos Drummmond de Andrade A afirmativa de Carlos Drummond reforça a importância do brincar, atividade número um do ser humano. Neste contexto, vem se percebendo a multiplicação das brinquedotecas em todo o país, o que contribui como instrumento para prática pedagógica voltada ao público infantil. Ao mesmo tempo em que se caracteriza um ambiente singular para o brincar livremente, o espaço desenvolve a criatividade, a sociabilidade e abre canais para a expansão de potencialidades. A brinquedoteca é um lugar fantástico para se trabalhar aspectos cognitivos e pedagógicos: o jogo da imaginação leva a criança à criação prazerosa de personagens que são introduzidos no mundo adulto e, pelo faz-de-conta,à busca de soluções para seus conflitos interiores. É onde a criança edifica a afetividade, a sensibilidade e a relação interpessoal, desenvolvendo a autonomia para escolher seus próprios caminhos e realizar um diálogo com o inconsciente, facilitando o equilíbrio emocional. Contação e dramatização de histórias, jogos, cantinhos temáticos, dinâmicas de grupo e teatro de bonecos são algumas das atividades realizadas, que enriquecem ainda mais o espaço interativo da brinquedoteca e provocam novos estímulos para a descoberta. 26 4. Planejamento A criança, ser global, mescla as suas manifestações expressivas: canta ao desenhar, pinta o corpo ao representar, dança enquanto canta. Desenha enquanto ouve histórias, representa enquanto fala. Edith Derdik Planejar é um ato inerente à existência humana desde os primórdios da civilização, estando diretamente relacionado à possibilidade de transformação da natureza através da linguagem. Esta instância organizadora do futuro está presente em todos os momentos de nossas vidas, desde as coisas mais rotineiras como uma ida ao supermercadoaté as mais determinantes como, por exemplo, o momento de ter um filho. Na área da educação, o planejamento se reveste em instrumento fundamental para operacionalização dos objetivos, no sentido de alcançar as finalidades educativas e também possibilitar uma avaliação consistente e comprometida com a realidade das ações pedagógicas. Neste contexto, o professor é essencialmente um planejador de estratégias que possibilitem a mediação entre o conhecimento espontâneo da criança e o conhecimento científico. Segundo Vygotsky, os conceitos cotidianos ou espontâneos são aqueles que a criança vai formulando durante o seu processo de desenvolvimento, na medida em que utiliza a linguagem para nomear objetos e fatos em sua vida diária. Já por conceitos científicos considerou aqueles formados a partir da aprendizagem sistematizada, no momento em que a criança se defronta com o trabalho escolar, o que depende, portanto, da mediação planejada do professor. É necessário, assim, que o professor valorize o ato de planejar numa direção significativa e que vislumbre no planejamento seu mais eficiente aliado, construindo-o em sua práxis e contemplando neste a sua concepção da transmissão/construção do conhecimento. O planejamento tem múltiplas funções, pois não abrange apenas a intencionalidade de tornar concreta a ação pedagógica, mas ainda auxilia o professor na organização do espaço e dos recursos materiais, já que a previsão de atividades permite que o material seja selecionado e preparado com antecedência, possibilitando um melhor aproveitamento do tempo. Inegavelmente o professor é o agente organizador do processo de ensino. Entretanto, diante do propósito de tornar a prática pedagógica viva e diretamente relaci- onada com o cotidiano da criança, deve realizar efetivamente um planejamento participativo, entenden- do essa inserção como um exercício diário de construção da coletividade. Para tanto, ao iniciar cada dia de trabalho, o professor deve apresentar o planejamento coletivo à turma. 27 4.1. Tipos de Planos O professor de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Cabo Frio deve planejar suas atividades docentes utilizando-se dos seguintes tipos de planos: Plano de Curso Previsão do que será ensinado e de como serão construídos os conhecimentos, habilidades e atitudes de seus alunos, durante o ano letivo. Não deve ser um plano detalhado, mas um esboço de linhas gerais que serão especificadas no plano de unidade e de aula. Entretanto, deve necessariamente estabelecer: Os objetivos a serem atingidos Os conteúdos a serem trabalhados As atividades docentes e discentes As atividades extraclasses Os materiais didáticos As formas de avaliação Plano de Aula Consiste na especificação das atividades previstas para cada aula, a fim de desenvolver orgânica e harmoniosamente as atividades que constam do plano de curso. Fundamentalmente, o plano de aula deve conter: Informações gerais / identificação Tempo disponível Objetivos específicos / conteúdos Pontos essenciais da aula numa seqüência lógica e integrada Formas de incentivação Técnicas e recursos didáticos a serem utilizados Formas de avaliação Ao elaborar o Plano de Aula, o professor de Educação Infantil deve dar especial atenção às atividades de Rotina, pois sendo a escola um espaço de aprendizagem, o seu trabalho necessita ser organizado de forma tal que possa favorecer a construção de conhecimentos e o bem-estar da sua clientela e de seus profissionais. É aí que reside a importância do planejamento. Por sua vez, o plano de ensino, norteado por uma rotina pedagógica, também é fonte de estruturação do trabalho não só para o educador, uma vez que situa a criança no seu contexto de construção de conhecimentos. E, a partir dessa estruturação externa, física e espacial, pode-se pensar em educação significativa no plano interno, emocional e cognitivo. 28 4.2. Rotina Comentada O planejamento pedagógico e a organização das atividades no tempo/espaço são ações que estruturam o fazer do educador e facilitam às crianças a compreensão de que, no dia-a-dia, a dinâmica da vida segue um norte, onde fatos acontecem numa sucessão de tempo (antes, durante, depois) e com organização bastante singular. Dessa forma, é imprescindível a construção de uma rotina de atividades, visando possibilitar às crianças a internalização da dinâmica da sua classe. Isso não significa dizer que a sala de aula perderá o seu caráter interativo, e nem que em todos os dias as ações deverão ser as mesmas, ou que teremos que seguir uma sequência rígida de organização pedagógica. A flexibilidade das ações e do planejamento, mesmo norteada por uma rotina pedagógica, será sempre viabilizada conforme as necessidades evidenciadas nas interações em sala de aula. Assim, visando favorecer a organização biológica, social e cognitiva das crianças no tempo e no espaço escolar, sugere-se a sistemática de trabalho a seguir: Chegada - acolhida Calendário Fichas de nomes Rodinha Hora da atividade Lanche Relaxamento(música, atividade livre,etc....) Hora da história Saída – despedida 4.2.1. Chegada Este é um momento de expectativas para a criança, pois ela sabe que alguém especial a aguarda (Será que a professora ficará feliz em me ver? Será que está com saudades de mim?); sabe que irá encontrar os seus companheiros (Quem será que veio?) e que alguma novidade ou surpresa será apresentada na sua sala... Assim, é muito importante que o educador receba a criança com alegria, fale sobre a sua aparência, elogie, demonstre afetividade... Após a acolhida inicial, é oportuno cantar uma música de saudação ou fazer uma oração (sem evocação de religião), conforme a realidade da instituição ou do grupo atendido. Em seguida, é possível fazer a escolha dos ajudantes do dia ou colaboradores (pode-se escolher por meio de sorteio, ordem alfabética, jogos de escolha, ou outra forma negociada com o grupo). 29 4.2.2. Calendário É oportuno, também, sempre que iniciar o trabalho, fazer o resgate ou retomada das ações ou acontecimentos do dia anterior. A socialização da pauta de trabalho do dia para as crianças (Sabem o que vamos fazer hoje? Vamos conferir o que já fizemos? O que falta fazer?) é outra possibilidade interessante de demarcação do tempo que permitirá às crianças entende-rem o que acontecerá na dinâmica da escola. 4.2.3. Fichas de nomes É entendendo a lógica subjacente à escrita do nosso próprio nome que temos desejo e/ou somos despertados a escrever e descobrir a escrita de outras palavras. Por isso, é importante trabalhar, cotidianamente, com as fichas dos nomes das crianças, para que cada uma conheça a grafia convencional de seu nome e também a dos seus colegas. Para tanto, é inte- ressante inventar formas diferenciadas de trabalhar com as fichas das crianças, para que este momento seja uma brincadeira envolvente que venha a favorecer a aprendizagem. 4.2.4. Rodinha O nome é o elemento básico da nossa identidade; é a partir dele que somos apresentados às pessoas e reconhecidos enquanto indivíduos pertencentes a de- terminado grupo familiar. O nosso nome é a nossa marca. As crianças têm muito interesse em conhecer a grafia do próprio nome, tentam escrevê-lo e também desafiam as pessoas a fazer o mesmo, ficam felizes ao serem reconhecidas pelos outros por meio do seu vocativo...É um momento importante na dinâmica de uma classe de Educação Infantil, pois as crianças, organizadas em círculo, olhando-se umas às outras, podem trocar pontos de vista sobre assuntos diver- sos, com a ajuda de um mediador mais experiente: o professor. As crianças vão construindo a noção de tempo a partir das vivências cotidianas e das relações entre o ontem e o hoje, o antes e o depois, o aqui e o agora, que serão situadas pelos parceiros mais experientes, até conseguirem internalizar essas relações. O calendário é uma das possibilidades de abordar o tempo com as crianças, a partir das datas e dos dias da semana. Todavia, não é apenas com a utilização do calendário que a criança construirá a noção de tempo. 30 Os objetivos para a hora da roda abrangem duas categorias de conhecimento: os sócio-morais e os cognitivos. O primeiro diz respeito às discussões e atividades que envolvam as crianças a pensar sobre suas ações e sobre questões sociais e morais específicas, tentando distinguir o que é certo do errado, o bom do mau, o justo do injusto, a partir de uma situação vivenciada pelo grupo, uma situação hipotética e/ou uma história. Pode-se aproveitar a rodinha também para combinar algo com o grupo, planejar um passeio, registrar uma idéia ou um acordo. A rodinha possibilita também a escuta sensível do outro, a resolução de conflitos e a tomada de decisões coletivas, favorecendo a descentração das crianças e a construção de valores. O segundo objetivo pedagógico da rodinha é promover o desenvolvimento geral do raciocínio da criança e também favorecer a construção do conhecimento em uma variedade de conteúdos. Na rodinha, as crianças vão estabelecendo vínculos umas com as outras, podem se escutar, perceber as impressões do outro, construindo uma noção de pertencimento a um grupo determinado, ou seja, começam a construir uma identidade de grupo. Assim, é importante favorecer a escuta das músicas favoritas da turma, contar histórias, escutar casos, etc, mas sem perder de vista que a função pedagógica da rodinha é possibilitar a aproximação das crianças a determinados objetivos atitudinais e cognitivos. Nesse sentido, cabe ao professor, enquanto membro mais experiente do grupo, planejar os temas ou assuntos a serem abordados, conforme as demandas conceituais, procedimentais e atitudinais da classe, estimulando as crianças para a participação no diálogo com o grupo. É válido destacar que a duração da rodinha pode variar de 10 a 30 minutos, aproximadamente. Todavia, essa média pode ser alterada, conforme o envolvimento das crianças em torno do assunto. Caso o grupo não demonstre interesse pelo tema abordado, o educador deverá buscar uma estratégia para motivar as crianças ou adiar a discussão para outro momento, ou outro dia, tentando resgatar o mesmo no dia seguinte, se for pertinente. 4.2.5. Hora da atividade É na hora da atividade que as crianças, conforme a intencionalidade do professor, entrarão em contato, de forma mais sistemática, com as três categorias de conhecimento estudadas por Piaget, conforme destaca Kamii: Este espaço de tempo não é o momento de desenvolver conteúdo, nem é um mero passatempo, onde se faz ne- cessário manter as crianças ocupadas com uma tarefa. O objetivo geral da hora da atividade é a estimulação da autonomia intelectual, social e moral das crianças, bem como o incentivo à auto-regulação das suas ações. 31 1) conhecimento físico, que é construído pela ação contínua da criança sobre os objetos da realidade e na observação de suas reações. Por exemplo: cor, forma, peso, tamanho, textura, etc; 2) conhecimento lógico-matemático, construído a partir de ações mentais de abstração reflexiva sobre os objetos. Por exemplo: a percepção e a coordenação de informações entre os objetos, tipo, diferença, igualdade, maior, menor, etc; 3) conhecimento social, construído por convenção social. Por exemplo: 12 de outubro é o dia das crianças e 15 de outubro é o dia dos professores; quando o semáforo está vermelho, os carros devem parar para os pedestres, etc. A hora da atividade tem início geralmente ao final da rodinha, quando o professor apresenta ou anuncia as atividades especiais do dia (escrita, leitura, artes, desenho ou outras atividades envolvendo contagem e/ou representação numérica, jogos...). É importante que o educador disponibilize mais de uma opção de atividade para as crianças, deixando-as escolher, em alguns momentos, o que for mais interessante para elas. Todavia, é bom estimular a criança a participar e a conhecer as outras atividades que estão sendo propostas. É preciso favorecer o desenvolvimento da autonomia e o direito de escolha dos educandos, mas é imprescindível garantir que todos tenham acesso às experiências significativas que a escola lhes apresenta. Para estimular a livre-escolha e o desenvolvimento da autonomia intelectual e social, será importante o trabalho nos cantos de aprendizagem. Esses cantos referem-se a espaços onde ficam expostos materiais classificados segundo critérios específicos (materiais de leitura, de escrita, jogos, etc.) e correspondem às áreas do conhecimento ou às experiências estruturantes do universo infantil. São exemplos de cantinhos: da leitura, da matemática, dos jogos, da fantasia ou dramatização, de ciências e outros alternativos criados e denominados conforme as necessidades locais. 32 Nos planejamentos, os educadores devem especificar o melhor momento, na sua rotina diária, em que as crianças poderão trabalhar nos cantos que desejarem, com independência. Este momento pode situar-se no início da aula, após atividades de movimento em sala ou no parque ou como última proposta do dia. Essa é uma oportunidade que o professor tem para observar as interações do grupo, fazendo anotações que subsidiarão o processo de avaliação individual e ainda para dar uma atenção mais especial às crianças que estão necessitando de apoio e de desafios específicos. Os cantinhos podem ser organizados da seguinte maneira: cantinho da pintura : local com cavaletes e potes de tinta e pincéis, onde se exploram as diversas técnica de pintura. casa da boneca: conjunto de mesa, cadeiras, cama de boneca, penteadeira, arca de roupas, cabide ou ganchos, mesa de passar, pia e fogão construídos em tamanho especial para a criança usar, complementado pelos respectivos objetos: roupas de cama, de uso, de mesa, de bonecas, louça, talheres e panelas e um espelho vertical, indispensável, de 1mX050. cantinho da matemática: um local especial reservado para oferecer material específico às experiências matemáticas e respectivos jogos, que poderão ser levados para uma mesa próxima, depois de escolhidos pela criança e novamente guardados depois da brincadeira. cantinho das ciências: local destinado às experiências de ciências, onde devem ser expostas as lupas, ímãs e outros tipos de material relativo à área, incluindo objetos trazidos pelas crianças. Este local deve receber iluminação natural e, portanto, ficar próximo às janelas. Neste cantinho podem ser encontrados também terrários, aquários e um pequeno museu de insetos. cantinho da limpeza: lugar escolhido para guardar vassouras pequenas, pá de lixo, panos de limpeza, esponjas e material de limpeza. cantinho da leitura: espaço com tapete e almofadas para espalhar pelo chão e um pequeno acervo de livros.. cantinho da areia: - um tabuleiro grande armado sobre pés com 50cm de altura pode ser oferecido com areia lavadadentro da sala, quando as crianças já forem capazes de brincar sem derramar muita areia no chão. Na creche, onde as crianças se interessam mais em encher recipientes e esvaziá-los em outro lugar, transferindo areia, a atividade não é recomendável. A partir de cinco anos, o tabuleiro de areia é excelente recurso de construção e modelagem e possibilita a incorporação de noções de capacidade, espaço, superfície e volume. Brinquedos como pás, baldes, forminhas e peças de construção em tamanho reduzido (para fazer casas, túneis, prédios e estações de trem) fazem parte deste cantinho. cantinho dos brinquedos: devem existir para a criança dramatizar livremente. Dentre sugestões de brinquedos para sala podemos destacar 33 as ―pernas-de-pau’’ que podem ser feitas com duas latas (de leite em pó) transpassadas por duas alças que a criança segura com as mãos para levantar as latas quando anda e muitos outros brinquedos construídos com sucata para dar asas à imaginação da criança. Se a sala não for suficientemente grande, esses brinquedos podem ser oferecidos na área externa. cantinho do faz-de-conta: local onde se colocam kits com objetos que alimentam o jogo simbólico. Exemplos de kits; carrinho de supermercado infantil com embalagens de alimentos ou produtos de higiene pessoal e limpeza vazios e limpos; fantasias; maleta com ferramentas que imitem as utilizadas em oficinas mecânicas; caixa com utensílios de cozinha; bolsa com escovas e pentes de cabelo. O planejamento da montagem de uma completa sala-ambiente deve ser cuidadosamente feito a fim de que todas as variadíssimas atividades possam ser realizadas sem tumulto, apesar de toda a movimentação por elas exigida. São muitas as mesas e cantinhos onde as crianças devem ter a liberdade de se movimentar sozinhas, isto é, procurar a atividade que lhes estiver interessando. Além disso, ainda há atividades que, por si só, são mais movimentadas que outras. De acordo com o grau de movimentação, as atividades devem ser colocadas próximas ou distantes umas das outras para que o excesso de movimento de uma não perturbe a tranqüilidade necessária a outras. Há ainda que se observar na sala: área livre: a existência desse espaço na sala é indispensável para que se possam realizar as atividades de conjunto dirigidas pela professora, e são muitas as ocasiões durante o dia em que precisam ocorrer tais atividades: hora das novidades, chamada, calendário, histórias, jogos, experiências e planejamento das atividades. Os alunos precisam ficar próximos à professora, ouvindo-a falar em voz baixa. A proximidade física é indispensável para que se estabeleça um laço de intimidade afetiva, e, por isso, é imprescindível esta área livre para promover as situações de comunicação oral-afetiva. área movimentada:as pinturas a dedo e com pincel no cavalete são as mais movimentadas, com idas e vindas das crianças que se deslocam dentro da sala. área semi-movimentada: dramatização espontânea (na casa da boneca), construção, modelagem são atividades semi-movimentadas que, se possível, devem ficar afastadas da leitura, jogos e desenho. área calma - desenho, mesa de atividades enriquecidas, recorte e colagem, jogos (discriminação, memória, etc.), jogos de leitura e de matemática devem ocupar a área menos movimentada da sala. 34 4.2.6. Hora da Merenda A Educação Infantil da rede municipal de ensino de Cabo Frio tem seu cardápio elaborado e supervisionado por uma equipe de nutricionistas, com a finalidade de auxiliar as escolas na formação de hábitos alimentares. As escolas são orientadas a associar uma educação nutricional a uma metodologia lúdica e dinâmica capaz de transformar hora da merenda escolar em um recurso estratégico para uma aprendizagem interativa com os alimentos e com os companheiros. 4.2.7. Relaxamento 4.2.8. Hora da história Após o lanche, é saudável possibilitar às crianças um momento de transição para outra atividade ou experiência. Assim, é importante viabilizar alguns minutos de relaxamento, a partir de estratégias diversas: audição de música, massagem, atividade livre (exploração de jogos, brinquedos, massa de modelar, desenho livre, lei- tura espontânea), uma conversa informal, etc. A hora da merenda é uma opor- tunidade para as crianças compartilharem experiências, para trocarem idéias, para fazerem descobertas com e sobre o alimento, para conversarem com os colegas e não apenas um momento em que serão nutridas. As escolhas e os hábitos alimen- tares se iniciam antes da vida escolar, quando as crianças são intimamente conduzidas por seus gostos individuais, por influência da família e de outras relações sócio-culturais. 35 É muito importante contar histórias para as crianças, pois as mesmas divertem, informam, estimulam o imaginário, a fantasia e a criatividade; contribuem para a superação de conflitos emocionais, transmitem paz e alegria ao universo infantil. Assim, é imprescindível que o professor garanta, no cotidiano da sua sala de aula, um momento para que as crianças escutem histórias e tenham acesso ao prazer que a literatura proporciona. É importante também favorecer a livre expressão das crianças a respeito das histórias que gostaram ou escutaram, fazendo relatos orais, recontos, emitindo opiniões. 4.2.9. Saída Este é o momento da despedida diária do grupo, quando as crianças ficam aguardando a chegada dos seus familiares, com alegria, ansiedade ou uma grande expectativa. (Quem será que vem me buscar?)... Assim, é importante que nesses minutos que antecedem o término do tempo pe- dagógico, as crianças possam estar envolvidas com ocupações úteis: ouvir uma música, manusear livros ou gibis, participar de jogos coletivos e calmos, tipo telefone-sem-fio, etc. Pode-se solicitar que cada criança organize os brinquedos ou se arrume (organizar pasta, lancheira, pentear o cabelo, ajeitar o uniforme...) para rever o seu acompanhante ou a pessoa que a conduzirá ao lar. Não é saudável que os alunos fiquem sentados, parados, apenas esperando a chegada dos familiares... Quando a pessoa chegar, será imprescindível que o professor se despeça da criança com afetividade, destacando que a esperará no dia seguinte. Quanto às crianças que saem por último, devido à demora do seu acompanhante, é de fundamental importância que o professor lhes dê atenção, assegurando que a pessoa está a caminho. Nessa situação, no geral, as crianças têm a sensação de que foram abandonadas ou de que não são amadas pelos seus familiares. É necessário transmitir-lhes segurança, conversando ou acolhendo-as com carinho. É válido destacar que tanto a chegada quanto a saída são os cartões de visita da instituição e de cada professor. São os momentos em que os familiares podem observar o que acontece na escola. O que conseguem observar nesses minutos conta muito nas suas impressões sobre a dinâmica de trabalho desenvolvida em sala de aula. 36 E ix o s 5. Organização Curricular 5.1. Matriz Curricular De acordo com a matriz curricular apresentada como Anexo I do Regimento Escolar da Educação Básica da Rede Municipal de Ensino, aprovado pelo Parecer no 16/ 2007/CME , a organização curricular da Educação Infantil do município de Cabo Frio é a seguinte: Âmbitos de Experiência Creche II Creche III Creche IV Pré I Pré II 1 – Formação Pessoal e Social - Identidade e Autonomia *
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