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DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

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DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA, AUTO-ACUSAÇÃO FALSA E COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO
1. INTRODUÇÃO
Os crimes aqui analisados apresentam entre si uma característica em comum. Todos, quando praticados, atingem a Administração Pública na sua atividade de averiguar, investigar e solucionar conflitos de interesses, pois o agente movimenta indevidamente o aparato estatal, seja porque o fato a ser apurado não tenha existido, seja porque a pessoa a quem se imputa o fato não tenha sido seu verdadeiro autor.
Quando alguém provoca indevidamente a atividade do Estado o prejuízo é coletivo, atingindo não apenas uma pessoa determinada, mas também o corpo social. Acusar indevidamente alguém de um crime atinge, simultaneamente, a integridade do indivíduo falsamente acusado e a sociedade como um todo. Devemos lembrar que o Estado é um ente de natureza difusa e, portanto, eventual lesão sofrida por este reflete na população como um todo.
O presente trabalho pretende analisar os artigos 339, 340 e 341e o 344 do Código Penal, que estão entre os Crimes contra a Administração da Justiça. Veremos que não apenas a Justiça é atingida, como também a Administração Pública em sentido amplo. Ainda, faremos algumas críticas em relação ao tratamento dado ao bem jurídico tutelado, verificando se é possível considerar a Administração Pública como bem maior que a dignidade humana.
2. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA
Uma acusação falsa causa muita dor de cabeça. Mas enfrentar um processo por causa disso é ainda mais grave e, nesses casos, o denunciante comete o crime conhecido como “denunciação caluniosa”. O delito é tipificado no artigo 339 do Código Penal (CP) e, apesar do impacto negativo contra os indivíduos, é considerado um crime contra a administração pública e a Justiça. Ele pode ocorrer em investigações policiais e administrativas, em processos judiciais, em inquéritos civis e em ações de improbidade administrativa. 
O Habeas Corpus (HC) 25.593, relatado pelo ministro Jorge Scartezini, agora aposentado, definiu que a acusação falsa na denunciação caluniosa deve ser objetiva e subjetivamente falsa. Ou seja, contrária à verdade dos fatos e com a certeza, por parte do acusador, acerca da inocência da pessoa à qual se atribui o crime. O dolo, a intenção criminosa, é a vontade de que seja iniciada uma investigação policial ou um processo contra a vítima. Um simples pedido de apuração de irregularidades, sem a descrição de fatos definidos como crime, não seria o bastante para caracterizá-la, conforme entendimento do ministro Napoleão Nunes Maia Filho no HC58.961. 
O delegado de Polícia Civil e professor de direito penal e processo penal da Fadivale, Jeferson Botelho Pereira, destaca que a jurisprudência do STJ é no sentido de que a caracterização do crime depende de prévio conhecimento da inocência do acusado. Para o professor, o combate a esse delito deve ser severo. “Ninguém pode acionar a máquina judiciária para distribuir injustiças e semear discórdias, levando em conta que o agente passivo da ação penal é inocente”, observou. 
A denunciação é um crime distinto da simples calúnia e exige três elementos para ser configurada. O ministro Jorge Mussi explica, em seu voto no HC 150.190, que o primeiro elemento é a individualização da pessoa acusada e o segundo é a definição dos delitos falsamente imputados. O terceiro fator, e o mais importante, é que o denunciante tenha a ciência prévia da inocência do denunciado.
Naquele caso, a denúncia foi feita contra uma promotora pública do Rio de Janeiro e as falsas acusações eram de prevaricação e supressão de autos de processos. O ministro Mussi destacou que, para o delito da denunciação, não é sequer necessário que o ato se revista de formalidade, bastando que haja provocação oral da autoridade e o começo do inquérito. O ministro relator rejeitou também o argumento da defesa de que haveria litispendência com uma ação penal anterior, na qual a ré foi condenada por calúnia.
O ministro entendeu que houve dois delitos diferentes. No primeiro, a ré caluniou a promotora ao atribuir-lhe falsos delitos, sendo iniciada uma investigação administrativa que foi arquivada. Posteriormente, a denunciante encaminhou várias mensagens eletrônicas à Ouvidoria Geral do Ministério Público, à Corregedoria da Justiça e à Corregedoria da Polícia Militar do Rio do Janeiro e até a jornalistas, repetindo as acusações.
Dessa vez, chegou a ser iniciado procedimento administrativo contra a vítima. Para o ministro Mussi, mesmo as acusações sendo as mesmas, não houve litispendência, pois elas ocorreram em momentos diversos, foram dirigidas a autoridades diferentes e no segundo caso houve efetiva instauração de procedimento.
A diferença entre a calúnia e a denunciação foi um dos pontos mais importantes no julgamento do HC 195.955, relatado pelo ministro Napoleão Nunes Maia Filho. O réu no processo é um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul que acusou advogado de falsidade ideológica e de defender os maiores traficantes do estado. 
Houve uma ação penal contra o promotor. Nas suas alegações ao STJ, o promotor afirmou que o advogado não comprovou que ele saberia da falsidade das acusações. Também alegou que, caso ele fosse acusado, outra promotora pública presente no mesmo julgamento deveria ser apontada como coautora, já que ela apresentou, posteriormente, notícia-crime com a mesma acusação (falsidade ideológica) contra o advogado. 
Entretanto, o ministro Napoleão Nunes Maia Filho negou o pedido de habeas corpus por entender que a suposta ignorância sobre a falsidade das acusações não estaria clara nos autos e que o habeas corpus não seria a via legal adequada para tais questionamentos. Já na questão de coautoria, o ministro observou que a simples apresentação da notícia-crime não a caracterizaria. Além disso, a tipificação das condutas não era a mesma. 
No caso do promotor seria uma simples calúnia (artigo 138 do CP), mas a outra promotora cometeria a denunciação caluniosa se um processo fosse iniciado. O primeiro, destacou o ministro, é uma ação penal privada, ou seja, o atingido é responsável por iniciá-la. Já a ação penal por denunciação é pública incondicionada, pois o bem atingido é a própria administração da Justiça. “Não bastaria, ainda, simples ofensa; deve-se com tal notícia-crime dar ensejo à abertura de investigação ou processo”, concluiu. 
Inocência do acusado 
Saber da inocência do acusado antes da denúncia é a condição indispensável para a denunciação caluniosa e, se isso não é claro nos autos, não é possível tipificar o delito. Essa linha foi seguida pelo ministro Nilson Naves, agora aposentado, no Recurso em Habeas Corpus (RHC) 16.229. 
A ré acusou um homem pelo crime de ameaça, previsto no artigo 147 do CP. No curso do processo, entretanto, o Juizado Especial Criminal de Teófilo Otoni (MG) ponderou que os depoimentos seriam contraditórios e que a principal testemunha não foi encontrada. Determinou que fosse investigada a acusação de denunciação caluniosa contra a ré. 
No seu voto, o ministro Nilson Naves considerou que o acusado de ameaça foi absolvido pelo juizado especial por não haver prova suficiente contra ele. O órgão julgador não teria negado o fato e afastado a autoria, apenas considerou não ter provas o bastante. “A sentença que pronuncia o in dubio pro reo [na dúvida, em favor do réu], por si só, não há de servir de base à denúncia pelo crime do artigo 339 do CP”, asseverou o ministro. Para o magistrado, seriam necessários outros elementos para a ação penal, razão pela qual considerou a denúncia inepta. 
Vingança
A vingança é a motivação primordial para a maioria dos casos de denunciação caluniosa. Um exemplo é o RHC 22.101, da relatoria do ministro Og Fernandes. No caso, dois servidores do Fórum de Conselheiro Pena (MG) induziram duas mulheres semianalfabetas a assinar queixas contra uma juíza e três outros servidores da secretaria judicial da comarca. Uma das mulheres não sabia sequer assinar o próprio nome e usou impressão digital para autenticar a queixa. 
As vítimas foram acusadasde prestar mau atendimento ao público e dar preferência aos mais ricos, tudo isso com apoio da juíza. Não havia nenhuma outra queixa ou procedimentos anteriores contra elas. No recurso ao STJ, os réus afirmaram que não havia prova de que eles induziram as pessoas a assinar, que mal as conheciam e que não haviam assinado nenhum documento ou queixa contra as vítimas. 
No seu voto, entretanto, o ministro Og Fernandes afirmou que o recurso em habeas corpus só poderia ser provido se não houvesse nos autos indício da autoria ou da existência do delito. Mas os autos traziam depoimentos das queixantes afirmando que foram induzidas pelos réus com promessas de ver facilitados processos nos quais elas tinham interesse. Para o ministro relator, de acordo com o artigo 41 do Código de Processo Penal, haveria indícios suficientes para a ação penal. 
Outro caso de vingança foi retratado no HC 155.437, de responsabilidade do ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Um idoso acusou falsamente policiais militares de agressões verbais e físicas. Ele afirmou que teria recebido socos nos braços e abdômen, e por isso foi instaurado um inquérito policial no Comando Regional de Polícia Ostensivo (CRPO). Todavia, uma perícia comprovou que os ferimentos do idoso foram causados por ele mesmo. 
Os autos indicaram que o réu pretendia se vingar dos policiais, pois eles o prenderam em um crime anterior de desacato. No STJ, ele alegou que teria direito à redução do prazo de prescrição, com base no Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03). Também sustentou que a pena deveria ser fixada no mínimo legal. 
Entretanto, o ministro Napoleão considerou que o artigo 115 do CP só prevê a mudança no prazo de prescrição se o réu já tiver completado 70 anos na data da sentença. No caso, o réu teria apenas 63 anos. O ministro também entendeu que a denunciação caluniosa ficou claramente qualificada, justificando a pena acima do mínimo legal. 
Jurisprudência 
Além dos ataques às autoridades, o delegado e professor Botelho Pereira aponta que os casos em que mais ocorrem denunciações caluniosas são as brigas e desavenças conjugais, acusações falsas de empregador contra empregado para evitar ações trabalhistas e credores que acusam seus devedores inadimplentes de estelionato. “Outro caso ocorre na época das eleições, quando candidatos imputam falsamente aos adversários a prática de crimes eleitorais”, completou. 
O professor disse que o STJ firmou importante jurisprudência relacionada ao tema ao vedar o embasamento de ações penais exclusivamente em denúncias anônimas. Ele apontou que o artigo 229 do CP foi alterado pela Lei 10.028/00, resolvendo a celeuma sobre se o crime se aplicaria apenas no inquérito policial formalmente instaurado e no processo penal. O novo texto resolveu a questão estendendo a possibilidade para outras situações, como a investigação administrativa e o inquérito civil. 
Entretanto, não ficou claro se a denunciação se aplicaria aos casos de denúncia anônima, muitas vezes fomentadas pelo próprio agente estatal. “Ao vedar a simples denúncia anônima para embasar a ação penal, o STJ esclareceu grandemente a questão”, completou. O professor Botelho acredita que os legisladores ainda devem determinar a conduta com mais clareza, para não dar margem a interpretações judiciais divergentes.
3. AUTO-ACUSAÇÃO FALSA
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
Após a reforma da língua portuguesa, o “nomen juris” do delito não possui mais hífen. Portanto, autoacusação, e não auto-acusação. O dispositivo pune aquele que, perante autoridade, diz-se autor de crime inexistente ou praticado por outra pessoa. A autoridade pode ser tanto a policial quanto a judiciária, mas deve ser aquela com o dever legal de apurar as informações. Não é necessário, no entanto, que a confissão seja frente a frente, podendo se dar por escrito. O elemento subjetivo é o dolo. Portanto, deve o agente ter a intenção de enganar a autoridade. Ademais, deve ter ciência de que não é autor do crime ou de que o crime não existiu.
Ex.: João confessa, perante o delegado, que cometeu um homicídio, pois teria atirado em um homem em seu quintal. Contudo, ao chegar no local, descobre-se que, em verdade, João atirou em uma árvore, pensando se tratar de um homem. Evidentemente, João não deve responder pelo crime de autoacusação falsa, pois não teve o dolo de mentir sobre a prática de um crime inexistente.
Ademais, se o agente for coautor ou partícipe do crime, não ocorrerá o crime do art. 341. Sobre as contravenções, como a redação fala somente em “crime”, a autoacusação de contravenção inexistente - ou quando praticada por outrem - é fato atípico. Essa foi, sem dúvida alguma, a intenção do legislador, pois no art. 339 há causa de diminuição de pena quando se tratar de contravenção.
Trata-se de crime formal, que se consuma no momento em que a autoridade toma conhecimento da suposta confissão. Não é necessário que se pratique qualquer ato investigatório. Se, no mesmo ato, o agente também imputar falsamente a conduta a terceiro, haverá concurso de crimes: autoacusação falsa e denunciação caluniosa.
Coautoria: “Não há crime de quem chama a si exclusiva autoria de delito de trânsito praticado por filho menor, quando o agente foi coautor desse delito, ao permitir que o filho, sem habilitação, dirigisse ao seu lado” (TACrSP, RJDTACr 30/49).
Filho e noivo: “Comete o delito do art. 341 o filho que assume responsabilidade de crime praticado pelo pai, mas a pena deve ser de simples multa” (TJSP, RT 523/374). “Também comete, ao declarar à polícia que dirigia o veículo acidentado, para isentar a noiva, provocando a instauração de inquérito contra si” (TACrSP, Julgados 86/262). “Ré que se apresentou na DP alegando, falsamente, estar na direção de veículo automotor que se envolveu em colisão com outro automóvel, advindo lesões em adolescentes, quando, na verdade, o veículo era dirigido por sua filha menor (com 16 anos), não habilitada. Prova farta e segura a ensejar um juízo condenatório” (Rec. Crim. 71000823799, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Rel.ª Elaine Maria Canto da Fonseca, j. 23/6/2006).
Perante autoridade: “É imprescindível que o agente se acuse perante a autoridade e não perante outras pessoas ou populares” (TJSP, RT 536/295; TACrSP, RT 517/283). “Não é imprescindível a presença física da autoridade, bastando que a confissão tenha sido feita ao escrivão que a tomou por termo” (TACr, Julgados 69/318).
Autolesão: “Não pratica o crime do art. 341 o pai que assume a autoria de acidente de trânsito perante autoridade policial, para proteger o filho inabilitado que fora o responsável e o único a lesionar-se, pois o Direito Penal não pune a autolesão” (TACrSP, RJDTACr 30/49).
Falso testemunho: “Não há falar-se em falso testemunho, mas sim no crime do art. 341, se o agente assume a autoria de delito cometido por terceiro, seu parente, na tentativa de evitar a ação penal contra aquele” (TJSP, RT 770/553).
Fato atípico: “Não se tipifica o delito do art. 341 se era penalmente atípico o fato de que se autoacusou falsamente” (TACrSP, Julgados 85/59 e 407).
4. COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO
Crime contra a administração da Justiça, consistente em usar de violência, ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral.
Dispõe o artigo 344 do Código Penal, em hipótese de crime contra a Administração da Justiça: 
Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência. 
Segundo Heleno Cláudio Fragoso (Lições de direito penal, volume III,5ª edição, pág. 521) inspirou-se o Código Penal no artigo 149 do Código Penal polonês. 
O ilícito em discussão, que não foi inserido nos códigos penais anteriores do Brasil, tem por objeto de tutela a administração da justiça, enquanto é perturbada pela violência a atividade judiciária e a normalidade da função jurisdicional. Da mesma forma aplica-se o artigo 342 do Código Penal nos casos de procedimento atinente a Comissão Parlamentar de Inquérito. 
Qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo desse crime, quer tenha interesse próprio na demanda que se processa, ou não. Sujeitos passivos são o Estado e a pessoa que vem a ser atingida pela violência. 
Incrimina-se a ação quando houver exercício de violência ou de grave ameaça contra juiz, membro do ministério público, autoridade policial, réu, autor, ou qualquer pessoa que seja chamada a intervir no feito. Mas já se entendeu que não há crime no caso da ameaça feita a testemunha que já prestara o seu depoimento (RT 656/282). Basta que a ameaça seja grave capaz de incutir na vítima um injustificável receio para possibilitar a configuração do delito. Por sua vez, a simples advertência não basta para caracterizar o delito (RT 598/293). Ainda se decidiu que “a advertência feita pelo advogado de defesa à vítima do estelionato de que se não recebesse dinheiro a título de reparação do dano poderia vir a ser processada não caracteriza o delito do art. 344 do CP. A perspectiva de se ver envolvido em processo pode assustar, especialmente as pessoas mais simples, mas não chega a constituir a grave ameaça a configura o delito”(RT 691/312). Ainda se entendeu que a simples altercação entre reclamado e reclamante, no interior do edifício da Justiça do Trabalho, por motivo relacionado com reclamação trabalhista em curso, exclui a tipificação do delito, máxime quando o juiz do trabalho esclarece ter sido o fato posterior à audiência, sem nenhuma influência no pronunciamento judiciário (TRF 1ª Região, Ap. 4.925, DJU de 16 de setembro de 1996). Saliente-se, outrossim, decisão do Superior Tribunal de Justiça, REsp 24.544, DJU de 16 de novembro de 1992, onde se salientou que “ na advertência feita por advogado a testemunha 
no sentido de retratar-se para não ser processada por falso testemunho, embora não se exija no tipo que o mal ameaçado seja injusto, a gravidade da ameaça dependeria de ser o testemunho realmente falso, hipótese em que o advogado estaria agindo nos limites do exercício regular da profissão”. É irrelevante que o mal constante da ameaça seja justo. Disse Magalhães Noronha (Direito penal, volume IV, 1986, pág. 374) que ainda que justo, “ele se torna injusto pelo objetivo do agente”. A valoração da gravidade da ameaça deverá fazer-se com vistas à pessoa do ameaçado: aquilo que constitui ameaça séria e grave para alguém, poderá não sê-lo para um outro, como disse Paulo José da Costa Jr.(Comentários ao código penal, volume III, 1989, pág. 560). 
Não só durante o processo criminal, como ainda no decorrer de inquérito policial, pode haver a coação incriminada no artigo 344 do Código Penal (RJTJSP 103/431). 
O crime é formal e se consuma com o emprego da violência ou grave ameaça, independendo de resultado ulterior. Mas já se decidiu que o crime não se desfigura pelo fato de terem as pessoas ameaçadas confirmado em juízo os depoimentos anteriores (RJTJESP 33/301). Mas é admissível a tentativa. Para sua consumação não depende de o ameaçado ceder à coação(RJTJSP 103/431). Se for obtido aquilo que se pretende, o crime será considerado exaurido. 
O elemento subjetivo é o dolo específico (exigindo especial fim de agir), vontade consciente dirigida ao emprego de violência ou de grave ameaça, para o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, em demanda judicial ou submetida ao Juízo Arbitral. Esse interesse pode ser de qualquer natureza, seja moral ou material, que venha a ser relacionado com a demanda. Haverá esse crime na ameaça ao juiz e ao advogado para evitar o prosseguimento de execução civil com a venda do bem penhorado em hasta pública (RT 499/320); na coação ao órgão ministerial destinada a não apresentar denúncia, na ameaça à testemunha para que não diga a verdade etc. Entendeu o Tribunal de Justiça de São Paulo, RT 420/62, que “o delito do art. 344 do Código Penal exige, para a sua configuração, o dolo específico, que se caracteriza pelo fim de favorecer interesse próprio ou alheio. Tratando-se de testemunha, consiste em obrigá-la a depor falsamente. Se esta já havia deposto, quando feita a ameaça, não há que falar, portanto, na infração em tela”. 
A pena é de 1(um) a 4 (quatro) anos de reclusão e multa. Com isso poder-se-á falar na concessão de benefício de suspensão condicional do processo, se satisfeitos os pressupostos do artigo 89 da Lei 9.099/95, uma vez que a pena mínima in abstrato não ultrapassa a 1(um) ano. 
Outro ponto a discutir diz respeito a imposição de prisão preventiva para casos em que incida tal conduta. Ora, é conhecida a prática de coação do réu sobre o juiz, as testemunhas, perito, vítima, no curso do processo, de forma a obter a distorção da verdade. Mas, se dirá que a pena máxima não é superior a quatro anos, e, daí, não se impõe a prisão cautelar, com os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal. 
Para a prisão preventiva persistem as hipóteses do artigo 312 do Código de Processo Penal acrescentadas do requisito da garantia da ordem econômica, como se vê da redação abaixo com a redação dada pela Lei 12.403/2011: 
A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria 
Não se nega que o artigo 313 do Código de Processo Penal não oferece solução genérica às hipóteses de prisão preventiva, quando diz que, no inciso I, nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4(quatro) anos ela será admitida. E como ficam os crimes como coação no curso do processo, cometidos com grave ameaça contra testemunhas, vítima? Isso serve para derrubar a tese de que não há prisão preventiva para crimes com pena máxima inferior a quatro anos, pois fugiria ao razoável. Acresça-se com o exemplo do tipo penal lançado na Lei 12.015/2009, satisfação da lascívia mediante presença de criança ou adolescente (artigo 218-A do CP). A pena naquele crime é de reclusão de 2(dois) anos a 4(quatro) anos. Poderá ser caso de, satisfeitos os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal, hipótese de prisão preventiva, não se aplicando a liberdade provisória, do que se vê do artigo 321 do Código de Processo Penal. 
Veja-se a gravidade do fato do réu que, em audiência de processo-crime, ameaça de morte uma testemunha, estando a praticar o crime tipificado no artigo 344 do Código Penal. Nesse caso, não há que falar no crime previsto no artigo 147 do Código Penal que é notadamente subsidiário (RT 752/573). 
Por certo, um réu que vem a coagir testemunhas, no curso do processo, a bem da garantia da ordem pública e do correto cumprimento da lei penal, pode ser objeto de prisão preventiva, estarrecendo que fique em liberdade provisória e inviabilizando o próprio exercício da jurisdição penal. 
Há, como aduziu Júlio Fabbrini Mirabete (Manual de direito penal, volume III, 22ª edição, pág. 415), um tipo especial de constrangimento ilegal em que não se exige para a sua caracterização, que o coacto se submeta ao sujeito ativo. A conduta típica é constituída pelo emprego de violência ou grave ameaça contra a autoridade, parte ou qualquer outra pessoa que intervém no processo. Para haver o crime a ameaça deve acarretar à pessoa visada um temor reverencial ao ponto de render sua vontade ao que o agente determina (RT 430/357, 598/293). Deve a ameaça ter o poder de intimidar seriamente o homem médio, pouco importando que o mal prometido não seja injusto, uma vez que a ameaça como meio do crime não coincide com o crimede ameaça (RT 492/278). 
Praticada a coação antes da instauração do inquérito policial, desclassifica-se o crime para o artigo 147 do Código Penal (RT 656/282). 
Havendo a violência, envolvendo lesões corporais, homicídio, ocorre o concurso material, uma vez que a lei determina que seja cominada á pena a violência exercida. Mas já se entendeu que a reiteração das ameaças para conseguir o mesmo objetivo, não configura uma continuidade delitiva, mas crime único (RT 512/356; RF 267/288, dentre outros). Na linha de Celso Delmanto e outros (Código penal comentado, 6ª edição, pág. 709), a contravenção por vias de fato ficará absorvida. 
Registre-se aqui que o Anteprojeto de Reforma do Código Penal previu uma forma de coação indireta no curso do processo, realizada em jornal, rádio, televisão, ou qualquer outro meio de comunicação, antes da intercorrência de decisão definitiva em processo judicial, por meio de comentários que se destinam a constranger ou exercer pressão relativamente a declarações de testemunhas ou a decisão judicial (artigo 352). 
5. CONCLUSÃO
No decorrer do presente trabalho, foi possível constatar que esses crimes se revela prática extremamente nociva, contra a administração da justiça. Analisou-se, inicialmente, os conceitos de cada um desses crimes.
 Tal ilícito, conforme visto, consiste, basicamente, na conduta. No que tange à objetividade jurídica, viu-se que o crime em questão é considerado pluriofensivo, pois afeta a regular administração da justiça e representa ameaça à liberdade e à honra do sujeito denunciado. Discorreu-se, no momento seguinte, acerca dos fatores mais relevantes dos crimes, denunciação caluniosa, autoacusação falsa e coação no curso do processo de modo a aprofundar o estudo do tema.
 Nessa perspectiva, constatou-se que o delito em apreço exige o elemento subjetivo doloso, existindo, porém, certa divergência doutrinária e jurisprudencial relativamente às figuras do dolo eventual e do dolo superveniente. Foi possível compreender, além disso, que a consumação dos crimes opera-se com a instauração de investigação ou com a propositura de ação penal e que a forma tentada é factível. 
6. REFERENCIA 
http://www.migalhas.com.br/migalhas_busca.aspx?q=denuncia%c3%a7%c3%a3o caluniosa. Acesso em 29/05/17 as 14:00hs 
https://jus.com.br/artigos/41418/um-caso-de-crime-de-coacao-no-curso-do-processo. Acesso em 29/05/17 as 15:00hs 
http://advogadomarcelotoledo.blogspot.com.br/2010/11/da-ameaca-e-da-coacao-no-curso-do.html. Acesso em 29/05/17 as 16:00hs 
https://www.cers.com.br/noticias-e-blogs/noticia/stj-e-possivel-a-pratica-do-crime-de-coacao-no-curso-de-procedimento-investigatorio-criminal;jsessionid=GqBtNmOJujy9BYCWAwDd3trD.sp-tucson-prod-10. Acesso em 20/05/17 as 22:00hs 
http://www.tjdft.jus.br/institucional/jurisprudencia/informativos/2014/informativo-de-jurisprudencia-n-o-295/coacao-no-curso-do-processo-2013-incabivel-a-absolvicao. Acesso em 20/05/17 as 22:30hs 
http://ww3.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20110624161444794. Acesso em 29/05/17 as 22:40:00hs 
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm. Acesso em 29/05/17 as 22:50hs 
http://exclusivoensino.com.br/wp-content/uploads/2013/07/indice-codigopenalcomentado.pdf. Acesso em 29/05/17 as 22:55hs 
http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/sala-de-imprensa/noticias_prsp/30-04-13-trf-3-aceita-apelacao-do-mpf-e-condena-acusado-de-denunciacao-caluniosa. Acesso em 29/05/17 as 23:00hs

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