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Nutrientes e ciclos biogeoquímicos Universidade Estadual do Rio Grande do Sul Disciplina Bioquímica Marinha Prof. Ester W. Loitzenbauer 1. Introdução Importância do nutrientes nos oceanos • Fitoplâncton base produtiva dos oceanos • Esses nutrientes são utilizados até que seja limitantes e o crescimento seja inibido. Necessitam de certos elementos para crescer Nutrientes Quais são os nutrientes? • Uma maneira simples de verificar a disponibilidade e a necessidade das plantas marinhas por vários elementos pode ser feita examinando a composição do +itoplâncton versus a concentração média na água do mar. • Os nutrientes mais importantes são: nitrogênio e fósforo. • Alguns organismos (diatomáceas) tem frústulas siliciosas e necessitam de sílica. • Fe e Mn também pode ser limitantes do crescimento. • Outros elementos são necessário ao crescimento, mas não limitantes: Cu, Zn, Co e Mo. • Também são necessários alguns componentes orgânicos, como vitaminas. 2. Fósforo Ciclo do fósforo (P) X Ciclo do fosfato (PO43-) Fósforo • Presente nas formas dissolvida e particulada: • Água superficiais – fósforo orgânico devido a decomposição de plantas e excreção animal; • Carboidratos fosfatados; • Fosfolipídios – biomembrana; • Fosfonucleotídeos – DNA e RNA • E suas formas hidrolizadas; • Energia química - ATP Fósforo • Forma inorgânica – formas ionizadas do H3PO4: • H3PO4 → H+ + H2PO4- • H2PO4- → H+ + HPO42- • HPO42- → H+ + PO4-3- Podem se unir com Ca2+ e Mg2+ ● As várias formas do ácido fosfórico na água, solução NaCl 0.7M e na água do mar (S=35) em função do pH. Fósforo • Fósforo é o 10º elemento mais abundante na crosta – 0,1% • Principal mineral: APATITA (95% do P); • Ca10(PO4)6X2 • X = F-, OH-, Cl- • Rochas sedimentares: francolita (depositos terrestres), fluor-apatita carbononata (depositos marinhos); • 0,02-1,2% das rochas ígneas; • Produzida por organismos (ossos, dentes…) • hidroxiapatita Guano • Rochas de fosfato podem ser formadas pelo guano – acúmulo de excrementos de aves ou morcegos. (tb N e K). • Sumidouros de fosfato: • Além da absorção pelo fitoplâncton... • As formas de fosfato podem se associar com material detrítico e minerais de argila; • Em ambientes de CaCO3, muito do PO43- é absorvido aos minerais carbonatados; Precipita no fundo oceânico Depósitos de Fosforita no fundo oceânico • Poucos cm a dezenas de metros; • Concentrados: • Plataformas continentais com alta produtividade e intensa ressurgência; Distribuição do Fósforo Perfis de P orgânico e inorgânico no Canal da Mancha inverno e verão. Perfis de fosfato nos oceanos Atlântico e Pacífico. Ciclo do Fosfato terrestre x Marinho • Oceano: a principal fonte de PO43- é re- mineralização dos sedimentos de fundo; • Áreas de ressurgência. • PO43- raramente limitante da produção primária, N acaba antes… • Ambientes aquáticos terrestres – importante fonte é o intemperismo das rochas e aporte antropogênico; • PO43- pode ser mais limitante que N; • Maior disponibilidade de N!! Perturbação humana no ciclo do Fosfato • Aumento de concentração: • Poluição difusa – fertilizantes; • Detergentes e algumas aplicações industriais; • Quantificação do impacto: • Taxa de mineração 3. Nitrogênio Nitrogênio • N2; • Compostos inorgânicos: • NO3- (1 a 500 µm); nitrato • NO2- (0,1 a 50 µm); nitrito • NH3 e NH4+ (1 a 50 µm); amônio / amônia • Óxido nitroso; • Hidroxilamina; • Íon hiponitrito. • Compostos orgânicos: • Dissolvidos ou particulados; • O íon amônia NH4+ pode existir em duas formas, dependendo do pH: NH4+ ↔ H+ + NH3 • pH 8.1: 95% do total é NH4+ 5% é NH3 Tóxico para peixes • Em águas poluídas, uma quantidade significativa de NO3- pode ser obtida pelo N orgânico. • A conversão de NO2- em aminoácidos, requer a formação de NH3 e • Conversão do amônio em ácido glutâmico: HOOC-CO-(CH2) + NH3 + 2NADPH → HOOC-CH(NH)2CH2CH2COOH + 2 NADP + H2O Ácido quetogutárico Ácido glutâmico 20 outros aminoácidos são formados por transminação • NO3- é regenerado pela oxidação bacteriana do nitrogênio orgânico; • Quando as células morrem, ocorre uma autólise rápida, que libera NH3 e PO4-3; • A decomposição dos compostos orgânicos de N em NO3- ocorre em inúmeros passos; • Uma pequena parte do nitrogênio orgânico particulado pode resistir ao ataque bacteriano e pode acumular nos sedimentos; Ciclo do nitrogênio 1) Fixação do Nitrogênio • Conversão do N2 em qualquer outro composto de N. • Em geral, é a conversão em amônia (N2 → NH4+); • Bactérias em plantas terrestres e algas azuis-verdes, mofo e fermento podem fixar nitrogênio; • Rhizobium associada a leguminosas (ambiente terrestre) • Nos oceanos, as cianobactérias são as maiores fixadoras de N2, especialmente Trichodesmium; • Processo redutor: espécies que fixam devem ser anaeróbicas ou induzir um ambiente redutor. Ciclo do nitrogênio • Como Fe é necessário para unir a enzima fixadora nitrogenase (potente redutor=ferrodoxina) ao N2 (ferro- proteína) • a fixação de N2 é maior no Atlântico que no Pacífico (devido ao Fe da poeira do Sahara) (Howells e Geesey, 2010); • ATP (energia) é consumida no processo: N2 + 6e-+12 ATP +12H20 ➔ 2NH4+ + 12ADP +2 Pi +4H+ • Outro tipo de fixação do N2: Espontânea • Pequenas quantidades de N2 podem ser fixadas pelos relâmpagos: N2 + O3 ➔ N2O (óxido nitroso) + O2 N2O ➔ NO (óxido nítrico) + N • A radiação UV na troposfera gera óxidos de nitrogênio (principalmente NO2), que forma HNO3 com a água da chuva: 3NO2 +H2O ➔ 2HNO3 (ácido nítrico)+ NO 2) Nitri+icação: • É a oxidação do NH3 em NO3-; • O processo gera NO2- como produto intermediário e é carregado pelas bactérias na coluna de água e sedimentos; • Isso justifica a presença de NO2- nas águas de ressurgência do Peru; • As bactérias também são capazes de reduzir NO3- em NO2-; • Se pensava que essa redução ocorria em águas com alta concentração de matéria orgânica, mas hoje se sabe que ocorre em águas com baixa concentração de O2 (Millero, 2013). NH4+ → NO2- → NO3- Ciclo do nitrogênio NH4+ + 3/2 O2 ➔ NO2- + H2O + 2H+ NO2- + ½ O2 ➔ NO3- • Muitos organismos utilizam esse processo como fonte de energia. • É a principal forma de N absorvida pelos organismos! Ciclo do nitrogênio 3) Desnitri+icação • A maior parte da desnitrificação ocorre durante o crescimento bacteriano em águas anóxicas; NO3- → NO2- → N2O ou N2 • O NO3- é utilizado como receptor de elétrons ao invés do O2; • Isso ocorre em águas com O2 < 2µM; • Contudo, é difícil de detectar variações na concentração de N2 na água devido a grande quantidade de N2 dissolvido nos oceanos (a partir da atmosfera). Ciclo do nitrogênio • Existem formas intermediárias, mas o N2 corresponde a 80-100%; 4) Redução do Nitrato (Amoni+icação) • A redução do nitrato: NO3- → NH4+ Ocorre em áreas com baixa concentração de O2 pela ação das bactérias; • A redução acaba em NH4+ • A geração de NH4+ favorece o processo anamox; • A maior parte do NH4+ gerado é absorvido pela biota; • Parte pode ficar dissolvido na água; • Excreção animal libera NH4+. No ambiente terrestre pode volatizar Ciclo do nitrogênio 5) Processo Anamox: • Em águas com baixas concentrações de O2; • Descoberto em plantas de tratamento efluentes; • É a reação do nitrito com a amônia para formar o nitrogênio: NO2- + NH4+ → N2 Ciclodo nitrogênio Ciclo biogeoquímico do N Perfis de concentração de NO3- nos oceanos Atlântico e Pacífico 4. A razão nitrogênio-Fósforo 4. Razão Nitrogênio x Fósforo • A razão de N:P assimilado pelo fitoplâncton nos oceanos é de 15:1; • Valores mais baixos são encontrados em zonas costeiras: • Inverno no Canal da Mancha – 19:1 • Razão P:N:C no fitoplâncton é de 1:16:106 • P e N são limitantes com relação ao C; Valores típicos da razão N:P nos oceanos Atlântico Norte e Pacífico • Redfield (1934) estudou a relação entre O2, CO2, NO3- e PO43- na água do mar baseado na composição do fitoplâncton. • Essa relação prevê a razão de consumo de O2 x produção de nutrientes causada pela oxidação biológica; • Razão P:N:C:O = 1:16:106:138 • Oxidação de plantas (fitoplâncton) mortas: (CH2O)106(NH3)16(H3PO4) + 138 O2 → 106CO2 + 16HNO3 + H3PO4 5. Silício Silício • O silício está presente nos oceanos como silicato (SiO4); • Na fase sólida = sílica; • Ácido ortosilícico (H4SiO4) – principal forma nos oceanos; • Ácido silícico – Si(OH)3 – nome genérico dados aos compostos de silício contendo grupos de óxidos ou hidroxilas; • Esponjas, radiolários, silicoflagelados e diatomáceas utilizam sílica. • A água do mar possui grande variedade de materiais silicosos; • A origem destes é o intemperismo das rochas e é transportado aos oceanos pelos rios e pelo vento; • Ex.: Quartzo, feldspato, minerais de argila; • Ventarolas também contribuem para o aporte de sílica; • Usado por diatomáceas e radiolários para seus esqueletos de opal (uma forma não cristalina de SiO2 hidratada); • Quando esses morrem, precipitam no sedimento, formando oozes de diatomáceas; • Oozes de diatomáceas são muito abundantes no oceano Antártico. Oozes de diatomáceas • A sílica presente como material em suspensão é: • 50% em média, forma inorgânica (15 a 60%); - CaCO3 • Durante blooms de diatomáceas na Antártida, concentrações de até 100µM de particulado biogênico são encontradas; • Como os oceanos estão insaturados em SiO2, a precipitação de particulados de sílica vão se dissolver em águas profundas, contribuindo para o aumento de sílica na coluna de água; Perfis de sílica nos oceanos Atlântico e Pacífico • Diatomáceas utilizam ácido silícico Si(OH)4 para formar suas frústulas – fundamentais no ciclo do silicato nos oceanos; • Transformando-a em sílica amorfa (SiO2.nH2O) nas frústulas – sílica biogênica ou opal biogênica; • Processos inorgânicos também podem ser formados por processos inorgânicos – sílica litogênica ou opal litogênico; • Diferenças do ciclo do silicato em relação aos outros nutrientes? • Ácido silícico é utilizado quase que exclusivamente pelas diatomáces; • Os materiais silicosos não passa de forma significativa através da cadeia trófica; • A regeneração do opal em ácido silícico é devido a dissolução e não a degradação biológica. • A sílica está presente na água do mar somente na forma inorgânica – ácido silícico. • Diatomáceas: • Relativamente novas na árvore evolucionária; • Apareceram pela primeira vez no período Jurássico (185 milhões de anos atrás); • A distribuição das diatomáceas em novos ambientes ocorreu no Cretáceo (144 a 65 milhões de anos atrás); • Se tornaram abundantes no Eoceno (55 milhões de anos atrás); • Hoje existem 10 000 espécies reconhecidas de diatomáceas; • São extremamente eficientes em retirar o ácido silícico na água do mar. • Dominam o ciclo do silicato nos oceanos! • As diatomáceas são muito importantes para a produtividade biológica dos oceanos: • 1/3 a ½ da produção primária ; • São desproporcionalmente importantes para a exportação de matéria orgânica da superfície dos oceanos – ciclo do carbono; • Teorias já estabelecidas dizem que as frústulas das diatomáceas tem a importância de proteção contra predadores; • Realmente, estudos recentes mostram que a sua estrutura é de difícil quebra; • Células feitas de sílica podem requerer menos energia do que células feitas de outros materiais; • A sílica também pode tornar as diatomáceas mais hábeis em retirar CO2 da água do mar; • Possuem anidrase carbônica extracelular – que cataliza a conversão de íon bicarbonaro (HCO3-), que é mais abundante que o CO2. 7. Ferro Ferro • O ferro ocorre em duas valências: • íon férrico (oxidado) Fe III; • Íon férroso (reduzido) Fe II. • Importância em 2 processos: • Bactérias e fitoplâncton que necessitam do Fe como pré- requisito para o crescimento celular; • Conservação de energia pela redução do Fe III para manter sua atividade metabólica. • Íon férrico serve como um receptor de elétrons que termina oxidado. • Processos no qual o ferro é necessário: • Reações da fotossíntese; • Enzimas cruciais a fixação do nitrogênio; • Estrutura de algumas proteínas. • As reações de redox de dissolução e precipitação de minerais contendo ferro podem ter grande influência na sorção/ se sorção e co- precipitação / liberação de vários componentes como fosfato e metais traço; • Origem do Fe para os oceanos: • Rios, • Deposição eólica, • Ação hidrotermal submarina e • Aporte glacial; Fluxos globais de ferro dissolvido (Fediss), ferro altamente reativo (FeHR) e ferro total (FeT), das fontes: rios, glacial, atmosférica e hidrotermal. A mistura estuarina serve como o maior sumidouro de ferro dissolvido e altamente reativo. Ferro como limitante da produção primária • Virtualmente, todos os organismos precisam de ferro para seus pigmentos respiratórios, proteínas e enzimas; • O perfil do Fe na coluna da água segue o padrão do N, P e Si... • Relação com os ciclos glacial – interglacial; • Hipótese do Fe: • Explica o decréscimo do CO2 atmosférico durante as eras glaciais relacionando com o aumento da deposição eólica de Fe – resultando em aumento da PP e retirada de CO2 da atmosfera pelos oceanos. Comparação das concentrações de Fe e CO2 nos últimos 160.000 anos em uma camada de gelo Antártica revela forte correlação negativa Nutrientes, assim como a luz, pode ser limitante ao crescimento de diatomáceas ao redor do mundo Referências Bibliográficas • GARRISON, T. 2010. Oceanography: Aa Invitation to Marine Science, 7ª ed., Belmont: Brooks/Cole. 582p. • EMERSON, S. R.; HEDGES, J. I. Chemical Oceanography and the Marine Carbone Cycle. New York: Cambridge University Press, 2008. 453p. • MILLERO, J.F. 2013. Chemical Oceanography. 4a ed. Boca Raton: Taylor & Francis. 571p. Artigos interessantes • Capone, D. G. , Knapp, A. N. 2007 Oceanography: A marine nitrogen cycle +ix? Nature 445. doi: 10.1038/445159a • Capone, D.G. 1997. Cyanobacterium trichodesmium, a globally significant marine bacteria, Science 276, 1221. • Steinberg, P.A., Millero, F.J., Zhu, X.R. 1998. Carbonate system response to iron enrichment. Marine Chemistry, 62, 31.
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