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COMO APRENDEMOS MATEMÁTICA Dienes de Lima Brandão 1 Resumo: Esta pesquisa, de estudo bibliográfico, teve como objetivo geral analisar pesquisas que apontassem processos para o desenvolvimento do conhecimento Matemático, buscando responder ao seguinte problema: Quais são os fatores que influenciam o processo de aprendizagem da Matemática? Após estudos, com base nos autores pesquisados, concluiu-se que o processo de conhecer ou de aprender se dá por meio da experiência do ser com seu meio, social/biológico, e que cabe o professor propiciar o ambiente ideal, para isso é necessário o conhecimento do conteúdo e pedagógico. Palavras-chave: Conhecimento Matemático. Aprendizagem. Ensino de Matemática. INTRODUÇÃO As pesquisas e investigações que tratam das questões relacionadas com o processo de ensino-aprendizagem, em especial da Matemática tem evoluído nos últimos tempos. Sendo que as pesquisas realizadas na área de Educação Matemática assinalam que a matemática ensinada nas escolas, bem como a forma como ela vem sendo ensinada, não acompanharam as demandas da sociedade atual (ROSA E OREY, 2012). Assim, dentro dessas novas pesquisas e tendências de ensino em Educação Matemática este artigo tem como problema motivador pesquisar quais são os fatores que influenciam o processo de aprendizagem da Matemática? E pretende-se responder esse problema analisando pesquisas que apontem processos para o desenvolvimento do conhecimento Matemático, sendo esse o objetivo geral do trabalho. Ao longo deste trabalho, então, foi pesquisado os métodos e processos significativos no desenvolvimento do conhecimento Matemático. DEFINIÇÕES A discussão teórica sobre o conhecimento matemático nos leva a uma reflexão epistemológica sobre a sua origem e características básicas (FALCÃO; LESSA, 2005). 1 Aluno do curso de Licenciatura em Matemática do IFSP – Câmpus Birigui Sabemos que “conhecer significa ter uma representação mental do mundo” (ROSA; OREY, 2012, p. 264), e que pela perspectiva piagetiana essa representação é chamada de pensamento, se inicia no período sensório-motor ou pré-linguístico e se forma a partir dos invariantes operatórios dos esquemas, em um processo de natureza adaptativa. Já na perspectiva sócioculturalista de Vigotski o pensamento forma-se a partir de ferramentas mediacionais simbólicas, não apenas por processos biológico-adaptativos, mas sim pelo aporte simbólico proporcionado a pessoa em seu meio sociocultural imediato, que ocorre de forma concomitante ao desenvolvimento da pessoa e se inter- relacionam de forma complexa, formando um processo único. Contudo ficaremos com uma concepção pós-piagetiana que nos diz que a função simbólica não seria uma condição necessária e nem suficiente, mas que contribui decisivamente para o processo de conceptualização (FALCÃO; LESSA, 2005). Dentro desta perspectiva Lopez e Donlon (2001) e Roska (2003 apud ROSA E OREY, 2012, p. 264) garantem que “o conhecimento é uma coleção organizada de dados, fatos, axiomas, leis, regras de inferência e conceitos heurísticos, que são aplicados para resolver situações-problema encontradas no cotidiano.” Podemos concluir, então, que o conhecimento se dá: de um lado por meio dos seus processos biológico-adaptativos, assim como qualquer outro ser vivo e por outro, pela interação sociocultural, e que ao professor, responsável por ensinar, cabe proporcionar um ambiente onde se faça necessário que o aluno se adapte, ou seja, resolva os problemas que lhe são impostos para bem viver e que por meio de uma interação sociocultural possa melhor e mais facilmente adquirir os conhecimentos necessários para essa adaptação. A partir desta conclusão, então, podemos perguntar: Quais são as possíveis formas de se adquirir esses conhecimentos necessários para nosso dia a dia? E o professor o que deve saber? Para responder essas e outras perguntas, vamos discorrer sobre tipos de conhecimento e como são adquiridos e usados, abordando um específico e necessário ao professor, o conhecimento pedagógico. CONHECIMENTO TÁCITO, EXPLÍCITO E PEDAGÓGICO. Conforme definições supramencionadas, o conhecimento se dá também pelo ambiente, por meio de uma interação social e biológica, mas como isso se dá? Rosa e Orey (2012, p. 265) nos dizem que: “para que um novo conhecimento seja construído, temos que negociar, diariamente, com os nossos conhecimentos explícito e tácito”. O conhecimento tácito seria aquele conhecimento que está enraizado em nossos pensamentos e buscamos quando necessário, segundo Nonaka; Takeuchi (1997 apud ROSA e OREY, 2012, p. 265) “está embebido na experiência pessoal, é subjetivo, contextualizado e análogo”. No caso da matemática, o conhecimento das ferramentas e dos conceitos matemáticos, dos processos e maneira de resolver certos problemas é o conhecimento tácito. Para Ernest (1998b apud ROSA e OREY, 2012, p. 267) os elementos fundamentais do conhecimento tácito são: “o simbolismo e a linguagem matemática, os métodos, as operações simbólicas, as estratégias, os procedimentos e as técnicas que, frequentemente, são aplicáveis na resolução de problemas”. Conhecimento este que pode ser exposto por forma de modelos matemáticos. Já o conhecimento explícito, ainda, segundo Rosa e Orey, (2012, p. 267) é: “sistematicamente transmitido, comunicado e compartilhado, pois se expressa através das palavras, dos números, dos dados, das fórmulas matemáticas e dos procedimentos codificados”. Portanto, o conhecimento explícito é algo que se pode buscar ou obter para ser utilizado. Para Nonaka e Takeuchi (1997 apud ROSA e OREY 2012, p. 268) o conhecimento matemático explícito é “comunicado pela linguagem acadêmica proposicional, e é demonstrado por outras representações simbólicas como as definições, as hipóteses, as conjeturas, os axiomas, os teoremas e as teorias”. O que podemos obter do que acima foi discorrido é que esses dois tipos de conhecimento, que se assemelham muito aos tipos de concepções de Piaget e Vigotski sobre conhecimento, também, se completam, na medida em que um é necessário para aquisição do outro, ou no mínimo se complementam, como explica Rosa e Orey (2012, p. 275) “depreendemos, então, que o conhecimento evolui, naturalmente, entre os dois extremos do continuum, através das conversões que ocorrem entre os conhecimentos explícito e tácito”. Dito isso, lembramos que um dos personagens responsáveis por propiciar o conhecimento, é o professor, e que cabe a ele propiciar um ambiente onde ocorram as interações necessárias para construção do conhecimento. Shulman (1986 apud RIBEIRO 2012, p. 593) sugere a “necessidade de um conhecimento do conteúdo que é exclusivo para o ensino”, ou seja, um conhecimento pedagógico. Ainda segundo o autor os professores, logicamente, precisam ter um conhecimento sobre o assunto (conteúdo), pois caso contrário, não conseguiram ajudar os estudantes a aprendê-lo. Contudo, conhecer o assunto não é suficiente para ensiná-lo, é necessário que os professores sejam capazes de usar a matemática que é necessária no trabalho de ensinar. Os professores precisam também do saber pedagógico, que conforme Libâneo (2015, p. 637) “[...] diz respeito ao conhecimento que resulta da reflexão confrontada entre o saber da matéria e os saberes da educação e da didática.” Esses saberes pedagógicos são divididos por Ribeiro (2012, tradução nossa) em KCS (Knowledge of Content and Students, ou seja, conhecimento do conteúdo e de estudantes) e KCT (Knowledge of Content and Teaching, traduzindo, conhecimento do conteúdoe de ensino), conforme a figura abaixo. Figura 1 - Domínios do conhecimento matemático para o ensino. Em síntese, Ball, Thames e Phelps (2008 apud RIBEIRO, 2012, p. 542) apontam que: reconhecer uma resposta errada é um conhecimento comum do conteúdo (CCK); dimensionar rapidamente a natureza de um erro, especialmente aqueles que não são familiares, é um conhecimento especializado do conteúdo (SCK); ter familiaridade com os erros comuns e saber por que diversos alunos os cometem é um conhecimento de conteúdo e de estudantes (KCS); selecionar uma abordagem de ensino que seja eficiente para superar certas dificuldades e/ou explorar certos aspectos de um conteúdo é um conhecimento do conteúdo e de seu ensino (KCT). O interessante a ser percebido é que parte do conhecimento pedagógico é justamente a compreensão de como se dá o conhecimento e de como propicia-lo e o professor, segundo Libâneo, (2015, p. 637) “precisa dominar os conteúdos que ensina, mas especialmente, precisa desenvolver uma competência epistemológica para compreender a natureza do conhecimento, sua gênese e sua estrutura”. CONCLUSÃO O que podemos concluir, de acordo com os autores pesquisados, é que o processo de conhecer ou de aprender se dá por meio da experiência do ser com seu meio, social/biológico, e que isso ocorre quando há uma interação complexa entre o conhecimento tácito e explícito, cabendoao professor, em sua tarefa, propiciar o ambiente ideal e que para isso é necessário mais que apenas o conhecimento do conteúdo, mas um conhecimento analítico e didático sobre o assunto a ser ensinado. Sendo esse assunto conhecimento do conteúdo (conhecimento disciplinar) versus conhecimento pedagógico (conhecimento pedagógico-didático), muito bem abordado por Libâneo (2015). O estudo contribui tanto para o pesquisador, quanto para qualquer outro aluno e/ou professor de matemática em um ganho de entendimento sobre o que se entende por conhecimento e como ele acontece, consequentemente como deve ocorrer à prática do ensino. Outro ganho é sobre o entendimento sobre o conhecimento pedagógico, sua importância para bem ensinar. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS FALCÃO, J. T. R. LESSA, M. M. L. Pensamento e Linguagem. Uma Discussão no Campo da Psicologia Matemática. Psicologia: Reflexão e Critica. v. 18, n. 3, p. 315- 322, 2005. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/prc/v18n3/a04v18n3.pdf >. Acesso em 11/15. LIBÂNEO, J. C. Formação de Professores e Didática para Desenvolvimento Humano. Educação & Realidade. Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 629-650, abr./jun. 2015. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/edreal/2015nahead/2175-6236-edreal-46132.pdf>. Acesso em 11/15. RIBEIRO, A. J. Equação e Conhecimento Matemático para o Ensino: relações e potencialidades para a Educação Matemática. Bolema. Rio Claro, v. 26, n. 42B, p. 535-557, abr. 2012. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/bolema/v26n42b/07.pdf>. Acesso em 11/15. ROSA, M. OREY, D. C. A Modelagem como um Ambiente de Aprendizagem para a Conversão do Conhecimento Matemático. Bolema. Rio Claro, v. 26, n. 42A, p. 261-290, abr. 2012. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/bolema/v26n42a/12.pdf>. Acesso em 11/15.
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