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Aula 09 Análise das Observações TCC PEDAGOGIA

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Aula 09 Análise das Observações
Disciplina: TCC PEDAGOGIA
(p.2)
OBJETIVO DESTA AULA
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Aprender como analisar os dados provenientes das observações;
2. compreender o que é e como se desenvolve a descrição densa dos dados encontrados, e como articulá-la ao referencial teórico;
3. receber orientações quanto à redação do capítulo de "Apresentação e análise dos resultados".
(p.3)
Na aula passada, vimos que, seja na entrevista ou na observação, o resultado da coleta de dados é um texto produzido pelo pesquisador. 
Na entrevista, esse texto é a transcrição das perguntas e respostas produzidas no diálogo entre o entrevistador e o entrevistado sobre o qual o pesquisador vai se debruçar procurando identificar os núcleos de sentido, certas categorias que organizam o discurso dos entrevistados em relação ao nosso tema de estudo.
(p.4)
Trabalho de Campo – Interpretação
Na observação, o resultado do trabalho de campo geralmente é um conjunto de textos produzidos em um caderno, com o relatos detalhados da experiência vivida e das considerações feitas pelo pesquisador, geralmente com algumas inserções de falas colhidas junto aos seus interlocutores. 
Mas muitas vezes não é só isso. Se foi essa a sua escolha metodológica, talvez agora você tenha diante de si, além de um caderno de anotações, vários materiais diferentes como fotografias, desenhos, textos, documentos e outros materiais de pesquisa que você foi recolhendo, produzindo e acumulando durante seu período de imersão no campo.
(p.5)
A análise produzida a partir de uma observação pode ser uma tarefa nada fácil, mas o primeiro passo, como sempre, é organizar o seu material de pesquisa. Antes de tudo, crie um sistema para organizar os dados. Dependendo do seu tema, pode ser importante organizar todo o material segundo uma ordem cronológica ou considerar certas categorias de informações ou tipos de documentos. Seja como for, você primeiro vai ter que fazer esse movimento para poder ter uma dimensão do conjunto do material e de como poderá começar a analisá-lo.
(p.6)
Para analisar o fenômeno ou contexto observado, é preciso antes de mais nada  fazer uma descrição do que foi visto e vivenciado. Mas, o que significa descrever o que você observou? 
Descrever o que foi visto é relatar um fato, uma situação. No mundo acadêmico, esse relato deve buscar ser o mais claro e objetivo possível. Desse modo, é possível fazer uma descrição objetiva?
Por tudo o que já discutimos aqui sobre o lugar, o papel do pesquisador, nas ciências sociais, parece que não.
(p.7)
Isso significa que, quando se faz o relato de uma observação, você não está simplesmente descrevendo o que aconteceu: você está narrando a sua percepção de tudo aquilo que você observou. Essa, portanto, é uma interpretação possível. Não é a única nem a mais verdadeira.
Entretanto, se não há como fazer uma descrição completamente objetiva, se não existe uma descrição verdadeira ou correta, se não existe um único modelo ou forma de fazer essa descrição, você pode estar se perguntando: ora, então o que é que eu posso fazer? O que é consenso hoje na comunidade científica é que, se não é possível fazer uma descrição objetiva, única ou verdadeira, há que se fazer uma descrição densa!
Veja uma explicação sobre DESCRIÇÃO DENSA. Clique no ícone PDF.
Ler em: Aula 09 (anexo) Descrição Densa TCC PEDAGOGIA
Ou logo abaixo:
Descrição densa 
 
É um termo cunhado pela primeira vez por Gilbert Ryle, mas que se tornou conhecido a partir dos trabalhos do antropólogo Clifford Geertz, principalmente em seu texto Uma Descrição Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura (1989). Para exemplificar o que significa uma descrição densa, Ryle traz uma situação hipotética, em que dois garotos piscam rapidamente o olho direito: 
 
Vamos considerar, diz ele, dois garotos piscando rapidamente o olho direito. Num deles, esse é um tique involuntário; no outro, é uma piscadela conspiradora a um amigo. Como movimentos, os dois são idênticos; observando os dois sozinhos, como se fosse uma câmara, numa observação “fenomenalista”, ninguém poderia dizer qual delas seria um tique nervoso ou uma piscadela ou, na verdade, se ambas eram piscadelas ou tiques nervosos. No entanto, embora não retratável, a diferença entre um tique nervoso e uma piscadela é grande, como bem sabe aquele que teve a infelicidade de ver o primeiro tomado pela segunda. O piscador está se comunicando e, de fato, comunicando de uma forma precisa e especial: (1) deliberadamente, (2) a alguém em particular, (3) transmitindo uma mensagem particular, (4) de acordo com um código socialmente estabelecido e (5) sem o conhecimento dos demais companheiros. Conforme salienta Ryle, o piscador executou duas ações — contrair a pálpebra e piscar — enquanto o que tem um tique nervoso apenas executou uma — contraiu a pálpebra. Contrair as pálpebras de propósito, quando existe um código público no qual agir assim significa um sinal conspiratório, é piscar. Ê tudo que há a respeito: uma partícula de comportamento, um sinal de cultura e — voilà! — um gesto. 
Todavia, isso é apenas o princípio. Suponhamos, continua ele, que haja um terceiro garoto que, “para divertir maliciosamente seus companheiros”, imita o piscar do primeiro garoto de uma forma propositada, grosseira, óbvia, etc. Naturalmente, ele o faz da mesma maneira que
pagina2
 o segundo garoto piscou e com o tique nervoso do primeiro: contraindo sua pálpebra direita. Ocorre, porém, que esse garoto não está piscando nem tem um tique nervoso, ele está imitando alguém que, na sua opinião, tenta piscar. Aqui também existe um código socialmente estabelecido (ele irá “piscar” laboriosamente, superobviamente, talvez fazendo uma careta — os artifícios habituais do mímico), e o mesmo ocorre com a mensagem. Só que agora não se trata de uma conspiração, mas de ridicularizar. Se os outros pensarem que ele está realmente piscando, todo o seu propósito vai por água abaixo, embora com resultados um tanto diferentes do que se eles pensassem que ele tinha um tique nervoso. (GEERTZ, 1989, p.17)
(p.8)
A descrição densa, portanto, não é a descrição do que é óbvio ou explícito, apenas daquilo que os olhos enxergam. Ela envolve a capacidade do pesquisador de articular tudo o que vê em seu contexto as coisas, o ambiente, as ações, as interações, a intencionalidade dos sujeitos, os significados sociais e culturais dessas ações/interações, etc. e a partir daí construir uma interpretação consistente. Como no exemplo de Ryle, não basta descrever o movimento da pálpebra.
(p.9)
É preciso relacionar esse movimento com tudo que está em jogo: quem pisca, por que pisca, quando, onde e como, o que essa piscadela significa culturalmente, qual intencionalidade de quem piscou, de que maneira o grupo interpreta e reage. Perceber tudo isso é fundamental para podermos construir uma análise da “piscadela” que nos diga se o que foi observado tem mais a ver com uma piscada sarcástica ou com um tique nervoso - e qual as implicações de ser uma ou outra.
(p.10)
Fazer a ANÁLISE de uma OBSERVAÇÃO é construir uma interpretação ampla que seja capaz de relacionar um universo complexo de dados e produzir um significado a partir deles.
(p.11)
Para fazer a sua análise, é importante levar em consideração os seguintes aspectos do fenômeno e/ou contexto que você está analisando.
Os Sujeitos
Quem são as pessoas que fazem parte do contexto ou do fenômeno que você está estudando? É importante descrever estes sujeitos, suas características, como se portam, como se identificam - e são identificados - o que lhes aproxima, o que lhes diferencia e qual o seu lugar no ambiente que você está analisando (não se esqueça de que é sua responsabilidade ética deve preservar o anonimato dos sujeitos pesquisados).
As interações e relações entre os sujeitos
Esses sujeitos não estão só dispostos no ambiente, eles agem. Para entender um contexto, é primordial dizer o que as pessoas fazem. 
Porém, estes sujeitosque agem, não agem sozinhos. Eles interagem.
Um aspecto importante quando analisamos um fenômeno ou um contexto é descrever as relações entre os sujeitos que vivem e convivem ali. Como se relacionam? Como interagem uns com os outros? Existe algum tipo de hierarquia? Há alguma "regra" que orienta essas interações?
Toda relação entre seres humanos traz alguns aspectos importantes em que você pode se ater ao fazer a sua descrição. As relações entre sujeitos dentro de uma escola, por exemplo, são também atravessadas por relações de poder. O lugar que cada um ocupa dentro dessa instituição já nos fala um pouco sobre isso. Ser um estudante, um professor, um técnico-administrativo, um coordenador pedagógico ou um diretor coloca as pessoas em diferentes lugares e pode-se dizer muito sobre como elas vão se relacionar.
(p.12)
Ao descrever uma discussão entre duas pessoas dentro da escola, você precisa identificar que lugar elas ocupam nessas relações, pois dois alunos discutindo é algo bastante diferente da discussão de dois professores, ou de um diretor e um responsável, ou um professor e um aluno. Vale lembrar aqui também que esse "lugar" que cada um ocupa nas relações sociais dentro da escola não é um simples reflexo do seu "posto” ou do seu "cargo".
Um diretor novo e inexperiente pode ser muito frágil na relação com uma equipe antiga e muito bem articulada. Um aluno com grande capacidade de argumentação pode deixar uma professora sem reação. Portanto, para entender - e poder analisar -, as relações entre os sujeitos dentro do espaço escolar - ou qualquer outro que você decida investigar - é importante ser capaz de perceber o lugar que cada um ocupa e como cada um ou cada grupo age dentro desse jogo.
(p.13)
As práticas sociais
Para além de uma sequência de ações e interações, é importante perceber o quanto elas se constituem em práticas sociais, ou seja, em um determinado modo de agir e lidar com determinadas situações. Fazer filas na hora da entrada, cantar o hino nacional ou mesmo rezar antes da aula, o empurra-empurra no lanche, dividir meninos e meninas na hora da educação física não são atos aleatórios, mas falam sobre todo um conjunto de representações, valores, crenças, contextos culturais que orientam e se materializam nessas ações.
(p.14)
Estrutura física
Todo esse jogo não acontece suspenso no ar. Ele acontece em algum lugar. E a despeito do que pode parecer, a estrutura física pode definir a forma como as coisas acontecem em um determinado espaço. Muitas vezes nós ignoramos esse aspecto, sem nos darmos conta de como ele pode ser determinante. Como pensar uma aula, sem levar em consideração o espaço onde ela acontece?
Uma parede descascada, um teto com goteiras, um espaço recém-reformado ou uma sala toda decorada de trabalhos feitos pelos alunos não são apenas o lugar onde a aula acontece, mas são parte da própria aula. A estrutura física de uma escola mostra sua acessibilidade (se tem escadas ou rampas), pode nos dizer sobre relações de gênero (a divisão dos banheiros ou que espaços são usados por meninos e por meninas), expressar hierarquias (uma sala grande para a direção e um espaço apertado para todos professores) ou mesmo prioridades na política educacional (uma quadra nova e uma biblioteca abandonada).
Tudo isso mostra que a forma como organizamos o espaço tem relação de como agimos e significamos aquele espaço. Portanto, descrevê-lo e interpretá-lo é uma dimensão fundamental na construção da sua análise.
(p.15)
Ideias, valores e representações
As relações e práticas sociais - e até mesmo a forma como o espaço está organizado - não podem ser pensadas sem levar em conta as ideias, os valores e representações que lhes alimentam - e são alimentadas por elas. Quando descrevemos um determinado fenômeno/situação que foi observado, é importante trazer para a análise as ideias, valores e representações que circulam nesse contexto.
Eles dão um sentido próprio àquela experiência. Para que você consiga fazer uma análise consistente, é importante identificar que ideias são essas e como elas são utilizadas no jogo de relações que acontece diante de você, entendendo como elas se expressam através de discursos ou práticas dos sujeitos - individual ou coletivamente. Você pode buscar inferir esses sentidos a partir da sua observação, mas eles só podem ser identificados com segurança a partir dos discursos dos sujeitos. É nesse momento que você vai começar a cruzar os dados do campo.
Você vai precisar tomar outros registros como referência para a sua compreensão daquilo que está observando. Acompanhar os alunos na sala de aula mostra-lhe o que acontece, mas a interpretação dos desenhos ou das redações dos alunos é que vai lhe ajudar a compreender como eles estão se sentindo em relação a um aprendizado ou quais são suas dificuldades. Você observa a relação entre os professores, mas somente a conversa com cada um sobre suas crenças e angústias é que vai esclarecer suas motivações ou falta de motivações.
(p.16)
O seu lugar como pesquisador
Quando pensamos na análise de observações, não há como deixar de lado tudo o que já discutimos aqui sobre o lugar do/a pesquisador/a na sua relação com aquilo que pesquisa. Em qualquer observação, você pesquisador (mesmo que escondido atrás de um espelho) não está só olhando, mas também faz parte daquele contexto observado.
Na construção da sua análise, é importante deixar claro o seu lugar como pesquisador. Qual a sua relação com o fenômeno ou contexto que você está descrevendo? Como essa relação pode afetar a sua análise? Você já viveu alguma imersão nesse mesmo contexto ou fenômeno em outro momento? Quando e como isso aconteceu? Como essa experiência interfere na sua percepção hoje?
(p.17)
Assim, descrevendo e analisando a experiência vivida em campo, progressivamente, você vai interpretando os dados e construindo a sua leitura daquela realidade/problemática.
Mais uma vez vale destacar que, em um trabalho de conclusão de curso, não se espera que você produza novas interpretações que deem conta de explicar um determinado contexto ou fenômeno social.
O importante é que você seja capaz de analisar e articular os dados de forma a extrair deles elementos que sejam úteis para uma compreensão melhor do fenômeno estudado, relacionando o que você encontra no campo com o que já existe de referencial teórico na sua área.
(p.18)
Agora você deve estar se perguntando: depois disso tudo, como vou escrever o resultado de minhas análises e interpretações?
Certamente, cada pesquisador tem um estilo, mas vamos dar algumas dicas que podem ajudar você a estruturar o texto do capítulo de “Apresentação e análise dos resultados”, de sua monografia.
Um bom começo é você retomar o problema de pesquisa, as questões norteadoras e as opções metodológicas que fez. Assim, você situa o leitor revendo com ele o que você queria investigar e como resolveu que seria a sua investigação.
Depois, você pode descrever como se deu o trabalho de campo: como você chegou ao seu campo de pesquisa? Como aconteceu o processo de observação? Qual foi o seu nível de interferência naquilo que você observou? Você ficava sentado/quieto no fundo da sala, interagia com outras pessoas eventualmente ou era você o próprio condutor das atividades? Como você lidou com essa relação? Quem foram as pessoas entrevistadas? Quando e como você realizou as entrevistas? Que outros materiais você coletou ao longo de sua permanência no campo? Procure explicar qual era a sua intenção com cada instrumento, ou seja, o que você pretendia observar e o que questões procurou conversar com os entrevistados.
Feito isso, comece a descrever os seus resultados. Para isso, é sempre muito produtivo apresentar os dados a partir de categorias mais gerais que reúnam suas análises para observações e entrevistas ao mesmo tempo. Nessa apresentação, vai ter momentos em que os dados das observações e entrevistas vão mutuamente confirmar uma mesma ideia, mas em outros eles podem conflitar.
Pouco a pouco, você vaiconstruindo o texto. Apresentando uma categoria, exemplificando com a fala de alguns entrevistados ou com uma situação observada. Procure considerar na estruturação do seu texto: por um lado as categorias construídas a partir da análise, por outro as questões que nortearam o estudo. Lembre-se de que neste momento você começa a responder às inquietações que mobilizaram a sua pesquisa.
Desde a elaboração dos instrumentos de coleta de dados, as questões vistas aqui serviram de referência para você, que  foi a campo buscar as informações que precisava para respondê-las. Então, responda-as.
(p.19)
Veja como pode ser construída essa articulação entre teoria e dados empíricos, relatos de observações e falas de entrevistados, na adaptação de um trecho da monografia “O FRACASSO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA E O PROJETO DOS CIEPS NA TEORIA DE DARCY RIBEIRO”, de Vanessa Laurindo Thes, apresentada como TCC no curso de Pedagogia da UNESA, em 2010. 
Clique no icone PDF e veja uma exemplo.
Ler em: Aula 09 (anexo) trecho monografia TCC PEDAGOGIA
Ou logo abaixo:
Todo o projeto dos CIEPs proposto por Darcy Ribeiro se apresenta não apenas como um projeto pedagógico, mas possui inúmeras características políticas. Para Darcy, a escola é promotora de transformação social quando, partindo de um profundo respeito pelo universo de seus alunos, serve de ponte entre os conhecimentos práticos que ele já possui e o conhecimento formal exigido pela sociedade letrada, tornando-os aptos a defenderem por si mesmos seus direitos como cidadãos autônomos. Assim ela exerce, como instituição política e social, uma ação educativa que “ultrapassa os muros da escola” (p. 48). 
Dessa maneira, a cultura específica da comunidade que cerca a escola deveria ser o centro de todo o planejamento e execução do projeto político e pedagógico da instituição: 
No dia-a-dia dos CIEPs, a educação não pode mais ser dissociada das manifestações culturais e artísticas, sobretudo daquelas que já se desenvolvem no interior da própria comunidade. Afinal, elas são a ponte viva que leva a comunidade para dentro da escola – e vice-versa (RIBEIRO, 1986, p. 49). 
Atualmente, a Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96 que regulamenta a educação oferecida nas escolas afirma em seu artigo 26° que: 
Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela (BRASIL, 2010). 
O projeto original dos CIEPs dedica capítulos inteiros à valorização da relação articulada entre comunidades e escola, tanto que, ao planejar este projeto, Darcy Ribeiro (1986) destina espaços físicos na escola para que a comunidade se percebesse parte dela e, ainda mais, servida por ela. Em um de seus discursos aos professores, ele destaca: “Em cada instante é fundamental que sua autoridade não se coloque em desrespeito ao saber do aluno e de sua comunidade” (p. 57), acreditando que é papel de toda instituição escolar recuperar seu papel político e social, deixando de reclamar da dura realidade em que vive a maioria de seus alunos e comprometendo-se com ela a fim de transformá-la. 
Darcy (p. 39) ressalta que: 
A escola pertence à sua comunidade e deve tratá-la com respeito. Lamentavelmente, a maioria dos pais (...) se sentem humilhados e intimidados pela escola. Os pais não devem ser chamados à escola para serem repreendidos pelos professores, mas sim para discutir com estes sobre a educação de seus filhos. (RIBEIRO, 1986, p. 39). 
Sobre isso, há um episódio observado que precisa ser relatado: 
Logo após o som do sinal, que avisa aos pais e aos alunos que já está na hora de fazer fila, tocar, a diretora, que sempre faz a oração do Pai-Nosso com as crianças antes delas subirem para as aulas, começou a discursar a respeito de alguns boatos que surgiram em meio à comunidade sobre incidentes que, ocorrendo dentro da escola, prejudicariam sua reputação. 
Neste momento, ela questionou algumas pessoas da comunidade, que moram mais perto, a fim de ouvir deles se aquilo que estava sendo dito, correspondia à realidade do cotidiano da escola. Ao ouvir inúmeras respostas negativas, a diretora propôs-se, diante de todos os presentes, a deixar as portas de sua sala aberta para ouvir as reclamações dos pais, a fim de evitar que estas calúnias gerassem desconfortos maiores no relacionamento da escola com a comunidade, como por exemplo, ações judiciais por calúnia e difamação. (Registro no caderno de campo, em abril de 2010) 
Relacionando a proposta de Darcy com a realidade descrita acima, é possível estabelecer reflexões, afinal nenhuma comunidade atacaria desta maneira uma escola que coopera com sua realidade e da qual faz parte como cooperador ativo. Provavelmente, vem daí a falta de comprometimento dos pais com a escola, à medida que não se percebem como sujeitos valorizados dentro dela, percebem-na desvalorizada em sua realidade sociocultural. 
 Tomando a frase de uma das professoras entrevistadas, é possível entender a atual realidade da escola aqui apresentada. Ao ser questionada a respeito da relação da instituição com a comunidade e sobre a valorização desta dentro da instituição, ela afirma: 
 Esta é uma escola municipal, que funciona como qualquer outra. Que lida com os pais e com os outros em volta como a maioria das outras. Mantemos contato com eles através de reuniões, conversas informais na hora da entrada, da saída [Pausa]. Tudo igual a outras escolas em que já trabalhei (LIIGP, professora). 
Partindo do estudo de caso feito neste período de observação e realização de entrevistas, foi possível estabelecer algumas considerações a respeito da distância que existe entre o CIEP planejado por Darcy Ribeiro e a atual situação da escola estudada. Nela, apenas o ambiente físico é o mesmo. Os amplos espaços, os corredores, a biblioteca e outros espaços ainda permanecem de pé, mesmo depois de décadas e com poucos reparos e manutenção. Todavia, ao se analisar o aspecto político e pedagógico torna-se evidente a descaracterização da escola em relação ao projeto original defendido por Darcy Ribeiro. 
(p.20)
Bem, como você pode ver, embora exija o esforço intelectual para por em diálogo os diferentes conhecimentos obtidos em seu estudo, a elaboração de um texto bem estruturado e fundamentado está ao alcance de qualquer estudante de graduação. Não é tarefa fácil, mas é neste momento que o trabalho vai ganhar a sua autoria. 
A forma como você vai construir essa análise, interpretação, e traduzi-la na forma de um texto acadêmico é só sua. Cada pesquisador tem um estilo, uma assinatura. Agora, é a sua vez de deixar a sua marca. Comece a trabalhar sobre o seu material. Procure trocar suas experiências, dificuldades e dúvidas com seus colegas e professor-tutor nos fóruns. E mãos à obra!
(p.21)
Agora chegou a sua vez! Faça um exercício de fixação sobre o conteúdo estudado na aula de hoje e fique atento a todas as informações.
(p.22)
ATIVIDADE PROPOSTA
1- Qual é o resultado do trabalho de observação?
Coleta de relatórios 
CoLeta de pesquisas bibliográficas
Coleta de documentos
GABARITO: Coleta de relatórios
(p.23)
2- Após a observação, o primeiro passo para começar  a analisar os dados da pesquisa é:
Organizar as informações
Planejar próxima visita
Arquivar todo material coletado
GABARITO: Organizar as informações
(p.24)
SINTESE DA AULA
Nesta aula, você:
Aprendeu como analisar o resultado das observações de campo;
compreendeu que uma análise consistente depende da descrição densa dos dados encontrados, articulada ao referencial teórico;
recebeu orientações quanto à redação do capítulo de "Apresentação e análise dos resultados".
O QUE VEM NA PRÓXIMA AULA
Na próxima aula, você vai estudar:
A redação das considerações finais;
Orientações sobre a redação e apresentação do texto final;
Padrões para formatação de TCC na UNESA;
Normas técnicas para trabalhos acadêmicossegundo a ABNT.

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