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1 FARMACOLOGIA – PROVA 2 Anestésicos locais ANESTESIA LOCAL A anestesia local causa perda de sensibilidade dolo- rosa em uma área circunscrita do corpo causada por bloqueio da condução nervosa do estímulo doloroso ao SNC. Ela provoca perda da sensibilidade dolorosa sem a perda de consciência. Quando o anestésico local é aplicado adjacente a um tronco nervoso, ele bloqueia tanto fibras sensitivas quanto fibras motoras. Sua remoção é seguida de re- torno completo e espontâneo da condução nervosa. DOR É uma experiência emocional desagradável, geral- mente iniciada por um estímulo nocivo e transmitida por uma trama neural especializa ao SNC, onde é interpre- tada como tal. Os receptores da dor são terminações nervosas sen- sitivas, mas também se encontram em quimio e meca- norreceptores. São sensíveis a substâncias algésicas como bradicinina, histamina, acetilcolina e prostaglan- dinas. ANESTÉSICOS LOCAIS São substâncias capazes de diminuir a sensibilidade, motricidade e função autonômica através do bloqueio da geração e propagação do potencial de ação em teci- dos eletricamente excitáveis. CONDUÇÃO NERVOSA O potencial elétrico da membrana celular nervosa, em seu estado de repouso, é de -70 a -90 mV. Isso porque os íons potássio permanecem na parte interna, man- tendo-a negativamente carregada e os íons sódio e clo- reto na externa, mantendo-a positivamente carregada. Na despolarização, a qualquer momento apenas uma pequena porção da fibra nervosa encontra-se des- polarizada. Essa despolarização se propaga por toda a membrana nervosa. Por fim, na repolarização, há re- torno ao estado de repouso em 3 a 4 milissegundos. HISTÓRICO A cocaína foi isolada em 1860, a partir da Erythroxylum coca, uma planta originária das monta- nhas andinas com propriedades anorexígenas e anesté- sicas. Em 1884, foram descobertos seus efeitos no SNC e ela passou a ser utilizadas como anestésico local na of- talmologia e na odontologia. Em 1885, Halmsted a utili- zou para anestesia em nervo periférico e espinhal. A procaína, em 1905, foi o primeiro anestésico local a ser fabricado, cuja estrutura é baseada na estrutura da cocaína. ESTRUTURA QUÍMICA Os anestésicos locais possuem três partes. A porção hidrofílica permite sua injeção nos tecidos. A porção li- pofílica permite sua difusão através da bainha nervosa. A cadeia intermediária, por sua vez, une ambas as por- ções e, de acordo com a estrutura química, permite clas- sificar o anestésico local em ésteres ou amidas. As alterações estruturais nos anestésicos locais alte- ram a sua toxicidade, potência, capacidade de difusão e profundidade, bem como a duração do seu efeito farma- cológico. MECANISMO DE AÇÃO Os anestésicos locais são aminas, que constituem bases fracas e pouco solúveis em água. Eles são estabili- zados em sais ácidos, geralmente cloridratos, que os tor- nam mais estáveis e hidrossolúveis. Nos tecidos (pH neu- tro), esse sal ácido sofre hidrólise. Agem bloqueando os canais de sódio na face interna da membrana, o que cul- mina na falha do desenvolvimento do potencial de ação. Com isso, tem-se o bloqueio da condução nervosa da dor. O bloqueio adequado do nervo é mais difícil de ob- ter-se em tecidos inflamados ou infectados devido ao número relativamente pequeno de moléculas capazes de atravessar a bainha nervosa (pH ácido causa dissoci- ação desses sais) e ao aumento da absorção das molé- culas restantes de anestésico nos vasos dilatados desta região. VASOATIVIDADE Todos os anestésicos locais apresentam algum grau de vasoatividade, a maioria deles dilatando o leito vas- cular. A cocaína é o único anestésico local que produz vasoconstrição. ANESTÉSICO LOCAL “IDEAL” Deve, de preferência, não irritar os tecidos nem cau- sar qualquer alteração permanente da estrutura ner- 2 vosa. Deve possuir baixa toxicidade sistêmica, breve pe- ríodo de latência e ação longa o suficiente, mas com curto período de recuperação. É importante que ele tenha potência para induzir anestesia completa sem o uso de concentrações tóxicas e seja isento de produzir reações alérgicas. Prefere-se que ele seja estável em solução e prontamente passar por biotransformação no organismo e seja estéril ou ca- paz de ser esterilizado pelo calor sem deterioração. CLASSIFICAÇÃO Como já dito, são divididos segundo o grupo ao qual pertence sua cadeia intermediária. São do grupo éster a procaína, tetracaína, propoxicaína, etc. São do grupo amida a bupivacaína, levobupivacaína, ropivacaína, etc. FARMACOCINÉTICA Sua absorção depende do fluxo sanguíneo. Quanto maior a vascularização, maior a absorção (não desejá- vel). A distribuição vai depender do grau de lipossolubili- dade, e quando mais lipossolúvel, mais facilmente atra- vessa a membrana. Depende também do grau de liga- ção às proteínas plasmáticas, e quanto maiores essas li- gações, mais duração tem o efeito do AL, pois a fração livre é disponibilizada mais lentamente. E, também, são melhores distribuídos em órgãos com maior aporte san- guíneo, devido ao maior fluxo sanguíneo local. As amidas e os ésteres, têm metabolismo diferentes. Os ésteres são hidrolisados por esterases plasmáticas, de forma rápida, e por isso, tem meia vida curta – seu metabolismo resulta na formação de PABA. A exceção é a cocaína, que é hidrolisada no fígado. Já as amidas são hidrolisadas pelas amidases hepáticas, de forma lenta, e por isso, possuem meia vida maior, e efeito cumulativo em doses repetidas. A exceção é a prilocaína, que tem hidrólise extra-hepática. Sua excreção é renal. TIPOS DE ANESTESIA LOCAL Superficial ou tópica. Realizada nas mucosas do olhos, nariz e boca e na pele. Fármaco sob a forma de pomada, gel, solução e spray. Redução da sensibilidade para o que vem a seguir. Eficiência muito baixa, apenas ajuda a aliviar. Infiltração. Administrados via subcutânea e eventu- almente intradérmica ou intramuscular, através da inje- ção de pequenos volumes na forma líquida (solução). Talvez a mais comum. Bloqueio de determinado nervo, depositando pequenos volumes de anestésico local cer- cando aquela área desejada. Perineural. Realiza o bloqueio da condução do nervo sensitivo regional. Administrado na forma líquida. Também é um tipo de infiltração, porém menos superfi- cial – bloqueio de um tronco. Venosa regional. Uso intravenoso após interrupção do fluxo sanguíneo regional. Estagnação sanguínea com garrote, injetando o AL dentro da corrente sanguínea (risco de intoxicação). Intoxicação por anestésico local entre 10-15min e necrose tecidual em 60 min ou mais. Anestesia intra-articular. Uso diagnóstico. Espinhal. Aplicadas na emergência do nervo, aneste- siam região pélvica e dos MMII. Possível associar à mor- fina ou derivados: algumas horas depois, o anestésico local perde seu efeito, mas a analgesia pode ser prolon- gada por até 48h. Epidural/peridural: injetada ao redor da dura-máter. Subaracnóidea/raquidiana: abaixo da aracnoide, em contato com o líquor. ASSOCIAÇÕES Podem ser associados a um vasoconstritor, como a adrenalina 1:1000, a fim de aumentar o tempo de anes- tesia. Também permite a redução de absorção do anes- tésico local e o risco de intoxicação por ele. Reduz a dose necessária e o sangramento. Essa associação não deve ser aplicada no uso em extremidades e na espinha, pois há risco de necrose. A associação com hialuronidase fa- cilita a sua difusão nos tecidos. EFEITOS TÓXICOS No SNC, são concentração dependente, podendo causar sedação ou convulsões. Podeocasionar dormên- cia torpor, tremores musculares, perda da consciência, convulsão tônico-clônica, coma e apneia. No sistema cardiovascular (tecido eletricamente excitável), leva à re- dução da excitabilidade elétrica e da taxa de condução e força contrátil. --- Histamina Consiste numa amina biogênica, filogeneticamente primitiva, o que significa que ela está presente em todos os seres vivos, incluindo plantas, bactérias e animais. Em 1927, Best e cols. comprovaram ser um componente na- tural dos tecidos após ter sido identificada em fragmen- tos frescos de pulmão e fígado. 3 Está presente em diversos processos fisiológicos, como na secreção ácida gástrica, no controle local da microcirculação, na neurotransmissão no SNC e na re- gulação da multiplicação de células de proliferação rá- pida. É sintetizada através da conversão de L-histamina em histamina pela ação da histidina-descarboxilase. En- contra-se armazena em grânulos secretores em mastó- citos e basófilos, ligada à heparina, condroitina e prote- oglicanos. Apresenta-se em alta concentração no pulmão, pele e mucosa intestinal. Sofre biotransformação em ácido acético N-metilimidazol pela histamina N-metiltransfe- rase e pela diamina-oxidase. Sua liberação dá-se em episódios de lesão tecidual, por agentes físicos ou químicos. Também é liberada em reações alérgicas na hipersensibilidade do tipo I, estimu- lada por IgE, e no uso de drogas e outras substâncias que atuam como liberadores de histamina. RECEPTORES HISTAMINÉRGICOS H1 é o mediador primário dos efeitos sobre os mús- culos lisos. Sua ativação gera: vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular, contração de músculos li- sos não vasculares e estimulação das secreções de glân- dulas exócrinas. H2 está presente no estômago, no coração e nos va- sos. Sua estimulação gera: estimulação da secreção de ácido gástrico, estimulação cardíaca direta e vasodilata- ção com alta concentração de histamina. H3 encontra-se nas membranas nervosas pré-sináp- ticas, atuando como um auto-receptor. Sua estimulação inibe a liberação de histamina e de outros neurotrans- missores, agindo como heterorreceptor, como acorre com a acetilcolina no plexo mioentérico. H4 está no interior de mastócitos e eosinófilos do in- testino, baço, timo e em células do sistema imune como neutrófilos, monócitos e linfócitos T. Relacionado a fun- ções do sistema imunológico. EFEITOS DA HISTAMINA Na inflamação aguda, induz vasodilatação mediada pelos receptores H1 e H2. Gera aumento da permeabili- dade vascular, dor e prurido via H1. Também causa ini- bição da adesão celular, da quimiotaxia e da liberação de enzimas lisossomais, via H2, nos polimorfonucleares. Sistemicamente, pode induzir anafilaxia desencade- ada por IgE na hipersensibilidade do tipo I. Leva à libera- ção de H+ no estômago via H1 e gera estimulação cardí- aca via H2. Seus efeitos centrais incluem o controle do fluxo san- guíneo do SNC e da secreção de ACTH, prolactina e va- sopressina. Ela também participa do controle da termor- regulação, das funções sexuais, do metabolismo de car- boidratos no SNC, da saciedade e do ciclo sono-vigília. Por fim, na proliferação celular, possui papel dual de- pendente da expressão predominante de receptores na célula tumoral e da expressão de receptores histaminér- gicos em linfócitos T citotóxicos presentes no local. --- Anti-histamínicos Foram introduzidos na clínica por Bovet e colabora- dores na década de 1930. Resultam da modificação da própria molécula de histamina, agindo como antagonis- tas competitivos desta. São classificados quanto à ocupação dos receptores, podendo ser antagonistas de H1, H2, H3 ou H4. Existe ainda uma quinta classe, não relacionada aos recepto- res, que inibe a liberação de histamina, como é o caso do cromoglicato dissódico. ANTAGONISTAS DE H1 Quanto à sua estrutura química, são classificados em fármacos de primeira e de segunda geração. Os de primeira geração são lipofílicos, de baixo peso molecular, que ultrapassam facilmente a barreira hema- toencefálica, possuindo efeitos centrais pronunciados, como a sedação. Também provocam respostas dopami- nérgicas, serotoninérgicas e colinérgicas. Já os de segunda geração não ultrapassam a bar- reira hematoencefálica ou ultrapassam menos, até 30%. Desse modo, possuem índice risco-benefício mais favo- rável. Seus efeitos farmacológicos incluem o controle das reações alérgicas, como as desencadeadas por picadas de insetos, rinite, urticária e bronquite. Nesse aspecto, age reduzindo prurido e dor, relaxando os músculos li- sos brônquicos e controlando a vasodilatação e o au- mento da permeabilidade vascular. 4 Também são utilizados para controle de cinetose. Possuem ação mais preventiva do que curativa na bron- coconstrição, controle da cinetose é a sua ação central (antagonistas de RH1) Como efeitos colaterais, podemos citar: sonolência, redução do estado de alerta e dos reflexos, bem como efeitos anticolinérgicos, tais quais midríase, taquicardia e boca seca. ANTAGONISTAS DE H2 São antagonistas competitivos da histamina nos re- ceptores H2 das células parietais e mastócitos do estô- mago. São semelhantes à histamina, com manutenção do anel imidazólico e intensa modificação da cadeia la- teral etilamina. Possuem primeira, segunda e terceira geração. Exercem controle da hipersecreção gástrica, como ocorre nas gastrites e ulcerações, diminuindo a acidez e acelerando a cicatrização. Podem causar náuseas, diar- reia ou constipação. Também podem levar à perda da libido, impotência e ginecomastia. Isso devido ao aumento da secreção de prolactina, por ligação aos receptores androgênicos, ini- bindo a hidroxilação do estradiol catalisada pelo cito- cromos P450. --- Anti-inflamatórios São drogas usadas com a finalidade de suprimir os sintomas da inflamação. Também apresentam efeito analgésico e antipirético. INFLAMAÇÃO A inflamação é uma resposta protetora cujo objetivo final é libertar o organismo da causa inicial da lesão ce- lular. Pode ser desencadeada por estímulos físicos me- cânicos e térmicos, estímulos biológicos, como infec- ções, ou estímulos químicos, como toxinas. Ela pode possuir caráter crônico ou agudo. A infla- mação aguda possui curta duração, caracterizando-se por exsudação de líquido e proteínas plasmáticas e pela migração de neutrófilos. Já a inflamação crônica tem duração prolongada, estando associada à presença de linfócitos e macrófagos e à proliferação de vasos sanguí- neos e de tecido conjuntivo. Os sinais e sintomas de inflamação são os sinais flogísticos: calor, rubor, inchaço (tumor), dor e perda de função. CASCATA DO ÁCIDO ARACDÔNICO O ácido araquidônico é um derivado do ácido lino- leico (ácido graxo essencial) que, no organismo hu- mano, se encontra nos fosfolipídeos, que são compo- nentes estruturais da membrana celular. A fosfolipase A2 converte os fosfolipídeos em ácido araquidônico. Sob a ação da lipoxigenase, ele origina leucotrienos, compostos associados à quimiotaxia, ao aumento da permeabilidade vascular e à broncoconstri- ção. Sob a ação das cicloxigenases, formam-se prosta- glandinas, tromboxano e prostaciclina. As prostaglandi- nas agem, na inflamação, gerando dor, vasodilatação e febre. O tromboxano gera agregação plaquetária. Por fim, a prostaciclina gera dor vasodilatação e inibição da agregação plaquetária. CICLOXIGENASE A COX é uma enzima ligada às membranas do retí- culo endoplasmático e do núcleo. A COX1 foi clonadaem 1988 por 3 grupos diferentes que estudavam prepara- ções de vesículas seminais de carneiros. Hoje, sabe-se da existência da COX1, COX2 e COX3. Por estímulo fisiológico, a ação da COX1 constitutiva, que gera produção de tromboxano A2 pelas plaquetas, prostaciclina pelo endotélio e mucosa gástrica e prosta- glandina A2 pelos rins – que exercerão funções fisiológi- cas. Um estímulo inflamatório estimula a ação da COX2 induzida, que estimula a produção de prostaglandinas, que atuarão na inflamação. --- AiNeS Os anti-inflamatórios são divididos em esteroidais e não esteroidais. O protótipo da classe dos anti-inflama- tórios não esteroidais, ou AINES, é o ácido acetilsalicí- lico. Já em 1763, foi observada sua efetividade no com- bate à febre. Seu sucesso sob a patente de aspirina estimulou a criação dos AINEs, que foram usados por mais de 70 anos sem conhecimento do mecanismo da ação. Em 1982, Vane ganhou o Nobel em Fisiologia e Medicina, por 5 demonstrar que pequenas concentrações de aspirina e indometacina inibiam a síntese de prostaglandinas. Os AINEs agem realizando bloqueio periférico e cen- tral das enzimas cicloxigenases e subsequente diminui- ção de biossíntese e liberação dos mediadores da infla- mação, da dor e da febre – as prostaglandinas. Esses me- dicamentos podem ser classificados segundo sua estru- tura química ou segunda sua ação sobre a COX. Quanto sua ação sobre a COX, podem ser: 1. Inibidores seletivos da COX1: ácido acetilsalicí- lico (em baixas doses). 2. Inibidores não seletivos da COX: ácido acetilsa- licílico (em altas doses), piroxicam, indometa- cina, diclofenaco, ibuprofeno e nabumetona. 3. Inibidores seletivos da COX2: meloxicam, eto- dolaco e nimesulida. 4. Inibidores altamente seletivos da COX2: celeco- xibe e rofecoxibe. 5. Inibidores da COX3 (preferencialmente): para- cetamol. AS TRÊS ASPIRINAS TIPO ASPIRINA I ASPIRINA II ASPIRINA III AÇÃO Antitrombótica Analgésica Antipirética Anti-inflama- tória DOSE 80mg/dia 350 a 650mg a cada 4 horas 1,3g a cada 4 ou 6 horas ALVO COX1 plaquetária COX1 e COX2 COX1 e COX2 EFEITOS ADVERSOS No trato gastrointestinal, os AINES podem causar dispepsia associada a dor, úlceras, sangramentos e per- furações. Podem, ao agirem sobre as plaquetas, dimi- nuir a agregação plaquetária, aumentando os sangra- mentos. No fígado, podem culminar em alterações enzi- máticas. Também são capazes de, nos rins, diminuir a fil- tração glomerular. Outros efeitos adversos associados aos AINEs são: hi- pertensão, reações cutâneas de hipersensibilidade, asma, reação anafilática, agranulose e anemia aplástica. INIBIÇÃO SELETIVA DA COX2 Ter a COX2 como alvo da terapia anti-inflamatória apresenta vantagens e desvantagens. Em 1991, surgiu a hipótese de que inibidores seletivos da COX2 reduziriam a inflamação sem promover os efeitos colaterais dos AI- NEs clássicos. Sua eficácia é similar à dos AINEs não seletivos, com a vantagem de possuir maior segurança e tolerância. Isso pois apresentaram maior segurança gastrointesti- nal em estudos clínicos, bem como não possuem ações antiplaquetárias. Seus efeitos renais, entretanto, são se- melhantes aos dos demais AINEs, ou seja, causam edema e hipertensão arterial. EXPRESÃO FISIOLÓGICA DA COX2 TECIDO EXPRESSÃO POSSÍVEL FUNÇÃO RIM - Mácula densa - Porção cortical ascendente da alça de Henle - Regulação do volume in- travascular CÉREBRO - Céls. endoteliais - Neurônios exci- tatórios corticais - Resposta à febre (?) - Conexão dos neurônios - Desenvolvimento do SNC - Memória e aprendizado OSSO Osteoblastos - Diferenc. osteoclástica - Regulação da remodela- ção do osso CÂNCER DE CÓLON - Ep. da mucosa - Adesão à MEC - Resistência à apoptose AP. REPR. FEMININO - Ovário - Útero - Ovulação - Implantação do embrião TGI - Ep. intestinal - Úlcera gástrica - Secr. de fluidos da mucosa - Cicatrização das úlceras Os inibidores seletivos de COX2 inibem a prostaci- clina vascular, porém não têm ação sobre o tromboxano A2 plaquetário. Desse modo, estimulam a agregação plaquetária e consequente formação de trombos. PARACETAMOL Em 1893, Von Mering realizou a primeira descrição do paracetamol como analgésico e antipirético. Em, 1940, confirmaram-se suas propriedades farmacológicas. Em 1950, já era universalmente empregado como analgé- sico e antipirético. Já em 1966, houve a primeira descri- ção de intoxicação aguda de paracetamol, na qual ocor- reu necrose hepática severa evoluindo para óbito. O paracetamol possui efeitos nocivos raros quando em uso terapêutico, já em doses elevadas é hepatotó- xico e nefrotóxico. Sua dose tóxica varia de 6 a 7,5g, com dano hepático após uso diário de 5g e evolução para óbito na dosagem de 15g. 6 Ele inibe a síntese de prostaglandinas no SNC e na periferia através da cicloxigenases, preferencialmente a COX3. O maior problema do paracetamol é o seu meta- bólito tóxico, o NAPQI, que após algumas reações, causa a morte celular. N-ACETILCISTEÍNA É um precursor da glutationa (GSH), que se liga no metabólito tóxico (NAPQI) do paracetamol e reduz seus efeitos tóxicos, porque funciona como um antídoto, for- necendo grupos sulfidrílicos que vão neutralizar esse metabólito tóxico. Nos casos graves de intoxicação, o antídoto deve ser iniciado mesmo após 24h de evolução. --- AiES O córtex da glândula suprarrenal produz uma varie- dade de hormônios, dentre os quais estão os glicocorti- coides, produzidos na porção fasciculada, os mineralo- corticoides, produzidos na porção glomerulosa, e os es- teroides sexuais, produzidos na porção reticulada. A me- dula da suprarrenal é responsável pela adrenalina. Como exemplos de glicocorticoides temos a hidro- cortisona e a corticoesterona. A aldosterona é um mine- ralocorticoide. Por fim, no grupo dos esteroides sexuais, temos os androgênios: testosterona e estradiol. GLICOCORTICOIDES São produzidos a partir de colesterol, até chegar ao produto final, a hidrocortisona. A liberação de glicocor- ticoides é feita pelo eixo hipotálamo-hipófise, e depende de fatores psicológicos e ambientais. Os glicocorticoides exercem feedback negativo nesse eixo. MECANISMO DE AÇÃO O mecanismo de ação dos glicocorticoides é feito é feito pela ligação a receptores nucleares, que se ligam no DNA, podendo alterar fazendo repressão ou indução gênica. O glicocorticoide ligado ao receptor forma um complexo ativado. Tal complexo expõe um domínio de ligação ao DNA da célula, podendo reprimir ou induzir a transcrição gênica. Também interfere na produção de RNA mensageiro intermediador da síntese de proteínas. A repressão gênica ocorre pela inibição dos fatores de transcrição da AP1 e, consequentemente, de todos os mediadores da inflamação produzidos pela COX2, inclu- sive o oxido nítrico, que é degradado pela ela enzima que o degrada. A indução da transcrição é feita pela li- pocortina 1, que inibe a fosfolipase A2 e o RNA mensa- geiro dirige a síntese de proteínas. AÇÃO NOS MEDIADORES INFLAMATÓRIOS Os glicocorticoides geram expressão reduzida de COX2 e, portanto, diminuem também a síntese de pros- taglandinas. Também induzem expressão reduzida de genes relevantes, resultando em menor produção de in- terleucinas, fator de necrose tumoral e fatores de adesão celular. Reduzem a concentração plasmática de componen- tes do sistema complemento. Reduzem a produção in- duzida de óxido nítrico por inibição de fatoresde trans- crição. Reduzem a liberação de histamina por mastóci- tos e basófilos e a produção de imunoglobulinas. AÇÕES GERAIS Atuam no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas. Exerce função no equilíbrio eletrolítico pela retenção de sódio e água pelos mineralocorticoides, que pode desencadear edema e complicações cardíacas. Além disso, funciona como um anti-inflamatório imu- nossupressor. EFEITOS METABÓLICOS E SISTÊMICOS GERAIS No metabolismo de carboidratos, os glicocorticoides diminuem a receptação de glicose pela insulina, bem como aumentam a gliconeogênese hepática. Com isso, há tendência à hiperglicemia sob sua ação. Atua no metabolismo de proteínas reduzindo a sín- tese proteica e aumentando sua degradação, sobretudo na musculatura estriada. Em virtude disso, leva à atrofia muscular. Apresenta efeito permissivo sobre a resposta lipotí- lica às catecolaminas e outros hormônios. Seu uso pro- longado resulta em distribuição centrípeta da gordura, caracterizando Síndrome de Cushing. EFEITOS AIs E IMUNOSSUPRESSORES No geral, há inibição das manifestações iniciais e tar- dias da inflamação. Isso ocorre, dentre outros fatores, pela redução da atividade de neutrófilos e macrófagos devido à redução da transcrição de genes dos fatores de adesão e citocinas relevantes. Também reduzem a atividade de linfócitos T e a pro- liferação clonal por inibição da transcrição dos genes da IL2 e do seu receptor. Atuam diminuindo a função dos 7 fibroblastos, uma vez que gera reduzida produção de co- lágeno por inibição do fator de transcrição do gene da colagenase. Outro efeito causado por eles é a osteopo- rose, uma vez que reduzem a função dos osteoblastos e aumentam a atividade dos osteoclastos. CLASSIFICAÇÃO Os AIES são classificados segundo a duração de seu efeito e pela sua potência. Sua potência é avaliada sobre os receptores glicocorticoides (GC) e os mineralocorti- coides (MC). RÁPIDO INTERMEDIÁRIO PROLONGADO - Hidrocorti- sona - Cortisona 8 a 12 horas Potência GC 1 Potência MC 1 - Predinisolona - Predinisona - Metilpredinisolona - Triancinolona 12 a 36 horas Potência GC 4,0 a 5,0 Potência MC 0,8 ou mínima - Dexametasona - Betametasona 36 a 72 horas Potência GC 30 Potência MC mí- nima USO CLÍNICO Os anti-inflamatórios esteroidais são obtidos pela ex- tração de fluidos e tecidos animais, por oxidação micro- biológica de outros esteroides ou por síntese parcial. Po- dem ser ésteres e acetonido (pró-fármacos) ou sais. Des- ses últimos só os fosfatos e succinatos sódicos são solú- veis em água e podem ser usados via intravenosa. A budenisona é um análogo sintético de glicocorti- coide com potente ação anti-inflamatória tópica e bai- xos efeitos sistêmicos. É utilizada oralmente no trata- mento da Doença de Crohn e inalatória no controle da asma. A beclometasona possui uso inalatório em doen- ças respiratórias. --- Fármacos que atuam no aparelho respiratório EXPECTORANTES Os expectorantes reflexos atuam estimulando as terminações nervosas vagais parassimpáticas da fa- ringe, esôfago e estômago, levando ao aumento da pro- dução de muco. São o iodeto de potássio (via oral), guai- fenesina (via oral) e a ipeca (via oral), essa última obtida a partir da Cephaelis ipecacuanha, que possui ação emé- tica. Expectorantes mucolíticos reduzem a viscosidade das secreções pulmonares e facilitam sua eliminação. São exemplos a bromexina, administrada via oral ou in- tramuscular, e a N-acetilcisteína, administrada de forma inalatória ou via oral. Os expectorantes inalantes também reduzem a vis- cosidade das secreções pulmonares e facilitam sua eli- minação. São exemplos a benzoína e o óleo de euca- lipto. ANTITUSSÍGENOS Atuam no SNC, no centro nervoso da tosse, inibindo as respostas aos estímulos que lá chegam. Sua adminis- tração diminui a intensidade e a frequência da tosse, po- rém sem comprometer a defesa do sistema mucociliar. São classificados em narcóticos (codeína, hidrocodona e burfanol) e não narcóticos (dextrometorfano). DESCONGESTIONANTES Podem ser antagonistas alfa1-adrenérgicos, que produzem vasoconstrição e consequente redução do ex- sudato respiratório, ou anti-histamínicos agonistas de H1. BRONCODILATADORES São agonistas beta2-adrenérgicos, metilxantinas e anticolinérgicos. Os agonistas beta2-adrenérgicos po- dem causar tremores e alteração da pressão arterial, bem como relaxamento da musculatura lisa uterina. O medicamento representante das metilxantinas é a teofilina, que é administrada pela via oral, principal- mente, e pela via intravenosa. Pode causar insônia, tre- mores, náuseas e vômito, estimulação cardíaca e au- mento da diurese. É uma alternativa aos agonistas de β2 no tratamento da asma. Normalmente é utilizada em as- sociação a corticoides ou a outros antiasmáticos. Os anticolinérgicos são representados pela atropina e ipratrópio, ambos inalatórios. Esses medicamentos bloqueiam receptores muscarínicos na musculatura lisa pulmonar. OUTROS FÁRMACOS – TRATAMENTO DA ASMA A associação de cromoglicato dissódico e nedocro- mil tem uso profilático por via inalatória no tratamento da asma. Possuem mecanismo de ação pouco conhe- cido, mas sabe-se que atuam como estabilizador de 8 mastócitos e deprimem reflexos neuronais exagerados deflagrados pela estimulação de receptores irritantes. Possivelmente, realizam inibição da liberação de citoci- nas pré-formadas pelos linfócitos T. Os glicocorticoides são eficientes no tratamento da asma crônica, na qual predomina um componente infla- matório. Sua ação farmacológica deve-se à redução da formação de citocinas (resposta Th2), à inibição da pro- dução de vasodilatadores (prostaglandina E2 e prostaci- clina) e espasmógenos, à diminuição da síntese de qui- miotaxinas e à redução da síntese de interleucina 3, cito- cina reguladora da produção de mastócitos. Podem ainda ser usado inibidores da via dos leuco- trienos, podendo ser bloqueadores da 5-lipoxigenase ou de receptores de LTD. Outra passibilidade são os anti- corpos monoclonais anti-IgE (inibe ligação de IgE a mastócitos). --- Fármacos que atuam no aparelho digestivo DESMULCENTES Demulcentes ou protetores de mucosa: atuam lubri- ficando e aliviando a irritação da mucosa gástrica. Po- dem ser açúcares, como mel, lactose e sacarose, ou po- dem ser proteínas, como a albumina e a gelatina. ADSORVENTES São substâncias que atraem outras, nesse caso, toxi- nas e micro-organismos, para si, fixando-as sobre a sua superfície, portanto, aliviam os sintomas da irritação gastrointestinal. O carvão ativado é obtido da queima controlada de madeira alta dureza e a altas temperatu- ras (800 a 1000ºC). O trissilicato de magnésio, quando em contato com o conteúdo estomacal, forma dióxido de silicone gelati- noso, que protege a mucosa. Outros fármacos utilizados são compostos de alumínio, como o gel hidróxido de alumínio e caulim. ADSTRINGENTES São substâncias que precipitam as proteínas da ca- mada mucosa, formando uma capa protetora, que au- menta a resistência e diminui a ação irritativa. São mais usados sobre a pele do que sobre as mucosas. Exem- plos: ácido tânico e zinco. ANTIESPUMANTES Compreendem substâncias que alteram a tensão su- perficial dos líquidos digestivos, impedindo a formação de bolhas ou eliminando as que já se formaram, facili- tando a eliminação de gases através de eructações e fla- tos. Exemplo: polímero de silicone,a dimeticona. FÁRMACOS PRÓ-CINÉTICOS Atuam estimulando, coordenando ou restaurando a motilidade gástrica, pilórica e do intestino delgado. O controle da motilidade é feito pela interação dos siste- mas miogênicos, neural (extrínseco e intrínseco) e quí- mico (neurotransmissores e hormônios). Dessa forma, aumentam as chances de modular farmacologicamente a motilidade gastrointestinal. Substâncias químicas apresentam capacidade de imitar ou antagonizar os efeitos dos transmissores endó- genos, modulando a motilidade do trato gastrointesti- nal. As principais substâncias utilizadas terapeutica- mente relacionam-se com efeitos colinérgicos muscarí- nicos, antidopaminérgicos e serotoninérgicos. O principal exemplo é a metoclopramida, que age aumentando a liberação de acetilcolina, porque inibe a acetilcolinesterase, enzima que faz a degradação da acetilcolina. Além disso, bloqueia os receptores D2, do- paminérgicos, e alguns serotoninérgicos, que são inibi- tórios da serotonina (5HT3) e é agonista do receptor 5HT4, que é estimulante de serotonina. Com isso, a metoclopramida aumenta o tônus e am- plitude das contrações gástricas, a contração da cárdia, o relaxamento do piloro e o aumento do peristaltismo duodenal e jejunal. Sendo assim, favorece o esvazia- mento gástrico, previne ou diminui o refluxo gastresofá- gico e agiliza o trânsito das primeiras porções do intes- tino. Auxiliando, desse modo, no tratamento de náuseas ou outros sintomas relacionados à dispepsia. EMÉTICOS São substâncias capazes de estimular a êmese, prin- cipalmente nas intoxicações. As êmeses podem ser de- sencadeadas por substâncias irritativas, podem ser uma cinetose ou por fatores do SNC (central). Dessa forma, os fármacos eméticos podem atuar nas substâncias irritantes, como o cloreto de sódio, sulfato de cobre, sulfato de zinco, ou podem ter ação central, como apomorfina, que é um agonista dos receptores do- paminérgicos na zona quimiodeflagradora. 9 ANTIEMÉTICOS Atuam impedindo a êmese. Antagonistas dos receptores muscarínicos (antico- linérgicos) atuam principalmente na cinetose e os efei- tos colaterais mais comuns são a secura da boca e a vi- são embaçada. Exemplo: Escopolamina Antagonistas dos receptores histamínicos (anti- histamínicos) agem sobre diversos tipos de êmese, in- clusive cinetoses, mas não especificamente na ZGQ. Exemplos: Diminidrinato (dramin) e meclisina. Antagonistas dos receptores dopaminérgicos (anti- dopaminérgicos) são utilizados para náuseas e vômitos mais intensos, geralmente associados ao tratamento do câncer. Exemplos: metoclopramida, bromoplamida, domperidona. Antagonistas dos receptores serotoninérgicos são importantes na prevenção e tratamento do vômito, me- nos utilizado para náuseas, geralmente usado no pós- operatório. Exemplo: ondansetrona. ANTIÁCIDOS Compreendem sais básicos que atuam diretamente na neutralização da acidez gástrica (HCl). Podem ser di- vididos em sistêmicos e não sistêmicos. O representante dos antiácidos sistêmicos é o bicarbonato de sódio, que forma cloreto de sódio, água e dióxido de carbono. São antiácidos não sistêmicos o hidróxido de magnésio, o carbonato de magnésio, o carbonato de cálcio e o hidró- xido de alumínio. BLOQUEADORES DA SECREÇÃO DE H+ Podem ser antagonistas muscarínicos de receptores M3 (pirenzepina e telenzepina), antagonistas da hista- mina de receptores H2, inibidores da bomba gástrica (omeprazol e iansoprazol), prostaglandinas (misopros- tol), sais de bismuto e sucralfato (complexo de sucralose sulfatada e hidróxido de alumínio). ANTIDIARREICOS Também chamados de constipantes, são fármacos agrupados em dois grupos: os depressores da motili- dade e os adsorventes ou protetores de mucosa. Dentre os depressores da motilidade, temos os anticolinérgi- cos (ex.: atropina) e os opiáceos e opioides (ex.: difenoxi- lato). Já os adsorventes são representados pela pectina, calium, sais de bismuto e pelo carvão ativado. CATÁRTICOS Conhecidos como purgantes ou laxantes, podem ser agrupados em osmóticos (salinos) e estimulantes (irri- tantes). Os salinos são absorvidos aos poucos e de modo vagaroso, desempenhando atividade osmótica no lúmen intestinal, atraindo, assim, água para esta re- gião. Como consequência, ocorre distensão das fibras musculares lisas intestinais e, reflexamente, exacerba- ção do peristaltismo, gerando efeito laxante ou purgante dependendo da dose fornecida. Estão englobados neste grupo os sais de magnésio, sais de sódio, lactulose, gli- cerina manitol e sorbitol. Os estimulantes promovem a irritação da mucosa intestinal ou inibem a absorção de água, eletrólitos e nu- trientes, ou ainda, estimulam os plexos nervosos intra- murais, aumentando a motilidade intestinal e, conse- quentemente, provocando o efeito catártico. Acredita-se também que alguns deles são capazes de inibir a Na+ -K+ -ATPase (responsável pela absorção de sódio no cólon) ou aumentar a síntese de prostaglan- dinas e AMPc (contribuindo, em parte, para o aumento da secreção de água e eletrólitos). Dentre esses catárti- cos encontram-se o psicossulfato de sódio, o bisacodil e os catárticos antraquinônicos (atuam no cólon). DIGESTIVOS OU EUPÉPTICOS Podem ser enzimas digestivas, coleréticos (estimu- lam secreção da bile) ou colagogos (contraem a vesícula biliar). As enzimas digestivas são proteases, como as en- contradas no mamão papaia e na bromélia, a pancrea- tina e pancreolipase, que realizam a digestão de lipídeos e proteínas. Os coleréticos são os ácidos e sais biliares, bem como a boldina e a cinarina. Por fim, os colagogos são a colecistocinina, o sulfato de magnésio, o sorbital e ali- mentos, como a gema do ovo e o creme de leite. HEPATOPROTETORES São fármacos responsáveis por proteger os hepató- citos contra agentes tóxicos. Encontram-se inseridos no grupo dos hepatoprotetores, os agentes hepatotrópi- cos, ou seja, que possuem tropismo especial pelo fígado, e também, os agentes lipotrópicos, que levam a retirada de lipídeos ou diminuição da sua deposição no fígado. São utilizados como hepatoprotetores: colina, metio- nina, lecitina, betaína, vitamina B2, vitamina E e selênio. --- 10 Fármacos que atuam no aparelho cardiovascular INOTRÓPICOS CARDÍACOS Digitálicos cardíacos São fármacos obtidos a partir das plantas Digitalis purpúrea, Digitalis lanata e Strophantus sp. Compreen- dem glicosídeos com ação inotrópica cardíaca, sendo os únicos agentes inotrópicos viáveis para uso prolongado por via oral. São utilizados no tratamento da insuficiên- cia cardíaca congestiva (ICC). Atuam inibindo a bomba Na+/K+ ATPase, permitindo a manutenção do Na+ no interior da célula cardíaca e do K+ no meio extracelular e fazendo abertura dos canais lentos de cálcio. O aumento do Ca2+ intracelular melhora a atividade das proteínas contráteis (sistema actina-mi- osina), aumentando a intensidade de contração do mús- culo cardíaco (inotropismo). Quanto a farmacocinética, a digoxina possui absor- ção de 75 a 85% quando administrada via oral e apre- senta excreção inalterada na urina. A digitoxina possui absorção oral de 100%, biotransformação hepática de 85% e excreção urinária. O deslanosideo possui uso in- travenoso, com início da ação mais rápida, sua excreção também é mais rápida. Seus efeitos farmacológicos são o aumento do ino- tropismo e a redução da frequência cardíaca. O uso des- ses fármacos desse ser feito com cautela devido ao risco de intoxicação digitálica, que causa sintomas como náu- sea, vômitoe diarreia e efeitos arritmogênicos. Outra complicação é a hipóxia cardíaca, que pode ser detec- tada no eletrocardiograma e no ecocardiograma, esse último acusando a hipocinesia das paredes das câmaras cardíacas. São utilizados na clínica no tratamento de disfun- ções miocárdicas sistólicas decorrentes da redução da capacidade contrátil, como é o caso da cardiomiopatia dilatada. Também são aplicados em taquiarritmias su- praventriculares compensatória à insuficiência contrátil, como ocorre na ICC e na fibrilação atrial. Aminas simpatomiméticas Compreendem a dobutamina e a dopamina, que são catecolaminas utilizadas no tratamento de emergências decorrentes de ICC, causadas por disfunção ventricular sistólica. Elas causam efeito positivo sobre o inotro- pismo e a condução cardíaca. A dobutamina é menos arritmogênica que a dopa- mina, embora esse seja o principal efeito colateral de ambas. A dopamina é utilizada quando existe um qua- dro renal associado à ICC. Ambas são utilizadas por via intravenosa lenta. O efeito inotrópico positivo de ambas as drogas resulta da ativação de receptores beta1-adre- nérgicos. A dopamina também produz outros efeitos cardio- vasculares mediados por diferentes receptores. Age so- bre receptores dopaminérgicos D1 e D2 vasculares nos leitos renais mesentéricos e coronarianos, causando va- sodilatação e aumento do fluxo sanguíneo. Em doses su- periores a μg/Kg/min (dose terapêutica = 1 a 5 μg/Kg/min), atua em receptores alfa-adrenérgicos e causa aumento da resistência vascular periférica, taqui- cardia e arritmia. VASODILATADORES Esses fármacos previnem o comprometimento pro- gressivo da função do miocárdio quando há ICC. Na ICC, há diminuição do débito cardíaco, ativando o sistema renina-angiotensina-aldosterona e o tônus simpático e levando ao consequente aumento do volume de líquido intersticial. O aumento da pré e da pós-carga resultante desse processo gera acúmulo de líquido e aumento do trabalho cardíaco. De ação direta venosa ou arteriolar: causam vasodi- latação arteriolar, sendo que o nitroprussiato de sódio também causa vasodilatação venosa, e ativação de me- canismos simpáticos compensatórios. São hidralazina, minoxidil (VO), diazóxido e nitroprussiato de sódio (IV). Bloqueadores adrenérgicos: bloqueiam receptores alfa1 pós-sinápticos, causando vasodilatação venosa e arteriolar. São o prazosin, o doxazosin e o terazosin (VO). Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (ECA): inibem a conversão de angiotensina I em angio- tensina II. São o captopril, o enalapril e o benazepil (VO). Bloqueadores de receptores de Angiotensina II (BRA II): ao bloquear o efeito da angiotensina II, os BRA provocam o relaxamento dos vasos sanguíneos, redu- zindo a pressão arterial. São o losartan, o valsartan, o ir- besartan, o candesartan e o telimisartan (VO). São administrados via oral ou parenteral, com bio- transformação hepática e excreção renal. Seus efeitos terapêuticos são o combate aos efeitos deteriorantes da 11 vasoconstrição e a melhora do desempenho cardíaco sem alteração do inotropismo e do consumo de oxigê- nio. Podem causar efeitos colaterais como hipotensão, letargia e náuseas. ANTIARRÍTMICOS São fármacos capazes de controlar ou suprimir a ar- ritmia, sendo classificados da seguinte maneira: Classe I: bloqueadores dos canais de sódio (subdividida em Ia, Ib e Ic). Classe II: antagonistas de receptores beta-adre- nérgicos (propranolol, metoprolol e atenolol). Classe III: bloqueadores de canais de potássio nos miócitos – prolongam o potencial de ação e aumentam o período refratário (amiodarona). Classe IV: bloqueadores de canais de cálcio (ve- rapamil, diltiazem e nifedipina). --- Diuréticos FISIOLOGIA RENAL Os rins são um órgão duplo, responsável pela depu- ração de substâncias. Exercem inúmeras funções: excre- ção de metabólitos, síntese de hormônios, manutenção do equilíbrio acidobásico e manutenção do equilíbrio hi- droeletrolítico. O débito cardíaco é de cerca de 6l/min e o fluxo san- guíneo renal (FSR) corresponde há 20%, correspon- dendo a cerca de 1200ml/min, sendo que metade disso é plasma e a outra metade é parte sólida. O filtrado glo- merular (FG) é de 20% do plasma, sendo um valor em torno de 120ml/min. Por fim, a urina é de 0,5 a 1% do vo- lume do fluxo glomerular. No túbulo contorcido proximal, ocorre reabsorção passiva de grande quantidade de água e reabsorção de 2/3 do sódio dependente da bomba Na+/K+ ATPase e da anidrase carbônica. Na alça de Henle, há reabsorção passiva de água no ramo descendente e reabsorção ativa de eletrólitos no ramo ascendente espesso da bomba Na+/K+/2Cl-, onde a alça torna-se impermeável à água. A porção inicial do túbulo contorcido distal é imper- meável à água e a porção tem permeabilidade depen- dente da presença do hormônio antidiurético, tal qual o ducto coletor. A aldosterona atua no segmento cortical do ducto coletor. DIURÉTICOS São fármacos que aumentam a excreção de cloreto de sódio e água corporal, seja pela ação direta sobre as células do néfron ou pela modificação do conteúdo do filtrado. São classificados segundo o local de ação: diu- réticos que atuam na alça descendente de Henle, nos tú- bulos contorcido distal e coletor, no túbulo contorcido proximal e uma classe separa de diuréticos que modifi- cam a composição do filtrado. Diuréticos de alça Compreendem diuréticos de “alto limiar” ou “poten- tes”, provocando a excreção de 15 a 25% do sódio pre- sente no filtrado. Seus principais representantes são fu- rosemida, bumetanida, piretanida, torasedamida e ácido atacrínico. Eles atuam no segmento ascendente espesso da alça de Henle, impedindo a reabsorção de cloreto de sódio ao inibir o cotransporte de Na+/K+/2Cl- na membrana lu- minal do túbulo renal. Possui possível ação vasodilata- dora direta e ação vasodilatadora indireta pela liberação de um fator renal. Apresentam boa concentração plasmática 1 hora após uso oral e 30 minutos após uso intravenoso. Sua distribuição ocorre por secreção no túbulo contorcido proximal. A porção não secretada passa por metaboliza- ção hepática. Sua excreção é pela urina. Podem causar hipocalemia, alcalose metabólica (pela secreção de íons hidrogênio que acompanham o sódio) e aumento da excreção de íons cálcio e magnésio. Também podem ocasionar queda na excreção de ácido úrico, hipovolemia e hipotensão (pela diurese intensa) e ototoxicidade. Diuréticos da porção inicial do túbulo distal São diuréticos “moderados”, causando a excreção de 10 a 15% do sódio do filtrado. Os principais fármacos são as tiazidas e outros medicamentos, como a clortali- dona. Atuam impedindo a reabsorção ativa de cloreto de sódio ao inibir o cotransporte de Na+/Cl- na membrana luminal do túbulo distal. Possuem ação vasodilatadora direta. Esses diuréticos são sempre administrados via oral e sua distribuição também se dá por secreção no túbulo contorcido proximal. A porção que não é secretada sofre metabolismo hepático. Sua excreção também é pela 12 urina, sendo que eles competem com o ácido úrico nesse processo, reduzindo a excreção de uratos. Desse modo, também reduzem a excreção de cálcio e aumen- tam a excreção de magnésio e potássio. Como efeito colateral, podem gerar hipocalemia im- portante, alcalose metabólica, queda da excreção de ácido úrico (precipitação de gota), redução da excreção de íons cálcio e hiperglicemia. São utilizados no manejo de hipertensão, edema discreto e resistente, formaçãorecorrente de cálculos renais e diabetes insípido nefro- gênico (mecanismo desconhecido). Diuréticos dos túbulos distal e coletor São diuréticos “fracos”, causando a excreção de 5% do sódio do filtrado. Consistem em diuréticos poupado- res de cálcio e podem causar hipercalcemia. Seus prin- cipais representantes são triantereno, amilorida e espi- ronolactona. Triantereno e amilorida agem no bloqueio de canais de sódio na membrana luminal dos túbulos distal e co- letor, resultando em menor quantidade de sódio dispo- nível para transporte. Ambos são utilizados por via oral, com distribuição por secreção para a luz tubular e excre- ção urinária. Na clínica, são combinados com diuréticos moderados e potentes para prevenir a hipocalemia. Espironolactona é um antagonista de receptores in- tracelulares de aldosterona no túbulo distal. É usada via oral, sendo distribuída pela entrada nas células, a fim de bloquear os receptores de aldosterona. Sua metaboliza- ção é parcial – canrenona é um metabólito ativo seu. A excreção também é pela urina. Também é utilizada, na clínica, combinada a diuréticos moderados e potentes para prevenir a hipocalemia. Usados no tratamento do hiperaldosteronismo primário (Síndrome de Crohn) e se- cundário. Pode causar ginecomastia, impotência, irre- gularidades menstruais e hirsultismo. Diuréticos do túbulo contorcido proximal Consistem em inibidores da anidrase carbônica, sendo representados, principalmente, pela acetazola- mida. O bloqueio dessa enzima aumenta a excreção de bicarbonato, sódio, potássio e água, causando maior fluxo de urina alcalina e acidose metabólica. São utiliza- dos no tratamento de glaucoma. Diuréticos que modificam a composição do filtrado São diuréticos osmóticos, cujo exemplo principal é o manitol. Administrados por via intravenosa, são inertes, livremente filtrados no glomérulo. Não são reabsorvidos, ou possuem reabsorção incompleta, e promovem diu- rese hídrica com menor excreção de sódio. Como efeitos colaterais, causam hiponatremia, cefa- leia, náuseas e vômitos. São usados no tratamento do edema cerebral e do glaucoma e na prevenção da insu- ficiência renal aguda. Resumo por Eduarda Lins Contribuições de Andreia Sarubi e Isabela Rubini
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