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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR PROFESSOR (A):COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 2 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ..............................................................................................4 1.INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS ACERCA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR ............................6 2. O ENSINO E A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EDUCATIVAS E DIDÁTICAS: considerações iniciais acerca da profissão.......................................................................................................12 3. O ENSINO E A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA......................................23 4. PRÁTICA EDUCATIVA E SOCIEDADE........................................................26 5. O TRABALHO DO PROFESSOR DO ENSINO SUPERIOR E A MERCANTILIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO.............................................................31 6. A PROFISSIONALIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE E O QUE É SER UM “BOM PROFESSOR” DENTRO DE UMA PERSPECTIVA SÓCIO- OCUPACIONAL.................................................................................................36 7. CRITÉRIOS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E COMO ENSINAR NO ENSINO SUPERIOR...................................................................................48 8. DIFICULDADES ENCONTRADAS NO ATO DE ENSINAR..........................54 9. A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR E NA SOLUÇÃO DAS DIFICULDADES NO ATO DE ENSINAR................................56 10. EDUCAÇÃO, INSTRUÇÃO E ENSINO.......................................................58 11. A APRENDIZAGEM.....................................................................................61 12. NÍVEIS DE APRENDIZAGEM.....................................................................64 12.1– CARACTERÍSTICA DA APRENDIZAGEM ACADÊMICA.......................65 13. A UNIDADE ENTRE O ENSINO E A APRENDIZAGEM.............................67 14. O PROCESSO DE ENSINO E O ESTUDO ATIVO.....................................74 14.1- CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE ENSINO...............................74 15. O PLANEJAMENTO E A IMPLEMENTAÇÃO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: CONCEITOS, OBJETIVOS E O ENSINO.............................78 15.1- A IMPORTÂNCIA DOS OBJETIVOS EDUCACIONAIS...........................82 16. ESTRUTURA, COMPONENTES (ENSINO DE CONTEÚDO) E DINÂMICA DO PROCESSO DE ENSINO NA UNIVERSIDADE.........................................91 16.1- A ESTRUTURA DO TRABALHO DOCENTE...........................................92 INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 3 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 16.2- OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DO ENSINO E DOS MÉTODOS DE ENSINO.............................................................................................................98 17. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, EDUCATIVAS E DIDÁTICAS PARA A INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR..............................................................105 18. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................114 INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 4 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 APRESENTAÇÃO Caro (a) aluno(a), O Instituto INE apresenta este módulo, com o intuito contínuo de proporcionar-lhe um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que conduzem ao conhecimento, na área da Educação. Nesse sentido, todos os nossos projetos são, fortemente, comprometidos com o seu progresso educacional, na perspectiva do seu melhor desempenho, como aluno-profissional permissivo à busca do crescimento intelectual. Sendo assim, e, em busca desse conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam opiniões, constroem visões, diferenciadas, de mundo e produzem cultura, a partir e através de estudos e pesquisas, que essa instituição quer garantir a todos os seus alunos, a saber: o direito às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções. Assim, expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo, moderno, atual e, totalmente baseado nas mais renomadas autoridades da área, formulado pelo nosso setor pedagógico, que está sempre empenhado na facilitação de um construto melhor para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso. Contudo, para a obtenção do sucesso esperado por você, é necessário que seja dispensado um tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita dedicação pelos Doutores e Mestres que compõem a equipe docente do Instituto INE. Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese dos saberes. Este módulo está disponível apenas como base para estudos deste curso. Não obstante, o material aqui ofertado não tem sua comercialização permitida, em nenhum formato, sendo, os créditos de autoria dos conteúdos deste material, dados aos seus respectivos autores citados nas Referências. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 5 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Em sendo, desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos! Atenciosamente, Coordenação Pedagógica do Instituto INE INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 6 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 1.INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS ACERCA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR O que é ser professor? O que é ser professor do ensino superior? Como ensinar no ensino superior? Como tornar-se professor? Como fazer-se professor? Os constantes e importantes debates e estudos sobre a docência para o ensino superior, particularmente sua formação, sejam no âmbito nacional ou internacional, têm em comum a premissa de que não basta ter o domínio de conteúdo específico para saber ensiná-lo. Ser professor demanda ir muito além das características historicamente consolidadas por um ensino tecnicista e pela exclusiva transmissão de conhecimentos. É necessário que o professor tenha formação científica, pedagógica, prática, técnica e política, desenvolvendo assim, as competências profissionais de um educador. Fazer-se professor não se caracteriza um processo simples e imediato, mas complexo e longo. Para Lara, Mosquera e Ramos (2008), um professor não surge de repente, isto é, do dia para a noite. Para tornar-se um verdadeiro professor, é preciso um processo de formação profissional que lhe possibilite uma vasta liberdade de escolhas, atuação consciente e comprometimento social, fundamentado em valores que o levarão a desenvolver uma ação competente, crítica, transformadora e interativa. Para Apple (2006), ensinar refere-se a uma profissão em que professores estão continuamente descobrindo, incorporando e aplicando novas e mais eficientes habilidades e conhecimentos sobreo desenvolvimento e aprendizagem do aluno. Ensinar não significa apenas reproduzir conhecimento, representa um processo contínuo de construção e reconstrução do conhecimento. Para um professor ensinar um aluno, não basta apenas conhecer as teorias de aprendizagem, é preciso, como assinala Ribas (2007), entender os processos de aprendizagem, o que lhe possibilitará estabelecer um caminho para ensinar. Pode-se dizer que pensar em uma educação eficiente significa, em um primeiro momento, pensar no professor eficiente, ou seja, naquele que é competente para ensinar. O que significa, então, ser competente para ensinar? São várias as vertentes teóricas em relação à competência do professor. Há INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 7 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 autores que enfatizam a competência técnica, outros valorizam mais a competência política, ou pessoal, no entanto, acredita-se, que todas são fundamentais para a realização de um trabalho de qualidade, ou seja, ao professor se faz necessário tanto a competência técnica quanto a política e a pessoal. Perrenoud (2002) apesar de dar maior ênfase à competência técnica, não deixa de valorizar a competência política. O autor apresenta 10 grandes dimensões de competências que devem ser desenvolvidas no professor pelas instituições de formação inicial e contínua, a saber: 1. organizar e dirigir situações de aprendizagem; 2. administrar e dirigir a progressão das aprendizagens; 3. conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; 4. envolver alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; 5. trabalhar em equipe; 6. participar da administração da escola; 7. informar e envolver os pais; 8. utilizar novas tecnologias; 9. enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; 10. administrar sua própria formação contínua. Perrenoud (2002) afirma, ainda, que ser um bom professor não significa apenas a capacidade de transferir conhecimento, se faz necessário uma postura reflexiva, capacidade de observar, de regular, de inovar e de aprender com os outros. A crítica à racionalidade técnica, que orientou e serviu de referência para a educação e socialização dos profissionais em geral e dos professores em particular durante grande parte do século XX, gerou uma série de estudos e pesquisas que têm procurado superar a relação linear e mecânica entre o conhecimento técnico-científico e a prática na sala de aula. Isto porque, conforme Carminati (2006) afirma, “muitas vezes, por estarem submetidos a uma dinâmica de trabalho que não os permite refletir ou atribuir INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 8 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 significados às suas ações docentes, os professores são conduzidos por um tipo de racionalidade técnica, que infelizmente, para muitos, trabalhar dessa maneira é prova de honestidade moral e seriedade intelectual, mesmo que isto lhes custe a morte da arte de ensinar, do prazer de pensar, sentindo-se com a consciência tranquila e do dever cumprido” (CARMINATI, 2006, p. 78). Os limites e insuficiências dessa concepção levam à busca de novos instrumentos teóricos que fossem capazes de dar conta da complexidade dos fenômenos e ações que se desenvolvem durante as atividades práticas para a produção e a mobilização de saberes na e para a docência. Kuenzer (2008), que se encontra dentro de uma vertente de competência política, relata um novo perfil de professor que as instituições devem formar. Primeiro é importante que esse professor esteja preparado para compreender a nova realidade, buscando apoio nas distintas áreas do conhecimento, para produzir ciência pedagógica. É necessário ainda, que tenha competência para identificar os processos pedagógicos que ocorrem no nível das relações sociais mais amplas como nos movimentos sociais organizados, nas ONG's e não somente nos espaços educativos. Além disso, devem saber lidar com esses processos e com seus conteúdos próprios, quer nos seus espaços peculiares, quer construindo formas de articulação destes com a instituição educa serem capazes de dialogar com o governo em suas diferentes instâncias e com a sociedade civil, no processo de discussão e construção das políticas públicas, tanto para sua implementação, quanto no seu enfrentamento. Salienta-se também a capacidade de transformar a nova teoria pedagógica em prática pedagógica escolar, fazendo a articulação entre a escola e o mundo das relações sociais e produtivas por meio de procedimentos metodológicos apoiados em bases epistemológicas adequadas. E por fim que possa organizar e gerir o espaço escolar de forma democrática e organizar experiências pedagógicas escolares e não escolares tendo como meta uma educação com expressão do desejo coletivo de uma sociedade que se almeja. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 9 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Demo (2003), outro importante autor nesta vertente, lembra que o professor deve ser capaz de desenvolver na criança a capacidade de raciocínio, de posicionamento, tornando-o desafiador, provocador e instigador. Mas, para tanto, é importante o professor aprender a ler criticamente; obter redação própria e expressar-se com desenvoltura; dominar conhecimentos e informações estratégicas do processo de transformação da realidade atual; pesquisar, iniciando com pequenas pesquisas, passando para elaborações mais exigentes, que já expressam capacidade de síntese, de compreensão global, de posicionamento crítico criativo; aprimorar habilidade metodológica para manejar e produzir conhecimento. Isto porque, educar é muito difícil. A educação é um processo complexo e possui um conceito muito difícil de ser definido. Em Libâneo encontramos Rousseau que afirmar que, por ser, “a educação, um processo natural, ela se fundamenta no desenvolvimento interno do aluno” (LIBÂNEO, 2008, p.59). Ou seja, a pessoa participa do processo de educação desde que nasce, à medida que experimenta e interage com o mundo a sua volta. Já a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/1996 traz a ideia de que, “a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. (BRASIL, 1996). A partir disso, vemos que a educação é desenvolvida por meio de experiências, necessidades e interesses construídos em vários contextos. Isso porque, a educação, considerada num panorama mais amplo, envolve todos os lugares e permeia todos os tipos de saberes. Nesse sentido, John Dewey (2005) afirma que “a educação é um processo social; não é a preparação para a vida, mas a própria vida”. Dessa forma, devido a subjetividade deste conceito, as pessoas têm definições diferentes para a educação. Assim sendo, “o que é educação?” é uma pergunta que possui diferentes respostas e interpretações. Sendo assim, um dos professores que entrevistamos, durante a pesquisa que antecedeu à construção desse módulo/disciplina, do Instituto IBE, definiu educação como sendo a “transmissão de conhecimentos e INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 10 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 experiências”, enquanto outros (três), afirmaramque é “um conjunto de ações e reflexões de modo a construir o ser, promovendo desenvolvimento intelectual, profissional e emocional”. A maioria portanto, consideram o caráter processual e de desenvolvimento que a educação proporciona, assim como Dewey sugeriu. Além das respostas acima especificadas, outro entrevistado entende que educação é “responsabilidade da família”. A essa altura podemos inferir a fundamental importância da família e da escola em atuarem em conjunto na educação dos nossos cidadãos, posto que, segundo Leite e Gomes (2009), “muitas famílias delegam à escola toda a educação dos filhos, desde o ensino das disciplinas específicas até a educação de valores, a formação do caráter, além da carência afetiva que muitas crianças trazem de casa, esperando que o professor supra essa necessidade. Por outro lado, algumas famílias sentem-se desautorizadas pelo professor, que toma para si tarefas que são da competência da família”, mas, além disso, existem aqueles professores que consideram a educação apenas responsabilidade da família. No entanto, pode-se afirmar que a família e a escola “são pontos de apoio e sustentação ao ser humano; são marcos de referência existencial e que, quanto melhor for a parceria entre ambas, mais positivos e significativos serão os resultados na formação do sujeito” (DI SANTO, 2009). Não obstante, estamos falando do ensino superior. Quanto à Didática, Nerice (2013) resume o conceito e o objetivo da Didática, ao considerá-la como o estudo dos recursos técnicos que têm em mira dirigir a aprendizagem do educando, tendo em vista levá-lo a atingir um estado de maturidade que lhe permita encontrar-se com a realidade e, na mesma, poder atuar de maneira consciente, eficiente e responsável. Já Libaneo (2010) pormenoriza os elementos do processo de ensino e introduz a corrente de “professor mediador” e “facilitador. Nesse sentido, Libaneo define Didática como uma disciplina que estuda o processo de ensino no qual os objetivos, os conteúdos, os métodos e as formas de organização da aula combinam entre si, de modo a criar as condições e metodologias garantidoras de uma aprendizagem significativa por parte dos educandos. Sendo assim, ela ajuda o professor na direção e orientação das tarefas do INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 11 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 ensino e da aprendizagem, fornecendo-lhe mais segurança profissional e tornando-o um mediador. Noutrossim, os dois autores citados são consonantes ao definir o objetivo principal da disciplina de Didática que é o de “garantir aos alunos uma aprendizagem significativa”. É nesse sentido que construímos esse material, objetivando levar aos alunos do Instituto IBE, um módulo/disciplina que ofereça formação de excelência e qualidade para os que pretendem ou já ministram aulas no Ensino Superior. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 12 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 2.O ENSINO E A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EDUCATIVAS E DIDÁTICAS: CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DA PROFISSÃO Devemos ter em mente que nós professores exercemos um papel insubstituível no processo da transformação social. A nossa formação identitária abrange o profissional, pois a docência vai mais além do que somente dar aulas, constituiu fundamentalmente a nossa atuação profissional na prática social. Já reparou como as palavras “profissão” e “professor” se parecem? Sim, elas nasceram da mesma raiz etimológica, tendo derivado do latim professum, que por sua vez vem do verbo profitēri: “declarar perante um magistrado, fazer uma declaração, manifestar-se; declarar em alto e bom som, afirmar, assegurar, prometer, protestar, obrigar-se, confessar, mostrar, dar a conhecer, ensinar, ser professor” (HOUAISS, 2017), o que faz todo o sentido: ser professor é a primeira das profissões. Todas as outras especialidades e habilidades técnicas só podem existir quando há professores ensinando-as aos seus discípulos. Nesse sentido, a nossa formação não se baseia apenas na racionalidade técnica, como apenas executores de decisões alheias, mas, cidadãos com competência e habilidade na capacidade de decidir, produzindo novos conhecimentos para a teoria e prática de ensinar. Em sendo, o professor do século XXI, deve ser um profissional da educação que elabora com criatividade conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade. Nessa era da tecnologia, os professores devem ser encarados e considerados como parceiros/autores na transformação da qualidade social da escola, compreendendo os contextos históricos, sociais, culturais e organizacionais que fazem parte e interferem na sua atividade docente. Cabe então aos professores do século XXI a tarefa de apontar caminhos institucionais (coletivamente) para enfrentamento das novas demandas do mundo contemporâneo, com competência do conhecimento, com profissionalismo ético e consciência política. Só assim, estaremos aptos a oferecer oportunidades educacionais aos nossos alunos para construir e INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 13 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 reconstruir saberes à luz do pensamento reflexivo e crítico entre as transformações sociais e a formação humana, usando para isso a compreensão e a proposição do real. Para tanto, buscamos na História da profissionalização do magistério, bases para a introdução desse estudo que pretende analisar a docência, sua formação, sua profissionalização. Assim, no sentido genérico em que se passou a empregar o termo "profissão", desde a modernidade, para designar o exercício regular de atividades às quais correspondem um treinamento e remuneração específicos, pode-se dizer que a Antiguidade conheceu, sobretudo as profissões de guerra, que sustentavam política e economicamente as grandes potências da época, e também as profissões que, em evidente anacronismo, definiríamos como "burocráticas", isto é, necessárias à manutenção da complexa organização que regia muitos dos impérios orientais (escribas, artesãos de diferentes artes, funcionários). Podem-se ainda incluir nessa lista as ocupações especificamente ligadas às práticas religiosas – que, frequentemente integradas na estrutura de poder, poderiam ser igualmente identificadas por uma formação e remuneração especiais. Nesse sentido, a função de ensinar é muito anterior ao processo de criação das primeiras instituições educadoras da História. Antes mesmo que a escrita fosse desenvolvida, a oralidade, em conjunto com outros processos comunicacionais, tiveram a importante função de repassar aquilo que era considerado importante. Instigado pela simples imitação ou pelo relato oral, o homem conseguiu produzir e difundir as mais variadas maneiras de se relacionar com o mundo que o cerca. Mas não é dessa maneira que as referências mais antigas à figura do professor aparecem na Antiguidade grega. Com Homero, aprendemos que a Quirão, "sapientíssimo centauro", os pais entregavam seus filhos para que fossem educados de acordo com os princípios da educação cavalheiresca; e que Fênix, a quem foi confiada a educação de Aquiles, não se cansava de dizer com orgulho: "fui eu quem fez de ti o que tu és" (MARROU, 1975, p. 24). Seria, pois, precipitado aceitar sem qualquer hesitação o vínculo fastidiosamente estabelecidoentre o pedagogo, escravo encarregado de INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 14 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 acompanhar as crianças de baixa idade à escola e de lhes "tomar a lição", e os profissionais da formação humana: que interesse haveria em associar a formação humana a um cuidado até hoje exercido no seio da família, na esfera privada? E, de fato, para além dessas figuras mitológicas exemplares, por volta do século V a.C., a educação grega consagrava o pedótriba, ou instrutor físico – profissional encarregado de treinar crianças nas atividades esportivas, assumiu em geral um papel preponderante nas poleis gregas, especialmente em Esparta –; o citarista, mestre que se ocupava da educação musical, e os gramáticos, responsáveis pelo ensino da língua e da cultura, principalmente por meio da poesia e da epopeia (idem, p. 73). A necessidade de se colocar pessoas específicas para o ensinamento de certas habilidades já aconteceu no Antigo Egito, quando a função de escriba era preservada pela constituição de escolas reais que preparavam o indivíduo para dominar essa técnica. No Ocidente, as instituições de ensino variavam bastante de acordo com os valores que predominavam em certa cultura. Mas foram as escolas sofísticas, das quais podemos dizer que instituíram uma reflexão sistemática sobre a formação humana, que forneceram matéria para que Platão forjasse a mais remota imagem que se tem de um "profissional da educação", no sentido mais moderno do termo: indivíduos que afirmavam dominar a especialidade da formação de bons cidadãos, os sofistas "carregam seu saber de cidade em cidade", dispostos, para desgosto de Platão, a "vendê-lo no atacado ou no varejo" (PLATÃO, 2007, p. 256). Para o filósofo, a exigência de retribuição financeira, muito comum entre os sofistas, não se coadunava com uma prática que resistia a se apresentar como técnica, a se medir pelos resultados e, mais ainda, a se fazer remunerar. Tal como Sócrates, figura emblemática de mestre que vai ser contraposta a esses "profissionais", os sofistas visavam a uma formação política, de caráter eminentemente intelectual e ética, e não diretamente ao treinamento para guerra. Eles ensinavam a arte da discussão e da retórica, objetivando preparar os discípulos para as exigências da vida pública – o que, na democracia grega, implicava necessariamente a destreza no manejo do patrimônio cultural e da arte de debater. As divergências estabeleciam-se na INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 15 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 definição das áreas de conhecimento que deveriam ser privilegiadas, havendo os que defendessem o ideal da polimatia – de um saber que incluísse de forma mais ou menos abrangente todas as especialidades. Examinando com certo recuo a prática sofista, podemos constatar que, no que concerne à sua época, a crítica platônica peca, no mínimo, pela indevida generalização – entretanto, foi assim que ela atravessou os séculos, ecoando a cada vez que, por diferentes razões ideológicas, se pretendeu idealizar a figura do mestre. E, observando as tendências que dominam a prática educacional na atualidade, como não reconhecer os riscos a que está sujeita uma sociedade em que os formadores assumem correntemente a "condição de homens de negócio, para os quais o ensino é uma profissão cujo êxito comercial atesta o valor intrínseco e a eficácia social"? (MARROU, 1975, p. 222). Entre os espartanos, a educação começava aos sete anos de idade e se preocupava com o aprimoramento das habilidades físicas do indivíduo. A dura rotina de treinos físicos era mantida com o objetivo de fazer com que os homens estivessem prontos para a guerra e as mulheres aptas para gerar crianças saudáveis. Além disso, cada criança era mantida por um tutor que desempenhava a função por vínculo de amizade e sem ganhar nada em troca. Em Atenas, o serviço era feito mediante uma cobrança e cada tipo de conhecimento era delegado a um tipo de tutor ou professor. Preocupados com o equilíbrio entre corpo e mente, a educação ateniense contou com três tipos básicos de profissionais do ensino: os páidotribés, que cuidavam do desenvolvimento intelectual; os grammatistés, responsáveis pelo repasse da escrita e da leitura; e os kitharistés, que cuidavam do aprimoramento físico. Contudo, é importante frisar que já a tradição grega estabelecia uma forte distinção entre aqueles que exercem um ofício e os que dispõem de sua scholè, que dedicam todo seu tempo à vida da pólis: [...] os gregos acreditavam que os verdadeiros representantes da Paideia eram, não "aqueles que fazem profissão das coisas mudas" (escultores, pintores, arquitetos), mas os poetas, os músicos, os oradores INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 16 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 (entenda-se aí: os homens de Estado), tanto quanto os filósofos. Eles sentiram, com efeito, que o legislador estava, de certa forma, mais próximo do poeta do que do escultor, pois os dois, poeta e legislador, assumiam uma missão educativa. Só o legislador podia pretender o título de escultor, pois só ele modelava o homem vivo. (JAEGER, 1995, p. 18). Podemos argumentar que o testemunho de Jaeger não é em nada imparcial, mas descreve a tentativa (talvez uma das últimas) de revalorizar o humanismo clássico – que, em sua interpretação, é forjado por esses mesmos valores aristocráticos de que Platão se fez porta-voz. E, sem dúvida, Platão admitia a existência de um saber superior, perante o qual o saber especializado, a technè, só pode aparecer como menor. No entanto, é ainda ele que apresenta a técnica dos artesãos como verdadeira, por oposição à "falsa técnica" formativa dos sofistas: é que, ao que parece, às "coisas mudas" pode de fato corresponder uma "técnica" verdadeira, enquanto para a formação humana somente a filosofia parece a seus olhos Na Roma Antiga, o papel de educar foi desempenhado pelos retores, que – assim como os sofistas gregos – circulavam pelas cidades ensinando o que sabiam em troca de alguma compensação financeira. Além disso, podemos citar a presença dos lud magister, que desempenhavam a função de alfabetizar as crianças que não tinham uma condição material mais abastada. Contudo, quando Hípias se gabava, em Olímpia, de ter fabricado com suas próprias mãos tudo que carregava, essa capacidade técnica não fazia dele um artesão. Ele repete o velho ideal da autossuficiência. Polivalência não é, contudo, tecnicidade. Para Platão – ele o repete ao longo da República –, é mesmo o contrário que se dá. (VIDAL-NAQUET, 1990, p. 106). Seria o filósofo, portanto, o primeiro profissional da formação humana? A posição dos democratas com quem Sócrates se enfrenta é clara: "qualquer ateniense distinto, qualquer kalos kagathos é capaz de ensinar [a virtude cívica], de acordo com o que ele próprio recebeu em seu tempo" (idem, p. 112). É claro que, antidemocrata por excelência, Platão recusa essa ideia. Mas, por INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 17 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 um aspecto, pelo menos, há uma confluência de posições: o verdadeiro cidadão faz-se necessariamente polivalente, e sua especialidade única é a política. O projeto filosófico de governo dos homens que nasce com Platão associou a tarefa do político,do indivíduo habilitado a governar a cidade, à figura do epistemon – do especialista, único possuidor de um saber e um saber fazer verdadeiros, e assim único capaz de organizar a sociedade segundo aquele que seria seu princípio natural de funcionamento (CASTORIADIS, 2004, p. 64). A autoridade do especialista vem do monopólio da verdadeira ciência, infalível e segura, e define-se como uma técnica: como uma arte, ela também infalível e segura, de conduzir os assuntos humanos. A figura do epistemon visava, ao que parece, resolver um impasse a que Platão haveria chegado ao buscar a boa lei para reger a sociedade. Diante da rica diversidade e da complexidade das questões humanas, as leis, que devem necessariamente buscar a universalidade, serão excessivas ou carentes: não há, simplesmente, como passar da forma universal a cada caso particular, não há como garantir a justa aplicação do princípio ideal a cada situação específica. A arte do epistemon é, pois, definida não somente como a capacidade de conhecer a verdade sobre a sociedade e sobre o humano, mas também de julgar a melhor forma de adequação dessa verdade a cada caso específico. Nesse caso, ironiza Castoriadis (idem), o epistemon deveria estar "à cabeceira", ao lado de cada indivíduo, ele deveria estar em toda parte, a todo momento. A aporia não se soluciona, porque o elemento humano resiste às tentativas de formalização que são, na História da humanidade, denominadas ciência, legislação, controle técnico. No período medieval, o mundo do conhecimento passou a ter um nítido controle das instituições religiosas cristãs. Inicialmente, o conhecimento ali presente ficava somente restrito aos próprios membros e aspirantes da Igreja. Na Baixa Idade Média, tal situação mudou com a constituição das primeiras universidades. Até o século XIX, nenhum curso era elaborado com o objetivo de se formar professores. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 18 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Isto porque, sob a influência do cristianismo, a imagem do professor muitas vezes foi confundida, como já tantas vezes mencionado, com a do sacerdote. Isso vai inaugurar um novo tipo de representação, sobretudo por considerar a arte de formar homens a melhor mostra da ação divina sobre a terra. Até a Reforma – e, na França, principalmente até a Revolução Francesa, quando se instituíram os chamados professores leigos –, a Igreja monopolizou os saberes científicos e filosóficos da tradição grega e romana, identificando a função de formador com o sacerdócio. A partir da Revolução Francesa, a atividade educacional deixou o controle absoluto da Igreja para se submeter à ação centralizadora dos Estados nacionais, redescobrindo a natureza eminentemente política da tarefa educacional: formar os futuros cidadãos. Empregada como arma para a construção nacional, a educação mantém a aura de prestígio que a tradição lhe reservava, mantendo a imagem de um ofício que implicava forçosamente uma sublime vocação, uma dedicação total e sem limites. Mas esse monopólio educativo do Estado foi responsável pela redefinição do sentido e do estatuto da profissão docente. Segundo Nóvoa (2006, p. 121), à prática da educação moderna correspondeu a elaboração de um conjunto de critérios profissionais que acabou por definir um saber e um saber fazer próprios à docência, explorados pela pedagogia e pelas chamadas "ciências da educação". Durante muito tempo acreditou-se que a gênese da profissão docente tinha coincidido com a emergência dos sistemas de ensino de Estado. Não é nada disso, pois no século XVIII havia já uma série de grupos que faziam do ensino sua ocupação principal, exercendo-a muitas vezes em tempo integral [...]. [Mas] A intervenção estatal vai provocar uma homogeneização, assim como uma unificação e uma hierarquização à escala nacional, de todos estes grupos [professores leigos e religiosos]: no início, o que constitui estes docentes em corpo profissional é o controle do Estado, e não uma concepção corporativa de ofício. Observe-se que, em seu raciocínio, António Nóvoa desconsidera todas as práticas que, da Antiguidade até o período moderno, se instituíram socialmente como atividades especializadas, às quais em muitos casos os INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 19 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 indivíduos se dedicavam de forma exclusiva. Além dos sofistas e dos retores da Antiguidade, deixa de ser mencionada, por exemplo, a intensa prática diretamente relacionada às novas exigências educacionais introduzidas pelo movimento reformista ou pelo estabelecimento das primeiras universidades. Quanto aos autores que se dedicam à chamada sociologia das profissões, eles costumam associar a profissionalização da educação à autonomia demonstrada pela classe de professores no estabelecimento dos critérios, regras e procedimentos para seu ofício. Por isso, recusam-se a reconhecer, tal como o faz Nóvoa, no movimento que dá nascimento aos Estados nacionais modernos, a origem da nova face do -métier da educação. Pretendem, assim, que o estatuto socioprofissional tardiamente alcançado pela educação básica se defina por critérios de crescente tecnicidade, que deveriam culminar, a exemplo de outras profissões, na fixação de organismos de classe, de "conselhos corporativos", disciplinadores da atuação dos seus "afiliados" e responsáveis pela concessão de licenças e permissões para ensinar. Assim como na política, a formação humana resiste à padronização, à fragmentação, à tecnificação a que é submetida. Ao definir a educação e a política como as mais difíceis atividades dadas aos humanos, Immanuel Kant (2006, p. 26) alertava para o fato de que a elas não correspondem leis gerais a serem aplicadas de forma universal; incorporando, em seguida, a psicanálise, Freud (1975) foi além, definindo essas atividades como impossíveis. Não há, para a formação dos humanos, conhecimento seguro: é preciso avançar lentamente, pondera Kant (2006), na base da experimentação e da aquisição histórica. Educar é uma atividade impossível, porque, a rigor, ninguém educa a autonomia: no máximo, autoeduca-se. Como, pois, estabelecer uma regularidade e instituir leis para a formação? Segundo o artigo “A Profissionalização Docente”, de Mariza da Gama Leite de Oliveira, tanto em Portugal como no Brasil, o magistério se constitui em profissão graças à intervenção e ao enquadramento do Estado, que substituiu a Igreja como entidade de tutela do ensino. Nóvoa (1992) faz algumas considerações a esse respeito com relação ao ensino em Portugal, porém, acredita-se que no Brasil Colônia muitos fatos ocorreram em concomitância com a Metrópole. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 20 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 De 1500 a 1759 imperou no Brasil a educação jesuítica, que tinha como objetivo principal a catequese. O conteúdo cultural transportado de Portugal para a Colônia brasileira era destinado a uma minoria dos donos de terras e senhores de engenho, excluindo-se desse público as mulheres e os filhos primogênitos, os quais deveriam assumir a direção dos negócios da família. Até então, a educação era humanista, destinada a dar cultura geral básica, sem preocupação de qualificar para o trabalho. A educação se manteve fechada e irredutível ao espírito crítico e de análise, à pesquisa e à experimentação. De cunho literário e humanista,a educação servia apenas para dar brilho à inteligência dos desocupados sociais. “O ensino, assim, foi conservado à margem, sem utilidade prática visível para uma economia fundada na agricultura rudimentar e no trabalho escravo” (ROMANELLI, 1997, p. 34). A educação dos jesuítas também formava sacerdotes; e os que não queriam seguir a carreira sacerdotal, os letrados, seguiam seus estudos a nível superior na Universidade de Coimbra. A classe dirigente aos poucos foi tomando consciência do poder dessa educação na formação de seus representantes políticos junto ao poder público, e assim a educação passou a ter utilidade. A obra de catequese, que em princípio constituía o objetivo principal da presença da Companhia de Jesus no Brasil, acabou gradativamente cedendo lugar em importância à educação da elite, impregnada de uma cultura intelectual transplantada, alienada e alienante. Observa-se que desde essa época já se evidencia a separação entre os produtores e os transmissores do saber, sendo destinado aos primeiros educadores realizar um bom trabalho técnico e pedagógico. Em 1759 os jesuítas foram expulsos de Portugal e de seus domínios, pois surgiu um descontentamento geral devido ao fanatismo religioso, que promovia o atraso cultural; também contribuíram para isso a decadência econômica do Reino Unido e a expansão das ideias anticlericais do Marquês de Pombal. De 1759 a 1772 foram inúmeras as dificuldades para a criação de um novo sistema educacional, pois os educadores, de formação religiosa, não foram substituídos de imediato. Assim, transcorreram 13 anos depois da expulsão dos jesuítas para a nova estruturação. Leigos começaram a ser introduzidos no ensino e o Estado assumiu pela primeira vez os encargos da INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 21 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 educação. A assunção do ensino pelo Estado provoca à imagem do professor o que Nóvoa coloca em relação a Portugal: “Ao longo do século XIX consolida-se uma imagem do professor, que cruza as referências ao magistério docente, ao apostolado e ao sacerdócio, com a humildade e a obediência devidas aos funcionários públicos, tudo isto envolto numa auréola algo mística de valorização das qualidades de relação e de compreensão da pessoa humana. Simultaneamente, a profissão docente impregna-se de uma espécie de entre-dois, que tem estigmatizado a história contemporânea dos professores: não devem saber de mais, nem de menos; não se devem misturar com o povo, nem com a burguesia; não devem ser pobres, nem ricos; não são (bem) funcionários públicos, nem profissionais liberais”. (NÓVOA. 2012, p. 16). Pode-se dizer que a imagem que se tem hoje do professor está estigmatizada pela relação da Igreja com a educação, interferindo no processo de profissionalização da categoria. Confirma Nóvoa que algumas pessoas têm do ensino a visão de uma atividade que se realiza com naturalidade, isto é, sem necessidade de qualquer formação específica (2012, p. 21). Tal visão é consequência de uma História recente, pois em algumas regiões do país ainda há professores leigos, ou sem formação específica, devido à carência de profissionais; e os mesmos ainda têm a permissão do Estado e são por ele recrutados. Isso logicamente não ocorre com outras profissões como a de engenheiro e médico, por exemplo; pelo contrário, há programas governamentais oferecendo salários bastante atrativos para médicos que se candidatarem a trabalhar no interior do Brasil. O mesmo não ocorre na Educação. Em meio a essa rede de interesses está o professor. Nesse quadro é extremamente difícil enxergar a profissão docente com autonomia e poder. A profissão docente tem passado por um processo de proletarização, ao longo da INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 22 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 história da educação brasileira, visto que a expansão escolar recrutou uma massa de profissionais sem as necessárias habilitações acadêmicas e pedagógicas. Desta forma, antagonicamente assiste-se à degradação do estatuto, dos rendimentos e do poder/autonomia da profissão. A tendência à diminuição da autonomia profissional do professor é reforçada pelas políticas públicas que tendem a separar os atores que planejam dos que executam; isto é, quem elabora os currículos e programas e quem os concretiza pedagogicamente. Tal fato vem desde a educação jesuítica ao transplantar uma cultura intelectual “alienada e alienante”. Junto a isso, mais recentemente, a qualidade do trabalho docente cede lugar à quantidade, devido à intensificação de tarefas administrativas que lhe são cobradas, perdendo-se assim competências coletivas importantes (APPLE e JUNGER apud NÓVOA, 2012, p. 24). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 23 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 3.O ENSINO E A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA Apesar da precarização da profissão, ser professor é, sem dúvidas, uma profissão muito gratificante, haja vista que, sem ela não existiriam as outras profissões. Assim, sob a perspectiva da importância fundamental do professor, temos diversas vertentes educacionais e dentro da vertente do ensino e da aprendizagem significativa, temos a vertente da competência política, de Paulo Freire (1996) em que o autor afirma que ensinar exige rigorosidade metódica; pesquisa; respeito aos saberes dos educandos; criticidade, estética e ética; corporificação das palavras pelo exemplo; risco e aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; reflexão crítica sobre a prática, reconhecimento e a assunção da identidade cultural, entre outros. Contudo, Freire (1996) não deixa de frisar que a prática educativa requer afetividade. Nesse sentido, o professor deve então, como afirma Codo e Gazzotti (1999), ser capaz de estabelecer uma relação afetiva com seu aluno, pois, na atividade de ensinar o afeto torna-se indispensável, o que permitirá a efetividade do trabalho. Isto porque, na visão desses autores, quando não se estabelece a relação afetiva, ou melhor, o vínculo afetivo entre o professor e os alunos, torna-se “ilusório” pensar que o sucesso do educador será completo, ou seja, a aprendizagem do aluno não será significativa, ocorrendo lacunas no processo ensino-aprendizagem. Não obstante, com relação às qualidades que formam um bom professor sob a ótica de Freire (1998), são: a humildade pedagógica (para aprender sempre); a amorosidade; a tolerância; a capacidade de decisão; a segurança; a tensão entre a paciência e a impaciência e; a parcimônia verbal. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 24 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Nesse sentido, Arends (2005) complementa afirmando que, aos futuros professores, serão exigidos conhecimentos de Pedagogia, que vão além de conhecimentos relativos aos conteúdos específicos, como também serão responsáveis por recursos e práticas educativas que sejam eficazes. Acredita o autor que, ao professor do século XXI, é exigida a capacidade em vários domínios como, por exemplo: escolar, pedagógico, social e cultural, como também que sejam reflexíveis e capazes de resolver problemas. Já Vasconcellos (1998, p. 7) assinala que “ser dador deaula, tomador de conta de aluno é fácil, mas ser professor, no sentido radical, não é fácil não”. Fazer-se, tornar-se, ser professor é deveras difícil, custoso, trabalhoso e demorado, principalmente quando se pensa no sucesso do aluno e, nesse sentido, o Instituto IBE busca oferecer formação de qualidade a seus alunos, futuros professores do Ensino Superior. Isto porque, não basta apenas se dizer professor. É preciso ser capaz de ensinar e, mais ainda, fazer com que o aluno aprenda. Para tanto, como pudemos verificar na literatura buscada, pesquisada e consultada, o professor precisa dominar muitas e diferentes competências para o “fazer-se” professor. Nesse aspecto, a competência do professor deve constituir-se em aspecto relevante da educação, pois é cada vez mais evidente a importância da excelência na prática profissional do professor, para o sucesso da aprendizagem do aluno e, consequentemente, o sucesso do professor. Não bastam apenas mais escolas, mais vagas, melhor estrutura física. É preciso um professor que seja capaz de ensinar os alunos e transformá-los em cidadãos críticos e criativos. Para tanto, o professor deve conhecer profundamente a ciência que trata do modo de ensinar, ou seja, a Didática, um dos ramos de estudo da Pedagogia, que conforme, Libâneo (1994) “é uma ciência que estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino tendo em vista finalidades educacionais, que são sempre sociais” (LIBÂNEO, 1994, p. 16), sendo um processo de ensino que não é restrito à sala de aula. Nesse sentido, evidencia-se o papel da Didática ao tratar: da percepção e compreensão reflexiva e critica das situações didáticas no seu contexto histórico e social; INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 25 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 da compreensão crítica do processo de ensino (competência para transmissão e assimilação dos conhecimentos); da compreensão da unidade: objetivos-conteúdos-métodos tarefas importantes de planejamento, direção do processo de ensino e aprendizagem e avaliação; do domínio dos métodos, procedimentos e formas de direção, organização e controle de ensino. O professor deve conhecer e apropriar-se, também, dos conhecimentos da Pedagogia que é, de acordo com Libâneo, a ciência que investiga a teoria e a prática da educação nos seus vínculos com a prática social global (LIBÂNEO, 1994, p. 16). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 26 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 4.PRÁTICA EDUCATIVA E SOCIEDADE Historicamente, a profissão de professor, segundo Imbernón (2004), caracterizava-se pelo predomínio do conhecimento das disciplinas à imagem e à semelhança de outras profissões. O autor segue afirmando que saber era possuir um conhecimento formal; portanto, quem obtivesse essas atribuições, também possuía a capacidade de ensinar. Nesta perspectiva, a competência política e pedagógica assume uma dimensão minoritária para a atividade docente, conforme apontado por Azambuja e Foster (2006). Nesse sentido, é possível inferir que este traço histórico da emergência da profissão docente tem comprometido a prática de ensino universitária, uma vez que nela se cristalizou a valorização da ação de ensinar como transmissão de conhecimentos. Nas últimas décadas, o corpo docente universitário se constitui, em grande parte, por profissionais renomados, com sucesso em suas atividades profissionais, tendo como base a profissão paralela que exercem ou exerciam no mundo do trabalho, acreditando que quem sabe, automaticamente, sabe ensinar. Estes profissionais, ao chegarem à universidade, trazem consigo inúmeras experiências do que é ser professor. Experiências estas adquiridas como alunos durante sua vida escolar, que lhe permitirão construir modelos que utilizarão por toda a sua carreira docente (PIMENTA; ANATASIOU, 2002). Contudo, para Masetto (2002), a universidade e os professores universitários começam a se conscientizar de que a docência, como o exercício de qualquer profissão, exige capacitação própria e específica, não se restringindo a um diploma de bacharel, mestre ou doutor, ou ainda, ao exercício de uma profissão. Exige tudo isto, além de outras competências próprias obtidas através do estudo da Didática e da Pedagogia, caracterizadas como ciências da educação. O dicionário Larousse (2017) conceitua a ciência da educação como: “conjunto dos métodos utilizados para educar; prática educativa em um INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 27 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 domínio determinado; método de ensino; aptidão para bem ensinar” (LAROUSSE, Dicionário da língua Portuguesa, 2017). Portanto, de acordo com Sabalza, ensinar é uma tarefa complexa na medida em que exige um conhecimento consistente acerca da disciplina ou das suas atividades; acerca da maneira como os estudantes aprendem; acerca do modo como serão conduzidos os recursos de ensino, a fim de que se ajustem melhor às condições em que será realizado o trabalho etc. (ZABALZA, 2014). Assim, se a Didática estuda o processo de ensino com suas finalidades educacionais e que estes são sempre sociais, a prática educativa deverá considerar o conhecimento acumulado pela sociedade, como processo formativo que ocorre como necessária à atividade humana. Nesse sentido, a prática educativa é fenômeno social e universal necessário à existência de todas as sociedades. Assim, a educação então pode ser considerada como prática educativa e no sentido amplo “compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais estão envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existirem socialmente” (LIBÂNEO, 2008, p. 17). Nesse sentido, temos a Educação não-intencional como aquela referente às influências do contexto social e do meio ambiente sobre os indivíduos; e a Educação intencional – (não formal e formal) como aquela referente às influências em que há intenções e objetivos conscientemente, como é o caso da educação escolar e extra-escolar. Essas formas que assume a prática educativa, intencionais ou não, formais ou não, escolares ou extras, se interpenetram. O processo educativo, onde quer que se dê, é sempre contextualizado social e politicamente; há uma subordinação à sociedade que lhe faz exigências, determina objetivos e lhe provê condições e meios de ação, sendo socialmente determinada. Sendo assim, o que significa a expressão “a educação é socialmente determinada?” A prática educativa e especialmente os objetivos e conteúdos do ensino e o trabalho docente, estão determinados por fins e exigências sociais, políticas e ideológicas. Isto quer dizer que a organização da sociedade, a existência de classes sociais, o papel da educação estão implicados nas INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 28 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 formas como as relações sociais vão assumindo pela ação prática concreta dos homens e mulheres. Por isso o vínculo entre sociedade e educação. Em sendo, conhecer bem a própria disciplina é uma condição fundamental, mas não é o suficiente para ser um professor de excelência. A capacidade intelectual do docente e a forma como abordará os conteúdos sãomuitos distintas da maneira como o especialista o faz. Esta é uma forma de aproximar-se dos conteúdos ou das atividades profissionais pensando em estratégias para fazer com que os alunos aprendam. É nesse cenário de incertezas que os docentes universitários são movidos por uma racionalidade instrumental alimentada pela experiência herdada de seus antigos mestres. Entretanto, diversos estudos procuram mapear as racionalidades que movem esses profissionais em situação de trabalho, conforme atestam e afirmam diversos autores relacionados nas referências. Assim, seguindo o caminho reflexivo-crítico, trilhado pelos autores relacionados, procuramos desenvolver uma análise dos saberes docentes mobilizados no âmbito do trabalho dos professores universitários, como profissionais reflexivos, tendo como referencial a prática docente. Nesse sentido, e segundo Luckesi (2007, p. 26), professor é “todo ser humano envolvido em sua prática histórica transformadora”, pois nós exercemos o papel de professores nas relações cotidianas, permanentemente transformando e sendo transformados no contato com o próximo. O professor, intencionalmente, procura criar condições para o desenvolvimento moral e cognitivo do indivíduo e da sociedade. Com isso, Luckesi identifica o professor como: O profissional que se dedica à atividade de, intencionalmente, criar condições de desenvolvimento de condutas desejáveis, seja do ponto de vista do indivíduo seja do ponto de vista do grupamento humano. (LUCKESI, 2007, p. 26). Portanto um professor pode ser sujeito ou objeto da História. Sendo o professor como objeto aquele que possui postura passiva e não interfere no INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 29 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 processo. Já o professor como sujeito possui postura ativa e constrói conscientemente (junto com outros) o projeto histórico de desenvolvimento do povo. Aqui devemos ressaltar que o docente é a figura responsabilizada pelo ensino na sala de aula, mas seu real papel diferencia-se conforme o entendimento de cada um e de cada grupo de estudiosos sobre o tema e suas diferentes tendências pedagógicas. Em sendo, na Tendência Pedagógica Tradicional, vê-se uma proposta de educação que é caracterizada como transmissão de conhecimentos e restrita à ação da escola. Nesse sentido, segundo Libâneo (2008) é muito comum as escolas atribuírem ao ensino a mera transmissão de conhecimentos, onde o aluno torna-se passivo e os conhecimentos são decorados sem questionamentos. Já na Tendência Pedagógica Renovada, ligada ao movimento da Escola Nova, “o centro da atividade escolar é o aluno, e o professor é visto como facilitador no processo de busca de conhecimento que deve partir do aluno” (OLIVEIRA, 2009). Nesse aspecto, segundo Libâneo (2008, p. 66), os adeptos a essa última tendência costumam dizer que “o professor não ensina; antes, ajuda o aluno a aprender”, enfatizando assim a ideia de professor facilitador. Quanto ao que se refere à Tendência Progressista, crítico social dos conteúdos, o aluno possui o papel de participador e o professor como mediador entre o saber e o aluno. Nesse sentido, de acordo com Libâneo (2008, p. 70), “o ensino consiste na mediação de objetivos-conteúdos-métodos que assegure o encontro formativo entre os alunos e as disciplinas escolares”. Vários dos entrevistados consideram-se mediadores e facilitadores entre o conhecimento e o aluno, seguindo uma tendência mais progressista e crítico-social com traços de Escola Nova. Um deles, porém, considera-se um transmissor de conhecimento, revelando tendências tradicionalistas. Assim, tivemos essencialmente dois discursos, referentes ao questionamento do que é ser professor: “professor é um transmissor de conhecimento”; e “professor é um mediador e facilitador entre o conhecimento e o aluno”. No primeiro caso, vemos uma condição mais imposta e autoritária – tradicional; no segundo, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 30 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 vemos que há uma flexibilidade maior na relação aluno-professor, uma 'mão- dupla', revelando traços progressivistas e escolanovistas. Nesse aspecto, o trabalho docente é uma prática social que se faz no cotidiano dos sujeitos, nela envolvidos e, nesta prática social é que estes sujeitos se constituem como seres humanos, ao se apropriarem da experiência que se acumula de forma objetiva. Isto porque, ao atuarem com base em suas experiências anteriores ou em experiências aceitas e difundidas socialmente, estão evidenciando outra característica do pensamento cotidiano denominada de ultrageneralização (HELLER, 1989). Assim, na heterogeneidade de seu trabalho o professor se encontra diante de situações complexas para as quais precisa encontrar respostas que podem ser criativas ou repetitivas, dependendo de sua capacidade e habilidade de leitura da realidade e das possibilidades objetivas em que se realiza o trabalho. No entanto, quando a intervenção do professor é feita tendo em vista objetivos que se dirigem à busca de um resultado ideal, a atividade docente pode ser denominada práxis, uma vez que esta se caracteriza como uma atividade que pressupõe a idealização consciente por parte do sujeito que se propõe a interferir e a transformar a realidade. Em sendo, o trabalho docente concebido como práxis, apresenta também uma dimensão criadora e, portanto se faz necessário explicitar melhor como esta criação ocorre, enquanto atividade humana. Nessa perspectiva, Therrien (2006, p. 72) explica que, [...] o trabalho docente é entendido enquanto práxis transformadora de um sujeito (professor) em interação situada com outro sujeito (aluno), onde a produção de saberes e de significados caracteriza e direciona o processo de comunicação, dialogicidade e entendimento entre ambos na direção de uma emancipação fundada no ser social. Nessa concepção, o trabalho docente é visto como um processo educativo de instrução e de formação humana, através da mediação e da interação entre INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 31 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 professor e alunos, a partir dos conteúdos do ensino, em direção à construção de uma sociabilidade verdadeiramente humana onde sujeitos constroem sua identidade no seio de uma coletividade (THERRIEN, 2006, p. 72). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 32 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 5.O TRABALHO DO PROFESSOR DO ENSINO SUPERIOR E A MERCANTILIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO O trabalho docente está vinculado à organização das relações de produção e reprodução da vida. Atualmente, está determinado pelas novas formas de organização e gestão do trabalho, cuja centralidade está na extração da maior produtividade do trabalhador e na racionalização do processo de trabalho. Nesse cenário, velhos conceitos e práticas que alteram a organização do trabalho docente são reeditados. Os professores do ensino superior têm cada vez mais restrições para desenvolver atividades integrantes de um projeto de produção do conhecimento - com ramificações para o ensino, a pesquisa e a extensão - que contribuam para produzir elaborações, como produçõesescritas, debates, novas descobertas científicas e novas formas de solucionar as questões postas por movimentos sociais e pela comunidade, na qual a instituição de ensino superior está inserida. As definições das atividades passam a ser orientadas a partir das exigências do reordenamento da educação como mercadoria e não como direito social universal, o que impõe novas prioridades, que se distanciam do projeto de educação, cuja referência é ser um direito social, resultando na alteração do perfil dos cursos. Isto se agrava numa situação de crise do capital, em que o achatamento salarial é brutal e a ameaça do desemprego um fato. O trabalho do professor alterou-se ao mesclar-se com esta dura realidade. Nesse sentido, a lógica mercantil passa a determinar a política educacional, na medida em que essa se torna um importante lugar para a expansão do capitalismo, para operar inversões na busca do lucro por meio da produção de conhecimento e da formação de força de trabalho especializada, a partir de critérios do mercado. Sendo assim, procura-se transformar o trabalho docente em trabalho produtivo, que transforma o simples dinheiro em capital, por intermédio da mais-valia. Tudo isso no contexto da Reforma do Estado proposta pelo Banco Mundial, em curso há três décadas no país, tendo se intensificado nos últimos 15 anos. Uma reforma que prevê a retirada do Estado do setor produtivo, mas amplia a intervenção estatal na formulação de políticas INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 33 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 e ações - as educacionais são apenas um exemplo - que atendam à lógica do capital. A "modernização" do Estado brasileiro foi baseada na superação da lógica burocrática para a gerencial, assentada nos critérios de eficácia e produtividade próprias do modelo empresarial na educação superior. Essa modernização evidencia-se na área da educação pelas diferentes modalidades de instituições de ensino, variando seu papel na educação e seu modelo de financiamento, além de instituir mecanismo que tornam boa parte das instituições privadas em empresas, garantindo espaço de rentabilidade do capital. Por outro lado, institui nas públicas o modelo de organização gerencial por contrato de gestão que nas universidades federais atendeu pelo nome de ReUni (LIMA, 2011, p. 7-17). Nesse aspecto, as alterações no trabalho docente são, ao mesmo tempo, indutoras e resultados da trajetória de transformação da área da educação em espaço rentável para o capital, adequando-o à lógica produtiva do sistema. Assim, se voltarmos às análises já clássicas sobre a organização do trabalho, podemos afirmar que, com isso, separa-se o produto final de sua idealização, subdivide-se a especialidade do trabalho docente e barateiam-se os custos. Além disso, torna-se possível contratar a força de trabalho por diferentes formas, ainda que tenha as exigências da qualificação formal como critério avaliativo. Assim, uma otimização do trabalho é assegurada e a competição interna é acirrada, estimulando os docentes a produzir mais, além de flexibilizar a prestação do serviço de educação. A ideologia do capital sobre o trabalho. Isto porque, em sentido amplo, Ideologia é um “Conjunto de ideias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão. Enquanto teoria, no sentido de organização sistemática dos conhecimentos destinados a orientar a ação efetiva. Ex.: Ideologia de uma escola – orienta a prática pedagógica: religiosa – dá regras de conduta aos fiéis: partidos políticos – estabelece determinada concepção de poder e fornece diretrizes de ação aos filiados” (ARANHA, 2010, p. 36). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 34 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Em um sentido restrito, vários autores como: Cone, Durkheim, Weber, Manheim conceituam ideologia, mas Max é quem enriquece a explicação do conceito “Diante da tentativa humana de explicar a realidade e dar regras de ação, é preciso considerar também as formas de conhecimento ilusório que levam ao mascaramento dos conflitos sociais” (ARANHA, 2010, p. 37). Assim, Ideologia para Max “adquire um sentido negativo, como instrumento de dominação” Tem influência marcante nos jogos de poder e na manutenção dos privilégios que plasmam a maneira de pensar e de agir dos indivíduos na sociedade como todo e na educação em particular, posto que, o sistema educativo, incluindo as escolas, as igrejas, as agências de formação profissional, os meios de comunicação de massa etc., é um meio privilegiado para o repasse da ideologia dominante, como podemos constatar a todo momento. Diante destas ideias e opiniões percebe-se que a prática educativa deve ser vista como parte integrante da dinâmica das relações sociais, das formas de organização social, tendo suas finalidades e processos determinados por interesse antagônicos das classes sociais. Sendo assim, o trabalho docente torna-se a manifestação da prática educativa, estando presentes interesses de toda ordem (sociais, políticos, econômicos, culturais etc.) que precisam ser compreendidos pelos professores. O reconhecimento do papel político do trabalho doente implica, assim, a luta pela modificação das relações de poder. Portanto, não existe neutralidade na prática educativa. Nesse sentido, as relações sociais podem ser transformadas pelos próprios indivíduos que a integram, Não é estática, imutável, estabelecida para sempre. É histórica e é um processo que se constitui em ações humanas na vida social. Então, a prática educativa, a vida cotidiana, as relações professor- aluno, os objetivos da educação, o trabalho docente, nossa percepção do aluno, estão carregados de significados que se constituem na dinâmica das relações entre classes, etnias, grupos religiosos, homens e mulheres, jovens e adultos. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 35 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Sendo assim, o campo de atuação do professor é muito amplo, abrangendo o profissional, o político e o escolar, devendo assegurar, ao aluno, um sólido domínio do conhecimento e habilidades; o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais e; de pensamento independente, crítico e criativo. Tudo isso visando a formação de cidadãos ativos, críticos e capazes de participarem nas lutas pela transformação social. Nesse momento, podemos afirmar que o ensino também é determinado socialmente. Portanto deve criar condições metodológicas e organizativas para o processo de transmissão e assimilação de conhecimentos e desenvolvimentos da capacidade intelectuais e processos mentais dos alunos, tendo em vista o conhecimento crítico dos problemas sociais. Assim, a atividade docente, como uma prática social complexa, combina atitudes, expectativas, visões de mundo, habilidades e conhecimentos condicionados pelas diferentes histórias de vida dos professores, sendo altamente influenciada pela cultura das instituições onde se realiza, posto que, como prática complexa, abarca dilemas sobre os quais nos vemos incitados a lançar um olhar como pesquisadores e estudiosos. Um desses dilemas diz respeito ao conhecimento profissional, bem como a sua formação, haja vista que, a prática docente é um lócus de formação e produção de saberes. Isto posto, vimos que os vários setores da atividade humana passaram por significativas mudanças que se caracterizam em novas configurações da ordem econômicae política, relacionadas ao conhecimento, às vinculações pessoais, às comunicações, entre outras, que trazem consequências muito diretas para a educação superior. Tais mudanças afetam de maneira particular a formação de professores, área que se situa não só no âmbito do conhecimento, mas também da ética, em que estão em jogo entendimentos, convicções e atitudes que compõem o processo de preparação de jovens para o mercado de trabalho em todas as suas vertentes. Essa avalanche de mudanças, ao mesmo tempo em que se aproxima, distancia, torna similar, diferencia e reconfigura características, disposições de nações, instituições e profissões. Nesse contexto, o trabalho docente assume diversas faces em diversos aspectos. Os aspectos mais visíveis do trabalho docente estão associados ao INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 36 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 conceito de profissionalidade docente, que são requisitos essenciais da profissão do professor, objeto do nosso presente estudo com essa disciplina. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 37 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 6.A PROFISSIONALIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE E O QUE É SER UM “BOM PROFESSOR” DENTRO DE UMA PERSPECTIVA SOCIO- OCUPACIONAL O quadro atual do ensino superior no país reescreve as condições sócio-ocupacionais do trabalho docente. Pensar nessas condições nos remete a um conjunto de circunstâncias das quais dependem a realização do trabalho docente. De um modo geral envolve necessariamente, no âmbito das Instituições de Ensino Superior, condições materiais para o exercício da atividade profissional, que inclui: infraestrutura e equipamentos; autonomia como princípio de organização desse trabalho que deve ser conferida frente a religiões, governos e partidos; democracia como base para desenvolvê-lo em sua central característica, que é produzir e fomentar o pensar crítico, com pluralismo, direito ao contraditório e ao exercício da troca de conhecimentos; estabilidade e direitos trabalhistas assegurados com carreira estruturada, para desenvolver sua relação profissional com dedicação e segurança sem ser demitido ou ter sua aposentadoria usurpada; bons salários e política salarial definida para dar sustento para si e para sua família e ter como se capacitar no desenvolvimento de seu trabalho; garantia de direitos paritários e isonômicos entre os que realizam essa atividade e os que já a realizaram; estabelecimento de relação entre exercício direto da atividade de ensino, pesquisa e extensão com o tempo necessário para pensar e exercer o nosso trabalho, o que envolve relação professor-aluno, tempo de estudo, de produzir novo conhecimento; socialização do conhecimento, assim como pensar junto com a comunidade, usuários e, em especial, em conjunto com os movimentos sociais, as diretrizes da educação que queremos. Esses, acima, são alguns dos pontos essenciais para se pensar uma educação superior comprometida com a formação profissional de qualidade e INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 38 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 socialmente referenciada, elementos, infelizmente, cada vez mais raros na realidade de nossas instituições de ensino superior. Essas circunstâncias desenham a real possibilidade de exercer o trabalho docente resguardando suas características próprias, as quais nos remetem ao seu perfil artesanal e ao respeito às condições de trabalho necessárias para realizá-lo nas instituições. A isso se associa o fortalecimento do papel social da instituição de ensino onde se realiza, a qual deve responder às necessidades da comunidade na qual está inserida e possibilitar uma formação profissional calcada na perspectiva crítica e de emancipação dos sujeitos. O cerceamento dessas circunstâncias desconstrói a essência do trabalho docente que parte da negação do imediato dado, propiciando perguntas sobre o que se apresenta, buscando desvendar a experiência vivida. A ele se associam necessariamente, descoberta, interpretação, criação e vínculo com o contexto sociocultural que o institui. Para realizá-lo, o princípio da autoridade deve ser rechaçado; a interdisciplinaridade deve ser perseguida, permanentemente, mesclando a história das ideias e também as práticas científicas nos diversos campos do conhecimento; e, por fim, exige a experiência coletiva de pensar e formular a reflexão. Isto porque, como já dissemos anteriormente, o trabalho docente é uma prática social que se faz no cotidiano dos sujeitos nela envolvidos e nesta prática social é que estes sujeitos se constituem como seres humanos, ao se apropriarem da experiência que se acumula de forma objetiva. Nesse sentido, ao atuarem com base em suas experiências anteriores ou em experiências aceitas e difundidas socialmente, os professores estão evidenciando outra característica do pensamento cotidiano denominada de ultrageneralização (HELLER, 1989), haja vista que, na heterogeneidade de seu trabalho o professor se encontra diante de situações complexas para as quais precisa encontrar respostas que podem ser criativas ou repetitivas dependendo de sua capacidade e habilidade de leitura da realidade e das possibilidades objetivas em que se realiza o trabalho. No entanto, quando a intervenção do professor é feita tendo em vista objetivos que se dirigem à busca de um resultado ideal, a atividade docente INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E EDUCATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR 39 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 pode ser denominada práxis (como já dissemos) uma vez que esta se caracteriza como uma atividade que pressupõe a idealização consciente por parte do sujeito que se propõe a interferir e a transformar a realidade. Isto porque, se “o que é ser um professor?” já é uma pergunta que gera alguma discussão, o que se dirá então da pergunta: o que é ser bom professor? Segundo Freire (2003, p. 96) “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento”. A maioria de nós educadores, concordamos que ter uma boa relação (sendo afetuoso) com o aluno, respeitando seus interesses e experiências vividas e aprendendo com eles é o caminho para ser um bom professor. Alguns outros complementam, destacando o caráter de pesquisador do professor, que deve se atualizar constantemente, afirmando que para ser um bom professor, deve-se gostar do que se faz, que é o que Artur de Távolla prega: “De que adiantará um discurso sobre a alegria se o professor for um triste?” Sem gostar do que faz, um professor acaba tento dificuldades em se estimular e a seguir todo o resto das coisas que ele mesmo descreve ser características imprescindíveis do “bom professor”: o prazer é a centelha do aprendizado. Nesse aspecto, um outro fator importante segundo Cunha (2007) é que, a forma como o docente de hoje recebeu influências de seus professores e o interesse em poder contribuir com o conhecimento, leva o aluno a querer se espelhar no mestre e ser tal como. Esse aspecto é, em muitos casos, determinante para a formação do futuro “bom professor”. (p. 25). Observa-se que o professor, conforme descrito por Cunha (2007), tem sobre si, às vezes, a figura de exemplo
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