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Edição 08 |Ago - Set - Out/2014 ISSN 2317 - 9406 Por que amamos ou detestamos os objetos? Autor do livro Design Emocional Editorial Mesmo com todas as tecnologias, funcionalidades e usabilidades dos produtos disponíveis atualmente, eles ainda não são suficientes para satisfazer nossas ne- cessidades como consumidores e usuários do século XXI. Hoje, queremos ter mais do que o “material”, queremos vivenciar uma nova expe- riência ao adquirir produtos, ou ao nos relacionar com objetos que já fazem parte da história de nossas vidas. Mais do que nunca, o Design Emocional se aprimora com o objetivo de en- tender e assimilar a significativa relação emocional que temos com os objetos a nossa volta. E, foi pensando em entender um pouco mais sobre esse vasto universo, que a oitava edição da Revista iDeia é dedicada à relação entre design – emoção – objeto. Para nossa matéria de capa, convidamos o respeitado professor Don Norman, considerado por muitos como o papa do design emocional, em função de sua literatura dedicada a esse tema. Nas entrevistas internacionais buscamos o dina- marquês Martin Lindstrom, autor de vários livros consagrados, entre eles “Brandsen- se”, que nos fala sobre a relação emocional que temos com as marcas. Ao seu lado, temos um dos principais defensores do design emocional, Marco van Hout, integrante do conselho da Design & Emotion Society. Na seção Perfil, optamos por mostrar o talento de dois jovens brasileiros e promis- sores profissionais dedicados à relação emocional que temos com os objetos. São eles os designers Anderson Horta e Pedro Braga. Na entrevista nacional, convidamos outro talento jovem, o jornalista e pesquisador Frederick van Amstel, editor do blog Usabilidoido, que vive hoje na Holanda, onde cursa seu doutorado. Em Ícones, temos dois grandes designers, conhecidos mundialmente pelo traba- lho que realizam, extremamente ligado à relação emocional: Alessandro Mendini e Stefano Giovannoni. Na nova seção, “Opinião”, convidamos o arquiteto Dalton Monteiro para nos falar sobre a relação entre iluminação e emoção! E Trazendo a questão para o lado material, apresentamos, na seção Projetos, o belíssimo projeto lumino- técnico realizado pela arquiteta Mariluce Duque na reforma do teatro mineiro, Francisco Nunes. Em Miscelânea, abordamos dois assuntos muito interessantes: o movimento Mem- phis, importante para a história do design e o projeto Something Good, que fala sobre a experiência de união do trabalho de designers e artesãos. Temos ainda ótimas dicas de leitura com Rita Ribeiro, na seção Ler Mais. Em ar- tigos, contamos com a colaboração de três convidados muito queridos: Andrea Nacacche, Daniel Padilha e Marcelina Almeida. Como vocês podem perceber, nossa oitava edição está mais do que especial... Então, só posso desejar uma ótima leitura! Camilo Belchior Editor Camilo Belchior Jornalista Responsável: Cilene Impelizieri 5236/MG Jornalistas: Ana Cláudia Ulhôa Danilo Borges Pedro Vaz Perez Pâmilla Vilas Boas Projeto gráfico e coordenação gráfica Cláudio Valentin Capa: Divulgação Don Norman A Revista iDeia é uma publicação da Editora PlexuDesign, patrocinada pelo Grupo Loja Elétrica / Templuz, com veiculação gratuita, não podendo ser vendida. Sua distribuição é feita para um mailing seleto de profissionais das áreas afins ao design e formadores de opinião. Contato: contato@revistaideia.com Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da revista. Expediente: Marcelina das Graças de Almeida Graduação em História (1989), Mestrado em História (1993) e Doutorado em História (2007) pela Universidade Federal de Minas Gerais - Docente nos cursos de graduação e pós-graduação da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais e professora titular da Sociedade de Ensino Superior Estácio de Sá Ltda. Coordenadora do ASI - Arquivo de Som e Imagem, situado no Centro de Estudos em Design da Imagem da Escola de Design,UEMG. Rita Ribeiro Rita Ribeiro é Doutora em Geografia, pesqui- sadora na área de culturas urbanas e líder do grupo de pesquisa Design e Representações Sociais e professora do Programa de Pós- -Graduação em Design na Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG Colaboradores Andréa Naccache Psicanalista e estudiosa da ética do processo criativo, Andréa dirige a pesquisa CRIATIVI- DADE BRASILEIRA, realizada com Alex Atala, os irmãos Campana e Jum Nakao. Além de clínica, faz consultoria e treinamento em inovação. Realizou projetos com: Whirlpool-Ki- tchenAid, BOX1824, USP, Rico Lins + Studio, Es- cola Panamericana de Arte e Design, Editora Abril e Possible Worldwide. Em 2009, esteve no MIT para estudos de arquitetura empresarial e design. No mesmo ano, lançou o NÚCLEO DE CRIAÇÃO, grupo de pesquisa do processo criativo com orientação psicanalítica, em atividade continuada. Daniel Padilha Cofundador e estrategista de marca na Pyrsona BrandHouse, palestrante, professor de curso livre no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, professor na Pós-Graduação da PUC de Minas Gerais, professor convidado na ESPM/SP e Universidade Estadual de Lon- drina. É graduado em Comunicação Social com ênfase em Design e especialista em Construção de Marca pelo Centro Universitá- rio Belas Artes, MBA Executivo em Gestão de Marcas pelas Faculdades Integradas Rio Branco. Opinião - Danton Monteiro - pág. 7pág. 6 - Opinião - Danton Monteiro Revista iDeia: Qual a importância do lighting designer num projeto arquitetônico? Dalton Monteiro: É um parceiro que vem agregar qualidade ao trabalho, valorizar aquilo que muitos não veem. Num projeto, o arquiteto emprega uma emoção e uma dinâmica ao trabalho, mas são elementos que precisam ser ressaltados, e é isso que um bom lighting designer consegue fazer. Ele abre os olhos do espectador. Ri: Como um projeto de iluminação bem realizado pode impactar ou melhorar a vida das pessoas? DM: Ele destaca os pontos principais desejados pelo autor do projeto, trazendo mais realismo, mais cor para os detalhes. A emoção é um detalhe importante na apreciação de uma obra de arte. A iluminação é como se fosse a moldura que valoriza essa obra prima. Fotos: Vincent Leroux/Temps Machine Projeto: Noé Duchaufour Lawrance Luz é emoção Ao longo de toda uma vida dedicada à arquitetura, Dalton Gomes Monteiro pôde observar as transformações, evoluções e permanências nos projetos arquitetônicos em todo o mundo. Mas, para o arquiteto, se há um campo que realmente ganhou desta- que, ao longo das décadas, foi a iluminação. “Luz é emoção. Fazer Lighting Design é projetar com a própria emoção”, avalia. Dono de uma carreira profissional marcada por projetos de prestígio – como a sede social do Jockey Club Brasileiro; o Gabinete da Presidência da República, além de conceituadas residências e hotéis de luxo por todo o país – Dalton Monteiro concedeu entrevista exclusiva à Revista iDeia falando sobre a importância do Lighting Design em projetos arquitetônicos e nos indicou uma de suas referências no campo, o projeto de um restaurante em Paris, do designer Noé Duchaufour Lawrance. por Pedro Perez “Em Paris, no alto da torre de Mon- tparnasse, está instalado o restauran- te Ciel de Paris, um misto de design retrô-futurista e contemporâneo. Seu teto é inspirado nas bolhas de champagne, usando fontes distin- tas de iluminação, direta e indireta. Sua iluminação é complementada por pontos na cor laranja, no teto, e linhas de luz, destacando os móveis, de tonalidade escura, criando um cli- ma agradável, tanto de dia como de noite, numa feliz homenagem à Ci- dade Luz. Reparem no carpete com desenhosque “espelham” as formas das luminárias do teto. Móveis moder- nos dão o ar de contemporaneidade ao ambiente. Estando em Paris, vale uma visita.” Opinião - Danton Monteiro - pág. 9pág. 8 - Opinião - Danton Monteiro 4. projeto arquitetônico, o que, muitas vezes, traz, inclusive, retorno financeiro. Temos que provar ao cliente que pagar mais por um projeto complementar não é custo, é investimento. Ri: Em sua opinião, quais são os principais designers de iluminação em atividade no Brasil e no mundo? DM: Não gosto de citar nomes, para não me esquecer de ninguém. Mas, contor- nando as falhas, poderia citar a Esther Stiller, com quem tive os primeiros conta- tos na área. Podemos citar, ainda, Peter Gasper, que, apesar de falecido, ainda é muito lembrado como o grande parceiro de Oscar Niemeyer. Os nomes de Carlos Fortes e Guinter Parschalk também me vêm à lembrança e, para finalizar, cito a Rafaela Romitelli, por seu projeto especial com fitas LED para o Café 7 Molinos, no Shopping JK, em São Paulo. Ri: Quais foram os projetos de Lighting Design mais marcantes e desafiadores da sua carreira? DM: Um deles, já bastante antigo, foi para o salão de convenções do Rio Palace Hotel, no Rio de Janeiro. Posso citar ainda os tetos dos salões de convenções do Golden Tower Hotel, em São Paulo, e o auditório das Lojas CEM, em Salto (SP). O mais desafiador, entretanto, está sendo o da Capela Ecumênica das Lojas CEM, em fase de conclusão. Ri: De que forma a iluminação pode mudar a “alma” de um projeto? DM: Valorizando essa “alma”. Se dese- jamos um ambiente tranquilo, calmo, utilizamos cores suaves; ao contrário, se queremos estimular sua apreciação, usamos cores quentes, detalhes vigoro- sos. A iluminação destaca esse enfoque, acrescenta mais afirmação, mais certeza aos ambientes. Ri: Então, como podemos aproximar o Lighting Design do conceito de “design emocional”? DM: É simples. Luz é emoção. Fazer Light Design, portanto, é projetar com emoção. Ri: Quais relações você vê entre estética e sustentabilidade no Lighting Design? DM: Metaforicamente, assim como o trapézio é a sustentabilidade do trapezista, o projeto luminotécnico é o trapézio do arquiteto. Utilizando-se dele, o profissional pode conseguir sempre mais das suas formas e volumes. Ri: Como você vê o mercado para o Lighting Designer no Brasil? DM: Promissor. Nossos profissionais da iluminação já são requisitados até para projetos no exterior. Seus trabalhos costu- mam ser publicados em revistas especia- lizadas do mundo inteiro. É preciso agora convencer os compradores de serviços de arquitetura a aceitarem o investimento adicional que o Lighting Design agrega ao Restaurante Convoglia Foto: divulgação Opinião - Danton Monteiro - pág. 11pág. 10 - Opinião - Danton Monteiro valorizá-los com a iluminação. Dou muita importância à luz. Porém, como ainda luto contra a resistência dos clientes na contratação de um profissional específico, acabo eu mesmo resolvendo a questão. Mas, sempre que posso, me consulto com algum profissional do ramo, das lojas, ou projetistas de luminárias. Método de trabalho? Por aproximações sucessivas, isto é, checando sempre, antes de concluir o trabalho. Tenho procurado conhecer me- lhor as lâmpadas e fitas de LED, já que as incandescentes estão saindo do mercado. A arquitetura ganha com eficiência e nós, profissionais, com novas formas e qualida- de de luz. Arquiteto Dalton Monteiro Ri: Quais são os desafios da Capela? DM: Por tratar-se de uma obra sem qualquer vínculo funcional com a empresa contratante, sendo apenas mais um item de atendimento aos funcionários, teria que ser uma obra pequena, sem maior destaque dentro do parque industrial onde se encontra. Assim, a arquitetura é pequena, delicada, mas de uma dinâmica forte, que estou procurando valorizar com a iluminação. Durante o dia, como sua estrutura e cobertura são todas de vidro, a luz natural resolve a iluminação. Para o entardecer, entre- tanto, estou buscando soluções discretas na aparência, mas significativas em termos luminotécnicos. Vamos ver como esse desafio vai terminar... Ri: Fale um pouco sobre seu processo de trabalho no que concerne ao desenho de iluminação. DM: Sou um arquiteto voltado, principalmente, aos proje- tos arquitetônicos e de interiores, e certamente, procuro Fotos: Vincent Leroux/Temps Machine Projeto: Noé Duchaufour Lawrance EntrevistasNacionais - Frederick van Amstel - pág. 13pág. 12 - EntrevistasNacionais - Frederick van Amstel Ri: Com o Design de Interação é possível criar ex- periências de interação não só na Web. Como ele pode ser incorporado em outros ramos do design e em outras áreas do conhecimento? Fva: Design de interação diz respeito à maneira como as pessoas podem interagir socialmente por meio de tecnologias. A maior parte dos especialis- tas nessa área trabalha com produtos de infor- mação, tais como websites e aplicativos. Porém, conheço alguns profissionais experimentando essa abordagem com eletrodomésticos, brinquedos e, até mesmo ambientes. Em meu doutorado, estou trazendo minha experi- ência no design de interação para a arquitetura e o resultado tem sido bem interessante. Pensar um prédio como um espaço de interação abre caminhos para a arquitetura contribuir para o desenvolvimento de atividades humanas, não só no quesito estético, mas também no quesito usabilidade. Ri: Como o design emocional vem rompendo com a linha funcionalista do Design, muito influente no Brasil, que ainda acredita que a forma de um objeto segue sua função? FvA: O funcionalismo se propõe a colocar a função dentro do produto, como se fosse parte da forma, daí o dito “a forma segue a função”. Essa abordagem cai por terra quando o usuário encontra outra função para o produto, que não aquela pensada pelo designer. A gente faz isso o tempo todo em nosso dia-a-dia e nem nota. A função da cadeira não é para alcançar algo no topo do armário, nem tampouco é função do armário guardar coisas em seu topo. A cadeira é projetada para sentar e o armário para guardar objetos dentro. Apesar de concordarmos que as funções “ori- ginais” são melhores, continuamos a subir na cadeira e guardar coisas no topo do armário. Isso porque não agimos racionalmente o tempo todo. O dia-a-dia, em especial, é o espaço que encon- tramos para nos aliviar da exigência de raciona- lidade dos estudos, do trabalho, da economia e da política. O design emocional explora essas “outras racio- nalidades” do ser humano, deixando de lado a paridade entre forma e função. O resultado do design emocional, o produto afetivo, não tem uma função aparente, explicada pela forma. A forma sequer remete a um símbolo, a outra O design e a política do dia a dia por Pâmilla Vilas Boas Quando o pesquisador Frederick van Amstel começou a estudar jor- nalismo, a Internet ainda despontava no Brasil e ele já acreditava no potencial revolucionário do meio digital. Na faculdade, ele perce- beu que as grandes transformações na comunicação não ocorrem por causa dos meios, mas por causa das pessoas que os utilizam e o constroem, a partir de lento processo de mudança cultural. Ao buscar as pessoas revolucionárias, encontrou a “tribo dos designers” que, para ele, são os responsáveis por fazer a mudança acontecer num campo político completamente diferente: o dia-a-dia. van Amstel é editor do blog Usabilidoido e, atualmente, vive na Holanda, onde realiza pesquisa de doutorado sobre design parti- cipativo na Universidade de Twente. Ele foi jurado dos concursos IF Design Awards e Peixe Grande e prestou consultoria em Design de Interação para empresas como Electrolux, InfoGlobo, Magazine Luiza, Tramontina e Duty Free Dufry. Em entrevista à iDeia, Frederick aborda comoo design, ao invés de empobrecer a atividade huma- na, pode intervir no desenvolvimento e na valorização das pessoas, a partir de um pensamento mais expansivo e participativo. Revista iDeia: Como você define o conceito de design expansivo? Como ele pode contribuir para o desenvolvimento humano? Frederick van Amstel: Hoje em dia é cada vez maior o design que, intencional ou não, empobrece a atividade humana, chegando mesmo a torná-la desnecessária devido à automação. E, não é preciso imaginar robôs futurísticos para sacar que o design pode empobrecer a atividade humana; as redes sociais, os celulares, os produtos de ostentação e os apartamentos minúsculos já estão aí para isso. O design expansivo consiste em criar espaços para que as atividades do dia-a-dia não sejam comprimidas, aceleradas, fatia- das e embaladas em pacotes. Se as pessoas estão cansadas da rotineira falta de espaço para suas atividades e os designers estão dispostos a fazer algo a respeito, então o design expansivo é uma tese relevante. Slow food, inter- venções urbanas e produtos afetivos são exemplos atuais do que eu chamaria de design expansivo. A questão que eu ponho aos designers e interessados é: que outros tipos de design podemos criar se focalizarmos no desenvolvimento da atividade humana? Frederick van Amstel Fotos: arquivo pessoal EntrevistasNacionais - Frederick van Amstel - pág. 15pág. 14 - EntrevistasNacionais - Frederick van Amstel Ri: O Open Design rompe com algumas ideias for- tes no design, como a questão da autoria. Como essa proposta pode ser absorvida pelos designers e pelo mercado? FvA: Embora exista um culto gigantesco à autoria no design, nem todos os designers estão em busca de fama. Para a maioria, a motivação principal é colocar boas ideias no mundo. O problema é que muitas delas acabam guardadas numa gaveta só porque o designer não teve recursos para registrá- -la, não encontrou um investidor ou não conseguiu terminar o projeto. Disponibilizar a ideia num repositório de código aberto público abre a possibilidade para algum interessado continuar o projeto. Pode ser que ele roube a ideia sem dar créditos, mas, pelo menos, a ideia foi colocada no mundo. Isso não será justo se alguém ganhar dinheiro com o roubo da ideia, porém, fará todo sentido se o produto for usado para fins não lucrativos, ou seja, suprir demandas sociais não exploradas pelo comércio. Ri: Por que o open design pode ser considerado uma proposta política? FvA: Todo design é uma proposta política, porém, é da política do dia-a-dia que estou falando. Disponibilizar o código-fonte do produto é uma opção que o designer tem de promover a criativi- dade no dia-a-dia, superando o consumo passivo. O código-fonte aberto torna o produto um bem público, podendo ser utilizado para aprender uma determinada técnica ou para criar novos produtos. O problema é que no design, o código-fonte não é suficiente para que isso aconteça. Os desenhos em 2D ou 3D de um produto não contam toda a história. Para continuar um projeto, é preciso ter acesso às decisões que levaram àquele dese- nho. Por isso, eu prefiro usar o termo design livre ao invés de open design: é preciso mais do que disponibilizar códigos-fonte abertos, é preciso projetar em público e documentar o processo. Isso sim é uma proposta política revolucionária! Imagine se os estádios da Copa do Mundo tives- sem sido projetados assim? As chances de corrup- ção seriam muito menores, pois haveria milhões de fiscais observando o projeto. Visualizando o fluxo de atividades num centro de diagnóstico coisa. O produto afetivo seduz o usuário pelo material, pela cor, pelo cheiro, pela interação, enfim, pela experiência sensorial imediata que proporciona. Pode não ter função alguma, mas a gente quer usar. Isso pode parecer irracional num primeiro momento, mas, considerando o contexto de empobrecimento da atividade humana que mencionei anteriormente, o produto afetivo pode ser a esperança de começar uma nova atividade. Ri: Como o design livre pode contribuir para uma sociedade mais criativa? Fva: Design livre tem a ver com meu lado ativista. Sabemos muito pouco da origem dos produtos que estão ao nosso redor - como eles foram projetados, com quais materiais; qual foi o impacto social e ambiental da fabricação. Se essas informa- ções estiverem livres para os usuários, eles podem não só tomar melhores decisões de compra, como também continuar o próprio projeto do produto através de customizações e gambiarras. Em longo prazo, o design livre levaria a uma conscientização maior do papel do design na sociedade, principalmente, do potencial que oferece para que as pesso- as desenvolvam seu potencial criativo no dia a dia. Ao invés de usar passivamente um produto do jeito que ele foi projetado pra ser usado, no design livre o usuário usa de uma forma diferente, muito mais criati- va do que a original. Diversas iniciativas atuais estão criando condições para libertar esse potencial cria- tivo do usuário: wiki do produto, código- -fonte aberto, impressoras 3D, laboratórios de colaboração, etc. As consequências dessas práticas em larga escala não podem ser antecipadas, mas acredito que serão positivas. Planejamento colaborativo de um centro de diagnóstico EntrevistasInternacionais - Martin Lindstrom - pág. 17pág. 16 - EntrevistasInternacionais - Martin Lindstrom À iDeia, Martin fala sobre a importân- cia dos aspectos sensoriais e emocio- nais das marcas, numa época em que os consumidores têm papel cada vez mais ativo no futuro das empresas. Revista iDeia: Qual é o futuro das marcas? Martin Lindstrom: Marcas se tornarão verdadeiramente sensoriais e come- çarão a apelar, sistematicamente, para o maior número de sentidos possíveis. Estudos mostram que quanto mais sentidos você despertar, mais você será lembrado. Além disso, há uma correlação direta entre o número de sentidos e o nível de lealdade do consumidor. Ri: Quais são os principais desafios das marcas na contemporaneida- de? ML: Existem vários. O principal é controlar as marcas em um mundo onde o consumidor está no poder, não as marcas, que se tornaram extremamente dependentes da interação com esses consumido- res. E, nesse envolvimento, são eles que podem fazê-la morrer ou crescer – basta falar sobre ela nas mídias sociais. Antigamente, o criador de uma marca talvez tenha tido o controle de 70% sobre ela. Isso foi reduzido para 30% e, como a tendência é continuar caindo, os consumidores ganham cada vez mais poder. Ri: Ao mesmo tempo em que esta- belecem a relação entre o consu- midor e as empresas, a internet e as mídias sociais também colocam as companhias em uma situação vulnerável. Como lidar com isso? ML: Trabalhar com e não contra o consumidor. Sempre que me pedem ajuda para transformar uma marca, eu digo às equipes para, em primeiro lugar, passar um Livro best-seller de Martin Lindstrom , em que ele analisa o que faz com que as pessoas comprem. Foto: divulgação Por um marketing mais emocional por Pâmilla Vilas Boas Martin Lindstrom revela como a emoção pode aproximar as marcas de seus consumidores Quando criança, na Dinamarca, o jovem Martin tinha apenas um pensamento: LEGO. O jardim da família tornou-se sua própria criação, a LEGOLAND, atraindo visitantes de diferentes lugares – incluindo os advogados da empresa de brinque- dos. É com essa narrativa, recheada de emoção, que o publicitário Martin Lindstron conta por que tornou-se um dos principais estudiosos sobre marcas no mundo. Martin é, hoje, responsável por acon- selhar executivos da Corporação McDonald, Procter & Gamble, Nestlé, Microsoft Corporation, The Walt Disney Company, RedBull, GlaxoSmithKline,PepsiCo, entre outros. Uma das princi- pais autoridades em neuromarketing, foi eleito, em 2009, como uma das 100 personalidades mais influentes da re- vista Time. É autor de vários best-sellers e pioneiro na pesquisa sobre psicolo- gia do consumidor, marketing, marcas e pesquisa neurocientífica. Martin Lindstrom Foto: divulgação EntrevistasInternacionais - Martin Lindstrom - pág. 19pág. 18 - EntrevistasInternacionais - Martin Lindstrom adaptar e conectar emoções para além de sua proposição. Ao longo do tempo, essas emoções se tornam tão integradas que o produto, de repente, não é apenas um carro, um perfume ou um papel toalha, mas o espelho de emoções que se relacionam com a nossa vida. Ri: Como o Design Emocional tem contribuído para essas novas relações entre objetos, marcas e usuários? ML: Tem contribuído bastante e continuará a fazê-lo no futuro. Como mais esforços serão colocados em projetos de produtos, comunicação e ambientes sensoriais, as pessoas, consequente- mente se envolverão mais, o que levará a uma ligação mais forte entre consumidores e as marcas. A United Colors of Benetton criou um estilo ilustrativo passível de desconstrução, totalmente independente do logotipo da empresa. Foto: Divulgação Benetton tempo nas casas dos consumidores – viver com eles – e, em seguida, trazer à tona seus pensamentos. Poucas empresas no Brasil realmente vivem com o consumidor. Em vez disso, têm uma tendência a ler relatórios e olhar para as estatísticas nos escritórios. Depois de visitar os consumidores, é preciso se envolver com eles, interagir e iniciar um diálogo. Dessa forma, você descobrirá não só o que eles pensam, como também conhecerá seu paladar, visão de vida e de esperança. Também será natural ter um contato constante com eles, a fim de obter um sentido para o que é certo e o que é errado em sua comunicação. Isso ajudará as empresas a saírem de situações vulneráveis em que muitas marcas, em todo o mundo (e no Brasil), estão vivendo atualmente. Ri: Quais são as suas técnicas para construir marcas em um mundo tão transparente? ML: Normalmente, gastamos de dois a três meses vivendo nas casas dos consu- midores, antes mesmo de dialogar com a empresa e com os executivos. A partir daí, criamos mapas emocionais altamente sofisticados de vários daqueles humores, opiniões, preferências e perfis, ajudando- -nos a compreender a verdadeira situação da empresa. É em “campo” que vamos ver se a marca tem um problema, se há algum perigo à frente ou se existem oportunida- des. E isso precisa ser supervisionado. Então, levamos o cliente conosco, a fim de fazê-lo ver, em primeira mão, o que está acon- tecendo. Na experiência, tudo fica muito mais convincente do que apenas com- partilhar um relatório. O cliente precisa sentir e compreender a mentalidade do consumidor e isso não vai ocorrer por meio de relatórios. Ri: Por que as marcas são capazes de evo- car tantos sentimentos? ML: Porque se tornam um símbolo para outros aspectos de nossas vidas, que significam algo para nós. Um carro não é, necessariamente, um veículo de transpor- te, mas um meio para os homens conquis- tarem as mulheres. É o mesmo caso de um perfume, por exemplo. O fato é que as grandes marcas têm a capacidade de se BrandSense, livro de Martin Lindstron que defende a utilização dos cinco sentidos no branding, desde a criação do produto até sua comunicação. EntrevistasInternacionais - Marco van Hout - pág. 21pág. 20 - EntrevistasInternacionais - Marco van Hout do conselho da Design & Emotion Society e editor do projeto-emotion.com, plataforma criada para que profissionais e pesquisa- dores possam discutir temas marcantes da experiência emocional no design. Nesta entrevista, van Hout fala sobre as pesquisas na área, os passos para um pro- jeto de design emocional e a aplicação da teoria nas empresas. Revista iDeia: O que podemos entender por “design emocional” neste novo século? Marco van Hout: As emoções desem- penham um papel essencial em todo o período de nossas vidas. O conceito de emoção se refere a um fenômeno afetivo particular e específico: um breve episódio de coordenar um cérebro autônomo e as mudanças de comportamento, que facili- tam uma resposta a um evento externo ou interno de significância. Emoções são cruciais para a disciplina de design devido à sua influência - tanto de aquisição quanto de comportamento de uso. Se as pessoas não se sentirem bem, elas não vão comprar e nem usar o produ- to/serviço. Poderíamos afirmar que essas emoções são difíceis de gerenciar, devido à sua natureza subjetiva. No entanto, existem princípios universais sobre a forma que o projeto provoca emo- ções. Uma vez que um designer entende esses princípios, ele ou ela é capaz de pro- jetar estrategicamente para um impacto emocional específico. Chamamos então de design emocional a “emoção projeto” (a emoção em si não é projetada, mas sim as circunstâncias que podem provocá-las). Ri: Qual é a importância da criação de uma rede internacional para discutir o assunto? MvH: A influência da “qualidade emo- cional”, nas decisões de compra está crescendo. As empresas estão sendo obrigadas a fazer a diferença, a fim de proporcionar uma experiência completa e significativa para o consumidor. Em muitos mercados, os produtos são semelhantes no que diz respeito às suas características técnicas, qualidade e preço. Os consumi- dores, porém, estão à procura de produtos, marcas e serviços que lhes proporcionem uma sensação de bem-estar, felicidade ou que criem uma experiência memorável ou significativa. Portanto, não é surpresa que mais e mais empresas estão desafiando seus designers e departamento de P&D para, positivamente, manipular o impacto emocional de seus designs. Para eles, tor- na-se vital ter uma compreensão profunda de como os produtos provocam emoções e como as ferramentas e métodos que avaliam ou criam o impacto emocional de um determinado design podem ser usados. Esse é um fenômeno global e, já há algum tempo, estudiosos e profissionais de todo o mundo têm tentado encontrar novas teorias e maneiras de se trabalhar em torno desse tema. Nós fornecemos uma plata- forma para o intercâmbio de pesquisa, inspiração e uma rede de colaboração. Ri: A emoção relacionada com os objetos pode se tornar previsível e controlável? MvH: Não. Esse é realmente um dos maio- res equívocos sobre o campo. É por isso que eu prefiro referir-me à disciplina como motivada pela emoção do design ou “de- sign para emoção”. Como a motivação do projeto é altamente dependente de in- teresses pessoais e expectativas, o impacto emocional de seu projeto pode mudar instantaneamente, às vezes por causa de uma associação mais simples que o usuá- rio tem com ele. Tomemos como exemplo o carro da FIAT Croma, que foi introduzido na década de 80, na Holanda. Na Itália, ele foi um sucesso por causa do ajuste que tinha com o cliente-alvo: os homens. No entanto, na Holanda, no mesmo momento, o Croma era também o nome da marca de uma manteiga de cozimento e foi, principalmente, anunciada e orientada para as mães tradicionais. Essa associação ofuscou a avaliação do carro, esse modelo da FIAT foi um grande fracasso nos Países Baixos. Portanto, eu sempre me estresso quando eu treino os designers em motivação de projeto, pois não os oriento apenas para orquestrar as condições e as interações Marco van Hout Foto: divulgaçãoTeoria e prática do Design Emocional Especialista em entender, medir e projetar o impacto emocio- nal em produtos, serviços e interações, Marco van Hout é, atual- mente, um dos principais defensores do design emocional. Com uma carreira voltada para a pesquisa, o designer atua hoje noprojeto Medialab Amsterdã, que realiza pesquisas em aplicações de mídias interativas, em conjunto com parceiros da indústria criativa e educação. Também é co-fundador da Susa- Group, que desenvolve e implementa ferramentas de medição, inovação e métodos de design para otimizar a experiência e o impacto emocional do usuário. Além disso, Marco é membro por Ana Cláudia Ulhôa EntrevistasInternacionais - Marco van Hout - pág. 23pág. 22 - EntrevistasInternacionais - Marco van Hout Ri: Como as organizações podem incenti- var seus designers para estarem cientes do aspecto emocional de produtos e servi- ços? MvH: Primeiro de tudo, uma organização precisa adotar a ideia de que eles terão de começar a desenvolver um ecossiste- ma em que a empatia para os usuários, a beleza da criação e a necessidade de pro- fundo questionamento têm um papel cen- tral. Se for deixado apenas para os desig- ners “cuidarem”, não haverá produto final, o que pode ter um impacto significativo sobre o usuário, seu bem-estar e sentimen- tos. Gestores, pesquisadores, marqueteiros, desenvolvedores de negócios, todos eles deverão ter uma paixão compartilhada e reconhecimento para o impacto efetivo e emocional do que eles estão projetando, produzindo e vendendo. Uma vez constitu- ído esse ecossistema, a organização deve se certificar de que haja tempo suficiente, recursos e instalações que possam garantir, a todas as partes interessadas da empresa, gastar tempo no entendimento, explo- rando e projetando para um produto final “emocional”. Ri: Quais são os princípios que orientam a motivação do projeto? Quais são as ca- racterísticas de um objeto que pode gerar uma relação emocional? MvH: Para mencionar brevemente algumas técnicas de design que podem ser aplica- das para melhorar o impacto emocional de um projeto, podemos nos concentrar em: (1) Personalidade (2) Personalização, (3) Antropomorfismo ou (4) Avaliação, a fim de apelar para emoções específicas. No caso da personalidade, você está procurando algo para incluir característi- cas da personalidade na experiência com o produto. No caso de produtos digitais, a personalidade pode ser um tom de voz, comportamento ou aparência. Por exem- plo, podemos pensar nos faróis bonitos do Beetle (Volkswagen), que por terem essa característica provocam certas emoções agradáveis em pessoas que também o acham bonito. Personificação é sobre a relação entre nossos corpos e nossas emoções sentidas. Certas posturas ou movimentos do corpo podem induzir emoções específicas. Uma pesquisa mostrou que enquanto você se move para cima, você está mais inclinado a sentir emoções positivas do que quando está se movendo para baixo. Enquanto projeta as interações com seus produtos, você pode ter esse tipo de percepção em conta. Um exemplo é um conceito que, recentemente, foi trabalhado no Medialab Amsterdam, encomendado pela Cisco e que será apresentado na conferência do Design & Emoção em Bogotá, o “Postu- rAroma”. Ele consiste em um colar que Fiat Croma - Década de 80 Foto: divulgação corretas, mas também para que eles per- cebam que nunca terão garantia sobre o impacto que seus projetos terão em um nível emocional. Ri: Como envolver as emoções dos usuários no processo de design? Quais são os métodos, teorias e técnicas específicas para despertar emoções ou evitar um produto em particular? MvH: Para incluir, estrategicamente, o impacto emocional de seu projeto no processo de de- sign, é possível distinguir três etapas principais: 1) Entender (o que são as emoções, como elas são provocadas, etc); 2) Medir / Explorar (o que faz com que as emo- ções sejam ou não provocadas a partir de um conceito ou solução existente); 3) Meta (que emoções gostaria de provocar com seu design); 4) Projeto (recursos e características de design que, de tal maneira, apoiam as emoções alvo a serem provocadas). Dentro dessas etapas existem muitos métodos e ferramentas que es- tão disponíveis, a fim de obter percepções. No site da Design & Emotion Society* , temos uma ampla coleção de ferramentas e métodos e um monte de trabalhos acadêmicos, em nossa biblioteca de conferências anteriores, que apresentam esses métodos. Ri: Quais são os principais projetos desenvol- vidos pela Design & Emotion Society hoje? Quais são os principais exemplos de produtos desenvolvidos a partir de sua interação com o público? MvH: A Design & Emotion Society oferece uma plataforma para o debate e a partilha de conhecimento através de nossas conferências internacionais bianuais. Este ano, entre 06 e 10 outubro, celebraremos nossa 9 ª edição, em Bogotá, Colômbia. Pesquisadores, designers e pessoas da indústria irão apresentar seus recentes trabalhos na área. Outra plataforma importante que temos é a iniciativa para os capítulos locais. Temos de Chicago, Amsterdã, Reino Unido, Austrália, Brasil. Em nosso site, as pessoas podem solicitar uma licença para lerem nossas diretrizes e enviarem um bom plano. Nossos capítulos locais organizam eventos ocasionais, seminá- rios e iniciativas, o que é realmente bom para a comunidade, pois ela poderá trabalhar, em conjunto, em um nível mais local. * www.designandemotion.orgPosturAroma Foto: MediaLAB Amsterdam pág. 24 - EntrevistasInternacionais - Marco van Hout 210 mm 28 0 m m tecno l og iades ign Placa Redonda Sunset Tomada Carregador USB Placa Quadrada Azzurro Automação Residencial Um só nome, infinitas possibilidades www.bticino.com.br Acesse+ possibilidades 16584a-An NewL&L Geral 210x280mm.indd 1 04/04/14 17:44 pretende dar suporte às mulheres para que elas se sintam mais seguras no espaço público. Através da detecção de comportamento, ele exala uma fragrância para o usuário, a fim de lembrá-lo que ele deve ficar em pé ou cami- nhar mais ereto. A ideia é que essas mulheres se sintam mais positivas e tenham uma expres- são mais confiante. O antropomorfismo é sobre a tendência humana de atribuir qualidades semelhantes às humanas a objetos não vivos. Isso inclui características físicas, mas também qualidades de comportamento e interação. Nossas per- cepções e ideias antropomórficas influenciam na forma como interagimos com os animais, robôs e produtos - o quanto gostamos deles, o quanto cofiamos, e, definitivamente, como nos sentimos a respeito deles. Os exemplos típicos de aplicações são os animais de pelúcia com características humanas. Mas, aplicações mais sutis podem ser encontradas, bem como, o stand-by do Macbook Pro, que parece uma “respiração” de uma pessoa que está dormindo. Na tradição cognitiva da emoção psicológica, uma avaliação é definida como uma avalia- ção rápida da situação, no que diz respeito ao bem-estar de cada um. Em relação ao design, meu companheiro do conselho da Design & Emotion Society, o professor Pieter Desmet, investigou como a aparência do produto pro- voca emoções e propôs que a teoria de ava- liação pode ser usada para explicar como os produtos provocam emoções. A avaliação do produto é uma avaliação automática do efei- to que um produto tem sobre o bem-estar de alguém. Pieter propôs quatro tipos principais de avaliações de produtos: a relação entre um produto e os objetivos de alguém, o apelo sensorial do produto, a legitimidade de uma ação representada pelo produto e a novida- de do produto. Pelo efeito sobre o nosso bem- -estar, com base nas diferentes avaliações de produtos, podemos projetar as características específicas de produtos que podem apoiar o bem-estar de um usuário-alvo. Essa aborda- gem tem um grande potencial, se você tem uma boa compreensão de para quem você está projetando. As outras abordagens que mencionei antes têm mais potenciais se você gosta de se concentrar nos princípiosmais universais de impacto emocional. Equipe MediaLAB Amsterdam Foto: divulgação Ícones - Alessandro Mendini - pág. 27pág. 26 - Ícones - Alessandro Mendini Uma explosão de cores e vida Quem nunca brincou de enxergar formas humanas nos objetos? Ao olhar para um carro, por exemplo, é fácil imaginar um rosto. Os faróis formam olhos grandes e brilhantes. Já no para-choque, normal- mente, encontramos uma boca sorridente, que nos passa um ar amigável. É com essa sensação que o designer e arquiteto italia- no, Alessandro Mendini, gosta de brincar quando entra em seu atelier, em Milão, para criar móveis e utensílios domésticos. Uma das peças mais bem sucedidas de Mendini é o saca-rolha Anna G. Conheci- do como “a bailarina”, o objeto - líder ab- soluto de vendas da Alessi desde sua cria- ção, em 1994 - foi inspirado em uma amiga do designer. Ao analisar o saca-rolha, não é preciso muito esforço para ver um cabe- lo chanel, orifícios que remetem a olhos e boca, pescoço e braços alongados e um vestido colorido de mangas bufantes. Segundo Alessandro, as peças que lem- Alessandro Mendini com sua luminária Amuleto Foto: Ramun por Ana Cláudia Ulhôa Ícones - Alessandro Mendini - pág. 29pág. 28 - Ícones - Alessandro Mendini entre as coisas mais belas da natureza estão as flo- res. Elas são coloridas, e fazer coisas que tenham a ambição de se assemelhar às flores é interes- sante”. Ele ainda revelou que sua cor favorita é o rosa. “Porque é a cor da rosa, e rosa é um dos mais belos objetos do universo”. Sobre sua atuação como arquiteto, Alessandro Mendini comenta que sempre fez projetos peque- nos e que seu trabalho é como “uma acupuntura estética no tecido doente da cidade”. Entre as obras mais conhecidas estão o Museu Gronin- ger, construído na Holanda; a Estação de trem e ônibus, em Hannover, Alemanha, e a Galleria Mendini, em Lörrach, também na Alemanha. Para desenvolver seus projetos, seja de arquitetu- ra ou design, Alessandro revela que começa da parte para depois seguir para o todo. “A ideia é a mesma do pontilhismo: se cada pequena parte tem qualidade, o todo também terá”, conta para a Casa Vogue. Poltrona Proust 1978 Foto: divulgação bram seres vivos costumam ser mais bem sucedi- das. “É muito mais fácil ver um amigo numa figura que tem olhos”, explicou em uma palestra que realizou no Brasil, em setembro de 2013, a convite da Vitrine e da A Lot Of Brasil, com matéria publi- cada pela Casa Vogue. Outra característica marcante da obra de Mendi- ni é a utilização das cores. Aos 83 anos, o designer conta que criou apenas duas obras sem qualquer colorido. Todas as outras têm tons vibrantes e variados, como o sofá K2, que chega a reunir oito tonalidades diferentes. “O uso das cores deve ser emocional. Às vezes dois tons não combinam harmoniosamente, mas sua união cria uma vibra- ção e é isso que importa”, diz na matéria da Casa Vogue. Sempre poético, Alessandro afirma não ser designer, arquiteto, artista ou artesão, “apenas crio produtos com estética, poesia e alma”. Em outra entrevista, agora para a Casa Cláudia , ele afirma: “As cores me importam muito, porque Ícones - Alessandro Mendini - pág. 31pág. 30 - Ícones - Alessandro Mendini Além do pontilhismo, é possível perceber a influência de diversas outras escolas artísticas no trabalho do designer, como o surrealismo, cubismo e pós-modernismo. A já mencionada poltrona K2 é um exemplo de objeto com traços cubistas, com suas formas geométricas e variação de cores. Mas Mendini não foi só influenciado pelas escolas artísticas. Ele também foi precur- sor do Movimento Memphis. Fundado em 1980, pelo arquiteto e designer Ettore Sottsass, o movimento tinha como objetivo refletir sobre a funcionalidade dos objetos, enfatizando sua estética e rompendo com a teoria. As obras do grupo tinham como principais características a utilização de cores fortes e formas inusitadas, caracterís- ticas provenientes do Estúdio Alchimia de Mendini. Atualmente, o designer é considerado, pela academia, como uma das maiores referência do design emocional. Mendini é membro honorário da Academia de Artes e Design Bezalel, em Jerusalém. Recebeu também um doutorado honorário da Politécnica de Milão e da École Normale Supérieure da China. Foi ganhador do Compasso d’Oro de Design, em 1979 e 1981. Carrega ainda o título de “Cheva- lier des Arts et dês Lettres” e tem projetos exibidos em museus como o MoMa, de Nova York. Sofá K2 Foto: divulgação Sommelier - saca-rolhas Foto: divulgação Ícones - Stefano Geovannoni - pág. 33pág. 32 - Ícones - Stefano Geovannoni O designer mais Popular dos últimos tempos Stefano Giovannoni traduz o senti- mento humano em objetos que se tornaram ícones por Pâmilla Vilas Boas Entro no shopping em direção ao super- mercado para comprar uma cadeira. Logo, meus olhos são levados para um modelo colorido e me sinto em sintonia com o futuro com aquele objeto estético e sedutor. Quem nunca foi fisgado por esse produto? Criado por um dos ícones do design no mundo, o italiano Stefano Giovannoni, o Bombo Stool mudou a ideia sobre como um banco pode se transfor- mar. Nesse e em tantos outros projetos, Giovannoni conseguiu fazer a ponte entre a concepção elitista e o design para o mercado de massa. Arquiteto, industrial e designer de interiores nascido em La Spezia (1954), Giovannoni formou-se na Facoltà di Architettura de Florença em 1978. Atualmente, vive e trabalha em Milão. É professor da Domus Academy, em Milão; da Università del Progetto, em Reggio Emilia e de Desenho Industrial na Università di Architettura, em Stefano Giovannoni Foto: divulgação Ícones - Stefano Geovannoni - pág. 35pág. 34 - Ícones - Stefano Geovannoni Gênova. Já desenvolveu projetos para empresas como Alessi, Amore Pacific, Artsana, Bisazza, Fiat, LG Hausys, L’Oreal, Telecom, Vondom, dentre outras. O designer cria produtos emocionais que transcen- dem a efêmera relação de consumo. Muitos, como as linhas Girotondo, Mami e il Bagno Alessi ainda são best-sellers, depois de mais de vinte anos no mer- cado. Giovannoni incorpora um complexo sistema de códigos afetivos a seus projetos e, para ele, ser designer significa compreender profundamente a sociedade e como os desejos se desenvolverão no futuro. Ele nos conta que sua busca sempre foi a de mudar a abordagem de design tradicional para uma nova cultura de consumo, com base no design emocio- nal e na comunicação dos objetos com as pessoas. “O design sempre evoca sentimentos relacionados à nossa memória e imaginação. Por isso, os obje- tos que possuímos dizem sobre nossa identidade e cultura”, afirma. Paliteiro Magic Bunny Alessi Foto: divulgação Barbeador Piripicchio - Alessi Foto: Divulgação Alessi - Bathroom Foto: Divulgação Ícones - Stefano Geovannoni - pág. 37pág. 36 - Ícones - Stefano Geovannoni profundamente o DNA da Alessi, com uma influên- cia muito positiva em volume de negócios”, relata. Ele explica que, no passado, a relação entre o homem e os objetos era diferente. Os objetos eram símbolo de status social ou estilo. “Através do objeto que você possui, é possível entender se você é rico ou pobre, se você tem cultura ou não. Assim, minha intenção era a de desdramatizar esse tipo de relação, criando bons objetos com um sentimento direto com a gente”, completa. Giovannoni acredita que hoje não é possível criar produtos de altíssima tecnologia com uma vida longa. Para ele, se a qualidade de um produto é a inovação, ele não permanecerá no mercado e nem se manterá atual por muito tempo. Nesses casos o que importa é o processo e a pesquisa envolvida na criação do produto. “De modo mais geral, é cada vez mais difícil ver produtos desucesso real hoje em dia. Tecnologia tende a des- materializar o objeto físico, transferindo, em alguns casos, o foco do projeto à interface do usuário. Muitas tipologias envelhecem após alguns meses, enquanto o calendário apertado não permite a pesquisa”, afirma. Duster - Aspirador de pó Alessi Foto: divulgação Giovannoni tornou-se sucesso de mercado desde seu primeiro produto. “Sou bastante diferente de muitos dos meus colegas. Comecei a partir de uma declaração muito clara, quase cínica: a qua- lidade de um objeto é diretamente proporcional ao apelo do produto no mercado”, explica. Com essa perspectiva, o designer antecipou os desejos das pessoas em uma rica e variada produção, que passa pelo design de automóveis, de grandes e pequenos utensílios domésticos, à reformulação de espaços ou produtos eletrônicos, como celula- res e smartphones. A partir dessa multiplidicade de linguagens, o fio condutor do trabalho de Giovannoni é a comuni- cação como expressão das emoções dos sujeitos sobre os objetos. “A ironia foi uma forma de expressar esse tipo de atitude, de modo que não tínhamos mais para mostrar aos nossos objetos ao invés de nós mesmos... minha intenção era democratizar o contexto de design, falando uma linguagem mais adequada para as gerações mais jovens. Alessi era uma empresa no ramo de aço e o marketing estava com medo de que o plástico pudesse criar um problema de identidade. Os Girotondo e os produtos de plástico mudaram Recipiente para sal e pimenta Lilliput - Alessi Foto: divulgação pág. 38 - Ícones - Stefano Geovannoni Projetos: “Girotondo” foi seu primeiro projeto, criado em 1989 em parceria com Guido Venturini “Family Follows Fiction” são os pri- meiros objetos transparentes e em plásticos criados por Giovannoni, em 1993 O “Bombo Stool” se tornou tão po- pular que Giovannoni desenvolveu duas variações do original: “The Bombo Special Stool“ e “Al Bombo Stool” Ele ganhou o título de “Super & Po- pular” designer dos anos 2000 com “Piripicchio” A série “Mami”, projetada para a empresa Alessi, foi um de seus best- -sellers Alessi Mary Biscuit Foto: divulgação Cico - Suporte para ovo cozido e saleiro Alessi Foto: divulgação Lâmpadas LED SUPERSTAR A família de lâmpadas LED da OSRAM que não para de crescer *n a su bs tit ui çã o de lâ m pa da s in ca nd es ce nt es SUPERSTAR DIM SUPERSTAR www.osram.com.br Luz é OSRAM SUPERSTAR DIM SUPERSTAR de economia de energia Até 90% Artigos - Andréa Naccache - pág. 41pág. 40 - Artigos - Andréa Naccache Bonequinha é personagem da poltrona multidão, dos Irmãos Campana. Foto: arquivo pessoal Amor CLANDESTINO por Andréa Naccache Convido o leitor a buscar na internet a música Meditação, de Tom Jobim e Newton Mendonça, antes de seguir pelo artigo - e a rememorar Tom Jobim, por um instante, porque é com a voz dele que iremos em frente: “Quem acredi- tou / No amor, no sorriso, na flor / Então sonhou, sonhou…” Momento primeiro. O sonho. Quem nun- ca viu ou viveu um engano de amor? “E perdeu a paz / O amor, o sorriso e a flor / Se transformam depressa demais”. Jobim traz em versos uma história longa como a da nossa cultura. Já na Grécia clássica, Platão falava a seus alunos sobre o perigo da paixão no mundo sensível. As coisas em nossa volta são imperfeitas e finitas, e a tentação de emocionar-se com elas turva o pensa- mento, faz julgar mal a vida. Os bons valores estavam nas grandes verdades, estáveis, não em tudo o que se transfor- ma diante dos olhos. Era melhor amar as ideias perfeitas e, entre elas, a ideia do bem. Amar quem ama a ideia do bem. Considerar bela a ideia do bom, do justo - acima de todas as coisas. Ironia da história, chamou-se “platônico” o amor sonhador, iludido. Platão busca- va o oposto. Não queria se enganar. Depois dele, nossa tradição religiosa cuidou de afastar o amor dos objetos terrenos. Era preciso ter valores maio- res, dirigidos ao céu. Palavra de Santo Agostinho. Mas não só a Igreja dissera. Também, de outras maneiras, a filoso- fia, a ciência, e Ricardo Reis (Fernando Pessoa), estóico: “Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassossegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar. Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o.” Artigos - Andréa Naccache - pág. 43pág. 42 - Artigos - Andréa Naccache (Caetano). Estamos abandonados a uma vida de tombos, de engano e medo? Jobim cantou que não. Encontrou um momento terceiro.“Quem cho- rou, chorou / E tanto que seu pranto já secou / Quem depois voltou / Ao amor, ao sorriso e à flor / Então tudo encontrou / E a própria dor / Revelou o caminho do amor / E a tristeza acabou”. É desse momento, afinal, que precisava lhes falar. Tempo de uma reafirmação. Amamos os objetos, sim. Amamos pelos objetos. Nós tocamos um ao outro pela superfície da pele, pelo que se oferece ao olhar. Daí a beleza dos objetos que desenhamos e separamos uns para os outros, que criam o “presente”, palavra forte, para seduzir, para fazer lembrar. É possível amar bem sem ascender aos céus, nem se perder em nuvens. Sem ser iludido, deslumbrado. Sem futilidade ou consumismo. Com cuidadosas escolhas. Amar superfi- cialmente. Tão bem quanto quem ama os mais elevados bens. Mas só quando já sabemos que a dor é vizinha, e os amantes resguardam um ao outro. Podemos nos proteger profundamente. Daí, então, não pre- cisamos mais temer, evitar, esconder os objetos mais superficiais do amor. Cama e mesa. Prateleira italiana, da FirmaCasa Conceito Foto: divulgação Saberemos amar assim, sem sentir, sem prazer? Amamos objetos, irreme- diavelmente. Momento segundo. Deixamos viver o amor clandestino, contra todas as recomendações sábias. Amamos as curvas e os detalhes do outro, “muito grandes para esquecer” (Roberto). Trocamos fotos, perfumes, roupas, como preciosidades. Entendemos o teatro do amor, que constrói corpos e quartos, cama e mesa, para nos envolver de sensualidade. Amamos com presentes, amuletos, alianças. Quem ousa deixar faltar? O amor é todo de objetos. Quando termina, lá estão eles, trocando em miúdos - a medida do Bonfim, um disco do Pixinguinha, e “o resto é seu” (Chico Buarque). Ouvimos Jobim: “Quem, no coração / abrigou a tristeza de ver tudo isso se perder / E, na solidão, procurou um caminho e seguiu / Já descrente de um dia feliz”. Que felicidade existiria sem o doce das coisas? Poucos conseguem sustentar essa via pela vida. Chama- -se ascetismo a distância dos valores mundanos. Furtar-se da sorte e do azar do amor, em uma vida monásti- ca. Uma vida que deveria, em tese, proteger da dor. Fora esses poucos, restamos nós, estupidamente felizes com a chance de um encontro com o belo ao alcance das mãos, de um abraço. “Ao alcance da boca” Luminária Tord Boontje Foto: arquivo pessoal Artigos - Marcelina Almeida - pág. 45pág. 44 - Artigos - Marcelina Almeida objetos podem ser catalisadores de tendências, formadores de complexas estruturas culturais, servem como suporte para inte- rações entre grupos e refletem perspectivas e visões de mundo. São os artefatos, muito mais que objetos, em sua dimensão concreta, através e transver- salmente, desenvolvem laços emotivos, afetivos e constroem experiências que, ao serem compreendidas fornecem informações que só podem ser capturadas através dossignifi- cados que os objetos evocam. Nesta interrelação entre homens e artefatos é que se constroem as experiências que se, em sua maioria, emergem nas relações da vida, também se constituem nas experiências que dizem respeito à morte. A princípio pode nos causar es- tranheza, mas a morte e o culto aos mortos podem nos auxiliar a refletir sobre a dimensão sim- bólica que é construída a partir Anjo da saudade, mármore, autoria desconhecida, Cemité- rio do Nosso Senhor do Bonfim. Foto: arquivo pessoal Os artefatos e o homem: Relações e Interconexões entre a vida e a morte por Marcelina Almeida “Toda sociedade projeta (investe) em sua cultura material seus anseios ideológicos e/ou espirituais e, se aceitarmos essa premissa, logo é possível conhecer uma cultura – pelo menos em parte-através do legado de objetos e artefatos que ela produz ou produziu.” Rafael Cardoso O ser humano, desde sempre, se encontra em um mundo povoado de artefatos e objetos, alguns naturais e outros produzidos por si. Este mundo de coisas vem sendo apropriado, redefinido e ressignificado ao longo de sua trajetória histórica. Os artefatos externos ao corpo biológico auxiliam e ampliam funções motoras, permitem a realização de atividades, auxiliam na ocupação do es- paço e na demarcação dos lugares, dos territórios, sejam políticos, sociais e culturais. Deste modo, compreende-se como um galho, um osso ou uma pedra deixam de ser apenas matéria e adquirem outra densidade, outra pro- fundidade, se metamorfoseiam em armas, ferramentas, abrigo ou um objeto mágico, simbólico. A construção das culturas evidencia os diálogos que se estabelecem entre homem e objetos. Ao rastrearmos nosso habitat, investigando nosso redor, identificaremos, facilmente, objetos, artefatos que nos são úteis, inúteis, amados ou detestados. Essa questão ambígua se explica em decorrência do fato que, aquilo que produzimos, cotidianamente, ou seja, os artefatos característicos da nossa cultura material, nem sempre respondem a uma necessidade física, prática, biológica, mas respondem também aos reclames do nosso universo simbólico. É fato, compreensível, a dimensão ocupada pelos artefatos, na vida dos seres humanos, seja no passado e na contem- poraneidade. Equipamentos eletrônicos, vestimentas, utensílios domésticos ou de trabalho, de guerra, dentre outros, povoam e dimensionam as relações humanas. Os Artigos - Marcelina Almeida - pág. 47pág. 46 - Artigos - Marcelina Almeida tos intencionais, permitindo inferir que, naquele momento, a relação entre os seres humanos não se limitava à vida. Oferenda de flores, marcação com pedras e colocação, junto ao corpo, de objetos, denota um sentimento, uma emoção e ao mesmo tempo a noção de que aquele ser iria precisar daqueles utensílios, qual fosse o destino para o qual se partia. Nesse sentido, ao se avaliar as construções megalíticas – menirs, dolmens, cromlecs – ergui- das num passado remoto, podemos apreendê-los como representações e figurações do sentido da morte que, naquela altura, parecia familiar. Essas construções podem ser compreendidas como lugares de ritos simbólicos, mar- cos de retorno e da memória do grupo e dos mortos, indicando, também, o sentido de grandiosidade e pompa. O mesmo pode ser inferido ao se analisar os cemitérios oitocentistas, na cultura moderna, através do quais túmulos, sepulturas, mausoléus e ornamentos dialogam e expressam a experiência simbólica dos seres humanos com a dolorosa e enigmática experiência da morte. Portanto, podemos inferir que os artefatos, os objetos, manipulados e construídos pelo homem, dialogam com experiências várias que transitam entre o viver cotidiano e suas surpresas e a morte, a nossa única e derradeira certeza. Detalhe túmulo Cemitério do Nosso Senhor do Bonfim, jardineira em mármore Foto: José Rocha dos objetos. Sendo o homem o único, entre os seres vivos, capaz de articular pensamento, conhecimento e inteli- gência e, através desses mecanismos expressar sentimentos, emoções e de- cepções, habilita-se por esses meios a representar as concepções que possui acerca de tudo que lhe cerca, inclu- sive a morte. Cria artefatos e símbolos para exprimir suas vontades, sonhos, desejos e medos. Um desses temores está ligado à morte. Uma questão a ser continuamente inquirida e muitas formas de enfrentamento e apreensão desse fato inexorável têm sido gestadas pelo homem ao longo dos tempos, seja no campo filosófico, seja no campo religioso-simbólico. Para o homem construir imagens representativas da morte foi e é crucial utilizar-se da faculdade de estabelecer julgamentos críticos e morais e, final- mente, o despertar dos sentidos para o significado desse fato. Não se sabe precisar, com exatidão, quando esse sentimento se aguçou, mas é aceito na comunidade científica o pressuposto de que, dentre nossos antepassados, o homem de Neandertal é o primeiro a enterrar os mortos. Portanto, desde o período denominado Paleolítico Superior, aproximadamente 30.000 anos a.C, já se praticava o sepultamen- to, possibilitando a conservação dos esqueletos. De acordo com os especia- listas, os neandertalenses, cuidando de seus mortos, realizavam os enterramen- Flores artificiais decorando túmulo no Cemitério do Nosso Senhor do Bonfim Foto: discentes da disciplina “Lendo Imagens”, Escola de Design/UEMG, 2011 Artigos - Daniel Padilha - pág. 49pág. 48 - Artigos - Daniel Padilha Meu objetivo na palestra era deixar claro para o público que a raiz do trabalho de construção de marcas é sua ressonân- cia. Esse relacionamento entre marcas e pessoas não é de hoje, mas, com o passar dos anos, tantas mudanças aconteceram que seu entendimento ficou mais comple- xo, principalmente no que diz respeito ao nosso comportamento de consumo. Ao finalizar o bate-papo com os estudan- tes, um rapaz me procurou e disse que precisava me contar uma história. Em três minutos, explicou por que e como con- seguiu convencer sua esposa a comprar uma das marcas que eu tinha apresentado durante a palestra, a água norueguesa VOSS, com posicionamento premium. A grande estratégia foi mostrar a ela que aquela garrafa, que mais parece um frasco de perfume, poderia se transformar em um lindo vaso de flores para decorar a sala do casal. Com embalagem desenha- da pelo ex-diretor artístico da Calvin Klein, Neil Kraft, que guarda 350ml de água 100% natural, envasada diretamente na fonte, a VOSS conquistou o mercado premium com o trabalho de design emocional, somado à qualidade do produto artesanal. E, hoje, em casa, também possuo uma garrafa de VOSS, que foi transformada em vaso – fui induzido positivamente. Vivemos a onda da transformação de commodities em produtos premium. Alguns chamam esse fenômeno de “gourmetiza- ção”; outros, de oportunismo. Para mim, tanto faz. O importante é o questionamen- to levantado a partir dessa transformação. O momento propício em que começo a me perguntar por que nos sentimos envolvidos com essas marcas, como somos conquistados e, principalmente, por que nos deixamos conquistar... Certo dia, ouvi uma palestra de Fernando Rodrigues, CEO da ICN Agency, na qual ele comentou que, provavelmente, nossos corações haviam sido programados para serem felizes e conquistados. E conquista tem tudo a ver com relacionamento, não é? Quando estudamos o “relacionar-se” das marcas, começamos a entender o funcionamento desse duelo entre emoção e razão, o qual, nem sempre, é entendido pelos profissionais, causando danos à ima- gem das organizações. Então, qual será a função da emoção na construção da identidade e reconheci- mento afetivo dos consumidores? Atual- mente, vejo que a melhor maneira dessa conquista aconteceré através de métodos que evoquem suas necessidades. Podemos dividir esse processo em três etapas. Primeiramente, marcas podem usar de ações que estimulem e deem a sensação de euforia para chamar o públi- co. Nesse caso, estratégias sensoriais são muito bem-vindas. A segunda consiste em criar um ambiente harmônico, trabalhando o romantismo através de pequenas ações surpresas, capazes de gerar grande impac- to. Ser surpreendido positivamente é uma das sensações mais gostosas – podemos compará-las a uma entrega emocional que vá além do que imaginamos, como prêmios, convites especiais ou até mesmo O emocional funcional por Daniel Padilha No final de 2013, fui convidado para ministrar uma palestra sobre Gestão de Marcas em Belo Horizonte. O público era, em sua maioria, estudantes e jovens empreendedores, sedentos por assuntos ligados ao universo das marcas. Para mim, esse tema sempre foi envolvente – não por ser o meu “ganha pão” – mas por acreditar que, hoje, é a única forma que temos para solucionar problemas que encontramos nas mais diversas camadas que compõem a sociedade. Por isso, levo para minhas aulas e palestras um pouco da minha experiência com produtos e serviços. É uma forma de tangibilizar informações aspiracionais sobre o que tenho experimentado. Foto: © Olivier Le Moal | Dolar Photoclub pág. 50 - Artigos - Daniel Padilha Luz para ler. Luz para trabalhar. Luz para relaxar. Luz para divertir. A Brilia que você já conhece está de cara nova e com um universo de possibilidades pela frente. Só o que não vai mudar é a qualidade e a inovação, que continuam sendo a essência da nossa marca. T h e H e a rt C o rp o ra ti o n C M Y CM MY CY CMY K AF_BRI-0006-14_AN_LANCAMENTO_210x297mm.pdf 1 3/20/14 4:45 PM uma visita exclusiva. Por fim, a etapa mais complexa é o trabalho de indexação, pois é nela que executamos estratégias de fidelização e que fazem o consumidor entender o poder de pertença, confiança e entrega emocional e racional da pro- messa da marca. Vale ressaltar que essa construção não possui uma ordem, pois o relacionamento humano não é linear. Enquanto escrevia esse artigo, conversei com algumas pessoas para entender a opinião geral sobre o assunto. Um dos comentários mais interessantes, e que me despertou mais curiosidade, veio de um dos meus contatos próximos. Para ele, não podemos amar objetos, produtos e marcas, mas podemos nos apegar. Então, o que seria esse tal apego? Seria o hábito que temos de criar vínculos? Mais que despertar o desejo, o que temos em mãos é a possibilidade de atender ne- cessidades reais e revolucionar a forma de como estamos lidando diariamente com as pessoas. Isso mostra que nós, profissionais, precisamos estudar o vínculo e a impressão que as pessoas possuem sobre determina- da marca. Transformar o emocional em funcional. Precisamos olhar com mais atenção para o entendimento do design como processo na construção de conexões. Interromper seu uso apenas como fator estético e começar a usá-lo como processo para a criação de vínculos emocionais mais duradouros, pois o desejo é despertado pela função e a cultura da adoração do subjetivo está longe de ser compreendida por inteira. VOSS - Glass Foto: divulgação MatériadeCapa - Don Norman - pág. 53pág. 52 - MatériadeCapa - Don Norman Donald Norman Foto: divulgação O resgate emocional Quando estamos diante de um objeto – seja ele um celular, uma faca de cozinha ou um abajour – a primeira pergunta que nos fazemos costuma ser: “como isso funciona?”, ou “para que serve?”. Afinal, a funcionalidade e utilidade são os principais fa- tores que nos levam a investir tempo e dinheiro em um determi- nado produto, não é mesmo? Segundo o professor da Universidade da Califórnia, em San Die- go (UCSD), Don Norman, nem sempre essa é a resposta correta. Muitas vezes, o aspecto prático pode ser a justificativa “racio- nal” que encontramos para a compra de uma faca (que serve para cortar) ou de um smartphone (utilizado para se conectar à internet), por exemplo. Mas, para além da praticidade, ques- tões de ordem emocional desempenham um papel determi- nante em nossas relações com os objetos, conforme afirma Norman, autor do livro “Design Emocional – por que adoramos (ou detestamos) os objetos do dia a dia”. Embora a colocação possa parecer óbvia à primeira vista – afi- nal, já são conhecidas a força das marcas e a capacidade do marketing em afetar nosso subconsciente –, a obra de Norman é resultado de um intenso estudo na área da psicologia cogniti- va, fazendo da expressão “design emocional” um conceito que vem ganhando força no mercado. O reconhecimento da importância das emoções no design também significa, para Norman, uma revisão de seu próprio ponto de vista. No final dos anos 1980, ele ganhou notoriedade por ter publicado o livro “O design do dia a dia”, em que defen- dia, justamente, a funcionalidade dos objetos em detrimento da estética. “Em meus primeiros trabalhos, buscava a lógica e a racionalidade. Naquela época, estava preocupado em fazer por Danilo Borges MatériadeCapa - Don Norman - pág. 55pág. 54 - MatériadeCapa - Don Norman A montanha-russa opõe um nível de emoção - o sentido visceral de medo - a um outro nível, o orgulho reflexivo de realizar uma proeza. Foto: © Cheryl Casey | Dolar Photoclub O nível visceral está relacionado às nossas impressões e preferências intrínsecas, as quais, segundo Nor- man, são as mesmas para a maioria das pessoas. “Em geral, não gosta- mos de comidas amargas e prefe- rimos as doces. Apreciamos cores vivas e não nos sentimos bem na escuridão”, exemplifica. Portanto, é nessa etapa que olhamos para os objetos e fazemos os primeiros julga- mentos, utilizando adjetivos como “feio”, “bonito”, “bom”, “ruim” etc. Já o nível comportamental diz respeito às nossas expectativas e experiências que vivemos no dia a dia. Dirigir um carro ou utilizar um utensílio doméstico, por exemplo, são ações que, apesar de rea- lizadas de forma automática e um produto que fosse útil e pudes- se ser facilmente compreendido”, lembra o professor da UCSD. Com o passar dos anos, no entanto, essa tese começou a ser questiona- da. “Algumas pessoas me diziam: ‘ok, seu livro nos ensina a fazer um produto que é funcional e compre- ensível, mas que não é agradável, nem bonito’. A partir daí, comecei a estudar uma forma de combinar prazer e emoção no mundo do design”, afirma. De acordo com Norman, as emo- ções possuem, pelo menos, três ní- veis distintos, que ele chama de vis- ceral, comportamental e reflexivo. Enquanto os dois primeiros ocorrem de forma subconsciente, o último está relacionado à reflexão sobre uma determinada experiência. Um medo inato de alturas ou uma experiência prazerosa? Foto: Sxc.hu MatériadeCapa - Don Norman - pág. 57pág. 56 - MatériadeCapa - Don Norman o tipo de produto ou a área de atuação. Normam exemplifica: “Estilistas costumam explorar as aparências e, portanto, o nível visceral. Profissionais da área de tecnolo- gia da informação tendem a privilegiar a experiência e a interação entre usuário e interface. Já o marketing preocupa-se com o nível reflexivo, com a imagem que formamos, conscientemente, sobre uma determinada marca ou produto”, diz. Além de terem originado um livro e um novo conceito – o design emocional –, as pesquisas de Don Norman também o levaram a uma nova fase intelectual. Em palestras e apresentações disponíveis na internet, ele costuma dizer que, atualmen- te, tem se importado apenas com o prazer 6. Jaguar 1961 - Visceralmente empolgante. Esse carro é um exemplo clássico do poder do design visceral,elegante, empolgante. Esse carro faz parte da coleção de design do Museu de Arte Moderna de Nova York. Foto: © RW-Design | Dolar Photoclub subconsciente, impactam diretamente em nossa relação com os produtos. Por fim, a etapa reflexiva é aquela em que refletimos sobre as experiências vividas. “Nesse estágio, olhamos para o passado e avaliamos se algo foi bom ou ruim, além de pensarmos sobre nossas decisões. A opção por um carro ‘ecológico’, por exemplo, remete a uma preocupação consciente com questões ambientais, e não necessa- riamente com a estética ou com o desem- penho daquele veículo”, afirma. De modo geral, o design emocional deve envolver os três níveis, mas a ênfase entre um ou outro pode variar de acordo com Design Emocional Livro de Don Norman, que faz uma reflexão acerca da relação emocional que temos com os objetos. MatériadeCapa - Don Norman - pág. 59pág. 58 - MatériadeCapa - Don Norman isso, não o utilizo para fazer suco, mas para manter uma conversa em minha sala de estar”, conta. A descoberta da importância das emoções no design não quer dizer, no entanto, que a funcionalidade tenha sido abandonada por Don Norman. “Quando não entendemos como um produto funciona, isso nos gera ansiedade e uma série de emoções negativas. Por outro lado, quando compreendemos bem um objeto, tendemos a agir reflexiva- mente e criar uma imagem positiva daquela experiência. Na verdade, é um equívoco separar funcionalidade e emotividade, como fiz no passado”, afirma. Uma prova disso é o recente lan- çamento de uma versão revisada de “O Design das coisas do Dia a Dia”, na qual o professor da UCSD, literalmente, acrescenta um pouco de emoção à obra. “O livro estava ficando desatualizado e, por isso, decidi complementá-lo com o que aprendi, ao longo dos últimos anos, sobre a atuação do design em cada um dos três níveis de emocionalida- de”, afirma. Espremedor de frutas de Philippe Starck “juicy Salif” - um objeto ícônico, usado não para espre- mer frutas, mas como adorno. Seu criador teria dito: “ meu espremedor de frutas não foi feito para espremer laranjas; foi feito para iniciar conversas” Foto: divulgação e a beleza das coisas. “O novo Norman é só beleza”, brincou ele na abertura do Ted Talks, em 2003, um ano antes da publica- ção de Design Emocional. Por vídeo-conferência, o profes- sor da UCSD conversou com a revista iDeia no escritório de sua casa. Durante a entrevista, ele se levantou para buscar exemplos de produtos que o encantavam mais pela estética e pela emo- ção do que pela funcionalidade. Da sala de estar, trouxe uma versão dourada do Juicy Salif, conhecido espremedor de frutas de Philippe Starck – o qual, aliás, ilustra a capa do seu livro. “Esse espremedor não é, de for- ma alguma, funcional. Mas eu o aprecio de forma reflexiva, como um símbolo artístico de como um espremedor poderia ser. Por O componente sensual do design comportamental – O design comportamental enfatiza o uso de objetos, neste caso a sensação sensual do chuveiro: um componente essencial, frequentemente esquecido, do bom design comportamental. Foto: © Кирилл Рыжов | Dolar Photoclub Projetos - Teatro Francisco Nunes - pág. 61pág. 60 - Projetos - Teatro Francisco Nunes Luz sobre as memórias de um teatro O projeto de iluminação do teatro Francisco Nunes, em Belo Horizonte, buscou aliar o resgate histórico à aplicação do que há de mais sofisticado em termos tecnológicos. por Pâmilla Vilas Boas As tesouras, peças que compõem o suporte do telha- do, encobertas por mais de 30 anos, foram reveladas novamente. Durante o processo de reforma do Teatro Francisco Nunes, foram muitas as surpresas que possibili- taram novas formas de pensar a iluminação do espaço. Interditado pelo Corpo de Bombeiros em 2009, o famoso teatro foi reaberto em 6 de maio último, após longo pro- cesso de revitalização. A abertura ocorreu durante a 12º edição do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT-BH), com um projeto luminotécni- co especial, que buscou no que há de mais sofisticado na área, ferramentas para valorizar os traços e caracte- rísticas originais do espaço. A madeira original das tesouras data dos anos 1950, quando o Chico Nunes, como é carinhosamente chamado, ou teatro de Emergência, como conhecido inicialmente, foi construído. O teatro foi inaugurado pelo prefeito Otacílio Negrão de Lima, em uma época em que a cidade era carente de espaços destinados 1. Teatro Francisco Nunes Foto: Drika Vianna Projetos - Teatro Francisco Nunes - pág. 63pág. 62 - Projetos - Teatro Francisco Nunes pensando que isso era um elemento que merecia destaque. A solução para valorizar esse elemento foi uma iluminação especial”, ressalta. A ideia inicial era a instalação de refletores, mas havia a vontade de que a fon- te de luz não fosse percebida pelo público, dando apenas um efeito discreto. Para tanto, a solução encontrada foi a utilização de uma fita de LED inserida atrás das tesouras. A lighting planner da Templuz, Paola Duar- te, explica que esse foi justamente o local em que ela teve o maior receio de instalar iluminação, mas que obteve o resultado mais interessante. “A princípio essas tesouras não iam aparecer, mas, como se trata de uma revitalização, cada hora surge uma novida- de. O projeto de iluminação, por exemplo, foi revisado nove vezes. Sem dúvida, a maior surpresa foram as tesouras. Optamos por des- tacá-las e assumí-las de maneira conceitual. Por isso, propusemos essa iluminação indireta e o resultado ficou ótimo”, relata. O conceito da iluminação foi baseado na utilização do LED para agregar luz e segu- rança, uma vez que o teatro utiliza materiais inflamáveis como madeira e carpete, ressalta Paola. Para ela, o LED é um caminho sem 1. à cultura e o Palácio das Artes ainda estava em construção. Autor do projeto, o arquiteto mineiro Luiz Signorelli, de traços clássicos e versáteis, foi influenciado pela estética mo- dernista de Niemeyer. Na década de 1980, o Francisco Nunes pas- sou por sua primeira reforma, que, do projeto original, manteve apenas sua volumetria. Em seu interior, foram várias descaracterizações. Após a interdição, por apresentar sinais de fragilidade estrutural e risco de desabar, um cuidadoso restauro foi proposto, buscando re- valorizar as características do projeto original de Signorelli. A estratégia da arquiteta mineira Mariluce Duque, responsável pelo restauro, foi o de jogar luz sobre a história do teatro Francisco Nunes. Em parceria com a Templuz, empresa especializada em tecnologia e iluminação, foi possível contrapor os rastros de um tempo antigo com o que há de mais contemporâ- neo em termos de luminotécnica. Mariluce relata que, quando o telhado foi retirado para a reforma, foi uma surpresa encontrar as tesouras, compostas por madei- ra revestidas em lâmina de garapa. “Fiquei Fo to s: L ud m ila L o ur e iro Projetos - Teatro Francisco Nunes - pág. 65pág. 64 - Projetos - Teatro Francisco Nunes Iluminação móvel Outro grande destaque da reforma foi a par- te cenotécnica do palco, que antes possuía maquinaria manual e agora possui um siste- ma misto: motorizado e de contra pesagem para as varas de luz e cenário, facilitando as manobras e a consequente montagem dos espetáculos. Como explica a arquiteta, foi utilizada a proposta contemporânea de instalar trilhos que possibilitassem um espa- ço mais flexível e abrigasse diferentes tipos de espetáculos. “A ideia era trabalhar com flexibilidade de luz nos trilhos e ter vários tipos para atender as exposições móveis”, afirma. Já o foyer do teatro foi ampliado e