Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hipertensão Arterial Sistêmica Definição: A HAS é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA > ou igual a 140 e/ou 90 mmHg) – 3 dias alternados com intervalo mínimo de 1 semana Associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas Aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais O MAPA ou MRPA auxilia no diagnóstico do efeito do avental branco Epidemiologia Principal fator de risco modificável Importante problema de saúde pública No mundo: Idade entre 45 e 69 anos acomete 50% Adultos: 38% dos homens 32% das mulheres Mortalidade: 7,6 milhões em 2001 (54% AVC/47% DIC) No Brasil: Acomete em torno de 30% da população 32% da população adulta 50% entre 60 e 69 anos 75% acima de 70 anos Doença cardiovascular: principal causa de morte A prevalência na população urbana adulta no Brasil varia de 22,3 a 43,9% O que pode causar: Doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais Responsável por: 40% das mortes por AVE, 25% das mortes por doença arterial coronariana e (junto com a diabetes) 50% dos casos de insuficiência renal terminal Patogenia Multifatorial Atividade neural simpática com aumento da responsividade beta-adrenérgica Aumento da atividade de angiotensina II e excesso de mineralocorticoide Fatores corticoides (30% da variação da PA em várias populações) Redução da massa de néfrons no adulto (genética, distúrbios intrauterinos) Fatores de risco Idade Gênero e etnia Obesidade Ingestão de sal Ingestão de álcool Sedentarismo Outros (genético, ambiental, dislipidemia, traços da personalidade) Prevenção primária Alimentação saudável Consumo controlado de sódio e álcool Ingestão de potássio Combate ao sedentarismo/tabagismo Diagnóstico Medida da PA em toda avaliação clínica Utilizar aparelhos confiáveis e calibrados Técnica adequada Posição recomendada – sentada Realizar no mínimo três medidas Na 1ª avaliação verificar nos dois membros superiores Nos idosos, diabéticos e pacientes em uso de medicação anti-hipertensiva verificar a PA também na posição ortostática Procedimento para aferição Explicar o procedimento ao paciente e deixa-lo em repouso por pelo menos 5 min em ambiente calmo, esclarecer dúvidas antes e após o procedimento, não falar durante a medida Certificar que não: Bexiga cheia Praticou exercícios por pelo menos 60 min Ingeriu bebidas álcool, café ou alimentos Fumou por pelo menos 30 minutos Posicionamento do paciente Deve estar sentada, pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxada O braço deve estar na altura do coração, livre de roupas, apoiado, com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido Obter a circunferência aproximadamente no meio do braço e após selecionar o manguito de tamanho adequado ao braço A aferição Determinar a circunferência do braço no ponto médio entre o acrômio e olécrano Selecionar o manguito de tamanho adequado ao braço Colocar o manguito, sem deixar folgas, 2 a 3 cm acima da fossa cubital Centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial Estimar o nível da PAS pela palpação do pulso radial Palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campanula ou o diafragma do estetoscópio sem compressão excessiva Inflar rapidamente ate ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da PAS obtido pela palpação Proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 mmHg por segundo) Determinar a PAS pela ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff) e, após, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação* Determinar a PAD no desaparecimento dos sons (fase V de Korotkoff) Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do ultimo som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa Se os batimentos persistirem até o nível 0, determinar a PAD no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar valores da PAS/PAD/zero* Realizar pelo menos duas medições, com intervalo em torno de um minuto. Medições adicionais deverão ser realizadas se as duas primeiras forem muito diferentes. Caso julgue adequado, considere a média das medidas; Medir a pressão em ambos os braços na primeira consulta e usar o valor do braço onde foi obtida a maior pressão como referência Informar o valor de PA obtido para o paciente Anotar os valores exatos sem arredondamentos e o braço em que a PA foi medida *Itens realizados exclusivamente na técnica auscultatória Reforça-se a necessidade do uso de equipamento validado e periodicamente calibrado Situações especiais Crianças e adolescentes: a medição da PA em crianças é recomendada em toda avaliação clínica após os 3 anos de idade, pelo menos anualmente, como parte do atendimento pediátrico primário, devendo respeitar as padronizações estabelecidas para os adultos A interpretação dos valores de pressão arterial obtidos em crianças e adolescentes deve levar em conta a idade, o sexo e a altura Para a avalição dos valores de PA de acordo com essas variáveis, devem-se consultar tabelas especificas ou aplicativos para smartphones Idosos: atentar para “hiato auscultatório”, variação ao longo do dia, “pseudo-hipertensão” (calcificações dos vasos – manobra de Osler, palpação do vaso após a parada da artéria radial), avental branco, arritmias, hipotensão ortostática e pós-prandial Classificação Normotensão: As medidas de consultório são consideradas normais, desde que atendidas todas as condições determinadas nas diretrizes Consultório: < 140/90mmHg MAPA vigília: < ou igual a 130/85mmHg AMPA: < ou igual a 130/85mmHg MRPA: < ou igual a 130/85mmHg Pré-hipertensão: A PH caracteriza-se pela presença de PAS entre 121 e 139 e/ou PAS entre 81 e 89 mmHg Os pré-hipertensos têm maiores probabilidades de se tornarem hipertensos e maiores riscos de desenvolvimento de complicações CV, quando comparados a indivíduos com pressão normal (menor que 120/80 mmHg), necessitando de acompanhamento periódico Hipertensão: Consultório: > ou igual a 140 ou 80 MAPA vigília: > ou igual a 135 ou 85 MAPA Sono: > ou igual a 120 ou 70 MAPA 24 horas: > ou igual a 130 ou 80 MRPA: > ou igual a 135 ou 85 Hipertensão mascarada: PA normal no consultório, porem elevada pela MAPA ou MRPA, deve pesquisar lesão de órgão alvo, história familiar Hipertensão sistólica isolada: É definida como PAS aumentada com PAD normal, é importante fator de risco cardiovascular em pacientes de meia-idade e idosos Hipertensão do avental branco: É a situação clinica caracterizada por valores anormais da PA no consultório, porem com valores considerados normais no MAPA Avaliação Clínica Doença silenciosa, muitas vezes assintomática dificulta a adesão ao tratamento Avaliação com, pelo menos, 30 minutos Tempo e tratamento prévio de HAS avaliar: Consumo de medicamentos Fatores de risco cardiovascular Indícios de hipertensão secundária Lesão de órgão alvo Aspectos socioeconômicos/estilo de vida Abordagem: Explicar (clara e detalhadamente) sobre a hipertensão e seus riscos Enfatizar os objetivos do tratamento e a meta pressórica Esclarecer dúvidas Discutir as expectativas Construir, junto ao indivíduo, um plano terapêutico factível Envolver a família no cuidado Anamnese Identificação: sexo, idade, cor, condição socioeconômica HDA: duração conhecida da HAS, adesão e reações adversas aos tratamentos prévios, sintomas de doença arterial coronária, sinais e sintomas sugestivos de IC, doença vascular encefálica, doença arterial periférica, doença renal, diabetes melittus, indício de hipertensão secundária Investigação sobre fatores de risco e hábitos alimentares Número, frequência e local das refeições diárias, consumo semanal de frutas e verduras, carne vermelha, gordura saturada, refrigerantes e guloseimas Uso de álcool, tabaco e cafeína Atividade física regular, duração, frequência HPP: doença arterial coronariana,IC, diabetes melittus, uso de medicações HF: AVE, doença arterial coronariana prematura (homens <55 anos, mulher <65 anos), morte prematura e súbita de familiares próximos Perfil psicossocial: fatores ambientais e psicossociais, sintomas de depressão, ansiedade e pânico, situação familiar, condições de trabalho e grau de escolaridade Exame Físico Geral: medidas antropométricas (peso, altura, IMC), sinais vitais, FC, PA, fáscie (síndrome de Cushing) Cabeça: fáscie cushingoide ou acromegálica (HA secundária) Olhos: fundoscopia (alterações microvasculares, sinais de retinopatia hipertensiva) Pescoço: sopros carotídeos, palpação da glândula tireoide Coração: palpação do ictus e ausculta (análise do ritmo, frequência, sopro, bulhas) Pulmões: estertores, roncos e sibilos Abdome: sopros abdominais sugestivos de estenose da arterial renal, aumento dos rins (massa) ou pulsação aórtica sugerindo aneurisma Membros: diminuição ou ausência dos pulsos arteriais periféricos (femoral), edema periférico ou sinal de comprometimento vascular Neurológico: déficits neurológicos Avaliação complementar inicial Laboratorial: Análise de urina (EQU) Proteinúria ou microalbuminúria Potássio plasmático Creatinina plasmática e estimativa do ritmo de filtração glomerular Glicemia no jejum Colesterol total, HDL, LDL, triglicérides plasmáticos Ácido úrico plasmático Eletrocardiograma convencional em repouso Avaliação complementar criteriosa Radiografia de tórax: recomendada para pacientes com suspeita clínica de IC, quando demais exames não estão disponíveis, e para avaliação de acometimento pulmonar e aorta Ecocardiograma: presença de indícios de HVE ao ECG ou pacientes com suspeita clínica de IC Albuminúria: Mostrou prever eventos CV fatais e não fatais. Valores normais < 30 mg/24h Pacientes hipertensos diabéticos, com síndrome metabólica ou com dois ou mais FR Ultrassom de carótida: pacientes com sopro carotídeo, com sinais de doença cerebrovascular ou com doença aterosclerótica em outros territórios – avaliar idade Teste ergométrico: suspeita de doença coronariana estável, DM com antecedentes familiar para doença coronariana em paciente com PA controlada Hemoglobina glicada: quando a glicemia de jejum > 99mg/dl – história familiar de DM tipo 2 ou diagnóstico prévio de DM tipo 2 e obesidade Investigação de hipertensão secundária, quando indicada pela história, exame físico ou avaliação laboratorial inicial Hipertensão arterial de causas secundárias Doença renal primária Medicamentos Feocromocitoma Hiperaldosteronismo Doença renovascular Síndrome de Cushing Outras doenças endócrinas Síndrome da apneia do sono Coarctação da aorta Indícios encaminhamento ao especialista Surgimento de hipertensão antes dos 30 anos Aumento súbito dos níveis pressóricos Fraca resposta ao tratamento anti-hipertensivo Qual o objetivo da estratificação de risco? Saúde pública Adotar medidas preventivas Redução da morbimortalidade cardiovascular e renal A hipertensão arterial é um fator de risco importante mais geralmente acoplada com outros fatores de risco Planejar o tratamento Fórmula de Cockroft e Gault TGF estimada = (140 – idade) x peso // 72 x creatinina sérica Obs.: multiplica-se o valor por 0,85 se for mulher Estratificação de risco global Identificação de doença aterosclerótica ou de seus equivalentes A primeira etapa para estimativa do risco CV é a identificação da presença de doença aterosclerótica clinicamente evidente ou forma subclínica ou de seus equivalentes com DM e DRC Se positiva, o indivíduo é imediatamente classificado como alto risco, pois a chance de apresentar um primeiro ou novo evento CV em 10 anos é superior a 20% Análise de escore de risco global – escore de Framingham (?) A segunda fase deve ser a estimativa do escore de risco global. Esse algoritmo estima o risco de o indivíduo apresentar um evento CV em 10 anos A distribuição de pontos e percentual de risco é diferenciada para mulheres e homens Baixo risco: quando o ERG fica abaixo de 5% (10?) Risco intermediário: história familiar de doença CV prematura, homens com ERG entre 5 e 20% e mulheres com ERG entre 5% e 10% (10 a 20?) Alto risco: homens com ERG > 20% e mulheres com ERG >10% (20?) Condições clínicas associadas a hipertensão: Doença cerebrovascular Doença cardíaca Doença renal Retinopatia avançada: hemorragias ou exsudatos Doença arterial periférica Ainda não existe uma forma validade no Brasil de avaliação do risco CV Mulheres jovens tendem a uma estimativa de risco mais baixa... Utilizar de mais de uma forma de classificação permite uma melhor compreensão do risco CV... Tratamento Objetivo: controle dos níveis pressóricos e redução de complicações cardiovasculares Mudanças no estilo de vida e uso de medicações anti-hipertensivas Metas pressóricas < 140/90mmHg: hipertensão não complicada < 130/80mmHg: pessoa com alto risco cardiovascular; diabetes; doença renal crônica; prevenção primária e secundária de acidente vascular encefálico Tratamento Não Medicamentoso Abordagem multiprofissional Mudanças no estilo de vida Controle de peso Hábitos alimentares saudáveis – redução do consumo de sódio, consumo de frutas e verduras Prática regular de atividade física Abandono do tabagismo Limitar o consumo de álcool Controle do estresse Tratamento medicamentoso: Seu início depende de: Preferência da pessoa Grau de motivação para mudança de hábitos de vida Níveis pressóricos Avaliação de risco cardiovascular Início no diagnóstico para algumas condições: Pessoas com alto risco cardiovascular (ERG > 20% ou lesão de órgão-alvo) Pessoas com persistentes níveis pressóricos no estágio 2 A etnia e a idade da pessoa podem ser utilizadas como critérios para a escolha do anti-hipertensivo, na ausência de contraindicações ou de indicações obrigatórias A PA aumenta com a idade; a hipertensão entre negros tem prevalência e gravidade maior Pessoas negras ou com mais de 55 anos respondem melhor aos diuréticos e antagonistas dos canais de cálcio (ACC) Pessoas com menos de 55 anos têm maior resposta aos inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECAs) e aos betabloqueadores (BB) A dose de anti-hipertensivos a ser iniciada em idosos deve ser a metade da utilizada em jovens Estágio 2 pode iniciar dois anti-hipertensivos em doses baixas simultaneamente Metildopa, clonidina, doxazosina, hidralazina, reserpina e espironolactona, não devem ser utilizadas isoladamente no tratamento da hipertensão Não existe benefício no uso de suplementação de cálcio, magnésio ou potássio para a redução da PA Pessoas com alto risco CV se beneficiam com AS em baixas doses e estatina Uso de AS deve ser evitado em hipertensão não controlada (risco de hemorragia cerebral) Combinações de fármacos: Indicações obrigatórias das classes medicamentosas: Acompanhamento: Consultas mensais até atingir a meta pressórica Se tiver comorbidades ou lesão de órgão-alvo: a cada 2 semanas Quando atingir a meta: HAS não complicada: consultas médicas anuais e de enfermagem semestrais Alto risco CV: consultas médicas a cada 3 a 6 meses Consultas de seguimento: Verificar a adesão à mudança no estilo de vida e ao tratamento medicamentoso Surgimento de paraefeitos das medicações Registro das informações no prontuário Plano terapêutico individual – organização e avaliação de metas Maior de consultas àquelas pessoas mais doentes ou com maior dificuldade no controle pressórico Se não atingir a meta pressórica: Aumentar a dose terapêutica Acrescentar outro fármaco Ou substitui-lo se não houve nenhuma resposta Associação tripla recomendada: DIU tiazídico, IECA e ACC Encaminhar ao subespecialista, quando: Suspeita de hipertensão secundária Não atingir a meta pressórica mesmo recebendo dose plena de 4 anti-hipertensivos Crise Hipertensiva Emergência hipertensiva: elevação crítica da PA com quadro clínico grave, progressiva lesão de órgão-alvo e risco de morte Encaminhamento imediato ao hospital Ex:edema agudo de pulmão, AVE, síndromes isquêmicas miocárdicas agudas, eclâmpsia e dissecção aguda da aorta Urgência hipertensiva: apresenta estabilidade clínica, sem comprometimento de órgãos-alvo e, em geral, com PA diastólica > 120 mmHg Expostas a maior risco futuro de eventos cardiovasculares Administração de anti-hipertensivos por via oral (captopril ou clonidina) redução da PA em até 24 horas Pseudocrise hipertensiva: assintomática ou com queixas vagas de cefaleia, associada a níveis de PA não controlados de longa data (má adesão ao tratamento, uso de medicamentos em subdoses) Não implica complicações agudas Controle da dor com o uso de analgésicos comuns na fase aguda Fluxograma do manejo de HAS em adultos
Compartilhar