Buscar

Capítulo 30. PROCEDIMENTO DE JULGAMENTO DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E ESPECIAIS REPETITIVOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

2017 - 07 - 18 
Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016
SEXTA PARTE - RECURSOS
CAPÍTULO 30. PROCEDIMENTO DE JULGAMENTO DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E
ESPECIAIS REPETITIVOS
Capítulo 30. PROCEDIMENTO DE JULGAMENTO DE
RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E ESPECIAIS REPETITIVOS
30.1. Noções gerais - "Julgamento por amostragem"
As Leis 11.418/2006 e 11.672/2008 introduziram no sistema processual brasileiro
procedimentos próprios para os casos em que uma grande quantidade de recursos
especiais ou de recursos extraordinários versam sobre uma mesma questão de direito (p.
ex., casos em que milhares de recursos versam sobre a mesma questão tributária,
previdenciária, de direito de consumidor etc.1). Esse sistema foi também adotado pelo
atual CPC, que unificou sua disciplina (arts. 1.036 a 1.041) e conferiu eficácia ainda mais
intensa aos pronunciamentos nele emitidos.
Trata-se daquilo que a doutrina passou a chamar de julgamento do recurso "por
amostragem". Quando a mesma questão de direito for reiterada em uma grande
quantidade de recursos especiais ou extraordinários, seleciona-se um pequeno conjunto
deles, que retrate adequadamente a controvérsia. Esse conjunto de "recursos-amostra"
será decidido primeiramente pelo STJ ou STF - e o que se decidir quanto a ele ("decisão-
quadro"), em regra, será aplicado aos demais, que até então permaneceram sobrestados.
Não é necessário que os vários recursos sejam todos no mesmo sentido e contra decisões
que tenham adotado uma mesma e única orientação. O fundamental é que todos versem
sobre a mesma questão. Podem existir recursos em sentidos opostos, contra decisões
antagônicas entre si, mas todos versando sobre idêntica questão de direito. Todos deverão
ser reunidos no mesmo procedimento de julgamento por amostragem.
Os objetivos desse procedimento são vários. Primeiro, há o escopo de economia
processual. Evita-se a subida dos recursos repetitivos, represando-os provisoriamente no
Tribunal de origem, até que seja julgada única e definitivamente a questão repetitiva, que
repercutirá sobre o destino de todos os processos em trâmite no território nacional.
Depois, tem-se em vista o tratamento isonômico dos jurisdicionados, a preservação da
segurança jurídica e a manutenção da integridade e coerência da jurisprudência. O
mesmo tratamento será dado a todos os casos em que uma igual questão de direito federal
infraconstitucional ou constitucional for o objeto da controvérsia. Enfim, os princípios que
inspiram esse procedimento são os mesmos que estão na base de diversos mecanismos e
institutos destinados a assegurar a observância de precedentes jurisprudenciais. Aliás, o
tema é tratado nesta parte do Curso, e não na oitava, dedicada aos precedentes, apenas
para permitir-se seu exame conjunto com as noções gerais do recurso especial e
extraordinário. Mas os fundamentos e objetivos do procedimento ora examinado são
equivalentes aos do incidente de resolução de demandas repetitivas, por exemplo (v. cap.
36).
Além disso, com o procedimento institucionalizado da amostragem, confere inclusive
mais adequado destaque ao julgamento objetivo da questão pelo Tribunal superior (por
ocasião da decisão do recurso-amostra) - que assim pode receber atenção especial do
Tribunal superior, da sociedade e de outros interessados (envolvidos em outros processos
que versam sobre a mesma questão), que dentro de certas condições poderão até intervir
como amicus curiae. Cerca-se assim de maiores garantias - viabilizando-se um
contraditório mais adequado - um procedimento que informalmente já ocorria, na base do
"recorta e cola". Enfim, institucionaliza-se, sob o pálio das garantias do processo, algo que
já vinha acontecendo de modo sub-reptício.2
Quando se adota o procedimento de julgamento por amostragem (ou procedimento de
recursos repetitivos), a rigor, não se trata propriamente de julgar um ou alguns recursos
específicos e aplicar o julgamento de tais recursos a outros casos. Sob a aparência formal
de um único procedimento, põem-se dois distintos julgamentos (relativos a dois objetos
diversos): por um lado, o recurso, individualmente considerado, com a definição a ser
dada ao caso concreto; por outro, um julgamento objetivo, com alcance geral, acerca da
questão repetitiva.3 Isso não é uma simples constatação teórica. Tem relevância para
diversos aspectos da aplicação do instituto. Por exemplo, repercute sobre o modo de
realização e formalização do julgamento, quando o recurso-amostra envolve também
questões específicas, além da questão repetitiva (v. n. 30.6, adiante). Reflete igualmente
sobre a disciplina jurídica aplicada à desistência do recurso-amostra (v. n. 30.8, adiante).
O CPC/2015 ampliou o alcance e a intensidade do julgamento por amostragem. A
instauração desse procedimento suspenderá todos os processos que versem sobre a
questão jurídica repetitiva - e não, como era antes, apenas os recursos especiais e
extraordinários. A decisão ali proferida, do mesmo modo, atingirá todos esses processos. E
tal decisão será vinculante em sentido estrito (v. cap. 34, adiante).
30.2. "Recursos-amostra"
Identificada a multiplicidade de recursos fundamentados na mesma questão de direito,
incumbe ao Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal a quo selecionar dois ou mais
recursos representativos da controvérsia, que serão enviados ao respectivo Tribunal
superior. Esses são o que se poderia chamar de "recursos-amostra" ou "casos-piloto". Ao
selecionar os recursos, o Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal a quo expedirá ordem
determinando a suspensão do trâmite de todos os processos pendentes, individuais ou
coletivos, no Estado ou DF ou na região federal (art. 1.036, § 1.º, do CPC/2015). Trata-se,
porém, de suspensão provisória, que somente se confirmará e alcançará todo o território
nacional com a decisão de afetação preferida no Tribunal superior, de que adiante se
tratará (v. n. 30.3).
O relator no Tribunal superior não está obrigado a escolher como recurso-amostra
aquele indicado pelo Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal de segundo grau, podendo
selecionar outros recursos representativos da controvérsia (art. 1.036, § 4.º, do CPC/2015).
Aliás, o § 5.º do art. 1.036 estabelece que o relator no Tribunal superior poderá selecionar
dois ou mais recursos-amostra independentemente da iniciativa do Tribunal de origem.
Vale dizer, quer o Tribunal de origem selecione ou não recursos-amostra, o relator no
Tribunal superior estará autorizado a tomar a iniciativa e selecionar ele próprio os
recursos para submissão a julgamento pelo regime dos recursos repetitivos.
Em todo o caso, os recursos selecionados deverão sempre cumprir todos os
pressupostos de admissibilidade e conter abrangente argumentação e discussão acerca da
questão a ser decidida (art. 1.036, § 6.º, do CPC/2015).
Para averiguar este último requisito, analisar-se-á, ainda que brevemente, a qualidade
da petição do recurso e do contexto processual em que ele está inserido. Cabe tanto ao
Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal local quanto ao relator no Tribunal superior
selecionar processos em que os subsídios instrutórios (jurídicos e fáticos) reunidos
permitam ao STF ou STJ a mais precisa percepção possível não apenas da questão jurídica
repetitiva, como também do conflito em que ela está posta. Essa contextualização é
imprescindível para a avaliação de todos os termos da questão e para a posterior
realização de distinções (n. 30.5, adiante). Sendo assim, a adequada representação da
controvérsia não depende apenas da peça recursal, ainda que esse seja o mais importante
elemento. Outros atos do processo serão também muito úteis para tanto: as contrarrazões
ao recurso, a decisão recorrida, outras petições anteriores... Então, o órgão a quo deverá
considerar a qualidade desses vários atos, e não apenas propriamente do recurso
extraordinário ou especial. Evidentemente, é possível que um mesmo e únicoprocesso
não reúna todas as peças mais adequadas à representação da controvérsia. Nessa
hipótese, o órgão a quo deverá encaminhar ao Tribunal superior, tantos recursos em
diferentes processos quanto seja necessário (p. ex., um por ter a peça recursal mais clara e
precisa, outro pela qualidade das contrarrazões, um terceiro por conter acórdão mais bem
fundamentado etc.). Por isso, a lei expressamente autoriza o encaminhamento de uma
pluralidade de recursos representativos da controvérsia. É até concebível que se
selecionem recursos em sentidos opostos formulados em face de decisões divergentes
entre si, ainda que tratando todas da mesma questão.4
30.3. Decisão de afetação
Constatada a multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de
direito, o relator proferirá a decisão de afetação, na qual identificará precisamente a
questão a ser submetida a julgamento (art. 1.037, I, do CPC/2015). A exatidão na
identificação da questão é de extrema importância para evitar a suspensão de processos
que não guardam identidade com a causa.
Além disso, como já afirmado, é na decisão de afetação que o relator estende a todo o
território nacional a suspensão operada em âmbito local, ordenando que sejam suspensos
todos os processos pendentes, em qualquer grau de jurisdição, que versem sobre a
questão de direito a ser submetida a julgamento no regime dos recursos repetitivos (art.
1.037, II, do CPC/2015). Observe-se que os processos não ficam automaticamente
suspensos, incumbindo aos juízes e relatores avaliar a incidência da decisão de afetação
nos processos de sua competência e proceder, se for o caso, à suspensão.
Na decisão de afetação, o relator pode requisitar aos Presidentes ou Vice-Presidentes
dos Tribunais de segundo grau a remessa de mais recursos representativos de
controvérsia (art. 1.037, III, do CPC/2015). Essa regra permite que o Tribunal superior
aprecie a questão submetida ao regime dos repetitivos tendo em conta a percepção dos
Tribunais de todo o País.
Caso haja mais de uma decisão de afetação sobre a mesma questão de direito, será
prevento o relator que a proferiu em primeiro lugar. É o que prevê o § 3.º do art. 1.037 do
CPC/2015.
Por outro lado, se, uma vez recebidos os recursos selecionados pelo Tribunal de
segundo grau, o relator no Tribunal superior entender que não é caso de afetação,
determinará que disso seja comunicado o Presidente ou Vice-Presidente que enviou tais
recursos, a fim de que a decisão de suspensão localmente proferida seja revogada, de
modo que os processos sobrestados retomem seu curso normal (art. 1.037, § 1.º, do
CPC/2015).
30.4. Os efeitos da instauração do procedimento
Como visto, a instauração do procedimento de repetitivos implica a suspensão dos
processos que versam sobre aquela mesma questão. A suspensão poderá ser
provisoriamente determinada pelo Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal local, ao
constatar a reiteração de recursos e selecionar casos representativos para remeter ao
Tribunal superior (art. 1.036, § 1.º, do CPC/2015). Mas o relator do procedimento de
repetitivos, no Tribunal superior, terá a última palavra sobre o tema (art. 1.037, II, do
CPC/2015). A suspensão não abrange apenas os recursos especiais e extraordinários, mas
todos os processos que versem sobre a questão que é objeto do procedimento de
julgamento por amostragem.
Como também já se expôs, a suspensão dos processos que versam sobre a mesma
matéria não se dará automaticamente. Caberá a aferição da identidade da questão pelo
juiz (ou relator) de cada processo. Uma vez verificada que a questão discutida no caso
identifica-se com aquela que é objeto do procedimento de repetitivos, o juiz ou relator
determinará a suspensão. Note-se que a suspensão não atingirá apenas os recursos
especiais ou extraordinários já interpostos que versem sobre a mesma questão. Mais do
que isso, será aplicável a todos os processos pendentes (i.e., ainda não decididos
definitivamente), individuais ou coletivos, que versem sobre a questão.
Os processos ficarão suspensos até que se decida a questão no procedimento de
repetitivos. Não há limite de prazo para a suspensão. Na redação original do Código, a
suspensão cessaria quando, passado um ano, o procedimento de repetitivos ainda não
houvesse sido decidido. Mas o § 5.º do art. 1.037, que continha essa previsão, foi revogado
pela Lei 13.256/2016. Permanece a regra de que o procedimento de repetitivos deve ser
julgado no prazo máximo de um ano, mas nenhuma consequência processual é imputada
ao descumprimento desse prazo.
A suspensão não impedirá a concessão de medidas de tutela urgente, se necessário (art.
314 do CPC/2015).
Além disso, há duas hipóteses em que a suspensão do processo pode ser levantada
antes da decisão da questão no procedimento de repetitivos.
A primeira concerne aos recursos intempestivos. Por razões de celeridade e economia
processual, admite-se que o interessado dirija ao Presidente ou Vice-Presidente do
Tribunal local pedido de cessação ou não aplicação da suspensão a um recurso
intempestivo. Nesse caso, caberá a inadmissão do recurso por intempestividade. Mas,
antes, deve conceder-se ao recorrente o prazo de cinco dias para sobre esse requerimento
se manifestar (art. 1.036, § 2.º, do CPC/2015). Indeferido o pedido, poderá o interessado
interpor, no prazo de quinze dias, agravo interno, submetendo a questão a julgamento
pelo órgão colegiado (art. 1.036, § 3.º, do CPC/2015, na redação dada pela Lei 13.256/2016).
Deferido o pedido e inadmitido o recurso extraordinário ou especial por intempestividade,
caberá contra essa decisão agravo para o STF ou STJ (art. 1.042 do CPC/2015, na redação
dada pela Lei 13.256/2016).
A segunda exceção concerne aos casos em que o interessado demonstra que a questão
discutida no seu caso não se identifica com aquela que é objeto do procedimento de
repetitivos. Trata-se dessa hipótese no tópico seguinte.
30.5. Distinção
Intimadas as partes a respeito da decisão de sobrestamento de seu processo (art. 1.037,
§ 8.º, do CPC/2015), se alguma delas reputar indevida a suspensão por considerar que a
questão nele discutida não é idêntica àquela delineada na decisão de afetação, poderá
requerer que seu recurso seja desvinculado do procedimento de repetitivos e volte a
tramitar normalmente.
A parte dirigirá seu requerimento ao juízo em que estiver tramitando o processo
sobrestado, demonstrando que o objeto nele tratado distingue-se da questão de direito a
ser julgada no recurso afetado. Assim, o pedido de cessação da suspensão será dirigido ao
juiz de primeiro grau, ou ao relator no Tribunal local ou ao relator do Tribunal superior,
conforme o grau de jurisdição em que o processo tenha sido suspenso (art. 1.037, § 10, do
CPC/2015).
A parte contrária será ouvida no prazo de cinco dias, ao final do qual o órgão
jurisdicional competente julgará (art. 1.037, § 11, do CPC/2015).
Reconhecida a distinção, o próprio juiz ou relator dará prosseguimento ao processo. Na
hipótese de recurso especial ou extraordinário sobrestado na origem, o relator
comunicará o reconhecimento da distinção ao Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal
de segundo grau, que providenciará a remessa do recurso ao respectivo Tribunal superior
(art. 1.037, § 12, do CPC/2015).
Do pronunciamento que decide o requerimento - reconhecendo ou não a distinção -
caberá agravo de instrumento, se for prolator o juiz de primeiro grau, ou agravo interno,
se proferida por relator no Tribunal (art. 1.037, § 13, do CPC/2015).
30.6. Processamento no tribunal superior e julgamento
Conforme dispõe o § 4.º do art. 1.037 do CPC/2015, os recursos afetados devem ser
julgados dentro de um ano, tendo preferência sobre todos os demais, exceto os casos
envolvendo réu preso e os pedidos de habeas corpus.
No julgamento do "recurso-amostra", o relator poderá não só admitir, como também
solicitar a manifestação de terceiros (pessoas,órgãos ou entidades com interesse na
controvérsia), considerando a relevância da matéria e nos termos do Regimento Interno
do respectivo Tribunal (art. 1.038, I, do CPC/2015). Essa regra é de todo justificável quando
se considera que o julgamento do recurso-amostra é apto a ter relevância que vai além do
processo em que foi realizado. Segundo estabelece o art. 138 do CPC/2015, ao autorizar a
participação do amicus curiae, deve o relator considerar a especificidade do tema e a
adequada representatividade desse terceiro (v. vol. 1, n. 19.9). Conforme um dos autores
deste Curso já afirmou, em outro espaço, é razoável supor que poderão intervir todos os
terceiros que comprovarem a condição de parte em outros processos em que há (ou tende
a haver) recurso sobre a idêntica questão, desde que demonstrem que têm algum
argumento útil, algum subsídio relevante para acrescentar à discussão já instaurada
("contributividade" adequada).5
Além disso, o inc. II do art. 1.038 do CPC/2015 permite a convocação pelo relator de
audiências públicas, nas quais serão ouvidos depoimentos de pessoas com experiência e
conhecimento na matéria. A rigor, a oportunidade que se abre à exaustiva argumentação
em sede de recursos repetitivos deve aprimorar o procedimento da formação do
precedente, legitimando e qualificando sua decisão.
O relator também requisitará aos Tribunais de segundo grau de todo o País
informações acerca da controvérsia, após o que chamará o Ministério Público a
manifestar-se (art. 1.038, III, do CPC/2015). Os Tribunais e o Ministério Público terão
prazos sucessivos de quinze dias para suas manifestações, sendo elas apresentadas,
preferencialmente, por meio eletrônico (art. 1.038, § 1.º, do CPC/2015).
Em seguida, o recurso-amostra é incluído em pauta para julgamento. A solução da
questão jurídica repetitiva constituirá a "decisão-quadro" - pronunciamento destinado a
ser aplicado a todos os outros casos que versem sobre a mesma questão.
O § 3.º do art. 1.038 do CPC/2015 exige que nessa decisão-quadro estejam contidos todos
os fundamentos da tese jurídica. A redação original do CPC/2015 explicitava que no
acórdão deveria constar a análise dos argumentos favoráveis e contrários à conclusão a
que chegou o órgão julgador. A Lei 13.256/2016 alterou o Código para suprimir essa
disposição. Apesar disso, a exigência continua vigente, por força do § 1.º do art. 489, que
trata das regras que devem ser observadas para que se considerem fundamentadas as
decisões (n. 21.9.2, acima).
Se, além das questões submetidas a julgamento pelo regime dos recursos repetitivos, o
recurso-amostra contiver outras questões (que não foram objeto de afetação), o Tribunal
superior decidirá primeiro aquela que foi afetada e depois as demais, lavrando um
acórdão específico para cada processo (art. 1.037 § 7.º, do CPC/2015). Se mais de um
recurso utilizado como amostra tiver questões específicas, alheias à que foi afetada,
haverá um acórdão próprio para as questões específicas de cada recurso. Cada um desses
acórdãos também veiculará aquele mesmo julgamento da questão afetada.
30.7. Efeitos
O julgamento do recurso-amostra, no procedimento de repetitivos, produz diversos
efeitos, cuja incidência vai além dos recursos sobrestados no próprio Tribunal superior ou
nos Tribunais a quo.
30.7.1. Efeitos conforme grau de jurisdição e fase do processo
Quanto aos recursos sobrestados no respectivo Tribunal superior (art. 1.039 do
CPC/2015):
- serão declarados prejudicados, se a decisão recorrida estiver de acordo com o
entendimento firmado;
- se a decisão recorrida for contrária ao entendimento firmado, os recursos, desde que
preencham seus pressupostos de admissibilidade, serão decididos em seu mérito para a
aplicação da tese fixada na decisão-quadro;
- tratando-se de recursos extraordinários afetados, se o STF negar a existência da
repercussão geral, os demais recursos, de matéria idêntica, estarão automaticamente
inadmitidos.
Em relação aos recursos especiais e extraordinários sobrestados nos Tribunais a quo:
- o Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal de origem negará seguimento àqueles
interpostos contra acórdãos que estejam em conformidade com a tese fixada na decisão-
quadro (art. 1.040, I, do CPC/2015). Nesse caso, o fundamento para a negativa de subida do
recurso não é a falta de um pressuposto de admissibilidade, mas a ausência de
procedência quanto ao seu mérito. Constata-se que a tese defendida no recurso é
incorreta, já tendo sido rejeitada pelo Tribunal superior, em julgamento objetivo. Vale
dizer: não se tem na hipótese um simples juízo negativo de inadmissibilidade, mas um
juízo negativo de mérito. Há verdadeiro desprovimento do recurso pelo órgão a quo,
autorizado por expressa disposição legal;
- nos casos em que o acórdão recorrido contrariar a tese adotada pela decisão-quadro,
os autos serão remetidos ao órgão que o prolatou para que seja realizado o juízo de
retratação relativamente ao acórdão recorrido (art. 1.040, II, do CPC/2015). Não havendo
retratação, os autos são remetidos ao respectivo Tribunal superior para julgamento do
recurso, desde que seja positivo o seu juízo de admissibilidade (art. 1.041 do CPC/2015).
Por outro lado, se o órgão prolator da decisão recorrida retratar-se, ele proferirá nova
decisão, em substituição ao acórdão recorrido. Se necessário, ele prosseguirá analisando
as demais questões eventualmente ainda não decididas, cuja apreciação só tiver se
tornado necessária em decorrência da retratação (art. 1.041, § 1.º, do CPC/2015). Mas a
atividade do órgão julgador do acórdão recorrido se limitará ao capítulo decisório relativo
à questão resolvida no julgamento por amostragem. Se o recurso versar ainda sobre
outras questões, alheias àquela que foi julgada no regime dos repetitivos e às demais, a ela
vinculadas e apreciadas pelo órgão de origem no juízo de retratação, o Presidente ou Vice-
Presidente do Tribunal local remeterá os autos ao Tribunal superior para o julgamento
dessas outras questões, desde que presentes seus pressupostos de admissibilidade (art.
1.041, § 2.º, do CPC/2015).
Se se tratar de processo não sentenciado em primeiro grau ou de processo de
competência originária, remessa necessária ou recurso ainda não julgado pelo Tribunal de
segundo grau, determinar-se-á o prosseguimento do feito para julgamento e aplicação da
orientação adotada na decisão-quadro.
30.7.2. A incidência dos efeitos sobre atividades reguladas
Versando o recurso sobre prestação de serviço público concedido, permitido ou
autorizado, o resultado do julgamento no regime dos repetitivos deverá ser comunicado
ao órgão, ente ou agência reguladora competente, para que a aplicação da tese pelos entes
sujeitos à regulação seja fiscalizada e também para que se tomem providências destinadas
a inibir a inobservância da orientação do Tribunal (art. 1.040, IV, do CPC/2015).
Por exemplo, se a questão objeto do julgamento por amostragem conclui pela
impossibilidade de determinada cobrança adicional por operadoras de telefonia, o
Tribunal superior comunicará o órgão regulador (no caso a Anatel) para que fiscalize o
cumprimento daquela determinação de não cobrança pelas operadoras de telefonia.
Em uma primeira leitura, poder-se-ia supor que, com essa regra, a eficácia da decisão-
quadro vai além dos processos em curso, atingindo inclusive casos que não foram
judicializados. Todos os entes sujeitos à atividade regulada teriam de passar a cumprir a
orientação contida na decisão-quadro. Ainda que não houvesse uma vinculação direta
desses entes à decisão-quadro, ela se poria de modo indireto, na medida em que se
determinasse ao órgão regulador que os fizesse passar a adotar aquela orientação. Mas, se
essa interpretação for a que vier a prevalecer, será preciso reconhecer a esses entes, que
não são sequer parte em processos judiciais em que se discute a questão, o direito de
também intervir nojulgamento de recursos repetitivos.
Mas é também possível conferir ao dispositivo um alcance mais restrito: a fiscalização
determinada pela norma diria respeito apenas aos entes que eram partes em processos
judiciais e, como tais, ficaram vinculados à decisão-quadro.
30.7.3. Força vinculante "média"
Por um lado, a decisão-quadro do procedimento de repetitivos reveste-se de eficácia
vinculante que pode ser qualificada como "média", no sentido de que autoriza
determinadas simplificações procedimentais (n. 34.2.2, adiante). Isso se expressa: (i) na
autorização de julgamento de improcedência liminar de pedidos contrários à tese
estabelecida no IRDR (art. 332, II, do CPC/2015 - v. n. 6.2.1, acima); (ii) na ausência de
remessa necessária da sentença que aplica tal tese (art. 496, § 4.º, II, do CPC/2015 - v. n.
22.4.2); (iii) na autorização de provimento e desprovimento monocrático de recursos,
respectivamente, favoráveis ou contrários à tese adotada pela decisão-quadro (art. 932, IV,
b, e V, b, do CPC/2015).
30.7.4. Força vinculante em sentido estrito: cabimento de reclamação
Mas a decisão-quadro reveste-se também de força vinculante em sentido estrito
(vinculação forte - n. 34.2.3, adiante). Deve ser observada por todos os juízes e tribunais
que venham a decidir exatamente a mesma questão jurídica por ela decidida. Em caso de
inobservância, caberá reclamação ao tribunal superior que proferiu a decisão-quadro,
desde que esgotados os recursos de caráter ordinário (art. 988, § 5.º, II, do CPC/2015 - na
redação dada pela Lei 13.256/2016 - v. cap. 39, adiante).
30.7.5. Modulação dos efeitos
Em atenção aos princípios da isonomia, da proteção da confiança e da segurança
jurídica, o § 3.º do art. 927 do CPC/2015 permite que sejam modulados os efeitos da
alteração de jurisprudência dominante do STF e dos Tribunais superiores ou daquela
firmada dentro do microssistema dos recursos repetitivos.
O Código determina inclusive a convocação de audiências públicas e da participação de
pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão das teses (art. 927,
§ 2.º, do CPC/2015).
Modulam-se os efeitos restringindo-os, de modo que não abranjam certos casos (p. ex.,
fixa-se a tese da inexigibilidade de determinada taxa municipal, mas ressalva-se que seus
efeitos vinculantes não atingirão os casos em que já houve pagamento, sem contestação da
taxa), ou determinando que tais efeitos só ocorram a partir de determinado momento.
A modulação dos efeitos pode incidir não apenas sobre uma decisão-quadro que altere
a orientação antes fixada em outra decisão-quadro. É possível que a questão jamais tenha
sido antes, objeto de procedimento de recursos repetitivos. Pode ocorrer que a orientação
adotada no julgamento por amostragem pelo Tribunal superior seja diferente daquela que
vinha sendo adotada em graus de jurisdição inferiores (p. ex., o STJ vinha adotando
determinada orientação, e o STF, ao julgar procedimento de repetitivos, adota
entendimento oposto; ou ao proceder ao julgamento por amostragem, o STJ posiciona-se
de modo diferente do que vinha se posicionando a maioria dos Tribunais locais etc.) ou,
até mesmo, que houvesse uma situação de absoluta indefinição nos graus de jurisdição
inferiores - de modo que seria excessivamente impactante a aplicação retroativa do
entendimento estabelecido na decisão-quadro. Em tais casos, também se justifica a
modulação dos efeitos da decisão.
30.8. Desistência
30.8.1. Desistência nas ações atingidas pela decisão-quadro
Fixada a tese no julgamento de recursos repetitivos, admite-se que, antes de proferida
a sentença, a parte desista da ação em que discutir questão idêntica àquela afetada.
Pretende-se assim incentivar a diminuição de processos quando já há a clara definição da
questão em julgamento objetivado. A ideia é a de que já basta a decisão-quadro para
dirimir toda e qualquer disputa relativa à questão.
Nesse caso, a desistência submete-se a regras especiais (art. 1.040, §§ 1.º a 3.º, do
CPC/2015). Normalmente, a desistência da ação depende da concordância do réu, se ele já
contestou (art. 485, § 4.º, do CPC/2015). Já na hipótese em exame, a desistência da ação não
depende do consentimento do réu, ainda que ocorra após a apresentação da contestação
(art. 1.040, § 3.º, do CPC/2015). Apenas se a desistência se der antes da contestação, a parte
ficará isenta do pagamento de custas e de honorários de sucumbência. Se depois, terá de
arcar com os encargos processuais (art. 1.040, § 2.º, do CPC/2015).
30.8.2. Desistência do recurso-amostra
Na vigência do CPC/1973, discutia-se a possibilidade de o recorrente desistir de seu
recurso quando esse é selecionado como amostra para o julgamento da questão repetitiva.
O STJ, incorretamente, chegou a afirmar que não seria possível a desistência de tal
recurso.
A rigor, sob a roupagem formal de um único procedimento, desenvolvem-se dois
julgamentos distintos: um, de caráter objetivo, da questão jurídica repetitiva; outro, do
recurso que serve de amostra. A desistência externada pelo recorrente não pode interferir
sobre o julgamento objetivo da questão repetitiva, mas é apta para extinguir seu específico
recurso, transitando em julgado a decisão recorrida. Nesse caso, o recurso-amostra, já
então extinto, passa a servir de simples base para o desenvolvimento do julgamento por
amostragem, que continua sendo necessário e útil para os milhares de outros processos
que versam sobre a mesma questão.6
Assim, o parágrafo único do art. 998 do CPC/2015 prevê que a desistência do recurso-
amostra não impede o prosseguimento do procedimento dos recursos repetitivos e o
julgamento por amostragem. A questão repetitiva continuará tendo de ser apreciada pelo
Tribunal superior, em julgamento por amostragem, mas nenhum efeito produzirá esse
julgamento sobre o caso objeto do recurso de que se desistiu.
Noções gerais "Julgamento por amostragem"
Recursos repetitivos
Seleção de dois ou mais recursos
Suspensão dos processos no Estado ou região
Requerimento de exclusão de recurso intempestivo
Seleção de recursos no tribunal superior
Requisitos do recurso-amostra
Decisão de afetação
Identificação precisa da questão afetada
Remessa de recursos pelos tribunais de segundo grau
Prevenção
Efeitos da
instauração do
procedimento
Suspensão dos processos em todo o País
Concessão de medidas de tutela urgente
Recursos intempestivos
Distinção (distinguishing)
 
Processamento no
tribunal superior e
julgamento
Preferência sobre os demais feitos (exceções)
Prazo de um ano
Manifestação de terceiros
Audiências públicas
Ministério Público
Requisição de informações
Acórdão paradigma - fundamentação
Julgamento de outras questões
 
Efeitos
Recursos sobrestados nos
tribunais superiores
 Prejudicialidade
 Aplicação da tese
  Inadmissão - repercussão
geral
Recursos especiais e
extraordinários sobrestados
nos tribunais a quo
 Negativa de seguimento
 Juízo de retratação
Processo não sentenciado em primeiro grau, processo de
competência originária, remessa necessária ou recurso ainda não
julgado pelo tribunal de segundo grau
Prestação de serviço público concedido, permitido ou autorizado
Modulação dos efeitos
Desistência
 Nas ações atingidas pela decisão-quadro
 Do recurso-amostra
Doutrina Complementar
·  Alexandre Freitas Câmara (O Novo Processo..., p. 550) leciona que, na decisão de
afetação, "o relator, além de expressamente determinar a utilização da técnica do
julgamento de recursos repetitivos, deverá identificar com precisão a questão a ser
submetida a julgamento (art. 1.037, I). É que se faz necessário determinar, com absoluta
precisão, qual é a questão repetitiva que serve de base para todos os múltiplos recursos
especiais e extraordinários, e que é objeto de discussão em todos os processos que ficarão
suspensosà espera do pronunciamento do STJ ou do STF. A identificação da questão a ser
submetida a julgamento pela técnica dos recursos repetitivos é ainda mais importante
quando se considera o fato de que os recursos selecionados podem versar também sobre
outras questões de direito, as quais também têm de ser examinadas, mas que, sendo
repetitivas, não podem ser solucionadas através da técnica de que aqui se cogita.
Exatamente por isso a lei processual estabelece ser 'vedado ao órgão colegiado decidir,
para os fins do art. 1.040, questão não delimitada na decisão a que se refere o inciso I do
caput (art. 1.040, § 2.º). Neste caso, proferido o julgamento por amostragem dos recursos
repetitivos, os processos afetados serão examinados, em momento posterior, pelo próprio
tribunal, para exame das demais questões, proferindo-se um acórdão específico para cada
processo (art. 1.037, § 7.º). Ainda na decisão de afetação, deverá o relator dos recursos
especiais ou extraordinários repetitivos determinar a suspensão do processamento de todos
os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no
território nacional (art. 1.037, II). Manifesta-se, aqui, uma técnica de gerenciamento de
causas repetitivas, através da qual se aguardará a formação de uma decisão paradigma, a
qual terá eficácia de precedente vinculante, e que será, posteriormente, empregada como
base para a formação das decisões que serão proferidas para os casos equivalentes (to
treat like cases alike)".
·             Dierle Nunes (Breves..., p. 2.323) discorre sobre a escolha dos recursos para
fins de afetação: "Constatada a multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica
questão de direito, de imediato, se promoverá a escolha inicial de dois ou mais recursos
representativos da controvérsia (causas piloto) que induzirá maior amplitude de
argumentos a serem levados em consideração na formação do julgado padronizador
(precedente, com determinação clara das ratione decidendi). Sem olvidar que, em
consonância com o § 5.º, o relator no tribunal superior poderá selecionar dois ou mais
recursos representativos da controvérsia para julgamento da questão de direito,
independentemente da iniciativa do presidente ou vice-presidente do tribunal de origem.
Perceba-se, neste ponto, a clara preocupação em se melhorar a amplitude do debate para
formação das decisões dos tribunais superiores, em conformidade com o princípio do
contraditório como influência e não surpresa, posto como fundamento interpretativo de
todo o CPC/2015 no art. 10. Pontue-se que a ampliação objetiva do número de recursos
auxilia no cumprimento no disposto do art. 489, § 1.º, IV, que determina que, no
julgamento, deverá ocorrer o enfrentamento de todos os argumentos deduzidos no
processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador. Se em
julgamentos de litígios individuais esta já é uma obrigação essencial, nos julgamentos
repetitivos ela se torna ainda mais relevante. Em assim sendo, se evitará o atual
julgamento de macro lides em fatias, que promove a instabilidade decisória e a
superficialidade dos julgados. (...) Ademais, somente podem ser selecionados para
afetação recursos admissíveis (§ 6.º) e que contenham abrangente argumentação e
discussão a respeito da questão a ser decidida. Vê-se, ainda, que de forma similar ao que já
dispõe o art. 543-C do atual CPC [1973], o § 5.º do art. 1.036 deixa claro que o uso do
mecanismo do pinçamento e sobrestamento é competência não apenas dos Tribunais
recorridos, mas que também o STF e o STJ dele possam se valer, quando isso tenha ou não
sido feito pelo presidente ou vice-presidente do TJ ou TRF (no atual CPC tal faculdade
apenas está expressamente prevista para o julgamento de REsp repetitivos e não de RE)".
·          Humberto Theodoro Jr. (Curso..., 47. ed., vol. 2, p. 1.133; 1.137) descreve que: "A
finalidade do instituto, à evidência, atende aos reclamos de economia processual. Busca-se
evitar os inconvenientes da enorme sucessão de decisões de questões iguais, em processos
distintos, com grande perda de energia e gastos, recursos. Como os recurso especial e
extraordinário não são instrumentos de revisão dos julgamentos dos tribunais locais em
toda extensão da lide, mas apenas de reapreciação de tese de direito federal ou
constitucional em jogo, não se pode considerar, em princípio, ofensiva ao acesso àqueles
recursos constitucionais a restrição imposta ao seu julgamento diante das causas seriadas
ou repetitivas. Basta que o Pleno se defina uma vez sobre a tese de direito repetida na
série de recursos especiais ou extraordinários pendentes, para que a função constitucional
daquelas Cortes Superiores - que é manter, por meio do remédio do recurso especial, a
autoridade e a uniformidade da aplicação da lei federal, e do recurso extraordinário, a
autoridade da Constituição - se tenha por cumprida. (...) O mecanismo de processamento
dos recursos especial e extraordinário diante de causas seriadas caracteriza-se pelos
seguintes objetivos: (a) evitar a subida dos recursos especiais e extraordinários repetitivos,
represando-se os provisoriamente no tribunal de origem; (b) julgamento de questão
repetitiva numa única e definitiva manifestação da Corte Especial do STJ ou do STF; (c)
repercussão do julgado definitivo da Corte Especial sobre o destino de todos os recursos
represados, sem necessidade de subirem ao STJ ou STF, sempre que possível". E ainda,
diferencia os recursos especiais e extraordinários repetitivos do incidente de resolução de
demandas repetitivas: "O novo Código expande a técnica dos 'julgamentos por
amostragem' a todos os tribunais, aos quais se autoriza o manejo do 'incidente de
resolução de demandas repetitivas', que, em alguns casos, prescinde até mesmo da
existência de recursos. Trata-se de um procedimento de competência originária do
tribunal de segundo grau (estadual ou federal), que permite fixar tese de direito para
vincular o julgamento de numerosas demandas devolvendo a mesma questão, com 'risco
de ofensa à isonomia e à segurança jurídica', caso sejam apreciadas e julgadas
separadamente (NCPC, art. 976). A diferença mais significativa entre a técnica dos
recursos extraordinário e especial repetitivos e a do incidente de resolução de demandas
repetitivas reside na circunstância de que o STF e o STJ quando fixam a tese padrão, o
fazem julgando os casos selecionados; enquanto os tribunais locais, ao julgar o incidente
do art. 976, apenas apreciam a tese de direito, que os juízes subordinados haverão de
aplicar nas sentenças das diversas causas repetitivas (art. 985, I)".
· Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentários..., p. 2.208), sobre a
desistência de recurso excepcional afetado como repetitivo: "Dada a natureza jurídica do
instituto da desistência do recurso, vale dizer, de negócio jurídico unilateral não
receptício, sua eficácia é plena, independe da concordância ou anuência do recorrido e
dispensa homologação judicial. Daí por que o recorrente que interpôs RE e/ou REsp pode
dele desistir, ainda que tenha sido empregado ao seu recurso excepcional o rito do recurso
repetitivo (CPC1036). Isto porque o caso que será julgado pelo STF e/ou STJ como recurso
repetitivo tem, como matéria de fundo, lide individual que encerra discussão sobre direito
subjetivo. Eventual má-fé do recorrente, com a quebra do princípio processual da lealdade
e o agir com má-fé objetiva ou subjetiva, desde que reconhecida pelo tribunal, pode
ensejar a pena de improbus litigator prevista no CPC81e 82. O que não pode ocorrer é, sob
alegação de que o recorrente teria desistido do REsp por má-fé, ignorar-se o ato unilateral
não receptício da desistência e, a despeito de inexistir pressuposto de admissibilidade
desse REsp pelo só fato da desistência, conhecer-se do recurso! O STJ, todavia, ainda na
vigência do CPC/1973, entendia que o efeito coletivo de que é portador o julgamentodo
próprio recurso tomado como representativo da controvérsia impede a desistência deste.
Mas já existe decisão em sentido contrário (...)".
·          Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da
Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello (Primeiros..., p. 1.520) em comentário ao
art. 1.041, CPC, explicam que: "Este dispositivo diz respeito ao 2.º e ao 1.º graus de
jurisdição. Refere-se às consequências que decorrem da publicação do acórdão paradigma
em relação aos recursos extraordinários ou excepcionais, cujos procedimentos tenham
sido sobrestados no 2.º grau: se os acórdãos de que se recorreu coincidirem com a
orientação do Tribunal Superior, será negado aos recursos destes interpostos; se houver
acórdãos divergentes, ou seja, cujo conteúdo não coincida com a orientação adotada pelo
Tribunal Superior, o próprio Tribunal a quo deverá voltar atrás, fazendo a adequação da
sua própria decisão à tese que prevalecer no Tribunal Superior - a lei se refere a este
fenômeno como juízo de retratação. Não há, a nosso ver, delegação para julgar o mérito:
(a) porque seria inconstitucional; (b) porque o Tribunal não age de acordo com sua
convicção: age, na verdade, declarando o recurso prejudicado, por força de lei. Este juízo
de retratação deverá ocorrer não só nos recursos já julgados, mas também nas causas de
competência originaria do 2.º grau e na remessa necessária. Se a suspensão ocorreu em
processos que ainda estavam em 1.º grau, portanto, sem sentença, uma vez publicado o
acórdão, o juiz deverá determinar que se retome o curso do feito, para, afinal, sentenciar,
aplicando a tese. Claro, se não houver motivo para deixar de julgar o mérito (III). A
sensibilidade do legislador para resolver problemas práticos recorrentes foi
provavelmente a origem deste dispositivo que determina seja comunicado, ao órgão ao
ente ou à agência reguladora competente, o resultado do julgamento, se o recurso tiver
por objeto questão de direito concernente a prestação de serviço concedido, permitido ou
autorizado. Esta comunicação tem por objetivo a fiscalização dos entes sujeitos à
regulação, no sentido de verificar se a decisão está sendo respeitada (inciso IV). Os §§ 1.º,
2.º e 3.º criam uma situação que deve estimular as partes a desistir da ação, nesta situação,
dispensando o juiz de proferir sentença de mérito. Se a desistência ocorrer antes da
contestação, o autor ficará isento de custas e honorários de sucumbência (§ 2.º). Se,
todavia, ocorrer depois de apresentada a contestação por força de determinação legal (§
3.º), dispensa-se a anuência do réu. No entanto, não fica o autor dispensado de arcar com
custas e honorários".
Enunciados do FPPC
N. 169. (Art. 927 do CPC/2015) Os órgãos do Poder Judiciário devem obrigatoriamente
seguir os seus próprios precedentes, sem prejuízo do disposto nos § 9.º do art. 1.037 e § 4.º
do art. 927.
N. 174. (Art. 1.037, § 9.º, do CPC/2015) A realização da distinção compete a qualquer
órgão jurisdicional, independentemente da origem do precedente invocado.
N. 305. (Arts. 489, § 1.º, IV, 984, § 2.º, 1.038, § 3.º, do CPC/2015) No julgamento de casos
repetitivos, o Tribunal deverá enfrentar todos os argumentos contrários e favoráveis à
tese jurídica discutida, inclusive os suscitados pelos interessados.
N. 345. (Arts. 928, 976 e 1.036 do CPC/2015) O incidente de resolução de demandas
repetitivas e o julgamento dos recursos extraordinários e especiais repetitivos formam um
microssistema de solução de casos repetitivos, cujas normas de regência se
complementam reciprocamente e devem ser interpretadas conjuntamente.
N. 348. (Arts. 987, caput, 1.037, II, §§ 5.º, 6.º, 8.º e seguintes, do CPC/2015) Os
interessados serão intimados da suspensão de seus processos individuais, podendo
requerer o prosseguimento ao juiz ou tribunal onde tramitarem, demonstrando a
distinção entre a questão a ser decidida e aquela a ser julgada no incidente de resolução
de demandas repetitivas, ou nos recursos repetitivos.
N. 363. (Arts. 1036 a 1040 do CPC/2015) O procedimento dos recursos extraordinário e
especiais repetitivos aplica-se por analogia às causas repetitivas de competência originária
dos tribunais superiores, como a reclamação e o conflito de competência.
N. 364.(Art. 1.036, § 1.º, do CPC/2015) O sobrestamento da causa em primeira instância
não ocorrerá caso se mostre necessária a produção de provas para efeito de distinção de
precedentes.
N. 480. (Arts. 1.037, II, 928 e 985, I, do CPC/2015) Aplica-se no âmbito dos juizados
especiais a suspensão dos processos em trâmite no território nacional, que versem sobre a
questão submetida ao regime de julgamento de recursos especiais e extraordinários
repetitivos, determinada com base no art. 1.037, II.
N. 481. (Art. 1037, §§ 9.º a 13, do CPC/2015) O disposto nos §§ 9.º a 13 do art. 1.037
aplica-se, no que couber, ao incidente de resolução de demandas repetitivas.
N. 482. (Art. 1.040, I, do CPC/2015) Aplica-se o art. 1.040, I, aos recursos extraordinários
interpostos nas turmas ou colégios recursais dos juizados especiais cíveis, federais e da
Fazenda Pública.
N. 557. (Arts. 982, I, 1.037, § 13, I, do CPC/2015) O agravo de instrumento previsto no
art. 1.037, § 13, I, também é cabível contra a decisão prevista no art. 982, inc. I.
Bibliografia
Fundamental
Alexandre Freitas Câmara,O novo processo civil brasileiro, São Paulo: Atlas, 2015;
Araken de Assis, Manual dos Recursos, 6. ed., São Paulo: Ed. RT, 2014; Eduardo Arruda
Alvim, Direito processual civil, 5. ed., São Paulo: Ed. RT, 2013; Humberto Theodoro Júnior,
Curso de direito processual civil, 47. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2016, vol. 2; Nelson Nery
Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, Comentários ao Código de Processo Civil, São Paulo: Ed.
RT, 2015; Teresa Arruda Alvim Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo Talamini e Bruno
Dantas (coords.), Breves comentáriosao Novo Código de Processo Civil, São Paulo: Ed. RT,
2015; _____, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio
Licastro Torres de Mello, Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil: artigo
por artigo, São Paulo: Ed. RT, 2015.
Complementar
Antonio do Passo Cabral, A escolha da causa-piloto nos incidentes de resolução de
processos repetitivos, RePro 231/201; Antonio Pereira Gaio Júnior, Considerações sobre a
ideia da repercussão geral e a multiplicidade dos recursos repetitivos no STF e STJ, RePro
170/140; Cassio Scarpinella Bueno, Visão geral do(s) projeto(s) de novo Código de Processo
Civil, RePro 235/335; Eduardo Arruda Alvim, Direito processual civil, 2. ed., São Paulo: Ed.
RT, 2008; Eduardo Talamini, Direitos individuais homogêneos e seu substrato coletivo:
ação coletiva e os mecanismos previstos no Código de Processo Civil de 2015, RePro,
241/337, Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional 10/1.983; Elaine Harzheim Macedo,
Prequestionamento no recurso especial sob a ótica da função do STJ no sistema processual
civil: uma análise perante o novo Código de Processo Civil, RePro 246/287; Erik Navarro
Wolkart, Precedentes no Brasil e cultura - um caminho tortuoso, mas, ainda assim, um
caminho, RePro 243/409; Fabiano Haselof Valcanover, A efetividade da prestação
jurisdicional e o rito dos recursos repetitivos como filtro recursal, RePro 216/441; Gianvito
Ardito, Os riscos da jurisprudência dos tribunais superiores: engessamento hermenêutico
e efeito ex tunc, RT 940/255; Gilberto Andreassa Junior, Os "precedentes" no sistema
jurídico brasileiro (STF e STJ), RT 935/81; Gustavo Nogueira, A recepção dos precedentes
pelo novo Código de Processo Civil: uma utopia?, RePro 249/379; José Ignácio Botelho de
Mesquita, Rodolfo da Costa Manso Real Amadeo, Mariana Capela Lombardi Moreto,
Guilherme Silveira Teixeira, Daniel Guimarães Zveibil, A repercussão geral e os recursos
repetitivos. Economia, direito e política, Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional10/1.183; Luís Antônio Giampaulo Sarro, Dos recursos no projeto de novo Código de
Processo Civil, RDB 66/191; Luiz Guilherme Marinoni, Incidente de resolução de demandas
repetitivas e recursos repetitivos: entre precedente, coisa julgada sobre questão, direito
subjetivo ao recurso especial e direito fundamental de participar, RT 962/131; _____, O
problema do incidente de resolução de demandas repetitivas e dos recursos
extraordinário e especial repetitivos, RePro 249/399; Marcelo Andrade Féres, A nova sorte
da prova do julgado paradigma de divergência no âmbito do recurso especial: breve nota
à Lei 11.341/06, RDDP 43/98; Misabel De Abreu Machado Derzi, Thomas da Rosa de
Bustamante, Dierle Nunes e Ana Luísa de Navarro Moreira, Recursos extraordinários,
precedentes e a responsabilidade política dos tribunais, RePro 237/473; Raphaelle Costa
Carvalho, O incidente de resolução de demandas repetitivas: breve análise de sua
estrutura e de seu papel na realidade processual brasileira, RePro 250/289; Rodolfo de
Camargo Mancuso, Da jurisdição coletiva à tutela judicial plurindividual, RePro 237/307;
Thadeu Augimeri de Goes Lima, Iura novit curia no processo civil brasileiro: dos
primórdios ao novo CPC, RePro 251; Thiago Baldani Gomes De Filippo, Precedentes
judiciais e separação de poderes, RePro 247/423; Ticiano Alves e Silva, Intervenção de
sobrestado no julgamento por amostragem, RePro 182/234.
FOOTNOTES
1
Sobre o tratamento dado à matéria pelo CPC/1973, cf. Luiz Rodrigues Wambier e Teresa Arruda
Alvim Wambier. "Anotações sobre o julgamento de processos repetitivos". Revista IOB de Direito
Civil e Processual Civil 49/29, set./out. 2007.
2
Sobre o tema, v. Eduardo Talamini, Julgamento de recursos no STJ "por amostragem" (Lei
11.672/2008). Disponível em: [www.migalhas.com.br/mostra_noticia_articuladas.aspx?
cod="60470]." Acesso em: 21.03.2016; e Luiz Rodrigues Wambier e Rita de Cássia Corrêa de
Vasconcelos, Sobre a repercussão geral e os recursos especiais repetitivos, e seus reflexos nos
processos coletivos, RT 882/25.
3
© desta edição [2016]
Eduardo Talamini, Direitos individuais homogêneos e seu substrato coletivo: ação coletiva e os
mecanismos previstos no Código de Processo Civil de 2015, RePro 241/337, Doutrinas Essenciais
de Direito Constitucional, vol. 10, p. 1.983, ago. 2015.
4
Cf. Eduardo Talamini, Repercussão geral em recurso extraordinário: nota sobre a sua
regulamentação, Revista Dialética de Direito Processual, v. 54, 2007, n. 2, j.
5
Eduardo Talamini, Amicus curiae, em Breves comentários ao novo CPC (coords. Teresa A. A.
Wambier, F. Didier Jr., E. Talamini, B. Dantas), São Paulo: Ed. RT, 2015, n. 19, p. 442-443.
6
Ver Eduardo Talamini, Direitos individuais homogêneos..., cit., n. 8.2.

Outros materiais