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Resumo de Direito Penal parte geral1 Bloco I PRIMEIRA PARTE Do conceito de Direito Penal Pode-se definir Direito Penal como um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações e natureza penal e suas respectivas sanções (penas e medidas de segurança). Tem característica principal sua extrema formalidade, por só agir em situações típicas, antijurídicas e culpáveis e um caráter fragmentário que o distingue de outros ramos do Direito, só podendo ser invocado quando se esgotam as possibilidades de solver o lítigio. Dicotômia objetiva-subjetiva Direito Penal objetivo são as normas penais criadas pelo legislador para atuarem em determinadas situações jurídicas. É a própria criação proveniente da vontade estatal soberana O subjetivo, por sua vez, está no interior do objetivo e consiste no direito de castigar e cuja titularidade pertence ao Estado. Este é regulado pelo que estipula o Direito Penal Objetivo. Dicotômia substantiva-adjetiva Direito Penal substantivo são as próprias normas escritas e regulamentos, é o materialismo do Direito Penal. Já o adjetivo remete ao método de aplicação das normas, é o Direito processual. Direito Penal no Estado de direitos sociais Por fim, deve-se ressaltar que, o Direito Penal tem como função principal proteger bens relevantes tutelados pelo Estado de forma fragmentária (ultima ratio) e de acordo com princípios delimitadores da aplicação das normas. Princípios fundamentais do Direito Penal 1-Legalidade Proveniente da premissa latina “nullum crimen, nulla poena sine lege” este princípio diz que nenhum fato pode ser considerado crime e que nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes exista lei que defina o fato como crime e comine sua determinada 1Resumo feito com base nas aulas ministradas pela professora Denise Meneses Gomes, da Universidade Federal de Roraima, e a doutrina de Cezar Roberto Bitencourt: Tratado de Direito Penal, Vol. 1, parte geral, 22º ed revista e ampliada de 2016. Autor: Ícaro Vitório Viana Braga, aluno do curso de Bacharelado em Direito da UFRR, 2º Semestre. sanção. Tem tipificação na CFRB/88 Art5º, inc. XXXIX – não haverá crime sem lei anterior que defina, nem pena sem prévia cominação legal-. 2 – Reserva Legal Com tipificação no Art.22,I da CRFB/88 dita que certas matérias de direito devem ser reguladas por meio de lei formal, no caso, cabe privativamente à União legislar sobre o Direito Penal. 3 -Taxatividade Aqui o princípio é aplicado ao legislador que, ao elaborar a lei, deve ser claro e conciso nas suas palavras de modo a não levar à indeterminação dos tipos penais. 4 - Intervenção Mínima (Ultima ratio) Limitador do poder incriminador, dita que o Direito Penal só pode criminalizar condutas que apresentem risco aos bens jurídicos importantes tutelados pelo Estado. Não pode o Estado punir ações por serem meramente consideradas imorais pela sociedade. 5 – Irretroatividade (Tempus regit actum) A lei penal, em regra, só atinge condutas realizadas ao tempo de sua eficácia, não atuando antes ou depois de sua vigência. Contudo, no Direito intertemporal, admite-se que retroaja a lei penal mais favorável, segundo o Art 5º, XL, da CF. 6 - Adequação Social Este princípio, orbita no que diz respeito à materialidade da ilicitude no âmbito social. A exemplo, tem-se o caso da enfermeira que fura a orelha da criança menina com um brinco como presente para a mãe. Formalmente tem-se uma lesão corporal, mas, materialmente o comportamento é aceito por se tratar de algo comum na sociedade. Logo a adequação social é a exclusão Supralegal da tipicidade devido a aceitação do comportamento pela sociedade. 7 – Insignificância De início deve-se diferenciar que, condutas de menor potencial ofensivo (Art 98,I CF) não configuram por si só a insignificância. Esse princípio diz repeito à intensidade ou extensão da lesão produzida a um bem jurídico, condutas que não chegam a lesar bens jurídicos tutelados não são tipificadas. 8 – Ofensividade Não há infração penal sem ao menos a colocação do bem tutelado em risco. Logo, só podem ser reprimidas pelo Direito Penal aquilo que ofereça efetiva e concreta possibilidade de, ou, lesão a um bem. 9 – Culpabilidade Culpabilidade por ser apreendida como um juízo de valor que permite atribuir a responsabilidade de determinado fato típico à determinada pessoa (capacidade de culpabilidade, consciência da ilicitude, exigibilidade da conduta), a falta de algum elemento pode eliminar a aplicação de uma sanção penal. Pode, também, ser admitida como critério de medição de pena, em consonância com o princípio da individualização da pena. 10 – Proporcionalidade Dita que cada crime deve ser punido de acordo com a abrangência de sua lesão, crimes de menor potencial com penas menores, delitos maiores com mais rigorosidade. A função desse princípio é, sobretudo, evitar os excessos no que diz respeito a aplicação de penas maiores que o necessário e a impunidade, no que tange aos delitos mais agressivos. Atua lado a lado com o princípio da razoabilidade, sendo o razoável aquilo que tem aptidão para atingir os objetivos que propõe sem representar excessos. 11 – Humanidade É o que sustenta que o pode punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a condição físico-psíquica de prisioneiros. Em suma, é a vedação da aplicação de penas cruéis e infamantes. 12 – Responsabilidade Subjetiva Só a crime se a conduta realizada for dolosa ou culposa. Para tanto deve-se fazer a análise do crime (Fato típico, antijuricidade e culpabilidade), se, dentro do requisito conduta do fato típico existir dolo ou culpa - esta última modalidade só pode ser aceita se prevista expressamente - há crime. Tipicidade formal: Prevista pelo legislador expressamente na lei, é o delito que se amolda ao fato típico. Tipicidade material: É a análise da relevância da lesão ao bem protegido no caso concreto. SEGUNDA PARTE Normas penais Para Binding as normas penais subdividem-se em incriminadoras que definem as infrações e proíbem (comissivos) ou impõe condutas (omissão), são chamadas de normas penais em sentido estrito. São compostas por um preceito primário, que descreve objetivamente a infração penal, e um preceito secundário, que representa a cominação abstrata mas individualizada da sanção correspondente. Dividem-se no codex em Parte geral – Art 1 ao 120- e Parte especial – Art 121 e seguintes -. E não incriminadoras ou permissivas que estabelecem regras gerais de interpretação e aplicação das normas penais em sentido estrito de modo a delimitar a infração e sanção penal correspondente, explicam ou permitem condutas excluindo tipicidade, ilicitude e culpabilidade. Essas, podem ainda subdividir-se em completas (quando se tem elemento normativo e valorativo completos) e incompletas (quando falta o elemento normativo da origem às leis penais em branco, já na ausência do valorativo surge o tipo aberto). TIPO ABERTO – Lei ou norma que necessita de complemento valorativo. EX: Art 150 e 312 do CP. LEI PENAL EM BRANCO – Aquela que necessita de complemento normativo no preceito, são normas penais incriminadoras. Podem ser homogêneas quando o complemento também é uma lei EX:Art 237 CP ou heterogêneas quando o complemento é outro que não lei EX: Art 268 e 269 CP. Disto, extrai-se que para conceituar certa conduta como crime é preciso antes realizar o juízo de valor da estrutura do crime. A conduta contrária ao direito deve ser TÍPICA - com uma conduta dolosa ou culposa quepor meio de um nexo de causalidade gere (ou não) um resultado e deve ser prevista como contravenção pela lei. ANTIJURÍDICA - não bastando ser prevista na lei, mas expressamente contrária ao direito. E CULPÁVEL – com um juízo de valor acerca da atribuição de responsabilidade da conduta. Vala ainda relembrar que Binding acreditava que a Lei era o veículo e a norma o passageiro, ou seja, a lei descreveria o crime e a norma diz o que é ilícito. Por exemplo, no Art 121 a lei diz o que é a conduta, matar alguém, e a norma proíbe essa mesma conduta na sociedade, proibindo matar alguém. TIPO – Descrição da conduta criminosa (elementos), com um núcleo (verbo) proibindo um fazer (comissão) ou não fazer (omissão). Pode existir, ainda, crimes comissivos por omissão ou também omissivos impuros ou impróprios. A exemplo tem-se a mãe que mata o filho por inanição. No caso em questão deve-se usar o Art 121 “matar alguém” + a norma de extensão do Art 13 do CP. Fontes do Direito Penal Podem ser formais (de conhecimento) que é a forma como as leis penais se apresentam e se subdividem em imediatas como a lei, ou mediatas como os costumes, jurisprudência, doutrina e princípios gerais do Direito. Também, pode ser materiais (de produção), sendo o Estado a única fonte, de acordo como Art 22, I da CF. Interpretação e integração das leis penais A interpretação dita autêntica é feita pelo legislador, a judicial, pelo magistrado e, a doutrinal, pela doutrina. A interpretação jurisprudencial diz respeito ao compilado de decisões judiciais acerca de um mesmo caso, levando a produção de antecedentes que podem servir de modelo para casos semelhantes. A interpretação extensiva é aquela utilizada em frente a leis penais restritas de modo a ampliar o sentido do texto legal para abranger casos semelhantes, respeitando sempre o princípio da reserva legal. EX: Art 172 e 176 CP. A declarativa expressa o sentido linguístico literal do texto interpretado. É proveniente da concordância entre a interpretação gramatical e lógico-sistemática. É a coincidência da norma com o sentido exato do preceito, segundo Vicent Ráo. Já a restritiva, procura reduzir ou limitar o alcance do texto interpretado na tentativa de encontrar seu verdadeiro sentido, por se tratar de uma exigência jurídica. A interpretação analógica não diz respeito à analogia por ser da própria vontade da lei, ordenada por esta, pode ser aplicada aos tipos penais incriminadores e é composta pela seguinte fórmula: Forma casuística + Cláusula genérica. EX: Art 121 CP, exceto inciso II, matar alguém… com emprego de veneno (forma casuística)… ou outro meio cruel (cláusula genérica). Arts 213, 217-A e 28 também servem de exemplo. Já a analogia não diz respeito à vontade da lei, consiste em fazer aplicável a norma a um caso semelhante, mas não compreendido nem na letra ou vontade da lei. Por isso não pode ser aplicada a leis penais incriminadoras, com, a única exceção sendo a analogia in bonam partem, quando as leis têm suas lacunas integradas ou complementadas por meio da analogia que visa beneficiar o réu. Quando a lei se mostrar omissa deve o magistrado recorrer à analogia, costumes e princípios gerais do Direito. Contudo, costumes e desuso NÃO pode revogar leis, somente ajudar na sua integração. TERCEIRA PARTE Lei penal no tempo Aqui, trata-se da aplicação das normas penais no tempo. Para tal fim, necessário foi seguir os princípios da reserva legal e da irretroatividade a fim de evitar arbitrariedades na aplicação de normas penais. No caso da aplicação das leis penais no tempo vigorá o princípio do tempus regit actum (aplica-se a lei em vigor à época do fato), contudo, essa regra não é absoluta como pode-se ver nas hipóteses de extratividade de lei penal. Retroatividade e ultratividade de lei mais benigna No conflito de leis penais no tempo é necessária a valoração de qual lei se apresenta mais benéfica ao réu. Lei anterior, quando mais favorável, terá ultratividade, lei posterior, quando no mesmo contexto, retroagirá. Em suma toda lei penal, seja qual for sua natureza, que de alguma forma amplie garantias de liberdade do indivíduo, reduza proibições ou amplie o campo da licitude penal terá, quando for digna e quando determinado for o caso, extratividade. Hipóteses de conflitos de leis penais no tempo Abolitio criminis (Art 2º CP) – Ocorre quando lei nova deixa de considerar crime fato anteriormente tipificado como ilícito penal. A abolitio criminis faz desaparecer todos os efeitos penais da lei (inquerito policial, processo e sentença condenatória caso já tenha sido decretada), permanecendo os civis. Novatio legis incriminadora – É o oposto da Abolitio, ocorre quando a lei considera crime fato anteriormente não incriminado, ou seja, piora a situação do réu. Novatio legis in pejus – É quando lei posterior de qualquer modo agrave a situação do réu Para as duas situações acima, segundo o Art. 5º, XL da CF, não retroagirá nem ultra-agirá lei penal que agrave a situação do sujeito, seja criando novos tipos ou agravando os já existentes. Novatio legis in melius (lex mitior) – Quando lei nova dá ao sujeito tratamento mais favorável, seja reduzindo pena ou atenuando circunstâncias. Mesmo que a sentença condenatória encontre-se em fase de execução, prevalece a lex mitior nos temos do Art. 2º do CP. Tem-se, também, o caso da lex mitior em Vacatio legis. Na concepção de Hungria, a lei em período de vacação não deixa de ser lei, e, se mais benéfica ao réu, deve ser aplicada desde logo. Leis penais intermitentes – Caso que ocorre quando há uma sucessão de leis penais, e a mais favorável não é nem a leis do tempo do fato nem a última, mas intermediária. De acordo com os princípios gerais do Direito Intertemporal deve-se aplicar a lei mais favorável sempre, mesmo se intermediária. Logo, esta lei tem dupla extra- atividade, podendo retroagir ou ultra agir. Combinação de leis penais – É o caso do magistrado que identifica aspectos positivos em uma lei passada e uma lei futura a ocorrência do fato combinando-as em beneficio do réu. Essas hipóteses dividem opiniões na doutrina a favor e contra da possibilidade. Com sólido entendimento, o STF, através da súmula 501, vedou tal possibilidade. Tipos de crimes no Direito Penal Intertemporal Crimes instantâneos são aqueles em que a consumação não se alonga no tempo, acabando naquele momento, é o caso do homicídio. Crimes permanentes são aqueles que mesmo após efetuada a conduta produz efeitos ao longo do tempo, é o caso do sequestro que pode levar ao exaurimento do crime. Ainda usando o homicídio como exemplo, pode-se ter crimes instantâneos de efeitos permanentes quando a conduta não se protrai no tempo, mas seus efeitos sim. Crime continuado, é a ocorrência de vários delitos semelhantes em execução ou idênticos somados, somente no período de 30 dias, para a aplicação de uma pena unitária com base no mais grave (semelhança) ou no primeiro (iguais). É uma ficção jurídica que visa beneficiar o réu, considerando os demais crimes como continuações do primeiro. Só há conflito de leis penais no tempo quando lei nova surge após a consumação do fato e se tem dúvida em qual aplicar. Segundo o STF, através da súmula 711 pacificou a questão dos crimes permanentes. Se um crime se prolonga no tempo, não deve-se guiar pela exceção da ultra atividade da lei e sim usar do tempus regit actum para punir o acusado, mesmo se a lei ao tempo do fato for mais grave. Leis excepcionais e temporárias Essas são leis que vigem por período predeterminado,pois nascem com a finalidade de regular situações que são transitórias especiais. Temporárias são aquelas que vem com vigência previamente estabelecidas pelo legislador, só retroage se prever mesmo conteúdo de lei posterior e for mais benéfica ao réu, e, em regra são aplicáveis a todos os fatos ocorridos no período de sua vigência. Excepcionais são leis que surgem devido à situações de estado de calamidade ou emergência e duram até o mesmo ter fim. Também são aplicáveis a todos os fatos ocorridos em seu período de vigência. Ambas as leis acima citadas tem ultra atividade com base no escrito do Art. 3º do CP. Tempo do crime Adota-se, no Direito Penal Intertemporal, para determinar o tempo do crime, a teoria da atividade, com base no Art. 4º do CP. Lei penal no espaço Princípio da territorialidade (REGRA) - Aplica-se a lei penal brasileira aos fatos praticados no território nacional, independente da nacionalidade do agente ou do bem jurídico lesado (Art. 5º caput CP) Princípio da real defesa ou de proteção - Pode-se estender a jurisdição penal do Estado titular do bem jurídico lesado para além de seus limites terriotorais, independentemente do local onde o delito foi praticado ou da nacionalidade do agente infrator (Art. 7º, I, CP) Princípio da nacionalidade ou personalidade – Aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente, pouco importando o local em que o crime foi praticado. Personalidade ativa – somente se considera a nacionalidade do autor do delito (Art 7º,II, b, CP). Personalidade passiva- somente se considera a nacionalidade da vítima do delito (Art 7º, § 3º CP). Visa complementar o critério da territorialidade. Princípio da universalidade ou cosmopolita – Aplica-se a lei nacional a todos os fatos puníveis, sem levar em conta o lugar do delito, a nacionalidade de seu autor ou do bem jurídico lesado (Art 7º, II, a CP). Princípio da representação ou da bandeira – Aplica-se a lei do Estado em que está registrada a aeronave ou embarcação ou cuja bandeira ostenta aos delitos praticados em seu interior quando houver deficiência legislativa ou desinteresse de quem deveria reprimir (Art 7º, II, c CP). Lugar do crime Foi adotada pelo Ordenamento jurídico brasileiro a teoria da pura ubiquidade, mista ou unitária, para qual lugar do crime pode ser tanto o lugar da ocorrência da ação ou omissão, ou, ainda o lugar onde se efetuou o resultado, com tipificação no Artigo 6º do Codex. Conflito aparente de normas É quando são encontrados casos em que uma mesma conduta ou fato podem ser, aparentemente, regulados por mais de uma norma e a solução para tal deve ser encontrada através da interpretação, pressupondo a unidade de conduta ou de fato, pluralidade de normas coexistentes e a relação de hierarquia ou de dependência entre as normas. Princípios regentes do conflito aparente de normas. Princípio da especialidade – Considera-se especial a norma penal que contém todos os elementos da norma geral acrescidos de mais alguns. Por derradeiro, a regulamentação especial exclui a geral. Princípio da subsidiariedade – No caso concreto, deve-se analisar qual norma é mais adequada, a subsidiaria ou a principal de acordo com o juízo de valor. Entre elas a relação é a de descrição de graus de violação de um mesmo bem jurídico de forma que a norma subsidiária e afastada pela aplicabilidade da norma principal. Princípio da consunção – Consunção ocorre quando um crime é realizado como meio para a prática de um outro crime com maior potencial ofensivo. Nesse caso, a norma que pune o crime-meio não é levada em consideração, mas, somente a que pune o crime- fim, por este ser o de maior potencial dano ao bem jurídico tutelado pelo Estado. Bloco II QUARTA PARTE Teoria do delito Delito é a ação típica, antijurídica e culpável, submetida a uma cominação penal adequada e ajustada às condições de dita penalidade. Requisitos genéricos do crime: Fato típico, antijuricidade e culpabilidade. Requisitos específicos do crime: Elementares do crime, presentes no tipo penal incriminador e são próprios de cada crime. Os requisitos específicos são encontrados através da análise sistemática do tipo penal (palavras escolhidas pelo legislador). Classificação das infrações penais Não há diferença ontológica entre crime e contravenção, a diferenciação é feita pela natureza da pena privativa. Estas, são chamadas também de crimes anões, de menor potencial ofensivo e por isso sofrem sanções mais brandas como a prisão simples. Já aqueles, reclusão e detenção. Doloso, é o crime no qual o autor quis o resultado ou assumiu o risco de prouzí-lo. Culposo, por sua vez, quando o agente da causa ao resultado por negligência, imprudência ou imperícia (Art.18 CP). E o Preterdoloso é o crime cujo resultado ocorre mais grave do que o pretendido pelo agente, uma lesão corporal que acaba em homicídio, por exemplo. Comissão é quando se realiza uma ação positiva visando um resultado ilícito, fazer o que a lei proíbe. Já a omissão é quando ocorre um não fazer quando a lei o manda. E existe, ainda, a omissão imprópria ou crime comissivo por omissão, onde a omissão é o meio pelo qual o agente produz um resultado, não respondendo por esta, mas pelo resultado decorrente, o que estava juridicamente obrigado a impedir. Nestes casos deve-se usar a norma de extensão prevista no Art. 13, §2º do CP. Instantâneo é crime que se esgota coma ocorrência do resultado naquele instante. Permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo, dependente da atividade do agente e só cessa quando este quiser. Crime material ou de resultado, é o que só ocorre quando consumado resultado decorrente de sua ação. Já no crime formal, também há a descrição de um resultado, mas sua ocorrência não é obrigatória para a consumação do delito. Nos de mera conduta a simples ação ou omissão é o suficiente para consumá-lo. Os habituais, são delitos compostos pela reiteração de atos que entregam o modo de viver do agente, cada ato constituindo, individualmente, um indiferente penal. De dano são aqueles que para a consumação pede-se uma superveniência de um resultado material que consiste em lesão efetiva do bem jurídico. De perigo é a possibilidade de risco real que uma superveniência de resultado material pode causar ao bem jurídico protegido. Há crime de perigo concreto, quando precisa ser comprovado, e abstrato ou presumido (vetado por ir de encontro com o princípio da ofensividade), quando se pressupõe a ofensividade. Crimes unissubjetivos são aqueles que podem ser praticados pelo agente individualmente, mas, por sua vez, admite concurso de pessoas. Plurissubjetivos são aqueles em que o delito tem de ser praticado por uma pluralidade de agentes (quadrilha, rixa). Unissubsistentes são os crimes que se constituem de um único ato, não admitindo o fracionamento da conduta, o que, portanto, exclui a possibilidade de tentativa. Delitos formais e de mera conduta são, em regra, unissubsistentes. Já o oposto, o crime plurissubsistente, é aquele que pode se desdobrar em vários atos sucessivos, conduta e resultado separam-se. Em geral, crimes materiais são plurissubsistentes. Comum, é aquele delito que pode ser praticado por qualquer agente (lesão corporal, estelionato, furto). Próprio ou especial, é quando se exige determinada qualidade ou condição pessoal do agente. De mão própria, são aqueles delitos que só podem ser praticados pelo agente em pessoa, não admitindo interposição de outra pessoa (falso testemunho, adultério, prevaricação). No crime próprio, mesmo que a gama de pessoas que podem praticar a ação seja limitada, o autor pode ordenara outrem que a pratique. Já no de mão própria, qualquer um pode fazer a ação, desde que se seja pessoalmente, pois aqui não se admite terceirização de conduta. Sujeitos e objetos do delito Ativo é quem pratica total ou parcialmente o fato descrito como crime na norma penal incriminadora. Passivo é o titular do bem jurídico atingido pela conduta criminosa, pode ser o ser humano (crimes contra a pessoa), o Estado (crimes contra a Adm Pública), a coletividade (crimes contra a saúde pública) ou a pessoa jurídica (crimes contra o patrimônio). Ressalta-se que o ser humano, a sociedade e as pessoas jurídicas são passivos eventuais enquanto o Estado é passivo constante por determinar a tutela dos bens jurídicos. Objeto jurídico é o bem jurídico protegido pelo Direito Penal enquanto o objeto material é a coisa ou pessoa sobre a qual recai a conduta criminosa. Da conduta Para a corrente causalista mecanicista de Von Liszt a conduta é a ação humana consciente e voluntária que causa modificação no mundo exterior. A manifestação de vontade, o resultado e a relação de causalidade são os elementos desse conceito de ação. Para a corrente finalista de Hans Welzel, adotada pelo Direito brasileiro, conduta é a ação humana consciente e voluntária dirigida a um fim. Aqui, o homem pode prever os resultados de sua conduta. A conduta, portanto, é composta pelo binômio de vontade e consciência, a primeira é a intenção de atingir o bem jurídico tutelado, produzindo fins externos e específicos. Já a segunda, é a noção que o agente tem do que passa ao seu redor, não sendo, necessariamente a consciência da ilicitude. O resultado produzido por uma conduta pode ser jurídico, presente em todo tipo de crime, e é o evento, a lesão ao bem jurídico. Como pode ser naturalístico, presente somente em crimes materiais, e é a modificação do mundo exterior (morte, perda de bem). Casos de exclusão de conduta Coação física irresistível (vis absoluta): Com tipificação presente no Art. 22 da codificação penal, ocorre coação física irresistível quando o agente usa de força física para que outra pessoa aja ilicitamente (vis corporalis), fazendo desta um mero instrumento, logo, sem vontade, e sem conduta. Vale diferenciar a vis absoluta da coação moral irresistível (vis compulsiva), enquanto a primeira exclui a tipicidade da conduta a segunda exclui a culpabilidade. Movimentos reflexos: São atos reflexos puramente somáticos que não dependem da vontade do agente para ocorrer (tosse ou espirro). Não se deve confundí-los com atos de curto-circuito, pois estes tem elemente volitivo, mesmo que por um breve momento, e não excluem a conduta. Estados de inconsciência: São casos em que os atos praticados não são orientados pela vontade (sonambulismo, embriaguez letárgica e hipnose), porém só são considerados se comprovados, logo, dependem da análise do caso concreto. Atipicidade relativa: Quando opera-se uma desclassificação do crime, o delito vira outro mas não deixa de ser crime (Art 214 que foi incluido no 213). Atipicidade absoluta: Aconduta não mais se encaixa na tipicidade formal ou material (matar um cachorro não configura homicídio). QUINTA PARTE Tipo Tipo é “o conjunto dos elementos do fato punível descrito na lei penal. Tem como função exercer uma função limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes.” Nas palavras de Cezar Roberto Bitencourt. Não é o crime, mas a descrição concreta da conduta, pois, para existir crime tem de se efetuar o juízo de tipicidade e analisar se a conduta além de típica, é antijurídica e culpável. Tem, como principal função, identificar o bem jurídico protegido pelo legislador. Podem ser incriminadores, os quais contém preceito primário e secundário, e, por função tem criminalizar um fazer ou um não fazer. Ou permissivos ou não incriminadores, quando permitem um fazer ou não fazer, caso dos Arts. 24 e 25 do CP, Estado de necessidade, legítima defesa e estrito cumprimento do dever legal. Elementos do tipo Elemento objetivo, é aquele que é identificado pela simples percepção sensorial, referem-se a seres, objetos, animais, coisas ou atos que podem ser percebidos pelos sentidos. Não diz respeito à vontade do agente, mas por ela está envolvido. Podem ser descritivos, quando não precisam de juízo de valor e são de claro entendimento ou normativos, quando deve-se valorar, procurar um sentido. Essa busca pode ser jurídica quando o sentido é dado pelo próprio direito, ou extrajurídica quando se recorre a outros meios que não o direito (medicina, economia, física). Elemento subjetivo é o dado ou circunstância que pertence ao campo psíquico espiritual e ao mundo de representação do autor, ou seja, sua vontade. É constituído por um elemento subjetivo genérico (dolo), implícito em todo crime e sem objetivo determinado. E pelo elemento subjetivo específico, que caracteriza a vontade específica do agente em realizar aquele delito. Quando explícito, caracteriza delito de intenção, e quando implícito, delito de tendência. Classificação dos tipos Podem ser estes fechados quando contém somente elementos objetivos e subjetivos descritivos, como o Art. 121 do CP ou abertos quando contém só elementos normativos objetivos e subjetivos específicos, como os Arts. 155 e 312 do CP e todos os crimes culposos. Básicos são aqueles que contam com a descrição típica fundamental (caput), derivados os que estão relacionados com as circunstâncias legais especiais, como as qualificadoras, causas de aumento e de diminuição de pena. São simples os que tem estrutura mononuclear (verbo+conduta), como os Arts. 155 e 121 do CP. E misto os de estrutura plurinuclear. Tipo alternativo tem vários núcleos e constitui um só crime independentemente do número de núcleos que o agente praticou. Cumulativo, é aquele que faz o agente responder por concurso de crimes independente de quantos praticou. O tipo derivado pode estar junto do título ou no fim do capítulo. Nexo de causalidade É a ligação entre a conduta realizada pelo agente e o resultado final obtido. No ordenamento jurídico brasileiro se adota a teoria da equivalência dos antecedentes causais (conditio sine qua non), que dita que tudo anterior ao resultado é relevante e se equivale para a compreensão da modificação do mundo exterior. Causa é tudo aquilo que antecede o resultado e contribui para que este ocorra do jeito que ocorreu. Se retirados os antecedentes do resultado e, mesmo assim, esse for produzido, exclui-se a causa. Concausas são causas que concorrem com a conduta do agente, independentemente. Podem ser absolutas, com subdivisão em pré-existente quando produz resultado antes do agente agir, concomitante a que produz resultado no momento em que a conduta do agente ainda se desenvolve e superveniente aquela que produz um resultado depois da conduta do agente. Como também aceitam ser classificadas como relativas e subdividem-se em pré-existentes, concomitantes e supervenientes. Esta última, não pode ser usada para punir o agente, pois nela o resultado era imprevisto e produziu-se por si mesmo. Nas concausas absolutamente independentes, não se pune o agente, pois só responde pelo resultado quem o deu causa (Art. 13 CP). Nas relativamente independentes, só se pune as pré-existentes e as concomitantes, visto que as supervenientes produzem resultado imprevisível por si só (Art 13, parágrafo 1º CP). Tipicidade Esta é a correspondência entre o fato praticado pelo agente e a conduta descrita concretamente pelo modelo da lei penal. Tipicidade formal é a perfeita adequação do fato concreto ao que está previsto na lei,é feita de forma abstrata. Já a tipicidade material, é a relevância da lesão ou do perig de lesão ao bem no caso concreto. Zaffaroni propôs a ideia de tipicidade conglobante a qual é constituída pela fusão da tipicidade formal, material e a presença da antinormatividade jurídica não exclusiva da seara penal. Adequação típica Pode ocorrer de forma direta ou imediata, quando há perfeita adequação do caso concreto ao texto legal sem a necessidade de norma de extensão ou de forma indireta ou mediata, que é a necessidade do uso de outro dispositivo legal (norma de extensão). As hipóteses para adequação mediata são: omissão imprópria (Art.13 pararágrafo 2º), tentativa (Art. 14, I) e participação (Art. 29). Tipo de injusto doloso Dolo é consciência e a vontade de realização da conduta descrita em um tipo penal. É natural, um elemento subjetivo implícito do tipo. Para o Código Penal, Art. 18, dolo é “quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. Ressalta-se que dolo é a REGRA e culpa a exceção, só se pune por fato culposo quando expressamente previsto no tipo. Elementos e características do dolo Como características do dolo lista-se a abrangência, que é o saber do sujeito ativo de agir ilicitamente, caso contrário incidiria em erro de tipo. A atualidade, a qual dita que o agente deve conhecer os elementos constitutivos do ilícito antes (previsão do resultado ou consciência deste) e durante a prática do ato, não depois. De elementos cita-se a consciência que é o saber que está a agir ilicitamente e a vontade, que existe decorrente da consciência do ilícito, e consiste no querer o resultado previsto. Dolo direto ou imediato Aqui o agente quer o resultado representado como fim de sua ação, a vontade é dirigida à realização do fato típico. Pode ser de 1º grau quando a intenção do agente é voltada a determinado resultado efetivamente perseguido, abrangendo os meios empregados para tal. Aqui, trata-se do fim diretamente. Ou de 2º grau quando é desejado, por meio da utilização dos meios necessários, o resultado como uma consequência do uso. Dolo eventual Ocorre quando o agente não quer diretamente a realização do tipo, mas aceita-o como possível ou provável, assumindo o risco de produzir o resultado, não se importando com a sua ocorrência (Art. 18, I). Tipo de injusto culposo Culpa é a inobservância do dever de cuidado objetivo manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, mas previsível objetivamente. Nas palavras de Bitencourt, “aqui pune-se uma conduta mal dirigida, destinada a um fim penalmente irrelevante, quase sempre lícito”. Elementos do tipo culposo Tem-se, aqui a inobservância do dever de cuidado objetivo que consiste no reconhecimento do perigo para o bem jurídico tutelado e preocupar-se com as possíveis consequências de uma conduta descuidada. A previsibilidade objetiva, que é a previsão do resultado por uma pessoa de normal discernimento. A ausência de previsão por parte do agente do fato típico culposo na situação em que se encontrava. O resultado involuntário ou indesejado pelo agente. O nexo de causalidade entre a conduta descuidada e a produção do resultado indesejado. E a tipicidade do ato praticado, ou seja, tem de estar previsto em lei. Modalidades da culpa Tem-se imprudência, quando o agente age sabendo dos riscos, é a prática de uma conduta arriscada ou perigosa de caráter comissivo. É caracterizada plea intempestividade, precipitação, insensatez ou imoderação do agente, caso do motorista que insiste em dirigir embriado mesmo sabendo dos riscos. Negligência, ocorre no agir sem tomar os cuidados necessários, é a falta de precaução, indiferença do agente que poderia ter adotado as cautelas necessárias mas não o faz, é não fazer o que deveria ter feito antes da conduta descuidada. Caso do motorista de ônibus que trafega com as portas abertas sabendo que a condução está lotada e causa queda de passageiro. Já a imperícia, é a falta de capacidade, de aptidão, despreparo ou insuficiência de conhecimentos técnicos para o exercício da arte, profissão ou ofício. Não deve ser confundida com erro profissional. Espécies de culpa Há culpa consciente quando o agente conhece a perigosidade de sua conduta, prevê um resultado possível mas insiste em agir convicto de que esse não se realizará, confia em excesso em si mesmo. Já a culpa inconsciente, ocorre quando mesmo sendo possível a previsão de um resultado, esta não ocorre por descuido, desatenção ou simples desinteresse do autor da conduta perigosa, o sujeito age sem nem saber que o que faz é perigoso. Crime preterdoloso e crime qualificado pelo resultado Preterdoloso ou preterintencional é o crime cujo resultado vai além da intenção do agente, é a conduta que inicia dolosamente mas acaba com culpa, há dolo no antecedente e culpa no consequente. Caso da lesão corporal seguida de morte. Já o crime qualificado pelo resultado, não deve ser usado como sinônimo de preterdoloso, pois neste o resultado ulterior que é mais grave deriva involuntariamente da conduta criminosa, que, por sua vez, lesa um bem jurídico que não contém o bem jurídico precedentemente lesado. Caso do aborto seguido de morte da gestante. Para diferenciar de forma simples, o raciocínio é: nunca se conseguirá matar alguém sem ferir sua integridade física (lesão corporal seguida de morte – preterdoloso), mas, para matar alguém não necessariamente tem de se fazer um aborto na pessoa. Ressalta-se que todo crime preterdoloso é qualificado pelo resultado, mas nem todo qualificado pelo resultado é preterdoloso, pois pode acabar com dolo ou com culpa. SEXTA PARTE Antijuricidade Injusto é a forma de conduta antijurídica propriamente dita, é a pertubação no ordenamento jurídico. Já a antijuricidade é a qualidade dessa forma de conduta, a contradição que se encontra no ordenamento jurídico. Nas palavras de Jesheck: “A antijuricidade é a contradição da ação com uma norma jurídica. Injusto é a própria ação valorada juridicamente.” Antijuricidade formal: Quando há a violação do dever de atuar ou omitir estabelecido por uma norma jurídica. (Maioria da doutrina afirma ser esta sinônimo de tipicidade). Antijuricidade material: Consiste na ofensa produzida pelo comportamento humano ao interesse jurídico protegido. (Maioria doutrinária defende ser esta a antijuricidade propriamente dita). Na ofensa a um bem jurídico, não permitida por causa de justificação, há o desvalor do resultado – aqui está presente o elemento objetivo -, enquanto a forma ou modalidade de concretizar a ofensa constitui o desvalor da ação – aqui o elemento subjetivo, possibilita diferenciar o dolo da culpa -. Quando o fato é considerado típico, há indícios que este seja antijurídico, a não ser que haja causas de exclusão da antijuricidade. Causas de exclusão de antijuridicidade Essas, além de impedirem a imposição de pena ao autor do fato típico, converte esse fato em algo lícito. Em todas as causas de justificação tem de estar presente o elemento subjetivo – conhecimento por parte do autor da situação excludente e a vontade de atuar conforme a forma juridicamente permitida -. A presença do elemento subjetivo (animus defendi, para legítima defesa e estado de necessidade) da causa de justificação afasta o desvalor da ação, pois ele constitui a atuação conforme o direito. Quando o fendido consente em excluir a ilicitude a ação praticada pelo agente, há um causa supra-legal de exclusão da antijuricidade, o consentimento do ofendido, que é reconhecido através de mecanismo de integração da norma, como os princípiosgerai do direito, analogia ou costumes. Ressalta-se que essa hipótese só pode ocorrer se, na análise do caso concreto, o ofendido estiver dispondo bem jurídico alienável. Causas legais de exclusão Tem-se o estado de necessidade (Art. 24), quando em situação de perigo atual e inevitável, não produzido voluntariamente e quando não há o dever legal de enfrentar o perigo, há colisão de bens jurídicos de distinto valor, sendo um sacrificado em prol do outro. Exculpante, é o estado de necessidade no qual é sacrificado bem jurídico de maior valor para salvar um de menor e justificante quando o inverso acontece, se sacrifica o de menor valor. O estado de necessidade ocorre mediante termos do comodus dicessus, o qual dita que o sacrifício de um bem jurídico para salvar outro deve ser feito, somente, se extremamente necessário, pois se há alternativa menos lesiva, deve-se utilizá-la. Já a legítima defesa (Art. 25), é constituída quando, no uso moderado de meios necessários, repele-se agressão injusta a direito seu ou de outrem. Nas palavras de Welzel “aquela requerida para repelir de si ou de outrem uma agressão atual e legítima”. Não se deve confundir estado de necessidade com legítima defesa, naquele há uma ação, nesta, uma reação, muito embora em ambos há a necessidade de salvar um bem ameaçado. Na situação em que a lei impõe determinada conduta e, embora típica não constituirá ilícito, ainda que cause lesão a um bem jurídico tutelado, tem-se o estrito cumprimento de dever legal (Art. 23, III). É aplicado a situação permissiva quando são praticados atos rigorosamente necessários e decorrentes de lei. Caso dos policiais, seguranças, salva-vidas. O exercício regular do Direito (Art. 23, III) ocorre quando tal se contiver nos limites objetivos e subjetivos, formais e materiais impostos pelos próprios fins do Direito. Caso dos pugilistas ou pessoas que modificam seu próprio corpo. Em ambas as cláusulas permissivas, o limite do lícito termina onde se inicia o abuso. No estrito cumprimento do dever legal o comportamento se torna ilícito quando excessivo e impróprio, no exercício regular do Direito, quando passa a ser irregular. Offendiculas São as defesas predispostas, que, de regra, constituem-se de dispositivos ou instrumentos (pontas de lança, cercas elétricas ou cachorros) objetivando impedir ou dificultar a ofensa ao bem jurídico protegido, seja patrimônio, domicílio ou qualquer outro bem jurídico, desde que seu uso seja moderado. Na sua instalação, é um exercício regular do Direito, em ação, uma legítima defesa. SÉTIMA PARTE Culpabilidade É um juízo individualizado de atribuição de responsabilidade penal, e representa uma garantia para o infrator frente aos possíveis excessos do poder punitivo estatal. Pode, também, ser considerada um instrumento para prevenção de crimes, cumprindo o papel de aportar estabilidade ao sistema normativo confirmando a obrigatoriedade do cumprimento de normas por meio do juízo de atribuição de responsabilidade penal. Elementos da culpabilidade Entre estes lista-se a imputabilidade penal do agente, capacidade ou aptidão para ser culpável, este tem de ser maior de idade e não sofrer de nenhuma incapacidade ou causa de exclusão. A potencial consciência da ilicitude que é o saber por parte do agente do caráter juridicamente proibido da conduta praticada. E a exigibilidade de conduta diversa, que é a possibilidade do agente de agir de outro modo na dita situação, é o que permite a formação do juízo de reprovabilidade. Excludentes de culpabilidade Ocorre a inimputabilidade (Art. 26 e 27 CP), que exclui a imputabilidade, quando o agente não tem uma de suas capacidades, de entendimento ou autodeterminação. Caso do menor de idade – falta de maturidade para valorar suas ações – e do mentalmente doente ou não totalmente desenvolvido – não consegue discernir, ou avaliar os próprios atos -. Há culpabilidade diminuída, redução de pena e não sua exclusão, quando o agente não possui plena capacidade de entender a ilicitude do fato, são o caso das psicoses ou transtornos mentais transitórios. Exclui a exigibilidade de conduta adversa a coação moral irresistível e a obediência hierárquica, ambos no Art. 22. A primeira é a eliminação ou redução de vontade do poder de escolha, ocorre com o vício de vontade do agente por outrem por meio de ameaças graves e iminentes (se não cumprida a ação, o que coage cumpre a ameaça em seguida). A segunda, ocorre somente em relações de direito público, elimina a exigibilidade de conduta diversa, o subordinado cumpre ordens de um superior, desde que não manifestamente ilegais. Aqui o subordinado age no seu estrito cumprimento do dever legal desde que não cumpra ordens claramente ilegais, pois não é obrigado a tanto. Tem o dever de cumprir normas inconveniente e inoportunas, mas nunca ilegais. No caso de subalternos militares a questão é outra, não se deve obedecer regras criminosas, já que no âmbito militar, convicções de legalidade de subordinados não são levadas em conta. Atenuam a pena, desde que satisfeitos determinados requisitos legais, a emoção e a paixão (Art. 65, III). A embriaguez ou uso de substâncias de efeitos análogos podem tanto excluir como atenuar a culpabilidade, aquela desde que completa e acidental, provocada por um caso fortuito (agente não prevê o resultado) ou força maior (agente não pode evitar o resultado). Quando configurada embriaguez completa e acidental, esta tem de comprometer a capacidade de discernimento ou autodeterminação do autor para isentá-lo de pena Art. 28, II, § 1º. A embriaguez habitual e patológica deve ser assemelhada juridicamente ao estado de doença mental, de acordo com o parágrafo único do Art 26. Exclui a culpabilidade, proibindo punição de qualquer tipo, o erro de proibição, quando inevitável, pois com este configura-se o crime sem culpa. Quando evitável, atenua a pena. Nos casos de força maior, a culpabilidade é excluída diante da impossibilidade de se evitar o resultado, já no caso fortuito, pelo motivo de ser imprevisível o resultado. OITAVA PARTE Erro de tipo e erro de proibição O erro de tipo (Art. 20 CP), é a falsa percepção da realidade sobre um elemento do crime, é a ignorância ou falsa representação de qualquer um dos elementos constitutivos do tipo penal. É o caso do caçador que atira em uma pessoa e a mata achando ser um animal, ou seja, se antes afirmava o Art 121 “matar alguém”, esse alguém foi substituído por animal, o autor agiu com dolo, mas não contra a pessoa, pois queria matar o animal. Pode ser inevitável, invencível ou escusável quando não possibilidade de se evitar o erro e de uma maneira ou de outra ocorreria o crime, excluindo dolo e culpa do auto. Ou evitável, vencível ou inescusável, quando o erro poderia ser evitado pelo agente, excluindo o dolo, mas incide sobre este a forma culposa se prevista em lei. Pode ser, também acidental, neste caso não excluindo o dolo, uma vez presentes os elementos volitivos e de cognição. Subdivide-se em erro de objeto (error in objeto), caso do ladrão que furta televisão de 32 polegadas quando queria uma de 42, ou sobre a pessoa, quando o agente quer matar seu desafeto mas o confunde com outro alguém e o mata. Também é prevista a possibilidade de erro de execução (aberratio criminis), com relação aos bens jurídicos, quando A quer matar B e desfecha tiros contra este e erra, acertando somente um veículo atrás de B. Aqui o agente responde por crime subsidiário, se expresso na forma culposa, e tentativa de homicídio. Erro com relação aos meios de execução (aberratio ictus), quando o agente sabe que sua vítima/desafetoestá parada na esquina e desfecha tiros, mas, por erro de pontaria atinge terceiro, respondendo somente por crime consumado contra a vítima virtual e não a que faleceu. E por fim, tem- se o erro sobre o nexo causal (aberratio causae), no caso em que o autor erra o meio para atingir seu fim, caso de A, que visa matar B por afogamento, e o empurra da ponte. B morre de traumatismo craniano ao bater com a cabeça em uma pilastra da ponte e não de afogamento como planejado por A. Aqui o agente responde por único crime doloso. Já o erro de proibição (Art. 21 CP), incide sobre a ilicitude de um comportamento. O agente acha, por erro, estar agindo licitamente quando na realidade não esta, o objeto do erro não é a lei nem o fato, mas a ilicitude. Pode ser inevitável, impedindo a aplicação de qualquer tipo de pena por excluir a culpabilidade ou evitável, onde há punição, mas com atenuantes. Pode ser direto quando a total desconhecimento da situação proibitiva, caso do civil que corta uma árvore para usar de lenha e é penalizado por crime ambiental ou indireto, que, na situação fática direciona o agente a acreditar que agirá legalmente. Caso em que A visualiza de sua janela um ladrão furtando um aparelho de som de seu veículo e, acreditando estar em legítima defesa, desfecha tiros contra este. NONA PARTE Crime consumado Tem-se o crime consumado (Art. 14, I CP) quando o tipo está inteiramente realizado, ou seja, consuma-se o crime no momento em que todos os elementos do tipo objetivo são preenchidos. Em crimes materiais, a consumação ocorre com a produção de resultado (meta octata) de dano ou perigo descrito no tipo pena. Nos formais, com a própria ação ou omissão, pois não exige resultado material. Crime consumado não deve ser confundido com exaurido. Neste, ocorrem resultados lesivos mesmo após a consumação, como no crime de extorsão mediante sequestro, que se consuma com o rapto e se exaure com o recebimento do dinheiro. Crime tentado Ocorre tentativa (Art. 14, II CP) na realização incompleta do tipo penal, há prática de ato de execução, mas o sujeito não chega a consumar o delito por circunstâncias independentes de sua vontade. Há ampliação temporal da figura típica, e a punibilidade depende de quão violado foi o tipo penal incriminador. É uma causa genérica de diminuição da pena, fixando como parâmetro de avaliação, o quão próximo o agente chegou de consumar o delito. Iter criminis É o caminho do crime percorrido pelo sujeito ativo para que possa se atingir a consumação. É dividido em quatro fases, sendo as duas primeiras, em regra, não puníveis. A primeira fase, a cogitação, é interna e consiste na elaboração mental da resolução criminosa, a intenção de cometer um crime, não punível. A segunda fase, preparação ou atos preparatórios, é o início da exteriorização da sua vontade de praticar o delito, a procura por meios e instrumentos a serem utilizados para a realização do tipo, em regra não punível, exceção: Arts. 288 e 291 CP. A terceira fase, execução ou atos executórios, é a prática do crime em si, realização concreta dos elementos constitutivos do tipo penal, punível. A quarta e última fase, consumação, ocorre quando no crime se reúnem todos os elementos previstos no tipo penal, punível (Art. 14,I CP). Espécies de tentativa Perfeita ou crime falho, é a tentativa na qual o agente inicia a prática da execução e pretende atingir a consumação. Passa por todas as fases do iter criminis mas não consegue efetuar a consumação. Já a imperfeita, ocorre uma interrupção involuntária do processo, o que impede a consumação. Aqui o agente não passa por todas as fases do iter criminis. O Direito Penal não difere as tentativas, mas, na dosimetria da pena, pode levá-las em consideração. Salvo nos casos previstos em lei (Art. 352 CP), a pena da tentativa é diminuída de um a dois terços da do crime consumado. CRIMES CULPOSOS, PRETERDOLOSOS, UNISSUBSISTENTES, OMISSIVOS PUROS, DE ATENTADO E OS HABITUAIS NÃO ADMITEM TENTATIVA. Interrupção voluntária do Iter Criminis No caso em que o agente inicia a realização de uma conduta típica e pode, voluntariamente, interromper sua execução caracteriza a desistência voluntária, onde o agente pode prosseguir com o crime mas não quer. Só é possível no caso de tentativa perfeita. O arrependimento eficaz, ocorre após o agente ter esgotado todos os meios para realizar o delito mas arrepende-se e evita que o resultado aconteça, pratica atos voltados a impedir que o resultado ocorra. Não precisa se espontâneo, mas voluntário, e tem de impedir o resultado, ser eficaz. Outras espécies de tentativa O crime impossível ou tentativa inidônea, é uma espécie de tentativa em que mesmo após a prática do fato, constata-se que o agente jamais conseguiria consumar o crime, seja por ineficácia absoluta do meio, ou impropriedade do objeto utilizado para a realização do crime. Constitui, assim, causa legal de exclusão da tipicidade. Crime putativo, é aquele que existe só na imaginação do agente, ocorre quando este supõe estar praticando conduta criminosa quando na verdade o fato não constitui conduta típica. Nas palavras de Bitencourt “Há, no crime putativo, um erro de proibição às avessas (o agente imagina proibida uma conduta permitida)”. Bloco III DÉCIMA PARTE Concurso de pessoas É a consciente e voluntária (teoria da equivalência das condições) participação de duas ou mais pessoas na mesma infração penal. Uma contribuição causal objetiva e subjetiva na realização do delito, resguardada pela existência de um nexo causal e liame subjetivo entre os agentes. Teorias Existe no concurso de pessoas três principais teorias, a pluralística, na qual cada participante responde por crime próprio e a pluralidade de agentes é igual à pluralidade de crimes, a dualística, onde há um crime para os autores e outro para os partícipes e a adotada pelo ordenamento jurídico-penal brasileiro, a teoria monística ou unitária (Art. 29 CP), que determina a incidência das sanções de um único crime para todos os participantes de uma infração mas valorando as condutas daqueles que participam por meio da distinção da atuação de autores e partícipes, dosando a pena de acordo com a efetiva participação e eficácia de cada um no delito. Ou seja, na medida da culpabilidade de cada um, a pena é individualizada. Requisitos É necessário a presença de uma pluralidade de participantes e condutas, pois a participação de cada um e de todos contribuem para o desdobramento do evento mas com eficácia e formas de atuação diferenciadas, respondendo todos pelo mesmo fato típico. Os agentes não só tem de contribuir entre si para realizar o delito, mas suas condutas têm de ter uma relevância causal, eficácia, integrando cada participante na corrente causal. Deve existir, também, um vínculo subjetivo entre os participantes, ou seja, cada um tem de ter consciência da participação de uma obra comum. E, por fim, a existência de um nexo causal entre as condutas, que independentemente de qual forem, convergem para um mesmo fim. Autoria É autor mediato quem realiza o tipo penal servindo-se, para a execução do delito, de outra pessoa como instrumento. Utilizar-se de inimputável, coação moral irresistível, obediência hierárquica, erro de tipo ou proibição escusável provocado por terceiro. Quando no caso concreto, o autor usar de inimputável e este, por sua vez, quiser, voluntariamente, atingir o mesmo resultado surgirá a modalidade de concurso denominada impropriamente dito, aparente ou pseudo concurso. Ocorre autoria colateral, quando dois agentes têm a intenção de obter o mesmo resultado porém sem um conhecer a vontade do outro, é oagir de vários agentes sem a reciprocidade consensual. O objetivo pode ser atingido pela ação de somente um deles (um responde por crime consumado e o outro por tentado) ou por ambos sem o vínculo subjetivo respondendo ambos por autoria colateral. Se ambos atirarem e não for possível determinar quem matou, ambos respondem por tentativa. Caso um atire e mate a vítima e o outro atirar depois, o primeiro responde pela consumação e o segundo é absolvido por crime impossível. No último caso, se ambos atirarem e não for possível determinar o tiro fatal, ambos serão absolvidos por crime impossível e será determinada autoria incerta, pois na autoria colateral é indispensável saber quem produziu o que. Participação Em sentido estrito, participação é a realização de uma atividade secundária que contribui, estimula ou favorece a execução da conduta proibida. Pode ocorrer por meio de instigação, quando o partícipe atua sobre a vontade do autor, criando na sua mente a ideia de cometer um crime, espécie de participação moral. Ou por meio da cumplicidade, que é a participação material, onde o partícipe exterioriza sua contribuição através de um comportamento ou auxílio. A participação não tem relevância se o crime não for ao menos tentado. O partícipe precisa ter consciência de participar na ação principal e no resultado. Pode ocorrer ainda a participação por omissão, quando a pessoa tinha o dever de evitar o resultado mas não o faz, como no caso do bombeiro que não combateu o fogo respondendo por crime de incêndio. E por conveniência, quando a pessoa não tem dever de evitar o resultado nem vontade que este ocorresse, como é o caso do vendedor que sabe que seu colega furta do caixa do patrão mas não o denuncia por não exercer a função de segurança. Outras formas de concurso A coautoria em crime culposo é admitida pela doutrina brasileira e ocorre no caso dos que cooperam na causa, faltando com o dever de cuidado objetivo ou sem a devida atenção. Como reflexo da admissão de crimes comissivos da participação através de omissão, existe, nos crimes omissivos, participação por comissão, caracterizando o concurso em crime omissivo, que é o caso do paciente que instiga (comissão) o médico a não comunicar (omissão) às autoridades a presença de enfermidade contagiosa. Nos casos de multidão delinquente, não é necessária a descrição minuciosa de cada um dos intervenientes sob pena de inviabilizar a aplicação da lei. Aqueles que praticarem o crime sob influência de multidão em tumulto poderão ter suas penas atenuadas (Art. 65, e, CP). E, os promotores, organizadores ou líderes da prática criminosa ou dirigirem a atividade dos outros, terão suas penas agravadas (Art, 62, I, do CP). Ocorre cooperação dolosamente distinta quando há um desvio subjetivo de condutas, ou seja, a conduta realizada é diferente daquela idealizada. É o caso do autor A que manda o partícipe, B, dar uma surra em C. Mas B acaba por matar C. A responderá somente pelo conduta que idealizou, lesão corporal, enquanto B responderá pelo homicídio. Participações de menor importância podem ter suas penas diminuídas de um sexta a um terço (Art. 29, § 1º, do CP).
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