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Questões sobre Doutrina 2 Sumário Contra-Capa Opiniões Prefácio à Edição Anotada Introdução Histórica e Teológica à Edição Anotada Introdução à Edição Original Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia I. Questões Preliminares 1. Doutrinas que Temos em Comum com Outros Cristãos 2. A Bíblia, Única Regra de Fé e Prática 3. A Relação dos Adventistas com as Posições do Passado II. Perguntas Sobre Cristo 4. A Divindade e a Preexistência Eterna de Cristo 5. A Divindade de Cristo e os Membros da Igreja 6. A Encarnação e o "Filho do Homem" 7. A Ressurreição Corpórea de Cristo 8. Cristo e o Arcanjo Miguel III. Perguntas Sobre Ellen White 9. A Relação Entre os Escritos de Ellen White e a Bíblia IV. Perguntas Sobre a Lei e o Legalismo 10. Cristo: o Centro da Mensagem Adventista 11. Base e Frutificação da Experiência Cristã 12. Os Dez Mandamentos: a Norma Divina de Conduta 13. Distinção Entre o Decálogo e a Lei Cerimonial 14. O Relacionamento da Graça com a Lei e as Obras V. Perguntas Sobre o Sábado, o Domingo e o Sinal da Besta Questões sobre Doutrina 3 15. O Fundamento da Observância Sabática 16. O Sábado e a Lei Moral 17. A Observância do Sábado: Um Critério Válido 18. O Conceito Histórico do Sinal da Besta 19. Quando se Receberá o Sinal da Besta? 20. Quem Constitui a Igreja Remanescente? 21. Quem Constitui Babilônia? VI. Perguntas Sobre Profecia 22. Princípios Básicos de Interpretação Profética 23. A Preeminência de Cristo em Daniel 8 e 9 24. Problemas Concernentes a Daniel 8 25. As Setenta Semanas de Daniel 9 e os 2.300 Dias de Daniel 26. A Septuagésima Semana de Daniel 9 e a Teoria do Intervalo 27. O Término dos 2.300 Dias-Anos em 1844 28.Antíoco Epifânio e as Especificações Proféticas de Daniel VII. Perguntas Sobre Cristo e Seu Ministério no Santuário 29. Um Conceito Mais Amplo a Respeito da Expiação 30. Expiação Sacrifical Provida e Aplicada 31. Salvação Prefigurada no Ritual do Santuário 32.O Santuário Celestial: Conceito Figurado ou Literal? 33. O Ministério de Cristo Como Sumo Sacerdote 34. O Significado de Azazel 35. O Procedimento com o Bode Emissário 36. O Juízo Investigativo no Cenário do Conceito Arminiano VIII. Perguntas Sobre o Segundo Advento e o Milênio 37. A Segunda Vinda de Cristo 38. Vários Conceitos Sobre o Milênio 39. A Compreensão Adventista do Milênio IX. Perguntas Sobre a Imortalidade 40. Imortalidade Inata ou Condicional? 41. O Estado do Homem na Morte 42. O Castigo dos ímpios Questões sobre Doutrina 4 43. O Rico e Lázaro 44. Campeões da Imortalidade Condicional X. Perguntas Diversas 45. O Propósito da Expressão "Evangelho Eterno" 46. Satanás, Demônios e Anjos 47. A Questão dos Alimentos Impuros 48. Os Adventistas e o Programa das Missões Mundiais XI. Apêndices A. O Lugar de Cristo na Divindade B. A Natureza de Cristo Durante a Encarnação C. A Expiação Literatura Adventista Índice Geral Questões sobre Doutrina 5 Contra-capa QUESTÕES SOBRE DOUTRINA é o produto de uma série de reuniões e diálogos entre alguns porta-vozes adventistas e uns poucos líderes protestantes. O livro foi escrito para apresentar uma visão mais clara sobre os ensinos adventistas para o mundo evangélico. Na época, muitos evangélicos consideravam a Igreja Adventista apenas uma seita. O objetivo, em grande parte, foi alcançado. Walter Martin, um dos interlocutores, considerava um dos pontos altos de sua carreira o fato de ajudar o público evangélico a ver os adventistas com outros olhos. Além disso, a publicação do livro motivou a Igreja Adventista a refinar sua teologia em vários aspectos. Ironicamente, porém, o livro que deveria aproximar a Igreja Adventista e a comunidade evangélica acabou gerando muitos debates dentro da própria igreja. O historiador George Knight o classificou como "o livro mais divisivo" na história do adventismo e um símbolo da tensão na teologia adventista. Embora o livro tenha tido grande aceitação dentro e fora da igreja, nunca havia sido publicado em forma de livro no Brasil. Agora, com o lançamento desta edição anotada, o público de fala portuguesa tem a oportunidade de conhecer esta obra-prima da apologia adventista de forma mais acessível. Questões sobre Doutrina 6 Opiniões "Há muitas coisas boas no livro que podem servir de ajuda real para muitos; e alguns podem pensar que rejeito tudo, quando a minha preocupação é somente com a seção sobre a expiação, que é totalmente inaceitável e deve ser revogada." M. L. Andreasen, "The Atonement", 4 de novembro de 1957 "Meu desapontamento [...] foi muito grande quando descobri que não houve mudança essencial na posição histórica dos adventistas. [...] O volume não é um repúdio dos adventistas do sétimo dia a nenhum de seus pontos de vista anteriores, mas uma reafirmação deles." M. R. DeHaan, The King's Business, março de 1958 "O ponto de especial interesse é o testemunho [de DeHaan] de que o livro não representa nenhuma mudança na doutrina adventista. [...] O que aparentemente confundiu alguns foi o fato de se evitar certa fraseologia adventista e de se usar a 'terminologia atualmente empregada nos círculos teológicos'. Ao longo dos anos, os adventistas desenvolve- ram um vocabulário próprio que diz muito para eles, mas nem sempre comunica aos não-adventistas as ideias pretendidas. O livro busca apresentar da maneira mais clara possível a razão de nossa esperança, de modo que os sinceros investigadores não-adventistas possam entender." R. R. Figuhr, Pres. da Associação Geral, Review and Herald 24 de Abril de 1958 "Questões Sobre Doutrina desencadeou uma mudança problemática na teologia adventista; uma mudança feita de tal modo que alienou teologicamente vários segmentos da igreja. A publicação do livro contribuiu mais do que qualquer outro evento na história adventista para criar o que parece ser uma guerra permanente entre grupos dentro da denominação." Questões sobre Doutrina 7 George R. Knight, janeiro de 2003 "A leitura da edição original de Questões Sobre Doutrina ajudou muitos evangélicos a superar sua postura tradicionalmente preconcei- tuosa para com o adventismo e a compreender melhor as doutrinas adventistas. Mas, ao mesmo tempo, o livro acabou sendo alvo de sérias críticas, especialmente por parte de alguns adventistas com tendências perfeccionistas. A presente edição anotada ajudará o leitor a se familiarizar com o rico conteúdo da obra, bem como a entender os principais pontos em discussão." Alberto R.Timm, reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia Questões sobre Doutrina 8 Prefácio à Edição Anotada Questões Sobre Doutrina tem figurado no centro do diálogo adventista desde a década de 1950, provendo o cenário para uma contínua tensão teológica. Essa história será contada na introdução histórica e teológica. Enquanto isso, deve ser observado que a presente edição contém tanto uma introdução extensiva quanto anotações ampliadas. Não apenas o texto completo da edição original é reproduzido,mas muitas notas discutem declarações problemáticas feitas na primeira edição (em inglês) de Questions ou Doctrine. Outras notas atualizam a bibliografia ou provêem informações explicativas. Algumas são breves, enquanto outras ocupam muitas páginas. Um tratamento especialmente detalhado é fornecido tanto na introdução quanto nas notas da apresentação do livro a respeito de assuntos como a posição adventista sobre a Trindade, a expiação e a natureza humana de Cristo, uma vez que essas seções do livro têm sido vistas como problemáticas por alguns leitores. É minha esperança que um tratamento franco dos assuntos explosivos expostos pelo livro Questões Sobre Doutrina e as respostas providas por esta edição sejam esclarecedores para os adventistas e para a comunidade mais ampla de leitores. A análise histórico-teológica e as notas ajudarão a comunidade em geral a compreender mais plenamente as crenças adventistas e também a entender mais profundamente o debate que houve dentro da denominação depois da publicação do livro. Esses dois benefícios serão de igual valor para os que pertencem à comunidade adventista. E importante ressaltar que todas as notas de rodapé adicionadas ao texto na edição anotada foram impressas com um fundo cinza [nesta edição eletrônica, em amarelo]. As notas que não estão em caixa cinza [ou em amarelo] são da edição de 1957. Questões sobre Doutrina 9 Como editor da edição anotada em inglês de Questões Sobre Doutrina, eu gostaria de expressar minha apreciação a Juhyeok (Julius) Nam e A. Leroy Moore pela sua brilhante pesquisa da história do livro; a A. L. Hudson pelas sérias reflexões que foram dadas ao tópico; a Gerhard Pfandl pelo auxílio na atualização das notas nas seções que lidam com interpretação profética; a W. Richard Lesher, Woodrow W. Whidden, Ronald Knott, Gerhard Pfandl e Juhyeok Nam pela crítica do manuscrito e pelas sugestões para a correção; a Bonnie Beres por digitar os manuscritos; e a Ronald Knott, da Editora da Universidade Andrews, por partilhar comigo o vislumbre de uma Biblioteca Clássica Adventista. Acredito que esta edição anotada de Questões Sobre Doutrina será uma bênção para os leitores na medida em que procurarem adquirir uma compreensão maior da teologia e da história adventista. George R. Knight Andrews University Questões sobre Doutrina 10 Introdução Histórica e Teológica à Edição Anotada Questões Sobre Doutrina pode ser facilmente qualificado como o livro que mais provocou divisão na história adventista do sétimo dia. Trata-se de um livro publicado para trazer paz entre o adventismo e o protestantismo conservador, mas sua publicação trouxe prolongada alienação e separação às facções adventistas que surgiram ao seu redor. PERSPECTIVA HISTÓRICA Questões Sobre Doutrina é o produto de uma série de reuniões mantidas entre alguns porta-vozes adventistas e uns poucos líderes protestantes em 1955 e 1956. As raízes dessas reuniões remontam à carta que T.E.Unruh (pres. da Associação Leste da Pensilvânia) escreveu ao Dr. Donald Grey Barnhouse (o editor da revista Eternity e um destacado líder da ala conservadora do protestantismo americano) elogiando-o pelos sermões sobre justificação pela fé baseados no livro de Romanos. Barnhouse replicou com assombro pelo fato de um ministro adventista cumprimentá-lo por sua pregação a respeito de justificação pela fé, "já que, em sua opinião, era fato bem conhecido que os adventistas do sétimo dia criam na justificação pelas obras. Ele afirmou ainda que desde a infância estava familiarizado com os adventistas e os seus ensinos, e que, em sua opinião, a visão deles a respeito da natureza e obra de Cristo era satânica e perigosa. Concluiu convidando esse estranho adventista a almoçar com ele".1 Embora aquele compromisso para almoçar nunca tenha ocorrido, os dois homens se corresponderam até junho de 1950, quando Barnhouse publicou na Eternity uma crítica mordaz ao livro Steps to Christ (Caminho a Cristo), chamando Ellen White de fundadora de uma seita e denunciando o livro como sendo "falso em todas as suas partes". Unruh Questões sobre Doutrina 11 havia lhe dado o livro como algo que eles poderiam debater. Mas, depois da crítica contundente de Barnhouse, Unruh escreveu que "não via nenhuma finalidade em continuar a correspondência".2 Posteriormente, em 1954, Barnhouse comissionou um jovem erudito evangélico chamado Walter Martin para escrever um livro sobre os adventistas do sétimo dia. Martin trabalhava na equipe da revista Eternity como editor-conselheiro sobre cultos e já havia publica- do o seu Jehovah of the Watchtower em 1953, e quase já havia completa- do um manuscrito que mais tarde seria publicado como The Rise of the Cults. 3 Na primavera de 1955, Martin, que havia lido a correspondência entre Unruh e Barnhouse, comunicou-se com Unruh e requisitou um "debate com pessoas representativas dos adventistas do sétimo dia". Diferentemente de muitos que naqueles dias escreviam contra os adventistas, Martin "declarou que queria acesso direto" a pessoas autorizadas e à literatura adventista, de maneira que "pudesse lidar com o adventismo de maneira honesta".4 Unruh fez arranjos com alguns líderes na sede geral adventista em Washington, DC, para se encontrarem com Martin. Como resultado, as reuniões começaram em março de 1955 entre LeRoy E. Froom (líder da Associação Ministerial da Associação Geral de 1941 a 1950) e W. E. Read (um secretário de campo da Associação Geral) do lado adventista, e Martin e George R. Cannon (um professor de teologia do Colégio Missionário de Nyack, em Nova York). Posteriormente, Roy A. Anderson (que servia então como diretor da Associação Ministerial da Associação Geral) e Barnhouse se envolveram nos diálogos.5 "A princípio", observa Barnhouse, "os dois grupos olhavam um para o outro com grande suspeita." Porém, Martin, que "havia lido uma vasta quantidade de literatura adventista", apresentou aos delegados adventistas uma série de 40 perguntas concernentes às suas posições teológicas.6 A medida que trabalhavam sobre as perguntas e os adventis- Questões sobre Doutrina 12 tas respondiam através de uma série de reuniões, os dois lados se sentiram mais confortáveis em relação um ao outro e começaram a desenvolver um genuíno respeito mútuo. Entre as principais preocupações de Martin estavam quatro itens vastamente sustentados em relação às crenças adventistas: "(1) que a expiação de Cristo não foi completada na cruz; (2) que a salvação é o resultado da graça em junção com as obras da lei; (3) que o Senhor Jesus Cristo era um ser criado, não existente por toda a eternidade; (4) e que, na encarnação, Ele participou da natureza humana caída e pecaminosa".7 Evidentemente, havia outros assuntos, mas esses quatro eram cruciais, uma vez que os evangélicos não podiam considerar os adventistas verdadeiros cristãos a menos que fossem ortodoxos em relação a tais questões. Como resultado, os líderes adventistas se esforçaram tenazmente para explicar suas crenças sobre esses quatro pontos. Não tiveram muito problema para demonstrar que os adventistas crêem na salvação apenas pela graça e que a denominação chegou a crer tanto na Trindade quanto no fato de que Cristo fora um com Deus desde o começo da eternidade. Por outro lado, tiveram que tirar alguns livros de circulação, os quais reivindicavam que "a guarda do sábado era uma base para a salvação".8 Igualmente, como as notas históricas no texto demonstram, eles não compreendiam plenamentea extensão do semi-arianismo (isto é, que Cristo não era plenamente Deus desde a eternidade) e do antitrinitaria- nismo nos primórdios do adventismo. Os outros dois assuntos provaram ser mais problemáticos para os líderes adventistas. Uma expiação completada na cruz foi mais proble- mática porque os adventistas tendiam a referir-se à expiação em termos de Dia Antitípico da Expiação, que acreditavam ter começado em 1844. Froom e seus colegas resolveram a confusão entre o uso evangélico da palavra "expiação" e a terminologia adventista ao falar de expiação "realizada" na cruz e a que estava então sendo "aplicada" no santuário Questões sobre Doutrina 13 celestial. Assim, Cristo havia feito um sacrifício completo de expiação na cruz e estava pondo em atividade os frutos dessa expiação no Seu ministério celestial. Os delegados adventistas acreditavam estar seguros ao fazer aquele ajuste verbal porque Ellen White havia usado a palavra expiação de maneira similar.9 O assunto mais problemático com o qual os adventistas tiveram que lidar foi a natureza humana de Cristo. Esse tópico foi problemático porque os evangélicos calvinistas com os quais estavam tratando criam que, se Cristo teve uma natureza pecaminosa, então necessariamente tinha de ser um pecador. E, se era um pecador, não poderia ser um salvador. Este foi um problema real para os delegados adventistas, uma vez que, em pesquisa recente entre vários líderes adventistas, o próprio Froom havia descoberto que "quase todos eles" achavam "que Cristo tivera a nossa natureza pecaminosa". Além disso, a edição de 1950 do livro Drama of the Ages, de W. H. Branson, ex-presidente da Associação Geral, afirmava claramente que na encarnação Cristo tomou "sobre Si a carne pecaminosa" e que Ele precisava ter aceitado a "natureza pecami- nosa do homem". Branson havia "corrigido" aquelas afirmações na edição de 1953 do seu livro, mas elas e outras ainda estavam registra- das.10 Não vendo solução para o problema, parece que Froom e seus associados foram pouco transparentes quanto à posição da denominação sobre o tópico desde meados de 1890. De acordo com Barnhouse, os líderes adventistas haviam dito a ele e a Martin que "a maioria da denominação sempre sustentou" a natureza humana de Cristo "como sendo sem pecado, santa e perfeita, a despeito do fato de que alguns dos seus escritores ocasionalmente têm impresso material com pontos de vista contrários, inteiramente repugnantes à igreja de maneira geral. Também explicaram ao Dr. Martin que havia entre seus membros alguns Questões sobre Doutrina 14 da 'extremidade lunática', assim como há pessoas irresponsáveis de visão extravagante em cada setor do cristianismo fundamentalista".11 A interpretação mais positiva dessa explicação do parecer adventista sobre a natureza humana de Cristo é o fato de ser verdade que todos os adventistas sustentavam que Cristo era "sem pecado, santo e perfeito" no sentido de que nunca pecou. Mas essa interpretação positiva não chega a exaurir o significado da explicação dada a Martin. Afinal de contas, uma vez que nenhum adventista estava ensinando que Cristo havia pecado, aqueles "irresponsáveis" que foram classificados de "extremidade lunática" devem ter tido o que os delegados adventistas viram como uma perspectiva problemática sobre a natureza de Cristo em Sua humanidade. Froom e os seus associados estavam indubitavelmente se referindo ao tipo de natureza humana que Cristo tomou sobre Si na encarnação, que tinha sido, nas palavras de Branson (e muitos outros), "natureza pecaminosa". A desconfiança de que os delegados adventistas podem ter ocultado a verdade da posição tradicional adventista é aparentemente confirmada na seção do apêndice do livro Questões Sobre Doutrina sobre "A Natureza de Cristo Durante a Encarnação". No apêndice das citações de Ellen White, os autores do livro acrescentam um título afirmando que Cristo "Assumiu a Natureza Humana Sem Pecado". Esse título é problemático, pois implica que essa era a ideia de Ellen White, quando de fato ela foi bem enfática em declarar repetidamente que Cristo tomou a "nossa natureza pecaminosa" e que "tomou sobre Si a natureza humana caída e sofredora, degradada e contaminada pelo pecado".12 (Ver as anotações históricas ampliadas sobre esse tópico nas páginas 437-445 do livro impresso [Apêndice B, III], 277, 278 [Cap. 33, IX].) Durante as próprias conferências, Froom, ao escrever para o presidente da Associação Geral a respeito de suas respostas aos evangélicos, reconheceu que "algumas declarações são um pouco diferentes do que você possa antecipar". Ele continuou explicando que Questões sobre Doutrina 15 suas respostas precisavam ser consideradas no contexto daqueles com quem estavam lidando. "Se você conhecesse as raízes, as atitudes e o contexto de tudo isso, compreenderia a razão pela qual afirmamos essas coisas da forma como fizemos."13 A partir dessas palavras, fica evidente que Froom e seus associados reconheceram que precisavam usar um vocabulário que fosse compre- endido pelos evangélicos e que os adventistas estavam lidando com alguns líderes fundamentalistas claramente preconceituosos e agressivos. Isso era certamente verdadeiro em relação a Barnhouse, que foi descrito como "impiedoso com outros pontos de vista, incluindo [...] aqueles que não partilhavam a sua concepção pré-milenista [dispensacionalista] da segunda vinda".14 Outros autores o descreveram como "inflamado", "destemido e brusco", e alguém disposto a criticar "livremente".15 Com esses fatos em mente, não é difícil ver por que os delegados adventistas ajustaram a sua linguagem sobre a expiação. Afinal de contas, o ajuste permitiu-lhes manter suas crenças teológicas sustentadas durante tanto tempo e, ao mesmo tempo, expressar suas ideias de maneira que se adequassem ao vocabulário e ao entendimento dos evangélicos. Por outro lado, é muito mais difícil justificar a apresentação e a manipulação de dados dos delegados adventistas sobre a natureza humana de Cristo. Se a questão de uma mudança na teologia adventista sobre a expiação pode ser vista como semântica, o assunto da mudança de posição sobre a natureza humana de Cristo era de índole substancial. Quer Froom e seus colegas estivessem ou não dispostos a admitir, o ponto de vista sobre a natureza humana de Cristo que expuseram foi uma genuína revisão da posição sustentada pela maioria da denominação antes da publicação do livro Questions on Doctrine (Questões Sobre Doutrina). De qualquer forma, Froom, Read e Anderson conduziram as coisas de maneira a convencer Barnhouse e Martin de que os adventistas eram Questões sobre Doutrina 16 realmente ortodoxos quanto aos assuntos essenciais com os quais estavam preocupados. Assim, Barnhouse pôde escrever no verão de 1956 que, "em certos casos, a posição dos adventistas parece para alguns de nós uma nova posição. Para eles, parece ser meramente a opinião do grupo majoritário da liderança sensata que está determinada a frear qualquer membro que procure sustentar posições divergentes daquela relativa à liderança responsável da denominação".16 Barnhouse publicou os resultados das reuniões entre adventistas e evangélicos na revista Eternity em setembro de 1956, em um artigo intitulado "Are Seventh-day Adventists Christians?". Ao falar dessa posição revisada do adventismo, ele escreveu: "Gostaria de dizer que nos deleitamos em fazer justiça a um grupo muito caluniado de crentes sinceros, e em nossa mente e coração tirá-los do grupo dos que são completamente heréticos, comoas testemunhas de Jeová, os mórmons e os cientistas cristãos, reconhecendo-os como irmãos redimidos e membros do corpo de Cristo." O preço por essa tomada de posição custou caro para os delegados evangélicos. Unruh observa que a revista "Eternity perdeu um quarto dos seus assinantes em protesto, e a venda dos livros de Martin caiu vertiginosamente".17 Enquanto isso, a revista Time de dezembro de 1956 noticiou as conferências como um tempo de cura entre a ala fundamentalista do movimento evangélico e os adventistas. Também indicava que os adventistas haviam "anunciado que publicariam - provavelmente na primavera seguinte - uma nova e definitiva declaração de sua fé".18 Esse livro, que não apareceu antes do outono de 1957, seria intitulado: Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine: An Explanation of Certain Major Aspects of Seventh-day Adventist Belief. Do lado adventista, o presidente da Associação Geral, ao se reportar ao público adventista, considerando os diálogos e os artigos publicados na revista Eternity, escreveu que "foi muito tranquilizante notar que nenhuma objeção ou questão de qualquer importância foi levantada por Questões sobre Doutrina 17 aqueles de nosso meio que leram as respostas" dadas aos delegados evangélicos. "Ao contrário, um coro geral de aprovação e profunda apreciação foi o resultado. Essas respostas permitiram que nossos amigos cristãos pudessem compreender claramente e diretamente de nós, e não de nossos oponentes, o que cremos e ensinamos."19 Mas isso não significa que todos no acampamento adventista estivessem felizes. Isso foi especialmente verdade em relação a alguns que não "leram as respostas". Entre os que se tornaram desgostosos, o principal foi M. L. Andreasen, recém-aposentado e que havia sido o mais influente teólogo e autor teológico da denominação nos últimos anos da década de 1930 e durante a década de 1940. Ele foi deixado fora do processo tanto na formulação das respostas quanto na crítica delas, embora fosse visto geralmente como uma autoridade em vários dos pontos discutidos. O descontentamento de Andreasen começou a aparecer com a edição da revista Eternity em setembro de 1956. Nela, aqueles que adotavam a posição dele sobre a natureza pecaminosa de Cristo foram classificados como pertencendo à "extremidade lunática" do adventismo. Esse ardente descontentamento irrompeu abertamente quando Froom publicou um artigo sobre a expiação na revista Ministry, em fevereiro de 1957. Especialmente ofensivo para Andreasen foi uma sentença se referindo à morte de Cristo em favor de cada pecador, que dizia: "Esse é o tremendo escopo do ato sacrifical da cruz - uma expiação completa, perfeita e final pelos pecados do homem."20 O que Froom queria dizer com essa sentença era que o sacrifício na cruz foi pleno e completo (em termos de aspecto sacrifical da expiação) pelo pecado. Mas esta não foi a maneira como Andreasen o leu em 15 de fevereiro, quando interpretou mal e equivocadamente citou as palavras de Froom. Andreasen repetidamente citou Froom como dizendo que "o ato sacrifical na cruz (é) uma expiação completa, perfeita e final pelos pecados do homem".21 Mas a interpretação feita por Andreasen da Questões sobre Doutrina 18 sentença de Froom mudou o seu significado. A palavra "é" não consta na sentença original de Froom. Em vez disso, ele pôs um travessão após a palavra "cruz", com as palavras seguintes funcionando como uma frase explanatória para as várias palavras que estavam antes. Assim, o significado de Froom era que a cruz foi um sacrifício completo (ou o aspecto sacrifical da expiação). Mas Andreasen, ao citar Froom, removeu o travessão e acrescentou a palavra "é" entre parênteses. Com esse pequeno retoque, ele mudou o significado pretendido por Froom de um sacrifício completo (ou aspecto sacrifical da expiação) na cruz para uma expiação completa na cruz. Evidentemente, essa interpretação colocava Froom e seus associados em desarmonia com o adventismo tradicional, que frequentemente usara a expiação para se referir exclusivamente ao ministério celestial de Cristo voltado para o dia da expiação. Que Froom não estava abandonando a compreensão tradicional adventista está claro pelo contexto da declaração controvertida. Dois parágrafos antes, ele havia escrito que "o termo 'expiação', que estamos considerando, obviamente tem um significado muito mais amplo do que normalmente é concebido. A despeito da crença de multidões nas igrejas [evangélicas] a nosso respeito, a expiação não é, por um lado, limitada apenas à morte sacrifical de Cristo na cruz. Por outro lado, não está confinada ao ministério de nosso Sumo Sacerdote celestial no santuário de cima, no dia antitípico da expiação - ou hora do juízo de Deus - como alguns de nossos antepassados [adventistas] a princípio pensavam e escreveram erroneamente. Em vez disso, como comprovado pelo Espírito de Profecia, ela claramente envolve ambos — um aspecto sendo incompleto sem o outro, e cada um sendo o complemento indispensável do outro".22 O contexto seguindo a declaração controvertida é igualmente claro. Assim, a sentença que segue a declaração de Froom, de que o ato sacrifical de Cristo foi completo e final, afirma "que [o ato sacrifical na Questões sobre Doutrina 19 cruz] não é tudo, nem é o suficiente. O ato completo da expiação na cruz é sem valor para qualquer pessoa, a menos que, e até que, seja aplicado por Cristo, nosso Sumo Sacerdote, e apropriado pelo recipiente individual". Dessa maneira, Froom não estava substituindo a expiação na cruz pela expiação no santuário celestial, mas estava se referindo ao que ele e Andreasen consistentemente aludiam como "expiação provida" na cruz e "expiação aplicada" no ministério celestial de Cristo durante o dia antitípico da expiação.23 Concluindo, pode ser dito que, embora seja verdade que Froom acreditava que a morte de Cristo na cruz foi completa como um sacrifício de expiação, ele não sustentava que ela representasse uma expiação completa. Nessa posição, Froom e seus delegados associados estavam em boa companhia. Afinal de contas, Ellen White retratou o Pai como prostrado perante a cruz "em reconhecimento de sua perfeição. 'Basta', Ele disse, 'a expiação está completa' ". Mais uma vez ela havia escrito que, quando Cristo "ofereceu-Se na cruz, uma expiação perfeita foi realizada pelos pecados do povo".24 Naturalmente, ela também usou a palavra "expiação" ao lidar com a obra celestial de Cristo na era presente. Além disso, é interessante notar que Andreasen havia reivindicado em 1948 que "Cristo finalizou a Sua obra como vítima e sacrifício na cruz". E mais: ele nunca restringiu o significado da expiação ao ministério celestial de Cristo. Com percepção, ele notou que "a expiação não é um evento único, mas um processo, que se estende através dos séculos, o qual não será terminado até que não mais exista o tempo". De fato, o próprio Andreasen considerava a cruz como a conclusão do que chamou de a "segunda fase" na "obra expiatória de Cristo".25 Assim, em essência, Andreasen e Ellen White estavam em harmonia com Froom de que uma obra fora completada na cruz e que havia necessidade de haver um ministério celestial para aplicar inteiramente os benefícios daquela obra completa de sacrifício, embora eles às vezes usassem palavras diferentes para expressar a sua compreensão. Questões sobre Doutrina 20 Mas esse não era o ponto de vista de Andreasen apresentado em sua reação ao livro Questions on Doctrine. De sua perspectiva, os delegados haviam traído o adventismohistórico. Começando com uma monografia que escreveu em 15 de fevereiro de 1957, ele persistiria martelando o assunto de traição até o seu leito de morte. Havia uma boa razão pela qual Andreasen estava especialmente interessado no ensino de uma expiação completada na cruz. Ele havia exposto essa razão em vários de seus antigos escritos. Essencial para a teologia de Andreasen era uma compreensão das três fases da expiação. A primeira fase se relacionava com Cristo vivendo uma vida perfeitamente sem pecado. A segunda fase foi a Sua morte na cruz. Essas duas fases na obra de expiação foram importantes, mas para Andreasen a terceira fase era absolutamente essencial. "Na terceira fase", ele escreveu, "Cristo demonstra que o homem pode fazer o que Ele fez, com o mesmo auxílio que Ele teve. Esta fase inclui a Sua sessão à mão direita de Deus, o Seu ministério sumo sacerdotal, a exibição final de Seus santos em sua última luta contra Satanás e a sua gloriosa vitória. [...] "A terceira fase está agora em processo no santuário de cima e na igreja na Terra. Durante Sua obra e vida na Terra, Cristo subjugou o poder do pecado. Por Sua morte, destruiu o pecado e Satanás. Agora está eliminando e destruindo o pecado em Seus santos na Terra. Isso é parte da purificação do verdadeiro santuário."26 É o que Andreasen chama de a terceira fase da expiação que se tornou o ponto focal de sua teologia. Utilizando o conceito vastamente sustentado de que Cristo possuía uma natureza pecaminosa exatamente como a de Adão depois da queda (isto é, uma natureza pecaminosa com tendências para o pecado), Andreasen formulou a sua interpretação da teologia da "última geração", com Cristo sendo um exemplo do que poderia ser realizado na vida de Seus seguidores. Essa teologia é bem claramente delineada no capítulo intitulado "A Última Geração", do livro Questões sobre Doutrina 21 The Sanctuary Service (1937,1947 (em português, O Ritual do Santuário, 1983]). Esse livro afirma especificamente que Satanás não foi derrotado na cruz, mas seria derrotado pela última geração em sua demonstração de que uma geração inteira de pessoas poderia viver uma vida impecavelmente perfeita. Possuindo a natureza humana com todos os seus problemas, Cristo provou que isso poderia ser feito. A última geração teria condições de viver a mesma vida impecavelmente perfeita que Ele viveu com o mesmo auxílio que Ele tivera. Assim, por meio deles, Deus "derrota Satanás e ganha o pleito". "No remanescente encontrará Satanás sua derrota". "Na última geração, Deus será reivindicado." Nessas circunstâncias, Cristo poderá vir novamente.27 Com essa teologia em mente, é fácil compreender a razão pela qual Andreasen ficou perturbado com a ideia de uma expiação completada na cruz e o ensino de que Cristo não era exatamente como os outros seres humanos em Sua natureza humana.28 Uma expiação completada teria depreciado a sua interpretação da teologia adventista. Aí está o motivo de sua reação apaixonada contra os delegados evangélicos e a posição de Froom, que ele via como uma traição da teologia adventista em troca de um reconhecimento evangélico. Tal preço era muito alto, pois representava, aos olhos de Andreasen, nada menos do que apostasia. As apreensões de Andreasen em relação à concepção da expiação sustentada pelos delegados durante as conferências evangélicas logo se tornaram fixadas no projeto do livro Questions on Doctrine, no qual as respostas apresentadas pelos adventistas seriam impressas. Em 11 de março de 1957, ele escreveu para R. R. Figuhr, presidente da Associação Geral, reivindicando que, "se o livro for publicado, haverá repercussões até os confins da Terra, porque os fundamentos [da teologia adventista] estão sendo removidos".29 Em 21 de junho, escreveu para Figuhr novamente, observando que, "se os líderes tolerarem as ações desses homens, se tiverem permissão para atuar como autores ou aprovarem a publicação do livro, devo protestar, e me sentirei justificado pela voz e Questões sobre Doutrina 22 pela pena a revelar essa conspiração contra Deus e o Seu povo. [...] Está em suas mãos dividir a denominação ou curá-la".30 Duas semanas mais tarde, escreveu de novo, afirmando que achou "difícil se concentrar enquanto Roma está queimando, ou melhor, enquanto o inimigo está destruindo os fundamentos sobre os quais estivemos construindo todos esses anos. A própria essência de nossa mensagem, de que no santuário do Céu está ocorrendo agora mesmo uma obra de juízo e de expiação, está sendo descartada. Retire essa mensagem, e estará tirando o próprio adventismo. [...] Para mim, irmão Figuhr, essa é a maior apostasia que esta denominação já enfrentou, e ela certamente dividirá o povo. Não é apenas um ou dois homens que estão advogando essa monstruosa proposição, mas um 'grupo' de homens da Associação Geral, mais um número de 'estudantes da Bíblia' com quem estão se reunindo".31 No outro lado do muro adventista que se erguia, a revista Ministry de abril de 1957 alardeou o reconhecimento evangélico como um positivo e "emocionante capítulo na história do adventismo".32 Dois meses depois, a revista Ministry estava "feliz em anunciar que [...] o livro Questions on Doctrine (Questões Sobre Doutrina) está prestes a ser lançado". Foi afirmado que nenhum livro publicado na história da denominação "obteve maior escrutínio do que este. [...] O manuscrito, depois de ter sido cuidadosamente estudado aqui [na sede da Associação Geral] por um grande grupo, foi enviado para a nossa liderança de todas as Divisões do mundo. Além disso, foi para os professores de Bíblia de nossas faculdades e editores de nossos maiores periódicos. As cópias também foram enviadas para os nossos líderes de Uniões e Associações locais da América do Norte".33 Ao todo, o manuscrito foi enviado para cerca de 250 eruditos e líderes de igreja. Uma pessoa significativa dei- xada fora do processo parece ter sido Andreasen — a autoridade da denominação sobre expiação nos anos de 1940. Esse tratamento Questões sobre Doutrina 23 certamente deve ter adicionado combustível aos seus sentimentos de que uma conspiração havia sido engendrada. Em 12 de setembro de 1957, Andreasen novamente escreveu a Figuhr, dessa vez com um ultimato de que ele estaria indo a público na primeira semana de outubro com as suas inquietações, "a menos que eu receba o seu pronunciamento de que irá considerar a questão antes ou durante o Concílio Outonal". Ele temia que o presidente da Associação Geral ainda não tivesse "considerado a seriedade do assunto". O dia 15 de outubro viu a circulação da "Review and Protest" de Andreasen, na qual ele apresentou suas preocupações.34 Enquanto isso, o livro Questions on Doctrine foi lançado pela denominação no fim de outubro ou início de novembro, com a modesta tiragem de cinco mil exemplares. Surpreendentemente, Andreasen foi bem favorável à maior parte do conteúdo do livro. Em 4 de novembro, ele escreveu para Figuhr que "há muitas coisas boas no livro que podem ser de real auxílio para muitos; e alguns podem pensar que repudio todo o volume, quando a minha preocupação é apenas em relação à seção sobre a expiação, que é completamente inaceitável e deve ser revogada".35 A campanha de Andreasen para recolher o livro Questions on Doctrine foi contínua até dezembro. "Estou angustiado de coração, profundamente magoado", escreveu ao presidente da denominação, "quanto à obra que os seus conselheiros recomendaram. A unidade da denominação está sendo rompida, e o livro Questions on Doctrine ainda está circulando e sendo recomendado. Ele deve ser prontamente repudiadoe retirado de circulação, caso a situação deva ser salva."36 Mas Figuhr estava tomando justamente a atitude oposta. Em 6 de novembro, ele escreveu para todos os presidentes de Uniões da América do Norte, apelando por pedidos coletivos cujo montante estaria entre 100 mil e 200 mil exemplares, de maneira que o livro Questions on Doctrine pudesse ser vendido mais barato e tivesse uma circulação extremamente Questões sobre Doutrina 24 ampla. Em 27 de dezembro, estava feliz em informar à liderança que haviam encomendado uma segunda impressão de 50 mil exemplares, mas essa logo subiu para 100 mil.37 O livro estaria circulando agressivamente, tanto entre os adventistas quanto entre os pastores e líderes de outras denominações. Por volta de 1965, milhares de exemplares haviam sido postos em seminários, universidades, colégios e bibliotecas públicas. Perto de 1970, Froom estimou que a circulação total havia excedido 138 mil exemplares. Nessa ocasião, o livro tinha alcançado uma circulação mundial.38 Enquanto isso, no fim de 1957, a batalha entre Andreasen e a liderança denominacional sobre o livro Questions on Doctrine começou a aumentar progressivamente. Em 16 de dezembro, Figuhr escreveu-lhe afirmando que era extremamente difícil entender o seu propósito na sua contínua agitação contra o livro. Havendo suprido a Andreasen com uma bateria de citações de Ellen White sobre o tópico da expiação realizada e aplicada, o principal administrador da denominação ainda fez um outro apelo: "Lamento profundamente, irmão Andreasen, que o senhor afirme tão incorretamente o que o livro ensina. O senhor realmente leu o livro com seriedade? Ele não diz, como o senhor insiste em afirmar, que 'a expiação foi realizada apenas na cruz'. Isso não é correto. Para fazê-lo dizer isso, alguém deve torcer as coisas gravemente. Ele não ensina que na cruz a parte sacrifical da expiação foi inteiramente realizada. Porém, que há muito mais na expiação do que o oferecimento do perfeito sacrifício, é vastamente claro a partir das Escrituras e do Espírito de Profecia. Isso o livro estabelece nitidamente."39 Mas, para Andreasen, não havia como enxergar esse ponto ou voltar atrás. "Choro por meu povo", escreveu em 9 de março de 1958. "Essa é a apostasia predita há muito tempo. [...] Tenho avaliado o preço que terei que pagar ao continuar minha oposição; mas estou tentando salvar minha amada denominação de cometer suicídio. Devo ser verdadeiro para com Questões sobre Doutrina 25 o meu Deus, da forma como vejo as coisas, e devo ser fiel aos homens que confiam em mim."40 Andreasen publicaria nove artigos de ampla circulação, intitulados "The Atonement" [A Expiação], no fim de 1957 e início de 1958. Essa série foi seguida, em 1959, por seis "Letters to the Churches" [Cartas às Igrejas], que seriam publicadas mais tarde como um livreto de 100 páginas com o mesmo título. As cartas focalizariam tanto o problema da expiação quanto a questão da natureza humana de Cristo. Andreasen continuou a se entristecer à medida que via "sendo destruídos" o que considerava os "pilares da fundação" da teologia adventista.41 Enquanto os adventistas estavam lutando entre si sobre temas levantados pelo livro Questions on Doctrine, Martin e outros continua- vam a escrever sobre o adventismo de maneira favorável. Por volta de 1960, Martin estava pronto para publicar a sua resposta ao livro adventista. Naquele ano, a Zondervan lançou o livro The Truth About Seventh-day Adventism. Barnhouse preparou um prefácio para o livro no qual escreveu: "Como resultado de nossos estudos do adventismo do sétimo dia, Walter Martin e eu chegamos à conclusão de que os adventistas do sétimo dia são um grupo verdadeiramente cristão, em vez de uma seita anticristã. Quando publicamos nossa conclusão na revista Eternity (setembro de 1956), fomos recebidos com uma tempestade de protestos por pessoas que não tiveram a nossa oportunidade de con- siderar as evidências. "Seja compreendido que fizemos apenas uma reivindicação; isto é, que aqueles adventistas do sétimo dia que seguem ao Senhor de maneira idêntica à de seus líderes que interpretaram para nós a posição doutrinária de sua igreja devem ser considerados verdadeiros membros do corpo de Cristo!"42 Os outros, incluindo Andreasen e os seus seguidores, foram ainda considerados sectários devido às suas crenças absurdas. O livro, então, continuava a esboçar em alguns detalhes a compreensão de Martin e Questões sobre Doutrina 26 Barnhouse sobre o adventismo, como explicado a eles no volume Questões Sobre Doutrina e nas conferências evangélicas. H. W. Lowe, líder do Grupo de Estudo Bíblico e de Pesquisa da Associação Geral, respondeu ao livro de Martin através de uma declaração ["A Statement"] encontrada no próprio livro. "Apreciamos profundamente a atitude bondosamente cristã demonstrada através deste livro", Lowe escreveu, "mesmo naquelas áreas onde ele está em assinalado desacordo conosco."43 Evidentemente, Lowe não estava completamente feliz com o tratamento da doutrina adventista no volume de Martin. "Há lugares [...] neste livro", escreveu, "onde acreditamos que o autor tenha criticado erroneamente alguns aspectos do início de nossa história e nossos ensinos teológicos contemporâneos."44 Como resultado, a revista Ministry publicou uma série de artigos entre junho de 1960 e julho de 1961 sobre os pontos divergentes - incluindo a lei, o juízo pré-advento, o sábado, a imortalidade condicional, o papel de Ellen White, as três mensagens angélicas de Apocalipse 14 e a natureza do ser humano. Aqueles 15 artigos logo foram publicados sob o título de Doctrinal Discussions e constituíram uma resposta direta ao livro de Martin.45 Nesse ínterim, nem todos na ala protestante conservadora estavam felizes com Questions on Doctrine e com o livro de Martin. Norman F. Douty, no seu Another Look at Sevetith-day Adventism (1962), sustentava que Martin e Barnhouse haviam sido muito generosos e que o adventismo tinha se afastado dos ensinos da Palavra de Deus como man- tido pelo cristianismo histórico. De forma similar, Herbert S. Bird via a denominação, na sua Theology of Seventh-day Adventism, como uma "séria corrupção do evangelho".46 Se houve divisões sobre o adventismo entre os protestantes conservadores, houve problemas ainda mais sérios entre os próprios adventistas. Durante 1961, Andreasen continuou seus protestos. Como Questões sobre Doutrina 27 resultado, em 6 de abril daquele ano, a Associação Geral em seu concílio da primavera votou suspender sua credencial ministerial. Andreasen responderia a essa ação em 19 de janeiro de 1962 em uma carta circular intitulada "Shooting the Watchdog".47 Porém, a batalha entre Andreasen e a denominação estava quase terminada. Ele passaria para o repouso em 19 de fevereiro de 1962. Três dias antes desse evento, Figuhr e R.R.Bietz (presidente da União do Pacífico) visitaram Andreasen e sua esposa no Sanatório e Hospital de Glendale. Nesse encontro, Andreasen fez as pazes com a igreja. Ao fazê- lo, de acordo com os relatos, expressou o seu remorso pela confusão que havia causado na denominação, afirmou que pelos últimos dois anos havia instruído seus seguidores a parar de duplicar suas cartas e panfletos, e contou a Figuhr e a Bietz que, no futuro, suas declarações "quanto às suas convicções seriam direcionadas apenas para os oficiais da Associação Geral ou outros membros da sua comissão".48 Poucos dias depois da morte do esposo, a Sra. Andreasen escreveu para Figuhr acerca da alegria no coração domarido devido àquela reconciliação. "Estou tão agradecida pela sua conversa com meu querido esposo", escreveu ela, "e [que] tudo tenha sido acertado e esclarecido antes que ele morresse. Ele disse que não poderia morrer até que isso fosse esclarecido. Passou muitas noites expressando a dor de seu coração. Pobre amor, estou tão alegre que ele tenha morrido feliz. [...] Muito obrigada pela sua bondosa carta. Eu a guardarei e a entesourarei."49 Em 1° de março, a Comissão da Associação Geral revogou a ação de anos atrás na qual havia suspendido a credencial de Andreasen. Em dezembro daquele ano, a Sra. Andreasen escreveu para W. P. Bradley, na sede da Associação Geral, dizendo que "estava muito feliz por obter a credencial de M. L. Sei que ela não tem nenhum significado especial agora que ele se foi, mas sei com certeza que ele esperava que eu a conseguisse e ficaria bem contente com a devolução dela".50 Questões sobre Doutrina 28 Embora a paz tenha sido estabelecida entre Andreasen e a liderança da igreja, ela não aconteceu entre a liderança e aqueles que haviam seguido Andreasen em sua reação ao livro Questions on Doctrine. Em 2003, quando foi publicada a edição anotada em inglês, o adventismo estava se aproximando de meio século de divisão em torno da crise sobre o livro. Contemplando o passado, alguém pode apenas especular sobre o diferente curso da história, se Andreasen tivesse sido consultado sobre a redação da posição adventista sobre a expiação, se Froom e seus associados não tivessem sido divisivos na sua manipulação das questões relacionadas à natureza humana de Cristo, se tanto Froom quanto Andreasen tivessem personalidades mais brandas. Mas os "se"s não são a essência da história. O relato histórico nesse caso é que cada lado contribuiu para a desarmonia que surgiu no adventismo em relação ao livro Questions on Doctrine. E, além das fileiras dos adventistas, a linguagem repetidamente agressiva do sempre combativo Barnhouse indubitavelmente fez muito para criar divisão. Logo depois da publicação do livro, por exemplo, ele escreveu que o livro Questions on Doctrine "é uma declaração definitiva que poda os escritos dos adventistas que têm sido independentes e contraditórios para com a sua liderança reconhecida".51 Essa é apenas uma das muitas declarações feitas por Barnhouse sugerindo que ele procurou ativamente criar distância entre os seguidores de Andreasen e a "liderança sensata que está determinada a deter qualquer membro que procure sustentar posições divergentes daquela relativa à liderança responsável da denominação".52 Dado o fato de que ninguém gosta de ser podado ou estar em oposição àqueles que são sensatos, é evidente que o próprio Barnhouse contribuiu muito para exacerbar as dificuldades internas entre os adventistas. Questões sobre Doutrina 29 PERSPECTIVA TEOLÓGICA Uma das declarações mais surpreendentes de M.L.Andreasen em sua batalha prolongada com a denominação sobre o livro Questions on Doctrine é que "há muitas coisas boas no livro que podem ser de real auxílio para muitos". Ele continuou a dizer que não repudiava todo o volume. Sua única preocupação era quanto "à seção sobre a expiação, que é completamente inaceitável e deve ser revogada".53 Em outras palavras, Andreasen achou que quase todo o livro Questions on Doctrine reflete a teologia tradicional adventista. Assim, o livro inteiro não era problemático, mas apenas aquelas seções que lidavam com a expiação e o assunto da natureza humana de Cristo. O elogio de Andreasen à maior parte do conteúdo do livro pode chocar alguns que estão familiarizados apenas com o seu contínuo conflito com a Associação Geral quanto à sua publicação. A verdade é que ele reconheceu o volume como sendo geralmente uma reafirmação proveitosa da compreensão histórico-teológica da denominação. Dessa forma, ele estava longe de ser uma traição total. Aquela compreensão é reforçada tanto por ex-adventistas quanto por aqueles líderes protestantes que ainda estavam agressivamente atacando a denominação. Um ex-adventista escreveu para a Kings Business em abril de 1957 que "o recente artigo na revista Eternity foi desagradável para nós. [...] Eles ainda imprimem [na Review and Herald] as próprias coisas que a Eternity diz que agora negam".54 Ainda mais incisivas foram as reivindicações de E.B.Jones, um ex- missionário adventista que teve "os fatos em primeira mão" quanto "à natureza herética, profundamente enraizada e inalterável do adventismo do sétimo dia". Jones teve um ministério intitulado Guardiões da Fé, que tinha a seguinte descrição: "Especializado na Distribuição de Publica- ções Autorizadas, Biblicamente Sadias, Expondo os Ensinos Enganosos e Métodos de Propaganda Sutis do Adventismo do Sétimo Dia".55 Questões sobre Doutrina 30 Na opinião de Jones, Martin e Barnhouse tinham sido "completa- mente enganados" pelos líderes adventistas. O fato real, ele declarou em dezembro de 1957, é que "o sistema de religião adventista do sétimo dia de maneira alguma foi alterado". O adventismo "não [era] uma denominação genuinamente evangélica"; ao contrário, era "uma contra- fação engenhosamente camuflada".56 Falando especificamente do livro Questions on Doctrine, Jones escreveu que "neste livro aparentemente inocente em exame superficial que está reivindicando revelar 'a verdadeira natureza evangélica das crenças e dos ensinos adventistas' - aqui, nesta mais recente manobra astutamente planejada da seita, obviamente divisada por devotos es- quematizadores para enganar os não iniciados e facilmente extraviar as pessoas para dentro de sua armadilha caçadora de almas - descobrimos que o adventismo do sétimo dia é precisamente aquilo que desde o princípio temos sustentado que seja: FALSO! "Julgamos que ele ainda é diametralmente oposto às verdades vitais do genuíno movimento evangélico. De forma alguma é diferente daquele que sempre foi. A despeito de todas as reivindicações contrárias, o adventismo do sétimo dia é exatamente tão conflitante em relação à Bíblia e tão envenenador de almas agora como sempre foi no passado – na verdade, ainda mais enganoso e perigoso. [...] E a sua desesperada tentativa atual de 720 páginas de 'esclarecer' as suas doutrinas apenas confirma ainda mais a acusação factual e solidamente fundamentada de que o credo do adventismo é composto de 'uma chocadeira de erros e heresias' ".57 E quais eram as "doutrinas pervertedoras das Escrituras ainda completamente inalteradas" esboçadas no livro Questions on Doctrine que perturbavam tanto esse ex-missionário adventista? Nada menos do que a evidente declaração do volume sobre o ministério de Cristo no santuário celestial, o Juízo Investigativo, a importância contemporânea da lei e do sábado, a interpretação adventista do inferno e do sono da Questões sobre Doutrina 31 morte, a inspiração de Ellen White ("a fundadora do movimento mentalmente enferma e sem escolaridade"), e as suas exposições claramente apresentadas sobre o Selo de Deus e a marca da besta.58 Assim, a crítica perceptiva de Jones ao livro Questions on Doctrine demonstra que, longe de ser uma capitulação teológica para os evangélicos, o livro foi uma reafirmação eficaz da teologia tradicional adventista, ainda que alguns ensinos tenham sido expressos de forma diferente da maneira como eram feitos no passado. Esta verdade não foi vista apenas pelos ex-adventistas. Ela também foi observada por muitos inimigos fundamentalistas da denominação, tais como Louis B. Talbot e M. R. DeHaan. DeHaan publicouuma crítica do livro Questions on Doctrine em março de 1958. Escreveu que havia esperado ansiosamente a publicação do livro, porque lhe tinha sido assegurado firme e repetidamente que "ele seria uma reviravolta na posição adventista do sétimo dia e um repúdio de muitas de suas doutrinas censuráveis". DeHaan continuou a falar de seu desapontamento quando descobriu que não tinha ocorrido "nenhuma mudança essencial na posição histórica dos adventistas. [...] O livro não é um repúdio aos adventistas do sétimo dia a nenhum de seus pontos de vista anteriores, mas uma reafirmação deles. [...] Não há nenhum lampejo de que eles tenham tido qualquer intenção de retratar, modificar, mudar ou repudiar qualquer de suas antigas doutrinas, as quais os evangélicos sempre consideraram não escriturísticas, falsas e desonrosas a Deus. É o mesmo erro em uma nova terminologia".59 Embora DeHaan esteja essencialmente correto em sua avaliação, uma leitura cuidadosa revelará uma mudança teológica - a que se refere à natureza humana de Cristo. Mas essa mudança está amplamente escondida no Apêndice das citações de Ellen White e não teria estado evidente especialmente para um leitor evangélico. Por outro lado, tanto Jones quanto DeHaan perceberam o que havia passado despercebido para Andreasen - que a assim chamada mudança Questões sobre Doutrina 32 na doutrina da expiação tinha ocorrido na terminologia e não na substância. Mas em uma coisa Andreasen, DeHaan e Jones concordavam. É que o livro Questions on Doctrine foi basicamente uma reafirmação corajosa e perceptiva da teologia tradicional adventista. Evidentemente, para Andreasen isso foi bom, enquanto para DeHaan e Jones a continuidade foi um desastre. De sua parte, os autores do livro achavam-se bem cientes do fato de que estavam fazendo uma reafirmação das crenças tradicionais adventistas. Escreveram em sua introdução que "as respostas constantes neste volume podem ser consideradas como representando com exatidão a fé e a crença da Igreja Adventista do Sétimo Dia".60 Estamos agora a ponto de chegar à primeira conclusão teológica sobre o livro Questions on Doctrine: Que o livro é quase inteiramente constituído de claras reafirmações da teologia tradicional adventista. Essas reafirmações foram redigidas de tal maneira que o livro per- manece fiel às crenças adventistas e, ao mesmo tempo, fala em uma linguagem que os de fora do adventismo possam compreender mais facilmente. A única exceção a essa generalização tem que ver com a natureza humana de Cristo, na qual a forma de explicá-la representa uma mudança substancial na compreensão adventista. Por outro lado, a suposta mudança de posição sobre a expiação foi reconhecida por todos os principais envolvidos, exceto Andreasen, como sendo uma questão de redação (ver as declarações extensas sobre a expiação na parte histórica desta introdução). E, como ficará claro, o próprio Andreasen havia usado terminologia similar à do livro Questions on Doctrine ao discutir os vários aspectos da expiação. Deve ser observado que os autores de Questões Sobre Doutrina estavam bem cientes da necessidade de fazer ajustes na terminologia se quisessem se comunicar genuinamente com os parceiros evangélicos. Assim, na introdução do livro, eles escreveram que seu "alvo era Questões sobre Doutrina 33 apresentar nossas crenças básicas na terminologia corrente nos círculos teológicos".61 Em outras palavras, sabiam que não estavam escrevendo essencialmente para adventistas e, por isso, teriam que apresentar as doutrinas adventistas em um vocabulário e com definições facilmente compreensíveis aos evangélicos para os quais estavam escrevendo. A melhor maneira de captar o fato de que Questões Sobre Doutrina é tradicional em sua apresentação da doutrina adventista é ler o livro. Ele está longe de ser uma capitulação aos evangélicos para ganhar seu reconhecimento. Representa uma total rejeição da compreensão dispensacionalista de Barnhouse e Martin acerca da segunda vinda e do concerto, enquanto é uma corajosa declaração da posição adventista sobre tópicos controvertidos, como o sábado, a marca da besta, Daniel 8, o Juízo Investigativo, o Estado dos Mortos, o Inferno, Babilônia, o Remanescente e outros assuntos que eram ofensivos à comunidade evangélica. O presidente da Associação Geral estava correto quando observou que, embora Questões Sobre Doutrina utilizasse em certos tópicos uma linguagem familiar aos evangélicos, "não há nenhuma tentativa de encobrir nossos ensinos ou comprometê-los".62 O tratamento franco de assuntos controvertidos é ainda mais notável quando consideramos que o livro havia sido escrito para o benefício de alguns indivíduos bastante preconceituosos, a fim de demonstrar que a denominação era realmente um corpo cristão, em vez de uma seita. Esse mesmo padrão não comprometedor em favor das doutrinas distintivas do adventismo é encontrado nos artigos da revista Ministry de 1960-1961, respondendo ao livro The Truth About Seventh-day Adventism, de Martin, e que foram publicados como Debates Doutrinários. Parece que a última coisa na mente daqueles que conduzi- ram a publicação do livro Questões Sobre Doutrina era trair os principais ensinos da denominação adventista do sétimo dia. Em vez disso, propuseram-se a explicar o adventismo e chegar à unidade com os Questões sobre Doutrina 34 evangélicos onde quer que isso fosse possível, sem comprometer as crenças distintivas da denominação. Naturalmente, Questões Sobre Doutrina não está livre de erros. Os autores às vezes forçam um pouco mais os fatos em tais questões como a compreensão histórica do adventismo em relação à Trindade, e mesmo apresentam seus dados de maneira a criar uma falsa impressão sobre a natureza humana de Cristo. Mas, tendo em vista o desejo de agradar e a importância das respostas, o livro todo é uma declaração notavelmente corajosa da compreensão doutrinária tradicional adventista. Um segundo ponto teológico importante a ser observado é que ―Questões Sobre Doutrina‖ não foi escrito para ser uma declaração bem equilibrada da crença adventista. Ao contrário, o conteúdo foi desenvolvido para responder certas questões apresentadas por Martin e seus associados. Como resultado, os autores anunciaram em sua introdução que "isto não deve constituir nova declaração de fé, mas antes uma resposta a perguntas específicas concernentes à nossa fé".63 Dessa forma, para que os leitores compreendam adequadamente as respostas às perguntas, é necessário que compreendam as perguntas, e, se quiserem entender adequadamente as perguntas, deverão possuir alguma ideia das crenças gerais evangélicas e especificamente da teologia dispensacionalista daqueles que indagaram. Martin, Barnhouse e seus associados pertenciam à ala conservadora do movimento evangélico norte-americano. Imprescindíveis para a ortodoxia evangélica eram a centralidade da Bíblia como a Palavra de Deus e como único padrão para a formação doutrinária, a crença na Trindade e na plena Divindade de Cristo, o fato de que a morte substituinte de Cristo na Cruz é a resposta para o problema do pecado e o fato de que a Salvação é resultado da graça de Deus aceita através da fé. Estas eram as crenças não negociáveis, conforme os evangélicos conservadores dos anos de 1950 viam as coisas. Questões sobre Doutrina 35 Porém, mais especificamente, e igualmente importante para compreender muitas das questões formuladas por Barnhouse e Martin, é que eles pertenciam à ala calvinista/dispensacionalista do movimento evangélico.64O Dispensacionalismo deriva o seu nome do fato de que os seus proponentes dividem a história mundial em várias dispensações (normalmente sete) ou períodos de tempo, em cada uma das quais Deus supostamente lida de maneira diferente com a humanidade. Duas dessas dispensações correspondem à era da lei (de Moisés até a morte de Cristo) e à era da igreja, durante a qual a graça é essencial. Assim, há uma Dispensação da lei e uma Dispensação da graça. Esse esquema levou muitos dispensacionalistas a crer que a lei foi abolida na cruz. A era da igreja chegará ao fim, defendem os dispensacionalistas, quando Cristo retornar para começar a era milenial. O dispensacio- nalismo difere do pré-milenismo clássico (a posição sustentada pelos adventistas) no que assegura que a segunda vinda de Cristo ocorrerá em dois estágios. O primeiro estágio será num arrebatamento secreto invisível dos verdadeiros crentes. Esse evento finalizará a era da igreja e o chamado grande "parêntese" profético. A teoria do parêntese sustenta que a era da igreja representa uma brecha de dois mil anos entre a sexagésima nona e a septuagésima semana de Daniel 9. A sexagésima nona semana terminou quando Cristo morreu na cruz. Nesse ponto, os dispensacionalistas argumentam, o cumprimento parou até o arrebatamento secreto, quando Cristo vier para os Seus santos e levá-los para o Céu. Então, seguirá a septuagésima semana ou o tempo da grande tribulação. Durante sete anos (a septuagésima semana de anos) de tribulação, o anticristo reinará e os judeus serão convertidos. A tribulação termina com a Batalha do Armagedom, inteiramente literal, e a vinda de Cristo com os Seus santos gentios. Nesse ponto da história, o anticristo e suas forças serão destruídos. Então, com a septuagésima semana de Daniel completada, o Messias Questões sobre Doutrina 36 restaurará o trono de Davi e a era milenial começará. Escreve Timothy P. Weber: "Uma vez que todas as profecias antigas concernentes a Israel devem ser cumpridas literalmente, o milênio será um reino judaico, completado com um templo restaurado, sacrifícios diários de sangue, e um poderoso Rei Jesus reinando a partir de Jerusalém e exercendo a hegemonia judaica sobre o resto do mundo. Assim, todas as profecias originalmente prometidas para o primeiro advento de Cristo (antes que a rejeição de Israel tivesse forçado o seu adiamento) se cumprirão na segunda vinda."65 Tendo em mente essa compreensão do movimento evangélico, é fácil ver a razão pela qual a Pergunta 2 lidava com a Bíblia como "a única regra infalível de fé e prática",66 as Perguntas 4 a 8 lidavam com Cristo e a Trindade, as Perguntas 10 a 14 com a Salvação e o Legalismo, e as Perguntas 29 a 36 tratavam do assunto da Expiação. As respostas tinham como alvo espectadores com interesses específicos. De igual modo, uma compreensão do Dispensacionalismo nos ajuda a desvendar as implicações daquelas seções que lidam com a Lei e a Graça, os princípios e as conclusões da interpretação profética adventista (Perguntas 22-28), e as interpretações adventistas do segundo advento e do milênio (Perguntas 37-39). Ainda mais especificamente, tais Perguntas como as de número 26 e 37, com suas referências à septuagé- sima semana de Daniel 9 e a "Teoria do Intervalo", o Arrebatamento Secreto, a Tribulação e o Anticristo, obviamente têm como objetivo comparar a interpretação adventista com a do Dispensacionalismo. Há outras preocupações originando-se da orientação evangélica/ fundamentalista/ dispensacionalista de Barnhouse e Martin que podem não ser óbvias, tendo em vista a discussão acima. Uma delas era a questão de um profeta moderno. Aqueles que têm uma formação dispensacionalista geralmente sustentam que o dom de profecia finalizou com a morte dos últimos apóstolos. De fato, a definição fundamentalista de uma seita religiosa frequentemente inclui a reivindicação do dom de Questões sobre Doutrina 37 profecia. Assim, escreve um erudito sobre o tópico, "uma 'seita' é um grupo que tem um 'profeta' fundador chamado por Deus para dar uma mensagem especial não encontrada na própria Bíblia, geralmente apocalíptica em natureza e esboçada em escritos 'inspirados' ".67 Com isso em mente, não é de se admirar que os fundamentalistas considerassem o adventismo como suspeito ou que os adventistas, de sua parte, tivessem um desejo de demonstrar que suas visões doutrinárias eram bíblicas e não baseadas nos escritos de Ellen White. Uma preocupação final que normalmente não aparece na discussão evangélica/ dispensacionalista é a natureza humana de Cristo. Como observamos acima, aqueles teólogos calvinistas com quem os adventistas estavam lidando nos diálogos evangélicos acreditavam que, se Cristo tivesse natureza pecaminosa, então necessariamente teria cometido pecado. E, evidentemente, se Ele era um pecador, não poderia ser um Salvador. Essa questão não apenas precisava ser respondida, mas também apresentava aos autores de Questões Sobre Doutrina seus maiores desafios sobre como lidar com as evidências. Em conclusão, podemos dizer que quase todo o livro Questões Sobre Doutrina foi uma clara e vigorosa reafirmação da teologia tradicional adventista, embora em alguns casos com nova terminologia. Mas também deve ser reiterado que as reafirmações não visavam tanto ser uma declaração equilibrada da teologia adventista como prover respostas às perguntas de um grupo particular de protestantes conservadores que tinham preocupações bem específicas sobre o adventismo. Ninguém pode ler o livro inteligentemente, no sentido mais pleno da palavra, sem compreender as preocupações que deram origem a perguntas específicas e a respostas igualmente específicas. Antes de terminar, é necessário mencionar uma singularidade metodológica encontrada no livro. Mais especificamente, nas perguntas 12, 13 e 44 (sobre a perpetuidade da lei e a imortalidade condicional) encontramos os autores do livro Questões Sobre Doutrina amontoando Questões sobre Doutrina 38 grande número de citações de outros cristãos que basicamente sustentam a interpretação adventista da lei e do estado dos mortos. Isso não foi feito para provar o ponto teológico, mas para indicar que outros cristãos haviam mantido essas posições através dos séculos. Ambos os lados no diálogo concordavam que esse ponto poderia ser demonstrado apenas a partir da Bíblia. A lógica é que, se aquelas pessoas bem-aceitas sustenta- vam essas concepções e ainda eram consideradas ortodoxas, então não havia razão para que os adventistas também não pudessem ser considera- dos ortodoxos, mesmo que os delegados evangélicos não aceitassem a sua posição. Os delegados adventistas durante os diálogos evangélicos de 1955- 1956 elaboraram o que consideravam ser respostas úteis às perguntas que tinham sido formuladas para eles. Finalmente, concluíram que as explanações que haviam sido proveitosas para os evangélicos seriam igualmente benéficas para os membros da Igreja Adventista. Como resultado, decidiram publicar o livro Questions on Doctrine. Notaram que, "conquanto o formato da obra [perguntas e respostas] seja algo incomum em nosso meio, confiamos que venha satisfazer uma necessidade definida".68 Essa mesma esperança proveu o motivo racional aos editores para publicarem esta edição anotada de uma obra clássica adventista. Referências 1. T.E.Unruh, "The Seventh-day Adventist Evangelical Conferences of 1955- 1956", Adventist Heritage, v.4, n°2, 1977, p. 35. 2. Ibid., p. 36; Donald Grey Barnhouse, "Spiritual Discernment, or How to Read Religious Books", Eternity, junho de 1950, p. 9,42-44; ver também Juhyeok Nam,capítulo 2 de "Reactions to the Seventh-day Adventist Evangelical Conferences and Questions on Doctrine, 1955-1971" (dissertação de Ph.D, Andrews University, 2005). 3. "Peace with the Adventists", Time, 31 de dezembro de 1956, p. 48-49; Donald Grey Barnhouse, "Are Seventh-day Adventists Christians? Another Look at Questões sobre Doutrina 39 Seventh-day Adventism", Eternity, setembro de 1956, p. 6; Nam, capítulo 2 de "Reactions to the Seventh-day Adventist Evangelical Conferences and Questions on Doctrine, 1955-1971" (dissertação de Ph.D, Andrews University, 2005). 4. Unruh, "Conferences of 1955-1956", p. 36, 37. 5. Ibid. 6. Barnhouse, "Are Seventh-day Adventists Christians?", p. 6. 7. Walter R. Martin, "Seventh-day Adventism Today". Our Hope, novembro de 1956, p. 275. 8. Barnhouse, "Are Seventh-day Adventists Christians?", p. 6. 9. Ellen G. White, "Without Excuse", Review and Herald, 24 de setembro de 1901, p. 615; Ellen G. White, "The Only True Mediator", Signs of the Times, 28 de junho de 1899, p. 1. Essas declarações também são encontradas em Questions on Doctrine (edição de 1957), p. 663. 10. L.E.Froom para R.R.Figuhr, 10 de maio de 1955; W. H. Branson, Drama of the Ages (Nashville; Southern Publishing Associatíon, 1950), p. 81, 101. As seções corrigidas dizem: "nossa carne" e "agora é natureza real". Ver Drama of the Ages (Southern Publishing Association, 1953), p. 69, 89; ver também Nam, capítulo 2 de "Reactions to the Seventh-day Adventist Evangelical Conferences and Questions on Doctrine, 1955-1971" (dissertação de Ph.D., Andrews University, 2005). 11. Barnhouse, "Are Seventh-day Adventists Christians?", p. 6. As palavras "extremidade lunática" e outras ideias nessa citação quase certamente vieram dos delegados adventistas. Unruh mais tarde escreveu que "em agosto de 1956, Russell Hitt, o editor-chete da revista Eternity, veio a Washington para revisar conosco o artigo longamente esperado de Barnhouse repudiando a sua antiga posição sobre o adventismo. Artigos em apoio do Dr. Martin, a serem publicados na revista Eternity, também foram revisados. Foi-nos dada permissão para citar ou, de outra forma, referir-nos a esses artigos" (Unruh, "Conferences of 1955-1956". p. 42). Além dessa declaração positiva de um dos participantes adventistas, em nenhum outro lugar encontramos os líderes adventistas argumentando que a linguagem não foi sua, embora Andreasen a houvesse reivindicado como sua em Letters to the Churches (p. 15). 12. Ver, por exemplo, Ellen G White. "The Importance of Obedience", Review and Herald, 15 de dezembro de 1896, p. 789; Ellen G.White,"Christs Humiliation", The Youths Instructor, 20 de dezembro de 1900, p. 394. Ambas as declarações são encontradas na nota ampliada da página 652 do livro Questions on Doctrine. O Instituto Bíblico de Pesquisa da Associação Geral procurou corrigir a injustiça do Questões sobre Doutrina 40 enganoso título em 1972, ao mudá-lo de "Assumiu a Natureza Humana Sem Pecado" para "Ao Tomar a Natureza Humana Cristo Não Participou de seu Pecado nem Propensão Para o Mal". Essa mudança foi publicada como parte de um suplemento de 12 páginas na edição de fevereiro da revista Ministry. Em essência, o suplemento foi uma edição revisada e mais acurada do Apêndice B do livro Questions on Doctrine. Ele foi reproduzido nas páginas 453-467 [do livro, ou após Apêndice B]. 13. L. E. Froom para R. R. Figuhr, 26 de abril de 1955. 14. Oliver R. Barclay, citado em Timothy Dudley-Smith, John Stott: The Making of a Leader (Downers Grove: InterVarsity, 1999), p. 335. 15. Walter A. Elwell, ed., Evangelical Dictionary of Theology (Grand Rapids: Baker, 1984), verbete "Barnhouse, Donald Grey", por W. C. Ringenberg; Daniel G. Reid, ed., Dictionary of Chiristianity in America (Downers Grove: InterVarsity, 1990), verbete "Barnhouse, Donald Grey", por J. A Carpenter. 16. Barnhouse, "Are Seventh-day Adventists Christians?", p. 7. 17. Ibid., p. 45; Unruh, "Conferences of 1955-1956", p. 44. 18. "Peace with the Adventists", Time, 31 de dezembro de 1956, p. 48. 49. 19. R. R. Figuhr, "A Non-Adventist Examines Our Beliefs", Review and Herald, 13 de dezembro de 1956, p. 3. 20. LeRoy Edwin Froom, "The Priestly Application of the Atoning Act", Ministry, fevereiro de 1957, p. 10. 21. M. L. Andreasen,"The Atonement", documento mimeografado de 15 de fevereiro de 1957. Em "A Review and Protest", documento mimeografado de 15 de outubro de 1957, Andreasen faz suas acusações contra Froom de forma ainda mais explícita. 22. Froom, "The Priestly Application", p. 9. 23. Ibid., 10; Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine (Washington, DC: Review and Herald, 1957), p. 349-355. Ver também as anotações ampliadas para esse capítulo. 24. E. G. White, "Without Excuse", p. 615; E. G. White, "The Only True Mediator", p. 1. Essas declarações também são encontradas em Questions on Doctrine, p. 663. 25. M. L. Andreasen, The Book of Hehrews (Washington, DC: Review and Herald, 1948), p. 53, 59; M. L. Andreasen, "The Atonement V", documento mimeografado de 2 de dezembro de 1957. 26. Andreasen, Hebrews, p. 59, 60, cf. p. 58. Questões sobre Doutrina 41 27. M.L.Andreasen, The Sanctuary Service, 2a ed. rev. (Washington, DC: Review and Herald, 1947), p. 299-321, ou O Ritual do Santuário, 3a ed. (Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1983), p. 253-257. Para uma crítica contextualizada da teologia de Andreasen e da crise sobre o livro Questions on Doctrine, ver George R. Knight, Em Busca de Indentidade: O Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas do Sétimo Dia (Tatui: Casa Publicadora Brasileira, 2005), p. 148-156, 170-178. 28. Para uma crítica do assunto da natureza humana de Cristo, ver as anotações ampliadas das páginas 437-445 [após Apêndice B], 277, 278. 29. M. L. Andreasen para R. R. Figuhr, 11 de março efe 1957. 30. M. L. Andreasen para R. R. Figuhr, 21 de junho de 1957. 31. M. L.Andreasen para R. R. Figuhr, 4 de julho de 1957. 32. Louise C. Kleuser, "Adventism's New Milestone", Ministry, abril de 1957, p. 31. 33. R. A. Anderson, "Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine", Ministry, junho de 1957,p.24. 34. M. L.Andreasen para R. R. Figuhr, 12 de setembro de 1957; M. L. Andreasen. "A Review and Protest", documento mimeografado de 15 de outubro de 1957. 35. M. L.Andreasen, "The Atonement", documento mimeografado de 4 de novembro de 1957; ver também R. R. Figuhr para M. L.Andreasen, 14 de novembro de 1957. 36. M. L.Andreasen para R. R. Figuhr, 3 de dezembro de 1957. 37. R. R. Figuhr para os presidentes de uniões, 6 de dezembro de 1957; R. R. Figuhr para os irmãos, 27 de dezembro de 1957; R. R. Figuhr. "The Pillars of Our Faith Unmoved". Review and Herald. 24 de abril de 1958, p. 6. 38. LeRoy Edwin Froom. Movement of Destiny (Washington, DC: Review and Herald, 1971), p. 489,492. 39. R. R. Figuhr para M. L.Andreasen, 16 de dezembro de 1957. 40. M.L.Andreasen para R. R. Figuhr, 9 de março de 1958. 41. M.L.Andreasen, Letters to the Churches (Baker: Hudson Printing, cerca de 1959), p. 18. 42. Donald Grey Barnhouse, "Foreword", em Walter R. Martin, The Truth About Seventh-day Adventism ((Irand Rapids: Zondervan, 1960), p. 7. 43. H.W. Lowe,"A Statement", em Ibid., p. 15. 44. Ibid. Questões sobre Doutrina 42 45. Doctrinal Discussions: A Compilation of Articles Originally Appearing in The Ministry, June, 1960-July, 1961, em Answer to Walter R.Martin's Book The Truth About Seventh-day Adventism (Washington, DC: Review and Herald, [cerca de 1961]).
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