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FERNANDO ALBUQUERQUE KALIL ANÁLISE E MODELAGEM DE PROCESSOS DE NEGÓCIOS PARA A DEFINIÇÃO DE REQUISITOS DE UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção São Paulo 2010 FERNANDO ALBUQUERQUE KALIL ANÁLISE E MODELAGEM DE PROCESSOS DE NEGÓCIOS PARA A DEFINIÇÃO DE REQUISITOS DE UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção Orientador: Prof. Dr. Mauro Spínola São Paulo 2010 FICHA CATALOGRÁFICA Kalil, Fernando Albuquerque Análise e modelagem de processos de negócio para a defi- nição de requisitos de um sistema de informação / F.A. Kalil. -- São Paulo, 2010. 88p. Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção. 1.Gestão por processos (Modelagem) 2.Sistema de informa- ção 3.Engenharia de requisitos I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Produção II.t. DEDICATÓRIA Ao meu avô Maneca, Que nos deixou recentemente, Mas que sempre será um grande exemplo para mim. AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, ao meu pai Jorge, à minha mãe Liana e à minha irmã Emmanuelle por todo o apoio e carinho em todas as etapas da minha formação e da minha vida. Ao meu orientador, Prof. Dr. Mauro Spínola pelo estímulo, orientação e compreensão na realização deste trabalho. Ao Aymeric Voisin, responsável pelo meu treinamento na empresa onde foi realizado o estudo, pela disposição para responder todas as minhas perguntas, muitas vezes numerosas. Ao Antoine Decitre, um dos acionistas fundadores da empresa e responsável por minha contratação, por ter me oferecido um trabalho rico em ensinamentos. A todos meus colegas de trabalho no Brasil que em algum momento ou outro dedicaram tempo para me responder questões, me ajudar com o estudo e me ensinar o que fosse necessário. O ambiente de trabalho era muito agradável e foi um prazer trabalhar com todos. RESUMO O setor energético brasileiro tem desfrutado de significativo desenvolvimento ao longo dos últimos anos. Neste contexto, uma jovem empresa francesa se dedica, desde 2006, ao desenvolvimento de projetos de geração de energia no Brasil. Saldos incoerentes nos demonstrativos financeiros da empresa, pagamentos realizados em duplicidade e dificuldade de obtenção de informações financeiras históricas evidenciam as deficiências dos processos internos de pagamento e contabilização. O presente trabalho tem como objetivo analisar os processos financeiros desta empresa com o intuito de modelar novos processos e definir os requisitos do sistema de informação que servirá de suporte aos novos processos. Para alcançar este objetivo, foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre temas relacionados a processos de negócio e sistemas de informação e as informações foram levantadas durante o período de mais de um ano em que o autor estagiou na empresa. Os novos processos foram modelados utilizando a notação BPMN e foram especificados os requisitos do sistema BPM a ser implementado como parte da solução do problema. Palavras-chave: Processos de negócio, Modelagem de processos, Sistemas de Informação, Especificação de requisitos. ABSTRACT The Brazilian energy sector has been under significant development over the last years. In this context, a young French company has been dedicated to develop power generation projects in Brazil since 2006. Inconsistency in the company’s financial statements, payments made in duplicate and the difficulty of obtaining historical financial information are evidences of the deficiencies of the company’s payment and accounting processes. This paper intends to examine the current financial processes of the company in order to model new ones and define the requirements of the information system that will support this change. To achieve this objective, a literature research on topics related to business processes and information systems was made and information was raised during the period of more than a year in which the author worked at the company. The new processes were modeled using the BPMN notation and the requirements of a BPM system were defined. Keywords: Business Process, Process Modeling, Information Systems, Software Requirements Specification. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Presença da Velcan no mundo ................................................................................ 22 Figura 2 – Organização societária da Velcan no Brasil............................................................ 23 Figura 3 – Fotos da PCH Rodeio Bonito. ................................................................................. 26 Figura 4 – Projetos da Velcan no Brasil ................................................................................... 27 Figura 5 – Estrutura funcional versus visão por processos ...................................................... 34 Figura 6 – Ciclo de vida clássico .............................................................................................. 39 Figura 7 – Aplicação de ferramentas de quarta geração ........................................................... 41 Figura 8 – Etapas de desenvolvimento do trabalho .................................................................. 44 Figura 9 – Representação de FEPSC ........................................................................................ 45 Figura 10 – Swimlanes do BPD ............................................................................................... 51 Figura 11 – Organograma da Velcan em São Paulo ................................................................. 56 Figura 12 – Funcionários em canteiros de obras ...................................................................... 57 Figura 13 – Processo atual para pagamento de serviços .......................................................... 65 Figura 14 – Processo atual de compra e pagamento de bens .................................................... 66 Figura 15 – Processo 1 – Solicitação de compra ou contratação de serviço ............................ 70 Figura 16 – Processo 2 – Aprovação e pagamento de serviços baseados em contratos ........... 71 Figura 17 – Processo 3 - Aprovação e pagamento de serviços – compromissos mensais ....... 72 Figura 18 – Processo 4 - Solicitação de viagem e/ou adiantamento ........................................ 73 Figura 19 – Processo 5 – Relatório de despesas ....................................................................... 75 Figura 20 – Processo 6 – Pagamento ........................................................................................ 76 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Evolução do papel da TI ao longo do tempo ......................................................... 36 Quadro 2 – Impacto da TI sobre a reengenharia de processos ................................................. 36 Quadro 3 – Modelos de ciclo de vida de softwares .................................................................. 40 Quadro 4 – Sequência lógica da elaboração do FEPSC ...........................................................45 Quadro 5 – Técnicas de levantamento de processos ................................................................ 46 Quadro 6 – Elementos básicos do BPMN ................................................................................ 49 Quadro 7 – Tipos de conectores do BPMN .............................................................................. 50 Quadro 8 – Artefatos do BPMN ............................................................................................... 51 Quadro 9 – Taxionomia de requisitos de um BPMS ................................................................ 52 Quadro 10 – Propostas da ISO-9126 para requisitos não-funcionais ....................................... 54 Quadro 11 – Resumo da classificação contábil-financeira ....................................................... 58 Quadro 12 – Guias de recolhimento de impostos ..................................................................... 61 Quadro 13 – Requisitos não funcionais .................................................................................... 82 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Pagamentos por mês .............................................................................................. 59 Gráfico 2 – Meios de pagamento utilizados ............................................................................. 62 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica BPMN – Business Process Modeling Notation BPD – Business Process Diagram BPEL – Business Process Execution Language BPMI – Business Process Management Initiative CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica DPN – Diagrama de Processos de Negócio ECM – Enterprise Content Management EDMS – Electronic Document Management Software EPC – Event-Driven Process Chain FEPSC – Fornecedores, entradas, processos, saídas e clientes GED – Gerenciamento Eletrônico de Documentos IDEF – Integrated Definition OMG – Object Management Group PCH – Pequena Central Hidrelétrica TI – Tecnologia da Informação UML – Unified Modeling Language USP – Universidade de São Paulo SUMÁRIO 1. Introdução ...................................................................................................... 21 1.1 A Empresa ......................................................................................................................... 21 1.1.1 Atividades no Brasil ..................................................................................................... 23 1.1.2 Modelo de desenvolvimento da empresa no Brasil ...................................................... 25 1.1.3 Situação atual dos projetos .......................................................................................... 26 1.2 O Estágio 27 1.3 O Problema ....................................................................................................................... 28 1.4 Objetivo do Trabalho ....................................................................................................... 30 1.5 Organização do Trabalho ................................................................................................ 30 2. Fundamentos teóricos ................................................................................... 32 2.1 Abordagem por processos ................................................................................................ 32 2.1.1 Introdução .................................................................................................................... 32 2.1.2 Gestão de processos de negócio ................................................................................... 34 2.1.3 O papel da tecnologia da informação nas organizações ............................................. 35 2.1.4 Sistemas BPM ............................................................................................................... 37 2.2 Definição de requisitos para um sistema de informação .............................................. 38 2.2.1 Ciclo de vida de sistemas de informação ..................................................................... 39 2.2.2 Requisitos ..................................................................................................................... 42 3. Método ........................................................................................................... 44 3.1 Mapeamento de processos de negócio ............................................................................. 44 3.2 Modelagem de processos .................................................................................................. 47 3.3 Business Process Modeling Notation (BPMN) ................................................................ 48 3.3.1 Elementos básicos ........................................................................................................ 49 3.3.2 Swimlane ....................................................................................................................... 50 3.3.3 Artefatos ....................................................................................................................... 51 3.4 Método para definição de requisitos ............................................................................... 52 3.4.1 Requisitos do BPMS ..................................................................................................... 52 3.4.2 Outros requisitos não funcionais .................................................................................. 53 4. Aplicação do Método ..................................................................................... 55 4.1 Apresentação da situação atual ...................................................................................... 55 4.1.1 Atores dos processos .................................................................................................... 56 4.1.2 Classificação contábil-financeira ................................................................................ 58 4.1.3 Mapeamento dos processos atuais ............................................................................... 59 4.1.4 Exemplos ilustrativos de pagamentos .......................................................................... 63 4.2 Análise da situação atual e modelagem de novos processos ......................................... 67 4.2.1 Análise dos processos atuais........................................................................................ 67 4.2.2 Modelagem de novos processos ................................................................................... 68 4.3 Requisitos do sistema de informação ............................................................................. 76 4.3.1 Tecnologia e arquitetura de software e integração com outros sistemas ................... 77 4.3.2 Automação de fluxos de trabalho................................................................................. 77 4.3.3 Modelagem gráfica de processos ................................................................................. 78 4.3.4 Recursos para gerenciamento de processos ................................................................ 78 4.3.5 Gerenciamento eletrônico de documentos e conteúdos ............................................... 79 4.3.6 Formulários eletrônicos ............................................................................................... 79 4.3.7 Captura, processamento e impressão de documentos ................................................. 80 4.3.8 Integração e interoperabilidade com outros sistemas .................................................80 4.3.9 Segurança lógica e garantia de privacidade ............................................................... 81 4.3.10 Outros requisitos não-funcionais ................................................................................. 81 5. Conclusão ....................................................................................................... 83 Referências bibliográficas ................................................................................. 85 Apêndice A - Detalhamento da classificação contábil-financeira ................. 87 Apêndice B – Solicitação de Pagamento e Carimbo ...................................... 90 21 1. Introdução O setor elétrico brasileiro, cuja construção se deu primordialmente por um monopólio estatal, tem, desde 1995, passado por um processo de reformulação, a fim de implementar um modelo horizontal para o setor de produção de energia, com base em concorrência nos segmentos de produção e comercialização e em regulação nos segmentos de transmissão e distribuição. A produção independente tem permitido a entrada de novos investidores, com autonomia para fazer contratos bilaterais de compra e venda de energia elétrica de forma competitiva. Com a finalidade de atender à crescente demanda verificada no mercado e às necessidades de centros consumidores de pequeno porte, o governo brasileiro tem oferecido uma série de benefícios para o investidor privado, além de ter simplificado o processo para a obtenção de licenças para a construção de pequenas centrais hidrelétricas, como uma forma de estimular o investimento. Neste contexto, a Velcan Energy, uma jovem empresa francesa, se instalou no Brasil no início de 2006. Com uma equipe enxuta e pouco experiente no setor de construção civil, a empresa concluiu a construção de sua primeira central hidrelétrica em novembro de 2009. As experiências e dificuldades enfrentadas na condução deste primeiro empreendimento serão de grande importância para o desenvolvimento de ferramentas para a gestão dos projetos futuros. Em linha com este cenário, o autor deste trabalho, que realizou estágio na empresa por mais de um ano, se propõe a analisar o fluxo de informações financeiras e o seu controle com o intuito de redesenhar os processos administrativo-financeiros com base no desenvolvimento de um sistema de informação adaptado às necessidades de gestão. 1.1 A Empresa O grupo Velcan Energy, criado em abril de 2005, desenvolve e opera usinas que produzem eletricidade a partir de fontes renováveis: biomassa (resíduos agrícolas) e hidráulica. Os projetos do grupo, em sua maioria centrais hidrelétricas, estão localizados na Índia e no Brasil. A Velcan escolheu estes dois países porque são mercados emergentes caracterizados por um forte crescimento econômico e recursos energéticos renováveis abundantes. Além disso, nestes países, as necessidades de produção de eletricidade são importantes e a 22 exploração de energias renováveis pode ser muito rentável, pois os custos de produção são significativamente mais baixos do que em países desenvolvidos. A receita do grupo é obtida principalmente a partir da venda de eletricidade à rede pública local ou a grandes compradores industriais. A produção de energia limpa permite também, em certas condições definidas no Protocolo de Kyoto, a venda de créditos de carbono, que são comprados por empresas ou governos interessados ou obrigados a reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. A Velcan Energy SA, sede do grupo com base em Paris, controla mais de 20 empresas, distribuídas em quatro países – Índia, Brasil, Emirados Árabes Unidos e França – que se distinguem pela função e pela área em que atuam. Algumas subsidiárias têm função de prospecção de novos projetos e/ou de empresa de engenharia, enquanto outras são apenas entidades jurídico-financeiras destinadas ao desenvolvimento, financiamento e operação de um ou mais projetos. O escritório de Paris tem uma equipe de engenheiros que trabalha em conjunto com equipes de projeto na Índia e no Brasil. Em Dubai, Emirados Árabes Unidos, se encontra o departamento jurídico do grupo. O departamento financeiro era baseado também em Dubai até o segundo semestre de 2009, quando foi transferido para Paris. Ao todo, a empresa tem por volta de 150 funcionários. Figura 1 – Presença da Velcan no mundo Fonte: adaptado pelo autor a partir de documentos internos da empresa 23 Em decorrência de operações financeiras realizadas pela Velcan no mercado de ações, o grupo desfruta de fundos próprios para realizar os investimentos necessários ao desenvolvimento dos seus projetos a curto e médio prazos. 1.1.1 Atividades no Brasil O Grupo estabeleceu sua filial brasileira, Velcan Desenvolvimento Energético do Brasil, no início de 2006, com o objetivo de desenvolver rapidamente uma carteira de projetos hidrelétricos. A Velcan finalizou a construção de sua primeira usina hidrelétrica no segundo semestre de 2009. A empresa conta ainda com três outros projetos em fase de obtenção de licenças finais e diversos projetos em fase de prospecção. No entanto, o modelo de desenvolvimento continua em constante mutação para se adaptar ao mercado brasileiro. Figura 2 – Organização societária da Velcan no Brasil Fonte: elaborado pelo autor Os esforços da Velcan no Brasil estão voltados para o desenvolvimento de projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas - PCH - que são atualmente uma forma rápida e eficiente para promover a ampliação da oferta de eletricidade no Brasil. São consideradas PCHs as centrais hidrelétricas com capacidade total instalada superior a 1.000 kW e inferior ou igual a 30.000 kW e dotadas de uma área total de reservatório igual ou inferior a três quilômetros quadrados. A energia gerada nestas usinas pode ser vendida através de distribuidores públicos, por meio VDEB Quebra Dedo Pirapetinga Ibituruna Rodeio Bonito Rodeio Bonito Hidroenergia Velcan Energy França Brasil Entidades controladoras Administração / engenharia Projetos de PCH PCH em operação 24 de contratos de longo prazo; no mercado livre, por meio de corretores; ou diretamente a grandes consumidores industriais. Com a finalidade de melhorar a atratividade e fomentar a implantação destes empreendimentos perto dos centros consumidores e em áreas periféricas ao sistema de transmissão, o Governo Federal criou incentivos para o estabelecimento de PCHs no território nacional. Esses incentivos incluem: • Benefícios fiscais • Financiamento do BNDES com longos prazos e baixos custos • Simplificação dos processos de obtenção de autorizações Devido à grande atratividade, em parte produzida pelos incentivos descritos acima, o mercado tem se desenvolvido rapidamente e vários investidores brasileiros e de diferentes partes do mundo têm se interessado pelo negócio. Contudo, apesar da simplificação do processo para a obtenção de autorizações, desde a prospecção de novos projetos até a venda efetiva de energia, o processo é longo e competitivo. A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) controla o processo como um todo, mas várias outras aprovações são necessárias: de entidades ambientais, do poder público local e de outras entidades que controlam o sistema elétrico brasileiro. De maneira resumida, o primeiro passo desse processo é o estudo prospectivo com o objetivo de identificar os rios com potencial hidrelétrico inexplorado. Então, as empresas interessadas apresentam projetos básicos de centrais hidrelétricas à ANEEL. De acordo com critérios previamente definidos, a ANEEL concede a licença a uma determinada empresa após referendar a documentaçãoapresentada. Uma vez obtida a licença da ANEEL, o empreendedor não está mais exposto à concorrência no projeto em questão e deve realizar, então, estudos técnicos, econômicos e ambientais mais detalhados, com base nos quais solicita as demais autorizações. Uma vez obtidas estas autorizações, a construção do empreendimento pode ser iniciada. Esta etapa dura, dependendo das características de cada projeto, de 24 a 48 meses, sem considerar imprevistos de ordem técnica. Vale mencionar também que existe um mercado secundário de compra e venda de projetos e licenças em diferentes estágios do processo. 25 1.1.2 Modelo de desenvolvimento da empresa no Brasil Em 2006, a Velcan chegou ao Brasil com o objetivo de adquirir licenças para projetos hidrelétricos. Sem uma equipe completa de engenharia local, a Velcan comprou quatro licenças de PCHs em menos de dois anos. No entanto, durante a fase de desenvolvimento dos projetos, a equipe de engenharia da Velcan constatou que a qualidade dos projetos não era satisfatória. Os custos de construção de Rodeio Bonito, por exemplo, ultrapassaram o orçamento inicial em cerca de 25% devido ao mau dimensionamento do projeto de engenharia, resultando em ajustes consideráveis durante a execução da obra. Com relação aos projetos de Ibituruna e Pirapetinga, após a realização de estudos mais precisos, verificou-se que os projetos pressupunham maior uso de recursos hidrológicos do que a capacidade hidrológica local, resultando em baixas taxas de utilização das centrais hidrelétricas. No início de 2008, a Velcan decidiu não comprar mais projetos no mercado secundário, desenvolvendo seus próprios projetos desde a prospecção até a construção. Para isso, a empresa recrutou uma equipe multidisciplinar brasileira composta por engenheiros eletromecânicos, engenheiros eletrotécnicos, engenheiros hidráulicos, engenheiros estruturais, geólogos e biólogos. A empresa se inscreveu, então, em diversos processos de outorga da ANEEL. Porém, a Velcan enfrentou inúmeros atrasos nos processos administrativos. Além disso, mudanças na regulamentação criaram ainda mais complicações. Diferentemente do que a direção da empresa esperava, o processo de viabilização de um projeto, desde os primeiros estudos até a obtenção da licença de instalação, leva de 24 a 60 meses. Por esta razão, tornaram-se insustentáveis os elevados custos fixos ligados à folha de pagamento da equipe técnica. Desta forma, em maio de 2009, a Velcan mudou mais uma vez seu modelo de desenvolvimento no Brasil e, consequentemente, a equipe técnica foi dissolvida. Após um período de incertezas, a Velcan retomou o estudo de novos projetos, em ritmo mais lento do que em anos anteriores, para compensar a possibilidade de fracasso de alguns projetos. 26 1.1.3 Situação atual dos projetos Rodeio Bonito é a primeira central hidrelétrica construída pelo grupo Velcan. A central hidrelétrica está em operação comercial desde novembro de 2009, e a energia gerada é vendida no mercado livre da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) através de contratos de curto prazo. A construção sofreu consideráveis atrasos em relação às previsões iniciais devido a uma multiplicidade de acontecimentos e dificuldades que, individualmente, geraram atrasos pequenos, mas cuja acumulação, especialmente na fase final de construção, levou a um atraso considerável. Figura 3 – Fotos da PCH Rodeio Bonito. Fonte: Fotos tiradas pelo autor em visita ao local Ibituruna, Pirapetinga e Quebra Dedo são os outros três projetos comprados no mercado secundário de licenças. Estes três projetos estão ainda em fase de avaliação técnico- econômica e de obtenção de licenças administrativas necessárias ao início da construção. As licenças ambientais ainda não foram obtidas. Problemas ambientais descobertos após a aquisição das licenças limitam a capacidade de geração elétrica previamente aprovada pela ANEEL. A revisão e a alteração dos projetos devem ser autorizadas pela ANEEL, que está, no momento, relutante a aprovar tais modificações. Não existe uma data prevista para uma possível construção destes três projetos. 27 Figura 4 – Projetos da Velcan no Brasil Fonte: Site da companhia A Velcan tem outros projetos em fase de prospecção, mas que serão mantidos em confidencialidade a pedido da empresa. 1.2 O Estágio O autor ingressou na empresa em fevereiro de 2009 para a realização do estágio de conclusão do programa de Duplo Diploma entre o Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP e a École Nationale des Ponts et Chaussées da França. Diferentemente do Brasil, os estágios na França não são realizados concomitantemente com os estudos. Durante o período de estágio, o aluno permanece inteiramente dedicado à empresa e ao projeto nela desenvolvido, o que possibilita realizar o estágio em tempo integral em qualquer lugar do mundo. Na fase inicial do estágio, o autor passou por um período de um mês de treinamento técnico e organizacional, sendo duas semanas no escritório administrativo em Paris e duas semanas no centro financeiro em Dubai. Em Paris, o treinamento consistiu principalmente na aprendizagem de como a empresa se organiza. A Velcan tem uma organização complexa no sentido de que se espalha em diversos escritórios pelo mundo, sendo as estruturas hierárquicas matriciais. Mesmo sendo um 28 brasileiro em treinamento para trabalhar com outros brasileiros, o autor tinha a função de incorporar a cultura francesa na filial brasileira. Durante as duas semanas de treinamento em Dubai, foram apresentados os princípios contábeis do grupo e as necessidades de informações financeiras dos centros administrativos. Após o período de formação, o autor passou a trabalhar no escritório de São Paulo da empresa com objetivos definidos: • Implementar, no Brasil, a classificação contábil-financeira desenvolvida pela equipe financeira de Dubai, com o objetivo de padronizar o tratamento da informação financeira do grupo nos diferentes países. • Elaborar relatórios financeiros para o acompanhamento dos dados. • Analisar o processo financeiro para estabelecer um banco de dados completo e, sobretudo, confiável. No entanto, por se tratar de uma equipe relativamente pequena no Brasil, o aluno se envolveu nas mais diversas atividades durante o estágio, desde a parte financeira até a comercial, passando pela técnica. 1.3 O Problema Logo no início do estágio, verificou-se que os processos de pagamento e de contabilização tinham limitações que levavam a erros nas informações contábeis da filial brasileira. Além disso, existiam saldos incoerentes que se arrastavam por anos por não haver qualquer procedimento de verificação das informações. Uma grande parte do trabalho desenvolvido ao longo do estágio foi dedicada à auditoria das informações contábeis de todas as entidades brasileiras e dos saldos dos contratos da central hidrelétrica em construção. Exemplos de erros detectados num primeiro momento: • Dívidas a fornecedores que não faziam sentido • Salários a serem pagos a funcionários que já haviam deixado a empresa • Saldos antigos de tributos a recolher (o pagamento integral de tributos é feito a cada mês, então não há motivo para se ter passivos tributários que se arrastam por meses) • Conta “cliente” no ativo (a Velcan não tinha clientes) 29 • Pagamentos em duplicidade De um lado, o esforço para corrigir as contas fez com que mais erros fossem encontrados. Por outro lado, para limpar as contas, foi necessário encontrar as origens dos problemas através da análise do processo e de suas falhas. A partirdo estudo sobre o processo financeiro, foi possível adquirir uma profunda compreensão da interação entre as partes envolvidas, desde a assinatura do contrato de prestação de serviço, ou solicitação de compra, até a contabilização do pagamento. Isto permitiu fazer diferentes análises, sempre com o objetivo de garantir a qualidade das demonstrações financeiras e dos relatórios destinados à direção e aos acionistas. O relatório de trabalho de conclusão de curso apresentado à École Nationale des Ponts et Chaussées descreve uma primeira abordagem para esta situação, com análises preliminares e algumas pequenas melhorias implementadas no processo. O esforço para estudar o processo e auditar as contas atraiu a atenção da equipe no Brasil sobre a importância de adotar processos padronizados e procedimentos de controle. No entanto, as soluções propostas e implementadas são em grande parte restritas a procedimentos de controle e avaliação de falhas e, conseqüentemente, não impedem a ocorrência de novos erros no futuro. Além disso, a maneira como são realizadas as tarefas e os seus controles não é eficiente. Por mais que atualmente as informações financeiras e contábeis estejam corretas, isto é, condizentes com a realidade da empresa, isto só ocorre porque o volume de pagamentos e contratos ainda é relativamente pequeno. A empresa concluiu recentemente a construção de sua primeira central hidrelétrica, o que representou uma quantidade média próxima de 200 pagamentos por mês e aproximadamente 60 contratos com fornecedores. Porém, espera-se que até o final de 2011 sejam iniciadas três novas construções de maior porte, o que representaria um volume muito maior de pagamentos, referentes a mais de um empreendimento. Deste modo, o desenvolvimento de ferramentas informatizadas é um passo importante para melhorar o tratamento das informações financeiras da subsidiária brasileira da Velcan. As principais limitações do processo atual não serão eliminadas sem a integração dos intervenientes do processo através da tecnologia da informação. 30 1.4 Objetivo do Trabalho Antes mesmo de o aluno ingressar na empresa, foram feitas análises para implementar sistemas informatizados para o controle gerencial e financeiro das atividades da Velcan no Brasil. Porém, a direção considerou as alternativas muito caras, além de não se adequarem às reais necessidades da empresa. Laurindo e Rotondaro (2008) afirmam que são necessárias uma criteriosa análise dos processos em vigor e a verificação dos elementos comportamentais envolvidos para que este tipo de mudança seja realizado, dado que são relativamente comuns os relatos de experiências traumáticas na implementação de sistemas de informação. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é analisar os processos financeiros da filial da empresa no Brasil, com uso de métodos e técnicas estudados durante o curso de Engenharia de Produção da Poli, para assim propor um novo modelo para o processo e, em seguida, definir os requisitos do sistema de informação que servirá de suporte ao novo processo. 1.5 Organização do Trabalho Este trabalho está organizado da seguinte forma: O Capítulo 1 realiza uma introdução dos temas tratados neste trabalho, descrevendo, em linhas gerais, a empresa junto à qual foi realizado o trabalho, o estágio realizado pelo autor à época da elaboração deste estudo, as razões que levaram à sua execução e os objetivos deste trabalho. O Capítulo 2 apresenta o referencial teórico do estudo desenvolvido, com conceitos divididos em duas seções fundamentais: abordagem por processos e definição de requisitos de um sistema de informação. A motivação para escolha de tais tópicos se baseia na ideia de que estes abrangem um largo escopo de análise do problema a ser resolvido. O Capítulo 3 se propõe a apresentar o método adotado para a resolução do problema, seguindo a mesma divisão de seções do capítulo anterior. O Capítulo 4 contém o desenvolvimento do trabalho propriamente dito, com as análises elaboradas pelo autor com base no ferramental e nos métodos descritos nos capítulos anteriores. 31 Por fim, o Capítulo 5 fornece a conclusão do trabalho, a qual inclui uma discussão da importância deste estudo para e empresa estudada e sugestões para trabalhos futuros. 32 2. Fundamentos teóricos O entendimento adequado deste documento exige, inicialmente, que seja apresentado um referencial adquirido da literatura que sirva de base para o corpo do trabalho através do desenvolvimento de conceitos básicos e da definição das ferramentas que são utilizadas posteriormente. O referencial teórico a seguir, portanto, dá apoio ao conteúdo apresentado posteriormente. Neste capítulo, são descritos alguns dos principais conceitos pertinentes à análise e modelagem de processos de negócios, assim como à definição de requisitos para um sistema de informação. Desta forma, este capítulo está dividido em duas seções principais. A primeira delas trata de conceitos relativos à abordagem por processos, concentrando-se principalmente nas bases da análise de processos de negócios. A segunda seção é focada em conceitos relacionados às etapas necessárias para a definição de requisitos de sistemas de informação. 2.1 Abordagem por processos Esta seção apresenta o princípio da abordagem por processos e o seu impacto sobre as organizações, dando destaque para o papel dos sistemas de informação como suporte aos processos. Para tal, é feita uma introdução em que o tema é contextualizado historicamente e, em seguida, discute-se o papel que esta abordagem tem nas organizações. Na sequência, é feita uma análise das transformações ocorridas nos processos organizacionais como consequência da evolução dos sistemas de informação e, por fim, o conceito de sistema BPM é apresentado. 2.1.1 Introdução Davenport (1994), um dos criadores da reengenharia de processos, define processo da seguinte forma: “Processo é simplesmente um conjunto de atividades estruturadas e medidas, destinadas a resultar num produto especificado para um determinado cliente ou mercado. É, portanto, uma ordenação específica das atividades de trabalho no 33 tempo e no espaço, com um começo, um fim e inputs e outputs claramente identificados”. O estudo de processos nas organizações não é algo novo, e sua origem remonta ao início do século passado com o surgimento da administração científica, movimento cujos maiores representantes foram Frederick Taylor e Henry Ford. Estudos de Taylor introduziram conceitos de eficiência de processos, especialização, assim como de medição de desempenho. Segundo Zilbovicius (1998), o taylorismo se baseava na necessidade do aprofundamento do controle do processo de trabalho por parte dos capitalistas e/ou empresários. A eficiência de qualquer processo estaria associada ao aprofundamento da divisão do trabalho e deveria haver uma separação estrita entre as atividades de planejamento e de execução do trabalho direto. Zarifian (1992) considera que uma das virtudes de Taylor foi quebrar o monopólio detido pelos operários sobre a definição dos seus atos de trabalho. Nesta nova visão os engenheiros e técnicos dos departamentos de administração da produção tinham grande poder para definir e prescrever o processo de trabalho. Desta forma, o taylorismo instaura uma divisão entre a concepção e execução do trabalho. Desde o primeiro trabalho de Taylor no início do século passado até a proposta mais recente, muitos autores e organizações desenvolveram propostas de como compor um modelo de gestão de processos adequado. Posteriormente aos primeiros avanços da escola clássica, nos anos que vieramdepois das grandes guerras, surgiram as técnicas japonesas de administração, que apresentaram as ideias de produção enxuta. Por partir de muitas observações de sistemas utilizadores dos princípios da escola clássica, existem alguns pontos semelhantes à escola clássica. Woomack, Jones e Roos (1992) destacam que em ambos os sistemas há uma grande padronização do trabalho no chão de fabrica, porém com uma diferença marcante: onde no Fordismo o trabalho era controlado pelos gerentes, na produção enxuta da Toyota o controle era feito por equipes. Tal situação acabou por fortalecer uma característica pouco explorada na escola clássica, o trabalho em grupo, extremamente encorajado nas fabricas da Toyota, aumentando a qualidade do trabalho e a interação entre funcionários. Na segunda metade do século passado, emergiu a era da busca melhoria contínua caracterizada pela Total Quality Management, gestão da qualidade total, largamente adotada pelas organizações a partir da década de 80. 34 Em seguida, houve o movimento dos sistemas integrados de gestão ou ERP, que tinham a finalidade de implementar nas organizações sistemas integrados para promover a mudança de visão departamental para a abordagem a partir de processos nas empresas. Para atingir tal finalidade, se fazia necessária a aplicação de soluções integradas de software que contivessem todos os aplicativos necessários aos processos das organizações. 2.1.2 Gestão de processos de negócio Ao longo do desenvolvimento das diferentes soluções para a abordagem por processo, houve o deslocamento do enfoque da dimensão vertical, em que as organizações eram observadas a partir das funções e das estruturas definidas nos organogramas, para um enfoque horizontal, em que o foco de estudo são os processos. Alvarenga Netto (2008) aponta a gestão por processos como resultado das transformações no panorama competitivo que acarretaram a necessidade de agilidade e novos conceitos e práticas de gestão. Ainda segundo o autor, a organização horizontal possibilita a agilidade nos processos internos, aumentando a velocidade de resposta ao mercado e a capacidade da organização de fornecer produtos de massa personalizados, aumentando a eficiência e a eficácia dos processos. Figura 5 – Estrutura funcional versus visão por processos Fonte: Adaptado de Alvarenga Netto (2008), elaborado pelo autor Para Davenport (1994), enquanto a organização funcional é caracterizada por ser fragmentada e estanque das responsabilidades e das relações de subordinação, a estrutura baseada em processos é dinâmica na forma como a organização gera valor. Direção Departamento jurídico Departamento técnico Departamento financeiro Departamento comercial Processo 35 Alvarenga Netto (2008) propõe que linhas de autoridade vertical (funcionais) e linhas de autoridade horizontal (processos) cruzem as funções organizacionais nas empresas que adotam a gestão por processos, caracterizando a necessidade de estruturas matriciais. Segundo o autor, o equilíbrio entre as diferentes autoridades, indo de uma estrutura predominantemente funcional à estrutura de processo puro, passando pela matricial equilibrada, depende de características internas de cada organização e do papel do “dono do processo”. No entanto, segundo Davenport (1994), existe uma dificuldade em definir a propriedade dos processos devido ao fato de raramente estarem dentro de limites de poder ou de autoridade organizacional. Segundo Valle e Oliveira (2009), o papel da gestão de processo de negócio é servir de instrumento de ligação entre tudo o que se desenvolve na organização e tem a finalidade de facilitar a comunicação e a cooperação entre os diferentes atores das organizações. Spanyi (2003) afirma que o gerenciamento de processos de negócio envolve a definição, a melhoria e a gestão dos processos de negócio de uma organização, envolvendo todos os departamentos e etapas, com apoio da tecnologia, a fim de alcançar três pontos de importância crucial para uma empresa: clareza na implementação da estratégia, alinhamento dos recursos e disciplina nas atividades cotidianas. 2.1.3 O papel da tecnologia da informação nas organizações Para Laurindo e Rotondaro (2008), o papel da tecnologia da informação ganhou muito destaque com a globalização e os consequentes impactos deste fenômeno nas organizações. Segundo os autores, o novo capitalismo é marcado não só pela internacionalização das atividades, mas também pela forma global de organização dos processos. Como consequência, os fatos que ocorrem em um determinado local podem ter repercussão direta em outro local distante ou, até mesmo, no resto do mundo. Assim, as redes informatizadas surgem como agente viabilizador desta nova configuração de atividades ou como forma de potencialização das vantagens competitivas. Esta evolução do papel dos sistemas de informação pode ser resumida conforme o quadro 1. 36 Quadro 1 – Evolução do papel da TI ao longo do tempo Era I – meados de 50 a meados de 70 Era II – meados de 70 a meados de 80 Era III – meados de 80 a meados de 90 Era IV – meados de 90 até hoje Descrição Suporte operacional Suporte à administração e a trabalhos de conhecimento Suporte à transformação do negócio e à competição Computação onipresente Objetivo primário Suporte a operações Suporte à administração Melhoria na posição competitiva Integração eletrônica Clientes primários Grandes unidades corporativas Gerentes e profissionais Unidades de negócio Equipes colaborativas Justificativa Eficiência Eficácia gerencial Fatia de mercado e lucratividade Eficácia organizacional Fonte Processamento de dado individual ou departamento de sistemas de informação Unidades de sistemas de informação e usuários finais Coordenada dentro da organização / computação voltada ao usuário final Estrutura de computação própria e terceirizada Fonte: Adaptado de Zwass apud. Laurindo e Rotondaro (2008) Neste contexto, as organizações passaram a buscar soluções baseadas na tecnologia da informação para integrar processos, de maneira a otimizar os fluxos de trabalho e alinhar os conhecimentos gerados. Davenport (1994) aponta nove categorias diferentes de oportunidades para apoiar a reengenharia de processos com a tecnologia da informação, que têm como objetivos a redução de custos, eliminação de tempos e assim por diante. Quadro 2 – Impacto da TI sobre a reengenharia de processos IMPACTO EXPLICAÇÃO Automacional Eliminação do trabalho humano de um processo Informacional Captação da informação de processos com o objetivo de compreensão Sequencial Modificar sequência de processo ou impossibilitar o paralelismo De acompanhamento Monitoração rigorosa da situação e objeto do processo 37 Analítico Melhorar análise da informação e tomada de decisões Geográfico Coordenação dos processos à distância Integrativo Coordenação entre tarefas e processos Intelectual Captação e distribuição de bens intelectuais Desintermediação Eliminação de intermediários num processo Fonte: Davenport (1994) Valle e Oliveira (2009) ressaltam que por mais que pareça evidente, muitas organizações cometem o equívoco de primeiramente comprar uma solução pronta baseada em softwares antes mesmo de pensar no modelo de gestão por processos, quando o correto é o caminho inverso. Alvarenga Netto (2008) aponta que as mudanças tecnológicas avançam mais rápido do que a capacidade das organizações e dos homens de incorporar tais mudanças, fazendocom que, muitas vezes, as aplicações da tecnologia da informação estejam dissociadas dos projetos de melhoria da qualidade. Neste contexto, a gestão por processos se propõe a responder tais questões e aparece como base para a maioria das modernas ferramentas de gestão. 2.1.4 Sistemas BPM Segundo Storch e Pêssoa (2008), nas últimas décadas, houve uma aceleração do fenômeno de ascensão e queda de ideias no campo da gestão, estando inseridas principalmente entre dois extremos: a inovação incremental de processos e o radicalismo do movimento de reengenharia. Porém, ambas convergem no sentido em que buscam soluções para as necessidades de revisões dinâmicas dos processos dentro das organizações. Concomitantemente, cresceu a incidência de problemas ligados à implementação de sistemas ERP, segundo os autores, principalmente devido ao fato de tais sistemas não conseguirem acompanhar a velocidade de evolução das organizações. Este contexto criou um campo fértil para o aparecimento de uma solução que não dependesse tão intensivamente de recursos humanos no desenvolvimento de linguagem de programação e na modelagem de processos da forma tradicional. Neste cenário, surgiram os sistemas BPM (ou BPMS, do inglês Business Process Management Systems), que transferem do analista de sistemas para o analista de negócios a maior parte do trabalho de adaptação incremental dos processos. 38 Os sistemas BPM surgiram da convergência das ferramentas de workflow, gerenciamento de imagem, GED, EDMS e ECM que apareceram desde o final dos anos 80. Storch e Pêssoa (2008) listam os avanços trazidos pelas tecnologias de workflow que foram os embriões dos conceitos do BPMS: • Formulários eletrônicos, permitindo suprimir documentos que só serviam como suporte físico para a transmissão de dados; • Uso de imagens digitalizadas, permitindo o início de processos sem papel; e • Regras de negócio que regulavam as alternativas de decisão dos operadores e permitiam automatizar alguns tipos de decisões mais padronizados. Os autores concluem que esses avanços tornaram mais fácil a interação entre homem e máquina, integrando tarefas automatizáveis com outras para as quais a participação humana é indispensável. No entanto, vale ressaltar que o objetivo dos sistemas BPM não é substituir o trabalho humano por máquinas, estando o foco apenas na eliminação de atividades que sacrificam o uso da inteligência humana e na eliminação de tempos mortos entre tarefas. Através da utilização de novas tecnologias, o BPM resolveu diversas limitações existentes nos sistemas de workflow, dentre as quais se destacam: • Integração com bancos de dados corporativos; • Integração direta com aplicativos sem intervenção humana; • Operação em tempo real; • Linguagem padronizada de descrição de processos; e • Redução do custo de licenças. 2.2 Definição de requisitos para um sistema de informação Após a verificação da necessidade de um sistema de informação, é necessário estudar como desenvolvê-lo. Nesta seção são apresentadas as principais características do desenvolvimento de sistemas de informação, dando ênfase às etapas iniciais que estão no escopo deste trabalho. 39 2.2.1 Ciclo de vida de sistemas de informação Como para qualquer outro tipo de produto, é possível estabelecer modelos de ciclo de vida para os sistemas de informação em que eles são concebidos, desenvolvidos, utilizados e retirados de operação no término da vida útil. Segundo Moraes (2008), o ciclo de vida clássico, também conhecido como modelo cascata, é o que mais sofre influência de outras áreas de engenharia e se caracteriza pela realização sequencial de suas diferentes fases. Apesar de existirem diferenças entre a descrição das fases para cada autor que já abordou o tema, todos têm em comum o princípio de que o projeto é realizado de maneira sequencial. Figura 6 – Ciclo de vida clássico Fonte: Pressman (1995) apud Moraes (2008) Na primeira etapa do ciclo de vida clássico apresentado acima, é realizada a definição dos requisitos para todos os elementos do sistema. Em seguida, os requisitos do software são especificados. Na etapa de Projeto, as especificações de requisitos são transformadas em especificações técnicas de construção. Na quarta etapa, as especificações técnicas são traduzidas de forma que o hardware possa entendê-las. Na etapa de teste, busca-se a eliminação de erros e de não-conformidade do código desenvolvido. E, finalmente, na etapa de manutenção, os erros são identificados após a implementação. Moraes (2008) observa que apesar da grande popularidade deste modelo, ele não representa bem a realidade de muitos projetos, pois, em princípio, de acordo com este modelo Engenharia de sistema Análise de requisitos Projeto Codificação Teste Manutenção 40 uma etapa somente é iniciada após a conclusão da etapa imediatamente anterior. Na prática, em poucos casos o desenvolvimento ocorre de maneira linear, sendo inevitáveis alguns retrocessos. Em decorrência das críticas ao modelo clássico, foram propostos outros modelos com o objetivo de incorporar os retrocessos ao ciclo de vida dos sistemas de informação. Dentre os modelos propostos, destacam-se o modelo evolucionário, o modelo incremental e o modelo em espiral. Quadro 3 – Modelos de ciclo de vida de softwares MODELO PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Evolucionário • O processo começa com um conjunto de objetivos para todo o sistema, sendo que a estrutura inicial deve ser simples e passível de alterações • Escolhe-se a forma mais fácil de implementar e que leve todo o projeto em direção aos objetivos globais • Após o desenvolvimento de uma parte do sistema, outra é selecionada e desenvolvida • Os objetivos globais e a estrutura geral do sistema podem ser alterados durante todo o ciclo de vida Incremental • As partes do sistema e os requisitos são desenvolvidos de forma incremental. • Uma vez que o usuário receba uma parte do sistema, este pode avaliá-la e fornecer feedbacks para as partes ainda a desenvolver. Em espiral • O projeto é desenvolvido em iterações sucessivas de complexidade crescente, sendo que cada é composta por 4 etapas • Planejamento: definição dos objetivos e estratégias a serem utilizadas no futuro • Análise de risco: Identificação e consideração formal de riscos associados ao projeto e alternativas de minimizá-los • Engenharia: geração do software • Avaliação pelo cliente: este feedback serve de apoio para a próxima iteração Fonte: Elaborado a partir de Moraes (2008) Recentemente surgiram as chamadas ferramentas de quarta geração, em que partes do ciclo de vida dos sistemas de informação são automatizadas. Estas ferramentas são capazes de gerar em minutos, através da definição de funcionalidades e interfaces necessárias, códigos de programação que levariam semanas para serem desenvolvidos se escritos manualmente. 41 Figura 7 – Aplicação de ferramentas de quarta geração Fonte: Moraes (2008) Para Moraes (2008), o ponto crítico para a utilização deste tipo de ferramenta é a identificação correta das funcionalidades do sistema. Assim, uma boa especificação de requisitos é parte essencial para obtenção de sistemas eficazes. Após a identificação das necessidades do sistema, a geração automatizada do código e a implementação do sistema, é feito o acompanhamento do uso de sistema e da percepção dos usuários. A qualidade do sistema de informação é avaliada através do monitoramento da satisfação das necessidades da organização. A utilização de ferramentas de geração de códigos faz com que a eficiência operacional dos sistemas seja consideravelmente maisbaixa comparativamente aos sistemas desenvolvidos manualmente. Assim, estas ferramentas estão limitadas a situações em que a eficiência operacional não seja crítica. Identificação das necessidades da organzação Especificação dos requisitos do sistema Geração automática do código e implementação do sistema Acompanhamento do uso do sistema e do usuário Necessidades atendidas? Encerramento 42 2.2.2 Requisitos Como visto no item anterior, um dos pontos cruciais no desenvolvimento de softwares através de ferramentas de quarta geração, que é o caso de sistemas BPM, é a correta especificação dos requisitos. Para Paula Filho (2009), a disciplina de requisitos reúne as atividades necessárias para a definição completa, clara e precisa dos requisitos de um software. Sommerville (2003) define requisito de sistema de informação como sendo uma descrição de suas funções e restrições, buscando permitir a compreensão do problema a ser solucionado pelo sistema. Segundo o autor, a definição dos requisitos serve como base tanto para o desenvolvimento de sistemas de informação quanto para a aquisição. Engenharia de requisitos é o conjunto de técnicas para levantar, detalhar, documentar e validar os requisitos de um produto. Paula Filho (2009) afirma que uma boa engenharia de requisitos é essencial para o desenvolvimento de um bom produto e lista as principais características que devem estar descritas: Funcionalidade: o que o produto deverá fazer? Interfaces externas: como o produto interage com as pessoas, com o hardware do sistema, com outros sistemas e com outros produtos? Desempenho: qual a velocidade de processamento, o tempo de resposta e outros parâmetros de desempenho requeridos pela natureza da aplicação? Outros atributos: quais as considerações sobre portabilidade, manutenibilidade e confiabilidade que devem ser observadas? Restrições impostas pela aplicação: existem padrões e outros limites a serem obedecidos, como linguagem de implementação, ambientes de operação, limites de recursos etc.? De acordo com Sommerville (2003), existem requisitos associados a todo tipo de software e estes podem ser divididos em duas categorias: Funcionais: fazem parte daquilo que o usuário espera do sistema de informação. A definição de tais requisitos deve ser completa, no sentido de que sejam especificadas todas as funcionalidades requeridas pelos usuários, e consistente, no sentido que as especificações não sejam contraditórias. 43 Não-funcionais: são restrições ou condições de operação e os padrões a serem obedecidos pelo sistema de informação, não se referindo às funções específicas fornecidas pelo sistema. Como exemplos, podemos citar tempo de resposta, facilidade de uso, portabilidade, confiabilidade, suporte, manutenibilidade. Paula Filho (2009) define requisitos não funcionais como sendo os requisitos de desempenho e outros atributos de qualidade do produto. Segundo o autor, estes requisitos devem ser listados de maneira precisa e quantitativa e a sua determinação correta é essencial para o sucesso de um sistema de informação, pois têm grandes impactos na percepção que os usuários terão da qualidade e utilidade do produto. Mesmo que seja uma tarefa difícil por ser a primeira versão de um produto, os requisitos não funcionais devem ser enunciados de forma precisa e quantitativa. A pesquisa bibliográfica apresentada neste capítulo fornece subsídios para a adequada determinação do método a ser utilizado para a solução do problema proposto. O método adotado é descrito no próximo capítulo. 44 3. Método Após a apresentação do referencial teórico que é utilizado como base para a compreensão e o tratamento do problema, neste capítulo, abordaremos o método adotado a partir de diferentes proposições encontradas na literatura. Em linhas gerais, o trabalho desenvolvido segue as etapas descritas no esquema apresentado abaixo. Figura 8 – Etapas de desenvolvimento do trabalho Fonte: elaborado pelo autor Numa primeira etapa, como ponto de partida, realizaremos o levantamento de informações relacionadas aos processos existentes na empresa para compreender a situação atual ou, como tratada por alguns autores, a situação “as is”. Em segundo lugar, concluída a compreensão dos processos atuais, realizaremos estudos para identificar e classificar oportunidades de melhoria que permitam o aumento da eficiência operacional e da produtividade, a redução na ocorrência de erros e incoerências e a eliminação ou redução de retrabalhos. Esta análise nos permitirá elaborar e propor novos processos de negócio. E, finalmente, definiremos os requisitos do sistema de informação a ser desenvolvido, o qual servirá de suporte à implantação do novo processo. 3.1 Mapeamento de processos de negócio Rotondaro (2008) considera a etapa de mapeamento do processo uma das mais importantes na gestão por processos, pois possibilita o conhecimento profundo e detalhado de todas as operações que ocorrem durante a execução de um serviço ou produto. O autor propõe Mapear os processos atuais Analisar e redesenhar processos Definir os requisitos do sistema de informação Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 45 que o primeiro passo para o mapeamento adequado seja a definição de fronteiras do processo a ser estudado, através da técnica FEPSC, acrônimo de fornecedores, entradas, processos, saídas e clientes, conforme figura 9. Figura 9 – Representação de FEPSC Fonte: Rotondaro (2008) Esta técnica aplica-se a qualquer tipo de trabalho e sua elaboração segue uma sequência lógica, apresentada no quadro 4. Quadro 4 – Sequência lógica da elaboração do FEPSC ETAPA • QUESTÕES Determinar o propósito • Por que existe este processo? • Qual é o propósito deste processo? • Qual é o resultado? Análise das saídas • Que produto faz este processo? • Quais são as saídas deste processo? • Em que ponto termina este processo? Dados dos clientes • Quem usa os produtos deste processo? • Quem são os clientes deste processo? Análise das entradas e fornecedores • De onde vem a informação ou material com o qual você trabalha? Quem são os seus fornecedores? • O que eles oferecem? • Como afetam o fluxo do processo? • Que efeito têm no processo e no resultado? Determinar os passos do processo • O que ocorre em cada input? • Que atividades de conversão acontecem? Fonte: Adaptado de Rotondaro (2008) Fo rn ec ed or es C lie nt es Entradas EntradasProcesso 46 Valle, Oliveira e Braconi (2009) descrevem técnicas e procedimentos utilizados para o levantamento de informações para descrever os processos de negócio, apresentadas no quadro 5. Quadro 5 – Técnicas de levantamento de processos TÉCNICAS CARACTERÍSTICAS Entrevista • Aplicada a um número reduzido de pessoas • Permite o diálogo interativo • Permite visualizar as reações dos entrevistados • Permite grande flexibilidade na estrutura organizacional Questionário • Aplicado a um número grande de pessoas • Necessita ser bem estruturado e dirigido para o problema que se quer analisar • Permite pouca flexibilidade na sua estrutura • Permite manusear grande número de informações Workshop • Aplicado a um número reduzido de pessoas • Permite a interação e discussão direta • Produz resultados imediatos e evolução na forma de interpretar e tratar os processos Observação • É a verificação no local de trabalho, com pequenas interferências do analista. • É aplicada para complementar o levantamento de informações sobre o processo, para garantir o entendimento sobre a situação analisada, ou quandoo assunto for muito complexo ou muito específico. Fonte: Valle, Oliveira e Braconi (2009) Segundo os autores, estas técnicas têm como meta promover a compreensão de processo sobre a ordem, a hierarquia e a sequência lógica das atividades necessárias a uma unidade organizacional para a produção de serviços ou bens. Destacam também, que a entrevista tem sido a mais utilizada. Para o estudo em questão, não será utilizada a técnica de questionário, dado o volume pequeno de intervenientes. Segundo Borysowich (2006) apud Valle, Oliveira e Braconi (2009), a condução de entrevistas deve ser realizada com as finalidades abaixo: • Reunir informações sobre o processo existente; • Determinar os requisitos de um novo processo; • Esclarecer especificações funcionais; 47 • Obter informações sobre a organização do cliente; e • Obter opiniões sobre a usabilidade. Especialmente quando a coleta de informações apresenta as características a seguir: • Se as informações podem ser obtidas de um número restrito de pessoas; e • Se o processo de coleta de informação requer privacidade; 3.2 Modelagem de processos Segundo Oliveira e Almeida Neto (2009), “a modelagem visa criar um modelo a partir de processos por meio da construção de diagramas operacionais sobre o seu comportamento.” Os autores listam as principais atividades ou ações necessárias para a otimização através da modelagem de novos processos: • Obter sugestões dos profissionais que atuam no processo para que contribuam na otimização; • Eliminar ou modificar as atividades que não agreguem valor ou que sejam explicitamente retrabalho; • Identificar e implementar melhorias na sequência das atividades, evitando repetições ou retrocessos desnecessários; • Selecionar e designar o melhor executor para cada atividade; • Agrupar as atividades complementares; • Transferir as decisões operacionais para o nível do processo • Racionalizar os controles mantendo apenas os essenciais • Reduzir o tempo da atividade com a substituição do recurso manual por máquinas ou sistema informatizado; e • Eliminar os pontos de retenção ou gargalos. Rotondaro (2008) também propõe questões para a análise crítica das unidades funcionais com o objetivo de melhorar as etapas do processo. A atividade pode ser suprimida? Deve ser analisado o valor que esta atividade agrega para o cliente e o efeito da supressão sobre o processo. 48 A atividade pode ser comprimida / acumulada? Um dos benefícios na melhoria do processo é o de condensar várias atividades em uma só, principalmente com ferramentas de TI adequadas. A atividade pode ser feita em um nível hierárquico mais baixo? O uso de ferramentas de TI possibilita que funcionários de posições mais baixas executem algumas atividades que aconteciam, historicamente, em níveis superiores, pois as informações são padronizadas e disponibilizadas adequadamente. Atividades em série podem ser executadas paralelamente? É necessário avaliar se o encadeamento atual é um requisito do processo e se atividades podem ser iniciadas logo no início do processo. Deve-se avaliar, também, se existem gargalos no processo. 3.3 Business Process Modeling Notation (BPMN) A modelagem de processos é usada tanto para desenhar e analisar processo quanto para desenvolver novos, e deve ser capaz de comunicar uma série de informações aos diferentes intervenientes dos processos. A literatura apresenta inúmeras técnicas de modelagem de processos, dentre as quais se destacam BPMN (Business Process Modeling Notation), UML (Unified Modeling Language), IDEF (Integrated Definition), EPC (Event-driven Process Chain), dentre outras. Após a análise destas diferentes ferramentas, o autor optou pela utilização do BPMN neste trabalho por se tratar de uma das técnicas mais largamente aceitas e de ser uma das mais ricas, apesar de sua simplicidade. Almeida Neto (2009) apresenta uma lista de vantagens e desvantagens do BPMN: • Padronização e gestão feitas pelo OMG, um grupo de empresas-membro, consolidadas e com boa reputação no mercado de padrões abertos; • Oferece um padrão de notação com suporte em várias ferramentas de modelagem; • Permite evoluir para o padrão XPDL 2.0, que é explicitamente uma linguagem de descrição de workflow; • Visando reduzir a lacuna existente entre o desenho de processo de negócio e a sua implementação, o BPMN permite a conversão de seus BPD para 49 linguagem de execução de processo de negócio BPEL – Business Process Execution Language; • Incorpora facilidades de técnicas consagradas de padrões de modelagem, como UML; • Controle dos intercâmbios com o mundo externo da organização através da capacidade de enviar mensagens, esperar respostas ou ser interrompido por mensagens. O BPMN foi desenvolvido pela Business Process Management Initiative (BPMI) e sua primeira versão foi lançada em maio de 2004, após mais de dois anos de trabalho da BPMI. Segundo White (2005), o objetivo principal do BPMN era fornecer uma notação que fosse facilmente compreensível por todos os usuários, desde os analistas de negócio que criam os desenhos iniciais dos processos, até as pessoas que irão gerenciar e monitorar os processos no cotidiano. O projeto do BPMN objetivava também a criação de um modelo que permitisse a geração de softwares sem a necessidade do desenvolvimento de códigos. Assim, o BPMN cria uma ponte para o intervalo entre a concepção de processos de negócios e o processo de execução. 3.3.1 Elementos básicos O BPMN usa a técnica de fluxograma adaptada para a criação de modelos gráficos de processos de negócio através do Diagrama de Processos de Negócio (DPN) ou na versão original em inglês, Business Process Diagram (BPD). Existem apenas três elementos básicos na notação, apresentados no quadro 6. Quadro 6 – Elementos básicos do BPMN ELEMENTO DESCRIÇÃO FIGURA Eventos Um evento é representado por um círculo e é algo que ocorre no decorrer de um processo de negócio. Estes eventos afetam o fluxo do processo e normalmente têm um disparador ou um resultado. Existem três tipos de eventos, baseados em quando eles afetam o fluxo: início, meio e fim. 50 Atividades Gateways E tr CONECT Direção da sequência fluxo Direção do fluxo de mensagem Associação de elemen Me uma infinid entendimen 3.3.2 Sw O c atividades s Uma execu de a proce Gatew para intera rês tipos de TOR DESC a do É usa em qu proce o m É usa entre separ entre o tos É usa artefa conec outpu esmo com a dade de mo nto e usabil wimlane conceito de em categor atividade utado no pr atividade s esso. ways são f controlar c age dentro d Fonte: Ad conectores Q CRIÇÃO ado para mo ue as ativid esso. ado para mo dois partici rados que en si ado para ass atos com ob ctor é usado uts de ativid Fonte: Ad a aparente odelos e pro lidade um d swimlanes rias separad represent rocesso. Os são tarefa, filtros de de como a seq do processo aptado de W , conforme Quadro 7 – T ostrar a orde dades devem ostrar o flux ipantes do p nviam e rec sociar dados bjetos do flu o para mostr dades aptado de W simplicidad ocessos com de seus gran é utilizado as para ilus a um tra s diferentes subproces ecisão utiliz quência do o. White (2005) e quadro 7. Tipos de conec em, ou sequ m ser realiza xo de mensa processo ebem mens s, texto e ou uxo. Este tip rar inputs e White (2005) e de destes el m esta ferram des diferenc como um m trar diferent balhotipos sso e zados fluxo Braconi e Ol ctores do BPM uência, adas no agens sagens utros po de Braconi e Ol lementos bá menta, send ciais. mecanismo tes capacida liveira (2009) MN FIG liveira (2009) ásicos, é po do esta carac para organ ades, divisõ ) GURA ) ossível con cterística de nizar visualm ões funciona nstruir e fácil mente ais ou 51 responsabilidades. No BPMN trabalha-se com duas raias principais. Os dois tipos de swimlane no BPD são piscina (pool) e raia (lane), conforme figura 10: Figura 10 – Swimlanes do BPD Fonte: Adaptado de White (2005) 3.3.3 Artefatos O BPMN foi projetado para permitir que os desenvolvedores de processos tenham certa flexibilidade para estender a notação de base, fornecendo a capacidade adicional de adequar situação ao contexto específico de modelagem. Podem ser adicionados ao diagrama infinitos tipos de artefatos para adequar a notação ao contexto dos processos de negócio que são modelados. A versão atual do BPMN pré-define apenas três tipos de artefatos, apresentado no quadro 8. Quadro 8 – Artefatos do BPMN ARTEFATO DESCRIÇÃO FIGURA Objeto de dado Serve para mostrar como os dados são requeridos ou produzidos pelas atividades. São conectados às atividades através dos conectores do tipo associação Grupo O artefato de grupo não afeta o fluxo do processo, mas pode ser usado para fins de documentação e análise. Anotação A anotação serve para que quem modele o processo com o BPMN possa fornecer mais informações ao leitor do diagrama Fonte: Adaptado de White (2005) e Braconi e Oliveira (2009) Pi sc in a (p oo l) R ai a( la ne ) R ai a( la ne ) 52 Os usuários podem criar seus próprios tipos de artefatos que acrescentem mais detalhes sobre como o processo é realizado, muitas vezes para mostrar as entradas e saídas das atividades no processo. No entanto, a estrutura básica do processo, conforme determinada pelas atividades, gateways e conectores, não é alterada com a adição de artefatos no diagrama. 3.4 Método para definição de requisitos 3.4.1 Requisitos do BPMS Storch e Pêssoa (2008) propõem uma taxionomia para a avaliação dos requisitos de um sistema BPM. Esta taxionomia agrupa funcionalidades para fins de análise de produtos, nas categorias de requisitos de um BPMS e é resumida no quadro 9. Quadro 9 – Taxionomia de requisitos de um BPMS Categoria Comentários 1 Tecnologia e arquitetura de software e integração com outros sistemas É a base para as demais categorias de requisitos. Incluem os elementos que permitem integrar e entender os diversos conjuntos de funções para atender as necessidades específicas. São críticos os modelos de dados que relacionam processos, atividades, pessoas e documentos entre si e os requisitos de flexibilidade de suas bibliotecas de funções, orientadas para objetos, para atender a cada uma das funcionalidades de workflow, ou GED, ou integração com outros sistemas. 2 Automação de fluxos de trabalho (workflow) Inclui todos os requisitos referentes à tramitação de processos, anexação de documentos e formulários de disparos de alarmes e notificações. Fazem parte desta categoria o controle de tempos de execução, tanto de tarefas humanas quanto de tarefas de sistemas, como instrumento para o gerenciamento de processos por parte dos donos de processos. 3 Modelagem gráfica de processos Inclui os requisitos para desenho de fluxos de trabalho, agregados às funcionalidades que permitem embutir inteligência nos elementos gráficos. Esta capacidade deve possibilitar fortalecer o papel dos analistas de processos, separando o seu papel dos analistas de sistemas. 53 Categoria Comentários 4 Recursos para gerenciamento dos processos Inclui o conjunto de requisitos para que os atores do processo com acesso permitido às informações dos processos possam monitorar o desempenho dos processos, através da visualização do cumprimento de suas atividades e dos indicadores de tempo de execução e atrasos. 5 Gerenciamento eletrônico de documentos e conteúdos Baseada nos GED inclui as funcionalidades de arquivamento de documentos e imagens, a estruturação de sistemas de pastas, a atribuição de metadados específicos para cada tipo de documento, a recuperação de informações em full text e em metadados, o controle de visualização de versões, o armazenamento em periféricos específicos. Tem papel importante com relação a questões de governança corporativa e processo de compliance. 6 Formulários eletrônicos Compreende requisitos ligados à criação e uso de formulários em meio digital. 7 Captura, processamento e impressão de documentos Inclui requisitos ligados à necessidade de acolher documentos em papel, que necessitam de recursos de digitalização por scanner para poderem ser convertidos em imagem digital. 8 Integração e interoperabilidade com outros sistemas Poderia estar incluída na primeira categoria, mas é destacada por ser um dos elementos que diferenciam o BPMS dos antigos sistemas de workflow. Compreende os requisitos de aderência aos padrões estabelecidos e emergentes para interoperabilidade de sistemas que são aqueles que permitem ao BPMS interfacear com os mais diversos sistemas. 9 Segurança lógica e garantia de privacidade Inclui requisitos destinados a assegurar a autenticidade e a segurança do acesso a informações e documentos que afetam as transações e documentos tratados nas funcionalidades, além do registro de todas as transações para garantir rastreabilidade e responsabilidade do processo. Fonte: Adaptado de Storch e Pêssoa (2008) 3.4.2 Outros requisitos não funcionais Os requisitos apresentados acima apresentam tanto requisitos funcionais quanto requisitos não-funcionais. No entanto, alguns aspectos tratados na norma ISO-9126, no que diz respeito á especificação de requisitos não funcionais, não são tratados na taxionomia apresentada no item anterior. 54 Os requisitos não funcionais que correspondem a aspectos da qualidade descritos pela norma ISO-9126 são apresentados por Paula Filho (2009). Estes requisitos são divididos em subcategorias conforme o quadro 10. Quadro 10 – Propostas da ISO-9126 para requisitos não-funcionais CATEGORIA SUBCATEGORIA DESCRIÇÃO Funcionalidade Acurácia Correlação dos resultados Interoperabilidade Capacidade de interação com outros produtos especificados Segurança do acesso Resistência ao acesso não autorizado Confiabilidade Maturidade Frequência de falhas Tolerância a falhas Capacidade de operação parcial em presença de falhas Recuperabilidade Tempo e esforço necessários para restabelecer níveis de desempenho especificados Usabilidade Inteligibilidade Esforço para reconhecimento do conceito lógico Apreensibilidade Esforço para aprendizado da operação do produto Operacionalidade Esforço para operação do produto Manutenibilidade Analisabilidade Esforço necessário para diagnosticar problemas Modificabilidade Esforço necessário para modificar, adaptar ou corrigir problemas Estabilidade Riscos de efeitos inesperados por ocasião das modificações Testabilidade Esforço para validação do produto modificado Portabilidade Adaptabilidade Capacidade de adaptação a ambientes específicos Capacidade para ser instalado Esforço para instalação em ambiente especificado Conformidade Obediência a padrões de portabilidade Capacidade para substituir Esforço para substituir outro produto especificado Desempenho
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