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2011manual tratamento penitenciariointegrado

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Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
Ministério da Justiça 
 Departamento Penitenciário Nacional 
Diretoria do Sistema Penitenciário Federal 
 
 
Projeto BRA 05/038 
MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL 
 
 
MANUAL DE TRATAMENTO PENITENCIÁRIO INTEGRADO PARA O 
SISTEMA PENITENCIÁRIO FEDERAL: 
GESTÃO COMPARTILHADA E INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA 
 
 
 
MARIA EMILIA ACCIOLI NOBRE BRETAN 
Consultora 
 
 
MARIA CLÁUDIA CAPUANO VILLAR 
Consultora 
 
 
 
 
 
 
Brasília - 2011
2 
 
 
JOSÉ EDUARDO CARDOZO 
Ministro da Justiça 
 
 
AUGUSTO EDUARDO DE SOUZA ROSSINI 
Diretor-Geral do Departamento Penitenciário Nacional 
 
SANDRO TORRES AVELAR 
Diretor do Sistema Penitenciário Federal 
 
ROSANGELA PEIXOTO SANTA RITA 
Coordenadora-Geral de Tratamento Penitenciário do Sistema Penitenciário Federal 
 
 
 
Projeto PNUD BRA 05/038 
MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL 
 
 
 
MARIA CLÁUDIA CAPUANO VILLAR 
Consultora 
 
MARIA EMILIA ACCIOLI NOBRE BRETAN 
Consultora 
 
 
3 
 
SUMÁRIO 
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................05 
O PROJETO E O MANUAL: CONTEXTO, CONCEPÇÃO, APRESENTAÇÃO......06 
INTRODUÇÃO .........................................................................................................06 
APRESENTAÇÃO DO MANUAL E ORIENTAÇÕES PARA SUA LEITURA E 
UTILIZAÇÃO............................................................................................................19 
PRIMEIRA PARTE – FUNDAMENTOS LEGAIS E PRINCÍPIOS GERAIS PARA 
ORIENTAÇÃO DO TRATAMENTO PENITENCIÁRIO NO SPF..............................25 
1.1. Execução penal e tratamento penitenciário – fundamentos legais.................................25 
1.2. Tratamento penitenciário em direitos humanos .......................................................29 
1.3. Tratamento penitenciário integrado ........................................................................33 
1.4. Tratamento penitenciário no SPF: limites e possibilidades .......................................38 
SEGUNDA PARTE – EIXOS DE AÇÃO..................................................................51 
2.1. Educação e trabalho.............................................................................................60 
2.2. Saúde física e mental ....................................................................................... 73 
2.3. Arte, cultura e lazer .......................................................................................... 82 
2.4. Religião ............................................................................................................ 88 
2.5. Identidade, intimidade e assistência material ................................................... 93 
2.6. Informação, direito de queixa e assistência jurídica.......................................... 98 
2.7. Contato com o mundo exterior ....................................................................... 104 
TERCEIRA PARTE – PROGRAMA INDIVIDUALIZADOR DA PENA ..................111 
3.1. Conceitos centrais.......................................................................................... 111 
3.2. A individualização da pena............................................................................. 114 
3.3. Comissão técnica de classificação e a individualização da pena................... 117 
3.4. Exame/laudo criminológico .......................................................................123 
3.5. Fluxogramas .................................................................................................. 125 
CONCLUSÃO ........................................................................................................125 
ANEXOS ................................................................................................................130 
3.1. Anexo I – Portaria nº 063, de 08 de abril de 2009............................................131 
3.2. Anexo II – Portaria nº 287, de 14 de maio de 2010..........................................153 
3.3. Anexo III – Portaria nº 2065, de 12 de dezembro de 2007...............................155 
BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................158 
 
4 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
CF 88– Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
CGTP – Coordenadoria Geral de Tratamento Penitenciário e Saúde 
DEPEN/MJ – Departamento Penitenciário Nacional/Ministério da Justiça 
DISPF – Diretoria do Sistema Penitenciário Federal 
DP – Defensoria Pública 
DPU – Defensoria Pública da União 
IBCCrim – Instituto Brasileiro de Ciências Criminais 
ILANUD – Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito 
e Tratamento do Delinqüente 
IRW - Instituto Raoul Wallenberg de Direitos Humanos e Legislação Humanitária 
LEP – Lei de Execução Penal 
MJ – Ministério da Justiça 
PAD – Procedimento Administrativo Disciplinar 
PF – Penitenciária Federal 
PFCAT – Penitenciária Federal em Catanduvas/PR 
PFCG – Penitenciária Federal em Campo Grande/MS 
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 
PRONASCI - Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania 
RDD - Regime Disciplinar Diferenciado 
Regras Mínimas - Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de 
Reclusos 
SAP – Secretaria de Administração Penitenciária 
SPF – Sistema Penitenciário Federal 
5 
 
APRESENTAÇÃO 
O presente Manual é o Produto Final de Consultoria realizada no âmbito do Projeto 
PNUD BRA 05/03812. Apresenta-se aqui o desafio de abordar o combate da 
violência nas prisões e do crime organizado por meio de uma execução penal com 
o mínimo de impacto negativo sobre a pessoa do encarcerado. Desafio que, 
normalmente, já seria, difícil, e que ganha complexidade pelo locus diferenciado 
para o qual se dirige: o Sistema Penitenciário Federal. 
Com este intuito, são utilizados conceitos e práticas obtidas junto a fontes diversas, 
analisados e refletidos, que possam contribuir para o pensar do tratamento 
penitenciário3 como “política de garantia de direitos humanos, fator de redução de 
danos e minimização de vulnerabilidades que o sistema punitivo produz”. 
O presente documento é uma consolidação dos dois produtos finais4 previstos na 
Consultoria, quais sejam: “Documento com apresentação de Manual (diretrizes, 
instrumentais, referências e fluxogramas) para a gestão compartilhada das diversas 
ações no campo do tratamento penitenciário, a exemplo: assistência psicossocial, 
assistência educacional, laboral, social, assistência à saúde e assistência jurídica”5 e 
“Documento com apresentação de Manual (diretrizes, instrumentais, referencias e 
fluxogramas) interligados de procedimentos de políticas de tratamento penitenciário, 
com ênfase no processo de individualização da pena”6. 
 
1
 Para uma descrição do Projeto e seus objetivos, vide item “O Projeto PNUD BRA 05/038 - Modernização do 
Sistema Penitenciário Nacional”, adiante. 
2
 A consultoria se realizou entre os meses de fevereiro e agosto de 2009 e se desenvolveu no âmbito da 
Coordenadoria Geral de Tratamento Penitenciário do Sistema Penitenciário Federal durante a gestão da 
Coordenadora-Geral Rosangela Peixoto Santa Rita e sob sua coordenação direta. O presente Manual reflete a 
concepção de tratamento penitenciário desenvolvida durante esta gestão. 
3
 Apesar de não se considerar o termo ‘tratamento penitenciário’ mais adequado, por remeter a questão do 
crime e da criminalidade a uma concepção médica, o termo será utilizado aqui, até mesmo por fazer referência 
à própria nomenclatura do setor contratante dentro da DISPF/DEPEN/MJ, que relaciona o termo a uma 
questão maispropositiva de garantia de direitos. 
4
 No âmbito da Consultoria foram apresentados, ainda, dois produtos preliminares: diagnóstico do tratamento 
penitenciário no sistema penitenciário federal e estudo comparativo nacional e internacional e consolidação de 
conceitos e práticas de gestão de tratamento penitenciário. 
5
 Consultora Maria Emilia Accioli Nobre Bretan. Esse documento compõe a Parte Introdutória, Parte 1 e Parte 
2 do Presente Manual. 
6
 Consultora Maria Cláudia Capuano Villar. Este documento compõe a Parte 3 do Presente Manual. 
6 
 
O PROJETO E O MANUAL: 
CONTEXTO, CONCEPÇÃO, APRESENTAÇÃO 
 
Introdução 
 
O Sistema Penitenciário Federal foi criado em 2006 sob a administração do 
Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (DEPEN/MJ). Sua 
criação representa uma resposta concreta do Governo Federal às preocupações 
sociais com a Segurança Pública no Brasil. É ainda, um sistema novo, cujas práticas 
vêm sendo construídas em conjunto por todos os que dele participam: Diretoria 
(DISPF/DEPEN/MJ), diretores de unidades, servidores e, porque não dizer, os 
presos. 
Como em toda nova empreitada, são necessários esforços múltiplos, realizados por 
muitos parceiros; além disso, importantes correções de rota devem ser realizadas ao 
longo do novo caminho, sempre com o intuito de que se concretize da melhor 
maneira possível. Por mais que se tenham vivenciado e estudado múltiplas outras 
experiências, somente na realidade concreta de um novo desafio é que se podem 
aferir acertos e erros, reavaliar, e dar os novos passos necessários. 
Na busca de contribuir para a construção deste novo Sistema Penitenciário, 
pensado em moldes até então inéditos no Brasil, este Manual nasce do fruto da 
união de esforços de diversas instituições e pessoas. PNUD, DEPEN/MJ, 
CGTP/DISPF se unem aos servidores do Sistema Penitenciário Federal, nas 
diversas categorias a exemplo dos Agentes Penitenciários Federais, Diretores, 
Especialistas em Assistência Penitenciária e Técnicos de Apoio à Assistência 
Penitenciária para refletir a respeito das práticas de Tratamento Penitenciário 
necessárias e possíveis dentro desse rigoroso sistema. 
Dentro de um Sistema tão novo, que vem sendo pensado e repensado 
cotidianamente, esperamos que o material que ora se apresenta seja apenas um 
ponto de partida para práticas e reflexões, oferecendo parâmetros mínimos para o 
desenvolvimento do Tratamento Penitenciário Federal. Oportuno registrar que o 
7 
 
presente Manual foi tema de debate em reuniões de planejamento da CGTP, e 
apresenta, também, conteúdos fruto da revisão realizada por Especialistas em 
Assistência Penitenciária, tendo como coordenação local a equipe lotada na 
Penitenciária Federal em Mossoró-RN. 
 
O Projeto PNUD BRA 05/038 - Modernização do Sistema Penitenciário Nacional 
“O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento é a rede global de 
desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, presente em 166 países. (...) 
No Brasil há mais de 40 anos, criando e implementando projetos, o PNUD busca 
responder aos desafios específicos do Brasil e às demandas do país através de uma 
visão integrada de desenvolvimento.7” 
Desde o ano 2000, o PNUD vem considerando, entre os fatores determinantes para 
a promoção do desenvolvimento do Brasil, “a questão do apoio à modernização do 
Sistema de Justiça Brasileiro, compreendido como o sistema judiciário, prisional e de 
segurança pública.”8. A não confiabilidade do Sistema de Justiça Brasileiro é 
apontada por outros organismo internacionais como um dos maiores entraves para 
investimentos no país9, o que interfere de maneira direta no desenvolvimento. 
Inserido neste contexto, o Projeto PNUD BRA 05/038 - Modernização do Sistema 
Penitenciário Nacional tem o objetivo de “desenvolver e consolidar um conjunto de 
materiais e instrumentos político-pedagógicos que reforcem perante a Sociedade e 
as Instituições um sentido de aplicação da Lei Penal identificado com essas 
preocupações solidárias e emancipatórias, na perspectiva de transformar a 
execução penal de um espaço de violência num espaço de promoção e defesa dos 
Direitos Humanos”10. 
 
7
 Fonte: site do PNUD Brasil (http://www.pnud.org.br/pnud/#pnud_onu) 
8
Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Projeto de Modernização do Sistema 
Penitenciário Nacional (PNUD BRA 05/038). Brasília, 2005, p.4. Disponível em 
http://www.pnud.org.br/projetos/governanca/visualiza.php?id07=254 
9
 Banco Mundial (org.) Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2005: Um melhor clima de investimento 
para todos. São Paulo: Editora Singular, 2005. 
10 
fonte: PNUD, Projeto PNUD BRA 05/038, op. cit. 
8 
 
Assim, são objetivos específicos do projeto “o desenvolvimento de materiais e 
instrumentos de subsídio a intervenções do DEPEN e das Unidades da Federação 
na conformação do sistema punitivo; a criação de condições culturais perante os 
sujeitos e instituições protagonistas da execução penal, no sentido de facilitar a 
implementação do Plano Gerencial do Departamento Penitenciário Nacional; o 
fortalecimento institucional do DEPEN e dos demais órgãos da execução das penas, 
dotando-os de modelos e instrumentos gerenciais, bem como de sistemas de 
monitoramento e avaliação das suas políticas”. 
Em consonância com esta ótica, o presente Manual, resultado de Consultoria 
desenvolvida no âmbito do mencionado Projeto, é um instrumental que deve servir 
para subsidiar as políticas de Tratamento Penitenciário no Sistema Penitenciário 
Federal, e que incorpora, em seu conteúdo, princípios e diretrizes de uma execução 
penal calcada nos instrumentos internacionais de Direitos Humanos. 
 
O Pronasci: Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania 
O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) é 
desenvolvido pelo Ministério da Justiça e “articula políticas de segurança com ações 
sociais; prioriza a prevenção e busca atingir as causas que levam à violência, sem 
abrir mão das estratégias de ordenamento social e segurança pública”, com o 
objetivo de “promover novas estratégias de enfrentamento à criminalidade no 
país”.11. 
Valorização dos profissionais de segurança pública; a reestruturação do sistema 
penitenciário; o combate à corrupção policial e o envolvimento da comunidade na 
prevenção da violência são os principais eixos do Programa, que também tem como 
público-alvo presos ou egressos do sistema prisional. 
 
11 http://www.mj.gov.br/pronasci/data/Pages/MJF4F53AB1PTBRNN.htm 
9 
 
A ações previstas no Programa são realizadas por meio de convênios, contratos, 
acordos e consórcios celebrados com estados, municípios, organizações não-
governamentais e organismos internacionais. 
Algumas ações do Pronasci são voltadas especificamente para o sistema 
penitenciário. Desse modo, é possível inserir o Sistema Penitenciário Federal, os 
profissionais que nele atuam e os presos, nas ações previstas no Programa. Com 
esse objetivo, ao longo deste Manual são destacadas ações que podem ser 
adequadas ao SPF. 
10 
 
O Sistema Penitenciário Federal/DEPEN/MJ 
Criação do Sistema Penitenciário Federal: A concepção, criação e organização 
do SPF se deram num momento crítico do sistema penitenciário brasileiro. Durante 
toda a década de 1990, até meados dos anos 2000, o sistema prisional brasileiro 
caracterizou-se pelo agravamento das condições indignas e/ou desumanas de 
confinamento, por rebeliões, tortura e corrupção, entre outros graves problemas. 
Operando em condições alarmantes, dentre elas o confinamento de presos em 
espaço insuficiente e inadequado, a situação no sistema penitenciário brasileiro 
ainda se agravava pelodespreparo dos agentes penitenciários e profissionais de 
assistência trabalhando nos presídios. Baixa remuneração, falta de formação 
especializada, inexistência de planos de cargos e salários, as péssimas condições 
de trabalho e a exposição permanente a situações de risco completavam o 
quadro12. 
Beneficiados pela ineficiência do Estado na garantia dos direitos mínimos dos 
reclusos dentro das unidades prisionais, nesse período cresceram e se fortaleceram 
diversos grupos com atuação e articulações dentro e fora das prisões13. 
Entre os anos de 2001 e 2003, diversas ocorrências graves em sistemas 
penitenciários estaduais deixaram claro, para os Governos, que era preciso tomar 
medidas imediatas para isolar os líderes de facções criminosas dos demais presos, 
de modo a garantir, ainda que somente de maneira emergencial, a paz no sistema 
prisional brasileiro e devolver a sensação de segurança à sociedade livre. É nesse 
contexto que surge o Regime Disciplinar Diferenciado14 (RDD), e é também nesse 
 
12
LEMGRUBER, Julita (org.) Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública, Federação das 
Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 
Projeto: arquitetura institucional do sistema único de segurança pública. Grupo de Trabalho, sistema 
Penitenciário, 2003. Polígrafo. Disponível em 
 http://www.dhnet.org.br/redebrasil/executivo/nacional/s_arq_intro.htm 
13
 Cf. FREIRE, Christiane Russomano. A violência do sistema penitenciário brasileiro contemporâneo: o caso RDD 
(regime disciplinar diferenciado). São Paulo: IBCCRIM, 2005, p. 123 e ss. 
14
Criado pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003, autorizando o isolamento celular por um período máximo de 360 
dias, “sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da 
pena aplicada prorrogáveis por igual período”, entre outras disposições (cf. nova redação do artigo 52 da LEP). 
11 
 
contexto que se estabelecem as diretrizes para a criação do Sistema Penitenciário 
Federal. 
A Lei de Execução Penal (LEP - Lei 7210/84) já autorizava, na redação original do 
§1º do artigo 86 a construção, pela União Federal, “de estabelecimento penal em 
local distante da condenação para recolher, mediante decisão judicial, os 
condenados à pena superior a 15 (quinze) anos, quando a medida se justifique no 
interesse da segurança pública ou do próprio condenado”. Com a reforma da LEP 
em 2003, a redação do artigo passa a autorizar a construção de unidades com a 
mesma finalidade, mas sem a restrição do tempo de condenação, verbis: “§ 1o A 
União Federal poderá construir estabelecimento penal em local distante da 
condenação para recolher os condenados, quando a medida se justifique no 
interesse da segurança pública ou do próprio condenado15”. 
Para a criação do SPF em 2006, foi necessária uma reestruturação do DEPEN/MJ, 
que ficou encarregado de administrá-lo. Até então, o DEPEN/MJ não administrava 
instituições prisionais, mas tão somente coordenava as políticas públicas do 
Sistema Penitenciário Nacional, bem como era responsável pelo repasse e 
fiscalização de verbas para os Estados. 
O Sistema Penitenciário Federal “foi concebido para ser um instrumento contributivo 
no contexto nacional da segurança pública, a partir do momento que isola os presos 
considerados mais perigosos do País. Isto significa que tal institucionalização veio 
ao encontro sóciopolítico da intenção de combater a violência e o crime organizado 
por meio de uma execução penal diferenciada16”. 
A criação do SPF se dá em consonância com o movimento de “ressignificação da 
noção de disciplina carcerária17”, consistente no recrudescimento da disciplina e na 
criação de uma nova modalidade de regime de cumprimento de pena, o RDD. A 
 
15
Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003 
16
fonte: site do DEPEN/MJ 
17 A expressão é de FREIRE, op cit., p. 154. Em consonância com este entendimento, note-se que o SPF 
também pode, havendo necessidade, proporcionar condições para o cumprimento de pena em RDD, sejam os 
presos condenados ou provisórios, conforme dispõe o Decreto nº 6.049, de 27 de fevereiro de 2007, que 
aprovou o Regulamento Penitenciário Federal. 
12 
 
sua criação e organização devem, necessariamente, ser analisadas nesse contexto, 
o que fica claro quando se observam, objetivamente, a arquitetura de suas 
unidades já construídas, o rigoroso regime de execução de pena e os rígidos 
procedimentos de segurança a que se submetem todos os que circulam ou 
permanecem nas Penitenciárias Federais (PFs). 
Concepção do Sistema Penitenciário Federal: O Sistema Penitenciário Federal 
(SPF), dentro do DEPEN/MJ, “foi criado com a finalidade de ser o gestor e 
fiscalizador das Penitenciárias Federais em expresso cumprimento ao contido na 
Lei de Execução Penal - LEP, especialmente em seu artigo 72, parágrafo único, 
que lhe confere essa incumbência de forma exclusiva”18. 
O SPF foi concebido em duas etapas bem distintas. A primeira etapa “compreende 
as primeiras unidades do Sistema Penitenciário Federal, acima referidas, 
delineando-se um segundo momento, por meio do qual objetiva-se a construção de 
uma unidade penal federal para cada Estado, além do Distrito Federal” 19 
As unidades já construídas têm como objetivo oferecer à sociedade “um aparato de 
segurança e tranqüilidade o qual servirá, também, para garantir a vida daqueles 
hoje ameaçados pelas facções criminosas.” Com isso, busca-se atender ao previsto 
no artigo 86 § 1° da LEP. 
Ainda segundo Wilson Damázio, ex-diretor do SPF, “a proposta principal do 
Sistema Penitenciário Federal é manter sob custódia os ases da criminalidade 
nacional e internacional para que eles não interfiram nos presídios de seus estados 
nem tenham condições de comandar organizações criminosas”. “Há ainda o 
propósito de proteger os presos, condenados ou provisórios, que não podem ficar 
 
18
fonte: site do DEPEN/MJ. 
19
 Palestra proferida em evento organizado pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, transcrita em 
KUEHNE, Maurício. Sistema Penitenciário: novas perspectivas. In Relatório do Seminário Segurança Pública: 
uma abordagem sobre o sistema prisional. Radiografia do Sistema Prisional: perspectivas e desafios; o universo 
prisional; o presídio, a sociedade e as instituições. Porto Alegre: Assembléia Legislativa, 2007. p. 37.KUEHNE, 
Maurício. Op. cit. p. 37 
13 
 
em seus estados por conta de disputas envolvendo organizações criminosas”, 
completa
20
. 
Num segundo momento, a construção de unidades do SPF em cada estado da 
Federação destinar-se-á a abrigar os presos condenados pela Justiça Federal. 
É possível, portanto, entender o papel do SPF em dois sentidos, ambos 
convergentes para uma melhoria do sistema penitenciário nacional. Desse modo, 
pode-se dizer que o Sistema Penitenciário Federal tem como missão a 
reconstrução de um desenho para a gestão prisional no país. 
Regime Jurídico do Sistema Penitenciário Federal: Apesar de suas 
peculiaridades, o Sistema Penitenciário Federal obedece, inicialmente, ao mesmo 
regime jurídico geral de todo o Sistema Penitenciário Nacional: as Regras Mínimas 
das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos, a Constituição Federal de 1988 
e a Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984). 
O SPF não deve e nem precisa ter um regime legal diferenciado da LEP. A LEP não 
representa entraves para a execução de penas em qualquer tipo de 
estabelecimento prisional; pelo contrário, apresenta parâmetros mínimos e 
garantias de que os condenados não terão nada mais que sua liberdade deir e vir 
cerceada pelo Estado de Direito. 
Ainda que o objetivo do Sistema Penitenciário Federal seja, em primeiro lugar, a 
manutenção da segurança no sistema nacional, é preciso garantir aos reclusos, no 
mínimo, todos os direitos previstos na LEP. 
Há, ainda, toda a normativa que vem sendo editada especificamente para este novo 
Sistema, que se compõe, até a edição deste Manual, das normas listadas abaixo. 
No anexo I, pela vinculação direta com este Manual, serão descritas apenas as 
Portarias nº 63/2009, que trata do manual das assistências; a Portaria nº 287/2010, 
 
20
Entrevista citada em ABREU JUNIOR, Jesus Cassio de. Sistema Penitenciário Federal reduz rebeliões 
(Manhuaçu MG 31/12/2008). Site: Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em 
http://www.forumseguranca.org.br/blogs/sistema-penitenciario-federal-reduz-rebelioes. Consulta em 
27/04/09. 
14 
 
que acrescenta os artigos 66-A, 66-B e 66-C à Portaria nº 63/2009 e a Portaria nº 
2.065/2007, que define os procedimentos de atuação da Comissão Técnica de 
Classificação. 
� Regulamento do Sistema Penitenciário Federal 
Decreto nº 6.049, de 27 de fevereiro de 2007. Aprova o Regulamento Penitenciário 
Federal. Presidência da República. Casa Civil. 
� Inclusão e Permanência de Reclusos no Sistema Penitenciário Federal 
Lei nº 11.671, de 8 de maio de 2008. Dispõe sobre a transferência e inclusão de 
presos em estabelecimentos penais federais de segurança máxima e dá outras 
providências. 
Decreto nº 6.877, de 18 de junho de 2009. Regulamenta a Lei nº 11.671, de 8 de 
maio de 2008, que dispõe sobre a inclusão de presos em estabelecimentos penais 
federais de segurança máxima ou a sua transferência para aqueles 
estabelecimentos, e dá outras providências. Presidência da República. 
Portaria nº 1.191, de 19 de junho de 2008. Disciplina os procedimentos 
administrativos a serem efetivados durante a inclusão de presos nas penitenciárias 
federais. Ministério da Justiça. 
� Assistências 
Portaria nº 63, de 08 de abril de 2009. Aprova o Manual de Assistências do Sistema 
Penitenciário Federal. DISPF/DEPEN/MJ. 
Portaria nº 120 de 19 de setembro de 2007. Disciplina a prestação da Assistência 
Religiosa nos estabelecimentos penais federais. DISPF/DEPEN/MJ. 
Portaria nº 122, de 19 de setembro de 2007. Disciplina o procedimento de visita aos 
presos nos estabelecimentos penais federais. DISPF/DEPEN/MJ. (obs: Esta Portaria 
está em processo de revisão). 
15 
 
Portaria nº 62 de 07 de abril de 2009. Dispõe sobre o tratamento na saúde e 
padronização de medicamentos. DISPF/DEPEN/MJ. 
Portaria nº 123, de 19 de setembro de 2007. Disciplina os objetos e materiais cuja 
posse é permitida pelos presos nas penitenciárias federais. DISPF/DEPEN/MJ 
Portaria nº 1.190, de 19 de junho de 2008. Regulamenta a visita íntima no interior 
das penitenciárias federais. Ministério da Justiça. 
� Servidores do Sistema Penitenciário Federal 
Lei nº 11.907, de 02 de fevereiro de 2009. Dispõe sobre a reestruturação da 
composição remuneratória das Carreiras de (...), reestrutura a Carreira de Agente 
Penitenciário Federal, de que trata a Lei no 10.693, de 25 de junho de 2003; cria as 
Carreiras de Especialista em Assistência Penitenciária e de Técnico de Apoio à 
Assistência Penitenciária e dá outras providências. Presidência da República. 
� CTC 
Portaria nº 2.065, de 12 de dezembro de 2007. Define os procedimentos da 
Comissão Técnica de Classificação e dá outras providências. Ministério da Justiça. 
� Segurança e Disciplina 
Portaria nº 157, de 05 de novembro de 2007, que define os procedimentos de revista 
nos estabelecimentos penais federais. DEPEN/MJ. 
Portaria nº 38, de 10 de março de 2008, que define os procedimentos de apuração 
de faltas disciplinares. DISPF/DEPEN/MJ. 
Estrutura administrativa e organograma do Sistema Penitenciário Federal: Ao 
ser concluída, a primeira etapa de implantação do SPF contará com cinco unidades 
prisionais de segurança máxima especial localizadas em Catanduvas (PR) e 
Campo Grande (MS) (inauguradas em 2006), Mossoró (RN) e Porto Velho (RO) 
(inauguradas em 2009) e Brasília (DF) (em construção). 
16 
 
Segundo dispõe o Decreto nº 6.049, de 27 de fevereiro de 2007, que aprova o 
Regulamento Penitenciário Federal, a Diretoria do Sistema Penitenciário Federal é 
a responsável pela gestão do Sistema Penitenciário Federal, tendo como órgãos 
auxiliares a Coordenação-Geral de Inclusão, Classificação e Remoção, a 
Coordenação-Geral de Tratamento Penitenciário e Saúde, a Coordenação-Geral de 
Informação e Inteligência Penitenciária, a Corregedoria-Geral e a Ouvidoria. 
As Penitenciárias Federais: Os estabelecimentos penais federais têm a seguinte 
estrutura básica: 
• Diretoria do Estabelecimento Penal; 
• Divisão de Segurança e Disciplina; 
• Divisão de Reabilitação; 
• Serviço de Saúde; e 
• Serviço de Administração. 
 
Há, ainda, as seguintes atribuições na organização interna das unidades: 
 
• Chefia de plantão21; 
• Chefia de vivência22; 
• Chefia de Inteligência; 
• Chefia de RH; 
• Chefia de Almoxarifado; 
• Chefia de Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD); 
• Chefia de Prontuário/Jurídico. 
 
 
 
21
A Chefia de plantão, ligada à Chefia de Segurança é responsável pela escala dos agentes no plantão, 
fiscalização das atividades no plantão, relatórios do plantão, etc. 
22
A Chefia de vivência é responsável por coordenar retiradas dos presos para banho de sol, visitas, 
fornecimento de alimentação etc. 
17 
 
A Coordenação-Geral de Tratamento Penitenciário e Saúde do Sistema 
Penitenciário Nacional: “A Coordenação-Geral de Tratamento Penitenciário – 
CGTP foi criada com o objetivo de planejar, coordenar e orientar a execução de 
políticas públicas voltadas às garantias dos presos do Sistema Penitenciário 
Federal, em observância aos procedimentos estabelecidos pela Lei de Execução 
Penal, pelo Regulamento Penitenciário Federal e legislação específica vigente”. Tem 
como “papel nuclear fomentar a política de individualização da pena e ser um órgão 
de articulação e elaboração de políticas, programas e projetos nas áreas da 
assistência à saúde, material, jurídica, educacional, laboral, social, psicológica e 
religiosa aos presos custodiados nas Penitenciárias Federais” 23. 
A definição acima apresentada evidencia a complexidade do desafio designado à 
CGTP: o tratamento penitenciário como “política de garantia de direitos humanos, 
fator de redução de danos e minimização de vulnerabilidades que o sistema 
punitivo produz”, no seio de uma estrutura que, “além de recente, carrega um 
arcabouço normativo contemporâneo das novas finalidades punitivas
24
”. 
No sentido de atingir as suas finalidades, a CGTP vem empreendendo esforços 
contínuos para elaborar e garantir o programa individualizador da pena e oferecer 
as políticas acima descritas. Tais esforços já vêm se materializando em diversas 
ações e projetos, como Ciclos de Debates, oferta de ensino regular nas unidades, 
de cursos à distância, em parceria com o SENAI, e oficina de costura de bolas 
(projeto Pintando a Liberdade, em parceria com o Ministério do Esporte)25. 
O presente Manual soma-se às iniciativas acima, com a intenção de ampliar tais 
ações e consolidar práticas e conceitos de Tratamento Penitenciário no âmbito do 
SPF. 
Trata-se de uma oportunidade de construir novos parâmetros de Execução Penal 
em nível nacional, baseados na dignidade humana e na garantia dos direitos 
 
23
 Fonte: site do DEPEN/MJ 
24
Fonte: site do DEPEN. 
25
Informações mais detalhadas podem ser obtidas no site do DEPEN. 
18fundamentais consubstanciados na CF, na LEP e nos instrumentos internacionais. 
Acima de tudo, é preciso ter confiança de que o ser humano é capaz de superar as 
práticas ou condições que o levaram ao cárcere, sendo capaz, também, de planejar 
e executar projetos de vida que lhe proporcionem uma inserção social digna. 
Tratamento Penitenciário no Sistema Penitenciário Federal: No tocante ao 
Tratamento Penitenciário, o objetivo do Sistema Penitenciário Federal é “inserir no 
Brasil uma metodologia que sirva de modelo aos estados, por isso queremos 
acentuar aspectos relacionados ao relacionamento do Agente Penitenciário Federal 
com o preso, aos direitos humanos e à cidadania" (...) "Não se trata de privilégio 
aos presos, mas de garantir os direitos que a Lei de Execução Penal prevê, entre 
os quais alimentação e vestuário, assistência à saúde, jurídica, educacional, social 
e religiosa, além da visita de parentes"
26
. 
Desse modo, o SPF deve se estabelecer como um paradigma nacional em matéria 
de tratamento penitenciário. Contudo, é preciso ter em mente os limites e 
possibilidades, o contexto e a prática profissional para desenvolver programas e 
projetos de tratamento penitenciário dentro desse peculiar sistema27. 
 
26
Entrevista contida na notícia: Definidas as regras para o sistema penitenciário federal. Site: Direito do 
Estado.com.br. Data: 28/4/2006. Disponível em 
http://www.direitodoestado.com/noticias/noticias_detail.asp?cod=680. consulta em 01/04/09. 
27
 Confira no item Limites e possibilidades do Tratamento Penitenciário no SPF. 
19 
 
APRESENTAÇÃO DO MANUAL E ORIENTAÇÕES PARA SUA 
LEITURA E UTILIZAÇÃO 
 
A quem se destina? Este Manual foi concebido para que possa ser lido, 
compreendido e utilizado por todos os atores envolvidos, direta ou indiretamente, na 
política de Tratamento Penitenciário do Sistema Penitenciário Federal. Dentre eles, 
podemos citar: 
• Diretores das Penitenciárias Federais e Chefes(as) de Setor; 
• Especialistas em Assistência Penitenciária: médicos, odontólogos, 
enfermeiros, farmacêuticos, assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, 
terapeutas ocupacionais; 
• Técnicos de Apoio à Assistência Penitenciária: Técnicos de enfermagem e 
Auxiliares de Consultório Dentário; 
• Agentes Penitenciários Federais; 
• Membros do Conselho da Comunidade, Pastorais Carcerárias e demais 
entidades que prestam assistência aos presos; 
• Juízes, Promotores de Justiça e Defensores públicos ou particulares. 
• Prestadores de Serviços, Professores e monitores. 
Como ficará claro, ao longo do documento, alguns dos atores acima citados são 
responsáveis pela promoção e garantia dos direitos dos reclusos, direitos esses 
que devem ser contemplados em uma política de Tratamento Penitenciário 
comprometida com os Direitos Humanos. Outros atores, além de serem co-
responsáveis pela promoção e garantia, são também são responsáveis pelo 
controle das políticas e das ações desenvolvidas pelos demais. 
Este Manual deve servir, portanto, tanto como ponto de partida para elaboração de 
políticas e práticas (promoção e garantia de direitos), quanto como fonte de critérios 
a serem observados no controle dessas mesmas políticas e práticas. Observa-se a 
necessidade de se realizarem reuniões periódicas, envolvendo todos os setores da 
penitenciária, a fim de se socializar as informações contidas neste Manual e, além 
20 
 
disso, colaborar na construção de agenda de trabalho que contemple todas as 
especificidades dos profissionais que atuam nas Penitenciárias Federais. 
Concepção e estrutura: Este Manual foi estruturado conforme uma concepção de 
tratamento penitenciário baseada nos Direitos Humanos e na atuação integrada 
entre seus diversos atores. 
Na Primeira Parte do trabalho são apresentados os princípios gerais que devem 
informar toda e qualquer prática de Tratamento Penitenciário. Conceitos ligados ao 
Tratamento Penitenciário e sua inserção no sistema internacional de Direitos 
Humanos, na ordem jurídica nacional e, especificamente, no corpo normativo do 
Sistema Penitenciário Federal, são apresentados também nesta primeira parte. 
O conceito de Tratamento Penitenciário Integrado é apresentado a seguir. Junto 
com o conceito de Tratamento Penitenciário em Direitos Humanos, ele é um 
norte fundamental para a elaboração e execução da política de Tratamento 
Penitenciário no Sistema Penitenciário Federal. 
Limites e possibilidades do Tratamento Penitenciário no Sistema Penitenciário são 
apresentados a seguir. Os limites compreendem o perfil do recluso, a arquitetura 
prisional e a segurança; as possibilidades de superação desses limites residem, 
essencialmente, na formação e atuação dos atores de execução e Tratamento 
Penitenciário, compreendendo todos os envolvidos, em todas as esferas de atuação. 
Na Segunda Parte são apresentados os sete eixos temáticos que compõem o 
Tratamento Penitenciário. São eles: 
• Educação e Trabalho; 
• Saúde física e mental; 
• Arte, Cultura e Lazer; 
• Religião; 
• Informação, Direito de Queixa e Assistência Jurídica; 
• Identidade, Intimidade e Assistência Material; 
• Contatos com o mundo exterior. 
21 
 
Em cada eixo temático são apresentados os seguintes conteúdos28: 
• Normas legais em vigor29; 
• Diagrama ilustrativo do Tratamento Penitenciário Integrado; 
• Conceitos centrais; 
• Diretrizes de ação; 
• Procedimentos básicos e fluxogramas; 
• Tratamento Penitenciário em RDD. 
Apesar das temáticas da segurança e de gerenciamento de riscos serem próprias ao 
espaço prisional – em especial no que concerne a estabelecimentos de segurança 
máxima - não lhes foi destinado um eixo específico. A questão da segurança, 
todavia, se faz presente em todos os momentos, e será, inevitavelmente, levada em 
conta na concepção de Tratamento Penitenciário no SPF. 
Importante! O agrupamento por eixos tende sempre a ser um pouco redutor da 
complexidade do Tratamento Penitenciário. Muitas iniciativas, ações, práticas, 
políticas, pensadas e formuladas seja em nível da Unidade Central (CGTP) ou pelo 
protagonismo da equipe de tratamento penitenciário em âmbito descentralizado 
(Divisão de Reabilitação e Serviço de Saúde), podem ser classificadas em mais de 
um eixo. Isso faz todo o sentido quando se pensa em uma concepção de 
Tratamento Penitenciário Integrado. 
Por esta razão, orienta-se o leitor a ler e utilizar este Manual com os dois grandes 
princípios que são apresentados na parte introdutória sempre em mente: 
Tratamento Penitenciário Integrado em Direitos Humanos. 
Na Terceira Parte são apresentados conceitos, diretrizes, procedimentos e 
fluxogramas para a individualização da pena e atuação da CTC. 
 
28
 Para uma especificação desses conteúdos, remetemos o leitor à Introdução contida na Segunda Parte deste 
Manual. 
29
 É bom lembrar que o leitor deve ficar sempre atento a novas normas que tenham sido editadas após a 
publicação deste Manual, considerando-se que o arcabouço normativo específico para o Sistema Penitenciário 
Federal ainda está sendo editado. 
22 
 
Orientações para leitura e utilização deste Manual: O conteúdo ora apresentado 
não se esgota em si mesmo: representa um ponto de partida. A partir de sua 
leitura, busca-se estimular, seja nas equipes e profissionais que formulam as 
políticas de Tratamento Penitenciário no SPF, seja nas equipes e profissionais que 
as colocam em prática, a contínua reflexão e o repensar de suas práticas. 
Sendo assim, este Manual apresenta parâmetros mínimos e orientações para a 
criação, desenvolvimento e execução de políticas, programas, projetos e ações de 
Tratamento Penitenciário no Sistema Penitenciário Federal. 
Para além da mera leiturae implementação de suas diretrizes no Sistema 
Penitenciário Federal, pode-se utilizar este Manual como disparador de outras 
iniciativas e propostas. 
Como aproveitá-lo melhor? Além dos espaços institucionais já existentes, como as 
reuniões da CTC30, podem ser criados espaços e momentos para reflexão teórica 
e prática em grupo: 
� Momentos de reflexão teórica: discussão dos princípios e conceitos 
teóricos apresentados, ou seja, dos pressupostos que norteiam a política de 
Tratamento Penitenciário em geral e, especificamente, no SPF. 
Objetivo: a apropriação crítica de conceitos e princípios contidos no 
Manual pelas diversas categorias de profissionais que atuam no Sistema 
Penitenciário Federal. 
� Momentos de reflexão teórico-prática: discussão da prática à luz dos 
princípios e conceitos apresentados. Repensar da prática a partir dos 
conceitos; repensar dos conceitos a partir da prática. 
Objetivo: estimular a colocação em prática das orientações contidas no 
Manual; proporcionar a rediscussão constante das ações a partir dos 
 
30
 Sugestão de metodologia específica para o trabalho das CTCs e outras indicações estão também contidas 
neste Manual, na Terceira Parte. 
23 
 
êxitos e dificuldades encontrados; estimular a elaboração de propostas de 
ação a partir das reflexões. 
Esses grupos podem se constituir, por exemplo, a partir de demandas dos atores 
do Tratamento Penitenciário, a partir da necessidade de formação de equipes para 
ações ou projetos específicos, ou a partir de situações ocorridas na prática 
cotidiana que demandem a necessidade de reorientação das práticas como um 
todo ou da adequação da prática geral para situações específicas (por exemplo, 
para os presos em RDD). 
� Método: O método é o modo como se organizam trabalhos, pesquisas, 
encontros, a partir de princípios e intenções anteriormente fixados e dos 
objetivos que se deseja atingir. 
Apresentamos abaixo alguns princípios e bases de um método de trabalho em 
grupo, seja para encontros da CTC, seja para outros grupos de trabalho. O próprio 
grupo pode adotar outras formas de organização que forem mais convenientes e 
adequadas a cada objetivo. 
� Periodicidade dos encontros e duração do grupo: na primeira reunião 
deve ser prevista a duração estimada do grupo e a periodicidade das 
reuniões. 
A duração do grupo (06 meses, 01 ano, indeterminada) deve se dar conforme o 
objetivo a ser atingido. Pode-se, portanto, formar um grupo para uma ação 
específica, que terá duração mais curta, ou um grupo de discussão permanente. 
Esse tempo de duração pode ser revisto (para mais ou para menos) conforme o 
grupo avança nos trabalhos e discussões. 
A periodicidade deve ser definida também conforme os objetivos. Se já há grupos 
menores trabalhando em temas correlatos, as reuniões podem ser mais espaçadas 
(mensais, quinzenais). Se não, aconselha-se que, no início, as reuniões sejam 
semanais. A periodicidade também pode ser revista conforme o grupo avança nos 
trabalhos e discussões. 
24 
 
� Coordenação e repartição de atribuições: Deve haver uma coordenação 
geral escolhida pelo grupo conforme o seu objetivo. Além dessa 
coordenação geral, aconselha-se o grupo a repartir as atribuições: a cada 
encontro, um ou dois membros do grupo ficam responsáveis por organizar 
previamente e apresentar os pontos de discussão (ou a pauta e a memória de 
reunião) e conduzir a reunião. Outras atribuições podem ser distribuídas entre 
os membros do grupo. 
Isso possibilita a divisão de tarefas dentro do grupo e a sua apropriação por todos os 
participantes. Evita também o excesso de responsabilidades que o Coordenador 
costuma carregar. 
� Igualdade entre todos os participantes: todos podem sugerir temas; há 
plena liberdade de colocação de opiniões e dúvidas; não há hierarquia; não 
há aula ou palestra, há diálogos, e não discussões; 
� Valorização de todos os saberes: cada participante tem saberes específicos 
que advêm de sua história de vida e de sua formação e atuação profissional. 
Todos esses saberes devem ser valorizados pelo grupo; 
� Escuta atenta: a escuta deve ser valorizada pelo grupo, com o 
esclarecimento de dúvidas quando houver dificuldades de comunicação. Por 
meio da expressão da dúvida evitam-se acusações e mal entendidos, que 
prejudicam a coesão do grupo; 
� Registro dos encontros: o registro, por meio de uma pequena ata com os 
pontos discutidos, as decisões tomadas e os responsáveis por executá-las, 
além de constituir a memória do grupo (importante para iniciativas futuras), 
facilita o acompanhamento das execuções das decisões tomadas e o 
desenvolvimento dos trabalhos do grupo como um todo. 
A tarefa de realizar o registro pode ficar a cargo sempre da mesma pessoa (isso 
garante a uniformidade dos registros) ou ser revezada entre todos os membros (o 
que dificulta a uniformidade, mas proporciona divisão de atribuições). 
 
25 
 
PRIMEIRA PARTE 
FUNDAMENTOS LEGAIS E PRINCÍPIOS GERAIS PARA 
ORIENTAÇÃO DO TRATAMENTO PENITENCIÁRIO NO SPF 
 
1.1. EXECUÇÃO PENAL E TRATAMENTO PENITENCIÁRIO – FUNDAMENTOS 
LEGAIS31 
O objetivo da Execução Penal é, nos termos do artigo 1° da LEP, “efetivar as 
disposições da sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a 
harmônica integração social do condenado e do internado”. 
Conforme se discutirá mais adiante32, a teoria de ressocialização, base da 
concepção de execução penal prevista na LEP é, hoje, bastante discutida e 
questionada. Não obstante, sendo esta a determinação normativa em vigor, é 
necessário realizar os melhores esforços para contribuir com a sua efetividade, sem 
perder de vista a crítica e as possibilidades de mudança. 
A execução penal é uma etapa da individualização da pena, processo que se inicia 
desde a elaboração legislativa (decisão de Política Criminal, momento em que o 
legislador escolhe as condutas a serem criminalizadas e o grau de reprimenda que 
se considera adequado para sua prevenção/repressão), passando pela imposição 
da sentença condenatória (momento em que o Magistrado decide qual a pena 
aplicável àquele indivíduo naquele caso concreto, conforme as regras do artigo 59 e 
outros do Código Penal) e chegando, finalmente, ao Juízo da Execução e ao 
estabelecimento de Execução Penal que, no presente caso, é a Penitenciária 
Federal. 
 
31
 Este item foi baseado no material didático elaborado por Rosangela Peixoto Santa Rita e Luis Antonio Bogo 
Chies, utilizada durante a Formação de Agentes Penitenciários Federais, Especialistas em Assistência 
Penitenciária e Técnicos de Apoio à Assistência Penitenciária do SPF, parte integrante do Concurso de Seleção 
para o SPF. As aspas indicam que foi utilizado o texto integral contido naquele documento. Ref: SANTA RITA, 
Rosangela Peixoto Santa; CHIES, Luis Antonio Bogo. Tratamento Penitenciário. Material Didático para Curso de 
Formação para Agentes Penitenciários. Brasília: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional – 
DEPEN e Academia Nacional de Polícia – ANP, 2009. 
32
 Vide item “Tratamento Penitenciário em Direitos Humanos, infra. 
26 
 
As disposições que regem a Execução da Pena estão previstas na LEP, em geral, e 
nas normativas específicas do SPF33, para as Penitenciárias Federais. 
São princípios legais aplicáveis à Execução Penal e que devem, portanto, iluminar 
tanto as práticas dos operadores do Direito (Ministério Público, Juiz das Execuções 
e Defensor) quanto dos Executores da sanção penal (Unidades de Execução Penal): 
� Legalidade: Este princípio, expresso pela previsão do artigo 5º, II da 
CF(“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em 
virtude da lei)”, implica, na execução, na regrade que qualquer privação de 
direitos só pode acontecer se amparada em lei escrita, expressa e prévia. 
Em Direito de Execução Penal, vale salientar que predomina a chama estrita 
legalidade: não pode haver crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem 
prévia previsão legal. E a Unidade Executora da Sanção (no caso, as PFs), 
como Agente da Administração Pública, só pode fazer o que a lei determina: 
é o princípio da Reserva Legal, também decorrente do Princípio da Legalidade; 
� Jurisdicionalidade: “Por tal princípio tem-se que a Execução Penal se perfaz a 
partir de atos judiciais de fiscalização, controle e vigilância acerca da legalidade 
da intervenção do Poder Executivo sobre o sentenciado, bem como através de 
atos jurisdicionais em relação ao curso e aos incidentes da execução penal”34; 
� Individualização da pena: Este princípio “representa a garantia e o direito do 
indivíduo ser considerado em sua especificidade para fins de cominação penal 
e de intervenção punitiva. Consagra na Execução Penal o compromisso de que 
a ação do Estado que recai sobre o sentenciado se vincule com a perspectiva 
do tratamento penal de forma eficiente, o que somente pode ocorrer a partir da 
atenção às especificidades subjetivas de cada sentenciado quando 
relacionadas com as restrições inerentes ao aspecto retributivo da punição”35; 
 
33
 Vide anexos. 
34
 Previsto na CF 88 (artigo 5º, LIV CF- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal”) e na LEP (artigo 2º - “A jurisdição penal dos juizes e tribunais da justiça ordinária, em todo o 
território nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta lei e do Código de Processo 
Penal.”; Artigo 65 - “A execução penal competirá ao juiz indicado na lei local de organização judiciária e, na sua 
ausência, ao da sentença.”) 
35
 Expresso na CF 88 (Artigo 5º, incisos XLVI, 1ª parte “a lei regulará a individualização da pena” e inciso XLVIII - 
27 
 
� Humanidade das penas: “Consolida a perspectiva não meramente retributiva 
da punição, estando diretamente vinculado à noção de reinserção social do 
apenado, relacionando-se com a expectativa de intervenções estatais não 
degradantes do indivíduo”. Vislumbra o tratamento penal “como forma de 
afirmação dos valores negados no delito, e não como uma mera negação 
absoluta do delinqüente. É afirmador da posição jurídica do apenado, como 
sujeito na Execução Penal”36; 
� Igualdade: “Visa coibir práticas discriminatórias em razão de critérios étnicos, 
sexuais, religiosos, entre outros, submetendo, pois, todos os membros do corpo 
social à mesma expectativa abstrata de Execução Penal. Não conflitua com o 
princípio da individualização, vez que este se dirige à subjetividade específica 
do apenado para adequação do tratamento penal, e não para as questões 
objetivas gerais da pena”37; 
� Pessoalidade: “Reclama o compromisso de que o sistema punitivo, através do 
poder público do qual emana e ao qual se vincula, reduza ao máximo os efeitos 
extra-pessoais da condenação, viabilizando, entre outras iniciativas e 
intervenções, que a família do sentenciado não seja degradada socialmente ou 
reduzida à miserabilidade como resultado da condenação imposta a um de 
seus membros, bem como que não seja alvo permanente de constrangimentos 
quando no exercício de seus direitos de assistência ao a apenado”38; 
 
 
 
“a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do 
apenado)”, e na LEP art, 5º - “Os condenados serão classificados, segundo seus antecedentes e personalidade, 
para orientar a individualização da execução penal.”) 
36
 Previsto na CF 88, artigo 5º, inciso XLIX - “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”, 
Artigo 5º incisos III e XLVIII (proibição de penas cruéis e intervenções degradantes da pessoa humana); LEP 
artigo 3º “Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou 
pela lei.”). 
37
 Previsto na CF 88 (art 5º, “caput” - “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, (...)”); 
na LEP (art 3º, Par único - “Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política.” E art 
41, XII - “igualdade de tratamento, salvo quanto à exigência da individualização da pena.”) 
38
 Previsto na CF 88: art 5º, XLV - “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de 
reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendida aos sucessores e contra 
ele executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.” 
28 
 
� Contraditório e ampla defesa: Decorre da consolidação do caráter 
jurisdicional da Execução Penal. Reconhece o sentenciado como sujeito e parte 
da atividade executória, vez que lhe confere o “direito de agir e intervir 
ativamente, em igualdade de condições processuais, nos incidentes e 
eventuais conflitos que serão objeto da tutela jurisdicional”39; 
� Duplo grau de jurisdição: Decorrência imediata da jurisdicionalidade, acima 
referida, este princípio insere a Execução Penal na lógica processual do 
sistema pátrio, viabilizando, pois, sempre o reexame das matérias decididas 
pelo juiz singular, por parte da instância superior40. 
 
Todos os princípios da Execução Penal devem informar as práticas de Tratamento 
Penitenciário. Porém, dentre os acima citados, os mais diretamente ligados ao 
Tratamento Penitenciário são o principio da Individualização da Pena; da 
Humanidade das Penas e da Pessoalidade. São eles os que orientam o 
Tratamento Penitenciário, que deve ser realizado com o fim precípuo de 
“proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do 
internado”, conforme a previsão legal. 
Assim, apesar da contradição inerente à possibilidade de integração social do sujeito 
enquanto encarcerado, faz-se necessário promover e prover todos os direitos do 
recluso que não estão restritos pela privação de liberdade, atendendo aos princípios 
acima e também a uma orientação ligada aos Direitos Humanos, que considere o 
recluso como um ser humano completo, com todas as suas potencialidades. São 
esses os parâmetros discutidos a seguir. 
 
39 Previsto na CF 88: artigo 5º, LV - “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em 
geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;” art 133 - “O 
advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no 
exercício da profissão, nos limites da lei.” 
40
 Previsto no artigo 197 da LEP - “Das decisões proferidas pelo juiz caberá recurso de agravo, sem efeito 
suspensivo.”. 
29 
 
1.2. TRATAMENTO PENITENCIÁRIO EM DIREITOS HUMANOS 
“As autoridades correcionais tomam, todos os dias, centenas de 
decisões que causam impacto nos direitos fundamentais dos 
prisioneiros (...). As atividades cotidianas e rotineiras (...) são todas 
reguladas pelas autoridades correcionais. Sem o reconhecimento de 
que o ‘negócio’ Penitenciário diz respeito à promoção e 
monitoramento dos direitos humanos, à prevenção de violações de 
direitos humanos e à identificação e reparação de violações aos 
direitos humanos, abusos sistemáticos de poder são inevitáveis”.41 
Práticas de gestão penitenciária em qualquer país ou sistema devem estar 
ancoradas em uma série de princípios claros, contidos em documentos 
internacionais de Direitos Humanos42. 
Devem ser considerados tanto instrumentos de caráter mais universal,como o 
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto de Direitos Econômicos 
Sociais e Culturais, sendo que a maior parte deles contém referências ao 
tratamento de pessoas privadas de sua liberdade, quanto os instrumentos 
internacionais que estabelecem padrões e princípios específicos para o tratamento 
de prisioneiros e condições de detenção. Incluem-se nesse rol as Regras Mínimas 
para o Tratamento de Delinqüentes (Standard Minimum Rules for the Treatment of 
Prisoners -195743); o Conjunto de Princípios para a Proteção de Todas as Pessoas 
sob qualquer forma de Detenção ou Aprisionamento44 (The Body of Principles for 
the Protection of All Persons under Any Form of Detention or Imprisonment - 1988); 
 
41
 SAPERS, Howard. The Ombudsman as a Monitor of Human Rights in Community Corrections. In An Overview 
of Community Corrections in China and Canada. International Centre for Criminal Law Reform and Criminal 
Justice Policy (ICCLR), 2006, p.7 
42
 COYLE, Andrew. A Human Rights Approach to Prison Management: Handbook for prison staff London: 
International Centre for Prison Studies, 2002, p.9. Disponível para download em www.prisonstudies.org. 
43
 United Nations, Standard Minimum Rules for the Treatment of Prisoners, 30 August 1955, available at: 
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b36e8.html [accessed 5 July 2009] 
44
 UN General Assembly, Body of Principles for the Protection of All Persons under Any Form of Detention or 
Imprisonment : resolution / adopted by the General Assembly, 9 December 1988, A/RES/43/173, available at: 
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3b00f219c.html [accessed 5 July 2009] 
30 
 
e os Princípios Básicos para o Tratamento de Prisioneiros (The Basic Principles for 
the Treatment of Prisoners - 1990), todos aprovados pelas Nações Unidas45. 
A exigência de respeito aos Direitos Humanos parece lógica, considerando que as 
pessoas presas estão não somente privadas de sua liberdade de ir e vir, mas têm 
cerceadas diversas outras liberdades. Estando tais indivíduos sob custódia 
permanente do Estado, necessário se faz garantir sua integridade física, saúde, 
somente para citar duas dentre as inúmeras garantias de direitos necessárias. 
No Brasil, a garantia do exercício desses direitos tem seu amparo na Constituição 
Federal de 1988: a dignidade da pessoa humana é fundamento do Estado 
Democrático de Direito. Ainda que impedido de conviver em sociedade, o sujeito 
deve ter garantido a possibilidade de expandir-se enquanto ser humano (dimensão 
ética da dignidade humana). Estando preso, o sujeito somente pode realizar parte 
dessa dimensão ética: pode-se refletir e decidir sobre que vida se quer viver, mas 
não se pode exercitar, senão dentro do micro-cosmo social do cárcere, essa vida 
que se quer viver com outros, a (con)vivência, parte integrante da experiência 
humana46. 
Paradoxalmente, o cárcere é, por sua natureza, violador de Direitos Humanos. Na 
esteira do entendimento de Manzanos Bilbao, o cárcere é incapaz “de garantir os 
direitos legalmente estabelecidos, de fazer possível a segurança jurídica das 
pessoas encarceradas (...). Isto é o que gera violência e tensão entre as pessoas 
presas, e entre estas e o pessoal que trabalha nas prisões. Cria frustração, 
desesperança, desespero, desejos de vingança, recurso à evasão por meio das 
 
45
 Existem diversos instrumentos internacionais dirigidos especificamente ao pessoal que trabalha diretamente 
com pessoas privadas de sua liberdade: Código de Conduta para Oficiais da Lei (Code of Conduct for Law 
Enforcement Officials - 1979), Princípios de Ética Médica relevantes para o Papel do Pessoal de Saúde, 
particularmente Médicos, na Proteção de Prisioneiros e Detidos contra a Tortura e outras formas de 
Tratamento ou Punição Cruel, Desumano ou Degradante (the Principles of Medical Ethics relevant to the Role 
of Health Personnel, particularly Physicians, in the Protection of Prisoners and Detainees against Torture and 
Other Cruel, Inhuman or Degrading Treatment or Punishment -1982) e os Princípios Básicos para o uso de 
Força e Armamentos (Basic Principles on the Use of Force and Firearms - 1990). 
46
 Por não ser pertinentes ao objetivo deste Manual, não são discutidas aqui questões ligadas às razões e/ou 
causas do ingresso no cárcere, sejam essas razões sociais, individuais, genéricas ou ligadas especificamente às 
condutas de cada um dos sujeitos. 
31 
 
drogas, [ou seja], definitivamente um clima conflituoso, corrompido e violento no 
cárcere”47. 
Nesse sentido, “a violação de direitos é necessária e constitutiva da própria 
governabilidade do cárcere e da necessidade da própria corporação de submeter os 
presos para garantir a ‘ordem e bom funcionamento do estabelecimento’”, de modo 
que “o sistema carcerário não tem como objetivo, portanto, a ressocialização das 
pessoas presas, mas sim, como todo sistema, seu objetivo é auto-reproduzir-se, 
perpetuar-se; para isso, se alimenta de seus próprios paradoxos e auto-
justificações”48. 
1.2.1 Tratamento penitenciário e ressocialização no SPF 
A instituição prisional força o recluso a adaptar-se plenamente a um ambiente de 
restrição de liberdade; contraditoriamente, exige que, quando egresso, demonstre 
resultados positivos da experiência do encarceramento, readaptando-se à vida em 
sociedade. 
Dentre as inúmeras teorias desenvolvidas para explicar e/ou justificar os fins da 
pena privativa de liberdade, a teoria da ressocialização é uma das mais aceitas. 
Seus seguidores acreditam que, por meio do controle dos reclusos em todas as 
dimensões, é possível ensinar a prática da vida na sociedade humana e agregar 
valores auxiliadores da convivência às pessoas presas. Contudo, embora seja a 
teoria adotada pela Lei de Execução Penal brasileira, é evidente a impossibilidade 
de se promover qualquer tipo de (res)socialização pela exclusão social e controle 
dos indivíduos. 
A tão lamentada “falência das prisões”, portanto, não passa de uma falácia49, uma 
vez que o objetivo ressocializador nunca se pretendeu atingir, nem seria possível, 
como apontam diversos criminólogos, como Zaffaroni e Baratta. 
 
47
 MANZANOS BILBAO, Cesar. Violencia, Salud y Drogas em prisión, p. 138. Tradução livre da autora. 
48
 Idem, ibidem, p.138-139. Tradução livre da autora. 
49 A constatação de que as mazelas do sistema penitenciário não eram falhas, mas sim características 
inerentes à sua própria permanência, já haviam sido apontadas por Michel Foucault na clássica obra Vigiar e 
Punir. 
32 
 
Na lei brasileira, a ressocialização se materializa, entre outros dispositivos, na 
previsão legal de progressão de regime, e tem como interface promotora de seus 
valores a prestação de assistências aos reclusos; ou seja, o Tratamento 
Penitenciário é, ou deveria ser, importante motor para o processo de ressocialização 
do recluso. 
Essa contradição ganha uma dimensão bastante ampla quando se pensa no 
Tratamento Penitenciário no SPF, uma vez que diversas características desse 
sistema, como se verá mais adiante, tornam-no potencializador de vulnerabilidades 
físicas e psíquicas, especialmente o isolamento e o controle absoluto de todos os 
aspectos da vida cotidiana, resultando em uma progressiva “mortificação do eu”50. 
Apresenta-se, então, o paradoxo: se o cárcere é um sistema naturalmente violador 
de Direitos Humanos, como desenhar e implementar um Tratamento Penitenciário 
que respeite e promova esses mesmos Direitos Humanos? 
Segundo Rodrigues51, “a oferta de programas de tratamento (...) terá sempre como 
efeito diminuir ou evitar as conseqüências da prisionização”. O objetivo primeiro, 
portanto, éevitar a dessocialização do recluso, combatendo as conseqüências 
nocivas da privação de liberdade. 
No SPF essa concepção adquire um significado importante (refletido, inclusive, na 
descrição que a própria CGTP entende como sendo adequada para uma política de 
Tratamento Penitenciário no SPF): “política de garantia de direitos humanos, 
fator de redução de danos e minimização de vulnerabilidades que o sistema 
punitivo produz”.52 
No SPF, evitar a dessocialização do recluso, buscando minimizar os efeitos 
danosos que a permanência nesse sistema pode agravar, é a primeira e mais 
importante tarefa do Tratamento Penitenciário e, talvez, a única possível. Outras 
 
50
 A expressão é de GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. Trad. Dante Moreira Leite. 7. ed. São 
Paulo: Editora Perspectiva, 2003. (Coleção Debates, 91). 
51
 RODRIGUES Anabela Maria Pinto de Miranda. Consensualismo e prisão. Revista Brasileira de Ciências 
Criminais. IBCCRIM. n°. 28, out-nov 1999, vol 7. p. 11-27. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999., p. 17 
52
 Fonte: site do DEPEN 
33 
 
tarefas podem ser acrescentadas a esta primeira, como o oferecimento, ao sujeito 
encarcerado, de um bom atendimento de saúde, de acesso a livros, a educação 
(sabe-se que muitos presos somente retomam ou iniciam seus estudos dentro da 
prisão), mas todas elas parecem servir a esta missão primordial. 
Esta constatação, todavia, não pode significar o abandono dos reclusos nesse 
sistema à simples manutenção de suas necessidades vitais, ao contrário, faz-se 
necessário buscar soluções criativas para a superação das dificuldades inerentes 
a esse sistema, com o intuito de proporcionar não só a mencionada redução de 
danos, mas também a promoção de oportunidades de exercício das dimensões 
diversas da dignidade humana, conforme acima explicitado. 
Assim, os ‘eixos’ que compõem a Segunda Parte deste Manual contemplam não só 
os direitos previstos expressamente na lei, mas abordam o Tratamento Penitenciário 
sob a ótica da promoção da dignidade humana em suas múltiplas dimensões. 
1.3. TRATAMENTO PENITENCIÁRIO INTEGRADO 
Pressuposto importante na reflexão a respeito da política de Tratamento 
Penitenciário no SPF é que as ações, projetos e programas devem, sempre, ser 
planejadas e executadas de forma integrada, com a participação de todos os 
operadores do SPF. 
Isso significa que são responsáveis pelo sucesso das práticas de Tratamento 
Penitenciário todos os atores do sistema, na promoção e garantia de direitos: Os 
Especialistas em Assistência Penitenciária, os Técnicos de Apoio à Assistência 
Penitenciária, os Agentes Penitenciários Federais, funcionários terceirizados, 
direção e sociedade civil; no controle e supervisão: Poder Judiciário, Ministério 
Público, Defensorias Públicas e defensores e, novamente, a sociedade civil53. 
 
53
 A sociedade civil tem papel ativo tanto nas práticas de reabilitação quanto no controle de sua eficácia, por 
meio dos Conselhos da Comunidade e de outras ações que possam vir a praticar direta ou indiretamente junto 
ao SPF. 
34 
 
Em geral, a implementação de políticas de Tratamento Penitenciário “esbarra”, em 
primeiro lugar, na questão da segurança. Esta é uma questão complexa mas, em 
certa medida, uma ‘falsa’ questão. 
Dentre os setores compreendidos na gestão penitenciária, o que mais parece ser 
diretamente (positiva ou negativamente) afetado pelo sucesso ou insucesso das 
políticas de Tratamento Penitenciário é a segurança. 
Uma gestão integrada do Tratamento Penitenciário deve ter em conta que todos os 
setores do tratamento interferem positivamente ou negativamente uns nos 
outros; também a segurança é, direta ou indiretamente, afetada. Alguns exemplos: 
� Projetos, programas e ações de assistência jurídica bem sucedidos 
implicam no conhecimento do andamento do processo de execução, maior 
confiança do preso quanto ao seu tempo de permanência na instituição, 
possibilidade de requerer e obter benefícios, assim como de requerer o 
retorno ao seu estado de origem ou obter a liberdade. O domínio dessas 
informações por parte do preso tende a se refletir diretamente em suas 
atitudes de respeito ou insubordinação às regras (quanto mais seguro em 
relação à sua situação jurídica, menores as chances de insubordinação do 
internado); tal segurança também pode se refletir indiretamente numa 
melhoria de suas condições de saúde mental (a incerteza quanto à pena 
gera frustração, angústia, podendo chegar à depressão e a quadros mais 
graves); 
� Projetos, programas e ações de assistência religiosa bem sucedidos podem 
proporcionar maior conforto psíquico ao preso pelo exercício de sua 
espiritualidade, auxiliando nos cuidados com sua saúde mental, o que 
promove, conseqüentemente, melhorias no comportamento (afetando 
positivamente a segurança); 
� Projetos, programas e ações de assistência educacional e laboral bem 
sucedidos proporcionam melhora na auto-estima do sujeito, que exercita suas 
potencialidades, além de possibilitar o desenvolvimento de projetos de vida e 
35 
 
até, eventualmente, a melhora de condições de sua permanência no cárcere, 
sem falar na remição de pena já admitida pelos Tribunais. Tais benefícios 
irão se refletir em sua saúde mental e na segurança; 
� Projetos, programas e ações de assistência à saúde física e mental bem 
sucedidos se refletem em melhoria da disposição para a prática de exercícios 
físicos e para a participação em outras dimensões do Tratamento 
Penitenciário (trabalho, estudo), melhoram a auto-estima; indiretamente, 
garantem a segurança seja pela menor necessidade de deslocamento do 
preso para fora das dependências da unidade, seja pela calma que o bem-
estar físico e mental tende a promover. 
Esses são apenas alguns exemplos de como um setor do Tratamento Penitenciário 
pode interagir com os demais de maneira positiva. O inverso também é verdadeiro: 
a inexistência ou oferta irregular ou inadequada de ações, projetos e programas de 
Tratamento Penitenciários podem gerar insatisfação, angústia, doenças físicas e 
psíquicas, e, no limite, como se sabe, podem dar ensejo a rebeliões e outros tipos 
de manifestação de violência por parte dos sujeitos encarcerados (e, porque não 
dizer, por parte também dos Agentes Penitenciários Federais e Especialistas em 
Assistência Penitenciária e Técnicos de Apoio à Assistência Penitenciária). 
Até mesmo atitudes simples de desrespeito por parte de Agentes Penitenciários 
Federais, Especialistas em Assistência Penitenciária ou Técnicos de Apoio à 
Assistência Penitenciária da unidade podem desencadear problemas de segurança. 
A atitude de respeito para com o sujeito encarcerado, também é parte integrante de 
um Tratamento Penitenciário integrado e inserido dentro de um sistema de Direitos 
Humanos. 
O tratamento integrado, para além de pressupor a real interlocução e integração 
entre os diversos setores do tratamento desde a classificação do preso durante a 
inclusão até o momento de seu retorno ao estado de origem (ou a saída para a 
liberdade), implica em que todos os envolvidos (Agentes Penitenciários Federais, 
Especialista em Assistência Penitenciária, Técnico de Apoio à Assistência 
Penitenciária, funcionários terceirizados, conselhos da comunidade, voluntários etc) 
36 
 
compreendam a importância de suas ações para a construção de um ambiente justo 
e digno. 
O sucesso do planejamento e implementação de uma política de Tratamento 
Penitenciário implica, portanto, desde a formação dos funcionários até o 
planejamento das mais comezinhas práticas cotidianas. “Todos somos educadores”. 
1.3.1. Paradigmas de sistemas penitenciários e Tratamento Penitenciário: 
segurança coercitivax segurança humanista 
A respeito do dilema entre segurança estritamente coercitiva, paradigma 
predominante nos sistemas penitenciários e segurança humanista, vale trazer as 
reflexões de Sá54. O autor identifica quatro formas de oposição entre os dois 
paradigmas, resumidas no quadro abaixo*. 
 
OPOSIÇÃO 
 
SEGURANÇA COERCITIVA 
 
SEGURANÇA HUMANISTA 
 
Objetivo 
Visa o interesse e bem-estar do 
sistema (preocupação com a 
segurança do sistema e da 
sociedade) 
Visa o interesse e bem-estar da 
população carcerária (preocupação com 
a ordem, boa convivência dos presos, 
vistos como cidadãos) 
 
Dinâmica 
institucional 
Apego a rotinas. Todos os presos 
são iguais. Atitude defensiva 
perante o novo. Perspectiva rígida 
de manutenção dos procedimentos. 
Abertura para inovações. Rompimento 
com a rigidez da rotina. Adoção de 
alternativas de ação. Perspectiva 
construtiva e positiva de ação. 
Contatos 
pessoais 
Resistência a contatos pessoais 
com o preso 
Disponibilidade para conhecer a 
realidade individual de cada preso 
 
Tipo de 
segurança 
 
Valorização da segurança física; 
contenção através de obstáculos e 
barreiras físicas. A boa convivência 
entre encarcerados e equipe 
pressupõe a segurança e nela se 
baseia. 
Valorização da “segurança dinâmica”, 
baseada no relacionamento. A 
segurança pressupõe a boa convivência 
dos encarcerados e o bom 
relacionamento entre eles e os 
profissionais e se baseia nessa 
convivência e nesse relacionamento. 
* Tabela criada a partir dos conceitos de Sá. As categorias foram extraídas do sentido do texto e 
nomeadas pela autora. 
 
54
 SÁ, Alvino Augusto de. Os dilemas de prioridades e de paradigmas nas políticas de segurança dos cárceres e 
na formação dos agentes penitenciários. In BITTAR, Walter Barbosa (Org.). A criminologia do século XXI. 
IBCCRIM. Rio de Janeiro, Editora Lúmen Júris, 2007, pág. 1-5. 
37 
 
Pelo momento histórico, político e social em que foi criado, pelas suas 
características arquitetônicas e pelo forte regime de segurança e disciplina em 
vigor nas PFs, não há dúvidas de que o Sistema Penitenciário Federal foi 
concebido a partir do paradigma da segurança coercitiva, acima descrito. 
A opção por este paradigma é em grande medida incompatível com uma política 
de Tratamento Penitenciário baseada nos Direitos Humanos. Isso porque o 
paradigma da segurança coercitiva não reconhece a singularidade de cada sujeito, 
não reconhece em cada um o que o faz humano e, embora igual a todos, único e 
singular. 
Ao fornecer roupas iguais para todos; ao impedir, em nome da segurança, que o 
recluso decida sobre as mais comezinhas partes de seu cotidiano, como o horário 
das refeições, o horário do banho, de dormir, a maneira como se veste, o corte de 
cabelo, a marca da pasta de dente e etc, igualam-se sujeitos diferentes e anulam-
se as particularidades de cada um. Nessa ótica, “todos os presos são iguais, fazem 
parte da mesma massa, na qual ninguém tem “personalidade”, nem história, 
preferências ou direitos próprios. Os procedimentos são sempre os mesmos e os 
mesmos para todos”55. 
Tal paradigma coloca a segurança em situação de total oposição com uma política 
de Tratamento Penitenciário. A real individualização da pena deve levar em conta 
“a necessidade do momento, (...) o interesse dos presos, dentro de uma 
perspectiva construtiva e positiva de ação”. 
Uma política de Tratamento Penitenciário, baseada nos Direitos Humanos, no SPF, 
deve procurar superar o paradigma da segurança estritamente coercitiva em 
busca de um paradigma de segurança humanista. É preciso trabalhar, 
emprestando expressão de Zaffaroni, não a partir das trancas, do isolamento, da 
igualdade que aniquila individualidades, mas apesar de tudo isso. 
Um Tratamento Penitenciário baseado em um paradigma de segurança humanista 
pressupõe a formação inicial e continuada dos Agentes Penitenciários Federais, 
 
55
 SÁ, op. cit. 
38 
 
Especialistas em Assistência Penitenciária e Técnicos de Apoio à Assistência 
Penitenciária sob esta ótica, para que possam desempenhar suas funções com 
maior confiança em benefício de todos. 
1.4. TRATAMENTO PENITENCIÁRIO NO SPF: LIMITES E POSSIBILIDADES – 
Contexto e Prática Profissional 
Em documento dirigido especificamente para o SPF, elaborado à época da sua 
criação, Sá apontava para dilemas que, hoje, anos depois de sua fundação e 
implantação, ainda estão presentes no cotidiano das unidades em funcionamento 
e, certamente, aparecerão nas demais unidades, eis que são dilemas 
concernentes a toda e qualquer instituição prisional. 
Segundo Sá, para atender às exigências da interdisciplinaridade, a gestão 
penitenciária “deverá estar continuamente aberta (...) aos seguintes dilemas e suas 
respectivas implicações na execução da pena e na política criminal: 
a) segurança versus individualização; 
b) preocupação pela função punitiva da pena versus preocupação 
pela reintegração social dos encarcerados; 
c) multidisciplinaridade no trato das questões criminológicas e 
penitenciárias; 
d) preocupação pelo homem encarcerado enquanto: criminoso, 
preso ou pessoa” 56. 
A política de Tratamento Penitenciário não deve ser diferente nas Penitenciárias 
Federais do que é no sistema penitenciário em geral. Assim, para a implementação 
de um Tratamento Penitenciário integrado em Direitos Humanos no SPF é preciso 
levar em conta esses dilemas. Todavia, o SPF tem contornos que demandam 
reflexões específicas para o planejamento e implementação dessa política. 
A seguir, são apresentadas algumas reflexões acerca desses limites e 
possibilidades e sua importância para o tratamento integrado no SPF. 
 
56
 SÁ, Alvino Augusto de. Sugestão de um esboço das bases conceituais para o Sistema Penitenciário Federal. 
Disponível em http://www.eap.sp.gov.br/pdf/Bases%20conceituais.pdf. Consulta em 01/04/09. p. 17 
39 
 
1.4.1. LIMITES – Contexto 
 
1.4.1.1. Tratamento Penitenciário e o perfil dos reclusos no Sistema 
Penitenciário Federal 
Os estabelecimentos penais federais têm por finalidade promover “a execução 
administrativa das medidas restritivas de liberdade dos presos, provisórios ou 
condenados, cuja inclusão se justifique no interesse da segurança pública ou do 
próprio preso”, podendo também abrigar presos, provisórios ou condenados, 
sujeitos ao regime disciplinar diferenciado57. 
De acordo com o artigo 3º do Decreto 6.049, de 27 de fevereiro de 2007, que 
aprova o regulamento penitenciário federal, “para a inclusão ou transferência, o 
preso deverá possuir, ao menos, uma das seguintes características”: 
I - ter desempenhado função de liderança ou participado de forma 
relevante em organização criminosa; 
II - ter praticado crime que coloque em risco a sua integridade física 
no ambiente prisional de origem; 
III - estar submetido ao Regime Disciplinar Diferenciado - RDD; 
IV - ser membro de quadrilha ou bando, envolvido na prática 
reiterada de crimes com violência ou grave ameaça; 
V - ser réu colaborador ou delator premiado, desde que essa 
condição represente risco à sua integridade física no ambiente 
prisional de origem; ou 
VI - estar envolvido em incidentes de fuga, de violência ou de grave 
indisciplina no sistema prisional de origem”. 
 
57
 Artigos 3° e 4° do Decreto nº 6.049, de 27 de fevereiro de 2007, que aprova o regulamento penitenciário 
federal. Além do Decreto 6.049/07, aplicam-se ao tema em questão os artigos 86 e 52 da LEP e parágrafos, 
modificados pela Lei 10.792/03, bem como a Lei n 11.671,

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