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notó- ria, visto que foge da demanda sempre crescente do poder judiciário; o sigilo por sua vez, se dá na medida em que a regra geral dos processos tramitando no Poder Judiciário é a publicidade de seus respectivos atos. Um detalhe a destacar é o fato de que as partes podem pactuar a utilização de um juízo tecnicamente mais especializado preparado para a solução desse litígio. A atual lei supera os principais entraves que a arbitragem enfrentava an- teriormente: (i) não havia dispositivo legal possibilitando o uso da cláusula compromissória; e (ii) havia necessidade de homologação do laudo arbitral pelo poder judiciário. O compromisso tem um caráter contratual evidente. Através dele, não só confl itos são extintos, mas outras obrigações são criadas. Pode árbitro criar, modifi car ou extinguir direitos das partes. Mas como entender essa natureza contratual? Através do pacto compro- missório, as partes comprometem-se, num eventual litígio, a submeterem- se ao árbitro e não ao Poder Judiciário. É uma contratação feita de modo preliminar. Alguns autores denominam essa relação sujeita à arbitragem de contrato base. O art. 4º da lei de arbitragem, nesse sentido, defi ne: Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. 23 O art. 584, III do CPC defi ne que: Art. 584. São títulos executivos judiciais: (...) III a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que verse matéria não posta em juízo; (Redação dada pela Lei nº 10.358, de 27.12.2001). DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E RESPONSABILIDADE CIVIL FGV DIREITO RIO 77 É interessante destacar que sob a égide do Código de 1916, a negativa de uma das partes em submeter-se à arbitragem implicava nos efeitos do inadim- plemento contratual. A parte prejudicada poderia pleitear perdas e danos. A previsão de execução específi ca da avença não era ainda existente à época. Confusão Existe confusão quando se observa, numa determinada relação obriga- cional, a junção numa mesma pessoa das fi guras de credor e devedor. Há impossibilidade lógica de que a obrigação persista. O artigo 381 do Código Civil prevê que: Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor. A confusão, segundo o art. 382, pode ser total ou parcial: Art. 382. A confusão pode verifi car-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela. Quando o estado de confusão acaba, a obrigação é restabelecida, congre- gando novamente todos os seus caracteres: Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior. A confusão pode se operar de diversas formas. Pode ocorrer por ato inter vivos ou causa mortis, nesse caso, quando o herdeiro assume o patrimônio do credor e vê extinto o seu débito. Destaque-se que enquanto não houver partilha dos bens envolvidos na sucessão, não há que se falar em confusão. Na confusão por ato inter vivos, o mesmo pode ainda ser gratuito ou oneroso; a título singular ou universal. O art. 383 do Código Civil trata da hipótese de confusão em obrigações solidárias. De acordo com o dispositivo, os efeitos da confusão não se comu- nicam às demais fi guras abarcadas pela solidariedade. Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor soli- dário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E RESPONSABILIDADE CIVIL FGV DIREITO RIO 78 Em breve apanhado, são seus requisitos: (i) numa só pessoa devem ser congregadas as qualidades de credor e de devedor; (ii) essa reunião de qua- lidades deve ser atinente a uma mesma relação obrigacional; e (iii) não deve haver patrimônios apartados. Remissão A remissão ocorre quando o credor libera do devedor do cumprimento da obrigação, no todo ou em parte, sem que tenha recebido o pagamento que lhe é devido. Trata-se de uma modalidade de renúncia, e como já observado, renunciá- veis são os direitos disponíveis, reais, pessoais e intelectuais. Sob uma perspectiva mais técnica, remissão e renúncia apresentam uma distinção: a remissão depende da anuência do devedor, que mesmo tendo sua dívida perdoada pelo credor, pode querer pagar, tendo em vista questões morais. A remissão é ato unilateral, mas somente se implementa com a con- cordância do obrigado. Na renúncia, essa necessidade de anuência por parte do devedor não está presente. As partes podem livremente determinar parâmetros para essa remissão, dando-lhe uma feição contratual e, portanto, bilateral. Remissão e doação são institutos diversos. A remissão depende da anuên- cia do devedor, apresentando um caráter sinalagmático. A doação, por sua vez, é uma liberalidade, qualidade nem sempre atribuível à remissão; Para o direito pouco importa o intuito com que a remissão é feita, não ocorrendo o mesmo para a doação. É importante observar que a remissão pode ser expressa ou tácita. A sua for- ma tácita é especifi cada nos arts. 386 e 387 do Código Civil, ao disporem que: Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir. Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a re- núncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida. Esses artigos contemplam uma presunção de que foi feita a remissão. Essa presunção não é absoluta, pois qualquer um dos atos acima referidos pode ser inquinado de algum vício de vontade. Ao remir a dívida principal, o credor promove a conseqüente extinção das obrigações acessórias. A recíproca, conforme já examinado, não é verdadeira, por é perfeitamente possível a extinção da obrigação acessória sem que prin- cipal seja atingida. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E RESPONSABILIDADE CIVIL FGV DIREITO RIO 79 Quando houver pluralidade de devedores, deve-se ter em mente que: Art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida. No tocante à indivisibilidade, vale ainda destacar o art. 262 do Código Civil, o qual dispõe que “se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não fi cará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente.” O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão, conforme determinado pelo parágrafo único do mesmo artigo. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E RESPONSABILIDADE CIVIL FGV DIREITO RIO 80 AULA 10: ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA E PAGAMENTO INDEVIDO EMENTÁRIO DE TEMAS: Enriquecimento sem causa — Ação de in rem verso — Pagamento inde- vido — Delineamentos gerais da repetição LEITURA OBRIGATÓRIA: Konder, Carlos Nelson. “Enriquecimento sem causa e pagamento inde- vido”, in Gustavo Tepedino (org) Obrigações: Estudos na perspectiva civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005; pp. 369/388. LEITURAS COMPLEMENTARES: Pereira, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2004; pp. 285/304. Bevilaqua, Clovis. Direito das Obri- gações. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1940; pp. 111/120. 1. ROTEIRO DE AULA: Enriquecimento sem causa O Código Civil trata do pagamento indevido nos artigos 876 a 883 e o enriquecimento sem causa nos artigos 884 a 886. A partir do enquadramento conferido pelo Código aos dois institutos, pode-se classifi cá-los como fontes unilaterais de obrigações. Ao contrário do que dispõe o Código, a doutrina tende a