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A PEB PARA DIREITOS HUMANOS DE FHC E LULA - Analisada através da lógica dos jogos de dois níveis de Putnam

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA
A PEB PARA DIREITOS HUMANOS DE FHC E LULA
analisada através da lógica dos jogos de dois níveis de Putnam
Jéssica Martins
Lisandra Oliveira
Mateus Simon
Priscilla Santana
Pelotas, julho de 2017.
Introdução
De acordo com a Organização das Nações Unidas, entende-se por direitos humanos os “direitos inerentes a todos seres humanos, independente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição”, encontrados em categorias como os direitos civis, políticos, econômicos, sociais, e culturais, nas quais estãos presentes direitos como: “o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação”, entre outros. Embora as categorias sejam de igual importância, alguns países costumavam dar preferência para umas, em detrimento de outras:
No passado, alguns Estados ou grupos de Estados, tais como os Estados socialistas em particular, expressaram preferência pelos direitos econômicos, sociais e culturais, em oposição aos direitos civis e políticos, ao passo que os Estados Unidos da América e os Estados-membros do Conselho da Europa demonstraram uma certa preferência pelos direitos civis e políticos. (COMPREENDER OS DIREITOS HUMANOS – MANUAL DE EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS, 2012)
Apesar de serem direitos inerentes a qualquer pessoa, para que haja a garantia e proteção dos mesmos contra ações do governo, existem os tratados internacionais. Há diferença entre os direitos humanos – que são para todas as pessoas –, os direitos do cidadão – exclusivamente para nacionais de um país – e os direitos das minorias – direitos de pessoas com características étnicas, religiosas ou linguísticas particulares. Entre as características dos direitos humanos, podem ser destacadas:
Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa; 
Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual e sem discriminação a todas as pessoas; 
Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos humanos; eles podem ser limitados em situações específicas. Por exemplo, o direito à liberdade pode ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de um crime diante de um tribunal e com o devido processo legal;
Os direitos humanos são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já que é insuficiente respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a violação de um direito vai afetar o respeito por muitos outros;
Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual importância, sendo igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa. (Site da ONU)
Desde a criação da ONU, em 24 de outubro de 1945, ficou clara a intenção de promover o respeito aos direitos humanos na Carta das Nações Unidas, após as atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Foi então criada a Comissão de Direitos Humanos (chamada dessa forma até 2006, atualmente o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas), com três funções, segundo Hildebrando Accioly: 
Preparar Declaração universal relativa aos direitos civis, políticos, econômicos e sociais do homem;
Elaborar pacto ou convenção, em termos legais, relativo aos direitos civis e políticos, de cumprimento obrigatório para todos os Estados que o assinassem e ratificassem;
Propor medidas para implementar os princípios da Declaração e os dispositivos da Convenção e para examinar as petições e reclamações de indivíduos ou grupos. (ACCIOLY, 2012)
Em 10 de dezembro de 1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas anunciou a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) em Paris. Porém, no âmbito da Comissão de Direitos Humanos, enquanto a Grã-Bretanha gostaria que fosse uma convenção cujo cumprimento fosse obrigatório, prevaleceu a vontade dos Estados Unidos de que fosse apenas uma recomendação, para que a mesma não afetasse a soberania dos estados. Ao perceber a necessidade da adoção de tratados, em 19 de dezembro de 1966, foram adotados o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e seu Protocolo Facultativo, sendo assim abertos à assinatura, ratificação e adesão através de resoluções da Assembléia Geral das Nações Unidas. Entretanto, devido aos seus conteúdos, tais como um trecho no artigo primeiro, dizendo que “todos os povos têm o direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente o seu estatuto político e asseguram livremente o seu desenvolvimento econômico, social e cultural”, as nações desenvolvidas não ratificaram ou aderiram aos Pactos e o Brasil, mesmo participando da elaboração dos mesmos, só os ratificou em janeiro de 1992. Até janeiro de 2012, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) possuia 167 Estados Partes, enquanto o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) tinha 160. Mesmo os Pactos sendo importantes, por ser obrigatório o cumprimento dos países que o assinam, a Declaração é considerada de maior importância, pelo fato da maioria de seus princípios serem tidos como de direito internacional costumeiro. Além da DUDH e dos Pactos, há outras convenções de direitos humanos que os complementam. Juntamente com eles, as mais importantes são: 
Convenção contra o Genocídio (1948 – até 2012 com 142 Estados Partes);
Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio (1948 – até 2012 com 48 Estados Partes);
Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984 – até 2012 com 146 Estados Partes);
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965 – até 2012 com 173 Estados Partes);
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (1979 – até 2012 com 173 Estados Partes);
Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das Suas Famílias (1990 – até 2012 com 45 Estados Partes);
Convenção sobre os Direitos da Criança (1989 – até 2012 com 193 Estados Partes);
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006 – até 2012 com 106 Estados Partes);
Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra Desaparecimentos Forçados (2006 – até 2012 com 30 Estados Partes). (COMPREENDER OS DIREITOS HUMANOS – MANUAL DE EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS, 2012)
Vale citar que o Conselho de Direitos Humanos da ONU possui 47 estados-membros, eleitos para um período de 3 anos, e o Brasil foi eleito em 2016, tendo começado seu mandato em 2017.
Além do sistema universal, no âmbito regional de proteção aos direitos humanos, possuimos o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, que teve início em 1948 com a Carta da Organização dos Estados Americanos, a qual deu origem à OEA. Seu principal órgão é a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (constituída por sete membros e em vigor desde 1959) que desde a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, adotada em 1969, conta com o Tribunal Interamericano de Direitos Humanos – criado em 1979, sediado na Costa Rica.
Quanto à sociedade civil, há diversas ONGs em defesa dos direitos humanos no Brasil, como por exemplo a Anistia Internancional e a Human Rights Watch. Entretanto, é interessante citar que temos a ONG internacional Conectas Direitos Humanos, uma ONG brasileira, fundada em setembro de 2001 em São Paulo. A Conectas visa a promoção da “efetivação dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito, no Sul Global – África, América Latina e Ásia”, e através de seu Programa de Política Externa e Direitos Humanos, “ busca fortalecer a proteção internacional dos direitos humanos, monitorando e influenciando a política externa de países do Sul Global, particularmente do Brasil, e fomentando o uso da ONU e dos sistemas regionais por ONGs da América Latina, África e Ásia. Desde2010, Conectas conta com uma representação permanente em Genebra (Suíça), em parceria com o Centro de Estudios Legales e Sociales (Argentina) e a Corporación Humanas (Chile)” (Site da Conectas). A ONG possui status consultivo na ONU, desde 2006, e status de observador na Comissão Africana de Direitos Humanos, desde 2009.
Tendo essas informações em vista, buscamos analisar neste trabalho a política externa para direitos humanos (PEB-DH) do governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva (2003-2010), através do modelo de análise que Robert Putnam apresenta em “Diplomacy and domestic politics: the logic of two-level games”. 
Desenvolvimento
Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010)
A chegada de um partido de esquerda ao poder, com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva ainda em 2002, gerou uma série de expectativas nas diversas camadas da sociedade, incluindo na comunidade brasileira de direitos humanos. Em prática, não existia um plano de mudanças na área dos direitos humanos quando Lula assumiu o governo, mas de imediato começaram a ser tomadas algumas ações na área. 
Uma das primeiras medidas adotadas pelo presidente, já no seu primeiro dia de mandato, foi criar uma Secretaria Especial de Política para as Mulheres, com o intuito de se fazerem conferências locais para discutirem temas que seriam levados a pauta no ano seguinte, para a realização da Primeira Conferência Nacional de Política para as Mulheres – realizada em junho de 2004. Essa conferência aprovou o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, com oito eixos orientadores: igualdade e respeito à diversidade; equidade; autonomia das mulheres; laicidade do Estado; universalidade das políticas; justiça social; transparência dos atos públicos; participação; e controle social. Somente em 2005, esse plano foi consolidado e divulgado como compromisso de ações setoriais. Não foi disponibilizado, porém, um balanço detalhando a implementação dessas ações, com indicadores. 
Pouco depois, foi criada a Secretaria Especial de Políticas de Promoção a Igualdade Racial, pela MP 111/03, convertida na lei 10.678/03, também junto à Presidência da República e com status de ministro para seu ocupante. Um exemplo a ser analisado nesse contexto todo, é a Secretaria Especial de Direitos Humanos (a antiga Secretaria de Estado dos Direitos Humanos no governo FHC), órgão responsável por gerenciar o Programa Nacional dos Direitos Humanos. Para comandar a pasta, que ganhou status de Ministério, foi nomeado ministro o ex-deputado federal Nilmário Miranda, que havia sido presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Esta mudança significou um aumento de prestígio, tanto para a Secretaria como para os diversos Conselhos Nacionais a ela ligados, que passaram a compor a estrutura da Presidência da República. Em 2005 se realizou uma reforma, devido à saída de ministros que concorreriam às eleições naquele ano. Foram anunciadas, pelo Porta-Voz da Presidência da República, a saída do Ministro Nilmário Miranda, substituído por Mário Mamede, e o retorno da Secretaria atrelada ao Ministério da Justiça. Apesar de ter sido, em tese, rebaixada ao seu antigo status, continuou a estar vinculada à Presidência da República como uma subsecretaria da Secretaria Geral da Presidência. Importante lembrar que o acontecimento gerou inúmeros protestos, tanto de representantes de organizações não governamentais de defesa dos direitos humanos, como da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Uma emenda na Câmara dos Deputados, no projeto de conversão da medida provisória em lei alterou o artigo, restituindo a Secretaria à situação anterior. O Presidente da República sancionou a Lei 11.204, de 5 de dezembro de 2005 com a alteração. O Secretário Mário Mamede, que ocupou o cargo desde julho, tornou-se ministro interino por cerca de uma semana, até a nomeação de Paulo de Tarso Vannuchi como novo ministro, que se manteve até o final do segundo mandato. 
O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos começou a ser elaborado em meados de 2003, com a criação de um grupo com representação da sociedade civil, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, do Ministério da Justiça e do Ministério da Educação. Este grupo foi responsável por criar uma primeira versão do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos em dezembro de 2003. O documento foi muito importante e passou a ser debatido em todo o país, recebendo sugestões de alterações, sendo que o documento definitivo foi apresentado em dezembro de 2006. O plano previa um conjunto de ações direcionadas a diversos temas, como: educação básica, educação superior, educação não-formal, educação dos profissionais dos sistemas de justiça e segurança. Segundo a apresentação do plano,
a implementação do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos visa, sobretudo, difundir a cultura de direitos humanos no país. Essa ação prevê a disseminação de valores solidários, cooperativos e de justiça social, uma vez que o processo de democratização requer o fortalecimento da sociedade civil, a fim de que seja capaz de identificar anseios e demandas, transformando-as em conquistas que só serão efetivadas, de fato, na medida em que forem incorporadas pelo Estado brasileiro como políticas públicas universais. (BRASIL, 2007, p.18)
As motivações da criação do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos podem ser consideradas compatíveis com a formulação inicial do I Plano Nacional de Direitos Humanos, que avaliava a inexistência de uma cultura de direitos humanos no Brasil. No entanto, no texto do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos há apenas três referências ao PNDH, citado como antecedente da política de direitos humanos no Brasil, constando ainda que o novo plano deve aprofundar as propostas da educação em direitos humanos existentes no PNDH. 
A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial disponibilizou uma avaliação mais sistemática de suas ações ao longo do primeiro mandato Lula. Consolidou sua estratégia em uma Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR), baseada em três eixos temáticos. No eixo Quilombo e outras Comunidades Tradicionais, desenvolveu ações para as comunidades tradicionais afrodescendentes, comunidades religiosas de terreiro, indígenas e ciganas, além de ações de segurança alimentar;no eixo Políticas de Ações Afirmativas, a secretaria teve ações nas áreas de educação para cidadania, geração de renda, saúde e cultura; e no terceiro eixo, buscou fortalecer o diálogo internacional na formulação de Políticas e Relações Multilaterais
Lula criou alguns importantes programas, tais como o Programa Fome Zero, que foi criado no início do seu primeiro governo em 2003 e iniciou a retirada do Brasil do Mapa da Fome, e o programa Bolsa-Família, surgindo da unificação das ações de transferência de renda do Governo Federal. 
Umas das posições do presidente Lula em relação aos direitos humanos, foi criticar a ordem internacional, em busca de valores universais, tais como os direitos humanos, uma globalização mais igualitária e inclusiva. Para isso ele precisava, não só da cooperação internacional, como das práticas desenvolvimentistas que tinha como objetivo. 
Lula participou de diversos foros e negociações internacionais sobre direitos humanos, comércio, meio ambiente, dentre outros. Podemos falar, com base em sua gestão e em sua estabilidade doméstica e política externa assertiva, no aproveitamento do cenário internacional. Externamente, ele soube aproveitar da multipolaridade ea tranquilidade com que enfrentou a crise financeira no período de 2008-2009 o ajudou ainda mais em seu relacionamento internacional e em uma melhor posição de negociações. Segundo Celso Amorim, seu então ministro, "nos oitos anos do governo Lula, o Brasil desenvolveu uma diplomacia independente, uma politica de não-alinhamento automático e de democratização do sistema e do fortalecimento nas relações sul-sul."Houve a criação do IBAS (Fórum de Diálogo entre Índia, Brasil e África do Sul) e do G3, contando com a aproximaçãoe a negociação de ambos, promovendo o desenvolvimento nas três esferas – econômica, cultural e científica – assim, procurando incentivar essa democratização utilizando desses recursos com países não só desenvolvidos como em desenvolvimento.
O Brasil obteve responsabilidades no âmbito da proteção dos direitos humanos globalmente, não só porque deriva do artigo 4°, II, da Constituição Federal, mas também por seu destaque internacional, tratados por ele assinados, no âmbito regional, bilateral e multilateral. Apesar disso, nem sempre ele foi o principio das atuações internacionais do país, sendo até mesmo questionáveis, em uma politica externa que "contrapôs pragmatismo e princípios" (VIGEVANI, 2007). Uma vez que se relacionou tanto com países democráticos como não democráticos, muitos deles inclusive não respeitavam os direitos fundamentais dos seus cidadãos, como por exemplo a Coréia do Norte, Irã e Sudão. Apesar de ter tido durante seu governo iniciativas admiráveis, sua postura frente a esses casos mostra que a proteção desses direitos nem sempre foram tema e foco principal. 
No período de 2004, a iniciativa da criação da Reunião de Altas Autoridades de Direitos Humanos veio de Lula, o mesmo foi protagonista no campo de educação, direitos dos adolescentes, da criança e do idoso, etc. Durante seu governo, Lula conseguiu um maior destaque internacional para o país, assim como uma maior responsabilidade, tal como a proteção dos direitos humanos. Porém, como nos casos apresentados acima, em países em que existe a violação dessa proteção por parte de seus lideres, o presidente brasileiro nem sempre conseguiu guiar-se durante suas negociações sobre estes princípios na politica externa brasileira. Ainda sobre suas politicas, seus programas como Fome Zero, foram reproduzidos em âmbito internacional, tanto nos países do Sul – Argentina, Paraguai, Haiti –, como no domínio das Nações Unidas, assinando acordos de cooperação em alimentação escolar no Caribe e na África. Em 2009, Olivier Schutter (relator especial da ONU para o direito à alimentação) publicou seu relatório sobre a visita no Brasil onde o mesmo reportou os avanços do direito à alimentação, a expansão do programa Fome Zero e o apoio à agricultura familiar, apresentando assim progresso envolvendo o governo brasileiro. 
O caso do Haiti, em 2003, foi uma estratégia do presidente visando a cooperação em políticas para promover a paz internacional ou nacional, assim como um forte interesse em um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Sua estratégia internacional foi enviar tropas, aproximadamente 1.200 militares, arcando com partes dos custos. Podemos encaixar este caso do Haiti, como uma "autonomia pela diversificação", uma vez que o Brasil tenta fortalecer seu papel internacional superando esses custos e buscando novas alternativas nas relações internacionais.
[...] manter excelentes relações políticas, econômicas e comerciais com as grandes potências mundiais (especialmente os Estados Unidos) e, ao mesmo tempo, priorizar os laços com o Sul do mundo (LULA DA SILVA, 2007). 
Em seu primeiro mandado, Lula passou a "aceitar o princípio de livre-comércio, mas optou por barganhar de forma mais intensa" (VIGEVANI, 2007) levando a aumentos de dissidências nas negociações da ALCA. No entanto, o Mercosul tem como objetivo uma busca por melhor inclusão de seus membros, com competitividade econômica, mas em sua atuação externa conjunta. Assim, Lula em um de seus discursos após a posse, disse que o Mercosul seria um "amplo processo de aproximação politica, social e cultural entre os países da região, empenhando-se na integração da América do Sul". 
O Brasil, pode-se dizer que, no período Lula, obteve grande êxito e foi referência em relação ao combate a fome e a pobreza. Com seus dois grandes programas, conseguiu não só efetuar seu plano no nível doméstico, como os ampliou e disseminou em nível internacional, incentivando outros países a apoiar e trocar projetos e acordos. Entretanto, na esfera da proteção dos direitos humanos, o mesmo não conseguiu contribuir na diminuição nos países que os violam, uma vez que seu ministro Celso Amorim já havia comentado sobre a não intervenção nos assuntos "domésticos" de outros países,mas sim um diálogo.Assumindo esta postura, o país automaticamente reconhece a violação desses direitos por parte do outro solicitando a reparação as vitimas, no caso contrário, a postura brasileira poderia ser interpretada como incentivadora de tais violações, o que colocaria em risco não só constitucionalmente como internacionalmente suas conquistas.
No entanto, houveram também retrocessos durante os mandatos do presidente Lula. Entre o que podemos definir como negativo, está o que aconteceu em relação ao trabalho de prevenção à tortura e ao sistema de proteção a testemunhas. No caso do combate à tortura, inserido no Programa Garantia do Direito à Justiça do PNDH II, a campanha contava com uma central nacional que absorvia e organizava as informações do disque denúncia, do sistema SOS Tortura, que contava com 24 centrais estaduais. Entre outubro de 2001 e janeiro de 2004, esse sistema recebeu 26.587 ligações e registrou 2.532 alegações de tortura, crimes de tortura e crimes correlatos em seu banco de dados (WILLADINO, 2006). Em 2004, o governo encerrou o convênio com o MNDH (Movimento Nacional de Direitos Humanos), que operava o sistema, prometendo substituí-lo por um novo sistema “Disque Direitos Humanos”, mas não cumpriu a promessa. Em relação ao Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas (PROVITA), ocorreu uma diminuição de recursos e o Estado continuou deixando a maior responsabilidade nas mãos das organizações da sociedade. 
Durante o segundo mandato do presidente, que se estendeu até o primeiro dia de 2011, o monitoramento sistemático de algumas das ações do governo, efetuado por um conjunto de organizações civis, que têm como focos setoriais os direitos humanos no país, mostrou que houve certa dispersão da agenda. Apesar de demonstrar uma forte preocupação com os direitos humanos, de possuir um enorme capital político e de ser depositário de fortes expectativas de mudanças continuas, não teve ao longo de seus dois mandatos um novo projeto para o país, no sentido de transformações mais profundas. A estratégia de políticas públicas em direitos humanos no Brasil, principalmente a partir do segundo mandato de Lula, representou abandono de muitos programas estratégicos, com destaque para os direitos civis.
Podemos enfatizar, sob a perspectiva dos Jogos de Dois Níveis de Putnam, que a política voltada aos Direitos Humanos de Lula era bastante ligada ao nível doméstico (1), nível esse que é considerado bastante complexo e onde o governo buscou obter grandes avanços para ter uma sociedade mais justa e igualitária. Foram criados grupos, fóruns, feitas pesquisas para se fazer o melhor possível em diferentes temas (cabe citar aqui a criação do Bolsa Família e do Fome Zero, combate a violência contra mulher e racismo, dentre outras), políticas essas que agradavam a grande massa popular por conseguirem atender demandas da sociedade e conseguiam uma maior aprovação popular perante tudo e todos que compõem o ambiente doméstico, incluindo a opinião pública, agentes burocratas, grupos de interesses, etc., permitindo assim que o país aumentasse seu Conjunto de Ganhos e conseguisse aprovação para ratificação dos mais variados tipos de acordos negociados no ambiente externo. Com uma boa imagem e aceitação alta dentro da esfera doméstica, o governo sente-se a vontade para trabalhar sua imagem no nível externo (L1). Passa-se, por consequência disso, a ideia de mostrar uma imagem de um país forte, que cresce e avança nas mais diversas áreas, visando entre outras coisas a igualdade de oportunidades. Aliado a essa nova imagem que o país passou a mostrar pro exterior, a imagem de seu principal negociador – o próprio chefe de estado – passou a ser a de um presidente com forte apelo doméstico, que entende dosassuntos internos e com uma nação que confia plenamente na maioria de suas ações. O Brasil tinha um chefe de estado diplomaticamente mais engajado. Houve um aumento do "bem-estar" nacional e do prestígio internacional do país, não podendo deixar de se reconhecer seu caráter dinâmico e "multi-presencial" de lídar com negociações no nível externo. Lula não apenas confirmou seu interesse em ter relações estratégicas, mas também tomou diversas iniciativas políticas para traduzir a retórica em realidade, em especial visitando ou recebendo, bilateralmente, todos os chefes de Estado da região. Ainda no nível L1, o Brasil renovou durante a era Lula seu compromisso internacional com os direitos humanos ratificando os principais instrumentos internacionais sobre o tema. Reconheceu a competência obrigatória da Corte Interamericana de Direitos Humanos e estendeu convite permanente aos relatores dos procedimentos especiais do Sistema ONU. Ao todo, o país recebeu visita de 11 relatores, que trouxeram contribuição positiva, com diagnósticos e recomendações úteis a respeito de alguns dos nossos principais desafios na área. 
O Brasil pautou sua atuação pela defesa do diálogo e do exemplo, e por uma visão abrangente – não hierarquizante, nem seletiva – de que todos os países têm deficiências e podem beneficiar-se da cooperação. (AMORIM, 2010)
Um exemplo disso foi a participação ativa do país no Conselho de Direitos Humanos, que iniciou seus trabalhos em 19 de junho de 2006, com expectativas concentradas no processo de construção institucional. O Brasil, eleito para a primeira composição do CDH com a maior votação entre os países da América Latina e Caribe, manteve postura mediadora e construtiva. Em 2008, o Brasil foi reconduzido ao órgão, novamente com votação expressiva. Chama atenção a preferência brasileira pela negociação e pela intenção de colaborar com que todos países a sua volta estejam com níveis domésticos estáveis, para assim poder negociar e fecharem acordos dentro do âmbito internacional com os mesmos.
Conclusão
Concluímos com o presente trabalho, que o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, de 2003 à 2010, buscou ao longo de seus dois mandatos equilíbrio doméstico e elevar a importância do país no Sistema Internacional. Apesar de não trazer grandes expectativas inicialmente, o presidente trouxe grandes avanços na área, elevando o status do país a nível internacional com medidas de grandes resultados, como o Fome Zero. A participação nos forúns e ciclos de conversa internacionais, mostraram a proatividade e preocupação de Lula na busca por melhorias na área. 
 Em nível doméstico, percebe-se que Lula optou por priorizar os direitos humanos. Notando-se a partir de diversas ações, como por exemplo, a criação de diversas secretarias, uma inclusive promovida temporariamente ao status de ministério, além de políticas públicas voltadas para a melhoria do bem-estar social. Dessa maneira, Lula atendeu as demandas na esfera doméstica, propiciando maior aceitação por partidos políticos, grupos de interesses, opinião pública, agente burocratas, etc. criando um ambiente estável e de grande aceitação por parte da sociedade em geral a suas atitudes.
Já em nível internacional, o país buscou uma melhor imagem perante demais países mostrando ter credibilidade para negociar e cumprir acordos, buscando se fazer presentes em negociações e demonstrar opinião nos mais diversos assuntos, ou seja, sob a perspectiva do jogo de dois níveis o país fez o possível para seguir seu caminho em busca de se tornar um país mais desenvolvido. Apesar dos retrocessos em áreas específicas, percebe-se o período, como um todo, com saldos extremamente positivos, tanto nacional, como internacionalmente.
Referências
https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/
https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/sistemaonu/
ACCIOLY, Hildebrando; DO NASCIMENTO E SILVA, G. E.; CASELLA BORBA, Paulo. “Manual de Direito Internacional Público”. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
http://www.conectas.org/pt/quem-somos
http://www.conectas.org/pt/institucional/programas
“Compreender os direitos humanos – manual de educação para os direitos humanos”. Ius Gentium Conimbrigae, 2012
CICONELLO, Alexandre. “Os avanços e contradições das políticas de direitos humanos no governo Lula”
LOURENÇO DE ALMEIDA, Wellington. “A estratégia de políticas públicas em direitos humanos no Brasil no primeiro mandato Lula”. R. Katál., Florianópolis, v. 14, n. 2, p. 230-238, jul./dez. 2011
GONZÁLEZ STUMPF, Rodrigo. “A POLÍTICA DE PROMOÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS NO GOVERNO LULA”. REVISTA DEBATES, Porto Alegre, v.4, n.2, p. 107-135, jul.-dez. 2010
Paulo de Mesquita Neto. “Programa Nacional de Direitos Humanos: continuidade ou mudança no tratamento dos Direitos Humanos”
Paulo de Mesquita Neto Paulo Sérgio Pinheiro. “Direitos Humanos no Brasil Perspectivas do Final do Século”
Paulo Sérgio Pinheiro e Paulo Mesquita Neto. “Programa Nacional de Direitos Humanos: Avaliação do Primeiro Ano e Perspectivas”. Revista USP/Estudos Avançados nº 30, Volume II, Maio/Agosto de 1.997
Paulo Roberto de Almeida. “Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula”. Rev. bras. polít. int. vol.47 no.1 Brasília Jan./June 2004
ASSANO LISSA, Camila; NADER, Lucia. “Reflexões sobre a política externa em direitos humanos do governo Lula”.
VIGEVANI, Tullo; CEPALUNI, Gabriel. “A política externa de Lula da Silva: a estratégia da autonomia pela diversificação”. Contexto int. vol.29 no.2 Rio de Janeiro July/Dec. 2007

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