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Disciplina Estruturas AlgébricasEstruturas AlgébricasEstruturas AlgébricasEstruturas Algébricas Coordenador da Disciplina Prof. José Valter Lopes NunesProf. José Valter Lopes NunesProf. José Valter Lopes NunesProf. José Valter Lopes Nunes 1ª Edição Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. Créditos desta disciplina Coordenação Coordenador UAB Prof. Mauro Pequeno Coordenador Adjunto UAB Prof. Henrique Pequeno Coordenador do Curso Prof. Marcos Ferreira de Melo Coordenador de Tutoria Prof. Celso Antônio Silva Barbosa Coordenador da Disciplina Prof. José Valter Lopes Nunes Conteúdo Autor da Disciplina Prof. José Othon Dantas Lopes Setor TecnologiasDigitais - STD Coordenador do Setor Prof. Henrique Sergio Lima Pequeno Centro de Produção I - (Material Didático) Gerente: Nídia Maria Barone Subgerente: Paulo André Lima / José André Loureiro Transição Didática Dayse Martins Pereira Elen Cristina S. Bezerra Enoe Cristina Amorim Fátima Silva e Souza Hellen Paula Pereira José Adriano de Oliveira Karla Colares Viviane Sá de lima Formatação Camilo Cavalcante Elilia Rocha Emerson Mendes Oliveira Francisco Ribeiro Givanildo Pereira Sued de Deus Programação Andrei Bosco Damis Iuri Garcia Publicação João Ciro Saraiva Design, Impressão e 3D André Lima Vieira Eduardo Ferreira Iranilson Pereira Luiz Fernando Soares Marllon Lima Gerentes Audiovisual: Andréa Pinheiro Desenvolvimento: Wellington Wagner Sarmento Suporte: Paulo de Tarso Cavalcante SumárioSumárioSumárioSumário Aula 01: Relações de equivalência e Operações Binárias ...................................................................... 01 Tópico 01: Relações de equivalência ..................................................................................................... 01 Tópico 02: Operações Binárias .............................................................................................................. 04 Aula 02: Os Inteiros .................................................................................................................................. 06 Tópico 01: Indução e o Algoritmo da Divisão ....................................................................................... 06 Tópico 02: A Aritmética dos Inteiros: Divisibilidade, Números Primos e o Teorema da Aritmética ... 10 Aula 03: Grupos ........................................................................................................................................ 14 Tópico 01: Teoria Básica dos Grupos .................................................................................................... 14 Tópico 02: Subgrupos, Grupos Cíclicos e Grupos Quociente ............................................................... 19 Tópico 02: Homomorfismo de Grupos .................................................................................................. 25 Aula 04: Anéis ........................................................................................................................................... 28 Tópico 01: Anéis .................................................................................................................................... 28 Tópico 02: Subanéis, Ideais e Anel quociente ....................................................................................... 31 Tópico 02: Homorfismo de Anéis, Domínio de Integridade Domínio de Fatoração Única .................. 35 Aula 05: Corpos ......................................................................................................................................... 40 Tópico 01: Teoria Básica dos corpos. Subcorpos .................................................................................. 40 Tópico 02: Corpo de Frações e Homomorfismo de Corpo .................................................................... 42 Aula 06: Polinômio .................................................................................................................................... 45 Tópico 01: Polinômios sobre um anel. Polinômios sobre um corpo. Algorítmo da Divisão ................. 45 Tópico 02: MDC, Fatoração e Critérios de irredutibilidade .................................................................. 47 TÓPICO 01: RELAÇÕES DE EQUIVALÊNCIA MULTIMÍDIA Ligue o som do seu computador! Obs.: Alguns recursos de multimídia utilizados em nossas aulas, como vídeos legendados e animações, requerem a instalação da versão mais atualizada do programa Adobe Flash Player©. Para baixar a versão mais recente do programa Adobe Flash Player, clique aqui! [1] PALAVRAS DO COORDENADOR DA DISCIPLINA VERSÃO TEXTUAL Olá! Seja vindo a disciplina Álgebra Abstrata. Meu nome é José Valter, sou professor do departamento de Matemática da Universidade Federal do Ceará e responsável por esta disciplina. Nosso objetivo aqui é desenvolver o raciocínio e a habilidade no trato com certas questões fundamentais em matemática a partir do estudo das estruturas algébricas. Começaremos com relação de equivalência em seguida mostraremos como as operações usuais nos conjuntos dos números inteiros nos dão uma estrutura. Estudaremos grupos, anéis, corpos e finalmente veremos o anel dos polinômios. Você que já tem a experiência dos semestres anteriores sabe que para garantir o sucesso é importante o estudo diário com a tentativa de resolver os exercícios propostos no texto. È fundamental que você leve suas duvidas ao fórum, lá você encontrará os seus colegas e o professor-tutor para discutir e ajuda-lo a esclarecer dúvidas. Quero chamar atenção sobre sua participação no fórum e a entrega das tarefas, no portfólio. Além de serem parte na avaliação elas também contam presença. Finalmente que ressaltar que nossos tutores e eu estaremos sempre ao seu dispor para lhe ajudar a alcançar o seu objetivo. Bom trabalho! Considere dois conjuntos não vazios A e B. Uma relação de A em B é uma correspondência qualquer entre elementos de A e elementos de B. Como a correspondência é qualquer pode ocorrer que um elemento de A não se relacione com nenhum elemento de B. Pode ocorrer também que um elemento de A se relacione com um ou mais elementos de B. Se uma relação de A em B for representada pela letra R representamos o fato de um elemento a A estar relacionado com um elemento b A por aRb ou simplesmente por (a,b) R. Esta última notação sugere uma identificação da relação R com um subconjunto não vazio do produto cartesiano AxB. Muitos autores preferem definir uma relação de A em B como sendo um ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 01: RELAÇÕES DE EQUIVALÊNCIA E OPERAÇÕES BINÁRIAS 1 subconjunto não vazio do produto cartesiano AxB. Uma relação de A em A é chamada simplesmente de relação em A. Muitas vezes, ao invés de letras, usamos símbolos, como por exemplo “~”, para representar uma relação. Estudaremos um tipo de relação especial em um conjunto não vazio A chamada de relação de equivalência em A. Definição Dado um conjunto não vazio A e uma relação R em A, dizemos que R é uma relação de equivalência se satisfaz às seguintes propriedades: 1) xRx, x A 2) xRy yRx 3) xRy e yRz xRz A propriedade (1) é chamada de propriedade reflexiva. A propriedade (2) é chamada de propriedade simétrica. Apropriedade (3) é chamada de propriedade transitiva. O conjunto Cx = {y A; yRx} é chamado de classe de equivalência de x. Temos então Cx A para todo x A. A partir da propriedade reflexiva temos x Cx para todo x A e, portanto Cx para todo x A. Como Cx A e x Cx para todo x A, temos = A Definição O conjunto das classes de equivalência determinadas pela relação de equivalência R em A é chamado de conjunto quociente de A por R e é denotado por A/R. Assim A/R = {Cx; x A} TEOREMA 1 A, temos: ou Cx = Cy , ou Cx Cy = . A tem-se: ou xRy, ou x não está relacionado com y. i)Se xRy, vamos mostrar que Cx = Cy Se z Cx temos zRx. Como xRy, tem-se, pela propriedade transitiva, que zRy e daí z Cy. Logo Cx Cy. (*) 2 Por outro lado, se Se z Cy temos zRy. Como xRy, tem-se, pela propriedade simétrica, que yRx e daí, pela propriedade transitiva, temos que zRx e então z Cx. Logo Cy Cx. (**). De (*) e (**), temos Cx = Cy i) Se x e y não estão relacionados Suponha que Cx Cy e seja z Cx Cy Então z Cx e z Cy. Mas z Cx zRx xRz e z Cy zRy Temos então xRz e zRy. Daí, pela propriedade transitiva, xRy, isto é , x e y estão relacionados, o que contradiz a nossa hipótese. Logo Cx Cy = . OLHANDO DE PERTO O conjunto quociente A/R é portanto um subconjunto do conjuntos das partes do conjunto A, cuja união de seus elementos é igual ao conjunto A e cuja interseção de dois elementos distintos é vazia. Qualquer subconjunto do conjunto das partes de um conjunto que tenha estas propriedades é chamado de partição de A. Assim uma relação de equivalência em A determina uma partição do conjunto A. EXERCITANDO Mostre que toda partição de um conjunto não vazio A determina uma relação de equivalência em A e conclua que podemos identificar as relações de equivalência em A com as partições de A. EXEMPLO Seja A={2,3,4,5,6,7,8}. Defina em A a relação R por aRb se a-b é um inteiro par. Mostre que R é uma relação de equivalência em A e encontre A/R De fato temos: 1) xRx, x A pois x-x=0, que é um inteiro par 2) xRy x-y par y-x par yRx 3) xRy e yRz x-y par e y-x par (x-y)+(y-z)=x-z par xRz. Temos C2=C4=C6=C8= {2,4,6,8} e C3=C5=C7 ={3,5,7}. Daí A/R={{2,4,6,8},{3,5,7}} FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.adobe.com/products/flashplayer/ 3 TÓPICO 02: OPERAÇÕES BINÁRIAS Dado um conjunto não vazio A, uma operação binária em A é uma função do produto cartesiano A x A em A. Se denotarmos essa função por “•”, denotaremos a imagem do par (a,b) por a • b. As operações binárias constituem a base do estudo das estruturas algébricas. Nas aulas seguintes estudaremos as estruturas de grupos, monóides, semi-grupos, anéis e corpos. Exemplos de operações binárias são as operações usuais de adição e multiplicação no conjunto dos números inteiros. PROPRIEDADES COMUTATIVIDADE ASSOCIATIVIDADE DISTRIBUTIVIDADE ELEMENTO NEUTRO ELEMENTO INVERSO COMUTATIVIDADE Dizemos que uma operação em um conjunto A é comutativa se a•b= b•a, quaisquer que sejam a e b pertencentes ao conjunto A. Exemplo Se “.” e “+” são as operações de adição e multiplicação usuais de números inteiros sabemos que a+b=b+a e a.b=b.a, quaisquer que sejam os inteiros a e b. Portanto “.” e “+” são operações comutativas no conjunto Z, dos números inteiros. ASSOCIATIVIDADE: Dizemos que uma operação em um conjunto A é associativa se (a•b) •c= a•(b•c), quaisquer que sejam a,b e c pertencentes ao conjunto A. Exemplo Se “.” e “+” são as operações de adição e multiplicação usuais de números inteiros sabemos que (a+b)+c=a+(b+c) e (a.b).c=a.(b.c), quaisquer que sejam os inteiros a,b e c. Portanto “.” e “+” são operações associativas no conjunto Z, dos números inteiros. DISTRIBUTIVIDADE Se “•” e “◦” são duas operações em um conjunto A, dizemos que a operação “◦” é distributiva em relação à operação “•” se a◦(b•c)=(a◦b) • (a◦c) e (b•c)◦a =(b◦a) • (c◦a), quaisquer que seja a,b e c pertencentes ao conjunto A. Exemplo Se “.” e “+” são as operações de adição e multiplicação usuais de números inteiros sabemos que a.(b+c)=a.b+a.c e (b+c).a=b.a+c.a, quaisquer ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 01: RELAÇÕES DE EQUIVALÊNCIA E OPERAÇÕES BINÁRIAS 4 que sejam os inteiros a,b e c. Portanto a operação “.” é distributiva em relação a operação “+”. ELEMENTO NEUTRO Seja “•” uma operação em um conjunto A. Se existe um elemento e pertencente ao conjunto A, tal que e•x=x•e=x para todo x pertencente ao conjunto A, este elemento e é chamado de elemento neutro de A, com relação à operação “•” Observe que o elemento neutro, quando existe, é único. De fato, se e e e’ são elementos neutros de uma operação “•” em um conjunto A temos respectivamente e•e’=e’ e e•e’=e. Daí e=e’. Exemplo Se “.” e “+” são as operações de adição e multiplicação usuais de números inteiros temos 1.x=x.1=x e 0+x=x+0=x para todo número inteiro x. Assim 1 é o elemento neutro de Z com relação à operação “.” e 0 é o elemento neutro de Z com relação à operação “+”. ELEMENTO INVERSO Seja “•” uma operação em um conjunto A, para a qual existe o elemento neutro “e”. Dado um elemento a, pertencente ao conjunto A, dizemos que a é invertível com relação à operação “•” se existir a’ pertencente ao conjunto A, tal que a•a’=a’•a=e. Neste caso o elemento a’ é chamado de inverso do elemento a, com relação á operação “•”. Exemplo Com relação à operação produto usual nos inteiros os únicos elementos invertíveis são 1 e -1. EXERCITANDO Mostre que se a é um elemento invertível então seu inverso é único. FÓRUM Discuta, no Fórum da Aula 1, com os colegas ou com o professor tutor, as dúvidas sobre os exercícios ou sobre a matéria da Aula 1. Lembre que sua participação no Fórum vale presença e nota de avaliação. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Poste no Portfólio da Aula 1, a solução do exercitando do Tópico 1, no Texto, e dos exercícios 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9 e 10 da lista de exercícios da aula 1 que se encontra no material de apoio e que você pode obter no link Aula 1 (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.). FONTES DAS IMAGENS Responsável: Prof. José Valter Lopes Nunes 5 TÓPICO 01: INDUÇÃO E O ALGORITMO DA DIVISÃO Não faremos aqui a construção axiomática dos conjuntos numéricos N={1,2,3, ...} , Z={ 0, 1, 2, 3, ... } e Q={m/n; m,n Z e n≠0}, R e C respectivamente dos números naturais, inteiros, racionais, reais e complexos. Admitiremos conhecidas as propriedades elementares destes conjuntos e das operações usuais de adição e multiplicação definidas nos mesmos. Dentre as propriedades elementares das operações adição e multiplicação destacamos, dentre outras, a associatividade, a comutatividade, a distributividade da multiplicação em relação à adição e a existência de elementos neutros. Destacamos também, e admitiremos, as propriedades relativas à ordem natural existente nestes conjuntos. Além disso, a seguinte propriedade dos inteiros será considerada como axioma e será chamado de Axioma da boa ordem. Todos os outros resultados serão demonstrados a partir deste axioma e das propriedades elementares das operações de adição e multiplicação. Axioma da Boa Ordem: Todo conjunto não vazio de inteiros positivos possui um menor elemento. Usando o axioma da boa ordem provaremos o princípio da indução. 1º Princípio da Indução Seja T um subconjunto do conjunto dos números naturais com as seguintes propriedades: i. 1 T ii. Se n T então n+1 T. Então T= N DEMONSTRAÇÃO Suponha que Logo o conjunto N-T é um subconjunto não vazio dos inteiros positivos e, portanto, pelo axioma da boa ordem, N-T possui um menor elemento t. Temos t>1,pois daí . Por outro lado, como t é o menor elemento de N-T, t-1 não pertence a N-T daí . Por (ii) , o que é um absurdo. Logo T=N. EXEMPLO Mostre que ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 02: OS INTEIROS 6 Seja então T conjunto dos elementos de N para os quais a igualdade é verdadeira. Vamos mostrar que T=N Como temos Se então e dai o que implica Portanto, pelo 1º princípio da indução, T=N. EXERCITANDO 1 Mostre que se considerarmos, ao invés dos números naturais, o subconjunto dos inteiros S={k, k+1, k+2, ...} e T um subconjunto de S tal que k T e ( n T ⇒ n+1 T ), então T=S. Isso mostra que o 1º princípio da indução pode ser generalizado. 2º Princípio da Indução: Seja T um subconjunto do conjunto dos números inteiros não negativos com as seguintes propriedades: i. 1 T ii. Se 1,2,...,n pertencem a T então n+1 T Então T= N Demonstração: exercício (análoga ao 1º princípio). EXERCITANDO 2 Mostre que o 2º princípio da indução também pode ser generalizado. Mais precisamente, mostre que, se considerarmos, ao invés dos números naturais, o subconjunto dos inteiros S={k, k+1, k+2, ...} e T um subconjunto de S tal que k T e ( k, k+1,...,n T ⇒ n+1 T ), então T=S. O 2º princípio da indução é apenas uma variante do 1º princípio. Na verdade os dois princípios são equivalentes e podemos chamá-los simplesmente de Princípio da Indução. As propriedades (i) e (ii) são chamadas de hipóteses de indução.Na maioria das situações aplicamos o 1º princípio, porém, em certas ocasiões, precisamos aplicar o 2º princípio e portanto devemos nos familiarizar com as duas versões. Na verdade a aplicação do 2º princípio será necessária quando para mostrarmos que k+1 T necessitamos não somente do fato de k T, mas que elementos precedentes também pertençam a T. Como aplicação do 2º princípio de indução provaremos o algoritmo da divisão. Teorema 1 (algoritmo da divisão) 7 Sejam m e n inteiros não negativos e m>0. Então existem inteiros não negativos q e r, unicamente determinados tais que n=qm+r e 0 ≤ r < m. DEMONSTRAÇÃO Se n=0 tomamos q=r=0 então o resultado vale. Suponhamos que n>0. Usaremos indução sobre n. Suponha n=1, se m=1 temos 1 = 1.1+0 e então q=1 e r=0. Se m>1, temos 1=0.1+1 e então q=0 e r=1< m Suponha que o resultado seja válido para 1,2,...,n. Vamos mostrar que o resultado vale para n+1. Se n+ 1< m temos n+1=0.m+(m+(n+1) e então q=0 e r=n+1< m. Se temos e daí o resultado vale para n+1-m e assim com . Daí temos . Tomando temos n+1=qm+r com , que é o que queríamos demonstrar. Observe que tivemos que usar o segundo princípio pois usamos a validade do resultado não para n mais sim para n+1-m, o qual é menor que n+1 e portanto menor ou igual a n. Mostraremos agora a unicidade. Suponha que . Temos então De (I), (II) e (III) temos o que não pode ocorrer pois é inteiro e m>o. Logo Como temos Como m>o temos Corolário: Sejam m e n inteiros não negativos e m>0. Existe um único múltiplo qm de m tal que qm≤n<(q+1)m DEMONSTRAÇÃO De fato, do algoritmo da divisão, temos não negativos q e r, unicamente determinados tais que n=qm+r e 0 ≤ r< m. Neste caso temos qm≤ qm+r < qm + m = q (m+1) e assim qm ≤ n <(q+1) m. A unicidade de qm decorre da unicidade de q. EXERCITANDO 3 Generalize o algoritmo da divisão. Mais precisamente, mostre que se m e n inteiros e m≠0 então existem inteiros q e r, unicamente determinados tais que n=qm+r e 0≤r<|m|. A partir daí generalize o corolário. Mais precisamente, mostre que, se m e n inteiros e m≠0 então existe um único múltiplo qm de m tal que qm≤n<(q+1)m. A generalização deste corolário é o resultado conhecido como Teorema de Eudoxios e 8 costuma ser atribuído a Arquimedes e chamado de Princípio de Arquimedes. FONTES DAS IMAGENS Responsável: Prof. José Valter Lopes Nunes Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 9 TÓPICO 02: A ARITMÉTICA DOS INTEIROS: DIVISIBILIDADE, NÚMEROS PRIMOS E O TEOREMA FUNDAMENTAL DA ARITMÉTICA Agora estudaremos algumas propriedades específicas dos Inteiros, as quais chamaremos de propriedades aritméticas. DIVISIBILIDADE No algoritmo da divisão, os números m, n, q e r são chamados respectivamente de divisor, dividendo, quociente e resto. O algoritmo da divisão na verdade nos garante que nos inteiros é possível efetuar a divisão de um número inteiro n por um inteiro não nulo m, obtendo q como resultado dessa divisão (o quociente) e r como resto. OBSERVAÇÃO Quando o resto é zero dizemos que m divide n, ou que n é divisível por m ou ainda, que n é múltiplo de m. Propriedades da divisão: i) a\0, a\a e –a\a a Z ii) 1\a e -1\a aZ iii) Se a\b então a\bx xZ. iv) Se a\b e a\c então a\(b+c) v) Se a\b e b\c então a\c vi) Se a\b e c\d então ac\bd vii) Se a/b e b\a então a =b viii) Se a\(b+c) e a\b então a\c Demonstração: Exercício Teorema 1: se a e b são inteiros com b≠0 e a\b então |a|≤|b| Demonstração: Exercício Corolário: Se b≠0 então o conjunto dos divisores de b é finito. ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 02: OS INTEIROS 10 Demonstração: Exercício Definição: Dizemos que um número inteiro d é um divisor comum dos inteiros a e b se d\a e d\b. Dizemos que um inteiro m é um múltiplo comum de a e b se a\m e b\m. O fato de o conjunto dos divisores de um inteiro não nulo ser finito nos garante que, dados dois inteiros a e b não ambos nulos, o conjunto dos divisores comuns é finito e, portanto tem um maior elemento. Este maior elemento é chamado de máximo divisor comum de a e b e é denotado por MDC(a,b) ou simplesmente (a,b). O menor múltiplo comum positivo de a e b é chamado de mínimo múltiplo comum de a e b e é denotado por MMC(a,b) ou simplesmente [a,b] Definição: dizemos que dois inteiros a e b são relativamente primos se MDC(a,b)=1 Teorema:2 Se d é o máximo divisor comum de dois inteiros não ambos nulos a e b então existem inteiros m e n tais que ma+nb=d. DEMONSTRAÇÃO Seja B o conjunto das combinações lineares ma+nb onde m e n são inteiros. É claro que B contém inteiros positivos, inteiros negativos e também o zero. Vamos escolher m0 e n0 tais que c=m0a+n0b seja o menor inteiro positivo de B. Afirmamos que c\a. De fato, se c não divide a, pelo algoritmo da divisão, existe inteiros q e r tais que a=qc+r com 0 < r < c. Daí r = a – qc = a – q(m0a+n0b)=(1-qn0)a+(-qm0)b e portanto r B o que é uma contradição pois 0 < r < c e c é o menor inteiro positivo de B. Logo c\a. Analogamente mostra-se que c/b. Assim temos c\a e c\b o que implica cd, pois d é o máximo divisor comum de a e b. Por outro lado como d é um divisor comum de a e b temos a=k1d e b=k2d. Como c=m0a+n0b temos c=m0k1d+n0k2d e daí c=(m0k1+n0k2)d, o que implica que d\c e daí dc, pois c e d são positivos. De c≤d e d≤c tem-se c=d e daí existem inteiros m=m0 e n= n0 tais que ma+nb=d Teorema 3: Se a\bc e MDC(a,b)=1 então a\c Demonstração: exercício. 11 Teorema 4: Se a e b são inteiros tais que a = qb +r , onde q e r são inteiros, então MDC(a,b)=MDC(b,r) Demonstração: exercício Corolário (Algoritmo de Euclides): Sejam r0=a e r1=b inteiros não negativos com b 0. Se o algoritmo da divisão for aplicado sucessivamente para obter rj = qj+1rj+1+rj+2 com 0 rj+2<rj+1 para j=0,1,2,...,n-1 e rn+1=0 então MDC(a,b)=rn, o último resto não nulo. Demonstração: exercício. EXEMPLO Use o algoritmo de Euclides para encontrar 0 MDC(16,10) Como 16=1.10+6; 10=1.6 + 4; 6= 1.4 + 2; 4= 2.1 + 0 Temos r0 = a = 16, r1=b=10 O algoritmo da divisão foi aplicado 4 vezes. Obtivemos r2 = 6, r3 = 4, r4 = 2 e r5 = 0 Temos então MDC(16,10) = 2 = r4 , queé o último resto não nulo NÚMEROS PRIMOS E O TEOREMA FUNDAMENTAL DA ARITMÉTICA Definição: um inteiro p>1 é chamado de primo se seus únicos divisores positivos são 1 e p. Um número n>1 que não é primo é chamado de composto. Teorema 5: Se p é um número primo e p\ab então p\a ou p\b DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO Suponha que p não divide a. Então MDC(a,p)=1 e daí, pelo Teorema 3, temos p\b. Logo p\a ou p\b. Teorema 6 (Teorema Fundamental da Aritmética): Todo número inteiro maior que 1 pode ser representado de modo único, a menos da ordem dos fatores, como um produto de números primos. 12 Demonstração: exercícios Teorema 7: Se n = então o conjunto dos divisores positivos de n é o conjunto de todos os números da forma , 0 ≤ ci ≤ ai, i=1,2,...,r Demonstração: exercício Se p1=2, p2=3, p3=5¸... ,pk= k-ésimo primo então podemos escrever todo inteiro positivo n na forma n = , 0 ≤ ai Neste caso, os divisores de n serão da forma , 0 ≤ ci ≤ ai . Observe que todos estes produtos são finitos pois o número de fatores primos de qualquer inteiro é finito. Teorema 8: Se dois inteiros positivos a e b possuem fatorações a = e b = então MDC(a,b) = onde di= mín{ai,bi} e MMC(a,b) = onde ci= máx{ai,bi} Demonstração: exercício. Corolário: MDC(a,b).MMC(a,b)=ab Demonstração: exercício. FÓRUM Discuta, no Fórum da Aula 2, com os colegas ou com o professor tutor, as dúvidas sobre os exercícios ou sobre a matéria da Aula 2. Lembre que sua participação no Fórum vale presença e nota de avaliação. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Poste no Portfólio da Aula 2, a solução dos exercitando 1, 2 e 3 do Tópico 1, no Texto, e dos exercícios 1, 3, 4, 7, 8 e 9 da lista de exercícios da Aula 2 que se encontra no material de apoio e que você pode obter no link Aula 2 (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.). FONTES DAS IMAGENS Responsável: Prof. José Valter Lopes Nunes Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 13 TÓPICO 01: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS SEMIGRUPOS A estrutura algébrica (G, •) é chamada de SEMIGRUPO se “•” é uma operação associativa, isto é, se (x •y) •z = x• (y•z) para todo x,y,z G MONOIDE A estrutura algébrica (G, •) é chamada de MONÓIDE se “•” for associativa e possuir elemento neutro, isto é, se: i) (x•y) •z = x• (y•z) para todo x,y,z G. ii) Existe e G tal que e•x = x•e = x para todo x G. GRUPO A estrutura algébrica (G, •) é chamada de GRUPO se “•” for associativa, possuir elemento neutro e todo elemento de G for invertível, isto é, se: i) (x•y) •z = x• (y•z) para todo x,y,z G. ii) Existe e G tal que e•x = x•e = x para todo x G. iii) Para todo x G existe x’ G tal que x•x’= x’•x = e. Se, além de (i),(ii) e (iii), tivermos x•y = y•x para todo x,y G, dizemos que (G,•) é um grupo comutativo ou abeliano. Iniciaremos agora o estudo das estruturas algébricas. Uma estrutura algébrica é um conjunto não vazio munido de uma ou mais operações, satisfazendo determinadas propriedades. A estrutura algébrica constituída do conjunto não vazio G munido das operações •1, •2, ... , •n será denotada por (G, •1, •2, ... , •n ) Neste capítulo lidaremos com estruturas algébricas constituídas de um conjunto não vazio G munido de uma única operação. As estruturas mais importantes deste tipo são os SEMIGRUPOS,os MONÓIDES e os GRUPOS. Estudaremos mais detalhadamente a estrutura de GRUPO. DEFINIÇÕES Obviamente todo monóide é semigrupo e todo grupo é monóide e também semigrupo. Quando trabalhamos com mais de uma estrutura algébrica é comum representarmos o elemento neutro de um grupo (G, •) por , para diferenciá-lo dos elementos neutros das demais estruturas algébricas com as quais estamos trabalhando. OBSERVAÇÃO ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 03: GRUPOS 14 É comum, quando não há nenhum risco de ambigüidade, representar o grupo (G, •) simplesmente por G. Assim quando nos referimos ao grupo G ficará subentendido que estamos nos referindo ao grupo (G, •), isto é, ao conjunto G munido de uma operação “•”, satisfazendo aos três axiomas da estrutura algébrica que chamamos de grupo. Definição A ordem de um grupo (G, •) é o número de elementos do conjunto G. Denotaremos a ordem de (G, •) por |G| O grupo (G, •) é dito ser finito se o conjunto G for finito. Se G for um conjunto infinito o grupo (G, •) é dito ser infinito EXEMPLOS 1) Considerando os conjuntos N,Z,Q,R e C respectivamente dos números naturais, inteiros, racionais, reais e complexos e as operações usuais de adição ‘+’ e multiplicação ‘.’ , temos: 1. (N,+) é um semigrupo, mas não é um monóide nem tampouco um grupo 1. (Z,.) é um monóide mas não é um grupo 1. (Z,+), (Q,+), (R,+), (C,+), (Q-{0},∙), (R -{0},∙) e (C-{0},∙) são grupos comutativos 2) O conjunto {x R, x>0} dos reais positivos munido da multiplicação usual é um grupo. 3) O conjunto das matrizes mxn, com entradas inteiras, munido da operação adição usual de matrizes é um grupo comutativo 4) O conjunto das matrizes nxn (n>1), de determinante não nulo, com entradas inteiras, munido da operação multiplicação usual de matrizes é um grupo não comutativo 5) Dados os grupos (G1, 1), (G2, 2),..., (Gn, n). Considere o produto cartesiano G1xG2x...xGn munido da operação “§” definida componente a componente por (a1, a2,...,an) §(b1, b2,...,bn)= (a1 1 b1, a2 2 b2 ,..., an n bn). Então (G1xG2x...xGn, §) é um grupo, chamado de Produto Direto dos grupos (G1, 1), (G2, 2),..., (Gn, n). (G1xG2x...xGn, §) é comutativo se e somente se (G1, 1), (G2, 2),..., (Gn, n) são todos comutativos. 6) Seja A um conjunto não vazio e SA o conjunto de todas as funções bijetivas de A em A. Se “0” é a composição de funções então (SA,0)é um grupo, chamado de grupos das permutações de A. Se A possui n elementos então a ordem de (SA,0) é n! EXERCITANDO 15 Mostre que, se A possuir mais de um elemento, o grupo ( , ○)não é comutativo. PROPRIEDADES ELEMENTARES DOS GRUPOS 1. O elemento neutro de um grupo é único: Demonstração: Se e e e’ são elementos neutros de (G, •), então e = e•e’= e’ Cada elemento de um grupo possui um único inverso. Demonstração: se a’ e a’’ são inversos de a então a’ = a’•e =a’• (a•a’’)= (a’• a) • a’’ = e • a’’ = a’’ (a’)’ = a para todo aÎG Demonstração: Segue-se direto da definição, isto é, do fato de a • a ’ = a’• a = e (a • b)’= b’• a’ para todo a,b G Demonstração: (a•b) • (b’• a’)= a • (b • (b’ • a’))= a• ((b • b’) • a’)) = a • (e • a’) =a • a’=e. Logo (a • b)’= b’• a’ Analogamente (b’•a’) • (a•b)=e Em um grupo (G, •) valem as leis do cancelamento, isto é, a • b = a • c b = c e b • a = c • a b = c Demonstração: a • b = a • c a’• (a • b) = a’• (a • c) (a’ • a) • b = (a’• a) • c ) e • b = e • c b = c. Analogamente mostra-se que, b • a = c • a b = c. Para quaisquer elementos a,b G as equações a•x = b e y•a = b têm solução única. Demonstração: a•x = b a’ • (a • x) = a’ • b (a’ • a) • x = a’ • b e • x = a’ • b x = a’ • b o que demonstra a existência (x = a’ • b) e unicidade da solução da equação a • x = b. Analogamente mostra-se que a equação y • a = b possui uma única solução, a saber y = b • a’. Definição: Seja (G, •) um grupo, a1,a2,...,an elementos de G e n um inteiro > 1. Definimos a1•a2•...•an indutivamente por: a1•a2•...•an = (a1•a2•...•an-1) •an Se a1= a2 =...= an = a, o elemento a1•a2•...•an será denotado por a n ou por na. A notação an é chamada de notação multiplicativa e a notação na é chamada de notação aditiva. Daremos preferência à notação multiplicativa. A notação aditiva será usadanos casos em que ela for mais conveniente, conforme veremos na sequência da teoria. 16 PARADA OBRIGATÓRIA Notação: É comum representarmos o elemento neutro “e” por “1” quando usamos a notação multiplicativa e por “0” quando usamos a notação aditiva. Da mesma forma costuma-se representar o inverso a’ do elemento a por “a-1” quando usamos a notação multiplicativa e por “- a” quando usamos a notação aditiva. Também é comum, quando trabalhamos com a notação multiplicativa, usarmos o símbolo “.” para representar a operação e quando trabalhamos com a notação aditiva usarmos o símbolo “+” para representar a operação. Assim, na notação multiplicativa, é comum usarmos a.b ou ab ao invés de a•b e, na notação aditiva, a+b o invés de a•b GENERALIZAÇÃO DAS NOTAÇÕES “AN” E “NA” PARA N INTEIRO Considerando a notação multiplicativa, já definimos an para n inteiro >1. Agora definimos a1=a, a0=e e an= (a-1)-n se n -1 No caso da notação aditiva, devemos ter então: 1a=a, 0a=e e na = (-n) (-a) se n -1 Teorema 1: Sejam (G , •) um grupo no qual usamos a notação multiplicativa. Então, para quaisquer a, b G, e quaisquer m, n Z temos: 1. am • an = am+n , isto é, am . an = am+n 2. (an)-1 = a-n 3. (am)n = amn 4. Se G é um grupo comutativo então (a • b)n = an • bn , isto é, (a . b)n = an . bn Deixamos a demonstração como exercício. DICAS Prove cada item, primeiramente para n N, por indução sobre n (considerando um valor fixo e genérico para m, quando for o caso). Em seguida, prove cada item para n < 0. Para isto, será necessário ainda provar o item 1, para m N, por indução sobre m. Esta proposição pode ser enunciada na notação aditiva, do seguinte modo: Teorema 1’: Sejam (G , •) um grupo no qual usamos a notação aditiva. Então, para quaisquer a; b G, e quaisquer m, n Z temos: 1. ma•na=(m+n)a , isto é, ma+na=(m+n)a 2. –(na)=(-n)a 3. m(na) = (mn)a 17 4. Se G é um grupo comutativo então n(a • b) = na • nb, isto é, n(a + b) = na + nb FONTES DAS IMAGENS Responsável: Prof. José Valter Lopes Nunes Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 18 TÓPICO 02: SUBGRUPOS, GRUPOS CÍCLICOS E GRUPOS QUOCIENTE DEFINIÇÃO: Sejam (G, •) um grupo e H um subconjunto de G. Dizemos que H é um subgrupo de (G, •) se: (1) a,b H temos a • b H (2) (H, •) é um grupo. TEOREMA 1. Sejam (H, •) um grupo e H um subgrupo de G. (1) Se eG e eH são os elementos neutros de (G, •) e (H, •), respectivamente,então eG = eH. (2) Para cada x H, sejam x’e x’’ os elementos inversos de x em G e em H,respectivamente. Então x’ = x’’ DEMONSTRAÇÃO (1) Temos eG • eH = eG e eH •eH = eH. Daí eG • eH = eH •eH e , pela lei do cancelamento, eG = eH . (2) Temos x • x’ = eG e x • x’’=eH. Como eG = eH temos x • x’ = x • x’’ e , pela lei do cancelamento, x’ = x’’ TEOREMA 2. Sejam (G, •) um grupo e H um subconjunto de G. Seja e G o elemento neutro de (G, •). Para cada a ∈ G, seja a’ o inverso de a Então H é um subgrupo de G se, e somente se, satisfaz às seguintes condições: (1) E∈ H (2) E Ha, b ∈ H, tEM-SE A • B ∈ H (3) A∈ H, TEM-SE A’ ∈ H. DEMONSTRAÇÃO Se H é um subgrupo de G então (2) vale por (1) da definição de subgrupo. Como (H, •) é um grupo valem (1) e (3). Logo (1), (2) e (3) são verdadeiras. Reciprocamente, suponha que (1), (2) e (3) sejam verdadeiras. Por (2) vale (1) da definição de subgrupo. “•” é associativa em G, pois já o é em G. De (1) temos e ∈ H e de (3) cada elemento a ∈H tem inverso também em H. Logo (H, •) é um grupo. Portanto H é um subgrupo de G. ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 03: GRUPOS 19 TEOREMA 3. Seja (G, •) um grupo de elemento neutro e. Para cada a G, seja a’ G seu inverso na operação •. Seja H um subconjunto de G. Então H é um subgrupo de G se, e somente se, satisfaz às seguintes condições: (1) H ≠ Ø (2) a, b ∈ H, tem-se a • b’ ∈ H DEMONSTRAÇÃO Se H é um subgrupo de G então e H e, portanto, H . Portanto vale (1). Sejam a, b H. Como H é subgrupo de G, temos então que b’ H e, pelo fechamento, a • b’ H. Portanto, vale (2). Reciprocamente, suponha que (1) e (2) sejam verdadeiras. A associatividade Por (1) existe a H e, por (2), a • a’= e H. vale (1) da definição de subgrupo. “•” é associativa, pois já o é em G. De (1) temos e H e de (3) cada elemento a H tem inverso também em H. Logo (H, •) é um grupo. Portanto, H é um subgrupo de G. EXEMPLOS 1. Qualquer que seja o grupo (G, *), G e {e} são subgrupos de G, os quais são chamados de subgrupos triviais ou subgrupos próprios de G 2. Z é subgrupo dos grupos (Q,+) , (R,+) e (C,+). 3. Q é subgrupo dos grupos (R,+) e (C,+). 4. R é subgrupo do grupo (C,+). 5. O conjunto dos inteiros pares é um subgrupo de (Z,+). 6. Q-{0} é subgrupo dos grupos (R-{0},∙) e (C-{0},∙). 7. R-{0} é subgrupo do grupo (C-{0},∙). 8. {-1.1} é um subgrupo de (Q-{0},∙). 9. Seja (G, ∙) um grupo e a G. O conjunto {an; n∈Z} é um subgrupo de (G, ∙),o qual denotaremos por <a> 10. O conjunto dos números complexos cujo valor absoluto é 1 é um subgrupo de (C-{0},∙) 11. Fixado n∈Z o conjunto {nz; z ∈ Z } é um subgrupo de (Z,+) o qual denotaremos por nZ EXERCITANDO 1 Mostre que todo subgrupo de (Z,+) é da forma nZ para algum n∈Z GRUPOS CÍCLICOS TEOREMA 4 . Se H1,H2,...,Hn são subgrupos de um grupo (G, •) então H1∩H2 ...∩Hn também é um subgrupo de (G, •). Este resultado também é válido para uma quantidade infinita de subgrupos. DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO 20 DEFINIÇÃO: Seja (G, •) um grupo e S um subconjunto de G. Definimos o subgrupo de G gerado por S como sendo a interseção de todos os subgrupos de G que contêm S. Denotaremos este subgrupo por <S>. Particularmente se S for finito, isto é se S={a1,a2,...,an} denotaremos o subgrupo gerado por S por < a1,a2,...,an >. Se S={a} o subgrupo gerado por S é chamado de subgrupo cíclico de G gerado por a. TEOREMA 5: Se (G, •) um grupo e a∈G então < a >={an; n∈Z } DEMONSTRAÇÃO Desde que aman=am+n temos que x.y∈{an; n∈Z} para todo x,y ∈ {an; n∈Z}. Temos também e=a0∈{an; n∈Z}. Se x∈H temos x=as e então x’=a-s∈{an; n∈Z}.Portanto {an; n∈Z} é um subgrupo de (G, ⋅). Por outro lado qualquer subgrupo de (G, ⋅) que contenha o elemento a deverá conter, pelos axiomas de grupo, todos os elementos da forma an, nZ, e, portanto deverá conter {an; n∈Z}. Logo {an; n∈Z}= <a> DEFINIÇÃO: a ordem de um elemento a de um grupo (G, •) é a ordem do subgrupo < a >. Denotaremos a ordem de a por o(a). Assim o(a)= |< a > | EXERCITANDO 2 Mostre que se um elemento a tem ordem finita então sua ordem é igual ao menor inteiro positivo n tal que an=e. Daí conclua que se não existir um inteiro positivo n tal que an=e então a tem ordem infinita. DEFINIÇÃO: Um grupo (G, •) é chamado de finitamente gerado se existirem a1, a2, ..., an G tais que G=< a1,a2,...,an >. Neste caso os elementos a1, a2, ..., an são chamados de geradores de G. Particularmente, se G= < a > para algum a∈G, (G, •) é chamado de grupo cíclico gerado por a. Assim se (G, .) é cíclico gerado por a, temos: o(a)=|G|; G={e,a,a2,...,an-1} se G for finito de ordem n e G={e,a,a-1, a2,a-2,...,ak, a-k,...} se G for infinito. TEOREMA 6: Todo grupo cíclico é comutativo. DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO (1) ({-1.1},⋅) é cíclico gerado por -1 (2) O grupo (Z,+) é cíclico. 1 e -1 são geradores (Z,+) 21 GRUPO QUOCIENTE Seja (G, *) um grupo e H um subgrupo de (G, *). Definimos a relação “~1” em G por a ~1 b ⇔b*a’∈H. Temos: a ~1 a pois a*a’= e ∈H a ~1 b ⇔ b*a’∈H ⇒ (b*a’)’=(a’)’ *b’=a*b’∈H⇒ b ~1 a Se a ~1 b e b ~1 c então b*a’∈H e c*b’∈H e daí (c*b’) * (b*a’) = c*(b’ * (b*a’))= c*((b’ * b)*a’)= c*(e*a’)= c*a’∈H. Logo a ~1 c Assim “~1” é uma relaçãode equivalência em G. Dado a ∈G temos Ca={x ∈G; a ~1 x} = {x ∈G; x*a’∈H } ={x ∈G; x*a’=h∈H}={x ∈G; x=h*a,h∈H}={h*a,h∈H} que denotaremos por H*a. O conjunto H*a é chamado de classe lateral à direita de H. Analogamente se definimos a relação “~2” em G por a~2b a’*b ∈H mostra-se que “~2” é uma relação de equivalência em G e Ca={a*h; h ∈H}, que denotaremos por a*H. O conjunto a*H é chamado de classe lateral à esquerda de H. EXERCITANDO 3 Se H é um subgrupo de (G, *) e a ∈G mostre que |a*H|=|H*a|=|H| O fato de a classe de equivalência de qualquer elemento a , tanto relativamente a “~1” como a “~2” ter |H| elementos implica|G|=|H|. |G/~1|=|H|. |G/~2| e assim os conjuntos quocientes G/~1 e G/~2 têm a mesma ordem a qual será denotada por [G:H] e chamada de índice de H em G TEOREMA 7 (TEOREMA DE LAGRANGE): Se (G, *) é um grupo e H um subgrupo de (G, *) então |G|=|H|. [G:H]. Em particular, Se (G, *) é um grupo finito então |H| e [G:H]são divisores de |G| DEFINIÇÃO: (G, *) um grupo e H um subgrupo se G. Se a*H=H*a para todo a∈G os conjuntos quocientes G/~1 e G/~2 são iguais e serão denotados por G/H. Neste caso dizemos que H é um subgrupo normal de G. Observe que se (G, *) for comutativo então todo subgrupo de G é normal. 22 DEFINIÇÃO: Seja (G, *) um grupo e L e M dois subconjuntos de G. Definimos LM ={l*m; l∈L e m∈M} Obviamente LM é também um subconjunto de G, que chamaremos de produto dos conjuntos L e M Observe que este produto é associativo: de fato L(MN)={ l *(m*n); l∈L, m∈M e n∈M}={ (l *m)*n; l∈L, m∈M e n∈M}=(LM)N TEOREMA 8: Se H é um subgrupo normal de grupo (G, *) então o produto das classes H*a e H*b é a classe H* (a*b), isto é, (H*a)(H*b)=H* (a*b). Com esta operação G/H é um grupo, que chamamos de grupo quociente de G por H DEMONSTRAÇÃO Como H é subgrupo normal de G temos a•H=H•a e daí a •h2=h3• a para algum h3 H. Assim x= h1•(( h3• a)•b)= h1•( h3•(a•b))= (h1•h3)•(a•b). Temos h1•h3=h H e daí x = h•(a•b) e portanto x H• (a•b). Logo (H•a)(H•b) H• (a•b) (I) Reciprocamente, se x H• (a•b) temos x = h•(a•b) com h H Assim x = (h•a)•b) = (h•a) • (e •b) com (h•a) H•a e (e •b) H•b. Daí x (H•a)(H•b). Logo H• (a•b) (H•a)(H•b) (II) De (I) e (II) temos (H•a)(H•b)=H•(a•b) Assim acabamos de definir uma operação no conjunto quociente G/H. Vamos agora verificar os axiomas de grupo: A associatividade já é verdadeira para produto de subconjuntos. A classe H•e=H é o elemento neutro, pois (H•a) (H•e)=H• (a•e)=H•a e (H•e)(H•a)=H(e•a)=H•a para toda classe H•a G/H Dada H•a G/H temos H•a’ G/H e (H•a) (H•a’)=H•(a•a’)=H•e=H e (H•a’)(H•a)=H• (a’•a)=H•e=H. Assim (H•a)’ = H•a’ Portanto G/H munido deste produto é um grupo. Observe que, se G for comutativo então o grupo quociente G/H também será comutativo EXEMPLOS Dado nZ considere o subgrupo nZ do grupo (Z,+). Este subgrupo é normal, pois (Z,+) é comutativo. Temos então a relação de equivalência “~” em Z dada por a ~ b b+(-a)∈nZ, isto é, b-a∈nZ . A classe de um elemento a∈Z é nZ+a = {nz+a; z∈Z}. Definindo então no conjunto quociente Z/nZ a operação, representada pelo símbolo “+”, dada por (nZ+a)+( nZ+b)= nZ+(a+b) obtemos o grupo quociente (Z/nZ,+), que denotaremos por (Zn,+) ou simplesmente por Zn Vamos agora mostrar que Zn é um grupo comutativo com n elementos De fato. Observe que, de acordo com a definição de “~” temos a ~ b b-a é múltiplo de n e assim dois elementos estão relacionados (isto é estão na mesma classe), se e somente se deixam o mesmo resto quando divididos por n. Como os possíveis restos na divisão por n são 23 0,1,2,...,n-1 teremos exatamente n classes de equivalência e portanto cada inteiro pertencerá a exatamente uma das classes nZ+0= nZ, nZ+1, nZ+2,..., nZ+(n-1), que denotaremos respectivamente por , , , ... ,.. Assim Zn = { , , , ... , } Como (Z,+) é comutativo Zn também é comutativo. EXERCITANDO 4 Mostre que (Zn,+) é um grupo cíclico gerado pelos tais que m é relativamente primo com n e, portanto (Zn,+) possui (n) geradores. FONTES DAS IMAGENS Responsável: Prof. José Valter Lopes Nunes Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 24 TÓPICO 03: HOMOMORFISMO DE GRUPOS ITEM 01 f(eG) = eH Demonstração: f(eG) = f(eG•eG) = f(eG) wf(eG), isto é, f(eG) w eH = f(eG) wf(eG). Usando a lei do cancelamento temos f(eG) = eH ITEM 02 f(x’) = (f(x))’ . Demonstração: f(x’) wf(x) = f(x’•x)=f(eG)=eH .Analogamente f(x) wf(x’) = eH. Logo f(x’) = (f(x))’ HOMOMORFISMO DE GRUPOS Definição: Dados dois grupos (G, •) e (H, ) dizemos que uma aplicação f: G H é um homomorfismo de grupos se f(x • y) = f(x) f(y) para todo x,y G. Definição: O conjunto dos elementos x G tais que f(x) = eH é chamado de núcleo de f e será denotado por Ker f. É muito comum usar a notação multiplicativa para dois grupos, omitindo os símbolos das operações, escrevendo f(x y) = f(x)f(y) ao invés de f (x • y) = f(x) f(y), ficando assim subentendido que, no domínio estamos trabalhando com a operação “•” e no contradomínio com a operação “ ”. Usa- se também 1G e 1H para representar os elementos neutros de (G, •) e de (H, ) respectivamente. PROPRIEDADES DOS HOMOMORFISMOS DE GRUPOS Considere os grupos (G, •) e (H, ) e um homomorfismo de grupos f: G H. Então valem as seguintes propriedades: ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 03: GRUPOS 25 ITEM 03 O núcleo de f é um subgrupo normal de G Demonstração: 1) Se x,y∈Kerf temos f(x)=f(y)=eH e daí f(x•y)=f(x) wf(y)= eHweH= eH. Logo x•y∈Kerf. 2) f(eG) = eH e daí eG∈Kerf 3) Se x∈Kerf temos F(x)=eH. Como f(x’) = (f(x))’ temos f(x’) = (eH)’= eH. Logo x’∈Kerf Mostramos então que Kerf é um subgrupo de G. Vamos mostrar agora que kerf é subgrupo normal de G, isto é, que (kerf) •a = a•(kerf) para todo a∈G De fato, se x∈ (kerf) •a tem-se x=n•a para algum n∈Kerf. Como n•a = e•(n•a)= (a•a’)•(n•a)= a•(a’•(n•a)) temos x= a•(a’•(n•a)) Por outro lado f(a’•(n•a))=f(a’) wf(n•a)= f(a’) w (f(n) wf(a))= f(a’) w (eHwf (a))= f(a’) w f(a)= f(a’• a)= f(eG)=eH. Daí a’•(n•a) = m∈Kerf Logo x = a•m, com m∈Kerf e assim x∈a•(kerf). Provamos então que (kerf) •a ⊏ a•(kerf). De forma análoga mostra-se que a•(kerf)⊏(kerf) •a e portanto temos a igualdade (kerf) •a = a•(kerf), o que mostra que kerf é subgrupo normal de G. ITEM 04 f é injetiva Ker f = {eG} Demonstração: Temos x∈Kerf f(x)= eH.= f(eG). Se f for injetiva então xÎKerf x = eG. Daí Ker f = {eG} Reciprocamente suponha que Ker f = {eG}. Se f(a) = f(b) temos f(a) w (f (b))’= eH . f(a) w(f(b))’= eH ⇒ f(a)wf(b’)= eH ⇒ f(a•b’)= eH⇒ a•b’ Kerf ⇒ a•b’= eG ⇒ a=b. Logo f é injetiva ITEM 05 A imagem de f, que denotaremos por Im f, é um subgrupo de H. Demonstração: Exercício ITEM 06 Se G´ é um subgrupo de G, então f(G´) é um subgrupo de H. Demonstração: Exercício ITEM 07 Se H’ é um subgrupo de H então f -1(H’) é um subgrupo de G, que contém Ker f. Demonstração: Exercício ITEM 08 Se f:G H e g: H T são homomorfismos de grupos então gof:G T também é um homomorfismo de grupos. Demonstração: Exercício 26 Definição: Um homomorfismo injetivo é chamado de monomorfismo. Um homomorfismo sobrejetivo é chamado epimorfismo. Um homomorfismo bijetivo é chamado de isomorfismo. Se existe um isomorfismo f: G H entre os grupos (G, •) e (H, ) dizemos que estes grupos são isomorfos e denotamos este fato por G H. Grupos isomorfos são indistinguíveis no ponto de vista algébrico. EXEMPLOS 1) Se (G, *) e (H, w) são grupos, a função f:G→H dada por f(x) = eH para todo xÎG é um homomorfismo, chamado de homomorfismo trivial. 2) Se (G, *) e (H, w) são grupos, a função f:G→H dadapor f(x) = eH para todo xÎG é um homomorfismo, chamado de homomorfismo trivial. 3) A função exponencial x↦ex é um homomorfismo do grupo aditivo dos números reais no grupo multiplicativo dos números reais positivos. 4)Seja (G, *) é um grupo e aÎG. A função fa:G→G dada por fa(x) =a*x é um isomorfismo de G em G e portanto pertence a SG. 5) Seja (G, *) é um grupo e aÎG. A função f: Z→G dada por f(n)= na é um homomorfismo de (Z,+) em (G, *). Se G for cíclico e a for um gerador de G a função f será um epimorfismo. 6) Se H é um subgrupo normal do grupo (G, *) então a função f:G→G/H dada por f(x)=H*x é um homomorfismo, chamado de homomorfismo canônico. Teorema 2 (Teorema Fundamental dos homomorfismos de grupos): Se f: G H é um homomorfismo entre os grupos (G, •) e (H, •) então G/Kerf G Imf FÓRUM Discuta, no Fórum da Aula 3, com os colegas ou com o professor tutor, as dúvidas sobre os exercícios ou sobre a matéria da Aula 3. Lembre que sua participação no Fórum vale presença e nota de avaliação. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Poste no Portfólio da Aula 3, a solução dos exercitando 1, 2, 3 e 4 do Tópico 2, no Texto, e dos exercícios 1, 3, 5, 6, 8 e 10 da lista de exercícios da Aula 3 que se encontra no material de apoio e que você pode obter no link Aula 3 (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.). FONTES DAS IMAGENS 27 TÓPICO 01: ANÉIS DEFINIÇÃO: Seja A um conjunto munido de duas operações, as quais chamaremos de adição e multiplicação e denotaremos respectivamente por “+” e “.” Dizemos que a estrutura algébrica (A,+, .) é um anel se os seguintes axiomas são satisfeitos: A estrutura algébrica (A,+) é um grupo comutativo A estrutura algébrica (A, .) é um semigrupo, isto é, x.(y.z) = (x.y).z, ∀ x.y,z ∈ A A operação “.” é distributiva em relação à operação “+”, isto é, x.(y+z) = x.y+x.z e (y+z).x = y.x+z.x, ∀ x.y,z ∈ A Se, além de (1), (2) e (3), tivermos x.y = y.x para todo x,y A, dizemos que (A,+, .) é um anel comutativo. Se, além de (1),(2) e (3), a estrutura algébrica (A, .) possuir elemento neutro dizemos que (A,+, .) é um anel com unidade. OBSERVAÇÃO Por coerência usa-se a notação aditiva para a operação “+” e a notação multiplicativa para a operação “.”. Assim i) Representaremos o elemento neutro da adição por “0" e o elemento neutro da multiplicação, quando existir, por “1”. Quando trabalhamos com mais de uma estrutura algébrica é comum representarmos estes elementos neutros “0A” e “1A” respectivamente. ii) O inverso aditivo de um elemento a A será representado por –a e o inverso multiplicativo, quando existir, será representado por a-1. Usaremos a notação a – b para representar a+(–b) iii) Em geral escreveremos “ab” ao invés de “a.b” iv) a+a+...+a (n vezes) será denotado por na e a.a.....a(n vezes) será denotado por an É comum, quando não há nenhum risco de ambigüidade, representar o anel (A,+, .) simplesmente por A. Assim quando nos referimos ao anel A ficará subentendido que estamos nos referindo ao anel (A,+, .)), isto é, ao conjunto A munido das operações “+” e “.” satisfazendo aos axiomas da estrutura algébrica que chamamos de anel. EXEMPLOS 1) Considerando os conjuntos Z,Q,R e C respectivamente dos inteiros, racionais, reais e complexos e as operações usuais de adição ‘+’ e ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 04: ANÉIS 28 multiplicação ‘•’ , as estruturas algébricas (Z,+, •) , (Q,+ , •) , (R,+, •), (C,+, •), são anéis comutativos com unidade 2) O conjunto M das matrizes nxn, com entradas inteiras, munido das operações usuais de adição e multiplicação de matrizes é um anel não comutativo com unidade. 3) Se n é um inteiro então (nZ,+, •) é um anel comutativo. Se n=0, nZ= {0} e ({0},+, •) é chamado de anel nulo e, neste caso, temos um anel comutativo com unidade, no qual 1=0. Se n=±1 temos nZ = Z. Se |n| > 1, (nZ,+, •) é um anel comutativo sem unidade. 4) Dados os anéis (A1, +1, .1), (A2, +2, .2),..., (An, +n ,.n). Considere o produto cartesiano A1xA2x...xAn munido das operações “+” e “.” definidas componente a componente por (a1, a2,...,an) + (b1, b2,...,bn)= (a1 +1 b1, a2 +2 b2 ,..., an +n bn) e (a1, a2,...,an).(b1, b2,...,bn)= (a1 .1 b1, a2 .2 b2 ,..., an .n bn). Então (A1xA2x...xAn, +, •) é um anel, chamado de Produto Direto dos anéis (A1, +1, .1), (A2, +2, .2),..., (An, +n , .n). O anel (A1xA2x...xAn, +, •) é comutativo se e somente se (A1, +1, .1), (A2, +2, .2),..., (An, +n ,.n) são todos comutativos. DEFINIÇÃO: Se A é um anel com unidade, os elementos de A que possuem inverso multiplicativo são chamados de elementos invertíveis de A ou unidades de A. Neste caso o conjunto das unidades de A será denotado por U(A) ou A* É fácil ver que para os anéis (Z,+, .) , (Q,+ , .) , (R,+, .), (C,+, .) temos U( Z)={-1,1}, U(Q)= Q-{0}, U(R)= R-{0}, U(C)= C-{0}. TEOREMA 1: Se (A,+, .) é um anel com unidade então “.” é uma operação em U(A) e (U(A), .) é um grupo Demonstração: Exercício PROPRIEDADES ELEMENTARES DOS ANÉIS: Em um anel (A,+, .) valem as seguintes propriedades: CLIQUE AQUI Como (A,+) é um grupo, valem as leis de cancelamento para a adição; o elemento neutro aditivo é único; o inverso aditivo é único e − (−a) = a, ∀ a A a.0 = 0.a = 0, ∀a A Demonstração: Utilizando a distributividade temos a.0 = a(0+0) = a.0+a.0. pelo cancelamento da adição temos que a.0 = 0. Analogamente 0.a = 0. a(−b) = (−a)b = −(ab), ∀ a,b A 29 Demonstração: Inicialmente mostraremos que a(−b) = −(ab), isto é , que a(−b) é o inverso aditivo de ab. Para isto basta mostrar que a(−b) + ab = 0. De fato a(−b) + ab = a (−b + b) = a.0 = 0. Analogamente mostra-se que (−a)b = −(ab). (−a)(−b) = ab, ∀ a,b A Demonstração: Usando a propriedade 3 temos (−a)(−b) = −[a(−b)] = −[−ab] = ab (pois −(−a) = a, ∀ a A) Se (A,+, .) é um anel com unidade 1 então: (−1)a = −a, ∀ a A Demonstração: Usando a propriedade 3 temos (−1)a = −(1a) = - a (pois 1a=a, ∀ a A) (−1)(−1) = 1 Demonstração: Direto da propriedade 4 O elemento neutro da multiplicação é único. Demonstração: Se 1 e c são elementos neutros da multiplicação temos 1= 1c = c O inverso multiplicativo de um elemento, quando existir, é único, Demonstração: Se a’ e a’’ são inversos multiplicativos de a temos a’a=aa’= a’’a =a a’’=1 e então a’=a’1=a’(aa’’)=(a’a)a’’=1 a’’=a’’ EXERCITANDO Dado um anel (A,+, .), mostre que 1=0 se e semente se A é o anel nulo. FONTES DAS IMAGENS Responsável: Prof. José Valter Lopes Nunes Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 30 TÓPICO 02: SUBANÉIS, IDEAIS E ANEL QUOCIENTE SUBANÉIS DEFINIÇÃO: Sejam (A,+, .) um anel e S um subconjunto de A. Dizemos que S é um subanel de (A,+, .) se: (1) ∀a,b A temos a + b e ab pertencem a S (2) (S,+, .) é um anel. TEOREMA 1. Sejam (A,+, .) um anel e S um subconjunto de A. Então S um subanel de A se, e somente se, satisfaz às seguintes condições: (1) 0 ∈ S (2) ∀ a, b ∈ S, a - b e ab pertencem a S DEMONSTRAÇÃO Se S é um subanel de (A,+, .) então (S,+, .) é um anel. Assim 0 S e ∀ b S tem=se - b S. Daí ∀ a, b S temos a – b=a+(-b) e ab pertencem a S. Logo (1) e (2) são verdadeiras. Reciprocamente, suponha que (1) e (2) sejam verdadeiras. Então ∀ b S, como 0 S, temos 0 – b= 0+(-b)=- b S. Assim ∀ a, b S temos a, -b S e, por (2), a-(-b) = a+(-(-b))=a+b S. Portanto ∀ a,b S temos a + b e ab pertencem a S. “+” é associativa em S pois já o é em A. De (1) temos 0 S. Como ∀ b S, tem-se - b S e “+” é comutativa em S, pois é comutativa em A, concluímos que (S,+) é um grupo comutativo. Como “.” é associativa em A e é distributiva em relação a “+” em A também seráassociativa em S e distributiva em relação a “+” em S. Portanto (S,+, .) é um anel. Logo S é um subanel de (A,+, .) TEOREMA 2. Se S1,S2,...,Sn são subanéis de um anel (A, *, . ) então S1∩ S2∩... ∩ Sn também é um subanel de (A, *, .). Este resultado também é válido para uma quantidade infinita de subanéis. DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO DEFINIÇÃO: Seja (A, *, . ) um anel e S um subconjunto de A. Definimos o subanel de A gerado por S como sendo a interseção de todos os subanéis de A que contêm S. Denotaremos este subanel por < S >. ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 04: ANÉIS 31 Particularmente se S for finito, isto é se S={a1,a2,...,an} denotaremos o subanel gerado por S por < a1,a2,...,an >. EXEMPLOS (1) Qualquer que seja o anel (A, *, •) , A e {0} são subanéis de A , os quais são chamados de subanéis triviais de A (2) Z é subanel dos anéis (Q,+, •) , (R,+ , •) e (C,+ , •). (3) Q é subanel dos anéis (R,+, •) e (C,+, . ). (4) R é subanel do anel (C,+ . •). (5) O conjunto dos inteiros pares é um subanel de (Z,+ , •). (6) Fixado n∈Z o conjunto {nz; z∈Z} é um subanel de (Z,+, •) o qual denotaremos por nZ IDEAIS DEFINIÇÃO: Sejam (A,+, .) um anel e I um subconjunto de A. Dizemos que I é um Ideal de (A,+, .) se: (1) I é um subgrupo de (A,+) (2) Se a A e x I então ax I e xa I EXEMPLOS (1) O conjunto dos inteiros pares é um Ideal de (Z,+ , .). Fixado n∈ Z o conjunto {nz;z∈ Z} é um Ideal de (Z,+, .) o qual denotaremos por nZ EXERCITANDO Mostre que todo Ideal de (Z,+ , .) é da forma nZ para algum n Z TEOREMA 3. Todo ideal de (A,+, .) é um subanel de (A,+, .). DEMONSTRAÇÃO Seja I um ideal do anel (A,+, .) Como I é um subgrupo aditivo de (A,+) temos a + b ∈ I a,b ∈ A. Como a ∈ A e x ∈ I ⇒ ax ∈ I e I A, temos ax ∈ I a,b ∈ I temos a + b e ab pertencem a I. Temos que I é um subgrupo aditivo de (A,+). Como a associatividade de “.” e a distributividade de “.” em relação a “+” valem em A, também valem em I, que é um subconjunto de A. Logo (I,+, .) é um anel. Portanto I é um subanel de (A,+, .) Observe que nem todo subanel de um anel (A,+, .) é um ideal de (A,+, .). Por exemplo, Z é subanel, mas não é um Ideal do anel (Q,+, .) 32 TEOREMA 4. Se I1,I2,...,In são ideais de um anel (A, *, . ) então I1∩ I2∩... ∩ In também é um ideal de (A, *, .). Este resultado também é válido para uma quantidade infinita de ideais. DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO DEFINIÇÃO: Seja (A, *, . ) um anel e S um subconjunto de A. Definimos o ideal de A gerado por S como sendo a interseção de todos os ideais de A que contêm S. Denotaremos este subanel por < S >. Particularmente se S for finito, isto é se S={a1,a2,...,an} denotaremos o ideal gerado por S por < a1,a2,...,an >. TEOREMA 5. Se A é um anel comutativo com unidade então o ideal < a1,a2,...,an > é dado por < a1,a2,...,an > ={x1a1+x2a2+...+xnan; x1,x2,...,xn ∈ A} o qual denotamos por Ra1+Ra2+...+Ran. Particularmente < a >={xa; x ∈ R}, que denotaremos por Ra DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO. ANEL QUOCIENTE: Seja (A,+, .) um anel e I um ideal de (A,+, .). Temos que I é um subgrupo de (A,+). Como (A,+) é comutativo, I é um subgrupo normal de (A,+). Daí A/I munido da operação “+” definida por (I+a)+(I+b) = I+(a+b) é automaticamente um grupo comutativo. Queremos agora definir uma estrutura de anel em A/I. Nada mais natural do que definirmos em A/I a multiplicação (I+a).(I+b) por I+ab. Precisamos entretanto mostrar isto tem significado, isto é , que esta operação está bem definida. Em outras palavras, precisamos mostrar que se I+a = I+b e I+c=I+d então (I+a).(I+c) = (I+b). (I+d), isto é. I+(ac)=I+(bd). De fato I+a = I+b ⇒a=u+b, com uÎI e I+c = I+d ⇒c=v+d, com v I. Assim ac=(u+b)(v+d)=uv+ud+bv+bd. Com I é um ideal uv ∈I, ud I e bv I e, portanto uv+ud+bv=w I. Então ac=w+bd, w I e daí ac I+bd, o que implica I+(ac)=I+(bd). Portanto “.” É uma operação em A/I. Deixamos como exercício as demonstrações de que “.” é associativa e é distributiva em relação a “+”, o que torna (A/I,+, .) um anel, o qual é chamado de anel quociente de A pelo ideal I. OBSERVAÇÃO Observe que, para construirmos o anel quociente precisamos fortemente do fato de I ser um ideal de A. Assim os ideais fazem, na construção do anel quociente, o mesmo papel que os subgrupos normais fazem na construção dos grupos quocientes. EXEMPLOS Dado n∈Z considere o ideal nZ do anel (Z,+, .). Já definimos o grupo quociente (Z/nZ,+), que denotamos por (Zn,+) ou simplesmente 33 por Zn={ }. O anel quociente (Z/nZ,+, .), que também representaremos por Zn, obtido definindo , é um anel comutativo com unidade. FONTES DAS IMAGENS Responsável: Prof. José Valter Lopes Nunes Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 34 TÓPICO 03: HOMORFISMO DE ANÉIS, DOMÍNIO DE INTEGRIDADE DOMÍNIO DE FATORAÇÃO ÚNICA HOMOMORFISMO DE ANÉIS: DEFINIÇÃO: Dados dois anéis (A, +, .) e (R, +, .) dizemos que uma aplicação f: A R é um homomorfismo de anéis se f(x + y) = f(x) +f(y) e f (x.y) = f(x).f(y) para todo x,y A. DEFINIÇÃO: O conjunto dos elementos x A tais que f(x) = 0 é chamado de núcleo de f e será denotado por Ker f. PROPRIEDADES DOS HOMOMORFISMOS DE ANÉIS: Considere os anéis (A, +, .) e (R, +, .) e um homomorfismo de grupos f: A R. Então valem as seguintes propriedades:(clique aqui para abrir) 1) f(0) = 0 Demonstração: f(0) = f(0+0) = f(0)+f(0), isto é, f(0) = f(0)+f(0). Usando a lei do cancelamento temos f(0) = 0 2) f(-x) = -f(x) . Demonstração: f(-x)+f(x) = f((-x)+x)=f(0)=0. .Analogamente f(x)+f(-x) = 0. Logo f (-x) = -f(x) 3) O núcleo de f é um ideal de A Demonstração: i)Se x,yÎ Kerf temos f(x)=f(y)=0 e daí f(x+y)=f(x)+f(y)= 0+0= 0. Logo x+y Kerf. ii)f(0) = 0 e daí 0 Kerf iii)Se xÎKerf temos f(x)=0. Como f(-x) = - f(x) temos f(-x) = -0= 0. Logo -x Kerf Mostramos então que Kerf é um subgrupo de (A,+). Sejam agora a A e x Kerf . Temos f(ax) =f(a)f(x)=f(a).0=0 e f(xa) =f(x)f(a)=0.f(a)=0. Logo ax e xa pertencem a kerf Concluímos, portanto que kerf é um ideal de A. 4) f é injetiva Ker f = {0} Demonstração: exercício (análoga ao caso de homomorfismo de grupos) ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 04: ANÉIS 35 5) A imagem de f , que denotaremos por Im f, ou f(A), é um subanel de R. Demonstração: Exercício 6)Se S é um subanel de A, então f(S) é um subanel de R. Demonstração: Exercício 7)Se S é um ideal de A, então f(S) é um ideal de R. Demonstração: Exercício 8)Se S’ é um subanel de R então f -1(S’) é um subanel de A que contém Ker f. Demonstração: Exercício 9) Se S’ é um Ideal de R então f -1(S’) é um Ideal de A que contém Ker f. Demonstração: Exercício 10) Se A é um anel com unidade e 1 é o elemento neutro da multiplicação então f(A) é um anel com unidade e o elemento neutro da multiplicação é f(1) Demonstração: Exercício 11) Se A é um anel com unidade então R não necessariamente possui unidade Demonstração: Exercício 12) Se f:G H e g: H T são homomorfismos de anéis então gof:G T também é um homomorfismo de anéis. Demonstração: Exercício DEFINIÇÃO: Um homomorfismo injetivo é chamado de monomorfismo. Um homomorfismo sobrejetivo é chamado epimorfismo. Um homomorfismo bijetivo é chamado de isomorfismo. Se existe um isomorfismo f: G H entre os grupos (G, *) e (H, ○) dizemos que estes grupos são isomorfos e denotamos este fato por G H. Grupos isomorfos são indistinguíveis no ponto de vista algébrico. EXEMPLOS (1) Se (A, +, .) e (R, +, .)são anéis, a função f:A→R dada por f(x) = 0 para todo x A é um homomorfismo, chamado de homomorfismo trivial. (2) Se (A, +, .) é um anel a função identidade x→x é umisomorfismo de A em A (3) Se I é um ideal do anel (A, +, .) então a função f:A→A/I dada por f(x)=H+x é um homomorfismo, chamado de homomorfismo canônico. 36 TEOREMA 1 (TEOREMA FUNDAMENTAL DOS HOMOMORFISMOS DE ANÉIS): Se f: A R é um homomorfismo entre os anéis (A, +, .) e (R, +, .) então A/Kerf G Imf DEMONSTRAÇÃO: Exercício (análoga à demonstração do 1º teorema dos isomorfismos de grupos) DOMÍNIO DE INTEGRIDADE: Em um anel é possível que tenhamos a,b ≠ 0 e ab=0. DEFINIÇÃO: Seja (A, +, .) um anel e a A. Dizemos que a é divisor de zero se existir b≠ 0, b A, tal que ab=0 DEFINIÇÃO: Um domínio de integridade ou simplesmente domínio é um anel não nulo, comutativo, com unidade e sem divisores de zero não nulos. EXEMPLOS O anel (Z,+,.) é um domínio de integridade. TEOREMA 2: O anel Zn é um domínio de integridade se e somente se n for primo. Demonstração: Exercício TEOREMA 3: Se x é um elemento não nulo de um domínio de integridade (A,+, .), então xy=xz ⇒ y=z Demonstração: Exercício DEFINIÇÃO: Se A é um anel comutativo e a,b A, dizemos que a divide b, ou que b é divisível por a, se existe cÎA tal que b=ac. O fato de a dividir b será denotado por a\b. Se A é um anel comutativo, temos as seguintes propriedades: i) Seja A é um domínio de integridade, a,b∈A e a≠0. Se a\b então existe um único elemento c tal que b=ac. Este elemento c será denotado por b/a ii) a\0 , ∀ a∈A iii) Se a\b então a\bx ∀ x∈A, iv) Se a\b e a\c então a\(b+c) v) Se a\b e b\c então a\c 37 vi) Se A é um anel com unidade então um elemento a∈A é uma unidade de A se, e somente se, a\1 DEFINIÇÃO: Se A é um anel comutativo com unidade, um elemento a A é dito ser associado a um elemento b A se a=bu, onde u é uma unidade de A TEOREMA 4: Se A é um anel comutativo com unidade, a relação em A definida por a~b se, e somente se, a é associado a b, é uma relação de equivalência em A DEMONSTRAÇÃO i) Temos a=a.1 e daí a é associado a a. Logo a~a ii) Se a~b então a=bu, onde u é uma unidade de A. Daí au’ =(bu) u’=b(uu’)=b1=b onde u’ é uma unidade de A. Daí b~a iii) Se a~b e b~c então a=bu, onde é uma unidade de A e b=cv, onde v é uma unidade de A. Assim a=c(vu)=c(vu) onde vu é uma unidade de A. Logo a~c Devido a propriedade simétrica da relação “~”, ao invés de falarmos que a é associado a b ou que b é associado a a, diremos simplesmente que a e b são associados . TEOREMA 5: Se A é um domínio de integridade, então a\b e b\a se e somente se a e b são associados. DEMONSTRAÇÃO Se a\b e b\a então b= ac e a=bd. Daí b1=b=(bc)d=b(cd). Como b≠0 (pois b\a) e A é um domínio de integridade, podemos cancelar b em b1=b(cd) e, portanto 1=cd e então c e d são unidades de A. Logo a e b são associados. A recíproca é imediata. EXERCITANDO 1 Se A é um anel comutativo com unidade e a\b, mostre que o ideal gerado por a contém o ideal gerado por b. EXERCITANDO 2 Se A é um domínio de integridade mostre que dois elementos são associados se e somente se geram o mesmo ideal. DEFINIÇÃO: Um elemento b pertencente a um domínio de integridade a é chamado de irredutível se b≠0, b não é uma unidade e se 38 c\b implica c é um unidade ou é associado a b. Se b não é irredutível dizemos que b é redutível. DEFINIÇÃO: um elemento p≠0 de um domínio de integridade A é dito ser primo se p não é uma unidade e se p\ab implica p\a ou p\b. DOMÍNIO DE FATORAÇÃO ÚNICA DEFINIÇÃO: Um domínio de integridade (A,+, .) é chamado de domínio fatoração única se cada elemento não nulo ou é uma unidade ou pode ser escrito de modo único, a menos da ordem dos fatores, como um produto de elementos irredutíveis. EXEMPLOS O anel dos inteiros é um domínio de fatoração única TEOREMA 6: Se A é um domínio de fatoração única então todo elemento irredutível é primo. DEMONSTRAÇÃO Seja p um elemento irredutível de A. Vamos mostrar que p é primo. Suponha então que p\ab e p a. Sejam a=p1p2 ... pn e b= q1q2 ... qm as fatorações únicas de a e b como produto de irredutíveis. Então p1p2 ... pnq1q2 ... qm é a fatoração única de ab. Como p\ab temos ab=pc. Seja c=t1t2... ts a fatoração única de c, como produto de elementos irredutíveis. Como a fatoração é única um associado de p, digamos pu, deve aparecer entre os p1, p2, ... , pn, q1, q2 , ... ,qm. Como p a nenhum associado a p pode aparecer entre os p1, p2, ... , pn. Assim pu deve está entre os q1, q2 , ... ,qm e daí p\b. Logo p é primo. FÓRUM Discuta, no Fórum da Aula 4, com os colegas ou com o professor tutor, as dúvidas sobre os exercícios ou sobre a matéria da Aula 4. Lembre que sua participação no Fórum vale presença e nota de avaliação. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Poste no Portfólio da Aula 4, a solução do exercitando do Tópico 1 , do exercitando do Tópico 2 , dos exercitando 1 e 2 do Tópico 3, no Texto, e dos exercícios 1, 2, 4, 6, 7 e 9 da lista de exercícios da Aula 4 que se encontra no material de apoio e que você pode obter no link Aula 4 (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.). 39 TÓPICO 01: TEORIA BÁSICA DOS CORPOS. SUBCORPOS DEFINIÇÃO Seja K um conjunto não vazio munido de duas operações, as quais chamaremos de adição e multiplicação e denotaremos respectivamente por "+" e "." (Por coerência usa-se a notação aditiva para a operação "+" e a notação multiplicativa para a operação "."). Dizemos que a estrutura algébrica (K,+, .) é um corpo se os seguintes axiomas são satisfeitos: (1).A estrutura algébrica (K,+) é um grupo comutativo (2).A estrutura algébrica (K-{0}, .) é um grupo comutativo. (3).A operação "." é distributiva em relação à operação "+", isto é: x.(y+z) = x.y+x.z ∀ x.y,z ∈K OBSERVAÇÃO É comum, quando não há nenhum risco de ambiguidade, representar o corpo (K,+, .) simplesmente por K. Assim quando nos referimos ao corpo K ficará subentendido que estamos nos referindo ao corpo (K,+, .), isto é, ao conjunto K munido das operações "+" e "." satisfazendo aos axiomas da estrutura algébrica que chamamos de corpo. EXEMPLOS 1) Considerando os conjuntos Q, R e C respectivamente dos racionais, reais e complexos e as operações usuais de adição '+' e multiplicação '.' , as estruturas algébricas (Q,+ , .) , (R,+, .), (C,+, .), são corpos 2) Se n é um inteiro primo então Zn é um corpo. 3) Se Q(√3)= {a+b√3; a,b∈ Q} então (Q(√3), +, .) é um corpo. PROPRIEDADES ELEMENTARES DOS CORPOS: Todo corpo é um anel comutativo com unidade e portanto valem todas as propriedades de anel. TEOREMA 1: Os únicos ideais de um corpo são os triviais DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO TEOREMA 2:Todo corpo é um domínio de integridade DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 05: CORPOS 40 TEOREMA 3:Todo domínio de integridade finito é um corpo. DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO EXERCITANDO Dê exemplo de um domínio de integridade que não é um corpo DEFINIÇÃO: Sejam (K,+, .) um anel e S um subconjunto de K. Dizemos que S é um subcorpo de (K,+, .) se: ∀ a,b ∈ A temos a + b e ab pertencem a S e (S,+, .) é um corpo. Se S é um subcorpo de K e S≠K dizemos que S é um subcorpo próprio de K DEFINIÇÃO: Dizemos que K é uma extensão de S se S é um subcorpo de K. TEOREMA 4. Sejam (K,+, .) um anel e S um subanel de K contendo pelo menos dois elementos. Então S um subcorpo de K se, e somente se, o inverso de todo elemento não nulo de S pertence a S. Demonstração: evidentemente se S é um subcorpo então inverso de todo elemento não nulo de S pertence a S. Reciprocamente, suponha que o inverso de todo elemento não nulo de S pertence a S. Como S possui mais de um elemento S-{0}≠∅ Como S é subanel de K, S é subgrupo de (K,+) e st∈S-{0} ∀ s,t ∈S-{0}.Como, por hipótese, s-1∈S para todo elemento não nulo s∈S, tem- se ts-1∈S ∀ s,t ∈S-{0}. Logo (S-{0}, . ) é um grupo e portanto (S,+, .) é um corpo. TEOREMA 5. Se K1,K2,...,Kn são subcorpos de um corpo (K, +, . ) então K1∩K2∩... ∩Kn também é um subcorpo de (K, +, .). Este resultado também é válido para uma quantidade infinita de subcorpos. DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO EXEMPLOS (1) Qualquer que seja o corpo (K, +, . )) , K é subcorpo de K. (2) Q é subcorpo dos corpos (R,+, .) e (C,+, . ). 3) R é subcorpo do corpo (C,+ . .). FONTES DAS IMAGENS Responsável: Prof. José Valter Lopes Nunes 41 TÓPICO 02: CORPO DE FRAÇÕES E HOMOMORFISMO DE CORPO CORPO DE FRAÇÕES: Seja (D,+, .) um domínio de integridade. Definimos, no produto cartesiano DxD-{0}, a relação "~" dada por (a,b)~(c,d) se e somente se ad=bc. Afirmamos que "~" é uma relação de equivalência. De fato: 1. (a,b)~(a,b) pois ab=ba 2. (a,b)~(c,d) ⇒ ad=bc ⇒ cb=da ⇒ (c,d)~(a,b) 3. (a,b)~(c,d) e (c,d)~(e,f) ⇒ ad=bc e cf=de ⇒(ad)f=(bc)f e b(cf)=b(de) ⇒ (ad)f =b(de). Usando a comutatividade e a associatividade da multiplicação temos d(af)=d(be). Como d≠0 e D é um domínio de integridade temos af=be e então (a,b)~(e,f) NOTAÇÃO: representaremos a classe de (a,b) por a/b e o conjunto quociente por Q. LEMA 1: Se (a,b)~(r,s) e (c,d)~(u,v) então (ad+bc,bd)~(rv+su, sv) DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO DEFINIÇÃO: Se a/b e c/d pertencem a Q definimos a/b + c/d = (ad+bf)/bd, que é um elemento de Q pois bd≠0 já que b e d são diferentes de zero e D é um domínio de integridade. Pelo lema 1, a operação "+" está bem definida LEMA 2: Se (a,b)~(r,s) e (c,d)~(u,v) então (ac,bd)~(ru, sv) DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO DEFINIÇÃO: Se a/b e c/d pertencem a Q definimos a/b . c/d = ac/bd, que é um elemento de Q pois bd≠0 já que b e d são diferentes de zero e D é um domínio de integridade. Pelo lema 2, a operação "." está bem definida TEOREMA 1: O conjunto Q, munido das operações "+" e "." ,definidas acima, é um corpo, o qual é chamado de corpo de frações de D. DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO Considere a função f: D → Q definida por f(a)=a/1. Mostra-se facilmente que f é um homomorfismo injetivo e daí D é isomorfo ao subanel f(D) de Q. ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 05: CORPOS 42 Assim, no ponto de vista algébrico, podemos considerar D como um subanel de Q, e é o que faremos a partir de agora. Considerando D como sendo o anel dos inteiros obtemos seu corpo de frações como sendo o corpo dos números racionais. HOMOMORFISMO DE CORPOS: DEFINIÇÃO: Dados dois corpos (K, +, .) e (L, +, .) dizemos que uma aplicação f: K → L é um homomorfismo de corpos se f(x + y) = f(x) +f(y) e f (x y) = f(x) f(y) para todo x,y → K. Proposição: Se (K, +, .) e (L, +, .) são corpos e f: K →L é um homomorfismo de corpos. Então f(x)=0 ∀ x∈K ou f é injetiva. DEMONSTRAÇÃO Olhando f como homomorfismo de anéis (K, +, .) e (L, +, .) o kerf é um ideal do anel (K, +, .), Como K é corpo seus únicos ideais são K e {0}. Se kerf =K então f(x)=0 ∀ x∈K. Se kerf = {0} f é injetiva. Concluímos então, a partir da proposição acima, que os únicos endomorfismos interessantes de um corpo K são os automorfismos. EXEMPLOS Se (K, +, .) é um corpo a função identidade x→x é um automorfismo de K Considere o corpo (Q(√3), +, .). A função f: Q(√3) → Q(√3) definida por f (a+b√3 )= a-b√3 é um automorfismo de Q(√3) TEOREMA 2: O conjunto de todos os automorfismos de um corpo K, com a operação composição de funções, é um grupo DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO. TEOREMA 3: Se L é uma extensão de K então os automorfismos de L que fixam os elementos de K, com a operação composição de funções, é um grupo, chamado de grupo dos automorfismos de L sobre K DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO. FÓRUM Discuta, no Fórum da Aula 5, com os colegas ou com o professor tutor, as dúvidas sobre os exercícios ou sobre a matéria da Aula 5. Lembre que sua participação no Fórum vale presença e nota de avaliação. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO 43 Poste no Portfólio da Aula 5, a demonstração dos teoremas 1, 2, 3 e 5 do Tópico 1 , no Texto, e a solução dos exercícios 1, 2, 4, 6, 8 e 10 da lista de exercícios da Aula 5 que se encontra no material de apoio e que você pode obter no link Aula 5 (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.). FONTES DAS IMAGENS Responsável: Prof. José Valter Lopes Nunes Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 44 TÓPICO 01: POLINÔMIOS SOBRE UM ANEL. POLINÔMIOS SOBRE UM CORPO. ALGORITMO DA DIVISÃO Seja R um anel. O conjunto das expressões formais f(x) do tipo com ai ∈ R e n ∈ N, na indeterminada x, será denotado R[x]. Os ai.i=0,1,...,n, são chamados de coeficientes de f(x). Cada f(x) ∈R[x] é chamado de polinômio com coeficientes em R. Se an≠0, dizemos que f(x) tem grau n e o coeficiente an é chamado de coeficiente líder de f(x). Usaremos a notação gr f(x) para denotar o grau do polinômio f(x). Se todos os coeficientes de f(x) são nulos f (x) é chamado de polinômio nulo. Não definiremos o grau de um polinômio nulo. Se R é um anel com unidade e an = 1 dizemos que f(x) é mônico. Os polinômios do tipo f(x) = a0 são chamados de polinômios constantes. Se f(x) = anx n + an-1x n-1 + ... + a1x + a0 e g(x) = bmx m + bm-1x m-1 + ... + b1x + b0 então f(x)=g(x) se e somente se ai=bi ∀i∈{0,1,...,n}. Dados f(x)= an xn + an-1 xn-1 + ... + a1 x + a0 e g(x)= bm xm + bm-1 xm-1 + ... + b1 x + b0 pertencentes a R[x] definimos as operações “+” e “.” em R[x] por: i) f(x)+g(x) = (as + bs)x s + (as-1 + bs-1) x s-1 + ... + (a1 + b1) x + (a0+ b0) onde ai = 0 para todo i > n e bi = 0 pata todo i > m. f(x).g(x)= cm+nx m+n + cm+nx m+n + ... + c0, onde ck=akb0+ak- 1b1+...+a1bk-1+a0bk para k=0,...,m+n A partir destas definições temos gr (f(x)+g(x)) ≤máx {gr f(x), gr g(x)} e, se R é um domínio de integridade, gr (f(x).g(x)) = gr f(x) + gr g(x). TEOREMA 1: Com as operações definidas acima R[x] é um anel. Se R é um anel com unidade então R[x] também é um anel com unidade. Se R é um domínio de integridade então R[x] também é um domínio de integridade. Particularmente, se K é um corpo então K[x] é domínio de integridade. DEMONSTRAÇÃO: EXERCÍCIO. DEFINIÇÃO: O anel R[x] é chamado anel dos polinômios com coeficientes em R ou anel dos polinômios sobre R. A função g: R→R[x] que a cada a0∈R associa o polinômio constante f(x) = a0 é obviamente um homomorfismo injetivo, e daí R é isomorfo ao subanel g(R) dos polinômios constantes de R[x]. Assim, no ponto de vista algébrico, podemos considerar R como um subanel de R[X], e é o que faremos a partir de agora. A partir destas considerações e das propriedades das operações de ESTRUTURAS ALGÉBRICAS AULA 06:POLINÔMIO 45 R[x] mostra-se facilmente que o conjunto das unidades de R[x] coincide com o conjunto das unidades de R, isto é, U(R[x])= U(R). EXEMPLOS 1. 3x2+ 4x + 1 é um polinômio em Z[X], de grau 2. 2. X3+ x - 3 é um polinômio em Z[X], mônico e de grau 3. 3. f(x) = x2+1 e h(x) = 2x+4 são polinômios em Z[x]. Temos f(x)+g(x)= x2+2x+5 e f(x).g(x)= 2x3+4x2+2x+4 Seja R um anel. Uma função g:R → R é chamada de função polinomial se existir um polinômio f(x)= an x n + an-1 x n-1 + ... + a1 x + a0∈ R[x] tal que, b∈ R, g(b)= an b n + an-1 b n-1 + ... + a1 b + a0 . Assim cada polinômio f(x)= an xn + an-1 x n-1 + ... + a1 x + a0∈ R[x] pode ser obviamente associado a uma função f de R em R, cujo valor em qualquer b∈R é an b n + an-1 b n-1 + ... + a1 b + a0. Usaremos f para representar tanto a função como o polinômio e escreveremos f(b)= an b n + an-1 b n-1 + ... + a1 b + a0. Se f(b)=0 dizemos que b é um zero de f ou uma raiz da equação funcional f(x)
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