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1 Farmacologia II - Aula 4 – 27.02.2018 – Vitória Leal e Yala Figueiredo – Medicina XXXIV Anti- depressivos Prof. Gersika Bittencourt INTRODUÇÃO Os antidepressivos são medicamentos bastante usados na clínica para o tratamento de depressão e para o tratamento de ansiedade, se utilizados em doses menores do que as doses antidepressivas. Um dos transtornos de humor mais diagnosticado nos pacientes na clínica é a depressão. Dentro dos transtornos de humor, estão: transtorno bipolar, depressão induzida pela utilização de substancias químicas, depressão induzida por outras patologias, depressão maior. As mulheres são mais susceptíveis e mais propensas a desenvolver depressão, isso se deve possivelmente pela variação hormonal. E com o avanço da idade do paciente, aumenta se também o risco de desenvolver depressão independente do sexo. A depressão é uma patologia, deve ser diagnosticada. Como isso é feito? De acordo com a tabela 1 no final deste capítulo, é preciso ter os sintomas número 1 e 2 que estão listados pelo menos 15 dias consecutivos ou cinco dos outros sete sintomas listados diariamente por pelo menos 15 dias consecutivos. Principais causas da depressão Utilização de substancias químicas, como medicamentos. Afecções ou patologias subjacentes, como: câncer, infarto agudo do miocárdio. Genética. Biológica – principal motivo. Existem alterações biológicas no SNC do paciente, como a redução da quantidade de neurotransmissores, principalmente as catecolaminas na fenda sináptica, dentro dos neurotransmissores que estão reduzidos, destaca-se serotonina, noradrenalina e dopamina. A fenda sináptica de um paciente normal tem uma quantidade X de neurotransmissores suficientes para manter seu estado de humor, já em um paciente depressivo estes níveis de neurotransmissores estão reduzidos. Então todo medicamento antidepressivo tem como finalidade única, elevar a quantidade de neurotransmissores na fenda sináptica, independente do mecanismo de ação. Porém cada medicamento usa um mecanismo diferente, dessa forma cada medicamento pode elevar neurotransmissores diferentes. Aula 4 - Antidepressivos Vitória Leal e Yala Figueiredo - Medicina UNIFENAS XXXIV 2 Os antidepressivos são classificados em 2 classes maiores: 1. Antidepressivos de primeira geração ou típicos (são mais antigos), que se dividem em: 1.1.ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS (ADT) Apesar de ser uma classe muito eficaz com boa resposta terapêutica, atualmente essa classe de medicamentos não é utilizada mais como primeira escolha para o tratamento da depressão, pois produz muitos efeitos colaterais para o paciente. É utilizada em pacientes que possuem uma depressão que não é tratável (depressão refratária), associado a outros antidepressivos mais novos ou em pacientes intolerantes aos antidepressivos mais novos. Os ADT foram a primeira classe de antidepressivos descoberta e utilizado no Brasil, isso foi muito importante para a clínica medica porque antes disso o paciente depressivo era tratado com eletroconvulsoterapia. Nesse método o paciente tinha que ser internado, submetido a anestesia, era colocado eletrodos no seu SNC e o paciente recebia pequenos eletrochoques para estimular a liberação de neurotransmissores pelos neurônios. Então depois da descoberta dos ADT, o tratamento passou a ser feito em casa (ambulatorial). Atualmente, a eletroconvulsoterapia ainda é utilizada para pacientes que não tem sucesso terapêutico com medicamento ou para pacientes que precisam de uma resposta rápida. Os antidepressivos de maneira em geral demandam tempo para iniciar a sua ação, no mínimo um mês para o paciente atingir o steady state (equilíbrio de concentração plasmática) e ter uma resposta terapêutica interessante. Por exemplo: pacientes com depressão e ideia suicida, a eletroconvulsoterapia é uma opção, pois sua resposta terapêutica é mais rápida ou pacientes com muitas reações adversas ao utilizar os medicamentos antidepressivos de maneira em geral. Até hoje os ADT são muitos usados devido ao seu preço acessível, boa resposta terapêutica, apesar dos efeitos colaterais. Os ADT são subdivididos em dois tipos (*mais usados): Aminas terciárias: amitriptilina*, imipramina*, clomipramina, doxepina. Aminas secundárias: desipramina, amoxapina, nortriptilina* (metabólito ativo da amitriptilina). Mecanismo de ação Os pacientes com depressão tem quantidade reduzida de neurotransmissores na fenda, que podem ser recaptados pela bomba de receptação do neurônio pré-sináptico. Então, de maneira geral, o mecanismo de ação dos ADT é inibição da receptação de neurotransmissores na fenda sináptica, aumentando sua quantidade na fenda. As aminas terciárias inibem principalmente a receptação de serotonina, enquanto as aminas secundarias inibem a receptação noradrenalina. Porém, as aminas terciarias, ao serem metabolizadas dão origem as aminas secundarias, por esse motivo as aminas terciarias inibem tanto a receptação de serotonina quanto de noradrenalina. Por exemplo: a amitriptilina quando metabolizada gera a nortriptilina. Quando administrados por via oral, os ADT sofrem uma absorção rápida, e por terem meia vida de eliminação de em média de 24 horas, são fármacos utilizados de 1 a 2 (no máximo) vezes ao dia. Ao atingirem a corrente sanguínea, se ligam extensamente as proteínas plasmáticas podendo ser deslocado por outros fármacos. Metabolização Os ADT são metabolizados pelas enzimas do citocromo p450, principalmente CYP 2D6, que é uma enzima que sofre muita variabilidade genética. Portanto existem Aula 4 - Antidepressivos Vitória Leal e Yala Figueiredo - Medicina UNIFENAS XXXIV 3 pacientes que são metabolizadores rápidos (muito enzima) e outros metabolizadores lentos (pouca enzima). Por isso que ao utilizar essa classe de fármacos, pode ser interessante se realizar monitorização terapêutica para checar a concentração sanguínea e avaliar se está dentro da faixa terapêutica. Porque os ADT produzem muitos efeitos colaterais, se o paciente for um metabolizador lento e utilizar a mesma dose de um metabolizador rápido, irá ocorrer a acumulação do ADT no organismo do paciente potencializando os efeitos tóxicos. Depois de sofrer metabolismo (biotransformação), os ADT são eliminados por via renal. Reações adversas Os ADT, ao invés de chegar ao SNC e apenas inibirem a receptação do neurotransmissor, têm afinidade por vários receptores no organismo, sendo capazes de se ligarem a diversos tipos de receptores. Por exemplo: os ADT são capazes de bloquear os receptores histaminérgicos do tipo H1, provocando sonolência, aumento do apetite, e consequentemente ganho de peso. Além disso, são capazes de bloquear os receptores muscarinicos de acetilcolina, provocando muitas reações anticolinérgicas, como: constipação intestinal, xerostomia, visão turva. Eles também bloqueiam os receptores alfa-1 adrenérgicos, provocando hipotensão postural no paciente e consequentemente tonturas. Não é interessante tratar as reações adversas dos pacientes, só que se o paciente não obtém melhoracom os outros antidepressivos, então para amenizar essas reações adversas, existem alguns procedimentos que podem ser feitos, como por exemplo: Para tratar os efeitos anticolinérgicos centrais dos ADT, pode se administrar a fisostigmina (inibidor de acetilconilesterase que age tanto perifericamente quanto a nível central aumentando os níveis de acetilcolina). Para tratar a retenção urinária (efeito anticolinérgicos), pode se administrar o betanecol (agonista colinérgico direto que se liga nos receptores muscarinicos do tipo M3 presentes na bexiga, aumentando a contração do musculo detrusor da bexiga e o esvaziamento). Contra-indicações Existem situações em que o paciente que utiliza os ADT e manifestam efeitos colaterais graves, nesse caso deve se suspender o uso do ADT. Estas contraindicações são: Nos casos de efeitos colaterais como retenção urinaria grave e pacientes com crises de mania/psicose, ou pacientes com problemas cardíacos graves e idosos. O ADT pode causar crise de mania/psicose no paciente caso ocorra uma grande inibição da receptação do neurotransmissor, que passa então a estar em excesso podendo produzir uma crise psicótica no paciente. Especialmente o excesso de dopamina. Em paciente com problemas cardíacos graves, são capazes de alterarem a condução elétrica cardíaca, e consequentemente podendo produzir bloqueio de ramo. Em idosos é contraindicado devido a já possuírem a farmacocinética alterada, podendo acumular os ADT por menor capacidade de biotransformação e excreção, potencializando os efeitos colaterais. O problema nesse caso, são a produção de efeitos colaterais anticolinérgicos centrais em pacientes idosos, que podem levar a alterações de memória. Ademais, a hipotensão ortostática (postural) pode levar a queda, e consequentemente fraturas que nesses pacientes são de difícil tratamento. 1.2.INIBIDORES DA MAO (IMAO) A MAO (monoaminaoxidase) é a enzima responsável para degradação dos neurotransmissores que são monoaminas. Um paciente depressivo tem um número reduzido de monoaminas na fenda sináptica, se a MAO Aula 4 - Antidepressivos Vitória Leal e Yala Figueiredo - Medicina UNIFENAS XXXIV 4 estiver ativa, ela irá degradar esse neurotransmissores. Então ao inibir a MAO, inibe a degradação desses neurotransmissores, e consequentemente aumenta a biodisponibilidade desses neurotransmissores na fenda sináptica. Existem 2 tipos de MAO no nosso organismo: MAO A MAO B A diferença entre elas é a localização tecidual. Por exemplo: no TGI tem-se MAO A, no SNC tem- se MAO A e MAO B, no fígado tem –se MAO A e MAO B. Os IMAO podem ser classificados com: Inibidores seletivos e reversíveis: inibem MAO A ou MAO B, e o medicamento inibe a enzima temporariamente. Inibidores não seletivos e irreversíveis: inibem MAO A e MAO B, e o medicamento inibe a enzima definitivamente. No Brasil, existem: Seleginina: seletivo e reversível de MAO B – utilizado para tratamento de Parkinson. Moclobemida: seletivo e reversível de MAO A - utilizado no tratamento da depressão Tranilcipromina: não seletivo e irreversível de MAO - é o mais usado, com sucesso terapêutico alto. Os IMAO são bastantes prescritos por médicos especialistas, por exemplo psiquiatras, em casos de insucesso com as classes de antidepressivos mais novas (não é primeira escolha) para paciente com depressão grave, e pacientes que não respondem a outros tratamentos. Interações medicamentosas Esta classe de medicamento está amplamente envolvido em interações medicamentosas graves, por isso na maioria dos casos somente é prescrita por especialistas. Dentre as principais interações estão: Efeito queijo tiramina: a tiramina é uma substancia presente em vários alimentos e medicamentos, quando utilizada por via oral ela sofre a degradação pela MAO A presente no TGI, os IMAO não seletivos ao inibirem essa MAO, inibem a degradação de tiramina, que será absorvida em uma maior quantidade pelo TGI chegando em grande quantidade na corrente sanguínea. A tiramina aumenta a liberação de noradrenalina pelos neurônios pré sinápticos, isso significa que o consumo massivo de tiramina origina no paciente uma crise hipertensiva grave que pode ser potencialmente fatal. Então os pacientes que utilizam inibidores de MAO não seletivos tem um restrição dietética, devem evitar consumir queijos, vinho, chocolate, fígado de galinha, necessitando de um acompanhamento nutricional. Cuidado: paciente fez o tratamento para depressão durante nove meses com tranilcipromina, com melhora clínica, e desejo de abandonar o uso. Depois que o paciente deixa de utilizar a tranilcipromina, como ele é um inibidor irreversível da MAO, é necessário um prazo de pelo menos 15 dias após a suspensão do uso do medicamento para manter uma dieta livre. Esse prazo é necessário para que o organismo sintetize novas moléculas de MAO. Desvantagem A desvantagem da tranilcipromina é a produção de insônia, por isso para evitar esse efeito colateral se pede para o paciente tomar o medicamento antes das 16 horas, diminuindo o risco de produzir insônia. CUIDADO: a associação do inibidor de MAO com ADT pode provocar uma crise norapinergica (aumento súbito de noradrenalina no organismo), porque o ADT impede a receptação de noradrenalina aumentando a quantidade de noradrenalina na fenda, o IMAO inibe a degradação da noradrenalina, isso quer dizer que se tem um aumento brusco de noradrenalina no organismo, podendo ter elevações de pressão arterial. Aula 4 - Antidepressivos Vitória Leal e Yala Figueiredo - Medicina UNIFENAS XXXIV 5 Existem pacientes que necessitam da associação de antidepressivos para obter uma melhora clínica. Nesse caso, deve se fazer uma redução da dose de ambos os fármacos. 2. Antidepressivos de segunda geração 2.1 INIBIDOR SELETIVO DE RECEPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRS) Esse medicamento inibe apenas a receptação de serotonina para o neurônio pré-sináptico, aumentando a concentração de serotonina na fenda pré-sináptica. Dentre esses inibidores destacam-se: fluoxetina, paroxetina, sertralina, fluvoxamina, citalopram (é uma mistura racêmica do R citalopram com o S citalopram), escitalopram (isômero S do citalopram – é mais especifico para o receptor, tende a produzir menos efeitos colaterais, é mais potente). Essa classe é amplamente utilizada pela população, porque ela possui as seguintes vantagens: ISRS não bloqueia receptor histaminérgico, não bloqueia receptor muscarinico, e não bloqueia receptor alfa-1 adrenérgico, então pode-se dizer que ele produz menos efeitos colaterais para esses pacientes. Não produz interação medicamentosa com alimentos, permitindo uma dieta livre. A meia vida de eliminação dos fármacos dessa classe é considerada longa, por isso podem ser utilizados em uma única dose diária. Interação medicamentosa A única interação medicamentosa importante em relação a esses fármacos é em relação à paroxetina e fluoxetina. Esses medicamentos são considerados inibidores enzimáticos, então inibem o metabolismo de outros medicamentos ao inibiremas enzimas do citocromo p450, principalmente da CYP2D6, que é uma enzima que metaboliza os ADT. Por isso, cuidado ao associar esse dois medicamentos, pois eles vão inibir a metabolização do ADT aumentando a concentração plasmática. A paroxetina e a fluoxetina também interagem com o taloxifeno, que é um fármaco utilizado para o tratamento para o câncer de mama, é um modulador dos receptores de estrogênio, impedindo a ligação deste hormônio no seu receptor impedindo a proliferação da célula cancerígena. O taloxifeno é um pró-fármaco, ou seja, ele precisa sofrer metabolismo pela CYP 2D6 para se transformar no fármaco ativo. A fluoxetina e a paroxetina inibem a CYP2D6. Então uma paciente com câncer de mama utilizando taloxifeno, e pode desenvolver uma depressão, ao fazer o uso da fluoxetina e paroxetina, esses medicamentos irão inibir drasticamente o efeito farmacológico do taloxifeno. Isso já é provado! A resposta terapêutica é reduzida. Reações adversas ISRS produz menos efeitos colaterais que os ADT, porem ele não é isentos destes. Os principais efeitos dessa classe: Distúrbio no TGI, como náuseas e vômitos, por causa do excesso de serotonina no organismo, que se liga em outros receptores, inclusive os do TGI. Então o paciente pode ter distúrbios gástricos, no SNC pode produzir agitação, pânico, insônia. Disfunção sexual, principalmente redução de libido, especialmente do sexo masculino. Isso é um problema porque o paciente tende a deixar de utilizar o medicamento, nesse caso é interessante substituir por outra classe. Cuidado: associação de ISRS com IMAO. Têm pacientes que tomam fluoxetina e associa um IMAO. Quando isso acontece, o paciente pode apresentar uma crise serotoninérgica. O ISRS inibe somente a receptação de serotonina e o IMAO inibe a degradação de serotonina, então se tem um Aula 4 - Antidepressivos Vitória Leal e Yala Figueiredo - Medicina UNIFENAS XXXIV 6 excesso, que é caracterizado por crise serotoninérgica. As principais reações desta crise são dor abdominal, diarreia, hipertensão arterial, insônia, agitação psicomotora, aumento da temperatura corporal, rigidez muscular. Abstinência Suspensão repentina dos medicamentos antidepressivos pode causar uma síndrome de abstinência. Medicamentos antidepressivos atuam no SNC, então é necessário que seja feito a redução da dose gradativamente. A maioria dos pacientes escolhem por conta própria parar de tomar o medicamento, seja por estar se sentindo melhor ou por ter muitos efeitos adversos. Se um pacientes estiver tomando citalopram e ou fluoxetina (ISRS) e eles decidirem suspender abruptamente a administração desses medicamentos, a crise de abstinência será mais acentuada em que paciente? A fluoxetina tem a vida de eliminação mais longa de 2 a 4 dias, e o seu metabolito tem a meia vida de 15 dias – tanto é que para atingir o steady state é necessário no mínimo dois meses. O citalopram e os outros ISRS tem meia vida de eliminação de 24 horas, são eliminados mais rapidamente, tanto que é se atinge o steady state de 7 a 15 dias. Então o paciente que toma citalopram apresentará crise de abstinência mais rápido, pois possui meia vida de eliminação mais curta. Já a fluoxetina tem menor intensidade de produzir a crise de abstinência, pois sua meia vida de eliminação é mais longa. Tratamento de depressão em idosos Tratar um distúrbio de humor em idoso não é fácil. A classe de primeira escolha para idosos são os ISRS, é uma das classes mais seguras. Dentro dessa classe, existem dois medicamentos que devem ser evitados que são a fluoxetina e a paroxetina, pois normalmente os idosos são polimedicados e como esses dois fármacos são considerados inibidores enzimáticos, pode-se produzir muita interação medicamentosa com os medicamentos que os idosos já tomam. Além disso, a fluoxetina por possuir uma meia vida de eliminação muito longa, ela pode se acumular no organismo do idoso potencializando os efeitos colaterais dessa classe. Para o idoso é interessante utilizar o citalopram e a sertralina dentro dos ISRS, ou pode se utilizar outros antidepressivos de segunda geração, por exemplo: existe um antidepressivo de segunda geração que é a mirtazapina, ela é interessante para ser utilizado em idosos, principalmente aqueles que têm insônia, porque a mirtazapina mesmo sendo de segunda geração é um medicamento antidepressivo que bloqueia os receptores histaminérgicos H1 e produz sonolência no paciente. 2.2. INIBIDORES DA RECEPTAÇÃO DE SEROTONINA E NORADRENALINA (IRSN) Os ADT são capazes de inibir a receptação de serotonina e noradrenalina, a diferença é que o principal medicamento nessa classe é a venfalaxina, possui uma estrutura química diferente. O ADT é um antidepressivo que tem na sua estrutura química três ciclos, já a venfalaxina não tem essa estrutura. Porém o mecanismo de ação é o mesmo, aumenta os níveis de serotonina e noradrenalina na fenda sináptica por bloqueio da bomba de receptação desses dois neurotransmissores. Porém a venfalaxina possui vantagens em relação aos ADT, que é não bloquear os receptores histaminérgicos, muscarinicos e alfa 1 adrenérgicos, ou seja, a venfalaxina não tem afinidade por esses receptores. O principal efeito colateral da venfalaxina é relacionado ao TGI, que é náusea, principalmente no início do tratamento. Hoje, a venfalaxina é disponibilizada de duas maneiras: Aula 4 - Antidepressivos Vitória Leal e Yala Figueiredo - Medicina UNIFENAS XXXIV 7 Venfalaxina de liberação imediata: tem meia vida de eliminação muito curta e por isso deve ser utilizada de 2 a 3 vezes ao dia. Se usada em doses mais elvadas, pode produzir no paciente hipertensão diastólica sustentável devido a seu mecanismo de ação. Venfalaxina XR: pode ser tomada em dose única diária e é liberada gradativamente na corrente sanguínea do paciente durante todo o dia, fornecendo menos risco de causar hipertensão, pois sua concentração plasmática vai ser controlada durante o dia, evitando picos plasmáticos. É mais cara. Normalmente, a hipertensão diastólica acontece quando o paciente toma mais de 200mg por ao dia, menos que isso não é comum. ANTIDEPRESSIVO NORADRENÉRGICO E SEROTONINÉRGICO ESPECÍFICO (ANASE) Existem fàrmacos que aumentam a liberação de serotonina e noradrenalina – até então, os medicamentos apenas inibiam sua recaptação. Então, o ANESE aumenta a disponibildade destes dois neurotransmissores na fenda sináptica por um mecanismo diferente – lembrando que o paciente depressivo tem déficit desses neurotransmissores na fenda sináptica, fazendo com que eles não se liguem a seus receptores, causando manifestação dos sintomas. MITARZAPINA É o principal medicamento dessa classe. Ele é antagonista dos receptores alfa-2 adrenérgicos e age bloqueando esses repectores no neurônio pré-sináptico – tanto os autorreceptores (no neurônio noradrenégico) quanto os hétero receptores (no neurônigo serotoninérgico). Então, se ocorre o bloqueio os receptores alfa- 2 adrenérgicos, aumenta-se a liberação da NE na fenda sináptica. Se ela se ligar como agonista, existe uma inibiçãoda liberação do neurotransmissor. Ou seja, a mitarzapina bloqueia o receptor, ele não liga e ela impede que a NE se ligue ao receptor alfa-2. Se não se ligar, não tem autorregulação porque a liberação de NE aumenta, não tem controle. Como visto, além de bloquear o autorreceptor adrenérgico, ela também bloqueia o hétero receptor. Se a NE se ligar ao receptor alfa-2 adrenérgico presente no nêuronio serotoninérgico, a NE regulará a liberação de serotonina, impedindo sua liberação. Como a mitarzapina bloqueia esse receptor, essa liberação de serotonina na fenda sináptica irá aumentar. Então, aumenta-se a liberação de NE e serotonina pelo bloqueio dos receptores alfa-2 adrenérgicos no neuronio pré-sináptico – tanto do noradrenégico quando do serotoninérgico. A mitarzapina é bastante prescrita porque pode ser utilizada tanto em monoterapia – quando o paciente não tem um sucesso terapêutico com outros fármacos – ou em uma associação da mitarzapina com outros antidepressivos para potencializar ação. Ela é interessante porque tem um mecanismo diferente dos outros. Imagine associar um antidepressivo tricíclico com venlafaxina. É possível, mas os dois têm o mesmo mecanismo de ação – ambos bloquieam a bomba de recaptação e, querendo ou não, vão acabar competindo pelo bloqueio da bomba. Se eu não tenho uma melhora com a venlafaxina, eu posso associar a mitarzapina porque ela vai aumentar a quantidade na fenda sináptica por liberação, então a melhora clínica é porque eu aumento ainda mais a disponibilidade do neurotransmissor. Ela é interessante para depressão associada à ansiedade ou para pacientes que tenham depressão associada com insônia. Também têm grande capacidade de bloquear os receptores H1 de histamina, produzindo solonência no paciente – o paciente tem uma redução do SNC e fica menos agitado. O problema é que alguns indivíduos aumentam o peso corporal ao usar o medicamento porque ele bloqueia o receptor H1, aumentando o apetite. Aula 4 - Antidepressivos Vitória Leal e Yala Figueiredo - Medicina UNIFENAS XXXIV 8 BLOQUEADORES DE RECAPTAÇÃO DE NORADRENALINA E DOPAMINA (IRND) BUPROPIONA Também muito prescrito, é um fármaco que inibe a recaptação de noradrenalina e dopamina, aumentando sua quantidade na fenda sináptica. Além de ser utilizado no tratamento de depressão, também pode ser usado para auxiliar no abandono do hábito de fumar proque sabe-se que a nicotina é capaz de aumentar a liberação de dopamina em áreas de compensação do SNC. Por inibir recaptação de dopamina, a bupropiona aumenta os niveis desse neurotransmissor na mesma região do SNC, diminuindo a vontade de fumar do paciente porque a vontade só aparece quando a nicotina entra no SNC, aumenta a noradrenalina e causa uma sensação de compensação. Este fármaco faz a mesma coisa, diminuindo a vontade de fumar. Além disso, a bupropiona inibe a recaptação de noradrenalina. Então, ela aumenta sua quantidade no locus-cereleus no SNC, diminuindo o risco de crise de abstinência nesses pacientes. Existem alguns pacientes que devemos ter cuidado ao receitar, principalmente quem tem epilepsia ou crises convulsivas porque quando utilizada em altas doses (acima de 450mg), ela diminui o limiar convulsivo, aumentando a chance de crises no paciente. Ainda, medicamentos anti- convulsivantes são capazes de induzir o metabolismo da bupropiona, facilitando sua excreção e diminuindo seu efeito farmacológico. Por isso, para pacientes epilépticos, em uso de anticonvulsivantes, é interessante utilizar outra classe de antidepressivos. Reações adversas Em doses normais (terapêuticas), a bupropiona tende a produzir poucos efeitos colaterais e quando eles aparecem tendem a ser leves e transitórios. O mais grave são as crises convulsivas, mas aparece apenas em quem é suscesível. Dessa forma, ele é considerado um medicamento seguro. Outro benefício: ela não tem afinidade de ligação aos receptores histaminérgicos, nem muscarínicos, nem alfa-1 adrenérgicos, justificando essa baixa gama de efeitos colaterais. ANEXOS Todas as classes aqui citadas são classificadas como antidepressivos, mas também podem ser usadas em outro tipo de medicamento. Por exemplo, antidepressivo tricíclico pode tratar dor neuropática, miopatica ou neurogênica – como em casos de fibromialgia; tratamento de enxaqueca. O que vai variar a aplicação clínica de cada um desses fármacos será sua posologia. Por quanto tempo deve-se utilizar o medicamento antidepressivo? É para o resto da vida? Não necessariamente. Isso depende do número de vezes que ele apresenta a sintomatologia – quem tem a primeira vez, pode utilizar de seis a nove meses. Caso ele tenha uma melhora clínica, deve-se ir reduzindo sua dose gradativamente até suspender o uso do fármaco. Quem já apresentou episódios anteriores, deve fazer uma terapia de manutenção. Quem tem crises recorrentes, pode vir a utilizar pelo resto da vida. Varia de acordo com a recorrencia da sintomatologia. O que se deve prestar atenção é se esse paciente tem recorrência do sintoma por patologia crônica ou por resistência ao tratamento – muitas vezes o paciente não é aderente e alega que o medicamento não faz efeito. Se voce suspeita que não tá usando, deve-se fazer monitorização terapêutica. Ainda, deve-se tomar cuidado com a prescrição de medicamentos para depressão de baixa segurança em pacientes que tem idéia suicida. 9 Tem que ter cuidado ao usar o antidepressivo tricícilio porque ele causa alteração cardíaca. Tabela 1 - Critérios de avaliação de diagnóstico: Critérios DSM IV de Diagnóstico Depressão maior 1. Humor deprimido indicado por relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex., chora muito). 2. Interesse ou prazer diminuídos todas as atividades. 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite. 4. Insônia ou hipersonia. 5. Agitação ou retardo psicomotor. 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias 7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante) 8. Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão. 9. Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. Manual Estatístico e Diagnóstico de desordens mentais da Associação Norte- americana de Psiquiatria (DSM-IV)
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