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www.dizerodireito.com.br P ág in a1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 722 – STF Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: ADI 4822/PE; RE 573232/SC; HC 117871/MG; HC 117832/MG; RHC 97926/GO. Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: RE 607607 ED/RS. ÍNDICE Direito Penal No crime de concussão, o juiz não pode aumentar a pena-base sob o argumento de que o réu tinha por objetivo o lucro fácil. Direito Processual Penal Incompetência do STF para julgar HC impetrado contra delegado chefe da Interpol no Brasil. DIREITO PENAL No crime de concussão, o juiz não pode aumentar a pena-base sob o argumento de que o réu tinha por objetivo o lucro fácil. Na dosimetria de uma concussão (art. 316 do CP), o juiz: pode aumentar a pena-base pelo fato de o réu ser policial não pode aumentar a pena-base sob o argumento de que o réu tinha por objetivo o lucro fácil. O lucro fácil é sempre existente na concussão e consiste na própria “vantagem indevida”, que é uma das elementares do tipo. Comentários Imagine a seguinte situação adaptada: João, policial, foi acusado de concussão, delito previsto no art. 316 do CP: Art. 316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Sentença O juiz julgou procedente a ação penal e condenou o réu. A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico: P ág in a1 INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP. 2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes. 3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição. Na primeira fase, as chamadas circunstâncias judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes: a) culpabilidade, b) antecedentes, c) conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos do crime, f) circunstâncias do crime, g) consequências do crime, h) comportamento da vítima. Durante a dosimetria, na primeira fase de aplicação da pena, o juiz afirmou que a culpabilidade e os motivos do crime deveriam ser consideradas desfavoráveis. A culpabilidade seria acentuada, tendo em vista que o réu era policial. Os motivos do crime eram desfavoráveis porque, segundo o juiz, seria “inaceitável locupletar-se às custas do alheio, arrancar dinheiro do cidadão espuriamente, objetivando o ganho fácil”. A defesa alegou que a dosimetria foi incorreta, considerando que: Quanto à culpabilidade, teria havido bis in idem, já que o fato de o réu ser policial foi utilizado pelo juiz tanto para caracterizar o crime de concussão (elementar do tipo) como para agravar a pena-base. Quanto aos motivos, a defesa afirmou que a fundamentação utilizada pelo juiz já constituiria o próprio tipo penal. Indaga-se: a dosimetria feita pelo juiz na fase das circunstâncias judiciais foi correta? Quanto à culpabilidade: SIM, não havendo nenhuma mácula. O fato de o juiz aumentar a pena em razão de o réu ser policial não caracteriza bis in idem. A condição de servidor público é elementar do tipo de concussão. No entanto, o fato de o réu ser policial pode ser considerado negativamente no juízo de culpabilidade. Em outras palavras, para cometer o crime, basta ser funcionário público, mas o grau de reprovabilidade do réu é maior, tendo em vista que se trata de policial, agente público responsável pelo combate à criminalidade. Assim, não é possível nivelar a concussão de um funcionário público comum com a de um policial, de um parlamentar, de um juiz etc. Logo, não houve bis in idem. Quanto aos motivos: NÃO. Há vício de fundamentação quanto aos motivos do crime. O lucro fácil, argumento utilizado pelo magistrado para aumentar a pena, é sempre existente na concussão e consiste na própria “vantagem indevida”, que é uma das elementares do tipo. Processo STF. 2ª Turma. RHC 117488 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 1º/10/2013. O art. 25 da Lei de Contravenções Penais não foi recepcionado pela CF/88 O art. 25 da Lei de Contravenções Penais não foi recepcionado pela CF/88 por violar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da isonomia. Comentários A chamada Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei n. 3.688/41) prevê em seu art. 25: Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove destinação legítima: INFORMATIVO esquematizado P ág in a3 Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, e multa de duzentos mil réis a dois contos de réis. Essa contravenção penal ainda é válida? NÃO. O Plenário do STF decidiu que o art. 25 da Lei de Contravenções Penais não foi recepcionado pela CF/88 por violar os princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88) e da isonomia (art. 5º, caput e I). Outros argumentos: A LCP foi concebida durante o regime ditatorial e, por isso, trata-se de um tipo contravencional anacrônico (retrógrado). A condição especial exigida pelo tipo de o agente “ser conhecido como vadio ou mendigo”, criminaliza, em verdade, qualidade pessoal e econômica do agente, e não fatos objetivos que causem relevante lesão a bens jurídicos importantes ao meio social. Assim, o art. 25 da LCP seria um resquício de “direito penal do autor”, o que não é admitido no sistema penal brasileiro, que adota o “direito penal do fato”. O tipo em questão viola também os princípios da ofensividade, da proporcionalidade e da presunção de inocência. Processo STF. Plenário. RE 583523/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/10/2013; RE 755565/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/10/2013. DIREITO PROCESSUAL PENAL Incompetência do STF para julgar HC impetrado contra delegado chefe da Interpol no Brasil O STF decidiu que não tem competência para julgar habeas corpus cuja autoridade apontada como coatora seja delegado federal chefe da Interpol no Brasil. Comentários Imagine a seguinte situação: “W” é equatoriano e naturalizou-se brasileiro, aqui residindo. “W” tomou conhecimento de que existe um processo criminal e um mandado de prisão contra ele, nos EUA, pelo suposto cometimento de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Diante disso, “W” contratou um advogado, que impetrou um habeas corpus em seu favor no STF, apontando como autoridade coatora o delegado federal chefe da Interpol no Brasil. O que decidiu a Corte? O STF decidiu que não tem competência para julgar habeas corpus cuja autoridade apontada como coatora seja delegado federal chefe da Interpol no Brasil. Em razão dessa circunstância, remeteu os autos à justiça federal de 1ª instância. Além disso, o STF afirmou que não haveria sequer pedido de extradição formalizado pelo governo dos EUA e que a autoridade apontada como coatora não seria responsável pelo aludido mandado prisional. Vale ressaltar, ainda, que os crimes pelos quais “W” estaria, supostamente, sendo processado não teriam o condão de tornar extraditável sequer o brasileiro naturalizado, pois não se cuidaria de tráfico de entorpecentes ou de delitos perpetrados antes da naturalização. Assim, não existiria a possibilidade, mesmo que remota, de ofensa ao estado de liberdade do paciente. Processo STF. Plenário. HC 119056 QO/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgadoem 3/10/2013. INFORMATIVO esquematizado P ág in a4 JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS Magistratura e auxílio-alimentação O Plenário iniciou julgamento de ação direta de inconstitucionalidade proposta contra a Resolução 133/2011 do Conselho Nacional de Justiça - CNJ e a Resolução 311/2011 do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco. O primeiro ato impugnado, ao disciplinar a equiparação de vantagens entre a magistratura e o Ministério Público, considerou devido o pagamento de auxílio-alimentação aos magistrados. A norma do tribunal local, por sua vez, autorizou o pagamento da mencionada verba aos juízes daquela unidade da federação. O Ministro Marco Aurélio, relator, conheceu do pedido, em parte, e, na parte conhecida, julgou- o procedente para declarar a inconstitucionalidade formal das normas questionadas. Salientou, de início, que, embora o autor tivesse requerido a declaração de inconstitucionalidade de toda a resolução editada pelo CNJ, as justificativas se circunscreveram apenas à inconstitucionalidade do auxílio-alimentação, a caracterizar irresignação genérica quanto às demais vantagens constantes na norma. Isso acarretaria a inadmissibilidade da ação em relação aos pontos não atacados motivadamente. Atestou a adequação da via eleita, por entender tratar-se de ato normativo secundário dotado de generalidade de lei. Asseverou, também, não vislumbrar a necessidade de reserva de lei complementar para dispor sobre a matéria. Ponderou que a fundamentação adotada pelo CNJ para instituir o auxílio-alimentação para os magistrados qual seja, a necessidade de equiparação, por simetria, dos critérios remuneratórios adotados pelos membros do Ministério Público, que percebem a referida verba seria destituída de embasamento constitucional. Apontou que no art. 93 da Constituição de 1988 inexistiria a técnica de especificidade temática, como ocorreria na Constituição de 1969, com a redação dada pela EC 7/77 (art. 112, parágrafo único). Destacou que a redação original do inciso V do art. 93 da Constituição de 1988, ao cuidar de limites e escalonamento para a fixação dos “vencimentos” dos magistrados, não exigia lei complementar para disciplinar assunto relativo a pagamentos em favor dos integrantes da carreira. O Ministro Marco Aurélio assinalou, ainda, que essa situação não fora modificada com a EC 19/98, que definiu a figura do “subsídio” como forma exclusiva de remuneração dos magistrados, a impor novos parâmetros e escalas. Mencionou que a verba questionada possuiria caráter indenizatório, haja vista consistir em valor a ser pago aos magistrados para recompor o patrimônio individual em virtude de gastos realizados com alimentação ocorridos no âmbito do exercício da função judicial. Assim, o auxílio- alimentação não se enquadraria no conceito de verba remuneratória, gênero do qual seriam espécies os “vencimentos” e os “subsídios”. Ressaltou que caberia ao legislador ordinário federal instituí-lo quanto aos juízes federais, do trabalho e militares, e ao legislador de cada Estado-membro, no que concerne aos juízes estaduais. Consignou, ademais, que a simetria disposta no § 4º do art. 129 da CF (“§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93”) significaria que ao parquet aplicar-se-iam as garantias institucionais da magistratura, e não o inverso. Assentou o não cabimento da paridade remuneratória obrigatória e da concessão linear e automática, à magistratura, de verbas indenizatórias concedidas ao Ministério Público, a exemplo do auxílio-alimentação. Externou seu posicionamento no sentido de que o CNJ teria extrapolado suas funções ao editar o ato normativo, tendo em conta o princípio da reserva legal. Reputou, além disso, que a Resolução 311/2011 do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco conteria idêntico vício de inconstitucionalidade. Em divergência, o Ministro Teori Zavascki julgou o pleito improcedente. Reconheceu a Resolução 133/2011 do CNJ como ato normativo primário, de âmbito de competência constitucional do CNJ. Registrou que, ao estender o auxílio-alimentação à magistratura, o CNJ teria exercido atividade eminentemente administrativa. Ressaltou que o STF teria declarado a compatibilidade do art. 65 da Loman com a Constituição de 1988, a encerrar rol taxativo de vantagens, sem importar se de natureza indenizatória ou não. Salientou que, entretanto, o tema exigiria reflexão em face da alteração trazida pela EC 19/98 no regime remuneratório da magistratura. Considerou que, a partir da mencionada emenda, fora instituída INFORMATIVO esquematizado P ág in a5 remuneração por subsídio fixado em parcela única, e que o art. 65 da Loman seria com ela incompatível. Pontuou que, não mais subsistente esse dispositivo, porque contrário à nova ordem constitucional, seria possível ao CNJ editar resoluções, como fizera anteriormente, sobre teto remuneratório e subsídios da magistratura. Entendeu que a paridade de regimes entre magistratura e Ministério Público poderia ser deduzida diretamente da Constituição e, por isso, não haveria vício nas resoluções impugnadas. No que se refere ao reconhecimento do direito ao auxílio-alimentação, afirmou que as normas questionadas não teriam natureza constitutiva, mas declarativa. Destacou o caráter indenizatório dessa verba, a qual seria reconhecida à universalidade dos trabalhadores e atribuída a todos os servidores. Assim, em face do devido tratamento simétrico, concluiu que o auxílio-alimentação deveria ser estendido aos integrantes da magistratura. Após o voto do Ministro Teori Zavascki, o julgamento foi suspenso. ADI 4822/PE, rel. Min. Marco Aurélio, 2.10.2013. ED: repercussão geral e art. 543-B do CPC O Plenário do STF, em deliberação presencial, pode não conhecer de recurso extraordinário ao fundamento de tratar-se de matéria de índole infraconstitucional, ainda que tenha reconhecido, anteriormente, a existência de repercussão geral por meio do Plenário Virtual. Com base nesse entendimento, a Corte acolheu, em parte, embargos declaratórios opostos de acórdão no qual assentado que o Tema 347 da Repercussão Geral — relativo ao percentual de reajuste do vale-refeição dos servidores do Estado do Rio Grande do Sul — demandaria interpretação de legislação infraconstitucional e de direito local. O Tribunal aduziu que o reconhecimento da repercussão geral não impediria o reexame dos requisitos de admissibilidade do recurso quando de seu julgamento definitivo. Consignou, ainda, a eficácia do pronunciamento do Supremo acerca da conclusão de não se tratar de matéria constitucional, de modo a impedir a subida dos processos sobrestados na origem. Por fim, determinou a aplicação do art. 543-B do CPC ao tema veiculado no recurso. RE 607607 ED/RS, rel. Min. Luiz Fux, 2.10.2013.
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