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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA1 Lenin Cavalcanti Brito Guerra, Dr. guerra04@gmail.com Resumo: O presente artigo se propõe a desenvolver um levantamento teórico a respeito da estratégia empresarial, explorando os conceitos básicos a respeito do tema, a partir de um diálogo epistemológico entre os principais autores da temática. O planejamento estratégico é um documento formal que sintetiza o processo de gestão estratégica e é composto pela análise do ambiente, onde será mapeado o impacto das variáveis externas à organização para mapear riscos e as oportunidades presentes e futuras; o estabelecimento das diretrizes organizacional, etapa onde se mapeará uma identidade para a organização, a fim de que as estratégias estejam alinhadas com as características institucionais; a formulação da estratégia propriamente dita, etapa onde serão determinadas as ações que irão propiciar a consecução dos objetivos determinados; a implementação da estratégia e seu acompanhamento são etapas fundamentais, visto que um processo de planejamento deve ser flexível em suas metas e estratégias. Uma das formas de facilitar o processo de planejamento e implementação de estratégias é adotar ferramentas que permitam o controle estratégico, como é o caso do Balanced Scorecard (BSC), desenvolvida no início dos anos 90, nos Estados Unidos, e que relaciona as estratégias organizacionais a ações relacionadas às finanças, aos clientes, aos processos internos e aos funcionários, no que diz respeito ao aprendizado e crescimento. Palavras-chave: Levantamento Teórico; Planejamento Estratégico; Balanced Scorecard. 1 Recorte feito da obra: GUERRA, Lenin Cavalcanti B. ; PIRES, L. D. ; DANTAS, M. L. R. . Gestão Estratégica para Farmacêuticos. São Paulo: Contento, 2015. 1. INTRODUÇÃO Na atualidade, com o incremento das tecnologias de informação e da globalização, chegou-se a um nível extremo de competitividade. Este cenário maximiza a inter-relação das variáveis envolvidas no processo de gestão organizacional, exigindo novos procedimentos e ações por parte dos seus administradores, e determinando diretamente acerca da sobrevivência ou expansão das organizações frente ao mercado e seus concorrentes. Busca-se, então, não apenas a máxima produtividade puramente quantitativa, mas diferenciais qualitativos como inovação e satisfação, a fim de atingir a eficiência e eficácia como a vantagem estratégica sobre a concorrência. Para isso, as organizações descobriram que para se tornarem competitivas e melhorarem os seus índices de qualidade dos serviços e produtos, se faz necessário planejar as ações e implementá-las de forma estratégica. O termo “estratégia” tem suas origens na Grécia Antiga e significava “a arte do general”, ou seja, as habilidades que o comandante do exército possuía de organizar e executar as campanhas militares. Os dicionários costumeiramente conceituam a estratégia como a arte de conduzir exércitos de forma a atingir seus objetivos ou vencer ou derrotar seus oponentes. No âmbito organizacional apesar de não se lidar com exércitos, tropas e inimigos, muitos dos elementos originalmente presentes no ideal da estratégia ainda permanecem. Quando se fala em estratégia tem-se a idéia de estabelecer posições comerciais, a fim de propor melhorias dentro de uma organização, promovendo desempenho e desenvolvimento, à luz das demandas mercadológicas. Entende-se, desta forma, que as estratégias são formas de planejar projetos que venham a alcançar os objetivos globais de uma organização. Entretanto, Oliveira (2013) afirma que é fundamental que as organizações desenvolvam esse processo estratégico de forma sistemática, possibilitando o desenvolvimento de diagnósticos, análises e projeções que favoreçam o processo de tomada de decisões dos gestores. A esse processo sistemático e metodológico de leitura do ambiente e delimitação de estratégias, dá-se o nome de Planejamento Estratégico. Certo e Peter (2005) apontam algumas características de um planejamento estratégico eficiente: deve corresponder ao ambiente externo; envolver uma vantagem competitiva sustentável; ser consistentes com outras estratégias da organização; fornecer flexibilidade adequada para a empresa e para a organização; conciliar-se com a missão e com os objetivos de longo prazo da organização; ser organizacionalmente factíveis. O presente artigo pretende apresentar os conceitos que compõe o construto Planejamento Estratégico, seus elementos constitutivos e etapas, destacando como uma ferramenta na criação de vantagens competitivas sustentáveis. 2 ESTRATÉGIA: ASPECTOS GERAIS Serra, Torres e Torres (2014, p. 5) afirmam que “a estratégia pode ser definida como a determinação das metas e dos objetivos básicos no longo prazo de uma empresa, bem como a adoção de cursos de ação e alocação dos recursos necessários à consecução dessas metas”. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010, p. 17-20) define os elementos básicos da estratégia, representados pelos cinco P`s: a) “Estratégia é um plano (plan), ou algo equivalente – uma direção, um guia ou curso de ação para o futuro, um caminho para ir daqui até ali”, ou seja, relaciona-se como olhar para frente, com a estratégia pretendida para o alcance de um determinado objetivo; b) “Estratégia é um padrão (pattern), isto é, consistência em comportamento ao longo do tempo” – assim, a estratégia está mais relacionada com o passado, ou seja, com o histórico da organização, que pode fazer dela mais agressiva ou mais defensiva; c) “Para alguns gerentes estratégia é posição (position), isto é, localização de determinados produtos em determinados mercados”, o que é bastante comum quando percebemos uma determinada empresa que trabalha no segmento de produtos de alto luxo e não abaixa o preço dos seus produtos para não correr o risco de confundir seu consumidor; d) “Para outros estratégia é uma perspectiva (perspective) , isto é, a maneira fundamental de uma organização fazer as coisas”, que se relaciona mais fortemente com o conceito da visão organizacional do que com a estratégia de um produto apenas – o autor compara a posição como sendo mais externa, ou seja, no ponto onde o produto encontra o cliente, enquanto que na perspectiva, busca-se algo mais interno, num olhar voltado as cabeças dos estrategistas, mas voltado à realização da visão da instituição como um todo; e) “Uma quinta definição diferente de estratégia, também está em uso: estratégia é um truque (ploy), isto é, uma ‘manobra’ específica para enganar um oponente ou concorrente”. O autor se refere a esse ponto exemplificando que uma organização pode comprar uma grande quantidade de terras para desencorajar um concorrente a abrir uma nova fábrica, ou seja, a verdadeira estratégia é a ameaça. Para Porter (2008, p. 52), “o lema da estratégia competitiva é ser diferente. Significa escolher, de forma deliberada, um conjunto diferente de atividades para proporcionar um mix único de valores. (...) A essência da estratégia está nas atividades – a opção de desempenhar as atividades de forma diferente ou de desempenhar atividades diferentes em comparação com os rivais”. Um dos marcos para o estudo acadêmico da Gestão Estratégica foi a pesquisa patrocinada pela Fundação Ford e a Carniege Corporation, nos anos 50, sobre o currículo dos cursos oferecidos nas escolas de negócios. A conclusão desta pesquisa gerou o Relatório Gordon-Howell que recomendou que o ensino de negóciospossuísse uma área chamada de política de negócios, de forma que o estudo fosse enfocado não apenas em áreas específicas, como marketing, produção ou finanças, mas que o estudante fosse desafiado com problemas reais do universo corporativo. Dessa forma, o estudante desenvolveria a capacidade de analisar cenários complexos, aprimorando seu senso de julgamento. Esta ênfase mais recente e mais ampla induziu os líderes da área a mudarem o nome do curso para administração (gestão) estratégica. Ainda no tocante aos conceitos básicos, é bastante comum a confusão a respeito do que, efetivamente, é a estratégia. Para Porter (2004, p. 46), não se pode confundir estratégia empresarial com: a) “eficácia operacional (EO): significa o desempenho de atividades melhor do que os rivais; a estratégia abrange a eficiência, mas não se limita apenas a esse aspecto. A eficácia operacional diz respeito a quaisquer práticas pelas quais a empresa utiliza melhor os insumos, como, por exemplo, a redução dos defeitos nos produtos ou o desenvolvimento de melhores produtos com maior rapidez”. Compreende-se que a eficácia operacional, ou seja, atingir os resultados esperados, é consequência da aplicação de estratégias, mas não a mesma coisa; b) “ferramentas de gerenciamento”: para Daft (2014) a estratégia empresarial está ligada a um conjunto de atividades que possam para proporcionar um plano de ações único e coeso – ou seja, uma organização pode adotar uma ferramenta de gerenciamento com o Balanced Scorecard (que será discutido mais adiante), um programa de Qualidade Total, 5S, dentre outros, como forma de auxiliar ou complementar a consecução da estratégia, mas a estratégia empresarial é algo mais amplo e irá requerer a participação de mais setores e pessoas envolvidas que a adoção de uma ferramenta de gerenciamento. Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), o conceito de estratégia está relacionado à construção de cenários e a construção de planos de ação que garantam um posicionamento da organização em relação a este cenário. Assim, estratégias deliberadas são aquelas planejadas pela organização para serem implantadas em um determinado contexto. Entretanto, nem sempre é possível adotar estratégias planejadas previamente, visto que o ambiente onde as organizações atuam é mutante. Assim, a estratégia deliberada adotada por uma organização pode estar baseada em um planejamento que pode não fazer mais sentido em decorrência de uma grave crise econômica mundial, por exemplo. Na estratégia emergente, o ambiente possui importância máxima já que o próprio desenvolvimento da organização é produto de sua relação com o meio e das constantes mudanças trazidas por ele. Ainda Segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) as organizações não devem trabalhar apenas com estratégias deliberadas, pois pode haver demasiado apego ao cenário construído previamente, nem apenas com estratégias emergentes, situação na qual a organização será apenas reativa às condições ambientais, podendo causar a impressão que está perdida. As estratégias, assim, são um filtro entre o planejamento formal e as possibilidades de atuação no curto prazo. 2.1 O planejamento estratégico Apesar de compreender com clareza a importância do Planejamento Estratégico, etapa fundamental no processo da Gestão Estratégica, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) apresentam alguns elementos sobre os gestor deve lançar um olhar crítico quando da confecção de um plano estratégico. Primeiramente, referem-se à falácia da predeterminação: mesmo utilizando modernas técnicas de construção e análise de cenários, a previsão de elementos futuros tende a ser muito imprecisa, mais ainda considerando a dinâmica do mercado atual. Não que os autores estejam recomendando o abandono do planejamento; para eles o planejamento deve deixar a organização “estar preparada para de modo geral reagir rapidamente uma vez ocorra certa descontinuidade”. Como segundo elemento crítico, se menciona a falácia do desligamento: o planejamento estratégico geralmente é desenvolvido por gente “de cima” das organizações, para que os “de baixo” possam operacionalizar; “gerentes desligados, juntamente com planejadores abstraídos, não somente fazem más estratégias, mas, na maioria dos casos, não fazem estratégia nenhuma (MINTZBERG, AHLSTRAND E LAMPEL, 2010, p. 59). Assim, muitos gestores desligam-se dos detalhes na construção de um planejamento, quando, na verdade, deveriam mergulhar nestes, sendo capazes de extrair dos detalhes mensagens estratégicas. Uma terceira falácia está ligada à formalização: não existe uma fórmula clara sobre a criação de estratégias de sucesso; “a geração da estratégia, como a criatividade precisa funcionar além das caixas, para criar novas perspectivas, assim como novas combinações” (MINTZBERG, AHLSTRAND E LAMPEL, 2000, p. 64) A seguir, serão citadas as etapas do Planejamento Estratégico, segundo Oliveira (2013), as quais serão apresentadas no prosseguimento do artigo. São estas: a) Análise do Ambiente: está relacionada ao processo de monitorar o ambiente organizacional para mapear riscos e as oportunidades presentes e futuras; b) Estabelecimento da Diretriz Organizacional: determinar aonde a organização quer chegar em seu ramo de negócio. Dois indicadores principais são fundamentais para isso: a missão (é a finalidade de uma organização ou a razão pela qual ela existe) e os objetivos organizacionais; c) Formulação da Estratégia: a partir da leitura de mercado, a organização formula estratégias que possibilitem a consecução dos objetivos determinados; d) Implementação da Estratégia Organizacional: após a formulação, a estratégia organizacional precisa ser implementada, o que traz desafios para as empresas em questão, visto que as condições mercadológicas podem modificar-se rapidamente, tornando difícil a operacionalização da estratégia; e) Controle Estratégico: é o tipo especial de controle organizacional que se concentra na monitoração e avaliação do processo de administração (gestão) estratégica para melhorá-lo e assegurar um funcionamento adequado. 2.1.1 Análise do ambiente interno Para Certo e Peter (2005), o estabelecimento de uma diretriz organizacional é aquela etapa do processo de gestão estratégica que segue imediatamente a análise do ambiente. Dois elementos importantes que devem ser considerados pela administração para estabelecer e documentar a diretriz que uma organização deve seguir são a missão (estabelece a meta geral da empresa) e os objetivos organizacionais (que reduzem o enfoque para alvos mais específicos). Segundo Certo e Peter (2005), o processo de estabelecer as diretrizes organizacionais é composto por três etapas, quais sejam a) reflexão sobre os resultados de uma análise de ambiente: a análise das informações obtidas de todos os níveis do ambiente, deve estabelecer a relevância desses níveis ambientais e das várias questões estratégicas para a organização; b) desenvolvimento de uma missão organizacional adequada: uma missão organizacional adequada é aquela que reflita o ambiente organizacional e, através disso, aumente a probabilidade de sobrevivência da organização a longo prazo; c) desenvolvimento dos objetivos organizacionais apropriados: devem ser formulados objetivos que sejam consistentes com a missão e a visão organizacional adequada. No desenvolvimento dos objetivos os administradores usam sistematicamente um processo que evoluiu em três etapas: a primeira é a análise das tendências significativas do ambiente, a segunda é o desenvolvimentode objetivos para a organização como um todo e a terceira é a criação de uma hierarquia de objetivos. Uma quarta etapa que pode ser adicioanda é o desenvolvimento de objetivos individuais. A missão organizacional é a proposta para a qual, ou a razão pela qual, uma organização existe. É uma declaração muito ampla da diretriz organizacional. É normalmente resumida e documentada em uma declaração de missão. Estabelecer a missão organizacional é parte importante da tarefa da administração porque ela formalmente expressa facilita o sucesso da organização. Podem ser citados como alguns dos benefícios trazidos com a declaração da missão: a) ajuda a concentrar o esforço das pessoas para uma direção comum; b) ajuda a assegurar que a organização não persiga propósitos conflitantes; c) serve de base lógica geral para alocar recursos organizacionais; d) estabelece áreas amplas de responsabilidades por tarefa dentro da organização; e) atua como base para o desenvolvimento de objetivos organizacionais. A declaração da missão deve incluir informações como: negócio onde a organização atua; objetivos da companhia; filosofia da companhia, etc. A visão organizacional, segundo Serra, Torres e Torres (2014), pode ser conceituada como a percepção das necessidades do mercado e os métodos pelos quais uma organização pode satisfazê- las. Pode-se conceituar a visão, também, como a explicitação do que se visualiza para o futuro da empresa - é a projeção da situação ideal que a empresa gostaria de atingir. Assim, direciona todas as suas ações, a alocação de recursos e a criatividade. Todo planejamento organiza as ações em função de um futuro esperado ou pretendido e a Visão estabelece uma referência de futuro para as estratégias. Estabelecer a visão organizacional é muito importante já que esta resumirá o elemento norteador e motivador para a organização. A visão serve para estabelecer constantemente metas competitivas, sobretudo em relação à concorrência e ao mercado. A visão pode mudar de acordo com a eficiência da estratégia: se uma empresa tem como visão “ser a líder de seu mercado” e esta atinge o esperado, naturalmente sua visão deverá mudar para “manter a liderança” ou “ser a maior e melhor empresa do segmento”. Os objetivos organizacionais são apresentados como um detalhamento da visão. Estes podem ser de curto prazo (metas para se alcançar e um ou dois anos) e de longo prazo (metas para serem alcançadas nos próximos três a cinco anos). As organizações podem definir objetivos em relação a temas ou áreas específicas, como posição de mercado, inovação, produtividade, níveis de recursos; lucratividade, desempenho e desenvolvimento do administrador, desempenho e atitude do empregado, responsabilidade social/ambiental, etc. Independentemente do tema ou área específica, ou objetivos precisam: ser específicos, exigir um nível desejado de esforço, ser atingíveis, flexíveis, mensuráveis e consistentes a longo e curto prazo. Os objetivos fornecerão a base para todas as decisões em nível estratégico, tático e operacional, nas atividades de planejamento, organização, motivação e controle. Sem os objetivos e sua comunicação efetiva o comportamento nas organizações pode tomar qualquer direção, fazendo a organização perder tempo e recursos financeiros (CERTO E PETER, 2005). 2.1.2 Análise do ambiente externo Segundo Serra, Torres e Torres (2004), as organizações são sistemas abertos, que interagem com o ambiente, tanto influenciando o meio externo, quanto, principalmente, sendo influenciadas. A relação entre as competências e capacidades organizacionais e as exigências do mercado é bastante complexa, sendo fundamental que o administrador desenvolva uma adequada leitura do ambiente externo para, a partir, daí formatar uma alternativa estratégia adequada ao entorno da organização. Assim, a análise do ambiente externo diz respeito a como a organização mapeia e analisa as forças competitivas intervenientes em seu negócio, para a partir daí avaliar as ameaças e oportunidades, a fim de se maximizar ou diminuir sua força. 2.1.2.1 Análise do Macroambiente No processo de monitoramento do ambiente externo, o administrador deve perceber que determinados elementos não estão sob o controle das organizações, mesmo as maiores que investem em pesquisa e desenvolvimento ou possuem um poder de lobby junto a legisladores. Assim, o objetivo da Gestão Estratégica é criar condições para garantir eficácia as organizações diante de ameaças ou restrições ambientais, bem como aproveitar as oportunidades trazidas pelo ambiente. Compõe o macroambiente as forças: a) Político-legais: que incluem eleições, legislações, sentenças judiciais, decisões tomadas por órgãos e agências municipais, estaduais e federais; b) Econômicas: incluem aumento ou diminuiçao do PIB, taxas de juros, inflação, variações cambiais, etc; c) Tecnológica: inovações científicas, descobertas e popularização de ferramentas tecnológicas, novas tecnologias de gestão; d) Socioculturais: tradições, valores e tendências sociais, comportamento do consumidor e expectativas do público em relação ao mercado; e) demográfico: tamanho e distribuição geográfica de determinada população, composição étnica e religiosa, taxa de crescimento/envelhecimento, natalidade/mortalidade, nível de escolaridade, etc; f) ecológico: disponibilidade ou não de recursos naturais, índices de poluição, condições topográficas, fauna/flora, etc. (WRIGHT, KROLL, PARNELL, 2007; CHIAVENATO, SAPIRO, 2009) 2.1.2.2 Análise Setorial Para Porter (2008), um dos elementos mais relevantes em cada mercado, e que impactam na escolha da estratégica mais adequada para cada caso, está relacionado com a disputa entre os concorrentes de seu segmento de mercado, e como estes lidam com preços, publicidade, lançamento de novos produtos ou serviços, etc. Ainda para Porter (2008), a rivalidade é conseqüência da interação de vários fatores estruturais, como: número dos concorrentes crescimento do mercado, custos de inovação, altas barreiras à entradas e/ou saídas. Outro elemento que compõe a análise do ambiente setorial, diz respeito às ameaças de Entrada: as empresas que já atuam em um determinado segmento, buscam constantemente frear a chegada de novos concorrentes, visto que isto significa, na maioria dos casos, em aumento da concorrência e maior divisão do mercado. Os elementos que contribuem para elevar as barreiras à entrada são: a) Economias de Escala: as empresas que já atuam em um determinado segmento, forçam as empresas entrantes a ingressar no mercado em larga escala e arriscar-se a uma forte reação das empresas existentes, ou ingressar em pequena escala e sujeitar-se a uma desvantagem de custo; duas opções indesejáveis; b) Diferenciação do Produto: as empresas já estabelecidas têm sua marca identificada e desenvolvem, no decorrer do tempo, um sentimento de fidelidade em seus clientes, advindo de suas vantagens competitivas, ou, basicamente por terem chegado primeiro; c) Necessidades de Capital: para que qualquer empresa entre em um determinado segmento, são necessários investimentos em dinheiro, que dependendo de cada mercado podem ser maiores ou menores – a simples necessidade de capital pode afastar novos entrantes; d) Custos de Mudança: Para Porter (2008), no momento de entrar em um novo mercado, a empresa deve arcar, também com custos “com que se defronta quando muda de um fornecedor de produto para outro”, por exemplo, além da contratação de profissionais e etc.; e) Acesso aos Canais de Distribuição: ao analisara possibilidade de entrar em um determinado segmento, a empresa deve analisar como será a distribuição para o seu produto, sobretudo se os canais de distribuição menos custosos já estiverem sendo utilizados por empresas que já atuam no mercado, assim, a empresa novata precisa persuadir os canais a aceitarem seu produto por meio de descontos de preço, verbas para campanhas de publicidade em cooperação e coisas semelhantes, o que reduz os lucros. É importante destacar, também, que ao se desenvolver uma análise estratégica do mercado, não se deve focar apenas nos seus concorrentes diretos; é importante pesquisar outros produtos/serviços que possam desempenhar a mesma função, ou seja, oferecer ao cliente o mesmo benefício. Mas, seria possível pensar em estabelecer a estratégia de uma empresa ignorando os seus clientes, suas peculiaridades e preferências? Para Porter (2008), os compradores, ou clientes, /podem forçar os preços para baixo, barganhando por melhor qualidade ou mais serviços e jogando os concorrentes uns contra os outros. Assim, é fundamental identificar as características do consumidor de cada mercado, de forma a compreender as suas inclinações. Alguns elementos, como o tempo ou mudanças macroambientais sociais, econômicas ou políticas, podem alterar o perfil dos compradores, modificando, também, a forma como estes exercerão seu poder de barganha. Ainda para Porter (2008, p. 43), “os fornecedores podem exercer poder de negociação sobre os participantes de um segmento ameaçando elevar preços ou reduzir a qualidade dos bens e serviços fornecidos”. Não se pode ignorar que determinados mercados podem possuir um número pequeno de fornecedores, tornando o seu poder barganha junto aos compradores ainda maior. Figura 1: O modelo das Cinco Forças de Porter Fonte: Maximiano (2005) 2.3 Estratégias competitivas Após a análise dos elementos internos e externos às organizações, acima discutidos, chega o momento da escolha da estratégia a ser adotada. Na antiguidade, onde o conceito de estratégia estava bastante ligado à questão militar, após a identificação da força do seu exército, das limitações de recursos, do terreno da batalha e das potencialidades do inimigo, o comandante optava pela estratégia de batalha (intimidação do inimigo, ataque pelos flancos, ataques noturnos, etc.). Na Gestão Estratégica as organizações após analisarem suas potencialidades e debilidades, seus objetivos, os recursos disponíveis, bem como as condições mercadológicas, econômicas e ambientais, devem efetivamente escolher por um caminho para atingir seus objetivos – a estratégia, assim, seria sua linha de ação. Um dos modelos mais populares de categorização das estratégias foi o Modelo das Estratégias Genéricas, desenvolvido por Porter (2004), que enumera as estratégias que qualquer organização pode adotar: a) liderança no custo total; b) diferenciação; c) enfoque. Segundo o autor, “algumas vezes se pode seguir com sucesso mais de uma abordagem como seu alvo primário, embora isto seja raramente possível. A colocação em prática de qualquer uma destas estratégias exige, em geral, comprometimento total e disposições organizacionais de apoio que serão diluídos se existir mais um alvo primário”. (PORTER, 2004, p. 49) 2.3.1 O modelo das Estratégias Genéricas de Porter Para Porter (2004), a primeira das estratégias que uma organização pode adotar consiste em oferecer produtos/serviços a preços mais baixos que a concorrência – o que significa dizer que o cliente enxergará o preço baixo como a principal vantagem competitiva. Mas e como conseguir uma vantagem em relação ao custo? Torres, Torres e Serra (2014) afirmam existir dois modos de ser bem-sucedido na adoção dessa estratégia: ser eficiente nas operações, conseguindo, consequentemente, a redução dos custos, ou reinventando seus processos. Para Porter (2004, p. 50), a estratégia da liderança em custo “(...) exige a construção agressiva de instalações em escala eficiente, uma perseguição vigorosa de reduções de custo pela experiência, um controle rígido do custo e das despesas gerais, que não seja permitida a formação de custos marginais dos clientes, e a minimização do custo em áreas como P & D, assistência, força de vendas, publicidade, etc”. Entretanto, o autor argumenta que apesar de ser o elemento central dessa estratégia, o baixo custo dos produtos/serviços deve ser administrado de forma integrada a qualidade e assistência, além de estratégias operacionais que permitam a uma empresa possuir, por exemplo, uma vasta linha de produtos relacionados, a fim de diminuir custos de produção. O sucesso desta estratégia depende de investimento pesado de capital em equipamento atualizado, fixação de preço agressiva e prejuízos iniciais para consolidar a parcela de mercado. O modelo da liderança em custos, entretanto, pode gerar incapacidade de ver a mudança necessária no produto ou em seu marketing pela atenção colocada no custo; inflação em custos dificultando a capacidade da empresa em manter o diferencial de preço para compensar a imagem da marca em relação ao preço ou outras formas de diferenciação dos concorrentes; o baixo custo pode não fidelizar os clientes, além de deixar a empresa muito dependente das questões econômicas macroambientais. Para Porter (2004), a segunda alternativa estratégica genérica é diferenciar o produto ou o serviço oferecido pela empresa, criando algo que seja considerado único no mercado, ou incrementar peculiaridades, trabalhando a imagem da marca, a tecnologia, serviços sobre encomenda, rede de fornecedores, ou outras dimensões. Tal estratégia não relega a importância dos custos, mas estes não são o alvo estratégico primário. Ao adotar qualquer estratégia, o administrador deve estar consciente de estar perante um trade-off e, em geral, requer sentimento de exclusividade que é incompatível com a alta parcela de mercado. A diferenciação, se alcançada, é uma estratégia viável para obter retornos acima da média em uma indústria porque ela cria uma posição defensável para enfrentar as cinco forças competitivas, embora de um modo diferente do que a liderança de custo. Proporciona isolamento contra a rivalidade competitiva devido à lealdade com relação à marca e a consequente menor sensibilidade ao preço; aumenta as margens, o que exclui a necessidade de uma posição de baixo custo. A diferenciação produz margens mais altas com as quais é possível lidar com o poder dos fornecedores e amenizar o poder dos compradores (faltam alternativas comparáveis, sendo assim, menos sensíveis aos preços). Finalmente, a empresa que se diferenciou para obter lealdade do consumidor deverá estar bem mais posicionada em relação aos substitutos que a concorrência. (PORTER, 2004) O diferencial de custos entre os concorrentes de baixo custo e a empresa diferenciada torna-se muito grande para a diferenciação manter a lealdade da marca; a necessidade dos compradores em relação ao fator de diferenciação pode diminuir com o tempo; a imitação reduz a diferenciação percebida, ocorrência comum quando o mercado torna-se mais maduro. A última estratégia genérica é focar um determinado grupo comprador, um segmento da linha de produtos, ou um mercado geográfico, também de diversas formas. A estratégia repousa na premissa de que a empresa é capaz de atender seu alvo estratégico estreito mais efetiva ou eficientemente do que os concorrentes que estão competindo de forma mais ampla. Mesmo que a estratégia de enfoque nãoatinja baixo custo ou diferenciação do ponto de vista do mercado como um todo, ela realmente atinge um ou ambas as posições em relação ao seu estreito alvo estratégico. A empresa que desenvolve com sucesso a estratégia de enfoque pode também obter potencialmente retornos acima da média para a sua indústria; o enfoque desenvolvido significa que a empresa tem uma posição de baixo custo como seu alvo estratégico, alta diferenciação, ou ambas. (PORTER, 2004) O diferencial de custos entre os concorrentes que atuam em todo o mercado e as empresas que adotaram enfoques particulares se amplia de tal modo que elimina as vantagens de custos de atender um alvo estreito ou anula a diferenciação alcançada pelo enfoque; as diferenças nos produtos ou serviços pretendidos entre o alvo estratégico e o mercado, como um todo, se reduzem; os concorrentes encontram submercados dentro do alvo estratégico e retiram o foco da empresa com estratégia de enfoque. Os riscos de seguir estratégias genéricas são fundamentalmente dois: falhar em alcançar ou sustentar a estratégia, e que o valor da vantagem estratégica proporcionada pela estratégia, seja desgastado com a evolução da indústria. 2.3.2 Implementação de estratégias Para Serra, Torres e Torres (2004), o processo de implantação e execução da estratégia empresarial deve ser focada para a ação e relaciona-se fortemente com as atividades de Gestão de Pessoas, e, consequentemente, em atividades como desenvolvimento de competências, construção de cultura e liderança. Várias tarefas são essenciais como a “construção” de uma organização capaz de atingir objetivos estratégicos, a disposição dos recursos, políticas e cultura harmonizadas com a estratégia, motivação do pessoal – o que pode envolver a remuneração variável, disponibilidade e funcionalidade dos sistemas de TI, a comunicação organizacional, além de ferramentas de gerenciamento, como as chamadas melhores práticas, o melhoramento contínuo, a normatização de processos, etc. Wright, Kroll e Parnell (2000, p. 301) enfatizam que “qualquer estratégia, por mais bem concebida que seja, está condenada ao fracasso se não for implementada com eficácia”. Bossidy (2002, p. 91) acrescenta que “Executar é uma questão crucial que envolve a articulação de três fatores: a estratégia, as pessoas e a operação em si, que por sua vez é a capacidade de conduzir o negócio no dia-a- dia”. Já para Ansoff (1990, p. 177) “não há nenhum mistério em formular uma estratégia, o problema é fazê-la funcionar”. No momento da implementação da estratégia, deve-se analisar três elementos: a) coordenação e integração das áreas ou departamentos, visto que a sustentabilidade da vantagem competitiva dependerá disto; b) comprometimento de indivíduos e grupos para realizá-la; todos os envolvidos necessitam se comprometer com o que for estabelecido para realizá-la; c) competência técnica e gerencial para equacionar e resolver problemas e coordenar a implementação das soluções; a primeira diz respeito ao inventário e disponibilidade do capital intelectual e dos recursos técnicos e financeiros que podem ser utilizados; a segunda, a sua articulação. Wright, Kroll e Parnell (2007, p. 301), acrescentam elementos determinantes no contexto da implantação da estratégia: liderança, poder e cultura organizacional. Quando o administrador atua como líder, acaba desenvolvendo alguns papeis, como o de alocador de recursos e o de monitor e disseminador de informações. O trabalho de liderança estratégica consiste em estabelecer a orientação da empresa, desenvolvendo e comunicando uma visão de futuro – e motivar e inspirar os membros de uma organização a se movimentarem nessa direção. Para os autores, no contexto da gestão estratégica, poder é a habilidade de influenciar o comportamento de outras pessoas. Assim, a implementação estratégica eficaz exige que o gestor consiga exercer influência, seja com base na autoridade formal, ou não. As técnicas de utilização de poder, segundo os autores, são as seguintes: a) perícia: habilidade de influenciar o comportamento dos outros porque esses indivíduos acreditam que seu administrador sabe mais do que eles sobre um problema, uma oportunidade ou uma questão; b) controle sobre informação: acesso e controle que exerce sobre a distribuição de informações importantes; c) permuta: um líder faz algo para outra pessoa e pode então esperar que essa pessoa tenha senso de obrigação para com ele; d) influência indireta: modificação da situação em que os indivíduos trabalham, com vistas a obter apoio ou restringir influências. Exemplo: mudanças no sistema formal de recompensas, privilegiando aquelas pessoas que apoiam e implementam estratégias corretamente; e) carisma: capacidade de influenciar os outros por meio de magnetismo pessoal, entusiasmo e convicções fortemente estabelecidas; e f) lidar com a incerteza: obter poder de influência pela capacidade de dar solução a contingências ambientais que afetam uma empresa em particular, denominada contingência crítica. Exemplificando: a contingência crítica é a eficiência/controle de custos. Os administradores que reduzem a estrutura de custos podem conquistar um poder considerável. Por fim, a cultura organizacional refere-se aos valores e padrões de crenças e comportamento que são aceitos e praticados pelos membros de uma determinada organização. Para Nascimento e Souza (2010), se os gestores não conseguem desenvolver eficientes canais de comunicação, as atitudes e comportamentos podem ser barreiras que podem impossibilitar a consecução da estratégia. Assim, a capacidade da organização em implementar a estratégia deve ser atingida por meio da utilização das competências essenciais e distintivas e da gestão de parcerias, bem como de sua cultura – aquelas mais voltadas à inovação e a mudança aumentam a possibilidade de efetividade na implantação da estratégia. No momento da implantação da estratégia, a organização deve formular estratégias funcionais que permitam a execução da estratégia. Para Certo e Peter (2005), as estratégias funcionais são delineadas por especialistas em cada área funcional. Coletivamente estas estratégias descrevem as tarefas que devem ser executadas para se implementar a estratégia da empresa. Os administradores de negócios e de área funcional devem coordenar suas atividades para garantir que todas as estratégias sejam consistentes. - Estratégia de Pesquisa e Desenvolvimento: Em muitos mercados, as organizações não podem crescer ou até mesmo sobreviver sem novos produtos. O P&D descobre novas idéias para produtos e desenvolve-as até que os produtos entrem em podução e sejam colocados no mercado. - Estratégia de Operações: Especialistas analisam a tomada de decisões acerca da capacidade necessária e a disposição da fábrica, processos de manufatura e produção e necessidades de estoque. Como aspectos importantes, destaca-se: o controle de custos e a melhoria da eficiência das operações da fábrica. - Estratégia Financeira: Especialistas são responsáveis pela previsão e planejamento financeiros, avaliação de propostas de investimentos, garantia de financiamento para os diversos investimentos e pelo controle de recursos financeiros. - Estratégia de Marketing: Especialistas em marketing se concentram na determinação dos mercados apropriados para as ofertas da empresa e do desenvolviemnto do mix de marketing efetivo. - Estratégias de Recursos Humanos: Em geral a função de RH é atrair, avaliar, motivar e manter o número e tipos de funcionários requeridospara conduzir o negócio efetivamente. 2.4 Sistemas de Gestão da Estratégia Para Certo e Peter (2005), controle estratégico significa monitorar, avaliar e melhorar os diversos tipos de atividades que ocorrem dentro de organizações, para fazer com que os eventos ocorrarm de forma planejada. Sua finalidade fundamental é ajudar os administratdores a alcançar os objetivos organizacionais através do controle da gestão estratégica. Se uma organização investe tempo e recursos financeiros para formatar análises mercadológicas e internas, cria e implementa uma estratégia, mas não é capaz de acompanhar e controlar o desenvolvimento desta, dificilmente os objetivos estratégicos previamente definidos serão atingidos. Certo e Peter (2005) apresentam três etapas para o processo de controle estratégico. Quadro 2: As etapas para o processo de controle estratégico ETAPA 1 é a medição do desempenho organizacional. Usa- se a auditoria estratégica para determinar o que realmente está ocorrendo dentro da organização; ETAPA 2 é a comparação do desempenho organizacional com os objetivos e padrões. Aqui a administração monta um caso para concluir se o que ocorreu como resultado do processo de gestão estratégica é aceitável; ETAPA 3 é a tomada de atitude corretiva, se necessário. Se os eventos estiverem ocorrendo em sintonia com os objetivos organizacionais estabelecidos dentro do processo de gestão estratégica, provavelmente não há necessidade de ação corretiva. Se estiverem fora, normalmente é necessário algum tipo de atitude corretiva. Fonte: Certo e Peter (2005) As informações que refletem medidas válidas e confiáveis das atividades organizacionais são um pré-requisito para o controle estratégico bem-sucedido. As empresas devem desenvolver seus sistemas de informações. A alta administração tem um papel importante na garantia do sucesso do controle estratégico. Os administradores do alto escalão devem projetar e implementar o processo de controle estratégico para que: o comportamento apropriado de controle seja encorajado através de incentivos organizacionais; a estrutura organizacional seja consistente com os objetivos de controle estratégico; e as informações necessárias para apoiar o controle estejam disponíveis. 2.4.1 O Balanced Scorecard É uma abordagem ou um sistema de Gestão Estratégica desenvolvido nos anos 90 por Norton e Kaplan. Os autores afirmaram que analisar a eficácia da estratégia apenas por indicadores financeiros poderia fornecer uma visão incompleta da realidade. Assim, o modelo BSC acrescenta à perspectiva financeira outras três: clientes, processos internos e aprendizado e crescimento e sua utilização pressupõe que os gestores estabeleçam objetivos de longo prazo para as dimensões, sempre em consonância que a missão e os objetivos estratégicos. A primeira perspectiva relaciona-se com o aspecto financeiro, em elementos como lucratividade, crescimento do negócio, incremento do valor para o acionista (shareholder value), ROI (return on investiment), redução de custos fixos ou variáveis, etc. Em que medida determinada decisão adotada pelos altos executivos significará ganho de receita ou diminuição de receita para a organização? A perspectiva “clientes” do modelo visa identificar em que medida as estratégias e ações organizacionais contribuirão para gerar maior valor para os produtos/serviços de uma organização segundo a ótica dos clientes. Norton e Kaplan (1997, p.67), explicam que [...] as empresas devem identificar os segmentos de clientes e mercado nos quais desejam competir. Esses segmentos representam as fontes que irão produzir o componente de receita dos objetivos financeiros da empresa. A perspectiva dos clientes permite que as organizações alinhem suas medidas essenciais de resultados relacionadas aos clientes - satisfação, fidelidade, retenção, captação e lucratividade – com segmentos específicos de clientes e mercado. Permitem também a clara identificação e avaliação das propostas de valor dirigidas a esses segmentos. Para Costa (2006), a perspectiva “processos internos” é norteada quase que automaticamente pelas metas financeiras e pelas necessidades dos clientes, vistos que é necessário definir os processos e as técnicas para possibilitar um suporte operacional para a execução das metas. É nessa perspectiva onde a organização deve determinar o que se precisa ser melhorado ou desenvolvido para responder às demandas identificadas na dimensão “clientes” – ou seja, os processos internos estão relacionados à operacionalização ou funcionamento do fluxo de atividades de uma determinada organização. Para Bispo, Correia e Medeiros (2009, p. 6), Na busca pela melhoria dos processos internos existentes, os autores sugerem que os executivos definam uma cadeia de valor completa para os mesmos, que tenha início com o processo de inovação – identificação das necessidades atuais e futuras dos clientes e desenvolvimento de novas soluções para essas necessidades – prossiga com os processos de operações – entrega dos produtos e prestação dos serviços aos clientes existentes e termine com o serviço pós-venda – oferta de serviços pós-venda que complementam o valor proporcionado aos clientes pelos produtos ou serviços de uma empresa. A quarta e última dimensão do BSC é chamada de Aprendizado e Crescimento e está mais diretamente com a Gestão de Recursos Humanos, a questões como: que ações devem ser feitas para elevar o nível do capital intelectual da organização? Para Norton e Kaplan (1997), são três as fontes que possibilitarão aprendizado e crescimento aos recursos humanos de uma organização: competência dos funcionários, liderança tecnológica e clima para a ação, visto que é a partir do desenvolvimento dos indivíduos que ocorre a inovação e o desenvolvimento organizacional, e é a partir de uma gestão de pessoas efetiva que se criará um ambiente motivador, fruto de um bom clima organizacional e da possibilidade de crescimento/desenvolvimento pessoal e profissional. Figura 2: O Balanced Scorecard Fonte: Costa (2006) Para implementar o BSC, Costa (2006) apresenta alguns passos necessários: a) primeiro passo: transformar a estratégia em objetivos estratégicos específicos, que sejam facilmente quantificáveis; b) segundo passo: estabelecer metas financeiras; c) terceiro passo: definir o segmento de mercado que será trabalhado; quarto passo: definir objetivos e ações a serem implementadas em relação aos seus processos internos; d) quarto passo: definir metas de aprendizado e crescimento, em relação a programas de treinamento e desenvolvimento dos funcionários, a fim de desenvolver o capital humano, base para o sucesso de qualquer estratégia; cabe destacar que neste estágio também estão a aquisição ou desenvolvimento de sistemas de informação gerencial. 3 CONCLUSÃO Como forma de obter diferenciação em um mercado hipercompetitivo, as organizações tem buscado incrementar os seus processos de planejamento, a fim de antever tendências e adotar posicionamentos privilegiado em relação ao mercado onde atuam. As organizações desenvolvem planejamentos que analisam um horizonte mais de longo prazo, tornado o processo mais complexo, sem, contudo, deixar de reagir a modificações conjunturais. O planejamento estratégico é um processo dinâmico em que se definem objetivos, políticas e estratégias (atuais e futuras) das funções empresariais e dosprocedimentos da organização. É construído através da análise do ambiente (interno e externo), das ameaças e oportunidades, dos seus pontos fortes e fracos, que possibilita aos executivos estabelecerem o rumo da organização, tentando alcançar um certo nível de otimização no relacionamento entre empresa, ambiente e mercado, através de decisões e ações organizacionais. Mesmo após a Análise do Ambiente, do estabelecimento das diretrizes Organizacionais e da formulação da estratégia, muitas organizações encontram dificuldades no momento da implantação do “Para ter sucesso financeiramente, como devemos aparecer para os acionistas?” Financeira Objetivos Medidas Metas Iniciativas “Para ter sucesso financeiramente, como devemos aparecer para os acionistas?” Financeira Objetivos Medidas Metas Iniciativas “Para satisfazer a nossos acionistas e clientes, que processos devemos aperfeiçoar?” Processos Internos Objetivos Medidas Metas Iniciativas “Para satisfazer a nossos acionistas e clientes, que processos devemos aperfeiçoar?” Processos Internos Objetivos Medidas Metas Iniciativas “Para cumprir nossa visão, como devemos aparecer para nossos clientes?” Cliente Objetivos Medidas Metas Iniciativas “Para cumprir nossa visão, como devemos aparecer para nossos clientes?” Cliente Objetivos Medidas Metas Iniciativas “Para cumprir nossa visão, como deveremos garantir nossa habilidade para mudar e melhorar?” Aprendizado e crescimento Objetivos Medidas Metas Iniciativas “Para cumprir nossa visão, como deveremos garantir nossa habilidade para mudar e melhorar?” Aprendizado e crescimento Objetivos Medidas Metas Iniciativas VISÃO E ESTRATÉGIA planejamento estratégico, tornando-o um documento sem aplicação. Para isso, ferramentas estratégicas como o Balanced Scorecard são bastante úteis aos gestores na atividade de traduzir metas estratégicas em objetivos que cada departamento e cada subunidade organizacional possam mensurar e atingir. É fundamental que as organizações tornem o planejamento estratégico um processo contínuo e do conhecimento de todos os funcionários, visto que os resultados buscados só serão atingidos através da convergências dos esforços de todos os indivíduos. REFERÊNCIAS ANSOFF, I. A Nova Estratégia Empresarial. São Paulo, Atlas, 1990. BISPO, A. C. K; CORREIA, S. E. N; MEDEIROS, A. D. Na senda da Gestão Estratégica de Recursos Humanos: visão dos gestores de pessoas à luz da perspectiva do aprendizado e do crescimento do BSC. In: Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 2009, Resende. Anais...Resende: SEGET, 2009. BOSSIDY, L. e CHARAN, R. Desafio: fazer acontecer. Rio de Janeiro: Campus, 2002. CERTO, S. C.; PETER, J. P. 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