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Revisão AV1
DIREITO PENAL
Conceito, Características e Funções.
 O Direito penal é o ramo do direito público que se encarrega de selecionar condutas atentatórias aos mais importantes bens jurídicos considerados essenciais para a vida em sociedade.
O Direito penal reune normas e disposições juridicas que regulam exercício do poder sancionador e preventivo do Estado, estabelecendo o conceito de delito como presuposto a ação estatal, assim como o responsável do sujeito ativo, e associando a infração de uma nova pena ou medida de segunça.
Características 
Público: Estado para com todos
Normativo: A lei em si
Valorativo: Proteger a tutela dos bens mais elevados. 
Escala valorativa: A vida
Finalista: Proteção dos bens juridicos
Drogmático: Voltado as aspirações da sociedade como dogma central
Fontes
 As fontes do direito subdividem-se em fontes materiais, substanciais ou de produção e em fontes formais, de conhecimento ou de cognição. As fontes materiais indicam o órgão encarregado da produção do direito penal. Em nosso ordenamento jurídico, somente a União possui competência legislativa para criar normas penais (CF, art. 22, I).
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
 As fontes formais, por sua vez, subdividem-se em imediatas e mediatas. A lei pode servir como fonte primária e imediata do direito penal. Fontes secundárias ou mediatas: são os costumes.
FONTES DO DIREITO PENAL
 MATERIAL FORMAL
 União Imediatista Mediata
			 (art. 22 da CF/88) 
 Lei Federal Costumes Principios
LICC - Decreto Lei nº 4.657 de 04 de Setembro de 1942
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Fontes Formais: O modo e a forma de como o Direito é exteriorizado.
Fontes Formais Imediatas: Diz respeito à lei penal, ou seja, a norma; ou seja, as leis penais que existem. Segundo o princípio de legalidade, descrito abaixo, não há crime sem definição da lei anterior, nem pena sem prévio aviso legal.
Fontes Formais Mediatas: De maneira geral, quando se trata de princípios gerais do direito e costumes. Quando a lei se omite, abre a possibilidade da aplicação desses princípios gerais do Direito, a jurisprudência, a doutrina e os costumes, que são fontes formais imediatas. A lei autoriza esses princípios.
Fontes Materiais: Quando pensamos em fonte da criação da norma, ou seja, provinda da União, estamos nos referindo à matéria. A exteriorização e produção do Direito são responsabilidade deste ente estatal.
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
Acham-se ancorados no princípio-síntese do Estado Constitucional e Democrático de Direito, que é o da dignidade humana. A força imperativa do princípio da dignidade humana (CF, art. 1.º, III) é incontestável. Nenhuma ordem jurídica pode contrariá-lo. A dignidade humana, sem sombra de dúvida, é a base ou o alicerce de todos os demais princípios constitucionais penais. Qualquer violação a outro princípio afeta igualmente o da dignidade da pessoa humana. O homem (o ser humano) não é coisa, não é só cidadão, é antes de tudo, pessoa (dotada de direitos, sobretudo perante o poder punitivo do Estado)”.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
O Estado Democrático de Direito é muito mais amplo, pois neste não existe somente a proclamação formal de direito entre os homens, mais também metas e deveres quanto à construção de uma sociedade livre, justa e solidária, buscando o bem comum, a cidadania e principalmente o respeito à dignidade humana. Do princípio da dignidade da pessoa humana, é que principalmente decorrem os demais princípios penais constitucionais.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
O princípio da legalidade se manifesta pela locução nullum crimen nulla poena sine previa lege, é base do ordenamento do nosso Direito Penal. É vislumbrado como um verdadeiro amparo às liberdades individuais. A lei penal deve ser clara, exata e precisa, deve poder-se interpretá-la desde um executivo em São Paulo à um morador dos ribeirinhos do Amazonas, não podendo ser influenciada por diferenças sociais ou culturais, só existindo crime se houver um fato lesivo a um bem jurídico.
Além do status lege, o princípio também tem força constitucional.
Nesse sentido, a Constituição da República consagrou-o no art. 5º, inciso XXXIX, que aduz "não haverá crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal" (princípio da legalidade e princípio da anterioridade).
Portanto, trata-se de real limitação ao poder estatal de interferir na esfera das liberdades individuais.
O princípio da legalidade também rege a medida de segurança, sob pena de comprometer, seriamente, direitos e garantias individuais constitucionalmente assegurados.
Ademais, algumas regras se destacam na análise dos critérios a que se sujeita a intervenção penal para que se respeito o princípio da legalidade em toda a sua extensão.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE  
Da norma penal é previsto no artigo 5º. Inciso XL, da Constituição Federal, contudo, com uma importante ressalva “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”.
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Esta disposição constitucional veda a alteração das normas penais em detrimento da situação jurídica preexistente. Ou seja, uma lei nova não poderá agravar a situação de uma agente em face de um ilícito já cometido. Contudo, inversamente,  poderá funcionar para beneficiá-lo. Desta forma, se alguma conduta típica  atual vier a ser descriminalizada  os condenados pela sua prática poderão ter suas condenações revertidas e deixar de cumprir as penas que ainda estejam sujeitos. 
PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE
Quer dizer que há, no ordenamento, dois ou mais delitos autônomos que descrevem o mesmo fato de modo que o operador de direito deverá interpretá-los e concluir que um delito será subsidiário (norma menos abrangente) enquanto que o outro será primário (norma mais abrangente). Por conseguinte, a norma primária absorverá a norma subsidiária.
A norma principal exclui a aplicação da subsidiária. Lex primaria derogat legi subsidiariae. Há subsidiariedade quando uma norma que define crime menos grave está abrangida pela norma que define crime mais grave, nas circunstâncias concretas em que o fato ocorreu. A relação de subsidiariedade se determina com critérios de valoração jurídica. Cumpre identificar na violação da norma principal uma ofensa que esgota o desvalor jurídico do fato.
PRINCIPIO DA INTERVEÇÃO MÍNIMA
Consiste em que o Estado de direito utilize a lei penal como seu último recurso (ultima ratio), havendo extrema necessidade, para as resoluções quando são afetados os bens jurídicos mais importantes em questão. É uma forma de disciplinar a conduta do indivíduo, no direito brasileiro, pois se pune a conduta e não o indivíduo.
PRINCÍPIOS PENAIS EM AÇÃO CONJUNTA
O princípioda intervenção mínima consiste que o Direito Penal só deve ser aplicado quando houver extrema necessidade, mantendo-se como instrumento subsidiário (ultima ratio) e fragmentário. (Capez, Fernando. Curso de Direito Penal, vol. 1, 2012)
Para Capez, a subsidiariedade como característica do princípio da intervenção mínima, norteia a intervenção em abstrato do Direito Penal. Para intervir, o Direito Penal deve aguardar a "ineficácia" dos demais ramos do direito, isto é, quando os demais ramos mostrarem-se incapazes de aplicar uma sanção à determinada conduta reprovável. É a sua atuação última ratio. 
Pela fragmentariedade, o Direito Penal, para intervir, exige relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. 
Percebe-se, destarte, que o princípio da insignificância é corolário da característica fragmentária do princípio da intervenção mínima. 
O princípio da intervenção mínima tem um papel fundamental em um Estado Democrático de Direito, pois evita que os autores dos denominados “crimes de bagatela” sejam enviados aos presídios tão somente porque sua conduta estava descrita em um tipo penal. 
A intervenção do Direito Penal só deve atuar quando as barreiras predispostas nos demais ramos do Direito forem ineficazes. A intervenção repressiva do Estado só deve atuar quando último recurso para a proteção do bem jurídico tutelado.
Se existir um recurso mais brando em condições de resolver o conflito, torna-se abusivo e desnecessário aplicar outro mais traumático.
Portanto, a observância do potencial lesivo da conduta para a aplicação da pena deve ser vista com respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.
PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE
O princípio da fragmentariedade, é uma das características do princípio da intervenção mínima, juntamente com a subsidiariedade. A fragmentariedade é uma consequência da adoção de três princípios:
Intervenção mínima;
Lesividade;
Adequação social
E não somente de um deles (o da intervenção mínima).
Com fulcro no exposto, a lesão decorrente da conduta imputada não afronta a ordem jurídica de maneira a permitir a aplicação da reprimenda penal, ainda mais quando não há prova da vontade livre e consciente de praticar a conduta penal, bem como o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado naturalístico.
Não se está aqui defendendo a abolitio criminis do crime em estudo, porém, existindo outros meios aptos a reparar a lesão provocada, tal como a aplicação de embargos, multas, apreensão de bens/animais, interdição da área e outras, o direito penal deve ser relegado a um segundo plano, isto em homenagem ao princípio da fragmentariedade do jus puniendi.
Logo, se por outros meios jurídicos foi possível recuperação ambiental da área degradada pela atividade humana ou a redução significativa de novas violações ambientais, temos como injustificável a emissão de juízo condenatório, especialmente em relação ao contexto fático apresentado nesse litígio.
Nesta senda são os julgados emanados da Suprema Corte Constitucional:
“Não há se subestimar a natureza subsidiária, fragmentária do Direito Penal, que só deve ser acionado quando os outros ramos do direito não sejam suficientes para a proteção dos bens jurídicos envolvidos” (STF, RHC 89624/RS, Relatora Ministra Cármen Lúcia, 1ª Turma, DJU. 7/12/2006).
PRINCIPIO DA LESIVIDADE
O Princípio da Lesividade (CF/88, art. 5°, XXXIX; Código Penal, art. 13,caput).
O princípio em análise ensina que somente a conduta que ingressar na esfera de interesses de outra pessoa deverá ser criminalizada. Não haverá punição enquanto os efeitos permanecerem na esfera de interesses da própria pessoa. 
Trazendo esse princípio para a prática, tem-se que o mesmo é o fundamento para a não punição das chamadas condutas desviadas, como a prostituição.
Aos olhos da modernidade pode soar absurdo, mas esta conduta foi criminalizada durante muito tempo em vários rincões da Europa medieval. 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940.
 Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
 § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
PRINCIPIO DA CULPABILIDADE 
Culpabilidade é um elemento integrante do conceito definidor de uma infração penal. A motivação e objetivos subjetivos do agente praticante da conduta ilegal. A culpabilidade aufere, a princípio, se o agente da conduta ilícita é penalmente culpável, isto é, se ele agiu com dolo (intenção), ou pelo menos com imprudência, negligência ou imperícia, nos casos em que a lei prever como puníveis tais modalidades.
Segundo o Direito Penal, um humano, ao praticar uma conduta ilícita, pode ter culpa latu sensu por suas ações, se a praticou com dolo, isto é, intenção consciente de praticar a conduta antijurídica para obter o resultado. Pode ainda haver culpa strictu sensu, quando o agente não objetivava o resultado ilegal produzido por sua conduta, mas, por agir com imprudência, imperícia ou negligência, tornou-se penalmente responsável por seus atos.
PRINCIPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (crime de bagatela)
Um dos princípios que vem ganhando força na doutrina e, sobretudo, na nossa jurisprudência é o princípio da insignificância ou também chamado princípio da bagatela.
Para este princípio, o Direito Penal não deve se preocupar com condutas incapazes de lesar o bem jurídico.
Este princípio, certamente, encontra-se fundamento jurídico no conceito de tipicidade, a qual, por certo, deve ser analisada sob dois aspectos: a tipicidade formal e a tipicidade material.
A tipicidade formal é a correspondência exata entre o fato e os elementos constantes de um tipo penal.
A tipicidade material é a real lesividade social da conduta. E é justamente, na tipicidade material, que se revela o verdadeiro sentido do princípio da insignificância.
Não basta que a conduta praticada tenha apenas correspondência nos elementos de um tipo penal. Faz-se necessário que a conduta seja capaz de lesar ou expor terceiros a risco, provocar lesões significantes ao bem jurídico tutelado.
O princípio da insignificância ou da bagatela encontra-se relação com o princípio da intervenção mínima do Direito Penal. Este, por sua vez, parte do pressuposto que a intervenção do Estado na esfera de direitos do cidadão deve ser sempre a mínima possível, para que a atuação estatal não se torne demasiadamente desproporcional e desnecessária, diante de uma conduta incapaz de gerar lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado.
Por certo, a análise posta em debate leva necessariamente a um questionamento que merece reflexão: como é que o aplicador do direito pode reconhecer se uma conduta é capaz ou não de gerar lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado?
A jurisprudência de nossos Tribunais Superiores tem fixado certos requisitos para que o aplicador do direito possa reconhecer a insignificância de determinada conduta. São eles:
a) mínima ofensividade da conduta;
b) a ausência de periculosidade social da ação;
c) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento
d) a inexpressividade da lesão jurídica (HC 92.463 e HC 92.961 no STF e Resp 1084540 no STJ).
Tal princípio é essencialmente aplicado no caso concreto, cuja análise exige evidentemente um certo grau de bom senso do magistrado.
É preciso analisar se o reconhecimento do princípio da insignificância deve ser feito unicamente pelo nível ínfimo da lesão sofrida, isto é, pelo desvalor do resultado. Ou se, juntamente com o nível da lesão, devem ser analisadas se as circunstâncias judiciais, como a culpabilidade do agente, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos do crime, consequências, circunstâncias, etc,são favoráveis.
Aqui, a meu ver, deve preponderar o bom senso do magistrado para que situações concretas não se tornem verdadeiras aberrações no mundo jurídico.
Ora, se uma pessoa subtrair um único palito de fósforo, ainda que ostente maus antecedentes e tenha personalidade voltada para o crime, deve ser beneficiada com o princípio da insignificância, pois a norma proibitiva do artigo 155 do Código Penal certamente não foi criada para uma subtração tão insignificante.
Todavia, se a subtração não for insignificante, ainda que as circunstâncias do artigo 59 do Código Penal sejam favoráveis, não há que se falar em princípio da insignificância.
É possível reconhecer, e isto tem se verificado na jurisprudência, que algumas variantes podem influenciar na análise do magistrado para a aplicação de tal princípio, como a situação em que se encontra a vítima e a lesividade a esta causada, bem como os antecedentes criminais do agente, os quais podem demonstrar que o modo de vida do sujeito é, por exemplo, viver “furtando.
DECRETO - LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940.
 Furto
        Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
        § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
        § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
        § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
        Furto qualificado
        § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
        I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
        II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
        III - com emprego de chave falsa;
        IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
        § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
Fixação da pena
        Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
PRINCIPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL
As mães perfuram as orelhas das suas filhas. Muitas pessoas fazem tatuagem. Essas condutas são formalmente típicas, ou seja, acham-se descritas na lei penal, em razão da ocorrência de uma lesão corporal. Apesar disso, não são consideradas um crime. Por quê?
Porque são socialmente aceitas e não atentam contra a Constituição Federal. Estamos falando do princípio da adequação social, que é instrumento de interpretação das leis em geral, o que significa que vai além do Direito penal. A partir de Hans Welzel o princípio da adequação social passou a ganhar muita força dentro do direito penal, mais especificamente dentro da teoria do delito (e da tipicidade). Desde então, condutas que são aceitas pela sociedade [e que não ofendam a CF], seja pelos costumes, folclore ou cultura, passaram a ser excluídas da esfera penal. Ainda que determinada conduta aparentemente seja típica (formalmente típica), estará no âmbito da atipicidade, uma vez que está amparada pela aceitação social, fora da seara do proibido.
NORMA PENAL DO MANDATO EM BRANCO
Não obstante, existem situações em que, seja pelo caráter da conduta que se quer regular, seja por questão de técnica legislativa, não se pode descrever exaustivamente todas a descrição da norma incriminadora.
Tal fato ocorre quando existem particularidades na conduta desvalorada que a classificam como de contínua mutação. Deste modo, não se pode empregar, simplesmente, uma norma legal (em sentido formal) para sua regulação que, pela sua própria origem, é naturalmente engessada.
É o caso por exemplo das normas penais que regulam os crimes contra a economia popular (Lei 1.521/51) que se submetem à contínua flutuação dos preços. É cediço que um tipo penal descritivo de um crime contra a economia popular pode rapidamente ficar ultrapassado, bastando, para isso, uma mera alteração na situação econômica do país. E, uma atualização legislativa, de tão delongada, certamente seria inócua.
Para corrigir estas distorções, criou-se o que se denomina de norma penal em branco, alcunha dada pela primeira vez por Karl Binding (blankettstrafgesetze), ao identificar normas que possuíam sanções previstas mas cuja incriminação dependiam da existência de outra norma.
De fato, nada mais é que um tipo penal incompleto, carente de aplicação por si só, que busca sua completude em outra norma. Nesta modalidade de normas, apenas se depreende o sentido exato da descrição da conduta ali contida quando conhecemos a norma complementar.
Sua importância, como se demonstrou, é a manutenção do preceito básico, que pode ser adaptado a novas realidades apenas com a modificação da norma complementar, geralmente sujeita a processo elaborativo mais simplificado.
As normas penais em branco podem ser classificadas, segundo a melhor doutrina, em normas penais em branco em sentido lato (impróprias ou homogêneas) e em sentido estrito (próprias ou heterogêneas).
As primeiras são aquelas cuja norma complementadora advém da mesma instância legislativa do tipo penal. Ou seja, como a definição dos crimes é de competência legislativa privativa da União (art. 22, I, da Constituição Federal) e vige em nosso sistema o princípio da reserva legal (art. 5°, XXXIX, CF), forçoso admitirmos que a norma penal em branco em sentido lato é aquela cuja norma complementadora é uma Lei Federal.
O exemplo mais citado na doutrina é o do art. 237, do Código Penal Pátrio, que tem a seguinte redação: "contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena – detenção, de três meses a um ano".
Percebe-se, portanto, que a subsunção deste tipo penal a uma conduta criminosa exige a precisa compreensão do que é considerado causa de nulidade absoluta do matrimônio, circunstância que somente pode ser respondida se visitarmos o art. 1.521, da Lei 10.406/02 (novel Código Civil) que descreve os impedimentos matrimoniais.
Por sua vez são consideradas normas penais em branco em sentido estrito (heterogêneas ou próprias) aquelas em que a norma complementadora é oriunda de uma outra fonte legiferante, seja o Poder Executivo (regulamentos, instruções, etc.), ou os Poderes Legislativo Estaduais, Municipais, etc.
O exemplo clássico é do art. 12, da Lei 6368/76, que incrimina a conduta de tráfico ilícito de entorpecentes. A definição do que é ou não substância entorpecente e estabelecida por Portaria da DIMED, vinculada ao Ministério da Saúde.
São tidas por próprias porque efetivamente atendem a finalidade das normas penais em branco, qual seja, a de adequar o tipo penal sem necessidade de um vagaroso processo legiferante.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina,nem pena sem prévia cominação legal;
INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO
A Muito se discutia a respeito da necessidade de interpretação quando a norma se apresentava com suficiente clareza em seu texto, sem obscuridades ou contradições. Nesses casos, entendia-se como desnecessária a interpretação, com base na expressão     “in claris non fit interpretativo”.
Atualmente, contudo, esse entendimento não prevalece. A doutrina moderna é pacífica no sentido de que a interpretação é indispensável mesmo quanto às normas claríssimas, que não apresentam qualquer obscuridade.
A orientação atual dispõe que qualquer norma penal, por mais clara que seja a sua letra, exige interpretação, que lhe explicite o verdadeiro significado.
Podemos subdividir a interpretação em objetiva e subjetiva:
ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO:
	OBJETIVA (voluntas legis)
Busca descobrir a vontade da lei.
	SUBJETIVA (voluntas legislatoris)
Procura alcançar a vontade do legislador.
	
Sujeito do qual emana
	
Autêntica
Realizada pelo próprio texto legal.
	
Contextual
A interpretação é realizada no mesmo momento em que é editado o diploma legal.
	
	
	
Posterior
É a interpretação realizada após a edição de um diploma legal.
	
	Doutrinária
Realizada pelos estudiosos de Direito.
	
	Judicial (vinculante ou não vinculante)
Realizada pelos aplicadores do Direito.
	
Meio utilizado
	Literal ou gramatical
Busca-se o real e efetivo significado das palavras. 
	
	Teleológica
Busca alcançar a finalidade da lei, aquilo ao qual ela se destina regular.
	
	Sistêmica ou sistemática
Faz a análise do dispositivo legal a partir do sistema no qual ele está inserido, e não de forma isolada.
	
	Histórica
O intérprete busca o motivo pelo qual a lei foi criada, voltando ao momento histórico em que passava a sociedade quando a lei foi criada.
	
Resultado obtido
	Declaratória
Não se amplia nem restringe o alcance da lei, mas apenas declara a sua vontade.
	
	
Extensiva
O intérprete alarga, amplia o alcance da lei, haja vista ter a lei dito menos do que efetivamente pretendia dizer (lex minus dixit quam voluit).
	
Interpretação Analógica*
	
	
	
Interpretação em sentido estrito
	
	Restritiva
O intérprete diminui, restringe o alcance da lei, uma vez que esta disse mais do que pretendia dizer (lex plus dixit quam voluit).
*INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA: É um recurso utilizado para ampliar o alcance da norma, já que o legislador não pode prever todas as situações que podem ocorrer em sociedade.
A norma possui uma fórmula casuística como norte, e uma fórmula genérica (que abrange aquilo que possa ser semelhante as situações reguladas pela fórmula casuística).
Ex. art. 121, § 2°, III do CP
 § 2° Se o homicídio é cometido:
        III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura (fórmula casuística) ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; (fórmula genérica)
INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO: É uma interpretação que busca aferir a validade das normas confrontando-as com a Constituição.
CONFLITO APARENTE DAS NORMAS
PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE
Quer dizer que a norma especial possui todos os elementos da norma geral e mais outros elementos. O professor Capez ilustra este princípio pedindo para imaginarmos duas caixas praticamente iguais sendo que uma delas teria como detalhe um laço [1]. Este detalhe tornaria esta caixa especial em detrimento da outra caixa que nada contém.
Trazendo este conceituação para o Direito Penal, podemos exemplificá-lo através da comparação entre os crimes de homicídio e infanticídio (artigos 121 e 123 do Código Penal). Nesta esteira, o crime de homicídio (norma geral) será considerado a caixa sem laço, enquanto que o crime de infanticídio (norma especial) será considerado a caixa com laços.
Por quê?
Porque, embora ambos os crimes tenham o mesmo resultado, qual seja: matar alguém. O crime de infanticídio revela outros elementos que o crime de homicídio não contém. Esses elementos são: 1) ser realizado pela mãe; 2) a genitora deve estar sob a influência do estado puerperal e; 3) o crime deve ser praticado durante o parto ou logo após.
Outro exemplo é a comparação dos crimes: subtração de incapazes (norma especial) e sequestro (norma geral). Ambos os delitos têm como finalidade privar alguém de sua liberdade. No entanto, a subtração de incapazes detém uma peculiaridade, qual seja: esse alguém deve ter a qualidade de incapaz. Portanto, conclui-se que o elemento a mais nesse tipo é a incapacidade civil da vítima.
Desse modo, para aplicar o princípio da especialidade, o operador do direito deverá comparar os tipos penais e encontrar os elementos gerais (contemplados em ambos os crimes) e os elementos especiais. Após, o hermeuta deve verificar se a conduta do agente se enquadra na norma específica. Nesse sentido, Francisco de Assis Toledo ensina que: "Se entre duas ou mais normas legais existe uma relação de especialidade, isto é, de gênero para espécie, a regra é a de que a norma especial afasta a incidência da norma geral " .
Importante se faz mencionar as palavras do doutrinador Fernando Capez acerca do assunto:
“o princípio da especialidade possui uma característica que o distingue dos demais: a prevalência da norma especial sobre a geral se estabelece in abstracto, pela comparação das definições abstratas contidas nas normas, enquanto que os outros exigem um confronto concreto das leis que descrevem o mesmo fato”. (CAPEZ, p. 90)
Por fim, vejamos um acórdão. acerca do assunto:
APELAÇÃO. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO E O MEIO AMBIENTE. PICHAÇÃO. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. ABSOLVIÇÃO.
Princípio da especialidade. Acaso subsistisse o juízo condenatório, incidiria, sobre a hipótese, o princípio da especialidade. Os fatos denunciados consistem em um único crime, uma vez que se trata de uma única conduta que causou apenas um resultado típico. Sobre este, incide a norma específica, que descreve exatamente a ação praticada, afastando-se a norma genérica, que conglobaria a conduta dentre outras possíveis – no caso concreto, trata-se de pichação em patrimônio público, incorrendo o agente nas sanções do art. 65, caput, da Lei nº 9.605/98, afastando-se o crime de dano qualificado (art. 163, III, do Código Penal).
PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE
Quer dizer que há, no ordenamento, dois ou mais delitos autônomos que descrevem o mesmo fato de modo que o operador de direito deverá interpretá-los e concluir que um delito será subsidiário (norma menos abrangente) enquanto que o outro será primário (norma mais abrangente). Por conseguinte, a norma primária absorverá a norma subsidiária. Nesse sentido, Fernando Capez sintetiza que:
“A norma que descreve o ‘todo’, isto é, o fato mais abrangente, é conhecido como primária e, por força do princípio da subsidiaridade, absorverá a menos ampla, que é norma subsidiária, justamente porque esta última cabe dentro dela. A norma primária não é especial, é mais ampla”.
Não obstante, o doutrinador exemplifica a conceituação supramencionada dizendo: "Um fato (subsidiário) está dentro do outro (primário). É como se tivéssemos duas caixas de tamanhos diferentes, uma (a subsidiária) cabendo na outra (primária)" .
Por fim, com maestria o referido autor distingue os princípios da especialidade e subsidiariedade:
“[...]na especialidade é como se tivéssemos duas caixas, cuja diferença seria algum detalhe existente em uma e não constante na outra, tal como um laço vermelho ou um papel de embrulho; na subsidiariedade há duas caixas idênticas, só que uma menor, cabe na outra” .
Vejamos o seguinte exemplo: Dois tipos penais, o artigo 15 da lei 10.826/2003 (disparo de arma de fogo) e o artigo 121 cumulado com o art. 14, II do Código Penal (tentativa de homicídio). Nesse sentido, pelo princípio da subsidiariedade, o crime de tentativa de homicídio praticado pelo uso da arma de fogo absorve o crime praticado pelo disparo da armade fogo, assim, a norma menos grave fica absorvida pela norma mais grave.
A par disso, Fragoso [7] ensina que:
"A norma principal exclui a aplicação da subsidiária. Lex primaria derogat legi subsidiariae. Há subsidiariedade quando uma norma que define crime menos grave está abrangida pela norma que define crime mais grave, nas circunstâncias concretas em que o fato ocorreu. A relação de subsidiariedade se determina com critérios de valoração jurídica. Cumpre identificar na violação da norma principal uma ofensa que esgota o desvalor jurídico do fato."
Vejamos outro exemplo do princípio da subsidiariedade exercido pelo STF ao julgar o HC 108138:
“A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a utilização de documento falso para ocultar a condição de foragido não descaracteriza o delito de uso de documento falso (art. 304 do CP) e não se confunde com o crime de falsa identidade (art. 307 do CP), uma vez que neste não há apresentação de qualquer documento falsificado ou alterado, mas apenas a atribuição, a si mesmo ou a outrem, de falsa identidade”.
Mais um exemplo, no qual retrata parte de um acórdão acerca do assunto:
De acordo com as lições de Damásio de Jesus, o conflito aparente de normas, no qual, em princípio, haveria duas normas incriminadoras descrevendo o mesmo fato, se resolve, no presente caso, com a aplicação do princípio da subsidiariedade, que pode ser expressa ou tácita. Verificando-se que as normas descrevem graus de violação do mesmo bem jurídico (na hipótese, a incolumidade física da pessoa), a infração de menor gravidade é absorvida pela principal.
Com efeito, a norma do artigo 21, do Decreto-Lei nº 3.688/41 é subsidiária em relação ao artigo 129, do Código Penal, porquanto a subsidiariedade é expressa, nos termos do preceito sancionador do art. 21, da LCP, que assim reza: “Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não constitui crime” (grifo nosso).
De fato, o réu, na questão em comento, puxou o cabelo da ofendida, aplicou-lhe golpes na cabeça, tendo derrubado a vítima no chão, causando-lhe lesão corporal, com um corte na cabeça, consoante conclusão do Laudo de Exame de Corpo de Delito indireto de fls. 42/44.
Assim, se o agente pratica violência física contra alguém (vias de fato), sem lhe causar lesão, responde pelo artigo 21, da Lei de Contravenções Penais. Se vier a lesioná-lo, responde pelas sanções do artigo 129, do Código Penal, incidindo, no presente caso, por se tratar de violência doméstica, o § 9º da mesma disposição legal.
Dessa forma, merece parcial reforma a sentença condenatória, para excluir a contravenção penal inserta no art. 21 da LCP, que foi absorvida pelo tipo penal do artigo 129, § 9º, do Estatuto Repressivo.
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO
Bitencourt ensina que o princípio da consunção ou absorção ocorre quando a norma definidora de um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação ou execução de outro crime, como, por exemplo, as lesões corporais que são absorvidas pela tipificação do delito de homicídio. Nesse sentido, Fernando Capez faz referência a expressão "o peixão (fato mais abrangente) engole os peixinhos (fatos que integram aquele como sua parte)".
A par disso, o leitor pode se perguntar: Eu já li algo no texto acima! Tenho certeza!! Este princípio não é a mesma coisa que o princípio da subsidiariedade???
Pois bem, pensando nisso, Fernando Capez assim referiu que há uma linha muito tênue acerca do princípio da subsidiariedade e o da consunção. Ele explica que a distinção entre ambos está no enfoque dado na incidência do princípio. No primeiro, comparam-se as normas para saber qual é aplicável, enquanto que no segundo, comparam-se os fatos, sem se recorrer as normas, verificando que o mais grave absorve todos os demais. Assim, não é a norma que absorve a outra, mas os fatos que consomem os demais, fazendo com que só reste uma norma.
Nesta esteira, trago a baila o primeiro exemplo visto no tópico “princípio da subsidiariedade”, porém, com outro enfoque, justamente para aplicar o princípio da consunção.
Vejamos: Se o agente, de posse de uma arma de fogo, efetua disparos, podemos destacar a prática de dois tipos penais, o artigo 15 da lei 10.826/2003 (disparo de arma de fogo) e o artigo 121 cumulado com o artigo 14, II do Código Penal (tentativa de homicídio). Nesse sentido, se o agente, ao efetuar disparos tinha a intenção de matar alguém, pelo princípio da consunção a tentativa de homicídio praticado pelo uso da arma de fogo absorve o crime praticado pelo disparo da arma de fogo.
Importante anotar que a consunção se verifica em 3 hipóteses, a saber:
1) Crime progressivo – Neste tipo há um só crime, desde o início deve haver uma única vontade, com pluralidade de atos de modo que a violação ao bem jurídico se intensifique ao longo da consumação destes atos. No crime progressivo, existe a figura do crime-meio e do crime-fim, pelo qual um dos delitos da série é o meio para se atingir um fim. É o caso do agente que tem a intenção de matar alguém e, de posse de uma arma de fogo, efetua disparos contra vítima. Assim, o homicídio (norma mais grave) “absorve”, “engole”, “consome” o disparo de arma de fogo (norma menos grave).
2) Crime complexo – Neste tipo, o fato complexo absorve os delitos autônomos que o integram como elementares ou circunstâncias, ou seja, o crime complexo é a fusão de duas condutas para formar um tipo penal novo. É o caso do crime de latrocínio cujo tipo é constituído pelo roubo + homicídio. Noutro exemplo, Guilherme de Souza Nucci leciona que:
"trata-se de crime complexo em sentido amplo, constituído, em regra, da calúnia e da conduta lícita de levar ao conhecimento da autoridade pública delegado, juiz ou promotor a prática de um crime e sua autoria. Portanto, se o agente imputa falsamente a alguém a prática de fato definido como crime, comete o crime de calúnia. Se transmite à autoridade o conhecimento de fato criminoso e do seu autor, pratica conduta permitida expressamente pelo Código de Processo Penal (art. 5.º, 3.º). Entretanto, a junção das duas situações (calúnia + comunicação à autoridade) faz nascer o delito de denunciação caluniosa, de ação pública incondicionada, porque está em jogo o interesse do Estado na administração da justiça."(in Código Penal Comentado, 11ª Ed., fls. 1230)
3) Progressão criminosa – Neste tipo, o agente, inicialmente, deseja praticar um crime e após cometê-lo, pratica outro crime de maior gravidade, configurando, assim, a pluralidade de desígnios (vontade). Por exemplo, agente pratica lesão corporal contra a vítima de modo a deixá-la desacordada. Não satisfeito, pega uma faca e apunhala no peito da vítima causando-lhe a morte.
Por fim, oportuno anotar a distinção apontada por Capez entre progressão criminosa e crime progressivo, a saber: "distingue-se do crime progressivo, porque, enquanto neste há unidade de desígnios (desde logo o agente já quer o resultado mais grave), na progressão criminosa ocorre pluralidade de elemento subjetivo, ou seja, pluralidade de vontades (inicialmente quer um resultado e, após atingi-lo, muda de ideia e resolve provocar outro de maior gravidade)" .
PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE
Este princípio também é chamado de tipo misto alternativo. Nesse sentido, este princípio é aplicado quando a norma dispuser de várias formas de realização do delito de modo que se o agente praticar um ou mais atos do delito e desde que exista o nexo causal entre as condutas, configurará a incidência de um único crime. É o caso do artigo 28 e 33 da lei de Drogas (lei 11.343/2006), vejamos:
“Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas [...]”
Neste exemplo, se o indivíduo é abordado por policiais militares e confessa que foi até a “boca de fumo”, adquiriu um grama de maconhae, em seguida, trouxe consigo até uma viela para “enrolar o seu baseado” e fumá-lo. Esse indivíduo será processado pela prática de um único crime, qual seja: artigo 28. Portanto, o fato deste indivíduo ter praticado duas condutas: adquirido e trazido consigo a droga, não implica na incidência “dupla” do crime do artigo 28 da lei de Drogas.
“Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar [...]”
O mesmo ocorre com o traficante que importa maconha, mantém em depósito e vende para terceiros. Neste exemplo, esse traficante será processado pela incidência única do artigo 33. Isso ocorre devido o nexo de causalidade determinado no exemplo. A par disso vejamos uma jurisprudência acerca do tráfico de drogas:
“[...] é de ação múltipla ou de conteúdo variado, já que apresenta várias formas de violação da mesma proibição contida na norma penal, de maneira que a realização de qualquer dos verbos descritos no tipo penal possui independência para, por si só, caracterizar o delito de tráfico. É o chamado princípio da alternatividade.
Em outras palavras, nos crimes mistos alternativos de ação múltipla - como é o caso do tráfico de drogas -, os diferentes comportamentos insertos na norma penal são fases de uma mesma conduta, visando a um só objetivo, que é a traficância, de forma que, diante de um contexto fático único, se o agente realiza mais de um verbo - como na hipótese dos autos, em que houve a aquisição, transporte e revenda de substância entorpecente -, deve o agente responder por um só crime, ainda que tenha cometido mais de uma conduta entre aquelas descritas no tipo penal. Trata-se de crime único. [...]”
CONFLITO LEIS PENAIS TEMPO
O Princípio tempus regit actum prescreve que em regra a lei rege os fatos praticados durante sua vigência, combinando de forma harmoniosa com os princípios da reserva legal e da Anterioridade da Lei Penal, respectivamente artigos 1º do CP e 5º, XXXIX da Constituição Federal. MIRABETE (1999) entende que, apesar do que define o princípio tempus regit actum, por disposição expressa do próprio Código Penal Brasileiro, é possível a ocorrência da retroatividade e da ultratividade da lei penal. 
Pelo Princípio da Anterioridade da Lei Penal a regra é a Irretroatividade da Lei Penal, entrando em vigor lei mais severa que a lei anterior, a lei posterior não vai alcançar o fato praticado anteriormente, continuando a ser aplicada a lei anterior, ocorrendo a ultratividade da lei penal mais benigna. É o que diz o artigo 5º, inciso XL da Constituição Federal: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. A retroatividade e a ultratividade são, portanto, fenômenos que excepcionam o princípio da irretroatividade. Magalhães Noronha (1991) fala com maestria do assunto ao explicar que é o próprio Direito Penal que estabelece a exceção: “a lei penal que beneficiar o acusado (lex mitior) retroage”. 
Hipóteses de Conflitos de Leis Penais no Tempo 
Para uma melhor compreensão do item faz-se necessário o conhecimento de alguns termos em latim, vejamos: 
lex mitior: lei melhor 
lex gravior: lei mais grave 
Novatio legis: nova lei 
Abolitio criminis: Abolição do crime 
São 4 (quatro) as hipóteses de conflito da lei penal no tempo, vejamos:
1ª) Abolitio Criminis: Surge este fenômeno toda vez que uma lei nova (posterior) deixa de incriminar um fato anteriormente considerado crime. A Abolitio Criminis está prevista no artigo 2º, caput do Código Penal, que diz: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. 
Segundo ensinamentos de Mirabete sobre Abolitio Criminis: Com exceção ao princípio da irretroatividade da lei penal, prevê a Constituição Federal a retroatividade da lei mais benigna ao dispor que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (art. 5º, XL). Em consonância com esse princípio da retroatividade da lei mais benigna, de aplicação obrigatória por se tratar de imposição constitucional, dispõe o artigo sobre a denominada abolitio criminis, prevendo que ninguém será punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime. (MIRABETE, 1999, p.). 
Consequência da Abolitio Criminis:
Inquérito Policial e Processo Penal imediatamente trancados e extintos;
Sentença Condenatória cessam execução, efeitos penais principais e secundários, os efeitos extrapenais (fora do Direito Penal, ex: Indenizações) não cessam; 
Não é possível Abolitio Criminis através de Medida Provisória e Costumes. 
2ª) Novatio legis Incriminadora: Nasce este fenômeno toda vez que lei posterior (nova) tornar fato anteriormente não considerado crime pelo Direito Penal como fato incriminado, ou seja, lei posterior cria um tipo até então inexistente no ordenamento jurídico. É de observar que a lei posterior (nova) que cria novos fatos incriminadores é irretroativa. 
Neste sentido Francisco de Assis Toledo (1994) é contumaz em afirmar:
A lei penal mais grave não se aplica aos fatos ocorridos antes de sua vigência, seja quando se limita a agravar as consequências jurídico-penais do fato, isto é, a pena ou a medida de segurança. Há, pois, uma proibição de retroatividade das normas mais severas de direito penal material. 
3ª) Novatio legis in pejus: Trata-se de fenômeno jurídico em que a lei posterior (novatio legis/lei nova) agrava a situação do agente no caso concreto (in pejus). Portanto esta hipótese de conflito surge no ordenamento jurídico toda vez que lei nova, que não cria novos tipos criminosos, vem piorar a situação do agente (réu, acusado). Esta lei posterior não atinge fatos praticados antes do início de sua vigência (Princípio da Irretroatividade da lei mais severa). 
Ante o princípio da retroatividade da lei penal benigna, a novatio legis in pejus não tem aplicação na esfera penal brasileira. Excelente exemplificação da ocorrência da Novatio legis in pejus nos é dada pelo ensinamento do Professor Mirabete: 
Nessa situação (novatio legis in pejus) estão as leis posteriores, em que se comina pena mais grave em qualidade (reclusão em vez de detenção, por exemplo) ou quantidade (de 2 a 8 anos, em vez de 1 a 4, por exemplo); se acrescentam circunstâncias qualificadoras ou agravantes não previstas anteriormente; se eliminam atenuantes ou causas de extinção da punibilidade; se exigem mais requisitos para a concessão de benefícios (MIRABETE, 1999, p.). 
4ª) Novatio legis in mellius: É a lei posterior (lei nova/novatio legis) que de qualquer maneira favorece o agente no caso concreto (in mellius). A lex mitior (lei melhor) é a mais benéfica, seja anterior (lei velha) ou posterior (lei nova) ao fato. É de se notar que tanto na hipótese de abolitio criminis como na novatio legis in mellius, a lei penal retroage aplicando imediatamente aos processos em curso e aqueles com sentença transitada em julgado. Assim, lei nova é mais favorável ao agente, retroage em razão do princípio da retroatividade da lei mais benigna.
LEI TEMPORÁRIA E LEI EXCEPCIONAL
Para fins de Direito Penal, tem-se que a lei temporária ou lei temporária em sentido estrito, consiste em norma que traz em seu bojo tempo de vigência prefixado. A Lei excepcional ou lei temporária em sentido amplo, por sua vez, consiste em norma que tem por escopo atender necessidades estatais transitórias, tais como guerra ou calamidade, perdurando por todo o período considerado excepcional. Daí dizer-se serem ultra-ativas, ou em outras palavras, irradiarem efeitos mesmo depois da sua vigência, ou de outra forma ter-se-ia uma ineficácia preventiva como ensina Rogério Sanches.
Por oportuno, ressalta-se que tais espécies normativas vêm regulamentadas pelo art. 3º do Código Penal que estabelece justamente seu conceito é abrangência. Conclui-se,portanto, que fatos ocorridos sob a égide das leis temporárias e lei excepcional não são excluídas ou beneficiadas pelo princípio da retroatividade da lei mais benéfica ou novatio legis in mellius , por tratar-se de hipótese legal específica em que cabe a extra-atividade da lei penal para que a norma temporal ou excepcional já não em vigor, ou até mesmo revogada produza ainda que fora de tempo seus efeitos, conhecido como ultratividade.
TEMPO DO CRIME
O que é o "Tempo do Crime" e qual a sua importância no Direito Penal? Tempo do Crime é o marco adotado para estabelecer o momento (tempo) do cometimento de um crime.
Consoante artigo 4º do código penal, "Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado". Nos sistemas penais é possível adotar:
TEORIA DA ATIVIDADE e/ou AÇÃO: na qual o que importa é o momento da conduta (omissiva ou comissiva) delituosa, pouco importando em que momento se deu o resultado. 
TEORIA DO RESULTADO e/ou EVENTO: Na qual retira-se a importância do momento da conduta e o que importará é o momento em que se deu o resultado, ou seja, a consumação. 
TEORIA MISTA e/ou UBIQUIDADE: que adota as duas teorias anteriores ao mesmo tempo. Conforme leitura do artigo 4º supracitado, fica evidente que o Código Penal pátrio adotou a teoria da atividade, neste sentido, importa o momento da conduta comissiva ou omissiva para a prática de fato definido como crime. 
Assim, Rogério Greco em seu Curso de Direito Penal 2010, "Pela teoria da atividade, tempo do crime será o da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Para essa teoria, o que importa é o momento da conduta, comissiva ou omissiva, mesmo que o resultado dela se distancie no tempo".
Mas qual a importância prática de se adotar esta teoria e estabelecer o momento do crime? No momento da conduta, é aplicada a lei em vigor, exceto se no momento resultado outra lei penal mais benéfica incidir sobre o fato; em casos de crimes permanentes, a lei que incidirá será aquela em vigor quando cessar o estado de permanência, ainda que seja lei mais severa (considera-se que a ação ou omissão está ocorrendo durante a permanência); a imputabilidade ou inimputabilidade do agente é avaliada em consonância com o momento da conduta, assim, por exemplo, se Mévio comete o fato tipificado como crime presente no artigo 157 do código penal (roubo) 1 (um) dia antes de completar 18 (dezoito) anos, no dia seguinte já considerado maior, prevalecerá a inimputabilidade ao tempo do crime (momento da atividade), ou seja, Mévio não cometeu crime (menores de 18 não cometem crime).
A importância do Tempo do Crime ainda se verifica quando da incidência da extratividade da lei penal. A extratividade da lei penal é composta de ultratividade e retoratividade, a primeira se dá quando a lei penal mesmo já revogada continua a regular fatos ocorridos ao tempo de sua vigência, já a segunda ocorre quando retroage para atingir fatos ocorridos antes da sua vigência. Maior importância é com relação a ultratividade, uma vez que uma lei poderá estar em vigor durante o cometimento de um fato definido como crime, entretanto lei nova poderá dar um tratamento ainda mais rigoroso para os que praticarem tais condutas, neste sentido, deverá ser a lei anterior mais benéfica ultrativa continuando a regular os fatos ocorridos ao tempo da sua vigência, prevalecendo a irretroatividade da novatio legis in pejus. Neste mesmo sentido Cleber Masson em seu Código Penal Comentado 2013, "Pode ocorrer ainda a ultratividade da lei mais benéfica, que se verifica quando o crime foi praticado durante a vigência de uma lei, posteriormente revogada por outra prejudicial ao agente. Subsistem, no caso, os efeitos da lei anterior, mais favorável".
LEI PENAL NO ESPAÇO
Cuida do lugar onde o crime é praticado, servindo como parâmetro para solucionar situações em que um crime inicia sua execução em um determinado território e a consumação dar-se em outro. Para esclarecer estas possíveis situações o Direito Penal utiliza-se de alguns princípios, vejamos: 
1. Princípio da Territorialidade: Previsto no artigo 5º, §§ 1º e 2º do Código Penal Brasileiro: 
Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º - É também aplicável à lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se àquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. (CÓDIGO PENAL BRASILEIRO, art. 5°). 
Fazendo uma análise simples do artigo acima, o Princípio da Territorialidade afirma que a lei penal somente pode ser aplicada no espaço (território) do Estado que a criou, não atendendo à nacionalidade do sujeito ativo ou passivo do delito ou o titular do bem jurídico lesado. Para este princípio, os países devem aplicar as suas leis aos crimes cometidos dentro de seu território jurídico. Este critério não é absoluto. Para tanto, o Brasil adotou o Princípio da Territorialidade Temperada, que diz: 
A lei penal brasileira aplica-se, em regra, ao crime praticado em seu território, porém a lei estrangeira será aplicada em crimes praticados em parte ou total em nosso território, quando assim exigirem tratados e convenções internacionais (Intraterritorialidade/de fora para dentro). 
É importante analisar as situações de extensões do território nacional, uma vez que o alto-mar não está sujeito a qualquer soberania dos Estados, vejamos: 
A. Princípio do Pavilhão ou da Bandeira: As embarcações e aeronaves são extensões do território do país em que estiverem registradas (bandeira). Os navios e aeronaves de guerra são extensões do território nacional. Assim, os crimes cometidos no interior deles terão aplicação das leis dos respectivos países. Isto não se aplica aos delitos praticados fora das embarcações pelos tripulantes. Neste caso estarão sujeitos à jurisdição penal do Estado em cujo território se encontram. 
B. Navios e Aeronaves Públicas ou Privadas: Os navios oficiais (chefe de Estado/representantes diplomáticos) são considerados extensões do território nacional (mesmo comando do Princípio do Pavilhão). Já aos navios privados (mercantes ou de propriedade privada) em mar de território estrangeiro aplica-se a lei do país estrangeiro em alto-mar, e em mar territorial brasileira, a lei brasileira é a aplicável. 
2. Princípio da Extraterritorialidade: Princípio que possibilita a aplicação da lei penal brasileira a fatos criminosos ocorridos em territórios de outros Estados. Encontra-se previsto no artigo 7º do Código Penal:
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileiradepende do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Fernando Capez (2006) assim explica o princípio da extraterritorialidade: consiste na aplicação da lei brasileira aos crimes cometidos fora do Brasil. A jurisdição é territorial, na medida em que não pode ser exercida no território de outro Estado, salvo em virtude de regra permissiva, emanada do direito internacional costumeiro ou convencional. Em respeito ao princípio da soberania, um país não pode impor regras jurisdicionais a outro. (CAPEZ, 2006, p.)
O Princípio da Extraterritorialidade apresenta os seguintes tipos:
A) Incondicionada: A lei brasileira será aplicada, ainda que o agente seja absolvido ou condenado no exterior, ou seja, não se subordina a qualquer condição. São os previstos no artigo 7º, inciso I, a, b, c e d do Código Penal.
B) Condicionada: São as hipóteses previstas no inciso II e § 3º. Para a lei brasileira ser aplicada nestes casos faz-se necessário que satisfaça os requisitos previstos no artigo 7º, § 2º, a, b e § 3º: 
Para a aplicação do Princípio da Extraterritorialidade são necessários os seguintes princípios:
1º) Princípio da Nacionalidade ou Personalidade Ativa (art. 7º, II, b, CP): A lei do Estado do autor do crime é aplicada em qualquer lugar que o crime tenha ocorrido, ou seja, a lei brasileira é aplicada em razão da nacionalidade do autor do crime (sujeito ativo);
2º) Princípio da Nacionalidade ou Personalidade Passiva (art. 7º, § 3º, CP): A lei brasileira é aplicada ao crime praticado por estrangeiro contra brasileiro. Importa a nacionalidade do sujeito passivo;
3º) Princípio da Defesa Real ou Proteção (art. 7º, I, a, b, c): Importa à nacionalidade do bem jurídico. Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido fora do Brasil, que afete interesse nacional;
4º) Princípio da Justiça Universal ou da Universalidade da Justiça Cosmopolita (art. 7º, I, d, II, CP): Direito de todos os países em punir qualquer crime;
5º) Princípio da Representação (art. 7º, II, c, CP): A lei brasileira será aplicada aos crimes cometidos no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas, desde que não sejam julgados no local do crime.
CONCEITOS DE INFRAÇÃO PENAL
A doutrina do Direito Penal tem procurado definir o ilícito penal sob três aspectos diversos. Atendendo-se ao Aspecto Externo, puramente nominal do fato, obtém-se um Conceito Formal; observando-se o Conteúdo do fato punível, consegue-se um Conceito Material ou Substancial; e examinando-se as Características ou Aspectos do crime, chega-se a um Conselho Analítico, como se segue:
Conceito formal: infração penal é um comportamento previsto em uma norma penal incriminadora (tipo penal incriminador), sob ameaça de sanção penal;
Conceito material: é um comportamento humano indesejado que causa uma relevante lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico penalmente tutelado (protegido) e, portanto, uma conduta passível de sanção penal;
Conceito analítico: o conceito analítico leva em conta os elementos do crime. O conceito analítico depende da teoria adotada. Para a teoria causalista ou teoria clássica crime é igual a fato típico mais ilicitude mais culpabilidade, esses são os três elementos do crime para a teoria causalista (para essa teoria o dolo e a culpa estão na culpabilidade). Para a teoria finalista crime é igual a fato típico mais ilicitude mais culpabilidade (para essa teoria dolo e culpa estão no fato típico). Para a teoria finalista dissidente o crime é composto apenas de dois elementos: fato típico e ilicitude (para essa teoria a culpabilidade não é elemento de crime), para essa teoria a culpabilidade é pressuposto para a aplicação de pena e não de medida de segurança.
Crime e Contravenção
Segundo a maioria dos penalistas, não há diferença ontológica, substancial, entre o Crime e a Contravenção Não são categorias que se distinguem pela sua natureza, mas realidades que se diversificam pela sua maior ou menor gravidade. A questão residiria na quantidade da infração, não em sua substância.
Adotando o critério quantitativo, o art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal dispõe:
a)Crime=>infração penal a que a lei comina pena de Reclusão ou Detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente, com pena de multa;
b)Contravenção=> infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de Prisão Simples ou Multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
Existe uma corrente, porém, para a qual o crime corresponde às condutas que causam Lesão ou Perigo de Lesão, ao passo que a Contravenção resultaria em Perigo de Lesão

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