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MODULO 1. O QUE É E POR QUE ESTUDAR FILOSOFIA? Afinal o que vem a ser filosofia? Será que a filosofia é uma disciplina que “com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual”? Será que é um emaranhado de questões que nunca chega a uma conclusão consensual? Será que é um conjunto de conceitos complexos que só interessa os estudiosos do assunto? A filosofia muitas vezes é taxada de “inútil”, de subversiva, de perturbadora da ordem etc. Mas por que será que a “mãe” de todas as ciências costuma ser tão maltratada? Pode-se começar questionando o que leva o ser humano a filosofar? Platão, no Teeteto, afirmou que a Filosofia começa com o thaumátzein, com o admirar-se com o espantar-se, tese reafirmada por Aristóteles na sua Metafísica. Mas admiração e espanto em relação a quê? Admiração e espanto diante de um mundo carregado de interrogações, cujas explicações por vezes não satisfazem ou que não se possui as respostas. Aí então, diante de interrogações que se configuram como problemas, inicialmente sem solução, experimenta-se um misto de assombro e admiração. Assombro diante do próprio espetáculo da natureza, da multiplicidade de coisas existentes, de fatos surpreendentes, das diferentes formas de vida, dos astros que brilham e que deslizam na abobada celeste e também admiração, por suscitar um sentimento de estranhamento por algo que se apresenta como não obvio, não comum, que oculta alguma possível conexão lógica. Para Saviani (2000)*, o que leva o ser humano a filosofar são os problemas que ele se defronta no decorrer da sua vida. “Eis pois, o objeto da filosofia, aquilo de que trata a filosofia, aquilo que leva o homem a filosofar: são os problemas que o homem enfrenta no transcurso da sua existência” (2000, p. 10). O ser humano ao produzir continuamente sua própria existência enfrenta o iniludível: problemas, configurados como necessidades que não podem ser ignorados, pois a resolução desses problemas é de vital importância para a existência humana. Dessa forma, diante dos problemas o ser humano deve refletir em busca de esclarecê-los, elucidá-los. Daí que, para Saviani, a filosofia pode ser definida como uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta. * SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 13a ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2000. (O texto deste item foi extraído e adaptado de: FERNANDES, Vladimir. Filosofia, ética e educação na perspectiva de Ernst Cassirer. FEUSP: Tese de doutorado, 2006, cap. 4) Leitura básica Texto: A experiência filosófica (Capítulo 1). ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4a ed. São Paulo: Moderna, 2009. Texto: “A missão da Filosofia”. CARVALHO, J. M. Revista de Ciências Humanas EDUFSC, n.29, p.81-92, Florianópolis, abr. de 2001. Acesso em: 18 out. 2013. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/24035/21487 MODULO 2. A CONSCIÊNCIA MÍTICA E AS FUNÇÕES DO MITO A palavra mito tem sua origem etimológica em mythos, que significa “palavra”, “o que se fala”. Quem era o “falador” desses mitos na Grécia antiga? De um modo geral os mitos faziam parte da cultura e eram contados pelos pais, pelas amas de leite, pelas pessoas em geral, pelos aedos (isto é poetas cantores). Esses últimos, os poetas, tinham um papel de destaque na narrativa mítica, uma vez que eram considerados escolhidos pelos deuses para narrarem poeticamente os acontecimentos divinos. Em uma cultura oral, esses poetas vão pelas praças contando as estórias envolvendo os deuses e, assim sendo, ajudam a manter viva a memória do seu povo. Desse modo, o mito é uma forma de explicar o mundo, de atribuir sentido ao existente e assim tranquilizar o ser humano. Trata-se de uma verdade intuída cuja autoria se perde no tempo, sendo, em geral, considerado como uma produção anônima e coletiva. Os mitos não foram produzidos apenas na Grécia antiga. Diferentes povos em diferentes épocas produziram seus próprios mitos, como por exemplo, os mitos produzidos por tribos indígenas da floresta amazônica. O ponto comum entre as diferentes concepções míticas é a busca de dar sentido ao mundo, de dar uma explicação para os fenômenos desconhecidos. E nas sociedades modernas os mitos perderam sua função? Quem pode ser considerado um mito hoje? Como diferenciar os mitos primitivos dos mitos modernos? Leitura básica Texto: A consciência mítica. (Capítulo 2). ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4a ed. São Paulo: Moderna, 2009. Leitura Complementar Textos do livro: VERNANT, J. P. O universo, os deuses, os homens. Trad. Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. MODULO 3. O SURGIMENTO DA FILOSOFIA Como surge a Filosofia? Ela surge repentinamente ou de modo lento e gradativo? Como ocorre a transição do pensamento mítico para o pensamento filosófico? Essa transição foi um processo lento e gradativo e não significou o desaparecimento das concepções míticas. Segundo Jean Pierre Vernant, em As origens do pensamento grego, esse pensamento racional denominado de Filosofia foi propiciado pelas formas de organização social, política e econômica da cidade-estado, assim, pode-se afirmar que a filosofia é filha da polis grega. “O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, só no fim alcançara todas as suas consequências; a polis conhecera etapas múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde o seu advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII, marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos”. (VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. 10ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, p.41) O palco principal da cidade grega era a Ágora, a praça pública, o lugar em que se faz a autonomia da palavra. A palavra era tão valorizada que os gregos a transformaram numa divindade, Pheitó, que representa a força, a capacidade da persuasão. Não mais a palavra de ordem do rei divino, mas a palavra humana buscando através do conflito, da discussão, um sentido e o convencimento pela persuasão. A palavra não é mais uma forma justa a priori, mas está exposta a contestação. A polêmica, a discussão, a argumentação são as regras do jogo intelectual e político que é praticado a luz do sol, na Ágora, e tem como juiz o público, os cidadãos. Os conhecimentos, os conteúdos da cultura, não ficam mais restritos ao palácio, são agora expostos em praça pública a apreciações de todos, possuem um caráter de publicidade e passam a ser objeto de análise e de interpretação. Dessa forma, pode-se concluir com Vernant, que as várias transformações que culminaram com a polis grega trouxeram em seu bojo a possibilidade de emergência do pensamento racional filosófico, assim, a filosofia é filha da polis. Leitura básica Texto: O nascimento da filosofia (Capítulo 3).ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4a ed. São Paulo: Moderna, 2009. Leitura Complementar Texto: A origem da Filosofia; O nascimento da Filosofia. (Capítulos 1 e 2 da Unidade 1) CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13ª ed. São Paulo: Ática, 2003. Texto: O surgimento da filosofia na Grécia antiga. (Capítulo 1 da Parte I) MARCONDES, D. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. MODULO 4. SÓCRATES E OS SOFISTAS Sócrates, considerado o patrono da Filosofia, ficou conhecido graças às obras de dois de seus discípulos: Xenofontee Platão. Sócrates não deixou nada escrito, ou melhor, não ditou nada para outro escrever, como era comum na época. Conhecemos Sócrates, principalmente, através dos diálogos de Platão, já que a obra de Xenofonte foi considerada pouco confiável. No templo de Apolo, situado em Delfos, havia várias inscrições gravadas. Sócrates elege uma delas como lema: “Conhece-te a ti mesmo!" Assim, com Sócrates, a problemática será deslocada do âmbito cosmológico para o antropológico. Sócrates coloca o ser humano no centro da problemática e preocupa-se em buscar verdades que pudessem ser válidas para todos. O “conhece-te a ti mesmo” que ele pega emprestado do oráculo de Delfos e toma como lema, é a tentativa de buscar em cada um (particular) extrair uma verdade universal. Através da maiêutica, seu método de perguntas e respostas, busca dar a luz a verdades gerais. Tarefa nem sempre fácil, já que muitos diálogos que chegaram até nós, relatados por Platão, são aporéticos, isto é, sem solução. Sócrates foi contemporâneo dos pensadores sofistas e foi interlocutor de alguns deles. A palavra sofista vem do grego sophós e significa “sábio”, “mestre em sabedoria”. Eles eram professores itinerantes que iam de cidade em cidade oferecendo suas aulas para aqueles que pudessem pagar. Deram importante contribuição para a sistematização do ensino e para o ideal democrático, uma vez que ofereciam um ensino prático, voltado para a argumentação e persuasão, necessário a vida política. Apesar da importante contribuição dos sofistas, em formar para atuação democrática, eles também receberam críticas de Sócrates, Platão e Aristóteles. Essas críticas eram feitas pelo fato dos sofistas cobrarem para ensinar e, também, por defenderem certo relativismo e não se preocuparem com a busca da verdade, como fazia Sócrates. Como se sabe, Sócrates foi condenado à morte, ou mais especificamente ao suicídio, já que foi condenado a beber cicuta. A acusação: corromper a juventude e não acreditar nos deuses da cidade. E você o que pensa da condenação de Sócrates? Leitura básica Texto: A experiência filosófica (Capítulo 1, Item 6). ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4a ed. São Paulo: Moderna, 2009. Texto: A busca da verdade (Capítulo 13). ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4a ed. São Paulo: Moderna, 2009. Texto: O banquete – o amor (Capítulo: Platão). MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia: dos Pré-socráticos a Wittgenstein. 4a ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.
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