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Memória Neurociência em TO Tiago Coelho, PhD 2017-2018 Memória – Modelo de Atkinson e Shiffrin Memória – Modelo de Atkinson e Shiffrin Armazenamento de Curta Duração (ACD) Armazenamento de capacidade muito limitada Informação é perdida muito rapidamente (<30 segundos) se não for repetida/ensaiada (em caso de repetição, reinicia-se o tempo que a informação pode permanecer no ACD) Genericamente, quanto mais tempo a informação residir na ACD, maior a probabilidade da informação ser copiada para o Armazenamento de Longa Duração (ALD) Explica fenómenos como o rápido esquecimento e efeitos de primazia a recência Armazenamento de Curta Duração (ACD) Retirado de: Lieberman (2012, p. 307) Armazenamento de Curta Duração (ACD) Retirado de: Lieberman (2012, pp. 312-313) Armazenamento de Curta Duração (ACD) A existência de ACD e ALD é suportada pela investigação sobre amnésia (algumas lesões cerebrais limitam a recordação de eventos passados enquanto que outras causam défices na recuperação de memórias de curto prazo e/ou na formação de novas memórias de longo prazo) Atualmente, sabe-se que o ACD não se refere apenas ao local onde armazenamos brevemente a informação que percecionamos; é também onde se mantém temporariamente a informação proveniente do ALD que é necessária para a realização de diferentes tarefas (e.g. manter ativa na nossa memória a informação sobre as regras de um jogo de cartas que aprendemos na infância enquanto estamos a jogar) Para refletir esta dinâmica, muitos autores preferem a designação de memória de trabalho à tradicional memória de curto prazo Memória – Modelo de Atkinson e Shiffrin Memória de trabalho Retirado de: Lieberman (2012, pp. 329) Memória de trabalho Pode ser dividida em sub-sistemas: • Ansa fonológica Armazena informação relacionada com os sons de palavras (de palavras enunciadas verbalmente ou de palavras escritas que são convertidas mentalmente num formato fonológico) Informação desaparece rapidamente se não houver um ensaio subvocal • Esquemas visuo-espaciais Armazena informação representada em termos das suas características visuais Grande capacidade de armazenamento e probabilidade de formar memórias de longo prazo • Sistema executivo central Controla os outros sub-sistemas, recuperando informação neles retida e informação do ALD para realização de tarefas complexas Combinação da informação dos 2 sub-sistemas de armazenamento independentes e do ALD é feita num sistema de armazenamento temporário: Buffer episódico Memória – Modelo de Atkinson e Shiffrin Memória – Modelo de Atkinson e Shiffrin Consolidação Há vários fatores que influenciam a passagem da informação do ACD para o ALD, para além do tempo que a informação permanece no ACD graças à repetição/ensaio Níveis de processamento: quanto mais processamos a informação, maior a probabilidade de consolidação (e.g. lembrar uma palavra pelos seus caracteres < lembrar o significado da palavra) – dimensão vertical Elaboração: quanto mais associarmos a informação a outra informação relacionada, maior a probabilidade de consolidação (e.g. decorar palavras < decorar palavras relacionadas numa frase com sentido; ou decorar palavras < decorar palavras após reflexão sobre o contexto em que essas palavras são usadas) – dimensão horizontal Consolidação A consolidação de informação no ALD depende do fortalecimento de conexões sinápticas entre neurónios Memórias em processo de consolidação são especialmente vulneráveis à interferência e esquecimento As memórias são mais resistentes à perda com o aumento da passagem do tempo, uma vez que as memórias mais antigas são provavelmente recuperadas mais vezes do que as memórias mais recentes - este processo de recuperação reconsolida a informação, tornando-a mais resistente à perda As novas memórias são mais claras mas frágeis e as antigas menos detalhadas mas robustas Retirado de: Lieberman (2012, pp. 337) Consolidação Dicas para estudo: - pensar ativamente nos conteúdos do que lê-los passivamente (níveis de processamento e elaboração) - voltar a analisar conteúdos algum tempo após o seu estudo (recuperação da informação para reconsolidação e fortalecimento das memórias de longo prazo) - distribuir o estudo ao longo do tempo para não sobrecarregar a capacidade de armazenamento das memórias e capacidade de manter a atenção (concentração), dando tempo a que cada informação seja consolidada devidamente, sem interferência de outras informações - valorizar o sono (fundamental para a consolidação) … por outras palavras, evitar estudar superficialmente a matéria toda na noite anterior ao teste Memória – Modelo de Atkinson e Shiffrin Armazenamento de Longa Duração (ALD) Tipos de memórias de longo prazo Declarativa (explícita) Memória para factos e eventos Pode ser evocada voluntariamente e expressa verbalmente Lembro-me quando fui à praia este ano…” “O símbolo químico da água é…” Alterada em doentes amnésicos Não-declarativa (implícita) Expressa através do desempenho sem requerer recordação consciente Aprendizagem sem consciência Relativamente poupada em doentes amnésicos Armazenamento de Longa Duração (ALD) Tipos de memórias declarativas Memória episódica A memória episódica refere-se à memória de eventos experienciados pessoalmente, que ocorreram num espaço particular e num tempo específico É o tipo de memória que permite que se evoque o que aconteceu no passado (“lembro-me de…”) É o tipo mais avançado de memória e também o mais suscetível a lesões cerebrais, assim como é o mais afetado com o envelhecimento normal Relacionada c/ memória autobiográfica, a qual proporciona sentido de identidade e de história pessoal Pode ser prospetiva (e.g., consulta, jantar…) – referir-se a eventos futuros Memória semântica Refere-se ao conhecimento geral, à informação armazenada sobre factos, conceitos e vocabulário Esta informação não é contextualizada com o tempo ou espaço em que foi aprendida “Eu sei que…” em alternativa ao “eu “lembro-me de…” Armazenamento de Longa Duração (ALD) Tipos de memórias não-declarativas Memória procedimental Memória dos procedimentos necessários para realizar uma tarefa (e.g. andar de bicicleta) Permite agir mais rapidamente e de forma mais automática Memória inconsciente sobre “como fazer algo” Priming (memória percetual) Memórias que influenciam o reconhecimento de outros estímulos – ativam associações (e.g. lembrar de uma palavra lida anteriormente após ver as letras iniciais da palavra; lembrar mais rapidamente de uma banana depois de ver a cor amarela) Aprendizagem associativa (condicionamento) Memória da relação entre dois estímulos não associados (e.g. associar uma sala a um teste que correu mal) Aprendizagem não-associativa Base da habituação (diminuição da resposta a um estímulo depois da sua apresentação repetida) Base da sensitização/sensibilização (resposta exacerbada a estímulos após experienciar um estímulo intenso ou negativo) Memória – Modelo de Atkinson e Shiffrin Recuperação O esquecimento é frequentemente atribuído ao declínio das memórias ao longo do tempo, mas a principal causa do esquecimento é a dificuldade em recuperar memórias causada por: • interferência de memórias anteriores (interferência proactiva) • interferência de memórias posteriores (interferência retroativa) As experiências esquecidas estão frequentemente ainda armazenadas, contudo, o problema será que outras memórias dificultam que se recuperem essas experiências É também possível que novas memórias substituam memórias mais antigas semelhantes (mas o mais provável é que surjam dificuldades na recuperação da informação) Recuperação O sucesso na recuperação de uma memória depende da quantidade de pistas e da forma comoas pistas apresentadas se assemelham à informação presente durante a codificação da informação A associação de muitas memórias a uma pista específica pode dificultar a recuperação de uma memória específica, mesmo quando a pista é apresentada Algumas memórias podem ser inconscientemente inibidas quando recuperamos memórias semelhantes ou por serem desagradáveis Criação de mnemónicas resulta porque se organiza informação complexa numa estrutura mais simples (processando a informação e criando associações), mas também porque se cria uma imagem mental que serve de pista para a recordação de outras memórias Memória – Modelo de Atkinson e Shiffrin Memória Sensorial Retenção temporária da informação proveniente dos recetores sensoriais Permite que a informação permaneça acessível depois do desaparecimento do estimulo Dando tempo para que a informação seja processada (percecionada e reconhecida) Após reconhecida a informação, é enviada para o ACD (codificação), onde pode ser alvo do processamento necessário para a transferência para o ALD (i.e formação de uma memória permanente – consolidação) Memória Sensorial Tipos principais: • Visual (icónica) Sistema de memória sensorial de grande capacidade Permanece num tempo extremamente breve (50 ms até 250/300 ms) Processamento paralelo • Auditiva (ecóica) Persistência superior (até 2 s) Processamento serial: estimulação auditiva produz-se numa dimensão temporal Memória – Modelo de Atkinson e Shiffrin Memórias Transitórias Sensorial De curto prazo De trabalho Longo Prazo Explícitas Episódica Semântica Implícitas Procedimental Priming Associativa Não- associativa Memória Segundo a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (OMS, 2004): Funções mentais específicas de registo e armazenamento de informações e sua recuperação quando necessário Memória de curto prazo: funções mentais responsáveis pelo armazenamento temporário e disruptível da memória por cerca de 30 segundos após os quais as informações são perdidas se não consolidadas na memória de longo prazo Memória de longo prazo: funções mentais responsáveis por um sistema de memória que permite o armazenamento a longo prazo das informações da memória de curto prazo e da memória autobiográfica de eventos passados assim como da memória semântica para linguagem e factos Recuperação da memória: funções mentais específicas que permitem recordar informações armazenadas na memória de longo prazo e trazê-las à consciência Memória Neurociência em TO Tiago Coelho, PhD 2017-2018 Referência principal: Lieberman, D. A. (2012). Human Learning and Memory. New York, NY: Cambridge University Press.
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