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Módulo III – Melanie Klein Aula 1 (Vida da autora e introdução ao pensamento) M e l a n i e K l e i n D a F a n t a s i a à R e a l i d a d e • Melanie, inicialmente Reizes e posteriormente Klein, nasceu em 30/03/1882 em Viena, filha caçula de uma família culta. • As perdas e o luto foram fenômenos marcantes no início e ao longo de sua vida • aos 4 anos perdeu sua irmã Sidonie, que lhe ensinava leitura e aritmética • próximo aos 20 anos, perdeu o pai e o irmão Emanuel, amigo e incentivador • Na adolescência desejava estudar Medicina, mas após as mortes do pai e irmão, casou-se com Artur Klein em 1903 • com o noivado abandonou a ideia de estudar Medicina • teve três filhos: Mellita, Hans e Erich, após o nascimento do caçula perdeu a mãe, o que a levou a um estado depressivo V i d a d a a u t o r a • Em 1914, morando em Budapeste, procurou Ferenczi para análise e entrou em contato com a obra de Freud • Seu talento para compreender as crianças foi percebido e estimulado por seu mestre Sandór Ferenczi • Em 1922, tentou expor a Freud suas ideias, mas não houve interesse dele • Mudou-se para Alemanha em 1923 e se tornou membro pleno da Sociedade de Psicanálise de Berlim, iniciando em 1924 sua análise com Karl Abraham, porém, a análise durou apenas um pouco mais de um ano devido à morte de seu inspirador • Klein era bastante produtiva e se focou no estudo da análise com crianças, onde desenvolveu: • a técnica do brincar V i d a d a a u t o r a • A Em 1926, já separada, viajou para a Inglaterra a convite de Ernest Jones, onde passou a morar e a expor as suas idéias acerca da psicanálise com crianças • Na Inglaterra iniciaram-se as divergências com Anna Freud • Controvérsias Freud - Klein • Posteriormente vieram os ataques de sua filha Mellita Shimideberg • Klein transmitiu a psicanálise a diversos autores como Rosenfeld, Paula Heimann, Richkman e Bion, deixando diversas obras importantes • Amor, Culpa e Reparação • A Psicanálise de Crianças • Inveja Gratidão e outros trabalhos • Narrativa da análise de uma criança V i d a d a a u t o r a • Klein se considerava até o final uma freudiana, vindo a falecer em 22/09/1960 Melanie Klein pode produzir tanto uma reação de encantamento no leitor quanto uma forte repulsa, especialmente se for lida com os olhos fixados na concretude de suas imagens (Elias Mallet da Rocha Barros). Para o leigo, assim como par o terapeuta que faz a primeira leitura, o texto kleiniano alça-se da estranheza ao disparate, quando não uma pornografia cuidadosamente bizarra. Lê-se que excremento é projetado para dentro do corpo materno ou que pênis e vagina combinam-se de formas inusuais e insólitas. É a primeira impressão, por vezes duradoura, se o leitor desiste cedo (Fábio Hermann e Alves Lima). V i d a d a a u t o r a Introdução ao pensamento kleiniano • Diferente de outros diversos autores, Klein conclui que desde o nascimento já há bastante atividade psíquica e para que isso ocorra é necessário admitir a existência de um ego e de uma “capacidade” de diferenciar ambiente externo e interno • trata-se de um ego imaturo, primitivo e ainda desorganizado, mas que possui uma tendência à integração • Este ego primitivo é responsável por formar representações psíquicas (imagos/ideias) que permitam o instinto ser expresso • Ou seja, é este ego o responsável por construir as representações mentais dos instintos (pulsões) as quais Klein denominou de: • Fantasias inconscientes (phantasias) • Instinto corpo/somático • Ideia/representação/fantasia mente/psíquico Fantasias Inconscientes • A ação de um instinto é expressa e representada na vida mental pela fantasia da satisfação deste instinto por um objeto apropriado (...) a fantasia inconsciente surge como parte de um processo natural de transformação de necessidades instintivas em fatos psíquicos. Neste contexto, ela se torna representante mental das pulsões e adquire um caráter de representação, adquirindo o caráter de uma imagem pictográfica inconsciente que se transforma numa primeira forma de fantasia (CINTRA e FIGUEIREDO, 2010). • A primeira fome e o esforço instintual para satisfazer esta fome são acompanhadas pela fantasia de um objeto capaz de satisfazê-la • no início da vida as fantasias são onipotentes e, portanto não existe diferença entre fantasia e realidade • as fantasias inconscientes são experimentadas como acontecimentos físicos Fantasias Inconscientes • Klein baseia sua teoria a partir da concepção freudiana de Além do princípio do prazer (1920), na qual existem dois tipos de pulsões: de vida (Eros) e de morte (Tânatos) • Pulsão, para Klein, não é algo biológico ou ligado ao instinto, está mais próxima do conceito de fantasia, pois ela considera que as pulsões estão no limite entre o somático e o psíquico • Freud considera que o objetivo das pulsões é eliminar/reduzir a tensão existente no psiquismo e neste contexto as pulsões podem agir de duas formas: • Pulsão de vida destinadas a eliminar a tensão através da busca por objetos e conjunções; pela união, integração e construção de relações • Pulsão de morte destinadas a eliminar a tensão reconduzindo o ser vivo a um estado anterior ao de vida: inorgânico. Inicialmente voltada contra o eu (autodestruição, masoquismo), depois voltada para o mundo externo na forma de destrutividade Dualidade pulsional • Para entender o modo como fantasia e realidade interagem, principalmente nos períodos mais primitivos analisemos estas duas situações: Um bebê adormecendo faz satisfeito barulhos e movimento de sucção com sua boca, como se estivesse tendo contato com um seio que o alimenta (nesta situação ele fantasia que está sugando realmente um seio e adormece [diminui a tensão] com a fantasia de saciedade). Um bebê com fome, furioso (altamente tenso) grita e esperneia demandando ser amamentado (nesta situação ele pode fantasiar que o seio ao invés de saciá-lo, é o responsável pelo desconforto que ele está sentindo, como se este seio estivesse lhe atacando). • Se a privação/frustração do ambiente não for exagerada, a fantasia inconsciente pode ser compreendida como uma forma de defesa contra a realidade externa da privação • Mais do que isso o defende também da realidade interna, de sua própria raiva e destrutividade Fantasia e Realidade • A primeira situação descreve uma fantasia onde a pulsão de vida predomina e o ambiente não o frustra de forma demasiada, mas o contrário pode ocorrer: Um bebê, faminto e furioso, ao lhe ser oferecido o seio não o aceita, ao contrário, se afasta e não quer mamar (nesta situação ele pode ter fantasiado que atacou e destruiu o seio, tendo este se tornado mau) Por mais que o seio (realidade) queira alimentá-lo, ele não é sentido pelo bebê como um seio que é bom, que irá gratificá-lo, é deformado por fantasias de destruição (predomínio da pulsão de morte) Uma mãe paciente (realidade favorável) poderá aguardar e ajudá-lo a diminuir esta tensão antes de amamentá-lo Fantasia e Realidade fantasia realidade Fantasia e Realidade fantasia realidade Pulsão de vida Pulsão de morte E G O Frustra, priva ameaça Gratifica, Satisfaz, protege • Desde o início o ego é exposto à ansiedade provocada pela polaridade inata das pulsões e ao impacto da realidade externa • A técnica terapêutica,portanto consistirá em alterar estas fantasias e a relação do ego com os objetos, sejam eles externos ou internos (...) é isso que torna possível influenciar a estrutura do ego e o superego através da análise. É analisando as relações do ego com os objetos, internos e externos, e alterando as fantasias sobre esses objetos que podemos afetar de maneira substancial a estrutura mais permanente do ego (SEGAL, 1975, p.31) • As fantasias primitivas (inconscientes) podem ser entendidas como uma forma rudimentar do que virá a ser o pensar • Para Klein o fantasiar (phantasias) não é considerado somente uma forma de devaneio ou fuga da realidade como comumente se entende, estas fantasias expressam a forma rudimentar de como o aparelho psíquico se estrutura nos períodos mais primitivos Fantasia e Pensamento
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