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SEMIOLOGIA Dor 2

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Arlindo Ugulino Netto – MEDICINA P4 – 2009.1
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MED RESUMOS 2009
NETTO, Arlindo Ugulino.
SEMIOLOGIA
DOR
A dor (algia, nocicep€o) ‚ um sintoma de cunho desagradƒvel, que varia desde um desconforto leve ao 
excruciante, associada a um processo destrutivo atual ou potencial dos tecidos que se manifesta por meio de uma 
rea€o org„nica e/ou emocional. …, em outras palavras, o sintoma mais comum na prƒtica m‚dica. Estudos mostram 
que a conota€o do sintoma “dor” envolve componentes sensoriais perif‚ricos, sensoriais centrais, cognitivos e afetivo-
emocionais. Isto ‚, a dor ‚ processo intrˆnseco ‰ adapta€o e interpreta€o de cada indivˆduo.
O Primeiro SubcomitŠ de Taxonomia da Dor da IASP prop‹s a seguinte defini€o: “Dor e uma desagradvel 
experi‚ncia sensorial e emocional associada a uma lesƒo tecidual j existente ou potencial, ou relatada como se uma 
lesƒo existisse”. Esta Œltima defini€o conota a dor relatada por alguns paciente para tentar expressar o quo tamanha 
‚ a intensidade da dor: “sinto uma dor como se houvesse uma faca em meu peito”.
A dor ‚, sem dŒvida, um mecanismo bƒsico de defesa. Hƒ quem diga que a dor ‚ uma “virtude”. Em primeiro 
lugar, porque ela pode nos alertar de eventos nocivos antes mesmo que aconte€am, por exemplo: quando se percebe 
um calor excessivo, a presso exercida por um objeto p‚rfuro-cortante, etc. A sensa€o dolorosa ‚ a responsƒvel por 
provocar o afastamento reflexo do indivˆduo com rela€o ao objeto que poderƒ desencadear um dano. Segundo, a dor 
serve para educar e indicar que determinada a€o (previamente cometida) pode desencadear um estˆmulo 
desagradƒvel posteriormente. Em terceiro plano, a dor ‚ capaz de induzir o paciente ao repouso quando este ‚ 
submetido a leses articulares, infec€es abdominais, etc; repouso este essencial para a recupera€o natural do 
organismo afetado.
Entretanto, hƒ dores como as que surgem apŽs leso do sistema nervoso perif‚rico (como na avulso de 
ramos do plexo braquial), que no servem a nenhum propŽsito Œtil. Uma pessoa que teve amputa€o traumƒtica de um 
membro pode vir a sofrer dor do “membro fantasma”, que se torna cr‹nica e acompanha o paciente por toda sua vida.
Dores cr‹nicas podem ser, inclusive, to terrˆveis que alguns pacientes cometem suicˆdio para se livrarem da mesma.
A falta da sensibilidade dolorosa ‚ considerado um fator limitante de sobrevida: hƒ relatos de pessoas que 
sofreram leses extremamente graves (como queimaduras ou contuses) e no puderam se defender por no ter um 
sistema de alerta funcionando. Pessoas com esta deficiŠncia morrem mais precocemente em fun€o de mŒltiplas 
leses que possam acometer.
… importante ressaltar que a dor ‚ uma condi€o extremamente complexa. No se trata apenas de uma 
modalidade sensitiva, mas tamb‚m das rea€es reflexas, aprendizado, memoriza€o, respostas emocionais e 
comportamentais frente a uma situa€o dolorosa.
CLASSIFICA‚O DA DOR
A dor pode ser classificada de acordo com a sua disposi€o temporal em aguda e crônica.
 Dor aguda: de extrema import„ncia do ponto de vista biolŽgico, ‚ uma modalidade sensitiva que desempenha, 
entre outros, papel de alerta, comunicando ao sistema nervoso central que algo estƒ errado. Esta modalidade 
praticamente desaparece se a fonte nociceptiva for extinguida e porventura de uma resolu€o do processo 
patolŽgico.
 Dor crônica: ‚ o tipo de dor que persiste por um perˆodo superior ‰quele necessƒrio para a cura de um 
processo mŽrbido ou aquela associada a afec€es cr‹nicas (como c„ncer, atrite reumatŽide, altera€es 
degenerativas da coluna, ou ainda, decorrente da leso do sistema nervoso. No tem qualquer fun€o de 
alerta e determina acentuado estresse, sofrimento e perda na qualidade de vida.
NEUROANATOMIA FUNCIONAL DA DOR
O mecanismo de percep€o e interpreta€o da dor depende de trŠs mecanismos bƒsicos: transdução, 
transmissão e modulação, pertencentes ao componente sensitivo discriminativo da sensa€o dolorosa.
TRANSDUÇÃO
… o mecanismo de ativa€o do nociceptores, fen‹meno que se dƒ pela transforma€o de um estˆmulo nocivo 
(mec„nico, t‚rmico ou quˆmico) em potencial de a€o. Os nociceptores nada mais so que termina€es nervosas livres 
de fibras mielˆnicas finas (A-delta ou III) ou amielˆnicas (C ou IV).
 Fibras Aδ
 Mielˆnicas 
 Transmisso de dor rƒpida
 Via neo-espino tal„mica (do grupo lateral)
 Organiza€o somatotŽpica “dor em pontada”
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 Fibras C
 Amielˆnicas 
 Transmisso de dor lenta (mŒsculos, tendes, vˆsceras) (do grupo medial)
 Via paleoespino-tal„mica 
 Sem localiza€o precisa “dor em queima€o”
Os estˆmulos mec„nicos e t‚rmicos, al‚m de excitarem os nociceptores a eles sensˆveis, podem promover um 
dano tecidual e vascular local, causando a libera€o de uma s‚rie de mediadores quˆmicos como ˆons hidrogŠnio e 
potƒssio, serotonina, histamina, prostaglandinas e subst„ncia P.
Admitindo-se que a dor seja um sinal de alarme, compreende-se que o estˆmulo adequado para provocar dor 
em um tecido ‚ aquele que potencialmente seja capaz de lesƒ-lo. Assim, os nociceptores musculares so mais 
sensˆveis ao estiramento e ‰ contra€o isquŠmica; os articulares, aos processos inflamatŽrios e aos movimentos 
extremos; os viscerais, ‰ distenso, ‰ tra€o, ‰ isquemia; e os tegmentares, a uma variedade de estˆmulos mec„nicos, 
t‚rmicos e quˆmicos, mas no ‰ distenso e ‰ tra€o.
Observa-se ainda que o parŠnquima cerebral, hepƒtico, esplŠnico e pulmonar so praticamente indolores em 
virtude da pouca distribui€o de termina€es nociceptivas. Em contrapartida, o tegumento e o revestimento fibroso do 
sistema nervoso (meninges), dos ossos (periŽsteo), da cavidade abdominal (perit‹nio parietal) e da cavidade torƒcica 
(pleura parietal) so extremamente sensˆveis.
TRANSMISSÃO
A transmisso ‚ o mecanismo que abrange e estuda o conjunto das vias aferentes que levam o impulso gerado 
perifericamente para uma respectiva ƒrea de proje€o no SNC comprometida com o reconhecimento da dor.
As fibras nociceptivas (A-delta e C), oriundas da periferia, constituem os prolongamentos perif‚ricos dos 
neur‹nios pseudo-unipolares situados nos g„nglios espinhais de alguns nervos cranianos (trigŠmeo, principalmente; 
facial; glossofarˆngeo; e vago). Jƒ as provenientes das vˆsceras cursam por nervos auton‹micos simpƒticos (cardˆacos 
m‚dio e inferior, espl„ncnico maior, menor e m‚dio, espl„ncnicos lombares) e parassimpƒticos (vago, glossofarˆngeo e 
espl„ncnicos p‚lvicos – S2, S3 e S4).
Os prolongamentos centrais dos neur‹nios pseudo-unipolares adentram na medula (ou no tronco cerebral) 
sobretudo pela raiz dorsal. Tais ramos terminam fazendo sinapse com neur‹nios localizados na coluna posterior da 
substancia cinzenta da medula. Os ax‹nios destes neur‹nios originam as vias nociceptivas, que podem ser dividias 
nos seguintes grupos: duas filogeneticamente mais recentes, a neoespino-talâmica (constituˆda pelo tracto espino-
tal„mico lateral) e neotrigeminotalâmica (fibras que se originam do nŒcleo do tracto espinhal do trigŠmeo); e outras 
mais antigas, como a paleoespino-talâmica (constituˆda pelo tracto espino-reticular e as fibras retˆculo-tal„micas). 
Todas estas vias fazem conexo com os nŒcleos tal„micos ventrocaudal (ventral pŽsterolateral + ventral 
pŽsteromedial). Do tƒlamo, partem radia€es difusas para todo o cŽrtex cerebral. 
Vale salientar, entretanto, que as vias mais recentes so somatotopicamente organizadas na chamada ƒrea 
somest‚sica primƒria (giro pŽs-central, ƒrea 3, 2 e 1 de Brodmann). Jƒ as vias mais antigas esto relacionadas com o 
aspecto afetivo-motivacional da dor.
MODULAÇÃO
Al‚m das vias e centros responsƒveis pela transmisso da dor, hƒ centros e vias responsƒveis pela 
transmisso da dor, hƒ vƒrias centros e vias responsƒveis por sua supresso. Como exemplo, o modelo denominado 
como Teoria do Portão(das Comportas), proposto por Wall e Melzack. Esta teoria defende o fato de que as 
modalidades sensitivas modulavam a passagem de si mesmas por entre a chamada subst„ncia gelatinosa no porto 
da dor (ƒpice do corno posterior da medula).
Outra regio relacionada com esta modula€o ‚ a subst„ncia cinzenta periaquedutal do mesenc‚falo, 
relacionada com a produ€o na analgesia, a qual ‚ acompanhada por aumento da concentra€o de opiŽides 
endŽgenos no lˆquor.
A estimula€o el‚trica de outras estruturas pode tamb‚m proporcionar o alˆvio da dor. Tal ‚ o caso da 
estimula€o do funˆculo posterior da medula espinhal, lemnisco medial, tƒlamo ventrocaudal, cƒpsula interna, cŽrtex 
somest‚sico e cŽrtex motor.
ASPECTO AFETIVO-MOTIVACIONAL E COGNITIVO-AVALIATIVO DA DOR
At‚ o momento, abordamos a dor como uma forma de sensa€o, ou seja, seu aspecto sensitivo-
discriminativo. Ocorre, por‚m, que a dor no ‚ apenas uma sensa€o. A resposta final a um estˆmulo ƒlgico 
compreende tamb‚m uma s‚rie de rea€es reflexas, emocionais e comportamentais e depende do aprendizado e 
memoriza€o de experiŠncias pr‚vias, do grau de aten€o ou de distra€o, do estado emocional e do processamento e 
integra€o das diversas informa€es sensoriais e cognitivas.
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 Aspecto afetivo-motivacional: este aspecto estƒ relacionado a partir das conexes que as vias nociceptivas 
estabelecem com a forma€o reticular do tronco cerebral, hipotƒlamo, nŒcleos mediais e intralaminares do 
tƒlamo e sistema lˆmbico, estruturas reconhecidamente comprometidas com a regula€o das emo€es e do 
comportamento, incluindo a dimenso afetiva (experiŠncia desagradƒvel, ruim, amedrontadora)-motivacional 
(a€o motivada pela dor, como a rea€o de retirada ou de fuga) da dor.
 Aspecto cognitivo-avaliativo: com o passar dos anos, a dor passa a ser relacionada com certas polaridades 
como prazer/castigo e bom/mau. Da avalia€o e julgamento desses dados, dependerƒ o que o indivˆduo 
considera como dor. Tudo isso sŽ ‚ possˆvel gra€as ‰s vias e estruturas responsƒveis pela dimenso cognitivo-
avaliativa da dor. As informa€es nociceptivas chegam ao cŽrtex somest‚sico e so integradas nas ƒreas 
corticais associativas, sobretudo no neocŽrtex temporal. Assim, a intensidade da dor depende de uma s‚rie de 
fatores: intensidade do estˆmulo ƒlgico, grau da aten€o ou de distra€o, estado emocional, aspectos culturais 
e religiosos, dentro outros.
CLASSIFICA‚O FISIOPATOLƒGICA DA DOR
A dor pode ser classificada em nociceptiva, neuropática, mista e psicogênica.
 Dor nociceptiva: deve-se ‰ ativa€o dos nociceptores e ‰ transmisso dos impulsos aˆ gerados pelas vias 
nociceptivas at‚ regies dos sistema nervoso central onde tais impulsos sero interpretados. So exemplos de 
estˆmulos dolorosos nociceptivos: agresses externas (picadas de um inseto, fratura Žssea, corte da pele), dor 
visceral (cŽlicas, apendicite), a neuralgia do trigŠmeo, etc.
 Dor neuropática: tamb‚m denominada de dor por injúria neural ou dor central. O mecanismo fisiolpatolŽgico 
deste tipo de dor estƒ relacionado com a leso do tracto neoespino-tal„mico ou neotrigeminotal„mico (para a 
dor facial). Outro fato bem definido ‚ que este tipo de dor ‚ gerado dentro do prŽprio sistema nervoso, 
independendo de qualquer estˆmulo externo ou interno. So exemplos de dor neuropƒtica: a dor das 
polineuropatias, dor do membro fantasma, dor por avulso do plexo braquial, a dor pŽs-trauma raquimedular e 
a dor pŽs-AVE.
 Dor mista: ‚ aquela que decorre dos dois mecanismos anteriores. Por exemplo: dor por neoplasias malignas, 
quando se deve tanto ao excessivo estˆmulo dos nociceptores quanto ‰ destrui€o das fibras nociceptivas.
 Dor psicogênica: ‚ um tipo de dor que envolve o aspecto afetivo-motivacional do paciente. Pode ser relatada 
como muito intensa, excruciante, lancinante, incapacitante. A descri€o costuma se expressa na forma 
dramƒtica (“como um canivete introduzindo no corpo”). O exame fˆsico deste tipo de dor no apresenta 
qualquer achado relevante, mas percebe-se um grande inc‹modo quando se pressiona a regio referida. 
Exames complementares, como avalia€es psiquiƒtricas e psicolŽgicas acabam por identificar depresso, 
ansiedade, hipocondria, histeria ou transtorno somatiforme.
TIPOS DE DOR
 Dor somática superficial: ‚ a forma de dor nociceptiva decorrente de estimula€o de nociceptores do 
tegumento. … geralmente bem localizada e decorre usualmente de trauma, queimadura e processo 
inflamatŽrio.
 Dor somática profunda: ‚ a modalidade de dor nociceptiva consequente ‰ ativa€o de nociceptores dos 
mŒsculos, fƒscias, tendes, ligamentos e articula€es. Suas principais causas so: estiramento muscular, 
contra€o muscular isquŠmica, contuso, ruptura tendinosa e ligamentar, sˆndrome miofascial, artrite a artrose.
 Dor vesceral: ‚ a dor nociceptiva decorrente da estimula€o dos nociceptores viscerais. … difusa, de difˆcil 
localiza€o e descrita como um dolorimento ou como uma dor surda, vaga, contˆnua, profunda, tendendo a 
acentuar-se com a solicita€o funcional do Žrgo acometido.
 A dor visceral verdadeira, embora usualmente apresente as caracterˆsticas mencionadas 
anteriormente, tem tendŠncia a se localizar prŽximo ao Žrgo que a origina. Ex: a dor cardˆaca que 
tem localiza€o retroesternal e precordial; a dor esofƒgica ‚ retroesternal ou epigƒstrica; a dor
gastroduodenal localiza-se no epigƒstrio e no hipoc‹ndrio direito; a dor vesical e uretral proximal ‚ 
p‚lvica e no baixo ventre; a dor uterina, no baixo ventre; etc.
 Dor referida pode ser definida como uma sensa€o dolorosa superficial localizada a dist„ncia da 
estrutura profunda (visceral ou somƒtica). A referŠncia da dor obedece ‰ distribui€o metam‚rica. A 
explica€o pra este fen‹meno ‚ a convergŠncia de impulsos dolorosos viscerais e somƒticos para 
neur‹nios nociceptivos comuns localizados no corno dorsal da medula espinhal. Como as vias que 
levam essas informa€es a uma ƒrea de proje€o cortical so praticamente as mesmas, o cŽrtex 
somest‚sico interpreta como sendo originada de uma Œnica regio (que seria a que mais apresenta 
nociceptores). Como a regio que capta a dor somƒtica ‚ muito mais rica em termina€es nervosas 
nociceptivas, os impulsos dolorosos viscerais so referidos para ‰quela ƒrea cujos prolongamentos 
que partem para o sistema nervoso central convergem juntamente aos nervos que conduzem este tipo 
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de estímulo referente à víscera. São exemplos de dor referida: dor na face medial do braço 
(dermátomo de T1) nos pacientes com infarto agudo do miocárdio; dor epigástrica ou periumbilical 
(dermátomos de T6 a T10) na apendicite; dor no ombro direito (dermátomo de C4) nos indivíduos com 
doença do diafragma ou da própria vesícula biliar (cujas afecções seguem pelo nervo frênico).
 Dor irradiada: é a dor sentida a distância de sua origem, porém, obrigatoriamente em estruturas inervadas 
pela raiz nervosa ou nervo cuja estimulação nóxica é responsável pela dor. Ex: isquiatalgia.
CARACTER„STICAS SEMIOLƒGICAS DA DOR
Todo paciente deve ser sistematicamente avaliado, levando-se em consideração as características 
semiológicas da dor: localização, irradiação, quantidade ou caráter, intensidade, duração, evolução, relação com 
funções orgânicas, fatores de desencadeantes ou agravantes e manifestações concomitantes.
LOCALIZAÇÃO
Refere-se a região em que o paciente reclama a dor. A localização da dor é de extrema importância para a 
determinação de sua etiologia. Deve-se solicitar ao paciente que aponte com um dedo a área em que sente a dor, área 
essa deve ser anotada utilizando-se a nomenclatura das regiões da superfície corporal.
Também é relevante a avaliação da sensibilidade na área de distribuição da dor e adjacências. A presença de 
hipoestesia é evocativa de dor neuropática,sobretudo se houver um componente descrito como em queimação ou 
formigamento.
Vale a pena lembrar que a dor somática superficial tende a ser mais localizada, enquanto a dor somática 
profunda e a dor visceral, bem como a dor neuropática, tendem a ser mais difusas.
IRRADIAÇÃO
A dor pode ser localizada, irradiada (seguindo o trajeto de uma raiz nervosa ou nervo conhecido) ou referida. 
Os aspectos das principais dores irradiadas são os seguintes:
 Radiculopatia de S1: dor lombar com irradiação para a nádega e face posterior da coxa (N. cutâneo posterior 
da coxa  S1, S2 e S3) e perna (N. sural  ramo do N. isquiático  L4, L5, S1, S2 e S3), até a região do 
calcanhar.
 Radiculopatia de L5: dor lombar com irradiação para a nádega e face pósterolateral da coxa (N. cutâneo lateral 
da coxa e perna, até a região maleolar lateral.
 Radiculopatia de L4: dor lombar com irradiação para a virilha, face anterior da coxa e borda anterior da canela, 
até a região maleolar medial.
 Radiculopatia de L1: dor dorsal na transição toracolombar, com irradiação anterior e inferior para a virilha.
 Radiculopatia de T4: dor dorsal com irradiação anterior, passando pela escápula, para a área mamilar.
 Radiculopatia de C6: dor cervical com irradiação para a face lateral do braço e antebraço.
Os principais aspectos para a dor referida são:
 Apêndice: dor epigástrica;
 Vesícula, fígado: dor na escápula e no ombro;
 Ureter: dor na virilha e genitália externa;
 Coração: dor na face medial do braço.
QUALIDADE OU CARÁTER 
Para se definir a qualidade ou caráter da dor, o paciente é solicitado a descrever como a sua dor se parece ou 
eu tipo de sensação e emoção ela lhe traz. Vários termos técnicos são utilizados para descrever a qualidade da dor:
 Dor evocada: só ocorre mediante a provocação do estímulo.
 Alodínia: sensação desagradável e dolorosa provocada por estimulação tátil em área com limiar aumentado e 
excitabilidade (um mero toque com um algodão pode ser algo pertubador).
 Hiperpatia: sensação desagradável, mais dolorosa que a usual.
 Hiperalgesia: resposta exagerada aos estímulos aplicados em uma região que se apresenta com limiar de 
excitabilidade reduzido.
 Dor espontânea: provocada espontaneamente.
 Dor constante: é aquele cuja intensidade varia, mais nunca desaparece completamente.
 Dor intermitente: ocorre episodicamente.
 Dor pulsátil: episódios de dores regulares com intervalos curtos.
INTENSIDADE
Componente extremamente relevante da dor, sendo o de maior importância para o paciente. Esta intensidade 
pode ser avaliada pelos seguintes critérios:
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 Escalas com expresses verbais: SEM DOR – DOR LEVE – DOR MODERADA – DOR INTENSA – DOR 
INSUPORT‘VEL
 Escala analŽgica visual (para o adulto): linha reta com um comprimento de 10 cm e numerada de acordo. A 
escala varia de designa€es como sem dor (seria o ‘0’ da escala) a dor insuportável ou pior imaginável (seria o 
‘10’ da escala).
 Escalas de representa€o grƒfica no num‚rica (para crian€as, idosos e adultos com baixo nˆvel cultural): uso 
de expresses faciais de sofrimento que evolui para expresses felizes.
DURAÇÃO
Determina-se com a mƒxima preciso possˆvel a data de inˆcio da dor. Em se tratando de uma dor contínua, a 
dura€o da dor ‚ o tempo transcorrido entre seu inˆcio e o momento da anamnese. No caso de uma dor cíclica, 
interessa registrar a data e a dura€o de cada episŽdio doloroso. Se a dor ‚ intermitente, deve-se anotar o inˆcio dos 
sintomas e a dura€o m‚dia dos episŽdios dolorosos e de crises por dia.
Dependendo de sua dura€o, a dor pode ser classificada em aguda (dura€o inferior a 3 meses) e crônica 
(superior a 3 meses). Ainda existe uma terceira classifica€o: a dor recorrente, que apresenta perˆodos de curta 
dura€o que, no entanto, se repetem com freq”Šncia, podendo ocorrer durante toda a vida do indivˆduo, mesmo sem 
estar associada a um processo especˆfico. Um exemplo clƒssico deste tipo de dor ‚ a enxaqueca.
EVOLUÇÃO
Trata-se de uma caracterˆstica semiolŽgica de extrema relev„ncia. Ela nos revela toda a trajetŽria da dor, 
desde o seu inˆcio at‚ o momento da anamnese. O no reconhecimento da forma inicial de apresenta€o e a evolu€o 
da dor torna o diagnŽstico extremamente difˆcil. Deve-se adotar a seguinte sequŠncia de fatos:
MODO DE INSTALA•–O (dor sŒbita, em cŽlica, etc)  CONCOMIT—NCIA DO FATOR CAUSAL E O IN˜CIO DA DOR 
 POSS˜VEIS MODIFICA•™ES  CARACTER˜STICAS ATUAIS
RELAÇÃO COM FUNÇÔES ORGÂNICAS
A rela€o da dor com as fun€es org„nicas ‚ avaliada considerando-se a localiza€o da dor e os Žrgos e 
estruturas situados na mesma ƒrea.
 Dor cervical, dorsal ou lombar  pesquisa-se movimentos da coluna
 Dor torƒcica  movimentos respiratŽrios, tosse, espirro, etc
 Dor periumbilical  com a ingesto de alimentos
 Dor retroesternal  com a degluti€o
 Dor no hipoc‹ndrio direito  com a ingesto de alimentos gordurosos
 Dor no baixo ventre  com a mic€o, evacua€o ou menstrua€o.
 Dor nos membros inferiores  deambula€o
OBS: Regra geral: a dor ‚ acentuada pela solicita€o funcional da estrutura em que ela se origina.
FATORES DESENCADEANTES OU AGRAVANTES
So aqueles fatores que desencadeiam a dor (quando esta estiver ausente) ou a agravam (quando jƒ 
instalada). Como exemplos, temos:
 Na gastrite e Œlcera p‚ptica: Fun€es org„nicas; Alimentos ƒcidos e picantes; Bebidas alcoŽlicas;
 Nas doen€as biliares: alimentos gordurosos
 Enxaquecas: barulho, chocolate, queijo, vinhos, luminosidade excessiva, estresse.
 Na meningite subaracnŽidea: na flexo da nuca
 Neuralgia do trigŠmeo: lavar o rosto, escovar os dentes, conversar, mastigar
 Dor neuropƒtica: estresse, barulho, mudan€as climƒticas, atividade fˆsica.
FATORES ATENUANTES
So aqueles que aliviam a dor. Como exemplo, temos:
 Posturas ou atitudes de decŒbito: dores viscerais induzem o paciente a realizar presso no Žrgo acometido e 
curvar-se para diminuir a presso abdominal
 Distra€o
 Ambientes apropriados
 Medicamentos (analg‚sicos opiŽides e no-opiŽides, antiinflamatŽrios hormonais e no-hormonais, relaxantes 
musculares, antidepressivos, anest‚sicos locais, etc) 
 Repouso (para dores musculares)
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MANIFESTAÇÕES CONCOMITANTES
A dor aguda, nociceptiva, sobretudo quando intensa, costuma acompanhar-se de manifestações 
neurovegetativas que se devem a estimulação do sistema nervoso autônomo pelos impulsos dolorosos:
 Palidez, sudorese, taquicardia, hipertensão arterial, mal-estar, náuseas e vômitos.

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