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Verde patológico_a vegetação nos diversos processos de degradação da cidade


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verde 
patológico
a vegetação nos diversos
processos de degradação da cidade
 ensaio teórico/fau-unb - 1/2014
matheus maramaldo andrade silva
orientadora: flaviana lira barreto
“As florestas, os caniçais, os 
juncais
densos e as ervas altas podem
esconder o inimigo.”
Sun Tzu
Ninguém gosta de ervas 
daninhas. Elas são invasoras 
indomáveis que destroem com 
perfeição todo um trabalho 
refinado de topiaria. Que dirá de 
tua esquina, rua, casa... de tua 
rotina.
Um jardineiro ou doce 
senhora falaria que, mesmo assim, 
melhor seria se todos os dentes de 
leão da terra germinassem nas 
pradarias das mansões e dos 
terrenos baldios, e com um sopro 
de vento espalhassem vida e 
plumagem pelo cotidiano. 
Bem sei como queria isto... 
mas somente as novas heras e 
formigas poderão responder...
 
a vegetação nos diversos 
processos de degradação da cidade 
 
ensaio teórico/fau-unb, 1º/2014 
matheus maramaldo andrade silva 
orientadora: flaviana barreto lira 
verde 
 
 
Maramaldo Andrade Silva, Matheus, 1991 
 
Verde Patológico: A vegetação nos diversos processo 
de degradação da cidade/ Matheus Maramaldo Andrade Silva – 
10/0017916/ Ensaio Teórico/FAU - UnB – Brasília, 1º semestre de 2014. 
 
 
 
 
1. Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diagramação: Matheus Maramaldo Andrade Silva 
Arte da capa: Matheus Maramaldo Andrade Silva 
Ilustrações: Matheus Maramaldo Andrade Silva 
Revisão: Profa. Flaviana Barreto Lira (FAU-UnB) 
Orientação: Profa. Flaviana B. Lira (FAU-UnB) 
Coorientação e/ou Banca Examinadora: 
Profa. Giuliana de Brito Sousa (FAU-UnB) 
Profa. Juliana Saiter Garrocho (FAU-UnB) 
Impressão: Copiadora Planalto (CLN 407 BL B - loja 
37, Brasília, DF, CEP: 70855-520) 
 
 
 
“As moitas e capões de mato onde 
viviam seres misteriosos tinham sido violados. ” 
Graciliano Ramos 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
A Deus por ter concedido saúde e espírito para encarar toda esta, e 
tantas outras, empreitadas. 
 
Aos meus pais, Maria Arlete e Eurisvaldo, por todo o carinho e apoio, 
durante os dias de trabalho e durante toda a jornada da vida. 
 
A Jéssica e sua família, pelo carinho e apoio incondicional nestes 
últimos anos. 
 
A minha orientadora, Dra. Flaviana Barreto Lira, pessoa exemplar que, 
mesmo não sendo da área de Paisagismo, nunca desperseverou, e 
sempre me ajudou com a metodologia, revisão e apoio. 
 
As minhas professoras de Paisagismo, as quais fui monitor e que 
compõem a banca avaliadora, Juliana Saiter e Giuliana de Brito 
Sousa, pelos textos, monitoria, suporte técnico e amizade. 
 
A todos que contribuíram, de forma direta ou não, com este trabalho, 
com apoio, amizade e crítica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
sumário 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. apresentação pág. 11 
2. introdução: quando as heras abrem o 
concreto 
pág. 15 
3. a vegetação: xilema, floema... e raiz pág. 33 
4. verde urbano: urbe gramada pág. 49 
5. metodologia de análise: conversando com as 
mangueiras 
pág. 81 
6. as diversas fitopatologias na cidade: 
oleandros, gameleiras e desgaste 
pág. 113 
7. diagnóstico: sementes iguais, árvores 
diferentes 
pág. 239 
9. considerações finais pág. 287 
10. índice de imagens pág. 297 
11. índice de mapas pág. 309 
12. índice de tabelas pág. 313 
 
 
13. bibliografia pág. 317 
14. anexos pág. 337 
15. glossário pág. 381 
 
 
apresentação
 
 
 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
13 
Olá, Leitor, 
 
O que está prestes a ler aqui certamente não são 
minhas memórias ou algum ensaio balizado em fontes 
inesgotáveis, mas um enredo pouco jocoso de minha paixão 
travado por pesquisas árduas. 
Não que eu seja algum Dom Quixote, que enxerga mal 
os moinhos da vida, - suponho que tenha sido sua primeira 
impressão ao ler o título do texto – estou são, o bastante 
como poderão ver a seguir. 
Peço que também não me olhem achando que sou 
algum cidadão que odeia a flora, estou muito longe disto, 
senhores, e os colaboradores desta minha empreitada e 
minha orientadora poderão confirmar isso. 
As plantas são mais que uma obsessão machadiana 
para mim, são um motivo de investigação constante e 
prazeroso deleite. 
Mesmo parecendo torpe a denominação deste texto, 
verás que tenho certa razão. A cada capítulo e linha, verás o 
que as vinhas da ira podem fazer desde pequenas, mesmo se 
mostrando macias no primeiro contato. 
Este ensaio, desenvolvido no âmbito da disciplina 
obrigatória de Ensaio Teórico em Arquitetura e Urbanismo, 
 
 
14 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
nada nada mais é do que um manifesto ao bom senso da 
produção urbana, um pedido chato, mas necessário para o 
fomento da vegetação nas cidades, a vegetação que tanto 
amo. 
Plantar algo fora de casa é algo muito sério e que 
incorre a erros faraônicos, por vezes pela nossa própria 
inexperiência ou mediocridade. Quem nunca se orgulhou de 
plantar uma árvore? Eu mesmo já fiquei todo bobo ao plantar 
um pé de feijão, quem dirá uma frondosa espécie arbórea. 
Mas um dia o abacate que sairia daquele abacateiro não 
poderia machucar alguém ao cair? A vegetação pode ser 
uma caixinha de surpresas – inclusive uma caixinha de 
Pandora, não se esqueça disto. 
Faço aqui valer então minhas palavras, mesmo que em 
terceira pessoa, ócios do ofício, sabendo que esta é 
demasiada científica para se tratar de algo tão belo. Mas 
espero que a linguagem pouco vulgar do meio acadêmico 
não esconda a principal mensagem do texto: não plante 
nada somente pelo código de barras; confira as informações 
nutricionais, a credibilidade da marca, o fornecedor e vá até 
a validade. 
 
Matheus Maramaldo, 2014 
 
 
 
 
 
 
introdução 
 
quando as heras abrem o concreto 
introdução
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 17 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
 
“... e emolduradas por uma 
larga cinta densamente arborizada...” 
Lúcio Costa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Matheus Maramaldo Andrade Silva 
O verde1... como aferir e classificar isso? Seriam as 
árvores sombreando as áreas antes ensolaradas, os jardins 
enfeitados e bucólicos que estão em nossas casas ou o tilintar 
majestoso dos pássaros sobre as galhadas que é o verde? 
Quando se trata de vegetação logo associamos nossa 
visão à natureza e a um bucolismo sereno que muito se 
assemelha às falas do iluminismo francês. Fulgeri (2003) resume 
este pensamento nesta interpretação de Rousseau: 
 
[...] a civilização e a sociedade corrompem o homem, é 
necessário recorrer ao sentimento, voltar à natureza que é boa. 
Rousseau entende a natureza como sendo o estado primitivo, 
originário da humanidade, isto é, entende-a no sentido espiritual, 
como espontaneidade, liberdade contra todo vínculo antinatural e 
toda escravidão artificial. Segundo ele a sociedade impõe ao 
homem uma forma artificial de comportamento que o leva a 
ignorar as necessidades naturais e os deveres humanos, tornando-o 
vaidosoe orgulhoso. O homem primitivo entretanto, por viver de 
acordo com suas necessidades mais legítimas é mais feliz. Ele é 
auto suficiente e satisfaz suas necessidades sem grandes sacrifícios 
daí não sente grandes angústias, através do sentimento inato da 
piedade ele evita fazer o mal desnecessariamente aos demais. 
(FULGERI, 2003, p.6). 
 
1 Os leitores vão ler bastante esta palavra. O verde será sinônimo aqui de vegetação, 
a menos que acompanhado de outros adjetivos que mudem completamente este 
sentido. 
 
 19 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
 
Mesmo sendo um pensamento arcaico, que reluz mais 
ao que é próprio da alma humana que à vegetação em si, 
não se pode discordar de sua persistência conosco. A 
natureza, o natural e o verde são coisas que qualificamos 
como boas; a vida no campo é a tradução da paz, da 
serenidade e liberdade; pensa-se que podemos melhorar a 
qualidade de vida das pessoas, principalmente nas cidades, 
ao colocar em prática medidas que nos aproximam dessa 
natureza. 
Isto fica ainda mais claro quando saímos da filosofia e 
do senso comum e ouvimos especialistas que investigam a 
cidade, seja para propor modelos ou para mostrar valores do 
emprego da vegetação nas urbes. Todos os capítulos têm 
algum jardim, algum parque ou alguma árvore que possa 
agregar bons valores ao discurso. 
Veja esta entrevista do renomado paisagista Benedito 
Abbud quanto do lançamento de um dos seus livros: 
 
O verde é fundamental em todas as escalas: dentro de 
casa, numa varanda, em um parque, em pequenas ou grandes 
avenidas. O verde melhora a qualidade ambiental, a umidade 
relativa do ar, ameniza a poluição e as ilhas de calor, já que as 
plantas o absorvem. Além disso, há um efeito psicológico: a 
 
 20 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
natureza é mais agradável de olhar do que o concreto. O verde 
estimula nossos sentidos com cores, flores, aromas, formas, sombras, 
texturas e gostos ... É sabido que uma bela vista sempre foi 
associada à qualidade de vida, sempre foi chique. Uma avenida 
de ipês amarelos dá outra impressão da cidade. (GEROLLA, 2006). 
 
A vegetação é tratada por ele como algo 
extremamente importante e infalível. No início da reportagem, 
o entrevistador ainda é mais enfático: 
 
Em tempos de insegurança social, o paisagista [...] diz ter a 
receita para combater a violência e incentivar o convívio pacífico 
entre as pessoas: usar mais o verde nos espaços públicos. (Id., ibid.). 
 
Mas o leitor pode estar se perguntando: “Mas esta 
entrevista pode ser sensacionalista, o entrevistador já começa 
dizendo que tal coisa é a solução, é uma conversa casual, 
etc.”; e pode ter realmente razão, por mais crédito que se dê 
ao arquiteto. 
Balizando na literatura científica (de paisagismo ou 
ecologia), vejamos se nos manuais essa fala se confirma. 
Waterman (2009) assim emprega o valor das plantas: 
 
As plantas nos dão conforto nas mais diversas formas, além 
de suas qualidades essenciais. As árvores nos proporcionam 
 
 21 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
sombra, barram os ventos fortes, limpam o ar poluído, amenizam as 
temperaturas e enquadram vistas. As plantas também podem ser 
usadas para proteger o solo da erosão, absorver o excesso de água 
que escoa durante as tempestades ou retirar contaminantes do 
solo poluído, entre tantos outros atributos positivos. (WATERMAN, 
2009, p.75). 
 
Esse outro grupo de pesquisadores europeus já 
descreve assim os valores do verde: 
 
As árvores e as florestas são, por causa de mudanças 
sazonais e seu tamanho, forma e cor, os elementos mais 
importantes da natureza urbana. As suas vantagens e utilizações 
variam desde benefícios psicológicos e estéticos intangíveis à 
melhoria do clima urbano e mitigação da poluição do ar. 
Historicamente, os principais benefícios das árvores urbanas e 
florestas se relacionam com a saúde, estética e lazer - benefícios 
em cidades industrializadas. Além disso, áreas verdes têm fornecido 
as pessoas subsistência, fornecendo alimentos, forragem, 
combustível e madeira para construção. (KONIJNENDIJK et al, 2005, 
p. 81, tradução nossa). 
 
 Percebe-se que não se mudou o discurso. 
Esta concepção de vegetação não é só 
compartilhada pelos paisagistas acima e pelos ecologistas, 
ela é fortemente vinculada ao planejamento urbano, 
 
 22 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
extrapolando o conceito individual, de integrante de 
espaços, e conformando-se como o próprio espaço. 
Isto data já de muito tempo (pode-se considerar o 
período que se inicia o sedentarismo da humanidade, criando 
as primeiras polis), mas, como discurso, é mais efusiva a partir 
do pré-urbanismo (séculos XVIII e XIX), em que os modelos já 
procuravam o verde como agregadores de valor e de bem 
estar às ditas utopias: em New Harmony, por exemplo, de 
Robert Owen, os espaços verdes tinham o papel de inibir a 
visão e o cheiro das indústrias mecânicas e matadouros; nas 
propostas de falanstérios de Victor Considérant (discípulo de 
Charles Fourrier), mais do que barreiras, a vegetação já se 
mostrava como área verde necessária para o descanso e 
contemplação em meio à rotina; John Ruskin é direto, 
descrevendo que as casas-tipo da sua proposta deveriam ter 
árvores, grama e flores - em todas as casas do modelo 
(CHOAY, 1965). 
Essa evolução do papel da vegetação no desenho 
urbano viria a se confirmar ainda mais com o século XX: os 
tratados e as experiências se tornavam mais facilmente 
concretos e as vilas, cidades e metrópoles estavam mudando 
mais rapidamente, usando muitas vezes de intenções e 
 
 23 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
normas descritas nesses manuais em um processo quase que 
global. 
Le Corbusier, arquiteto urbanista, foi o maior expoente dessa 
nova ordem (Figura 01), que muito persiste até hoje em nosso 
desenvolvimento urbano. Nas novas vertentes e propostas, o 
solo pertencia ao movimento e ao verde, e não mais às casas 
e aos carros, como descreveria: 
 
O solo não é mais tocado em seu conjunto. O primeiro piso 
fica 3 metros acima do solo, deixando livre o espaço, sob a casa, 
entre pilotis. [...] Desta forma, as coisas estarão novamente na 
escala humana. A natureza foi novamente tomada em 
consideração. A cidade, em lugar de se tornar uma pedreira 
impiedosa, é um grande parque, onde o urbanista distribuirá as 
unidades de habitação de tamanho ideal, verdadeiras 
comunidades verticais. [...] Sol. Espaço. Vegetação. Os imóveis são 
colocados na cidade atrás do rendilhado de árvores. A natureza 
está inscrita no arrendamento. O pacto foi assinado com a 
natureza. (Id., 1976, p. 30 e 50). 
 
Seja conforme o pensamento rousseauniano e popular, 
do início do texto, ou advindo de pesquisas, teorias e 
vanguardas, essa é a conjuntura da vegetação aplicada ao 
projeto urbano que temos. Quase sempre se faz uma 
descrição amplamente positiva desta: plantar mudas e 
 
 24 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 01 - Novo modelo de cidade, Le Corbusier (CORBUSIER, Le. 1976, p. 40 
e 41) 
 
 25 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
elementos mais frondosos faz parte de toda a política de 
embelezamento e bem estar das casas e cidades. Os 
manuais nos ensinam o que se deve fazer para aproveitar ao 
máximo as qualidadesdas plantas nos nossos canteiros. 
Mas será mesmo que a vegetação é uma fonte 
inesgotável de prazer e lazer, que traz somente benefícios ao 
homem, como descrevem os ecologistas e tratados das mais 
variadas ordens? 
É delicado falar que as plantas podem ser inimigas das 
populações e das cidades, mas a realidade não é totalmente 
aprazível. 
Já parou para pensar que ao andar pela rua nem 
sempre a calçada é regular ou ao estar dirigindo quase não 
se percebe uma ou outra placa por estar encoberta por 
vegetação? 
Eis ai alguns dos percalços que não são cogitados pela 
literatura e pela população até esbarrar diretamente neles. 
Caso o texto ainda não esteja sendo claro, façamos 
algumas analogias. 
Há algumas centenas de anos, antes mesmo do 
nascimento de Jesus, um guerreiro chinês, que muito escrevia, 
redigiu mais um adentro ao seu livro de estratégias: 
 
 26 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
“As florestas, os caniçais, os juncais densos e as ervas 
altas podem esconder o inimigo.” (TZU, 2008, p.77). 
Quando se para pra pensar nesta frase, é difícil 
imaginar o que ela tem a ver com nossos dias de hoje, mais, o 
que ela pode ter a ver com a cidade e o cotidiano urbano 
de agora. 
Não há florestas, os bambuzais estão restritos às poucas 
fazendas que querem se proteger do vento e as prefeituras 
tentam aparar ao máximo a grama próxima as pistas. 
Contudo, ao ter um olhar mais minucioso sob os percursos que 
diariamente são percorridos por todos nós, sejam calçadas, 
avenidas ou outros caminhos, nota-se que nem sempre o 
translado vegetado é agradável como se imagina, 
chegando por vezes a gerar a percepção de perigo. 
Atendo-se a esta explicação, leia novamente a frase 
de Tzu (2008): 
“As florestas, os caniçais, os juncais densos e as ervas 
altas podem esconder o inimigo.” (Id., 2008, p.77). 
A possibilidade de se transpor para os dias atuais essa 
afirmação, rebatendo-a para os espaços livres públicos das 
nossas cidades, é inquestionável. Um terreno baldio podia 
muito bem representar qualquer um destes habitats e, tendo 
 
 27 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
isto em mente, perceber-se-ia o risco que um mato alto pode 
trazer, escondendo desde escorpiões a punguistas. 
Jane Jacobs, dura crítica do Urbanismo Moderno, dá 
ainda outro exemplo de como o planejamento ruim do verde 
pode trazer malefícios a sociedade: 
 
No East Harlem de Nova York há um conjunto habitacional 
com um gramado retangular bem destacado que se tornou alvo 
da ira dos moradores. Um assistente social que está sempre no 
conjunto ficou abismada com o número de vezes que o gramado 
veio à baila, em geral gratuitamente, pelo que ela podia perceber, 
e com a intensidade com que os moradores o detestavam e 
exigiam que fosse retirado. Quando ela perguntava qual a causa 
disso, a resposta comum era: “Para que serve?”, ou “Quem foi que 
pediu o gramado?” Por fim, certo dia uma moradora mais bem 
articulada que os outros disse o seguinte: “Ninguém se interessou 
em saber o que queríamos quando construíram este lugar. Eles 
demoliram nossas casas e puseram nossos amigos em outro lugar. 
Perto daqui não há um único lugar para tomar café, ou comprar 
um jornal, ou pedir emprestado alguns trocados. Ninguém se 
importou com o que precisávamos. Mas os poderosos vem aqui, 
olham para este gramado e dizem: ‘Que maravilha! Agora os 
pobres tem tudo!’ (JACOBS, 2010, p.14) 
 
 
 
 
 28 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 02 - Não pise à grama? Foto: autor 
 
 29 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
O gramado citado parecia ser pela descrição algo 
exemplarmente polido, mas qual a sua função em meio ao 
contexto em que se encontrava? 
Crendo nisto, vê-se que a vegetação, que está por 
toda a parte, singela ou mais ostensiva, nem sempre dispõe só 
de benefícios aos moradores de uma cidade. Quando não se 
há projeto ou cuidados de manutenção, o natural pode ficar 
fora de controle, ameaçando a saúde, a segurança e até a 
cadeia social de uma urbe. 
E isso é o que não está claro nos textos que tratam de 
vegetação e paisagismo, acadêmicos ou não. Está presente 
o que se deve fazer, mas não o que ou por que não se deve 
fazer, geralmente. 
O que se pretende, então, com este ensaio é avaliar 
em que medida esses maciços vegetais podem trazer 
malefícios ao cotidiano urbano. 
A discussão a ser construída buscará responder a esta 
questão por meio de revisão da literatura, aparentemente 
escassa até o momento, e da elaboração/reunião de 
conceitos e aspectos fitopatológicos nas cidades, que, 
posteriormente, serão organizados na forma de uma 
ferramenta de diagnóstico aplicável a áreas urbanas. Espera-
se, com a ferramenta proposta, contribuir na tomada de 
 
 30 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
decisão projetual para os novos planejamentos de áreas com 
verde2 (Figura 02). 
Para o enfrentamento desta problemática, o estudo se 
estruturará da seguinte forma: 
1. Primeiramente, buscar-se-á elucidar o objeto de 
estudo (vegetação) e seu contexto nas cidades (vegetação 
urbana); 
2. A partir desta conceituação, partir-se-á para 
compreensão e elaboração de um método, analisando e 
ponderando discursos de alguns estudiosos da análise urbana; 
3. Essas pesquisas (de base metodológica), como 
outras fontes ligadas à botânica, jardinagem, geografia física, 
paisagismo e urbanismo, balizarão uma enumeração dos 
possíveis malefícios da vegetação nas cidades (espontânea 
ou por implantação antrópica), as fitopatologias3, e assim 
permitirá seu estudo em campo; 
4. A partir da categorização das fitopatologias, 
será proposta uma ficha de diagnóstico a ser aplicada em 
áreas urbanas. O recorte físico-espacial para aplicação desta 
 
2 Áreas verdes e espaços verdes são conceitos que serão mais explorados no capítulo 
‘Verde Urbano: a urbe gramada’. 
3 Fitopatologia: Aqui foi emprestado este termo da botânica, no qual se refere a 
doenças, deformações e outros problemas que ocorrem nas plantas, invertendo-o e 
o empregando como: plantas causando malefícios a cidade. 
 
 31 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
ferramenta de levantamento será uma superquadra do Plano 
Piloto de Brasília, a SQS 308; 
5. Feito o estudo de campo, os resultados deverão 
ser diversos mapas e tabelas, os quais darão um razoável 
panorama de como são encontradas tais patologias e qual a 
situação da área escolhida em relação a elas; 
6. Por fim, serão brevemente analisadas tais 
estatísticas, o procedimento metodológico proposto e sua 
aplicação, como o processo de estudo como um todo. 
 O intuito é que este trabalho, sirva de base para o 
levantamento do desempenho da vegetal urbana, e, a partir 
dos seus resultados (estatísticos ou não), possa se fazer 
recomendações projetuais para as áreas avaliadas. 
Não é, de forma alguma, um manifesto contra o uso 
das plantas nas urbes, vejam bem, está justamente no 
caminho oposto. Para se ter uma cidade saudável, é 
necessário ter maciços de árvores, forrações e arbustos, mas 
em equilíbrio, pensando nas demandas e necessidade, nas 
aplicações e usos, de forma agregadora e sem prejuízos para 
malha.xilema, floema... e raiz 
a vegetação 
 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
” No momento em que senti vontade 
de exprimir-me dentro da ordem 
estética, só tinha à minha disposição 
um único material: a planta.” 
Arnaud Maurières 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
35 
 Poder-se-ia dizer aqui que vegetação é simplesmente 
um “conjunto de plantas que povoam uma área 
determinada”4, porém, mesmo o presente texto tendo o 
intuito de ser científico e o mais austero possível nesta 
posição, falar sobre plantas não é um processo cartesiano. 
Vejam, basta ler os próprios nomes científicos que nos 
são apresentados: Plumbago auriculata, Schefflera arborícola, 
Yucca gigantea, Callisia fragans... e tantos outros; estas 
denominações estão carregadas de emoções e impressões 
retidas nas íris, tez e brônquios dos mais diversos 
pesquisadores. Estes cientistas foram até as florestas mais 
fechadas e distantes coletá-las, mas, mesmo com todos os 
seus manuais e congressos, ainda assim nomeiam as flores por 
características subjetivas. 
 A vegetação é epidêmica, tem diversas cores, formas 
e tamanhos, e encanta-nos, sendo impossível tratar como um 
algoritmo ou um pedaço genético que se repete durante as 
gerações. 
Hoje não a tratamos mais como mero exemplar do 
quintal ou como alimento do dia-a-dia. Essa é o centro, direto 
ou indireto, de quase todas as discussões: está nas pesquisas e 
 
4 MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo-SP: Editora 
Melhoramentos, 1998. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
36 
colheitas da agricultura, chegando a nossas casas como 
material de construção, tendo em forma de florestas tropicais 
zelo para as futuras gerações ou servindo como pretexto para 
as mais diversas falas acerca de sustentabilidade. 
O entendimento do verde (mas também azul, 
vermelho, violeta...) é tão complexo que interage inclusive 
com nossas cidades. 
Nossas cidades? Sim, nossas cidades. 
Por vezes achamos que as urbes em que moramos são 
“selvas de pedra”, e não se pode tirar a razão, pois o que se 
enxerga é quase que exclusivamente prédios, cimento e 
carros. Porém, mesmo que imperceptível, devido a rotina 
urbana, o vegetal também está nela inserido, por menores ou 
maiores que sejam seus elementos. 
Podem as plantas estar menos presentes, se 
escondendo atrás de uma única árvore na rua ou podem 
estar exuberantes em grandes extensões ajardinadas, o que 
importa é que estão lá. 
Visto isso, este balanço tende agora a parecer mais 
sensato. É chegada, portanto, a hora de aprofundar seus 
elementos. 
 
 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
37 
O Reino Plantae para carpinteiros e jardineiros: 
 
Parece básico e elementar definir este campo: plantas 
são plantas, abobrinha é um vegetal, cenoura é um vegetal, 
mangueira é uma planta. Porém, mais do que saber seus 
nomes ou saber se é uma planta ou uma pedra, por exemplo, 
é necessário ter conhecimento das tipologias em que estão 
classificadas, em chaves mais diversas do que a simples 
diferenciação entre vegetais, animais e minerais. 
Equalizemos, portanto, o que vem a ser planta: 
Segundo Raven et al (1992): 
 
As plantas verdes incluem um amplo conjunto de 
organismos fotossintéticos que contém clorofilas a e b, são capazes 
de armazenar seus produtos fotossintéticos como amido dentro de 
uma membrana dupla de cloroplastos que o produz, e têm paredes 
celulares feitas de celulose (RAVEN, 1992, sem página, tradução 
nossa). 
 
Esta já é uma definição mais abrangente do que a lida 
no dicionário, auxiliando-nos a abrir mais nossa visão. Todos os 
seres que se encaixarem nesta descrição são plantas, o que 
irá incluir, para surpresa de muitos, várias algas e musgos. 
Munidos desta informação, classifiquemos: 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
38 
Primeiramente, mais do que se agruparem em florestas, 
restingas e matas, a vegetação obedece a uma ordem de 
hábito5 - para os paisagistas, estratos. 
 
Para Salviati (1993), divide-se a vegetação em (Figura 
03): 
- Plantas arbóreas: 
Normalmente acima de 5 metros de altura, com caule 
autoportante, base única6 - árvores, palmeiras e coníferas7. 
- Plantas arbustivas: 
Normalmente abaixo de 5 metros de altura, com caule 
autoportante, base múltipla e resistência ao menos parcial. 
- Trepadeiras: 
Plantas sem caule autoportante que crescem sobre 
suporte. 
- Plantas herbáceas: 
Normalmente abaixo de 1 metro de altura, com caule 
não resistente e herbáceo – herbáceas, forrações e pisos 
vegetais. 
 
 
5 Hábito, no campo da botânica, trata do porte e sustentação da planta. 
6 Há várias palmeiras com caule múltiplo. 
7 Coníferas: Pinheiros, araucárias, cedros. Não estão incluídas gimnospermas menores, 
como as cicas.
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
39 
Há outras que não se encaixam nas descrições, 
flutuando nas classificações, como bananeiras e sagus. 
 
 Mais do que estilos, que variam com culturas, há jardins 
e jardins8 para grupos de vegetação. As plantas se 
enquadram em xerófitas (Figura 04) (que aguentam bem 
longos períodos de estiagem), ombrófilas (que preferem 
regimes mais constantes de chuva) (Figura 05), heliófilas e 
umbrófilas (que respondem melhor à maior ou menor 
luminosidade, respectivamente), aquáticas, epífitas, brejeiras 
e que se adaptam tanto ao regime de chuvas quanto a seca. 
Vejam que estas se encaixam nos quesitos de água, sol e solo. 
 
Já para Gonçalves e Lorenzi (2011), botânicos, a 
vegetação pode ser dividida em diversos graus, os quais se 
pode encaixar também o hábito. 
O primeiro deles é o evolutivo, dividindo as plantas em 
algas, briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas9 
(Figura 06). 
 
8 Como se verá mais à frente no texto, escolher por um tipo de planta ou jardim tem 
várias consequências. Jardins áridos, por exemplo, são uma ótima forma de 
economizar água e manutenção, mas incorrem em diversos prejuízos sociológicos e 
físicos se mal planejado. 
9 Resumo geral da classificação botânica. Estes conjuntos são fortemente divididos e 
complexos, sendo até equivocado chama-los assim, mas, pela noção popular, deve-
se por aqui esta classificação. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
40 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 03 - Os estratos da vegetação. Desenho: autor. 
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verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Matheus Maramaldo Andrade Silva 
42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 04 – Piteira do Caribe (Agave vivípara L.), exemplo de planta xerófita 
e heliófila. Foto: autor.verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 05 – Orelha de Elefante Gigante (Alocasia macrorrhizos (L.) G.Don), 
planta ombrófila e umbrófila. Foto: autor. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
44 
Isto definirá presença de flores, ciclo de reprodução, 
tamanho, necessidade de água, informações imprescindíveis 
para um planejamento paisagístico. 
O segundo é a lenhosidade e ramificação, ou seja, a 
resistência e composição do caule junto a sua divisão junto 
da base. Plantas sem lenho são consideradas ervas, as que 
não se auto sustentam são lianas, as que possuem 
lenhosidade e são ramificadas na base são arbustos e as 
lenhosas e de caule único são árvores. Dadas estas formas de 
crescimento, há, claro, exceções, mistos dessas composições, 
caso de palmeiras e subarbustos10. 
Outra variação, que será importante, como veremos 
mais à frente, é quanto à forma de sobrevivência das plantas. 
Elas podem ser autótrofas (produzem seu próprio alimento), 
hemiparasitas (praticam fotossíntese, mas suga água da 
planta parasitada), parasitas (não praticam fotossíntese e 
dependem de todos os nutrientes da planta parasitada) e 
saprófitas (dependem de matéria orgânica do solo ou de 
cima do seu suporte, fazendo pouca ou nenhuma fotossíntese 
– não invadem os canais das plantas próximas). 
 
10 Subarbustos são plantas mais baixas, com até 1 metro de altura, com base lenhosa 
e restante herbáceo. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
45 
Há ainda outros graus de divisão, segundo os 
botânicos, do Reino Plantae, mas que aqui não são 
convenientes. 
A vegetação então, visto isso, pode se constituir em 
uma árvore bem alta, com mais de cem metros de altura, ou 
um arbusto de cinquenta centímetros; ter plantas de folhas 
largas e abundantes por todo o caule ou desprovidas disto; 
habitar o deserto ou estar somente em cima de uma árvore 
específica da Amazônia; ser aquela despercebida área verde 
– totalmente adaptável e com características das mais 
diversas possíveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 06 – Cladograma das Plantas (dados: RAVEN, 1992). Desenho: autor. 
Algas Ancestrais 
(Provavelmente Clorófitas) 
Pteridófitas** 
(Licófitas, Equisetos, Psilotos, Samambaias e 
Samambaiaçus) 
Briófitas* 
(Musgos, Hepáticas e Antóceros)
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verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
47 
 Gimnospermas 
(Pinheiros, Ciprestes e Cicas) 
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*Forma didática de condensar as divisões Bryophyta, 
Marchantiophyta e Anthocerotophyta. 
** Forma didática de condensar as divisões Lycophyta 
e Monilophyta. 
Angiospermas 
(Todas as plantas floríferas) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a urbe gramada 
verde urbano
 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Prosseguindo, através do Palácio de Cristal, nossa caminhada em 
direção ao bulevar exterior da cidade, atravessaremos a Quinta 
Avenida, arborizada, como todas as ruas da cidade, ao longo da 
qual – olhando em direção ao Palácio de Cristal – encontramos um 
cinturão de casas bem construídas e levantadas em terreno próprio 
e espaçoso.” 
Ebenezer Howard 
 
 
 
 
 
 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
51 
Descrito um conceito mais amplo – paisagístico, 
geográfico e botânico (p. 34 à 40) - do que viriam ser as 
plantas, cabe agora fazer a seguinte pergunta: onde estará 
este verde que tanto conceituamos em nossas cidades? 
A vegetação é um elemento compositivo quase que 
obrigatório dos espaços livres ao longo do tempo e está 
distribuída de forma variada nas polis do mundo. Diz-se 
caótica, por que mesmo planejada e bem plantada, esta 
não se restringe ao projeto antrópico e se espalha, como no 
meio natural, por todas as áreas, sem restrição de solo e de 
uso. 
Mesmo não sabendo como as plantas se organizam e 
se organizarão nos territórios de São Paulo, Madri ou Xangai, 
ainda assim podemos categorizar as ambiências que elas 
atingem, percorrem e se encontram: de modo análogo aos 
elementos construídos, elas podem estar inseridas em espaços 
livres privados, semi-privados ou públicos urbanos. 
É importante diferenciar onde o verde está nas 
cidades, por que isto implicará em usos completamente 
distintos, e, consequentemente, percepções variadas. 
Ciente disto, antes de passarmos propriamente para 
suas especificidades, o que viria a ser um espaço livre? 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
52 
No âmbito das urbes, segundo a Professora Magnoli 
(2006, p. 202) “o espaço livre é [...] todo espaço (e luz) nas 
áreas urbanas e em seu entorno, não-coberto por edifícios” 
(Figura 07). 
Outra definição, que tem um esforço de esmiuçar mais 
este conceito, é a das Professoras Carneiro e Mesquita (2000), 
que o descrevem como: 
 
Áreas parcialmente edificadas com nula ou mínima 
proporção de elementos construídos e/ou de vegetação [...] ou 
com a presença efetiva de vegetação [...] com funções primordiais 
de circulação, recreação, composição paisagística e de equilíbrio 
ambiental, além de tornarem viável a distribuição e execução dos 
serviços públicos, em geral. São ainda denominados espaços livres, 
áreas incluídas na malha urbana ocupadas por maciços arbóreos 
cultivados, representados pelos quintais residenciais, como também 
pelas atuais áreas de condomínio fechado; áreas remanescentes 
de ecossistemas primitivos – matas, manguezais, lagoas, restingas, 
etc – além de praias fluviais e marítimas. (CARNEIRO e MESQUITA, 
2000, p.2). 
 
Caso haja vegetação, o enfoque desta pesquisa, esses 
ainda podem ser classificados como áreas verdes ou espaços 
verdes. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
53 
Estes conceitos são complexos, pois há bastante 
divergências do ponto de vista das definições (BENINI, 
MARTIN, 2010, p.66), principalmente na escala de 
abrangência (calçadas arborizadas são ou não áreas verdes, 
por exemplo?). Dentre os vários autores que refletem sobre 
esses dois termos, aqui serão reportados os conceitos dados 
pelos pesquisadores Macedo e Lima et. al. 
O primeiro define espaços verdes como: 
 
Toda área urbana ou porção do território ocupada por 
qualquer tipo de vegetação e que tenham um valor social. Neles 
estão contidos bosques, campos, matas, jardins, alguns tipos de 
praças e parques, etc, enquanto que terrenos devolutos e quetais 
não são necessariamente incluídos neste rol. (MACEDO, 1995, p. 16). 
 
E áreas verdes como: 
 
[...] aos mesmos elementos referenciados anteriormente e 
ainda [...] toda e qualquer área onde por um motivo qualquer 
exista .vegetação. (MACEDO, 1995, p. 16 e 17) 
 
No caso de Lima et. al. (1994) áreas verdes se 
encaixam mais na definiçãode espaços verdes de Macedo: 
 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 07 – Espaços livres, Áreas Verdes. Desenho: autor. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
56 
Onde há o predomínio de vegetação arbórea; engloba as 
praças, os jardins públicos e os parques urbanos. Os canteiros 
centrais e trevos de vias públicas, que têm apenas funções estética 
e ecológica, devem, também, conceituar-se como Área Verde. 
Entretanto, as árvores que acompanham o leito das vias públicas, 
não devem ser consideradas como tal. (LIMA et. al., 1994, p.10). 
 
Conhecendo estas definições, já é possível esboçar 
exemplos práticos de onde encontramos o verde em nossas 
cidades. 
O primeiro tipo de espaço livre que podemos encontrar 
vegetação em nossas polis é o privado (Figura 08). 
Segundo a Professora Leitão (2002, p.18 à 20), seria “o 
qual, por definição, acolhe poucos [...] de acessibilidade 
restrita a determinados grupos claramente definidos.” 
 
São áreas verdes11 normalmente associados a jardins 
residenciais, comerciais e institucionais fechados, formando 
lagos, hortas, maciços, paredes verdes e gramados. Apesar 
de estarem inseridos dentro da cidade e poderem conter 
todos os tipos de plantas, tais locais não permitem a qualquer 
usuário o usufruto. A vegetação que aí se encontra, portanto, 
influi menos no aporte do conjunto urbanístico, embora 
 
11 Adotaremos principalmente a definição de Macedo (1995). 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 08 – Espaço livre privado. Desenho: autor. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
58 
contribua com uma porcentagem da drenagem e, caso haja 
transparência, com paisagens diferenciadas aos não 
convidados. 
 
Já o espaço livre semi-privado12 é um pouco mais 
democrático. 
Esta expressão - espaço livre semi-privado - pode ao 
mesmo tempo assumir a significação de espaço coletivo 
privado, em que “proporciona um determinado tipo de 
encontro e convivência, mas ainda entre pessoas de uma 
determinada camada social” (LEITÃO, 2002, p.18 à 20), (Figura 
09.1), como também ser um vestígio ou sobressalência do 
espaço privado (Figura 09.2). 
Na primeira significação (Tipo 1) (Figura 09.1), tem-se 
assim incluídos, por exemplo, shoppings centers, hospitais, 
museus e instituições abertas, supermercados e feiras, 
ambientes nos quais a vegetação projetada em forma de 
jardins, gramados, hortas, lagos e paredes verdes estará 
acessível a todos, embora não sejam áreas definitivamente 
públicas, nem estejam abertas todo o tempo – determinados 
grupos sociais se sentirão inibidos ao entrarem em alguns 
desses locais, à princípio. 
 
12 Ou potencialmente coletivo, segundo Lima et. al. (1994). 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
59 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 09.1 – Espaço livre semi-privado – Tipo 1. Desenho: autor. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
60 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 09.2 – Espaço livre semi-privado – Tipo 2. Desenho: autor. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
61 
Há ainda que se destacar que os jardins dos espaços 
livres privados podem interferir mais do que com a simples 
mudança na paisagem, dialogando também com o plano 
público. Este é outro tipo de espaço livre semi-privado (Tipo 2) 
(Figura 09.2). 
Essa significação pode englobar, dentre outros casos, 
áreas muradas com cercas-vivas (pois espinheiros e paredes 
arbustivas mudam drasticamente a forma de andar em uma 
calçada) ou locais com árvores de copa ou raízes extensas, 
que ultrapassam o limite do lote. Apesar de estarem em uma 
delimitação privada, a esfera de interferência dessa 
vegetação ocorrerá de forma decisiva no cotidiano extra 
particular, sendo assim um híbrido de espaço privado que 
impacta diretamente no espaço público. 
Seguindo a ordem, a última categoria de espaço livre 
urbano, no qual estará presente a vegetação, é, para efeito 
deste estudo, a mais importante, pois agregará a maior parte 
das ambiências que aqui serão levantadas: são públicos. 
Os espaços livres públicos são onde a vegetação mais 
intervêm no cotidiano da urbe. Isto se explica pelo fato deles 
serem de “uso comum, acessível a todos, em que estão 
registrados os fatos urbanos que constituem a cidade.” 
(LEITÃO, 2002, p.18 à 20) (Figura 10). 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
62 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 10 – Os espaços livres públicos. Desenho: autor. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
63 
Constituem estes tipos de espaços livres: os passeios, os 
estacionamentos, as ruas e avenidas, as ciclovias, as orlas, os 
lagos e lagoas, as praças, os parques, os becos, os largos, os 
pátios, os gramados e os jardins coletivos13, sendo todos 
passíveis de ter vegetação. 
Tendo elementos vegetais, estes ambientes ainda 
poderão ser classificados como áreas verdes de domínio 
público (similar aos espaços verdes, segundo Macedo (1995)) 
ou áreas com verde de domínio público (similar ao verde 
residual e ao verde viário, segundo Lima et. al. (1994) – 
apropriando espaços sem função social ou acompanhando 
ruas e avenidas, por exemplo, em que a vegetação é 
secundária). 
As áreas verdes de domínio público são todas aquelas 
áreas com predominância de elementos arbóreos ou 
 
espaços [...] que desempenhem função ecológica, paisagística e 
recreativa, propiciando a melhoria da qualidade estética, funcional 
e ambiental da cidade, sendo dotado de vegetação e espaços 
livres de impermeabilização” (CONAMA, 2006, p. 150 e 151). 
 
 
13 Estes espaços podem ser ainda divididos em: espaços de circulação, recreativos e 
de equilíbrio ambiental, segundo as autoras, mas isto aqui implicaria em aumentar a 
abrangência para áreas diferenciadas, como campi universitários, cemitérios, jardins 
botânicos. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
64 
Englobam: 
 
 
▫ Parques: 
Pode-se dizer que parque “é uma área verde com 
função ecológica, estética e de lazer, no entanto, com uma 
extensão maior que as praças e jardins públicos.” (MINISTÉRIO 
DO MEIO AMBIENTE, 2014). 
Estes espaços são normalmente compostos por todo 
tipo de vegetação e possuem microparcelas semelhantes a 
praças e jardins devido a sua extensão (Figura 11). 
Podem também ser hortos, jardins botânicos e reservas 
florestais, tomando-se o cuidado de analisar se são 
macroparcelas independentes da urbe.Figura 11 – Parque da Cidade, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Foto: 
autor. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
65 
▫ Praças14: 
São espaços públicos os quais são desempenhados 
diversos usos. Essas áreas são facilmente mutáveis e possuem 
representatividade alterada tanto pelas edificações próximas 
quanto pelo simbolismo próprio (Figura 12). 
Por definição é “logradouro público constituído de 
área arredondada, quadrada etc. com arborização e 
ajardinamento [...], cortada de vias e alamedas para 
circulação de pedestres.” (SILVA, 2008, p. 203). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 12 – Praça Dom Pedro II, São Luís, Maranhão, Brasil. Foto: autor. 
 
14 Para efeito de pesquisa, estenderemos o termo para largos e rossios também. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
66 
Nestas, desempenham-se as funções de estar, lazer, 
esportes, descanso, contemplação, ecológica, festiva, 
educativa, meramente estética e psicológica (LEITÃO, 2002). 
A vegetação, assim como nos parques é variada, 
podendo ser de todos os tipos de estratos dependendo do 
projeto. 
 
▫ Orlas: 
Mais do que uma margem ou transição entre oceanos, 
rios, lagos, lagoas e o continente, orlas urbanas são áreas nas 
quais há intervenção antrópica e que possuem as funções de 
lazer, esportes, descanso, contemplação e ecológica (Figura 
13). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 13 – Praias Olho d’água, Caolho e Calhau, São Luís, Maranhão, Brasil. 
Foto: autor. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
67 
Normalmente, há palmeiras, árvores e forrações ciliares 
nesses espaços e esses elementos vegetais estão associados 
diretamente com a proteção das praias e bordas – 
segurando aterros, fomentando a drenagem e protegendo as 
cidades da areia e marés excessivas – ou desempenhando 
funções secundárias de embelezamento e/ou sombra. 
 
▫ Jardins Coletivos: 
Áreas ajardinadas públicas com pouco índice de 
impermeabilização não associadas a espaços definidos ou 
vias (Figura 14). 
Desempenham normalmente funções estéticas, de 
contemplação ou educativas e alimentícias – caso de hortas 
– e possuem diversos estratos de vegetação (BENINI, MARTIN, 
2010). 
 
▫ Gramados públicos: 
São áreas públicas projetadas compostas somente por 
gramíneas pisoteáveis e ervas daninhas – raras árvores ou 
arbustos (Figura 15). 
Estes espaços são de uso igual ao de áreas totalmente 
pavimentadas, pois se pode andar por toda sua extensão, 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
68 
desempenhando mais as funções de estar, lazer, esportes, 
descanso e festiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 14 – Horta na Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil. 
Foto: autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 15 – EQN 106/107, Brasília, Distrito Federal, Brasil. Foto: autor. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
69 
▫ Áreas arborizadas informais e cinturões: 
Locais públicos, projetados ou não, que não são 
propriamente parques, terrenos baldios ou vagos, e nos quais 
se pode encontrar árvores, arbustos e forrações (Figura 16). 
Tem importância estética e, dependendo da abertura, 
podem ser usados como gramados públicos com sombra ou 
como áreas de lazer e esporte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 16 – SQN 304, Brasília, Distrito Federal, Brasil. Foto: autor. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
70 
Os outros espaços livres públicos não listados, em que 
existe vegetação, são as áreas com verde de domínio 
público. 
Como descrito na página 52, são os verdes viários, os 
verdes residuais da cidades. Abarcam normalmente locais 
com uma maior taxa de impermeabilização, água ou vazios 
urbanos. Preponderam espaços fortemente pavimentados 
com pontuais inserções de árvores, arbustos e forrações e que 
servem principalmente como meios de circulação ou que 
não estão abarcadas na Lei de Parcelamento de Solo nº 
6.766, 19.12.1979): 
 
▫ Rios, Córregos, Lagos e Lagoas: 
Estes espaços são cursos ou retenções d’água naturais 
ou escavados pelo homem (Figura 17). 
Cada vez mais presentes nas cidades devido à 
expansão urbana, estes locais desempenham funções de 
abastecimento d’água ou alimentício, ecológica, estética ou 
higrotérmica. 
No caso, a vegetação presente nesses espaços é 
aquática ou são árvores e forrações ciliares. 
 
 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
71 
 
▫ Vazios Urbanos: 
Segundo Benini e Martin (2010, p. 66, adaptado), são 
locais que “compreendem as coberturas baixas ou medianas. 
Os lotes vazios, característicos principalmente em áreas 
urbanas de consolidação recente, caracterizam este grupo.” 
(Figura 18). 
São os terrenos baldios, os lotes demarcados para 
edificações e ainda não ocupados. Por desleixo ou por falta 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 17 – Lagoa da Jansen, São Luís, Maranhão, Brasil. Foto: autor. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
72 
de proprietário, é comum a presença de plantas 
resistentes/daninhas, de pequeno a médio porte (arbustos, 
herbáceas, forrações e gramíneas). 
 
Além dos cursos d’água e terrenos não construídos, a 
estrutura viária, em quase todas as escalas (do automóvel, do 
ciclista ou do pedestre), é por vezes composta por espaços 
verdes. 
São exemplos comuns, em que encontramos 
elementos vegetais os seguintes locais: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 18 – Setor N, QNN 12, Ceilândia, Distrito Federal, Brasil. Foto: autor. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
73 
 
▫ Vias expressas, ruas e avenidas: 
Apesar das diferenças de hierarquia e as sinonímias, 
estes espaços aqui serão definidos como espaços 
pavimentados15 os quais suportam as circulações de veículos. 
A vegetação, quando encontrada nesses espaços, 
pode estar ladeando as faixas de rolamentos ou ser central, 
em canteiros. Normalmente constituem o verde das ruas, 
avenidas e vias expressas árvores ou gramíneas, que as 
sombreiam, embelezam, identificam ou somente dividem e 
protegem os espaços. (Figura 19). 
Tecnicamente, calçadas, passeios, ciclovias e 
estacionamentos podem estar inseridos nas caixas das ruas, 
avenidas e vias expressas, mas, por possuírem uma estrutura 
diferente das faixas de rolamento, serão referenciados em 
tópicos próprios. 
 
▫ Calçadas e Passeios: 
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (1997), são 
“parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, 
não destinada à circulação de veículos, reservada ao trânsito 
 
15 Normalmente pavimentados, mas podem incorrer, como em várias cidades do 
interior do Brasil, em ser vias de terra ou areia. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
74 
de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário 
urbano, sinalização, vegetação e outros fins.” 
Os elementos verdes associados a estes locais 
fortemente pavimentados buscam, em princípio, auxiliar e 
proteger os pedestres que a usam (Figura 20). 
Nos espaços reservadosà vegetação – gaiolas, poços, 
recortes e faixas – estão comumente presentes gramíneas e 
árvores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 19 – Av. Hélio Prates, Ceilândia, Distrito Federal, Brasil. Foto: autor. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
75 
 
▫ Canteiros: 
Considera-se canteiro as áreas floridas ou cobertas de 
forrações normalmente associadas a pistas de rolamento 
(Figura 21). 
Com o intuito simbólico, de orientação ou de 
organização do sistema de circulação veicular (podendo 
contribuir com a estética da via), estão comumente em faixas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 20 – Calçada, São José do Ribamar, Maranhão, Brasil. Foto: autor. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
76 
de serviço para colocação de mobiliário urbano ou 
arborização de vias expressas e rotatórias. 
 
▫ Estacionamentos: 
São as áreas, em que se deixam veículos 
provisoriamente16. Estes ambientes são bastante 
pavimentados e quando apresentam vegetação, elas estão 
ligadas à proteção, ao sombreamento dos veículos ou 
paralelamente a pisos mais permeáveis, como o pisograma. 
São, portanto, árvores ou arbustos de maior porte que 
dividem as vagas e a circulação, ou forrações mais resistentes 
ao tráfico (como algumas gramas) junto ao pavimento 
(Figura 22). 
 
16 Adaptação da definição do dicionário. MICHAELIS: moderno dicionário da língua 
portuguesa. São Paulo-SP: Editora Melhoramentos, 1998. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 21 – Rotatória das SQN’s 103 e 104 e EQN 303/304, Brasília, Distrito 
Federal, Brasil. Foto: autor. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
77 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 22 – SQN 304, Brasília, Distrito Federal, Brasil. Foto: autor. 
 
▫ Ciclovias:
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (1997, 
adaptado), as ciclovias (Figura 23) são “pistas próprias 
destinadas à circulação de ciclos, separadas fisicamente do 
tráfego comum.” Como as calçadas e ruas, são elementos 
urbanos fortemente pavimentados que podem ter canteiros 
no centro ou lateralmente. Estes espaços verdes 
preferencialmente contem árvores ou gramíneas. 
 
 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
78 
 
Terminada esta explicação, são basicamente esses 
espaços livres públicos, semi-privados e privados (Tabela 1), 
em que a vegetação pode se enquadrar nas cidades. 
O objetivo mesmo era trazer a miscelância de espaços 
que as plantas podem estar ocupando na urbe, preparando 
o leitor, munido já do conceito e do sítio, para o que virá no 
próximo capítulo: as consequências do mal uso da 
vegetação nos nossos centros urbanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 23 – Via N2, Ceilândia, Distrito Federal, Brasil. Foto: Thamires Chácara. 
 
 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
79 
Tabela 01 – Composição dos espaços livres nas cidades 
privado semi-privado 1 semi-privado 
2 
Público 
Dentro dos 
lotes 
privados e 
sem 
interferência 
com o meio 
externo 
Em pátios de 
shoppings e 
feiras, jardins 
de edifícios 
empresariais, 
onde a 
circulação é 
quase pública 
Dentro dos 
lotes 
privados, mas 
com 
interferência 
com o meio 
externo 
Em parques, 
praças permeáveis, 
orlas (como 
calçadões), jardins 
coletivos, 
gramados públicos, 
áreas arborizadas 
(áreas verdes) 
 Em calçadas e 
passeios, leitos d’ 
água, vazios 
urbanos, canteiros, 
estacionamentos, 
vias expressas, ruas, 
avenidas, ciclovias 
(áreas com verde) 
Fonte: Autor 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
conversando com as mangueiras 
metodologia de análise 
 
 
 82 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Só não há primavera no meu recinto/ 
Enfermidades, beijos decompostos/ 
como heras de igrejas que se pegaram/ 
nas janelas negras da minha vida,/ 
só o amor não basta, nem o selvagem e extenso perfume da 
primavera.” 
Pablo Neruda 
 
 
 
 
 
 
 
 83 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
Sabendo o quanto de vegetação as cidades possuem, 
não mais podemos achar que todo o canto destinado ao 
verde está realmente bom pelo simples fato de tê-lo. 
Generalidades normalmente incorrem em erros, assim como 
paradigmas são verdades absolutas até que se quebrem suas 
espinhas dorsais. 
As fitopatologias17 que aqui serão comentadas estão ai 
para provar esta tese. Elas não têm distinção de raça, classe 
social ou tipo edificante, avançam conforme a própria razão. 
Assim, apesar de definidos os problemas causados, são 
infinitas as possibilidades de degeneração nas cidades, ao 
mesmo tempo que existem formas mais adequadas para 
cada situação. São combinações variadas que se conectam, 
desconectam, fazem simbiose. 
Partindo desse princípio, qual ferramenta metodológica 
se prestaria a analisar os impactos negativos do mal 
planejamento como da espontaneidade da vegetação na 
urbe? É esta questão que o presente capítulo espera 
responder. 
Sabendo da escassa literatura específica (confirmada 
por pesquisadores como Lúcia e Juan Mascaró (2010)) sobre 
o tema deste estudo, considerando uma pesquisa focada 
 
17 Vide Nota de Rodapé 3, página 30. 
 
 84 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
somente nos processos maléficos da incorreta implantação 
de elementos vegetais na cidade, adotou-se como recurso 
metodológico a analogia com textos e ferramentas advindos 
de análises urbanas, das tipologias edificantes e dos espaços 
livres. 
Foram, portanto, lidas algumas formas de apreensão 
dos espaços urbanos, dos seguintes autores: Jane Jacobs 
(2010), Philippe Panerai (2006), Maria Elaine Kohlsdorf (1996). 
 
Mais próxima da problemática desta pesquisa, foram 
lidos os artigos do Grupo de Pesquisa QUAPÁ/FAU-USP (2009) e 
do NORIE/UFRGS (2003). 
O primeiro, desenvolvido pelos pesquisadores Ana 
Cecília de Arruda Campos, Denis Cossia, Silvio Soares 
Macedo, Maria Helena Preto, Fábio Robba, parte para análise 
de espaços livres usando do caso de São Paulo, em uma 
construção também metodológica, algo que já esboçaram 
em diversas outras pesquisas. 
Já o segundo, desenvolvido por Beatriz Fedrizzi, Sérgio 
Luiz V. Tomasini e Luciano Moro Cardoso, propõe critérios de 
análise do desempenho quantitativo e qualitativo da 
vegetação frente a vivência escolar das crianças (no caso, 
quando tem acesso ao pátio). 
 
 85 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
Como estes estudos não seriam suficientes para 
abarcar todas as conjunturas da temática, voltou-se também 
para uma literatura mais cartesiana, gráfica, que apresenta 
alternativas de graficação passíveis de serem adotadas neste 
estudo. As seguintes fontes também foram consultadas: a 
construção de mapas de dano, nos quais são levantadas as 
patologias dos edifícios desenvolvida pelo Centro de Estudos 
Avançados da ConservaçãoIntegrada (CECI, 2009), alguns 
Planos de Arborização (PDAU Goiânia, 2009), os quais são 
claros estudos de campo; livros, artigos, revistas ou matérias 
mais específicas de elementos vegetais, que darão maior 
enfoque em cada subtópico das fitopatologias. 
Assim, neste ponto da pesquisa, após todo o 
preâmbulo que conceitua o que é vegetação e onde 
podemos encontra-la nas cidades, inicia-se a sistematização 
de procedimentos que visam dar uma resposta possível à 
problemática já posta: Quando e de que forma a vegetação 
está associada aos diversos tipos de degradação da urbe? 
Para responder a esta questão, este capítulo está 
estruturado da seguinte forma: 
 Primeiramente, tendo em vista a pouca abordagem 
específica sobre o desempenho patológico físico, ambiental 
sanitário e psicossocial da vegetação no contexto urbano, 
 
 86 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
recorreremos à análise de caminhos propostos por alguns 
autores para o levantamento e a compreensão da forma da 
cidade. 
 
 Em seguida, serão identificados os critérios adotados 
para a análise do desempenho da vegetação, segundo os 
autores anteriormente descritos, nos pátios das escolas e nos 
espaços livres. 
 Notadas as visões desses autores, será moldado o 
caminho próprio desta pesquisa, amálgama das referências e 
do reconhecimento preliminar do problema em campo. 
Assim, a partir do cotejamento e confronto das fontes teóricas 
com as informações colhidas em campo, será proposto um 
arcabouço com face teórica e metodológica para o 
levantamento e a avaliação do desempenho da vegetação 
na urbe. 
 
 Levantamento em uma superquadra de Brasília (SQS 
308), com a intenção de perceber as patologias recorrentes, 
bem como definir quais as formas mais precisas para graficá-
las; 
 
 87 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
Frente ao exposto, os tópicos a seguir visam construir e 
explicitar esses procedimentos acima descritos, culminando 
com a proposição de um caminho analítico próprio. 
 
A Análise das Cidades: 
 
Jane Jacobs, Philippe Panerai e Maria Elaine Kohlsdorf, a 
partir de um olhar urbano, e o QUAPA/FAU-USP e o 
NORIE/UFRGS, em temáticas mais próximas a deste ensaio, 
mostraram estudos que analisam os fenômenos, as cidades, 
os espaços livres ou o desempenho da vegetação em 
escolas, com princípios similares aos que poderão ser 
adotados nesta pesquisa. 
 
A primeira pesquisadora, que relacionamos a 
apreensão do todo, é a jornalista Jane Jacobs (2010). 
No seu mais celebrado livro, Morte e vida das Grandes 
Cidades (Americanas), Jacobs traça uma análise pessoal e 
de campo. 
Refutando quase todos os preceitos urbanísticos 
advindos do Modernismo e também do planejamento urbano 
dado àquele momento, Jacobs vai delineando várias e várias 
comparações e exemplos do que considera bom e o que 
 
 88 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
considera ruim nas cidades, com um olhar peculiar da 
vivência, segurança e diversidade dos ambientes urbanos 
(Figura 24). 
Mesmo parecendo uma conversa franca entre duas 
pessoas, a autora e o leitor, na realidade se estabelece uma 
profunda pesquisa que está dividida em quatro partes: a 
natureza peculiar das cidades, condições para a diversidade 
urbana, forças de decadência e de recuperação e táticas 
diferentes. 
Começa-se esboçando dois elementos públicos 
presentes (ou que deveriam estar) no espaço da cidade: a 
calçada e os parques. 
Nota-se que apesar de introdutório ao repertório 
urbano de que se está falando, Jacobs já está fazendo sua 
crítica a como não se deve deixar a participação popular de 
fora do planejamento, como áreas verdes não 
necessariamente trazem bem estar ao bairro, como conjuntos 
habitacionais não necessariamente produzem ou induzem a 
um estilo melhor ou mais confortável de vida do que em 
casas próximas e cortiços. 
A crítica ao modelo contemporâneo a ela está 
corrente em todo o texto, por mais que os títulos dos capítulos 
não ensejem algo do tipo, sempre está sendo feita uma 
 
 89 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
comparação entre o ruim (péssimo) e o bom, buscando-se 
também demonstrar como o planejador moderno está 
alienado das reais necessidades da população. 
E assim vai se encampando, no avanço do livro, formas 
e elementos que contribuem para a pulsação das cidades: 
diversidade de comércio, tipologias variadas de edifícios, 
estratos sociais diversificados, densidade populacional. 
A análise de Jacobs, portanto, é pautada pelo juízo 
dado aos casos e a comparação. 
E por que esta visão é importante para o estudo 
presente? 
O trabalho de Jacobs é valoroso por ter sido feito 
basicamente fora dos laboratórios e centros de pesquisa. É 
um exercício de campo, de observação, questionamento, de 
casos e estatísticas reais e de menos prognósticos. Jacobs foi 
a cada rua, parque e centro habitacional que menciona, o 
que de fato reforça bastante o seu discurso, descreditando o 
uso exclusivo do lápis para o projeto. 
Não podemos esquecer também que a forma como a 
jornalista abordou a cidade, por meio de confrontos entre 
circunstâncias, demonstra o quão forte ou o quão 
desqualificado é cada lado da avaliação, justificando a 
problemática da pesquisa. 
 
 90 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 24 – O monótono, o deserto de Jacobs. Desenho: autor. 
 
 91 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
O segundo pesquisador mencionado na lista é Panerai 
(2006). 
O autor, como em O Urbanismo, de Françoise Choay, 
procura uma extensa lista de personagens para encaminhar 
sua lógica. Tal holisticidade promove uma confiança maior 
em seu método de avaliação. 
Panerai, em Análise Urbana, traça primeiramente uma 
evolução da forma edificante e do crescimento das cidades 
para daí começar a mostrar as leituras possíveis da malha 
urbana. 
Como os tentáculos das cidades se estendem e como 
percebemos as complexas urbes? 
Com emprego da interpretação de Kevin Lynch, são 
descobertas algumas das formas de apreensão da malha 
urbana: pontos nodais, marcos, barreiras, percursos e setores. 
São pontos mais visuais, que servem bastante para esta 
pesquisa, no entanto, se limitando por se estreitar a um só 
sentido, o dos olhos, faltando englobar o olfato, o paladar, o 
tato e a audição, apreensões necessárias para se apreender 
a realidade típica dos bairros e também as características da 
vegetação na urbe. 
Mais adiante são citados outros autores como Saveiro 
Muratori, Gianfranco Caniggia, Marcel Poëte, Gaston Bardet, 
 
 92 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
Patrick Geddes e Raymond Unwin em um denso escrito de 
como as cidades se comportam quanto ao seu crescimento: 
radiais, tentaculares, envolvendo limites físicos ou estagnando 
por barreiras regulatórias; de forma espontânea ou dirigida. 
Visto isso, exploram-se os termos característicos do 
tecido urbano, um pequeno dicionário comentado que 
define e exemplifica vias, lotes e a malha em si, como 
averigua certos valores dimensionais. 
Contudo, o que é primordial do livro e do autor para os 
encaminhamentos deste estudo é a sua proposta de método 
de avaliação. 
Panerai faz uma definição de tipo, dá exemplos de 
tipificação (tipologias), como catálogos de moradias e 
quarteirões e parte para um método de análise tipológica, 
organizandonas seguintes etapas: 
 
 Definição de Abrangência: 
Muitas tentativas de estabelecer tipologias resultam infrutíferas por 
que não se toma o cuidado de se definir claramente, de antemão, o 
que irá ser estudado. Evidentemente, a definição da abrangência está 
vinculada as questões que se pretende responder. 
 
 Escolha de níveis: 
 
 93 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
Como a tipologia começa por uma classificação, é preferível 
classificar os objetos que pertencem a um mesmo nível de leitura do 
tecido urbano18. 
 
 Delimitação da Zona de Estudo: 
Ela depende da problemática colocada e dos meios disponíveis 
(tempo, recursos humanos), mas é necessário decidir se será feita uma 
análise exaustiva, em que todos os objetos serão considerados em 
detalhe, ou uma análise representativa (como uma sondagem), em 
que são escolhidas amostras e, após a determinação dos tipos, verifica-
se quão contemplada foi toda a zona. 
 
 Classificação prévia: 
[...] o caso em que todas as operações são explicadas. 
Começaremos por um inventário. 
É uma fase de observação minuciosa do objeto, em que 
procuramos descrevê-los para deixar claras as propriedades que os 
distinguem e estabelecer critérios. [...] 
A partir das respostas a esses diferentes critérios, podemos fazer uma 
primeira classificação, isto é, agrupar em uma mesma família os objetos 
que ofereçam a mesma resposta a uma série de critérios. [...] 
[...] as famílias ainda não são tipos, essa classificação ainda não é 
uma tipologia: ela constitui apenas um primeiro agrupamento que irá 
permitir elaborar os tipos. 
 
 Elaboração dos tipos: 
 
18 Nível de leitura do tecido urbano se torna nível leitura das patologias no tecido 
urbano neste estudo. 
 
 94 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
O tipo se constrói. Essa construção por abstração racional pode ser 
feita em duas etapas. Primeiramente, para cada família estudada, 
explicitamos as propriedades dos objetos que a compõem. Em seguida 
reunimos as propriedades em comum dos objetos de uma família para 
definir o tipo; o conjunto das propriedades não compartilhadas mostra 
as variações possíveis em relação ao tipo. 
 
 Tipologias: 
Esses tipos isolados não são de grande interesse e só adquirem 
sentido quando inseridos em um sistema global. A tal sistema – o 
conjunto dos tipos e de suas relações – denominamos tipologia. [...] 
A tipologia conduz a uma compreensão da arquitetura inserida em 
um tecido. (PANERAI, 2006, 127 à 137). 
 
Apesar de não ser aplicado stricto sensu à vegetação, 
é um método para uma gama de fatores, nos quais estava 
encaixada também a cidade. Sua contribuição a esta 
pesquisa é especialmente de natureza metodológica, pois é 
uma forma de estruturar as etapas de levantamento e a 
análise para a identificação: 
 
 Definição de abrangência – vegetação urbana; 
 
 Escolha de níveis – espaços livres privados, semi-
privados e públicos; 
 
 95 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
 Delimitação da zona de estudo – Quadra do 
Plano Piloto (SQS 308); 
 
 Classificação prévia – fitopatologias; 
 
 Elaboração de tipos - fitopatologias; 
 
 Tipologias - aplicabilidade. 
 
Se Panerai define uma linha tipológica genérica para o 
estudo das cidades, Maria Elaine Kohlsdorf (1996)19 direciona 
a um caminho, identificando fatores ou dimensões prévias 
que, como em uma tabela, deverão ser objeto de avaliação 
na urbe. 
O seu estudo se esboça por meio da forma como 
codificamos o espaço urbano. Esta se dá por respostas 
estéticas (de acordo com grupos sociais), psicossociais ou por 
 
19 Maria Elaine Kohlsdorf é precursora neste tipo de estudo das dimensões e em suas 
definições aqui no Brasil. Apesar do livro ser de sua autoria, a pesquisa em si teve a 
contribuição de outros pesquisadores, que ainda estão em um processo de 
evolução/complementação do estudo de Kohlsdorf. São eles Benamy Turkienicz, 
Márcio Villas Boas, Gunter Kohlsdorf e Frederico de Holanda (todos estudiosos que 
pertencem ou pertenciam ao grupo de pesquisa Dimensões Morfológicas do 
Processo de Urbanização – DIMPU). Este último ainda agrega três outras dimensões ao 
estudo: estética, simbólica e afetiva, conforme se verifica em HOLANDA, Frederico 
de. 10 mandamentos de Arquitetura. Brasília-DF: Editora FRBH, 2013. 
 
 96 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
entendimento de informações explícitas ou implícitas que são 
reconhecidas em determinado local (Figura 25). 
No andamento do texto, são demonstradas várias 
maneiras de abordagem da cidade por parte do observador, 
em dadas hierarquias de percepções e sensações, conforme 
se anda pelo espaço. Estas se derivam de elementos próprios 
da construção do ambiente, são efeitos como alargamento, 
estreitamento, direcionamento, impedimento, etc. 
A contribuição principal desse estudo é como são 
agrupadas estas sensações em forma de 
dimensões/aspectos. 
Tais aspectos que Kohlsdorf emprega (agregando os 
demais de Frederico de Holanda) são: 
 
 Topoceptivo: 
[...] estudo de atributos da arquitetura captáveis 
essencialmente pelo sentido da visão, para responder as questões: o 
lugar tem forte identidade, é facilmente memorável? o lugar tem 
estímulos visuais em quantidade, qualidade e ordenação capazes 
de favorecer a boa orientação através dele, i. é, deduzo facilmente 
onde estou e que direção devo tomar para chegar a meu destino? 
 
 Funcional: 
[...] concernem respostas da arquitetura a exigências 
práticas da vida cotidiana em termos de tipo e quantidade de 
 
 97 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
espaços para as atividades do corpo e da mente, e a relação dos 
espaços entre si – de complementaridade, proximidade, distância 
etc. 
 
 Bioclimático: 
[...] concernem relações entre praticamente todos os 
atributos dos elementos arquitetônicos listados antes – sítio natural, 
cheios, vazios etc. – e a satisfação das expectativas do nosso corpo 
quanto a temperatura, umidade, qualidade, aromas e movimentos 
do ar, luminosidade diurna ou noturna, som ou ruídos. São 
examinadas as características do clima local (temperatura, 
umidade e qualidade do ar; velocidade e direção dos ventos; 
intensidade e direção da radiação solar; regime de chuvas) e como 
a arquitetura reproduz condições favoráveis ou apazigua – ou 
agrava – as desfavoráveis, pois a arquitetura é um “modificador 
climático”. 
 Sociológico: 
Arquitetura como sistema de barreiras e permeabilidades ao 
movimento, de transparências e opacidades à visão, de cheios e 
vazios, impregnados de práticas sociais. Lugares são ordenados em 
sistemas de contiguidades, continuidades, proximidades, 
separações, hierarquias, circunscrições. 
 
 Afetivo: 
Relativos aos afetos – sensações, estados psicológicos, 
estados d’alma, emoções – provocados em nós pelos atributos do 
lugar captáveis por nossos sentidos 
 
 
 98 
Matheus Maramaldo Andrade Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 25 – Edifícios, relevo, traçado, perspectiva da cidade. Desenho: 
autor. 
 
 99 
verde patológico 
a vegetação no processo de degradação da cidade 
 
 Estético: 
Elementos arquitetônicos cujas partes e todo tenham 
características de claridade, harmonia, unidade, unidade na 
variedade,