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O Eu e o Isso

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O Eu e o Isso (O Ego e o Id) – Freud, Obras Psicológicas Completas, vol. XIX. 
O EU e o Isso – Freud, Obras Psicológicas Completas, vol. XIX.
A Consciência e o que é inconsciente.
A essência do psíquico se situa no inconsciente. Essa é a premissa fundamental da psicanálise a partir do estudo dos fenômenos da hipnose, dos sonhos e das patologias psíquicas.  A teoria freudiana distingue o inconsciente descritivo e o inconsciente dinâmico. Naquele uma idéia pode se tornar consciente, está no sistema PCs-Cs. Já o inconsciente propriamente dito (ou dinâmico) é produto do recalque.
Idéias (ou representações) inconscientes, em virtude do recalcamento, produzem, além de comportamentos corriqueiros, os produtos daquilo que a dinâmica pulsional impele a ressurgir, apesar das forças que bloqueiam sua emergência no sistema PCs-Cs. Esses produtos são os sintomas patológicos, mas também sonhos, atos falhos, etc.
Esse modelo traz a Freud um problema expresso logo de início no texto. O Eu, como instância organizadora, deveria estar ligado à consciência e seria ele o responsável por criar os mecanismos de defesa e a resistência às idéias objetáveis. No entanto, no curso de uma análise, onde se propõe uma suspensão das resistências, o paciente sistematicamente falha; sente extrema dificuldade em realizar associações coerentes quando se aproxima do recalcado. Seu Eu parece dominado pela resistência. Haveria, portanto, algo no Eu que se comportaria de maneira inconsciente. As neuroses  emergiriam de um conflito entre o Eu organizado e organizador e o Eu reprimido que estaria dissociado.
 Freud afirma, portanto que o Eu não estaria associado ao consciente e, de maneira análoga, o Inconsciente não estaria ligado ao reprimido (o que, penso eu, abriria a possibilidade de pensar as relações entre sistemas de maneira mais fluida). Mas, aqui, Freud faz uma pausa no seu raciocínio. Para ele não se deve pensar que haveria um um terceiro Inconsciente que não seria descritivo, mas também não seria puramente dinâmico, posto que não se identifica com o reprimido. Se assim fosse, o próprio conceito de Inconsciente começaria a perder seu significado.
Dessa maneira Freud postula uma teoria capaz de complementar a primeira tópica, mantendo sua concepção dos diferentes sistemas, através da definição das características, funções e interações entre três instâncias psíquicas, o Eu, o Isso e o Supereu.
 O Eu e o Isso
A consciência é a superfície do aparelho mental. Superfície no sentido topográfico, a parte mais externa que recebe as percepções (internas ou externas) e que controla as ações motoras.
A dificuldade surge quando se considera os chamados processos de pensamento. Seriam eles uma energia que progride dentro do aparelho psíquico para formar a consciência ou a consciência abriria caminho até esses processos? Segundo Freud, há dificuldades intermináveis em se considerar apenas essas duas hipóteses. Deve haver uma terceira alternativa.
A primeira tentativa de determinar uma diferença entre Ics e Cs passa pelo conceito de PCs. As representações no Ics permanecem desconhecidas, enquanto as representações  no Pcs se tornam conhecidas porque associadas a representações verbais que são resíduos mnêmicos.
Qualquer coisa que possa se transformar em consciência deve poder se transformar numa percepção externa (percepção que está organizada verbalmente). Sendo assim, uma lembrança nasce de uma catexia realizada sobre resíduos mnêmicos que estão adjacentes ao sistema PCs-Cs e que podem se organizar verbalmente.
Há resíduos mnêmicos verbais que são percepções auditivas e resíduos mnêmicosimagéticos que são, segundo  Freud, formas mais primitivas ou incompletas de representar que se situam mais próximas do Ics. Para que uma representação ICs emerja no Pcs é preciso dar-lhe vínculos intermediários através do trabalho de análise.  
As percepções internas são mais emblemáticas para se pensar esse processo em que os resíduos mnêmicos se transformam em representações verbais no PCs. Esses sentimentos ou sensações são mais primordiais e, principalmente, quando, dentro do princípio econômico, geram algum desprazer, assumem uma forma impelente, já que todo o sistema psíquico se orientaria pela necessidade de descarga de tensões acumuladas. O prazer seria, portanto, uma redução de catexia energética após a descarga da tensão.
É interessante notar, no entanto, que esses sentimentos que assumem a forma de impulso podem ser reprimidos e, diferentemente das idéias que precisam estar representadas verbalmente, os sentimentos são transferidos ao sistema Pcs diretamente e emergem como desprazer justamente quando se dá uma resistência e, portanto, gera-se uma tensão.
No entanto, é preciso lembrar, utilizando um conceito que melhor se adequa à explicação proposta, que essas sensações devem ser significadas para aparecer como uma percepção. Dessa maneira a representação verbal transforma um processo interno em percepção quando verbalmente representado.
Após essas considerações, Freud passa à elaboração do conceito de Eu. O sistema perceptivo é o núcleo do Eu e começa a abranger o Pcs que é adjacente aos resíduos mnêmicos, mas como vimos há uma parte desse Eu que é inconsciente. Como explicá-la?
 Se somos vividos por forças desconhecidas e incontroláveis, ao Eu que se forma através das percepções e se estende ao Pcs se opõe a outra parte da mente que se comporta como se fosse inconsciente e que podemos chamar de Isso.
Freud passa a avaliar o indivíduo a partir de sua constituição como Isso sobre o qual repousa um Eu diferenciado cujo núcleo é o sistema Pcpt. Eu e Isso compõem um mesmo sistema. O Isso se funde ao Eu e o reprimido se funde ao Isso, mas é apenas uma de suas partes.
(Poderíamos afirmar que o Inconsciente é um lugar onde se dá o processo dinâmico de processamento de imagens e representações carregadas pela energia libidinal do Isso. Já o consciente é o lugar psíquico que, funcionalmente, organiza a percepção e as funções motoras e, por fim, o Pré-consciente, um lugar adjacente à consciência onde permanecem registros mnêmicos organizados verbalmente capazes de tornar os registros internos acessíveis ao sistema Cs através da percepção. O Eu e o Isso (aos quais deve ser acrescentado o Supereu) são instâncias (e não lugares psíquicos) constitutivas da personalidade do indivíduo, os traços que nos diferenciam, que orientam nossas ações e reações ao mundo externo).
De fato, para Freud, o Eu é a parte do Isso que sofreu uma modificação sob influencia do mundo externo. O Eu procura aplicar ao Isso suas tendências, as influências do mundo externo. O Isso, sendo orientado pelo princípio desprazer/prazer, seria submetido ao mundo externo através do princípio de realidade trazido pelo Eu.  Para o Eu, a percepção teria a mesma função que a pulsão teria para o Isso. Eu = razão e senso comum; Isso = paixões. O Eu tenta domar o Isso, tomando sua força por empréstimo, mas é muito comum que o Isso se imponha. O Eu toma então como própria, a vontade do Isso, mesmo que contrariamente ao princípio de realidade.
 Além da influência das percepções, outro fator faz com que o Eu se diferencie do Isso = próprio corpo. O corpo é o local onde se produzem as sensações externas e ele é o local de percepção do que é próprio a um ser  humano. Esse corpo é visto pelo psiquismo como objeto. O Eu é antes de mais nada um Eu corporal, um objeto externo ao psiquismo.
Há porém uma outra instância que parece se diferenciar do Eu e que, igualmente, pode ser consciente inconsciente. Há em todos seres humanos a faculdade de autocrítica. O conteúdo da autocrítica pode também estar reprimido, gerando sentimentos inconscientes de culpa. Assim, o que seria mais elevado em nosso psiquismo (assim como o que é mais baixo) também pode estar mergulhado no inconsciente.
O Eu e o Supereu
O Ideal de Eu ou o Supereu são sinônimos segundo Freud e constituem uma gradação do Eu, trazendo nesse texto, pela primeira vez, a idéia de que o Supereu também pode ter uma parte mergulhada noinconsciente. (Atenção: Freud em alguns textos atribui ao Supereu o teste de realidade, mas no presente texto corrige essa postura).
A melancolia se explica através da instalação do objeto perdido no Eu, ou seja, que uma catexia seja substituída por uma identificação (o que poderia resumir o processo de dissolução do Édipo - pequena digressão: se associarmos essa idéia à leitura feita por Melanie Klein e que a leva a conceituar a posição depressiva como um estado onde se abdica de um objeto em nome de sua preservação e a leitura de Lacan sobre o objeto perdido, a melancolia é o único estado que permitiria o acesso a qualquer entendimento sobre relações entre o eu e os objetos em que investe). Esse processo de substituição tem grande impacto na forma tomada pelo Eu (formação do caráter).
Na fase oral as catexias de objeto e a identificação não se distinguem. Quando o Eu ainda é fraco, dá-se conta das catexias, sujeitando-se a elas ou as reprimindo (é nesse tipo de passagem que a psicologia do Eu busca sua fundamentação). Quando acontece, mais tarde, da pessoa ter que abandonar um objeto investido, há um processo de identificação que pode se assemelhar a uma regressão à fase oral.A identificação pode ser a única forma do Isso aceitar a perda do objeto. O caráter seria portanto um “precipitado” de catexias em objetos que tiveram que ser abandonados e contém essas histórias (investimento – perda – identificação). Nesse ponto vale notar o quão importante é para a formação do caráter a resistência do Eu em aceitar ou desviar as influências de suas escolhas objetais. Freud também considera a possibilidade de catexia e identificação antes de qualquer história com o objeto investido e posteriormente abandonado. O caráter pode se formar antes das relações de objeto.
A transformação de uma relação objetal numa alteração do Eu é uma maneira deste obter algum controle sobre o Isso. O Eu se dobra à vontade do Isso, por certo e tenta dizer ao Isso: olhe, você pode me amar porque sou semelhante ao objeto. Isso é um processo em que a libido do objeto se transforma em libido narcísica (narcisismo secundário) = dessexualização dos objetos, uma espécie de sublimação. Interessante o questionamento que segue a essa consideração sobre o processo de sublimação que poderia seguir sempre o mesmo caminho: dessexualização de um objeto, transformação da energia em libido narcísica para sua destinação a outros objetivos.
 Se há identificações em demasia, umas conflitantes com as outras, pode haver uma ruptura do Eu o que teria resultados patológicos sérios.
Dessa maneira, há um momento fundador na história das relações objetais do indivíduo: a identificação que se dá com os pais no desfecho da situação edípica. A maneira pela qual se dá o abandono do objeto amado, sua identificação irá determinar o caráter das demais relações de objeto e, em caso de perda e abandono, das introjeções posteriores. Complicação: caráter triangular da situação edipiana e a bissexualidade constitutiva de cada indivíduo.
Primeira relação de objeto é sempre ambivalente: amor e ódio. Amor pela mãe (objeto desejado), mas também amor pelo pai, através do processo de identificação. Ódio pela mãe, objeto proibido e ódio pelo Pai, interditor. O menino, por exemplo, quer eliminar o pai e, ao mesmo tempo, ser o pai. Mas a demolição do complexo de Édipo pode se dar para os dois lados: reforço da identificação com o Pai ou identificação com a mãe. Para Freud, o que determinaria um desfecho ou outro seria “a força relativa das disposições sexuais masculina ou feminina”. Mas, raramente, o Complexo de Édipo é assim tão simples. A bissexualidade e as relações entre filho, pai e mãe indicam que o Édipo é sempre dúplice: positivo e negativo, ao mesmo tempo e com relação aos mesmos objetos. Ex.: “a identificação paterna preservará a relação de objeto com a mãe, e a libido passará a ser investida em outras mulheres para que o filho possa se tornar o pai em uma outra relação. Ao mesmo tempo, há uma substituição na relação de objeto com o pai, que pertencia ao complexo invertido. (Nesse caso, a identificação não se dá com o objeto abandonado, mas com aquele por quem o objeto abandona e que se torna um objeto introjetado. No entanto, a identificação com um objeto não pressuporia perdê-lo? O menino não deveria perder o Pai, o que ele representava dentro daquela relação? Sim, cf. O Édipo em Lacan – depois do Pai vem a cultura).
Desse processo nasce uma dupla identificação que, fundindo-se com outros conteúdos do Eu irá formar um ideal de Eu (a ser perseguido como meta?) ou o Supereu. Mas, o Supereu não seria tão somente um resíduo das escolhas objetais primitivas. Na dissolução do Complexo de Édipo há dois preceitos envolvidos:“você deveria ser como seu pai” e “você não pode ser como seu pai, não pode fazer tudo o que ele faz; certas coisas são prerrogativas dele”.  O Supereu tem como função reprimir o Édipo. O supereu retém inexoravelmente o caráter do Pai, sob a forma de consciência ou de um sentimento inconsciente de culpa.
O Ideal de Eu é o herdeiro do Complexo de Édipo. Enquanto o Eu é o representante do mundo externo, da realidade, o Supereu é o representante do mundo interno. “Como anseio pelo pai, o Supereu contém o germe do qual todas as religiões evoluíram. O autojulgamento que declara que o Eu  não alcança seu Ideal, produz o sentimento de humildade a que o crente apela em seu anseio”. À medida em que a criança vai se desenvolvendo, o papel de pai é exercido por outras pessoas ou instituições que se colocam na posição de autoridade. Suas injunções vão permanecer no Eu como valores éticos. “Os sentimentos sociais repousam em identificações com outras pessoas, na condição de possuírem valores que criem um ideal de Eu comum”.
Quanto à questão da filogênese do Eu, Supereu ou Isso e dos seus conteúdos, não vale a pena um aprofundamento: a questão, tal como colocada, não pode ser respondida. A idéia de que essas estruturas individuais são influenciadas por cadeias de significantes trazidos pela cultura é muito mais interessante”.  
	Revisão de conceitos:Libido e Pulsão: energia é, em física, a possibilidade de se produzir movimento. Força é a causa da modificação de um estado de um objeto. Sendo assim, pulsão seria uma força (o que exerce pressão para o movimento ou para a ação) e Libido seria uma energia advinda dessa força. Portanto na definição, diferentemente do que propõe Freud, a libido seria a energia capaz de transformar a pulsão sexual em investimentos (objetos), em metas distintas (atividades que levam à resolução de uma tensão interna, a meta de qualquer sistema é a satisfação e, portanto, a descarga, mas essa tensão pode ser também sublimada) advindo de fontes diversas (diversidade das zonas erógenas). Libido significa em latim vontade e, de um ponto de vista qualitativo, não pode, na teoria Freudiana, ser reduzida a uma força pulsional  indiferenciada, como queria Jung. Do ponto de vista qualitativo, A libido é sempre de origem sexual e somente pode ser dessexualizada em um processo secundário, por uma renúncia à meta especificamente sexual. A libido, no entanto, não cobre todo o campo pulsional: em um primeiro momento Freud a opõe à pulsão de auto-conservação e em outro momento, quando Freud reconhece a natureza libidinal das pulsões do ego, opõe-se à pulsão de morte. Do ponto de vista quantitativo, a libido, permite medir os processos de carga, descarga, investimento e deslocamento. Interessante, portanto, lembrar que para Freud a libido é uma manifestação psíquica de uma pulsão sexual. A ausência de libido acarreta um acúmulo da tensão no plano somático. Sem elaboração psíquica, a pulsão acumulada pode acarretar uma afecção ou a elaboração de sintomas.Sexualidade: toda a atividade que proporciona prazer e não se reduz à satisfação de necessidades fisiológicas.
As duas classes de pulsões.
A existência das três instâncias psíquicas deve trazer uma melhor compreensão da dinâmica psíquica. O Eu se acha sob influência das percepções e o Issosob influencia direta das pulsões. Mas Eu e Isso são diferenciações da mesma estrutura. (poderíamos dizer que o Isso é a parte do Eu modificada pelas pulsões?). Daí a afirmação: o Eu está sob influência das pulsões.
Freud desenvolve aqui o que já havia postulado em Além do princípio do prazer: há duas classes de pulsões – a primeira, Eros ou pulsão de vida, reúne a pulsão sexual desinibida, as pulsões sexuais inibidas ou sublimadas e as pulsões de auto-conservação; a segunda classe, pulsão de morte, tem por tarefa conduzir a vida ao estado inanimado, inorgânico. São ambas, pulsões conservadoras: o surgimento da vida perturba o estado de coisas e Eros tenta preservá-la, enquanto Tânatos deseja trazer essa perturbação ao estado inicial, onde não há mais energia. “O surgimento da vida seria, então, a causa da continuação da vida e, ao mesmo tempo, do esforço no sentido da morte”. Conflito e conciliação entre essas duas tendências. Interessante notar que Freud não sabe como essa fusão / mistura ocorre, mas isso é pressuposto de sua explanação.
Surge a questão de como um organismo direciona essa pulsão de morte e aqui as coisas vão se complicar sobremaneira. Primeiramente, Freud, recorre a uma explicação biológica para a transformação da pulsão de morte em pulsão de destruição e de aniquilação (ou seja, agressividade): “em resultado da combinação de organismos unicelulares em formas multicelulares de vida, a pulsão de morte da célula isolada pode ser neutralizada com sucesso e os impulsos destrutivos desviados para o mundo externo, mediante o auxílio de um órgão especial”.
Como há uma fusão de pulsões, ambas classes se retroalimentariam. Somente há vida em presença da morte, somente há renovação se houver destruição, somente há diferença e individualidade (pressuposto para que haja a consciência humana) se houver Tânatos, a negatividade.
Freud percebe claramente que para fins de descarga Tânatos está a serviço de Eros, da mesma forma que Eros está a serviço de Tânatos na agressividade.
Há, no entanto, situações em que pode ocorrer uma desfusão das pulsões, como, por exemplo, no caso da neurose obsessiva (onde aparece uma intensa pulsão de morte – a repetição obsessiva é a pulsão de morte por excelência, aniquilando a espontaneidade, ações direcionadas ao outro, toda ação está destinada a satisfazer a mesma pulsão de morte direcionada a um comportamento do qual o indivíduo não consegue se desfazer embora sinta que está “errado”). Freud acredita que uma regressão da fase genital para a fase anal-sádica, por exemplo, está na desfusão das pulsões e a exclusão Eros. De maneira análoga, quando há progressão nas fases se faz com acréscimo de componentes eróticos.
 Freud coloca um desafio: demonstrar quais seriam as relações entre o princípio de prazer e as duas classes de pulsões e, ainda, quais seriam suas relações com as novas instâncias psíquicas. Antes porém, surge uma dúvida: o representante de Eros, amor e o representante de Tânatos, o ódio, com frequência aparecem juntos na prática analítica: amor e ódio são sentimentos que coexistem em muitas situações (ambivalência) ou se sucedem (transformações). Se isso é verdade, perder-se-ia completamente a razão da distinção das duas classes de instintos.
Os casos em que uma pessoa primeiro ama a outra e depois a odeia por alguma razão que essa última tenha dado ou o caso em que um objeto recebeu inicialmente uma catexia objetal agressiva e depois chega o erotismo, tornando o objeto amado, nada tem a ver com a questão acima colocada. Uma transformação é vista mais precisamente em situações como a da paranóia persecutória: desvio de um vínculo homossexual forte a uma pessoa amada, tornando-a um perseguidor. Ao sentimento de amor se substitui um sentimento de agressividade, um desejo de destruição.  De maneira análoga, na origem da homossexualidade há uma fase em que sentimentos de rivalidade precedem a identificação com o objeto amado (para o filho, a mãe por exemplo e a rivalidade com relação ao amor do pai). Há também casos de paranóia em que a ambivalência inicial gera um deslocamento reativo da energia sexual retirada do impulso erótico e investida no impulso hostil . Também pode ocorrer que a rivalidade hostil na homossexualidade seja seja dominada e substituída por uma atitude amorosa que tem mais probabilidade de gerar satisfação, efetuar uma descarga (razão econômica).
Para continuar o raciocínio e responder à questão sobre a dualidade das pulsões, Freud faz uma afirmação, no mínimo surpreendente: “… pela introdução desse outro mecanismo de transformação de amor em ódio, tacitamente fizemos (…) cálculos como se existisse na mente – no eu e no isso – uma energia deslocável, a qual, neutra em si própria, pode ser adicionada a um impulso erótico ou destrutivo qualitativamente diferenciado e aumentar a sua catexia total”.
Freud supõe que essa energia neutra nada mais é do que a libido narcísica dessexualizada. De fato, o Eu trata com as primeiras catexias objetais do Isso (e com as posteriores), retirando a libido dessas catexias do objeto e as investindo no Eu, através de um processo de identificação. A libido erótica se transforma em libido do Eu que é neutra (no sentido de que não tem um objeto definido), é muito mais plástica. O Eu se erige em objeto único, dessexualizando ou sublimando a libido do Isso. Nesse caso, diz Freud, o Eu está se colocando a serviço de pulsões opostas – pulsão de morte (do ponto de vista quantitativo descarga, redução da tensão), o que permite a utilização da energia erótica para as mais diversas finalidades e, portanto, alimenta a vida.
Através de Eros e da libido sexual a perturbação da vida se instaura. Através da pulsão de morte o Isso tenta lutar para trazer essa perturbação ao estado inicial (ausência de vida). Mas, ao fazer isso, cria condições para que Eros se manifeste em vários outros aspectos da vida e que também opere a favor do princípio de constância, a constância da vida. “Se é verdade que o princípio de constrância governa a vida, que assim consiste numa descida contínua em direção à morte, são as reivindicações de Eros, dos instintos sexuais, que (…) mantém o nível que tende a baixar e introduzem novas tensões”.
Importante ampliação da teoria da libido:  no início, a libido está toda no Isso que envia suas catexias objetais (enquanto o Eu ainda é fraco e está em formação). Quando o Eu se fortalece, ele procura retirar a catexia do objeto e impor-se ao Isso como objeto amoroso. O Narcisismo do Eu é um narcisismo secundário. (Não esquecer que o narcisismo primário é uma projeção do narcisismo dos pais – inscrição de imagens e palavras dos pais).

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