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13 Alinha T2

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Imigrantes latino americanos na cadeia têxtil no Estado de São Paulo
 Marília Mancini Castilho 
Murilo Levy Martins
Renata de Sousa Rodrigues
Richard Bessa Dyrgalla
Thomaz Niemeyer
Vinícius Yoshida
 
 
SÃO PAULO
2016
1. INTRODUÇÃO
A partir de meados da década de 80, um fenômeno relativamente novo passa a ocorrer no Brasil: a vinda de imigrantes latino americanos para trabalhar na indústria têxtil paulista, substituindo a tradicional imigração coreana que predominava até então. Esse crescente fluxo migratório acentuou o debate sobre as condições de trabalho oferecidas nesse setor, as quais são frequentemente classificadas como degradantes e análogas à escravidão. A inexistência de um sistema de fiscalização adequado e eficiente faz com que esse problema se perpetue e se torne cada vez mais comum na realidade brasileira.
Este trabalho busca abordar os principais pontos relacionados à questão imigratória no setor têxtil e apresentar possíveis alternativas para amenizar a situação de exploração sofrida pelos imigrantes. Para isso, buscou-se dados relativos aos países de origem dos trabalhadores e possíveis causas que os incentivaram a emigrar. Estruturaram-se, também, relações e soluções com quatro disciplinas lecionadas nesse semestre: Fundamentos das Ciências Sociais, Fundamentos de Marketing e Comportamento do Consumidor, Fundamentos de Administração e Introdução à Psicologia, e, além disso, foi analisado o papel da instituição Alinha na cadeia produtiva têxtil.
Por fim, compete a este trabalho se tornar base de aprimoramento pessoal e acadêmico aos estudantes e professores, além de estimular a conscientização sobre os problemas apresentados.
 
 
2. PROBLEMÁTICA
A partir das análises e pesquisas realizadas ao longo do trabalho, pôde-se identificar quais questões seriam mais relevantes para serem estudadas. Decidiu-se por abordar, inicialmente, quais as motivações para a emigração dos trabalhadores. Depois, as condições de trabalho que são oferecidas no setor e, por fim, fatores que estimulam a permanência dessas condições. A explicação dessas questões simplifica o entendimento do porquê a exploração da mão de obra imigrante na cadeia têxtil brasileira ainda ocorre, e auxilia, também, a proposição de ações que possam atenuar ou solucionar o problema.
Os países da América Latina que registraram o maior número de emigrantes para o Brasil foram a Bolívia, o Paraguai, o Peru e o Haiti. Embora em diferentes proporções, esses quatro possuem uma situação socioeconômica marcada pela pobreza, falta de oportunidades de emprego e pequena mobilidade social. Mais do que a dos outros três, a atuação dos bolivianos no setor têxtil brasileiro se destaca devido à grande quantidade deles trabalhando em oficinas. Sua terra natal apresenta baixas expectativas de desenvolvimento, instabilidade econômica e política, e foi vítima, na década de 1980, de desastres naturais provocados pelo “El Niño”, o que acentuou a recessão econômica, aumentou o desemprego e também intensificou o êxodo rural. Esse contexto da Bolívia tornou as ofertas de emprego em outros países mais atrativas, embora, em muitas vezes, essas propostas fossem enganosas, como será analisado posteriormente, de modo que essa situação como um todo estimulou a vinda de bolivianos que buscavam melhores oportunidades de vida, principalmente na década de 1990.
O Brasil, apesar de não apresentar condições muito atrativas em termos de IDH e salário mínimo, por exemplo, é o principal destino dos fluxos de imigrantes bolivianos. Esse fluxo é estimulado pelo custo relativamente pequeno de transporte e também pela existência de uma grande fronteira entre os dois países, o que facilita o deslocamento humano. O recrutamento desses estrangeiros é feito por uma rede de contatos informais (ou através de mídias locais, como rádio e jornais), que veiculam promessas falsas de lucros rápidos. Os aliciadores contratados para recrutar trabalhadores são conhecidos como “gatos” e eles financiam as passagens, além de oferecem condições para que esses novos empregados cheguem em seus locais de trabalho.
No Brasil, os imigrantes possuem pouco ou nenhum conhecimento sobre os seus direitos, o que aumenta sua vulnerabilidade. Como não dominam a língua portuguesa e geralmente possuem baixa qualificação profissional, essas pessoas enfrentam dificuldade em encontrar um local que forneça as informações necessárias. Além disso, é comum que os aliciadores retenham seus documentos e os ameacem, de modo que eles não contestem ou questionem a situação, com medo de serem denunciados.
Aqueles que irão trabalhar no setor têxtil são recrutados, majoritariamente, por pequenas oficinas de confecção para realizar a atividade de corte e costura. Nesse lugar a situação de trabalho é precária e os direitos trabalhistas previstos em lei são, frequentemente, desrespeitados. É comum que a infraestrutura dos locais e as condições em que a atividade é realizada caracterizem trabalho análogo à escravidão: as jornadas são, geralmente, exaustivas, variando de 11 a 16 horas diárias e a remuneração é baseada em peça produzida, com valores que variam de R$ 0,15 a R$ 2,00; a infraestrutura é, geralmente, insuficiente, e há casos em que o local de trabalho é utilizado também como dormitório; há pouca iluminação, espaço e, muitas vezes, a locomoção do trabalhador é restrita, já que a saída do local é controlada pelo empregador. Com isso, nota-se a gravidade da questão laboral que envolve o imigrante no Brasil, o qual chega ao país e é submetido a péssimas condições de trabalho e moradia, sem que disponha de outra forma de subsistência.
 	As oficinas de costura são, em muitos casos, contratadas por uma empresa que deseja terceirizar suas atividades. No Brasil, a terceirização só é permitida caso seja referente à atividade meio, ou seja, atividade que não seja o objeto social da empresa. Dessa forma, uma varejista pode, de acordo com a legislação brasileira, contratar uma oficina para realizar o serviço de corte e costura, já que, neste caso, essa não é a atividade fim da empresa. Essa varejista é legalmente responsável por certificar que o local contratado seja apto a realizar o serviço que lhe foi requerido e também por fiscalizar o cumprimento do contrato. Ela deve, portanto, garantir que os funcionários terceirizados estejam trabalhando em condições dignas e que todos os demais direitos desses estejam sendo respeitados. Nota-se, porém, que muitas empresas não cumprem com sua parte na fiscalização, de maneira que, eventualmente, escândalos de trabalho análogo à escravidão em terceirizadas sejam evidenciados na mídia.
 	Isso é, geralmente, a realidade das pequenas confecções de São Paulo. Quando são contratadas para realizar serviços que excedam sua capacidade, costumam optar por mecanismos ilegais que aumentam a sua produção, como a contratação irregular de trabalhadores e a exploração de seu trabalho, visando alcançar uma maior produtividade com pequenos custos, ou então a busca por terceirizar parte da atividade de confecção, processo conhecido como “quarteirização”. Além de ser ilegal, uma vez que se trata da terceirização da atividade fim, a quarteirização abre brechas para que a exploração laboral seja maior.
 	Outra questão que, de certa forma, estimula a contratação de empregados de maneira irregular é a alta carga tributária que recai sobre o empregador ao contratar um trabalhador de maneira formal. A contribuição com o INSS pode chegar a 28,8% e há outros tributos adicionais, como FGTS, PIS e COFINS. É evidente que, independentemente da quantidade de impostos exigida, o contratante é obrigado a regularizar seus funcionários e garantir seus direitos, uma vez que isso é total responsabilidade sua. Entretanto, em diversos casos, isso não ocorre: o dono do negócio procura evitar o pagamento desses impostos, os quais aumentariam seus custos
e encareceriam sua produção, e decide contratar trabalhadores de maneira irregular, sem a assinatura da carteira de trabalho. Assim, torna-se clara a necessidade de uma revisão das políticas de fiscalização e combate ao trabalho análogo à escravidão e, ao mesmo tempo, de revisão da carga tributária sobre o trabalhador, que, no Brasil, é uma das maiores do mundo, senão a maior. 	
3. ORGANIZAÇÃO ANALISADA - ALINHA
Nesta parte do trabalho será realizada uma análise da organização Alinha, considerando sua atuação, objetivos, método de trabalho e também sua relação com a cadeia têxtil de produção. Pretende-se, com isso, obter uma visão mais completa da questão dos latino americanos nas oficinas de costura em São Paulo, através de uma instituição que está mais próxima dos desafios vividos por essas pessoas e que possui, também, um olhar mais especializado sobre o assunto.
 	A Alinha é uma plataforma online que possibilita que oficinas de costura aperfeiçoem suas condições estruturais e legais com o intuito de garantir dignidade ao trabalho de cada uma delas. Para isso, a organização envia um de seus agentes para analisar e avaliar a oficina e, em seguida, monta um plano de ação identificando os principais pontos que merecem atenção e também as ações necessárias para que o aperfeiçoamento possa ocorrer. O objetivo da Alinha é melhorar as condições de trabalho na cadeia têxtil, estimular um aumento no número de regularizações, auxiliar as oficinas a alcançarem maior visibilidade no mercado de empresas que procuram esse tipo de serviço e, dessa forma, impulsionar o empreendedorismo.
 Mais especificamente, a organização procura adequar o ambiente da confecção por meio de um processo de 5 passos. O primeiro deles é a formalização da oficina, com a obtenção de um CNPJ que a identifique como uma empresa, processo obrigatório pelas leis brasileiras, e que permita a emissão de notas fiscais e contratação de funcionários. O segundo passo é o processo de capacitação dos donos, que ocorre através de cursos de Contabilidade, Gestão, Empreendedorismo e também cursos de Língua Portuguesa, para auxiliar a manutenção do negócio. Em terceiro lugar, a Alinha auxilia as oficinas a estruturarem melhor o seu espaço de trabalho, com a contratação de funcionários capacitados, compra de máquinas adequadas e sinalizando possíveis opções de financiamento que possam estimular o crescimento do negócio. O quarto passo indicado é o respeito à legislação trabalhista, de modo que as oficinas sejam orientadas a ter um conhecimento adequado das leis e das condições que caracterizam trabalho escravo ou trabalho infantil, e também de como evitá-las. A última etapa é garantir que o ambiente onde ocorre a confecção seja seguro e saudável para os trabalhadores, seguindo leis e regras de segurança que protegem os empregados.
 	Após esse processo, a oficina de costura estará “alinhada”, o que é positivo do ponto de vista legal e também para o empreendedorismo. Há donos de oficinas que não veem as vantagens da regularização, imaginando que o negócio não será rentável e competitivo caso esteja de acordo com a legislação. Contudo, esse é outro ponto que a Alinha tenta esclarecer: quando uma empresa segue as exigências previstas pela lei, ela se torna mais atrativa para um público específico. Esse público, em geral, é composto por empresas menores que buscam ter controle e conhecimento de todos os passos do processo produtivo, para garantir que não haverá punições por uma possível quebra da lei em algum desses passos. Isso é interessante para a oficina porque essas empresas pagam preços mais altos pelas peças, já que elas procuram serviços dignos. Além disso, ser regularizado significa ter contato direto com os varejistas, o que evita que parte dos lucros sejam redirecionados para intermediários, o que é comum no caso de oficinas clandestinas.
 	Tendo sido exposto o método de trabalho e os objetivos da Alinha, será realizada uma análise do seu impacto na cadeia da moda. Primeiramente, um serviço que estimula a regularização de oficinas de costura contribui para a consolidação e respeito dos direitos humanos. Isso ocorre porque esse é um processo que busca romper com a mentalidade predominante na cadeia têxtil, de ter como prioridade a redução de custos, independentemente de suas consequências. Essa mentalidade é responsável pela perpetuação de condições de trabalho análogas à escravidão, que contradizem qualquer conquista de direitos trabalhistas ocorrida até o momento atual. A Alinha atua no sentido de estimular as empresas a rejeitar essa conduta, tornando mais simples o processo de encontrar uma oficina de costura que seja transparente e que preze por condições dignas de trabalho.
 	Sendo assim, torna-se claro o impacto positivo da Alinha na cadeia têxtil de produção, que oferece um serviço que desestimula a exploração da mão de obra imigrante e atua no sentido de consolidar os direitos trabalhistas conquistados até agora. Desse modo, espera-se que a sua atividade gere mudanças positivas para os diversos agentes da cadeia, ou seja, varejistas, donos de oficinas, trabalhadores e também para os consumidores.
 	4. RELAÇÕES COM AS MATÉRIAS
 	4.1 Relações com a matéria de Introdução à Psicologia
O processo de imigração de latino americanos para São Paulo implica em fenômenos que, para serem compreendidos em sua totalidade, devem ser analisados também pela Psicologia. Nessa análise, serão consideradas as dificuldades enfrentadas no processo de abandono do país de origem e as consequências psicológicas vividas pelos imigrantes.
Primeiramente, é importante identificar o motivo pelo qual a emigração é, na maioria dos casos, traumática para esses indivíduos. Isso ocorre, principalmente, porque deixar o país natal significa uma ruptura com tradições culturais e com elementos que fizeram parte da construção da personalidade do indivíduo. A terra natal é o local em que ocorrem os primeiros passos dessa construção: adquire-se as primeiras noções de certo e errado, que irão compor a ética, aprende-se a linguagem, meio pelo qual a comunicação será realizada, constrói-se ideais e modelos que servirão de base para o comportamento e adquire-se costumes únicos da cultura em questão. Abandonar o local onde ocorreram esses processos significa se distanciar de elementos maternos, do ponto de vista simbólico, e estruturais, além de incluir o desafio de aceitar costumes e visões de mundo distintos daqueles que foram primeiramente absorvidos pelo indivíduo. Dessa forma, a emigração é, muitas vezes, um fenômeno traumático, que abala a saúde psicológica do indivíduo.
Neste processo de inserção na sociedade brasileira o boliviano encontra barreiras, como a resistência por parte dos brasileiros em aceitá-lo como cidadão, pois, ao lidar com o desconhecido, as pessoas apresentam uma certa relutância. São nessas inter-relações sociais que se pode notar a presença do que denominamos signos. 
Segundo José Moura, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, signos são entes de relacionamento e formam-se a partir de relações espaço temporais, participam de relações e suscitam nos que são capazes de vivê-los o senso de relações.
Assim, é possível notar que os bolivianos veem a necessidade de apropriar-se de novos signos a fim de romper com as barreiras enfrentadas. Dessa forma, passam a apropriar-se da cultura brasileira. Ou seja, de seus signos a fim de criar "pontes" em suas relações. No entanto, apropriar-se dos signos não é algo simples, principalmente quando o assunto é a língua, uma vez que uma das principais barreiras a ser enfrentada é a da linguagem.
Além disso, nessa apropriação cultural há a necessidade e o receio de deixar um pouco de sua cultura de lado. Os imigrantes apesar de estar diante de novos signos não querem perder aquilo que faz parte da sua identidade. Dessa forma, apesar das dificuldades em estar em um novo país, eles tentam manter aspectos de sua cultura e isso
ocorre principalmente dentro das oficinas de costura, uma vez que nesses locais encontram-se pessoas originárias do mesmo país. Ao construir sua vida nesse ambiente novo, o indivíduo procura se relacionar com pessoas, lugares e objetos que lembrem a identidade cultural e social que ele possuía anteriormente. Essa é uma maneira de se aproximar daquilo que lhe é significativo, encontrando elementos simbólicos no novo país, que guardem traços do seu relacionamento com a sua terra natal. Um exemplo prático desse fenômeno é a criação da praça Kantuta, no bairro Pari, onde diversos imigrantes bolivianos se reúnem aos domingos para a realização de uma feira (Feira Kantuta). Esse evento é bastante significativo, considerando que é uma maneira de os estrangeiros se relacionarem através de objetos, pessoas e tradições de seu país, conferindo-lhes acolhimento no seu novo local de vida.
No entanto, entre os próprios bolivianos há diferenças quanto aos signos que estes articulam, como os “dialetos” regionais, tornando difícil a perpetuação da cultura dos imigrantes aqui no Brasil. Esta dificuldade se intensifica quando os bolivianos constituem uma família neste país. Passar aos seus filhos os signos oriundos da Bolívia torna-se complexo, uma vez que, estes estão inseridos em uma outra cultura. Neste processo perde-se aspectos que caracterizam a comunidade boliviana.
Além das questões dos signos, outro ponto importante a ser analisado é a situação psicológica daqueles que enfrentam a árdua rotina das oficinas. Esse cotidiano cercado de injustiças contribui para o surgimento de alterações emocionais, como sintomas depressivos, ansiosos e de estresse em geral. Pesquisadores internacionais que trabalham na área de saúde mental criaram o termo “Síndrome do Stress Crônico e Múltiplo do Imigrante” ou “Síndrome de Ulisses”, para caracterizar um “quadro de estresse muito intenso ligado a fatores específicos relacionados à migração, que são basicamente a solidão forçada, não ter chances de crescimento no país de acolhida, submeter-se a condições difíceis de sobrevivência e estar constantemente com medo e desamparado”, explica o professor e secretário geral da seção de Psiquiatria Transcultural da Associação Mundial de Psiquiatria. Dado o exposto acima, é evidente que o processo de imigração gera alterações psicológicas que merecem mais atenção.
4.2 Relações com a matéria de Fundamentos de Marketing e Comportamento do Consumidor
Para realizar essa análise, deve-se compreender que a cadeia produtiva da indústria têxtil é bastante complexa e muito ampla. Milhares de pequenas e médias oficinas oferecem seus produtos a confecções que, por sua vez, oferecem esses produtos a grandes e médios revendedores do varejo. O elo mais forte dessa corrente, entretanto, continua sendo o consumidor final, afinal é esse o responsável por garantir que as varejistas vendam e que esse mercado continue existindo. Dessa forma, será ele o enfoque da abordagem de Marketing.
Pesquisas recentes demonstram que os consumidores contemporâneos (particularmente os da geração Z em diante) não mais procuram um produto pelo “produto em si”, ou seja, pela sua finalidade. As pessoas buscam valores positivos naquilo que adquirem. Tomando como base o relatório “Top 10 Global Consumer Trends for 2016” de Daphne Kasriel-Alexander, consultora que trabalha na firma de marketing britânica Euromonitor e escreve um blog corporativo, observa-se que uma das tendências por ela analisada é a dos “Changemakers”, ou seja, consumidores que buscam empresas que consigam, de alguma forma, gerar impactos positivos na sociedade e pensem além do lucro. Assim, esses consumidores esperam uma responsabilidade maior das empresas diante da comunidade inserida e que, essa esteja refletida em suas ações empresariais.
Os impactos variam de acordo com os anseios dos próprios consumidores, mas estão quase sempre relacionados ao atendimento de compromissos socioambientais, ou seja, garantir uma condição digna de trabalho aos trabalhadores e, ao mesmo tempo, respeitando o meio ambiente.
Esse ponto impacta diretamente as grandes varejistas: escândalos que envolvem trabalho análogo à escravidão em seus fornecedores geram uma imagem negativa da empresa perante a sociedade, mesmo que essa não tenha qualquer conhecimento do fato, como ocorreu recentemente com a gigante do setor Zara, cujos fornecedores (alguns) eram suspeitos de adotar condições análogas à escravidão nas suas confecções, e podem acabar desencadeando um boicote promovido por consumidores insatisfeitos com a postura adotada pela empresa. Com a facilidade de acesso e rapidez da internet nos dias de hoje, esse boicote pode ser facilmente espalhado por redes sociais, atingindo mais e mais pessoas e fazendo com que a marca perca clientes.
A mudança da mentalidade em relação às gerações anteriores pode estar relacionada à maneira com a qual os jovens da geração Z conhecem o mundo. Eles nasceram num período no qual a internet já existia e, dessa forma, durante toda a sua vida, foram bombardeados com informações sobre os problemas, as desigualdades, os flagelos sociais e os abusos que ocorrem diariamente não só no Brasil, mas também em outros países. Seu comportamento pode então ser entendido como uma não aceitação do padrão estabelecido, aliado a uma vontade voraz de mudança.
Para auxiliar os “changemakers”, que vale reforçar, são um tipo de consumidor que vem se tornando tendência, alguns aplicativos para smartphones foram recentemente lançados nas lojas virtuais e seu objetivo é mostrar quais empresas estão relacionadas a escândalos de abusos com trabalhadores, seu posicionamento e suas medidas depois do ocorrido. Em resumo: a maneira com a qual as empresas se apresentam aos seus consumidores mudou. Hoje em dia, esse tem um poder muito maior sobre aquela, podendo promover boicotes que rapidamente se espalham e atingem mais pessoas graças a disseminação da internet e das redes sociais. Como consequência, cresceu a importância do conceito de “Gestão da marca”, ou seja, é imprescindível para as varejistas manter-se longe de quaisquer escândalos que possam manchar seu nome perante os consumidores.
Ao aprender a gerir sua marca, varejistas repensam todo o conceito do século passado dos 4P’s e, cada vez mais, a preocupação é entender o valor que os clientes percebem na marca e adequar a abordagem para atender as demandas dos consumidores finais.
4.3 Relações com a matéria de Fundamentos das Ciências Sociais
 Considerando que a sociologia é um conjunto de conceitos e métodos de investigação que têm como objetivo a explicação da vida social, esse é um ramo do conhecimento que proporciona um viés de análise importante para a questão dos imigrantes latino americanos em São Paulo. Apesar de ser comumente entendida como uma ciência teórica, o objetivo inicial da sociologia (no período que sucedeu as Revoluções Industrial e Francesa), era gerar mudanças radicais nos rumos da sociedade. É importante considerar, portanto, que o estudo dessa ciência contribuirá para a proposição de alterações nas relações de trabalho, além de auxiliar a explicação do problema em questão.
A maneira que a sociologia pode contribuir para isso pode variar de acordo com a orientação que se decide seguir ao longo da análise. Fundamentalmente, podem ser seguidos algum dos três vieses clássicos das Ciências Sociais: uma visão marxista, uma visão durkheimiana e uma visão weberiana. A primeira delas segue as ideias de Karl Marx, no sentido de usar a sociologia como meio de transformação, para propor mudanças radicais. A segunda se baseia em Durkheim, sendo um viés mais conservador, que busca a manutenção da ordem. Por fim, a visão weberiana, de acordo com os ideais de Max Weber, apresenta um uso mais teórico dessa ciência, sendo uma ideologia neutra que visa a explicação dos fatos. Considerando que este trabalho como um todo visa esclarecer a questão dos imigrantes, analisar as motivações desses indivíduos bem como as suas dificuldades, ele seguirá uma abordagem
mais weberiana.
Ademais, a explicação da nova sociedade com a qual os imigrantes latino americanos se deparam pode ser auxiliada através do uso daquilo que Wright Mills chama de “imaginação sociológica”. Segundo Mills, “essa imaginação é a capacidade de passar de uma perspectiva a outra – da política para a psicológica”, ou seja, é o aprendizado de um método de análise que considera tanto a biografia quanto a história e as estruturas sociais, estabelecendo relações entre as três. Uma das questões que pode ser explicada por esse método é o porquê de os imigrantes terem dificuldades em se integrar na sociedade brasileira, como foi analisado anteriormente. Para entender esse fenômeno, deve-se aliar o pessoal com o coletivo. Se, por exemplo, somente o lado da biografia for considerado, o estrangeiro pode chegar a uma conclusão equivocada de que ele não se adequa aos costumes e tradições do novo país, e por isso não consegue estabelecer novas relações aqui. Entretanto, ao olharmos essa questão que, aparentemente é pessoal, pelo viés da imaginação sociológica, perceberemos a influência da história nela: o imigrante se depara com uma sociedade intensamente xenófoba, que, em muitos casos, vê o estrangeiro como ameaça e evita estabelecer relações com ele. Ou seja, o que se conclui é que esse problema da integração poderia ter ocorrido com qualquer outro imigrante, de maneira que essa dificuldade de integração não é algo particular de um indivíduo específico. Esse exemplo mostra a importância do uso da imaginação sociológica nas análises de fenômenos sociais, para que se obtenha uma visão mais profunda, e também nas relações cotidianas, evitando discriminações e atitudes xenófobas.
Tendo sido analisada uma característica da sociedade com a qual o imigrante se relaciona, será explicada a estrutura de trabalho que ele enfrenta e algumas consequências que isso gera. Os estrangeiros enfrentam uma frágil e nova organização do trabalho no país, que foi efetivada a partir dos anos 90. Trata-se do processo de intensificação das terceirizações através da subcontratação e aumento da informalidade e mudanças no próprio regime de acumulação. De acordo com David Harvey, o modelo de trabalho atual consiste na transição do regime fordista para um regime de acumulação flexível, sendo que o segundo representa a flexibilização das relações de trabalho, em diversos níveis. Para Harvey, o crescimento dos mercados irregulares e o aumento nas subcontratações são elementos principais dessa nova forma de organização trabalhista. A cadeia têxtil de produção é um exemplo claro dessas novas relações entre empregador e empregado, uma vez que se baseia no fracionamento produtivo, em que cada etapa da produção ocorre em um local distinto, através de subcontratações. Uma grande empresa de moda, por exemplo, terceiriza o processo de confecção através da contratação de uma pequena oficina de costura. Essa oficina, entretanto, tem de assumir sozinha o custo de manter condições razoáveis de trabalho, sendo que elas não têm a estrutura necessária para isso. Esse contexto mostra as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes na cadeia têxtil: eles estão vulneráveis às novas relações de trabalho, cada vez mais flexíveis e menos duradouras.
O autor Richard Sennett, em sua obra “A corrosão do caráter”, aborda algumas consequências desse regime flexível para os indivíduos. No capítulo 5 desse livro, o autor defende a tese de que o novo capitalismo criou um ambiente de trabalho no qual risco é constante. As mudanças, a instabilidade e a falta de perspectiva de sucesso no longo prazo na carreira são alguns dos elementos que compõem o que Sennett chama de “risco”. O autor explica ainda que além da existência desse fenômeno, há “imensas forças sociais e econômicas que moldam a insistência na partida: o desordenamento das instituições, o sistema de produção flexível” (página X), de modo que o empregado seja pressionado a se adaptar a esse modelo de trabalho baseado no risco constante, uma vez que a estabilidade e a segurança são vistas como atrasos na vida profissional. Contextualizando a obra do autor com a situação dos imigrantes na cadeia têxtil, é possível identificar uma forte relação entre a estrutura de trabalho enfrentada pelos estrangeiros e a estrutura descrita no livro. Os estrangeiros se veem pressionados a abandonar o seu país de origem para ingressar em um mercado de trabalho instável, em que não há garantias de sucesso e desenvolvimento. Além disso, muitos deles não entram no país de maneira legal, e por isso tornam-se mais vulneráveis a ameaças e também tendem a suportar condições deploráveis de trabalho. Esse fenômeno é sustentado pela estrutura flexível do mercado da moda, que se fundamenta em processos de terceirizações por subcontratação, o que facilita a exploração da mão de obra estrangeira, já que a empresa que contratou essa mão de obra não é diretamente responsável por suas condições de trabalho. Dessa forma, assim como afirmou Sennett, “Permanecer num estado contínuo de vulnerabilidade é a proposta que, talvez sem o saber, os autores dos manuais de negócios fazem quando celebram o risco diário na empresa flexível”.
 4.4 Relações com a matéria de Fundamentos de Administração
Fundamentalmente, a análise dos problemas relacionados à utilização de mão de obra latino americana em regimes análogos à escravidão exige um olhar perante toda cadeia de suprimentos (supply chain) da produção têxtil, uma vez que as peculiaridades de cada agente se tornam questões propagadas ao longo do processo produtivo até a comercialização e, de modo semelhante, ao reverso. Cabe assim, utilizar-se de uma visão sistêmica, ou seja, gerar uma compreensão do todo a partir de um exame global das partes e das interações entre elas.
A origem do fracionamento produtivo se sustenta no crescente contexto da globalização. Há, a partir do final do século XX, maior integração entre diversas partes do globo, com abertura do comércio, com uma logística de transportes que possibilita a troca material e um fluxo de informações de maneira instantânea. Sendo assim, estimulou-se um mercado mais competitivo, o qual busca de maneira constante a redução de custos, relevando a segundo plano a questão dos direitos trabalhistas, para conseguir suprir a demanda de um consumo baseado no fast fashion, ou seja, um padrão no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados em um pequeno espaço de tempo.
No que se refere à fragmentação do setor têxtil, nota-se distinção geográfica entre seus segmentos, no qual, uma peça produzida, utiliza-se de insumos e processos de diferentes locais. Nota-se, também, uma hierarquização social juntamente com uma desigualdade de valores adicionados ao produto ao longo da linha sucessória.
Diante disso, toma-se como um dos principais fatos geradores dos problemas de ordem socioeconômica - o trabalho em condições sub-humanas, com enfoque aos imigrantes, no segmento de costura - o pouco valor adicionado ao produto até então. Em uma lógica vigorosa de redução de custos, os setores intermediários - tecelagem e confecção, além dos setores iniciais - matéria prima e indústria química, são, decerto, os que mais arcam com essa dedução.
 	No entanto, essa dissidência se sustenta no final da cadeia produtiva, que, sob regimes hierárquicos mais altos, fortalece essa lógica desleal de superexploração dos segmentos anteriores. Decorre-se, assim, a ausência de responsabilidade social, dividida tanto entre mercado, como quem comercializa as roupas. Compete-se, desse modo, o diagnóstico por trás desse desafio, o qual permita extrair possíveis soluções visando empoderar os demais setores da cadeia têxtil.
 	Ao olhar as relações entre os diversos stakeholders, constata-se 3 pilares que estimulam, de maneira direta ou indiretamente, a lógica atual de produção que gera o problema a par do trabalho realizado. São eles: a sociedade como consumidores; o mercado alinhado à concorrência; e os fornecedores. Cada um deles age de forma individual,
todavia, suas causas e implicações são totalmente integradas.
 	O modelo vigente de consumo exige uma logística de rápida reposição, o qual se ampara em uma demanda desse tipo. Criou-se, na sociedade, uma cultura de utilização por estações. Há, consequentemente, no setor da moda, uma obsolescência programada, termo que se designa em reduzir a vida útil do produto para incitar a aquisição de outros em versões mais recentes. Assim, o hábito do fast fashion induz o consumidor a valer-se de preços mais acessíveis, sem presumir, entretanto, a consequência desse ato por trás da compra.
Como o mercado se embasa nos padrões culturais e das possíveis tendências, ele reflete e se apropria também desse método de exposição das mercadorias. As grandes e pequenas varejistas de roupas precisam constantemente renovar seu estoque e, ao mesmo tempo, oferecer preços reduzidos para se manterem competitivos. Embora haja uma vasta disparidade entre preço de custo e preço de venda por peça, justifica-se, devido ao molde capitalista, com o valor agregado da marca ou da loja. Desse modo, ocorre novamente a transferência, para o segmento anterior da cadeia produtiva, essa desvalorização do valor adicionado a mercadoria até então.
 	Por fim, o terceiro pilar se baseia nos fornecedores. Assim como no comércio, há uma extensiva competição, a qual, após excluir o parâmetro de qualidade, dá destaque a quem oferecer menor preço. Para se sustentar, o setor focaliza-se através da produção quantitativa, ou seja, um manufaturação que ganha por intermédio da quantidade, a qual, ao mesmo tempo, deve acompanhar a demanda de mercado. Aliando esses aspectos ao baixo valor pago por peça produzia, ínfimo em relação ao preço de venda final, surge o problema de regimes trabalhistas análogos a escravidão, baseados em rotinas de trabalho exaustivas, em locais impróprios e salários abaixo dos garantidos pela lei.
 	Dá-se destaque assim, a atuação da mão de obra Latino Americana nessas condições de trabalho. Há, nesse caso, uma relação de troca, embora desleal, entre imigrante e contratante. O primeiro, recém-chegado ao país, de maneira ilegal e desconhecendo seus direitos, se submete ao ônus do trabalho por um lugar que supra suas necessidades de moradia e alimentação e o forneça uma remuneração, mesmo que de irrisório valor. Já o segundo aproveita-se da situação de vulnerabilidade e situa o indivíduo em um ofício de intensa exploração a um custo pequeno para si, uma vez que não ocorre o cumprimento da lei e dos direitos humanos.
 	O problema não se retém somente nessas oficinas de costura terceirizadas. Diante de mecanismos de “quarteirização” e “quinteirização”, oriundos de processos de subcontratação para suprir a demanda exigida, há uma maior dificuldade de fiscalização e há, consequentemente, uma tendência de agravamento da questão. Isso tornou-se base do que alegaram as grandes varejistas, como a C&A, Marisa e Zara, que recentemente, foram envolvidas em escândalos quanto a utilização de mão de obra escrava em sua produção.
 	Entretanto, é valido ressaltar a necessidade de uma postura proativa da empresa em seu ambiente organizacional. É imprescindível destacar características como responsabilidade social, comprometimento e comportamento ético na administração e nas distintas relações do ambiente interno e externo. Dessa forma, usufruir-se de trabalho escravo em sua produção, seja esse ato de modo direto ou indireto, é ferir esses preceitos e negligenciar consequências que, inevitavelmente, se manifestarão. 
5. SOLUÇÃO
Como mencionado e explicado anteriormente, a lógica de consumo e produção do fast fashion e a maneira como a cadeia têxtil está estruturada contribuem para a perpetuação de condições de trabalho sub-humanas enfrentadas pelos imigrantes inseridos nessa cadeia.
Considerando que essa questão envolve diversos setores da sociedade, como o governo, empresas e consumidores, serão abordados neste trabalho planos de ação para alguns dos setores citados, com o objetivo de propor mudanças que possam, se não eliminar, atenuar o problema da mão de obra em condições análogas à escravidão na cadeia têxtil brasileira.
Com relação aos procedimentos já adotados pelo governo, é possível notar que diversas medidas aplicadas desde 2007 tentaram, de alguma forma, barrar o crescimento do problema dos imigrantes que vivem e trabalham de forma irregular no país. Isso ocorreu tanto com tentativas de facilitar e baratear a regularização de empresas (que acabam contratando apenas funcionários de forma legal, afinal, passam a ser vigiadas pela lei), quanto com melhorias no controle e fiscalização da situação: a criação do SIMPLES nacional (um regime tributário diferenciado para microempreendedores com receita bruta anual de até 3,6 milhões de reais) e da lei que reconhece a existência do MEI (Microempreendedor individual), os quais têm um regime tributário ainda mais atrativo e muito mais barato, foram importantes para encorajar a regularização das oficinas. Além de questões tributárias, houve também a Lei da Anistia de 2009, a qual concedeu direitos de residência permanente e acesso à CLT para milhares de trabalhadores estrangeiros que até então se encontravam irregulares. Além disso, a criação do Plano Estratégico de Fronteiras (PEF) tem garantido, desde 2011, mais investimentos na fiscalização das fronteiras, o que, além de reduzir a entrada irregular de imigrantes, tem o benefício de evitar a entrada de produtos proibidos como armas e drogas.
Uma proposta nova que possibilitaria uma significativa redução no número de oficinas de costura que utilizam trabalho irregular de imigrantes seria a exigência, por parte dele, de um relatório das empresas envolvidas no setor têxtil, que contenha os fornecedores contratados por cada uma e a quantidade demandada de cada um deles. Cabe destacar que esse relatório seria emitido periodicamente e ele seria exigido não só de grandes varejistas, mas também de pequenas empresas, oficinas de costura que comprem para revenda, ou qualquer participante da cadeia que terceirize parte de suas atividades. Caberia ao governo analisar os dados emitidos pelas empresas e verificar se a quantidade demandada por cada uma é compatível com o tamanho da contratada, ou seja, se esta é capaz de atender ao que lhe foi requerido, o que seria feito a partir de vistorias periódicas aos locais de produção citados nas listas. Se for constatada alguma irregularidade, o órgão responsável pela fiscalização poderia iniciar uma investigação, multar ou até punir criminalmente os envolvidos.
O intuito de punir a empresa que exige um trabalho excessivo de um fornecedor é evitar que ele busque suprir sua demanda através da exploração de seus empregados. Contextualizando para o setor têxtil, uma oficina de costura contratada por uma empresa para produzir um número excessivo de peças poderia fazer isso de maneira ilegal, reduzindo seus custos através da contratação de mão de obra imigrante em condições precárias ou então através da quarteirização, ou seja, contratando uma segunda oficina para auxiliar na produção. Dessa maneira, cabe às varejistas manter uma relação mais próxima com seus fornecedores, com o intuito de conhecer a capacidade produtiva desses, para evitar quaisquer sobrecargas que possam estimular, de certa forma, situações degradantes e exploratórias de trabalho. Além disso, apesar desse controle ser um custo adicional às empresas, é responsabilidade delas garantir condições dignas de trabalho nos locais em que ela está relacionada.
Atualmente, quando uma empresa contrata uma oficina de costura e nesse local é flagrada a existência de trabalho análogo à escravidão, a varejista é julgada juridicamente e procura garantir que casos semelhantes não voltem a ocorrer. No entanto, conforme mencionado, isso acontece somente quando as oficinas são flagradas. Assim, outro intuito da proposta apresentada é cobrar esse controle como parte recorrente das operações da varejista para evitar esse tipo de
situação. Apresentar esse controle sobre a produção mostrará o valor e o compromisso das varejistas perante a sociedade, além de desestimular a contratação de oficinas irregulares.
Ainda com relação a medidas públicas, o governo falta com procedimentos que poderiam estimular um aumento nas regularizações, não só dos imigrantes, mas também de milhões de brasileiros que trabalham na informalidade. Um exemplo disso é o excessivo tributo aplicado sobre empregadores ao contratar empregados de maneira formal: a contribuição com o INSS é alta, podendo chegar a até 28,8%; o FGTS soma 8%, além de multa rescisória de 50%; há ainda contribuições como PIS e COFINS. Essa pesada carga tributária estimula, de certa forma, o trabalho irregular, uma vez que diversos contratantes deixam de registrar seus funcionários como forma de evitar o pagamento desses tributos.
Além disso, por conceder juros tão baixos ao FGTS (algo em torno de 0,3% a.m.), o governo deveria desistir do arrecadamento dos 10% com relação à multa rescisória, o que aliviaria um pouco o peso dos impostos sobre os empregadores. Ademais, flexibilizar o recolhimento de impostos com encargos sociais para donos de microempresas pode ser uma alternativa que gere resultados até mesmo no curto prazo. O trabalhador, por sua vez, poderia receber bônus periódicos por desempenho no crescimento da empresa, como forma de compensá-lo pelas medidas de corte. De qualquer forma, é certo que a carga tributária que incide sobre o empresário brasileiro é demasiada alta e, dessa forma, necessita ser revista para evitar que ela estimule a irregularidade.
 	Com relação às oficinas de costura, uma medida que poderia incentivar suas regularizações seria uma orientação sobre seus direitos e responsabilidades. Partindo do pressuposto de que os donos das oficinas procurem a regularização por conta própria, devido à pressão do mercado, é necessário que eles saibam quem procurar ou o que deve ser feito num primeiro momento. Uma das propostas apresentadas é a instalação de uma entidade em algum ponto estratégico do Estado de São Paulo para auxiliá-los nesse primeiro contato, como, por exemplo, o consulado boliviano. O intuito desse ambiente seria apresentar aos estrangeiros instituições às quais eles poderiam procurar para auxiliá-los de maneira mais próxima, porque esses, em muitos casos, carecem de informações. Assim, poderia ser apresentado a eles instituições como a Alinha que, conforme apresentado, tem como um de seus objetivos oferecer suporte para os donos da oficina. Desse modo, a Alinha poderia contribuir através de parcerias com outras instituições, auxiliando os imigrantes que trabalham nessas oficinas se regularizarem no Brasil, para obterem sua carteira de trabalho e, assim, se estabelecerem de maneira digna nesse país. Com isso, espera-se, pelo menos, amenizar esse problema histórico presente na sociedade brasileira. 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com as análises feitas ao longo deste trabalho, procurou-se esclarecer a posição que o imigrante ocupa na cadeia têxtil paulista, analisar suas dificuldades e propor soluções para os problemas encontrados.
Através dessa pesquisa foi possível notar quão grande é o problema e quão difícil é combate-lo, uma vez que suas causas são diversas e sua disseminação não se encontra em um ponto, mas ao longo da cadeia. Dessa forma, não é possível apresentar um culpado, o que torna ainda mais difícil apresentar uma solução para esse problema.
Além disso, para propor uma solução não basta apenas um olhar externo, é necessário o sentimento de empatia para compreender os problemas nas mais diversas óticas. Sendo assim, foi apresentado uma solução que envolvesse os diversos agentes da cadeia, mas manteve-se o foco no governo, uma vez que ele apresenta maior capacidade para enfrentar essa situação. Frente a esse problema, foi proposta uma revisão da tarifa tributária, um aumento no número de locais que auxiliem o imigrante no conhecimento de seus direitos e também a exigência que as empresas emitam relatórios que explicitem quem são, exatamente, os seus fornecedores. Assim, devido a complexidade do problema, as propostas apresentadas foram as maneiras mais eficientes encontradas para fazer frente a essa questão que exige um olhar atencioso e, ao mesmo tempo, objetivo e, se adotadas, devem mostrar resultados positivos no longo prazo. 
Por fim, espera-se que as explicações e as medidas propostas contribuam, de alguma forma, para a atenuação das dificuldades dos imigrantes na cadeia têxtil em São Paulo ou, pelo menos, para instigar e proporcionar um aumento na visibilidade desse assunto, principalmente entre aqueles que podem, a curto prazo, fazer a diferença diante da situação, ou seja, os consumidores. Afinal, esses se adotarem uma postura mais conscientes e começarem a questionar a procedência das coisas que consomem podem causar um grande impacto, isso em conjunto com as ações dos demais atores da cadeia têm a capacidade de atenuar esse problema que apesar de antigo, mostra-se tão presente na atual sociedade brasileira. 
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