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6. A Economia Brasileira no século XIX (3ª parte). Disciplina: Formação Econômica do Brasil UFRJ - Graduação em Ciências Econômicas (Bacharelado) 2º Semestre de 2015 Prof. Wilson Vieira 1. Gestação da Economia Cafeeira Segundo Furtado (2007: 165): Ao observador de hoje, afigura-se perfeitamente claro que, para superar a etapa de estagnação, o Brasil necessitava reintegrar- se nas linhas em expansão do comércio internacional. Num país sem técnica própria e no qual praticamente não se formavam capitais que pudessem ser desviados para outras atividades, a única saída que oferecia o século XIX para o desenvolvimento era o comércio internacional. Desenvolvimento com base em mercado interno só se torna possível quando o organismo econômico alcança um determinado grau de complexidade, que se caracteriza por uma relativa autonomia tecnológica. Já assinalamos a importância que teve no desenvolvimento dos EUA, na primeira metade do século passado, o dinamismo do seu setor exportador. Tampouco seria possível contar com um influxo de capitais forâneos em uma economia estagnada. 1. Gestação da Economia Cafeeira As exportações tradicionais do Brasil sofriam dificuldades (como relatadas no capítulo anterior). O autor destaca a situação do algodão: perde para o concorrente norte- americano devido ao início de sua produção em grande escala. Segundo Furtado (2007: 168): O fumo, os couros, o arroz e o cacau eram produtos menores, cujos mercados não admitiam grandes possibilidades de expansão. 1. Gestação da Economia Cafeeira Segundo Furtado (2007: 168): O problema brasileiro consistia em encontrar produtos de exportação em cuja produção entrasse como fator básico a terra. Com efeito, a terra era o único fator de produção abundante no país. Capitais praticamente não existiam e a mão-de-obra era basicamente constituída por um estoque de pouco mais de dois milhões de escravos, parte substancial dos quais permaneciam imobilizados na indústria açucareira ou prestando serviços domésticos. 1. Gestação da Economia Cafeeira Surge, então, o café como produto de exportação, cujas características de produção se adequavam exatamente às condições ecológicas do país. Apesar de ter sido introduzido no Brasil no início do século XVIII, só assume importância comercial no final do referido século a partir da sua alta de preços no mercado internacional, causada pela desorganização do grande produtor que era a colônia francesa do Haiti. Ocorre, então, um grande crescimento da participação do produto no total das exportações brasileiras. A primeira fase da expansão cafeeira (gestação) ocorre no segundo e principalmente terceiro quartel do século XIX e foi feita com base no aproveitamento de recursos preexistentes e subutilizados. É formada também nessa fase uma nova classe empresária oriunda do comércio e que contava inicialmente com homens da região. 1. Gestação da Economia Cafeeira Diferentemente da classe dirigente açucareira que involuiu de empresária para a de rentista ociosa fechada num pequeno ambiente rural, a classe dirigente cafeeira buscou subordinar (e conseguiu) o instrumento político a favor de seus interesses econômicos (que alcançou sua plenitude com a conquista da autonomia estadual ao ser proclamada a República). Então, no final do terceiro quartel do século XIX e graças ao café, o Brasil foi reintegrado nas correntes em expansão do comércio mundial e a economia cafeeira encontrava-se em condições de autofinanciar sua extraordinária expansão subsequente. Restava, contudo, resolver o problema da mão- de-obra (cf. FURTADO, 2007: 172). 2. O Problema da Mão de Obra I. Oferta Interna Potencial Pela metade do século XIX, a força de trabalho estava constituída por uma massa de escravos que talvez não chegasse à quantidade de 2 milhões e com inelasticidade da sua oferta e com o agravante da taxa de mortalidade superior à de natalidade. Por outro lado, o recrutamento da mão-de-obra da economia de subsistência seria tarefa bastante difícil e necessitaria de grande mobilização de recursos porque estava dispersa e a cooperação da classe de grandes proprietários de terra dificilmente ocorreria porque todo um estilo de vida, de organização social e de estruturação do poder político entrava em jogo. 2. O Problema da Mão de Obra I. Oferta Interna Potencial No tocante à mão-de-obra livre nas cidades Furtado (2007: 179-180) afirma: Mas não somente no sistema de subsistência existia mão-de-obra trabalhando com baixíssima produtividade, e que podia ser considerada como reserva potencial de força de trabalho. Também nas zonas urbanas se havia acumulado uma massa de população que dificilmente encontrava ocupação permanente. As dificuldades principais neste caso eram de adaptação à disciplina do trabalho agrícola e às condições de vida nas grandes fazendas. As dificuldades de adaptação dessa gente e, em grau menor, daqueles que vinham da agricultura rudimentar do sistema de subsistência contribuíram para formar a opinião de que a mão de obra livre do país não servia para a ‘grande lavoura’. Em consequência, mesmo na época em que mais incerta parecia a solução do problema de mão-de-obra, não evoluiu no país a ideia de um amplo recrutamento interno financiado pelo governo. Pensou-se em importar mão de obra asiática, em regime de semisservidão, seguindo o exemplo das Índias Ocidentais inglesas e holandesas. 3. Bibliografia FURTADO, Celso. In: __________. Gestação da economia cafeeira. Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Cap. 20, p. 164-172. __________. O problema da mão-de-obra. I. Oferta interna potencial. In: __________. Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Cap. 21, p. 173-180.
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