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Módulo 3

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Módulo 3: Língua e fala. Perspectiva saussureana. Bases do Estruturalismo.
A Linguística moderna estabelece a prioridade dos estudos da língua sobre a fala.
 
Apesar de nos primeiros conteúdos estudados ter sido dito que o objeto de estudo da Linguística é a linguagem humana, veja você que Saussure, ao definir a Linguística como uma ciência, estabeleceu como seu objeto de estudo a língua e não a fala, ainda que para descrever a primeira (a língua), o linguista tenha necessidade de recorrer à segunda (a fala), pois é através desta última que ele tem acesso à anterior. As razões para essa distinção feita por Saussure são apresentadas a seguir.
 
Para ele, a língua é uma espécie de acordo entre todos os membros de uma comunidade linguística que a utilizam. Sendo assim, nenhum integrante dessa coletividade, individualmente, pode transformá-la. Toda e qualquer alteração Linguística deve ser aceita pela coletividade para que possa ser incorporada pela língua e dela fazer parte. Afinal, a língua pertence à coletividade e não pertence a ninguém individualmente. Basta lembrar que quando as pessoas nascem, a língua já está lá. Ela já existe. Ela pode ser descrita e analisada nela mesma, sem necessidade de recorrer-se a nenhum outro fator que não seja da ordem do linguístico.
 
A fala é da ordem do individual. Por ser a fala individual, ela está sujeita a uma série de interferências de fatores não linguísticos, que podem alterá-la, transformá-la, como por exemplo, os fatores emocionais, sociais, físicos ou outros. Quanto a essa interferência dos fatores não linguísticos, afirmamos que tais situações fogem da alçada da investigação linguística, ou se tornam secundárias nesta ciência.
 
A língua é um sistema a ser descrito. A fala é considerada como uso individual e momentâneo desse sistema. Daí se conclui que:
 
O estudo da linguagem comporta, portanto, duas partes: uma, essencial, tem por objeto de estudo a língua, que é social em sua essência e independe do indivíduo; esse estudo é unicamente psíquico; outra, secundária, tem por objeto a parte individual da linguagem, vale dizer, a fala, inclusive a fonação e é psicofísica (Saussure, 1973, p.27).
 
Lyons (1979) resume o que foi dito sobre a prioridade da língua sobre a fala nos estudos linguísticos, afirmando que:
 
Por enquanto, contentemo-nos com afirmar que todos os membros de uma comunidade Linguística (todos aqueles que falam uma determinada língua, por exemplo, o português) produzem, quando falam essa língua, enunciados que, a despeito de suas variações individuais, podem ser descritos por um sistema específico de regras e de relações: em certo sentido, esses enunciados têm a mesma característica estrutural. Os enunciados são exemplos de fala que o linguista toma como evidência para a construção da estrutura comum subjacente: a língua. Portanto, o que o linguista descreve é a língua, o sistema linguístico (LYONS, 1979, p.52).
 
Os conceitos de língua, fala e linguagem e a forma como se inter-relacionam serão retomados a seguir, durante a apresentação dos conceitos básicos do estruturalismo, pois esta perspectiva de análise Linguística já começa a se fazer sentir muito presente nas citações feitas até aqui.
 
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Referência utilizada para elaboração deste texto:
LYONS, J. Introdução à linguística teórica. São Paulo: EDUSP, 1979. (p.1-38)
PETTER, M. Linguagem, língua, linguística. In: FIORIN, J.L. (org.) Introdução à linguística. I. Objetos teóricos. São Paulo; Contexto, 2002. (p.11-24)
SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1973.
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O estruturalismo linguístico
 
Alguns conceitos do estruturalismo já foram vistos nos conteúdos complementares anteriores e serão retomados agora, visando à melhor compreensão do tema.
 
O estruturalismo, ou abordagem estrutural da língua, define língua como um “sistema de relações” e considera os idiomas como sistemas estruturados, no interior dos quais cada elemento se define primordialmente pela maneira como está relacionado aos outros elementos (Trask, 2004). Isso significa que todas as línguas são constituídas por elementos linguísticos, por exemplo, fonemas e morfemas. Esses elementos constituem subsistemas da língua, ou seja, são conjuntos organizados de elementos linguísticos. Conjuntos organizados porque os elementos de cada subsistema são inter-relacionados. A organização diz respeito à inter-relação entre os vários elementos daquele conjunto. Os subsistemas da língua, por sua vez, são inter-relacionados entre si, constituindo um conjunto organizado de subsistemas da língua que é o “sistema linguístico”. Em resumo:
 
 
	      Fonemas são sons específicos de uma língua. Exemplo de fonema: /o/, /f/.
      Morfemas são os menores elementos da língua com significado – uma palavra ou parte de uma palavra. Exemplo de morfema: flor, florido, florecer.
conjunto organizado de fonemas = sistema fonológico = subsistema da língua.
conjunto organizado de morfemas = sistema morfológico = subsistema da língua.
conjunto organizado de subsistemas = sistema linguístico = língua.
 
 
 
Dada essa definição de língua, vamos agora retomar os conceitos denominados sincronia e diacronia da língua, lembrando que Saussure estabeleceu a prioridade do primeiro sobre o segundo, contrapondo-se à visão da Linguística histórica.
 
Para Saussure, a explicação sincrônica é estrutural e não causal. Ou seja, ao descrever-se um sistema linguístico em determinado tempo, levando-se em conta todas as suas partes constituintes e de que maneira elas se relacionam, é possível encontrar explicações para o funcionamento desse sistema. Para descrever esse estado de língua, ou como ele se encontra naquele momento, não há necessidade de se recorrer às suas transformações históricas.
 
Lyons (1982) ilustra a diferença entre a explicação sincrônica e diacrônica como sendo, por exemplo, duas respostas possíveis para a pergunta: “Por que um motor de um Rolls Royce de tal modelo e tal ano é como é?” Duas respostas são possíveis:
 
 
	1. uma resposta que leve em conta a explicação diacrônica através de todas as mudanças que ocorreram no tempo de cada uma das partes componentes do motor; ou
 
	2. uma resposta que leve em conta a explicação sincrônica através do papel desempenhado por cada um dos componentes do motor daquele modelo particular, como ele se encontra naquele momento. (adaptado de Lyons, 1982, p.203)
 
 
Pode-se resumir o exposto dizendo que, ao estabelecer a prioridade do estudo sincrônico sobre o diacrônico, Saussure o fez com base em sua concepção de que em cada momento no tempo a língua é um sistema integrado de relações (Lyons, 1979). Esse “estado de língua” – sincrônico - é o resultado de todas as transformações no período de tempo que o antecedeu – diacrônico - e é, por sua vez, o precursor das transformações seguintes. Em outras palavras, na linha do tempo podemos descrever vários estados de língua em um estudo sincrônico, ou estudar as mudanças operadas entre os vários estados em um estudo diacrônico. Sendo assim, pode-se dizer que a língua se apresenta sempre como sincronia e diacronia. O estudo linguístico poderá, portanto, ser sincrônico – a descrição de um estado; ou diacrônico - o estudo de suas evoluções.
 
Isso leva aos conceitos dicotômicos, que são os conceitos linguísticos que podem ser definidos de forma independente, porém são complementares ou interdependentes entre si.
 
Em vista do exposto, sincronia e diacronia são conceitos dicotômicos: “A cada instante, a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante, ela é uma instituição atual e um produto do passado” (SAUSSURE, 1973, p.16). O estado de língua e suas transformações são complementares entre si.
 
Língua / fala e linguagem
 
A linguagem é constituída de duas partes: a língua e a fala.
 
Na abordagem estrutural, a linguagem é vista como uma faculdade do serhumano. É uma atividade mental complexa, que envolve múltiplos fatores, tendo início em uma intenção de falar. A intenção de falar faz com que o sistema nervoso central emita comandos para várias áreas distintas, envolvendo músculos, nervos e órgãos diversos, que participarão da escolha do idioma a ser utilizado, em função do ouvinte, das alterações na inspiração do ar pelo falante e das alterações no posicionamento dos órgãos envolvidos na articulação dos sons. Esses sons serão levados para o ouvinte através de ondas sonoras.
 
Até aqui estamos considerando o falante. Você deve pensar também no processo de decodificação da mensagem que envolve o ouvinte. O circuito completo ou circuito da comunicação pode ser esquematizado como segue:
 
- o ponto de partida do circuito de comunicação se situa no cérebro do falante.
 
·         Em seu cérebro, a mensagem é codificada: “Esse fenômeno é inteiramente psíquico, seguido, por sua vez, de um processo fisiológico” (Saussure, 1973, p.19), ou seja,
·         o cérebro transmite aos órgãos da fonação um comando para que eles se preparem para a emissão da mensagem, a articulação.
·         A mensagem articulada (falada) vai da boca do falante até o ouvido do ouvinte através de ondas sonoras (processo físico).
·         A mensagem ao ser captada pelo ouvido do ouvinte é encaminhada para seu sistema nervoso central – cérebro do ouvinte (transmissão fisiológica), onde será decodificada (processo psíquico).
·         Se o ouvinte responder, o circuito todo se repete. (adaptado de Saussure, 1973, p.19).
 
A língua é o resultado da transformação da mensagem em um código. Codificar a mensagem significa transformar a mensagem em um código que seja comum aos dois, falante e ouvinte, para que a mensagem transmitida por um seja compreendida pelo outro. O processo psíquico de codificação é individual, porém, o código será o mesmo para falante e ouvinte, para que a comunicação possa acontecer.
 
O ouvinte vai decodificar a mensagem, ou seja, compreendê-la, se e somente se tiver conhecimento desse código usado pelo falante. Logo, o código é comum aos dois. Em outras palavras, “a língua é uma convenção” (Saussure, 1973, p.18). O código pertence ao coletivo. É social.
 
A fala é a execução do processo psíquico e o processo fisiológico refere-se aos comandos emitidos pelo cérebro, que fazem com que a mensagem seja articulada, produzida, de uma ou outra forma, dependendo de fatores emocionais, físicos ou sociais envolvidos. A execução do processo psíquico e do processo fisiológico são particulares de cada indivíduo. A fala é individual.
 
A língua, ou o código, não sofre interferência de nenhum fator não-linguístico. Note, assim, que à língua está sendo atribuída a função de assegurar a comunicação entre as pessoas. A comunicação é a função principal da língua. Isso justifica o fato de a língua ser a parte essencial da linguística e o objeto de estudo prioritário da linguística.
 
Língua e fala são conceitos dicotômicos, pois:
 
... esses dois objetos estão estreitamente ligados e se implicam mutuamente;
a língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos;
a fala é necessária para que a língua se estabeleça.
(...)
... é ouvindo os outros que aprendemos a língua materna; ela se deposita em nosso cérebro somente após inúmeras experiências (Saussure, 1973, p.27).
 
 
	LÍNGUA                    FALA       
	“Existe, pois, interdependência da língua e da fala; aquela é ao mesmo tempo o instrumento e o produto desta” (Saussure, 1973, p.27)
 
 
Mais uma vez, a execução do processo psíquico é a fala. Isso significa que algo ocorre antes da execução, levando-nos a outro conceito desta abordagem estruturalista – como você vai ver no próximo conteúdo complementar.
 
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Referências utilizadas para a elaboração deste texto:
 
FIORIN, J. L. Teoria dos signos. In: FIORIN, J. L. (Org.) Introdução à linguística. I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.
LYONS, J. Linguagem e linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
PETTER, M. Linguagem, língua, lingüística. In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à linguística. I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002. 11-24
PIETROFORTE, A. V. A língua como objeto da lingüística. In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à linguística. I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002. 75-93
SAUSSURE, F. Curso de linguistica geral. Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 4a ed. São Paulo: Cultrix, 1972.

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