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Módulo 5

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Módulo 5: Estruturalismo e o método descritivo de análise. Estruturalismo americano / behaviorismo / aquisição da linguagem
Estudos anteriores ao advento da ciência linguística focalizavam a gramática de modo muito diferente do que se faz hoje. Termos como gramática tradicional, normativa ou prescritiva são utilizados para referir-se ao estudo da gramática cujo foco sempre foi a tentativa de ordenar logicamente o idioma e de considerar normas determinantes para o que é apropriado no uso desse idioma.
 
Afirma Petter (2002, p.19) que “a gramática tradicional, ao fundamentar sua análise na língua escrita, difundiu falsos conceitos sobre a natureza da linguagem”. O fato dessa gramática não reconhecer as diferenças entre língua escrita e língua falada fez com que privilegiasse a língua escrita em detrimento da língua falada e, dessa forma, a língua escrita transformou-se em modelo de correção para todo tipo de expressão linguística.
 
Essa tradição normativa serve como modelo até hoje, e muitos países fazem uso desse tipo de gramática, principalmente aqueles que têm preocupação com o desenvolvimento e fortalecimento da língua padrão. De acordo com essa gramática, as normas orientam a produção de textos escritos e só há uma forma correta de usar a língua. Qualquer outra variedade linguística é considerada inferior e incorreta.
 
Essa perspectiva da gramática tradicional ou prescritiva ou normativa reduz o objeto de análise da língua, que acaba por assumir uma forma única, do uso considerado correto na língua. A diversidade e variedade dos usos linguísticos deixa de ser estudada e analisada.
 
A gramática normativa é considerada a modalidade de gramática que se preocupa em preservar as formas linguísticas da alta literatura de uma língua, e assim prescreve normas de uso da linguagem nessa direção. Em suma, prescreve normas de uso correto da língua com base no estilo literário considerado de tipo culto.
 
Gramática é assumida nessa perspectiva como o conjunto de elementos e de regras de combinação entre esses elementos, obtido por meio da descrição de textos escritos. Trata-se, portanto, de uma gramática resultante da descrição de textos escritos particulares, aqueles considerados os bons textos.
 
Uma diferença entre a gramática normativa e a descrição de abordagem estruturalista está no objeto de análise, ou seja, no objeto descrito: para a primeira (a gramática normativa), os bons textos escritos; para a segunda (descrição de abordagem estruturalista), a linguagem como ela é efetivamente falada, sem apreciação de valor. Para a segunda – a Linguística, a gramática das línguas naturais é a língua natural como é falada pelas pessoas.
 
Outra diferença está na finalidade dessa descrição: para a primeira, importa estabelecer as regras de como as pessoas devem falar; importa prescrever regras do bom uso da língua.
 
Para a Linguística, importa descrever a gramática natural das línguas naturais para entender o funcionamento das línguas. Para o estruturalismo, a descrição dos fatos da língua é uma explicação de seu funcionamento, já que envolve descrever os elementos do sistema e as relações estabelecidas entre eles.
 
Para o estruturalismo, a gramática é o resultado da descrição da gramática das línguas naturais como são faladas pelas pessoas.
 
Gramática = descrição dos elementos e das regras de inter-relação entre os vários elementos de um sistema linguístico como se apresenta na língua falada pelas pessoas.
 
Os limites da análise estruturalista: a frase (a exclusão da fala – sujeito – e do contexto sócio-histórico)
 
“A linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma” (Saussure, 1973, p.271). Com essa frase, encerra-se o Curso de Linguística Geral, como foi intitulado o livro que, segundo seus organizadores, traduz o pensamento de Saussure sobre a ciência linguística, conforme exposto em suas aulas.
 
Ao mesmo tempo em que essa afirmação elevou a Linguística ao status de ciência, ela resume um dos grandes motivos de críticas por adeptos de outras abordagens teóricas, gerando uma série de equívocos, não só no que se refere ao estudo das línguas, mas também em relação aos métodos de ensino. Isso ocorreu, por exemplo, com os adeptos das chamadas teorias do texto, dentre as quais se pode citar a linguística textual, a sociolinguística, a análise do discurso, a pragmática. Para essas abordagens, a abordagem estruturalista implica:
 
• analisar a língua em si mesma e por si mesma, excluindo dessa análise todo e qualquer fator não linguístico;
 
• analisar a língua, e não a fala;
 
• excluir a fala da análise linguística e, portanto, excluir do falante;
 
• atribuir ao falante um status passivo no circuito da comunicação;
 
• tomar as produções linguísticas como produtos acabados excluídos de suas condições de produção.
 
Um dos problemas apontados e decorrentes do exposto é a dificuldade em dar conta de questões semânticas, as questões das significações e dos sentidos, sem recorrer a outros elementos que não estão presentes no linguístico propriamente dito. Por exemplo, a frase “que moça bonita” pode ser um elogio ou uma ironia, dependendo do tom da voz do falante (lembrando que o tom de voz não é um elemento linguístico!).
 
 
Outro problema, diretamente relacionado ao que foi dito acima, refere-se à unidade linguística tomada por análise em uma abordagem estrutural: a frase, como é produzida por seus falantes, sem levar em conta suas condições de produção. Isso é bem ressaltado nas teorias do texto, ou seja, nas teorias linguísticas que tomam o texto por unidade de análise, o texto entendido como processo, envolvendo todas as suas condições de produção: os interlocutores, a situação de fala, o contexto histórico-político-social, dentre outras.
 
Para os estruturalistas as línguas se organizam em todos os seus aspectos estruturais (fonéticos, morfológicos e sintáticos) de uma maneira regular e reiterável.
 
Leonard Bloomfield é o mais influente linguista estruturalista americano. Foi influenciado ao longo de sua carreira pelo behaviorismo, uma corrente da psicologia baseada no estudo objetivo do comportamento. Bloomfield adotou os princípios do behaviorismo e, para ele, a língua funcionava como qualquer outro comportamento humano em termos de resposta a um estímulo.
 
Outro linguista americano de renome no período do estruturalismo é Edward Sapir. Sua obra é reconhecida pelos aportes vinculados à relação entre linguagem, pensamento e cultura.
 
Os estruturalistas norte-americanos, com base nos estudos da psicologia behaviorista, acreditavam que o estudo de uma língua deveria ser feito a partir de um grande número de dados, ou seja, de um corpus diversificado e com muitos dados, de tal modo que fosse possível a análise de grande número de frases produzidas por falantes da língua considerada, não importando a classe social desses falantes. O objetivo desse tipo de análise era descrever as regularidades existentes na fala das pessoas.
 
Bloomfield se destaca nesse contexto por haver efetuado uma descrição minuciosa e exaustiva do sistema linguístico e por ter tentado encontrar um conjunto de princípios que deram base sólida à ciência da linguagem.
 
            Do primeiro linguista, Edward Sapir, podemos apontar os estudos voltados à linguagem como função cultural. Para o autor, a linguagem é algo tão familiar e cotidiano que quase nunca nos preocupamos em defini-la, assim como também não nos preocupamos em estudá-la por ser-nos tão familiar e cotidiana. No entanto, afirma ainda, a linguagem não é uma função biológica inata, pelo contrário, é influenciada pela sociedade em que está inserido o ser humano. Em resumo, a linguagem é, para Sapir (1921, p.10, apud Gil, 1999, p.84), uma função adquirida, determinada pela cultura.
 
            Para Bloomfield, a linguagem é essencialmente fala, oralidade. Nesse sentido, a linguística norte-americana segue a tradição saussuriana. O objeto de estudo da linguística,
também para esse autor, consiste na linguagem em todas as suas manifestações. O que interessa nos estudos da linguística é o conjunto de aspectos que são comuns a todos os falantes.
 
            Bloomfield propõe uma descrição dos níveis de linguagem, considerando que nessa análise descritiva da língua, fica fora do objeto de estudo todo e qualquer aspecto relacionado ao significado que não se relacione diretamente com as formas e estruturas.
 
            Nessa direção, a aquisição da linguagem como vista por Bloomfield toma por base a psicologia behaviorista do estímulo-resposta e o autor afirma que “a linguagem tem como um de seus objetivos primordiais organizar o mundo através de uma espécie de economia conceitual. Para Bloomfield, a comunidade de fala determina o processo de aquisição da linguagem por uma criança. Uma comunidade de fala é definida como um grupo de pessoas que usam um mesmo sistema de signos linguísticos para comunicar-se.
 
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Referências utilizadas para a elaboração deste texto:
 
LYONS, J. Linguagem e linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
PETTER, M. Linguagem, língua, linguística. In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à linguística. I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.
BENTES, A.C. Linguística Textual. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A.C. (orgs.) Introdução à linguística. Domínios e Fronteiras. vol 1. São Paulo: Cortez, 2001.
GIL, José Maria. Introducción a las Teorías Lingüísticas del Siglo XX. Mar Del Plata, argentina: Editorial Melusina, 2001.
ORLANDI, E. O que é linguística. 4a ed. São Paulo: Brasiliense, 1990, 72p. (Coleção Primeiros Passos, 184)
SAUSSURE, F. Curso de linguistica geral. Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 4a ed. São Paulo: Cultrix, 1972.

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