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Bárbara Gonçalves – Turma XXIV GT 5 – Mofado por dentro Referência - Capítulo 130 – Paracoccidioidomicose (TAVARES) - Capítulo 83 – Paracoccidioidomicose (VERONESI) Paracoccidioidomicose CONCEITO - É uma doença granulomatosa sistêmica, causada pelo fungo termodimórfico Paracoccidioides brasiliensis. - Por ser um fungo dimórfico, em temperaturas de 19 a 28°C (ambiente) ele se encontra na forma de micélio filamentoso e em temperaturas de 33 a 37°C (corpo) na forma de levedura. EPIDEMIOLOGIA - É a principal micose sistêmica endêmica da América latina. - Acomete principalmente indivíduos do sexo masculino, entre 30-49 anos, que são ou foram trabalhadores rurais (doença ocupacional). - A incidência é menor em mulheres devido ao efeito protetor do estrogênio que inibe a transformação de micélio e conídios em leveduras. Obs: Até a puberdade a prevalência é a mesma nos dois sexos. - O fungo é encontrado em solo argiloso ou arenoso, úmido e em climas temperado ou quente. Por esse motivo, o principal fator de risco para as infecções são as atividades agrícolas relacionadas ao manejo do solo e a moradia em meio rural. FISIOPATOLOGIA - A infecção ocorre após exposição acidental ao fungo em seu microambiente. Obs: Conídeos são esporos assexuados do fungo filamentoso. - A evolução da doença depende da interação entre o parasite e o sistema imune: os principais mecanismos de defesa são a imunidade mediada por células (Th1) e a fagocitose por neutrófilos ou por células do sistema fagocítico-mononuclear. Obs: o fungo também pode penetrar no organismo por meio de traumatismo na pele e mucosas, gerando lesões cutâneas localizadas. Nesses casos, a doença é autolimitada, pois o fungo não cumpre o ciclo pulmonar. O homem inala conídios produzidos pela fase micelial do fungo Em função do seu diminuto tamanho, os conídios atingem os alvéolos pulmonares Nos alvéolos, tranformam-se em células leveduriformes e se multiplicam por brotamento A presença do patógeno leveduriforme no pulmão gera um processo de alveolite, com recrutamento de neutrófilos e, posteriormente, linfócitos e macrófagos A partir da 6ª semana, formam-se granulomas epitelioides Na 20ª semana, pode haver disseminação para linfonodos fígado e baço Na grande maioria dos casos, o complexo primário involui espontaneamente Excepcionalmente, a imunidade não é capaz de combater o fungo e ocorre progressão das lesões primárias, com o desenvolvimento da forma aguda/subaguda Em outros casos, o fungo persiste no organismo na forma latente Após longos períodos, alguns fatores interferem na relação parasita hospedeiro e quebram o equilíbrio Com isso, ocorre reativação do fungo com consequente progressão da doença O paciente desenvolve a forma crônica, sendo em imunossuprimidos, de maior gravidade e com maior disseminação Bárbara Gonçalves – Turma XXIV CLASSIFICAÇÃO DAS FORMAS CLÍNICAS - A maioria das pessoas desenvolve a forma assintomática da doença. - Uma minoria desenvolve as formas sintomáticas, sendo a crônica mais prevalente que a aguda. • Forma regressiva: tipo mais benigno da doença. - Manifestações leves acometendo pulmões e reação cutânea. - Cura clínica ocorre mesmo sem tratamento. • Forma progressiva - Composta pelas formas subaguda/aguda e crônica. - Caracterizam-se pelo comprometimento de um ou mais órgãos. Forma Aguda/Subaguda Características gerais Critérios de gravidade Classificação Moderada Grave - Acomete crianças, adolescentes e adultos jovens. - Curta duração (2meses) - Período de incubação curto - Tende à disseminação pelo sistema linfático com comprometimento do sistema fagocítico mononuclear (hipertrofia de linfonodos, hepato e esplenomegalia). - Pouco acometimento pulmonar Comprometimento do estado geral e nutritivo Ausente ou leve Intenso Adenomegalia Localizada; inflamatório não supurativo Generalizada; tumoral ou supurativo Hepato/esplenomegalia Ausente ou leve Intensa Acometimento de outros órgãos Ausente Presente Níveis de anticorpos Baixos ou moderados Elevados Critérios de classificação: Moderada = todos os achados devem estar presentes Grave = 3 ou mais achados Bárbara Gonçalves – Turma XXIV Obs: Só há classificação de moderada e grave, pois, a possibilidade de um comprometimento leve nunca é considerada, devido a instalação rápida da doença e o intenso comprometimento do sistema fagocítico mononuclear que sugerem grande depressão da resposta imune celular específica. Forma Crônica Características gerais Critérios de gravidade Classificação Leve Grave - Compromete adultos com mais de 30 anos - Longa duração (>6 meses) - Mais localizado: acomete pulmão e a mucosa das vias aerodigestivas superiores - Período de latência: variável e pode ultrapassar 30 anos - É favorecida por fatores como desnutrição, alcoolismo e tabagismo que reduzem as defesas naturais. - É a forma clínica mais comum Comprometimento do estado geral e nutritivo Ausente ou leve (emagrecimento <5%) Intenso (emagrecimento >10%) Comprometimento pulmonar e tegumentar Ausente ou leve Manifestações respiratórias intensas e radiografia de tórax mostra acometimento pulmonar. Adenomegalia Inflamatório não supurativo Não se limitam às cadeias cervicais e são do tipo Tumoral ou supurativo Acometimento de outros órgãos Ausente Presente (adrenais, SNC, TGI, ossos) Níveis de anticorpos Baixos Elevados Critérios de classificação: Leve = todos os achados devem estar presentes Grave = 3 ou mais achados MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Os órgãos de maior acometimento são os pulmões, a mucosa oral e das vias respiratórias, a pele e os linfonodos. Pode haver: • Dispneia é a queixa mais frequente e apresenta caráter progressivo • Tosse e Expectoração de aspecto mucoso • Adenopatia: pode ser a principal queixa do paciente, o que, em geral, ocorre na forma aguda ou subaguda. As cadeias do segmento cefálico são as mais comprometidas. • Lesões das vias aéreas superiores Rouquidão, odinofagia, disfagia, ardor na garganta • Lesões cutâneas: podem estar localizadas em qualquer parte do corpo, porém são mais frequentes na face. Obs: O fungo alcança a pele por disseminação hematogênica ou por contiguidade, a partir de lesões mucosas ou ganglionares. Raríssimos são os casos confirmados em que a pele foi a porta de entrada do fungo. • Insuficiência suprarrenal crônica: indisposição, cansaço, anorexia, emagrecimento, hipotensão, náuseas, vômitos, diminuição da potência sexual e libido. • Queixas digestivas: sialorreia, dor abdominal, empachamento, queimação, vômitos. • Comprometimento ósseo e articular A semiologia pulmonar costuma ser muito pobre, encontrando-se inalterada em um grande número de pacientes, inclusive naqueles que apresentam queixas respiratórias intensas ou lesões radiológicas extensas, caracterizando dissociação clínico-semiológica ou radiológico-semiológica, respectivamente. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Lesões cutâneas: leishmaniose cutânea e carcinoma de células escamosas • Comprometimento pulmonar: tuberculose, sarcoidose, histoplasmose, pneumocistose, pneumoconioses, neoplasia. Bárbara Gonçalves – Turma XXIV • Lesões orais: carcnoma epidermoide, histoplasmose, leishmaniose tegumentar, lues • Acometimento laríngeo: tuberculose, carcinoma espinocelular • Lesões de linfonodos: toxoplasmose, citomegalovirose, mononucleose infecciosa, linfomas, histoplasmosee tuberculose • Acometimento digestório: tuberculose, doença de Chron DIAGNÓSTICO - Fase aguda: • Identificação do fungo em histopatológico (biópsia de linfonodo) • Sorologia (imunodifusão): Detecção de anticorpos anti-P. brasiliensis, que estão elevados na forma aguda da doença • VHS e PCR elevados • Eosinofilia e Anemia normocítica e normocrômica. • Eletroforese de proteínas: hipergamaglobulinemia - Fase crônica: • Identificação do fungo em exame direto - O aspecto do fungo é: levedura com brotamentos múltiplos (roda de leme) - Tipos de amostra: raspado de lesões cutaneomucosas, em secreção purulenta de gânglios linfáticos. • Sorologia (imunodifusão): permite avaliação da resposta do paciente ao tratamento na fase crônica. • Radiografia de tórax: Infiltrado reticulonodular bilateral, simétrico, envolvendo o terço médio de ambos os pulmões (aspecto “asa de borboleta”). Obs: A disseminação por via linfática, através de um fluxo retrógrado da linfa, dos hilos pulmonares até a periferia do pulmão, pode justificar as imagens radiológicas padrão “asa de borboleta” observadas em pacientes com a forma crônica pulmonar da doença • Leucocitose discreta, com neutrofilia e desvio à esquerda (forma crônica grave) e Anemia normocítica e normocrômica. TRATAMENTO - Medidas gerais: • Repouso e dieta adequada • Tratamento de doenças associadas • Supressão da ingestão alcoólica • Controle do tabagismo - Drogas com ação anti-P. brasiliensis: • Itraconazol: melhor opção terapêutica para a maioria dos pacientes. O tempo de tratamento varia de 6 meses a um ano. • Associação sulfametoxazol-trimetoprima: contraindicado em pacientes com insuficiência renal ou hepática grave. o tratamento dura 24 meses. • Anfotericina B: é indicada em casos graves. O uso é intravenoso por quatro semanas. Terapia sequencial com itraconazol ou sulfametoxazol + trimetoprima. CRITÉRIOS DE CURA • Clínico: Desaparecimento dos sinais e sintomas. • Micológico: Pesquisa negativa do fungo em exame micológico após tratamento. • Radiológico: Estabilização do padrão radiológico com o tratamento em pelo menos três radiografias realizadas ao longo de um ano. • Imunológico: Os níveis séricos de anticorpos anti-P. brasiliensis negativam ou ficam baixo