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Direito Internacional Público
Conceitos introdutórios
O Direito Internacional Público rege a sociedade internacional. Para quê um direito para a comunidade internacional? Onde há sociedade há direito, assim haverá necessidade de normas e de uma ordem jurídica para aplicar as mesmas.
A partir do momento que existe uma sociedade internacional também há direito. A imagem do DIP ainda é um pouco difusa por se tratar de respeito por ética e não por direito. É no século XX que nascem outros sujeitos de Direito internacional – as organizações internacionais.
O DIP regula, principalmente, as relações entre Estados. A sociedade internacional está muito marcada por um movimento estatutário, apesar de existirem outros sujeitos que actuam no plano internacional, daí não se poder afirmar que o direito internacional público é um direito estadual externo.
Período de afirmação e desenvolvimento do DIP
A evolução do DIP é marcada pela influência das revoluções norte-americana e francesa e o início da Idade Contemporânea é caracterizada pelas ideias liberais. Com a revolução norte-americana nasce o princípio da auto-determinação dos povos, ou seja, estes não podem estar sujeito à autoridade de outro Estado soberano por não ser essa a vontade.
Nasce também o princípio uti pocidetis juris que marca a independência das colónias espanholas na América latina e determina que as fronteiras dos povos independentes devem corresponder às fronteiras delimitadas pelas colónias. As revoluções implicaram o alargamento da sociedade internacional.
Entre as duas grandes guerras nascem novos Estados devido aos povos emergentes das vagas de descolonização. A seguir à 2ª Guerra Mundial nasce a ONU e a guerra deixa de ser tratada pelo DIP devido à sua proibição e à formação da legítima defesa. 
Definição conceptual de Direito Internacional Público
Critério dos sujeitos – é um conjunto de normas jurídicas que regulam relações entre Estados. Hoje em dia é um critério bastante duvidoso uma vez que os Estados não são os únicos sujeitos de Direito Internacional.
Critério do objecto – abarca um conjunto imenso de realidade, daí não se poder definir concretamente qual o seu objecto por haver normas que também se aplicam nas ordens internas dos Estados.
Critério das fontes – é o conjunto de processos de produção e revelação de normas jurídicas, próprios da comunidade internacional. 
Fontes formais imediatas de Direito Internacional Público – modos de produção e revelação de normas jurídicas 
Costume internacional – até ao século XX era a fonte predominante;
Tratados – realidade própria da comunidade internacional;
Actos jurídicos unilaterais.
Posição adoptada 
Critério dos objectivos/fins – é o conjunto das normas jurídicas produzidas pelas fontes próprias da sociedade internacional que se destina a reger as relações jurídicas internacionais:
Normas jurídicas – aplicam-se a uma generalidade de sujeitos mesmo que estes sejam determinados ou determináveis;
Produzidas por fontes – como modos de produção e revelação de normas que correspondem a actos jurídicos unilaterais e modos de justificação e argumentação das mesmas que dizem respeito aos princípios como enunciados jurídicos de valores;
Sociedade internacional – conjunto de sujeitos que estabelecem relações jurídicas entre si para o tratamento de questões de relevância comum. Por exemplo a paz internacional, a unidade de comercio e/ou a cooperação social;
Comunidade internacional – distingue-se da sociedade internacional por ser uma unidade de sujeitos que têm em comum um conjunto de preocupações e interesses. Existe uma ideia de pertença e de cooperação, por exemplo a Respública Christiana.
Relações jurídicas internacionais – são estabelecidas entre sujeitos activos de Direito Internacional, produzindo efeitos jurídicos. Representam um elemento importante para conceber a sociedade internacional.
Tipos de relações jurídicas internacionais
Relações de subordinação – um ou mais sujeitos de Direito Internacional encontram-se num plano superior no contacto com outros;
Relações jurídicas de reciprocidade – estabelecem-se entre dois ou mais sujeitos e visam satisfazer mutuamente os seus interesses através dos chamados tratados-contratos. São tratados que salvaguardam os interesses específicos das partes numa situação paritária;
Relações jurídicas de coordenação – Visam cumprir interesses comuns relacionados com os objectivos da sociedade internacional através dos tratados-leis que se podem aplicar a todos os Estados (se tiverem cláusulas de salvaguarda só se aplicam a determinados países).
Se o bem jurídico tutelado relacionar-se com valores superiores da sociedade internacional, este inscreve-se numa relação de coordenação e não de reciprocidade como é exemplo a paz internacional. Mesmo assim, podem existir relações mistas de coordenação e reciprocidade.
Há uma grande discussão em torno da veracidade do Direito Internacional Público. Não será apenas ética internacional?
Teorias negacionistas 
Teoria realista ou neo-realista – nega o carácter jurídico do DIP e afirma que este resulta da força das relações internacionais, onde se destacam os países mais fortes que criam o próprio direito em função dos seus interesses.
É quase um não-direito; sobrevive apenas com a aprovação dos grandes Estados. 
Crítica: a escola realista detém alguma razão por ser difícil existir DIP sem a aprovação dos principais Estados mas há que questionar que direito é este que resulta das relações de força.
Teoria positivista – não é direito pois para o ser implica um legislador, um acto administrativo, um juiz e um polícia. Não têm as características e elementos estatocráticos das ordens jurídicas internas. 
Crítica: esta teoria é um pouco frágil pois não se deve construir a ordem jurídica internacional à imagem de um Estado. O Direito Internacional não se deve estruturar desta forma porque os Estados não são os únicos sujeitos que envolvem a sociedade internacional
Teorias favoráveis 
Jus-naturalista – existe um conjunto de princípios estruturantes que não podem deixar de ter força jurídica, senão a ordem jurídica internacional seria anárquica. Há, portanto, uma ordem jurídica supra-positiva.
Voluntarista – descreve o Direito Internacional Público como um direito estadual externo. É um direito sem Estado mas um direito de Estados.
Crítica: o Direito Internacional Público não é um direito estadual externo por existirem outras organizações internacionais que não os Estados.
Posição adoptada
O DIP é direito, embora incompleto no campo sancionatório e em formação. Tem um carácter descentralizado no modo de produção e execução de normas jurídicas internacionais como também na criação de relações jurídicas internacionais.
Pontos de debilidade
Aplicação de sanções;
Tribunais existentes.
Estas fragilidades apoiam a teoria negacionista realista, quando esta afirma que o Direito Internacional é um não-direito, apenas existe com a aprovação dos Estados mais fortes; mais uma vez se questiona, que direito é este que resulta de relações de força. O multilateralismo e bilateralismo são sempre uma ameaça ao Direito Internacional.
Apesar destes inconvenientes existe uma tendência para o aperfeiçoamento do campo sancionatório tanto no âmbito internacional regional como no internacional geral.
Fontes de Direito Internacional Público
Fontes formais imediatas – modos de produção e revelação de normas jurídicas 
Tratados;
Costume internacional;
Actos jurídicos unilaterais.
Fontes materiais imediatas 
Princípios gerais de Direito comuns ao Direito Internacional;
Princípios gerais de Direito Internacional.
Fontes mediatas – ensinamentos judiciários que fundamentam as normas jurídicas imediatas formais e materiais.
Doutrina;
Jurisprudência;
Equidade:
Secundum legem – interpretativa;
Praeter legem – integrativa;
Contra legem – embora se posicione numa fonte auxiliar é uma fonte imediatana medida em que cria direito quando derroga um tratado.
Hierarquia de fontes de Direito Internacional Público
De acordo com o artigo 38º do Tribunal Internacional de Justiça, as fontes de Direito Internacional Público encontram-se hierarquizadas da seguinte forma:
Convenções internacionais reconhecidas pelo Direito;
Costume internacional reconhecido pelo Direito;
Princípios gerais de Direito Internacional reconhecidos pelas nações civilizadas;
Precedentes de jurisprudência, ensinamentos da doutrina e equidade.
Críticas 
Em primeiro lugar, não é possível retirar a ideia de hierarquia entre as fontes de Direito Internacional Público. Esta não existe entre fontes imediatas mas entre imediatas em relação às mediatas ou auxiliares que são instrumentais das primeiras.
A noção de “nações civilizadas” é obsoleta uma vez que, hoje em dia, todas as nações têm a tendência para estarem civilizadas.
Por fim, há uma lacuna no artigo pois os actos jurídicos unilaterais não são mencionados como fonte de Direito Internacional Público e a equidade é elevada ao estatuto de fonte como equidade integrativa, ou seja, de modo a criar uma nova regra.
Fontes formais de Direito Internacional Público
Convenções internacionais – resultam de um acto de vontade explícito de criação de aplicação de normas jurídicas. Resulta de um acerto de vontades entre dois ou mais sujeitos de Direito.
Costume internacional – Ao contrário de uma convenção, o costume é uma fonte de criação espontânea e não voluntária.
Actos jurídicos unilaterais – não constam do estatuto mas estão no seio das fontes formais como processos de criação de regras jurídicas. Distinguem-se dos tratados por ser de natureza unilateral enquanto estes são plurilaterais. 
Actos jurídicos unilaterais dos Estados
Acto jurídico autónomo – é uma manifestação jurídica de vontade validade e eficaz por si própria; não depende de um acto jurídico concorrente. 
Protesto – põe termo à formação, utilização e alargamento jurídico do costume. Por exemplo, um Estado comunica que não vai usar certos costumes internacionais.
Renúncia – por exemplo, um Estado abdica da titularidade do exercício de um determinado direito, sendo o próprio destinatário da renúncia. 
Promessa – é um acto jurídico unilateral que vincula o país que se compromete com o seu destinatário de tal promessa.
Outras formas de reconhecimento – actos unilaterais que vinculam Estados no futuro. São manifestações de vontade cuja eficácia e validade dependem de um acto formal ou material. 
Denúncia – acto jurídico unilateral pelo qual um Estado põe termo ao seu compromisso com um tratado internacional. Quando o acto de denúncia é contrário a uma convenção internacional, este será inválido;
Recesso – caso de denúncia em actos jurídicos multilaterais;
Adesão – momento em que um Estado se vincula a um tratado. 
Actos jurídicos auto-normativos – decisões jurídicas normativas que têm como principal destinatário o próprio Estado. Por exemplo, a promessa;
Actos jurídicos hetero-normativos – decisões jurídicas normativas que têm como destinatários primários outros Estados que não o próprio. Por exemplo, o protesto.
Decisões e deliberações de organizações internacionais
Nesta disciplina interessam os actos de eficácia externa provenientes destas decisões e deliberações. Exemplo: os actos criados pelo Concelho de Segurança das Nações Unidas que tenham em vista a paz internacional têm eficácia jurídica externa pois dirigem-se a todos os membros da comunidade internacional.
Recomendações das organizações internacionais
As recomendações não têm um carácter normativo mas apresentam uma eficácia indirecta por duas razões:
Os Estados que as efectivamente recebam não possam ser alvo de responsabilidade em relação a outros que, envolvidos no mesmo tratado, possam sair lesados;
Podem criar costume internacional.
Fontes materiais perceptivas
Princípios de Direito Internacional como fonte de formação espontânea – são enunciados de valores e interesses jurídicos.
Génese diversiforme dos princípios fundamentais de Direito Internacional
Princípios gerais de direito comuns ao DIP e aos ordenamentos estaduais – critérios estaduais que se aplicam à ordem jurídica internacional: boa fé (“pacta sunt servanda” – os tratados devem ser cumpridos); princípio da proporcionalidade (proibição do arbítrio); respeito pelo caso julgado; abuso de direito; ónus da prova (justificação do costume internacional); segurança jurídica; enriquecimento sem causa; faculdade de os tribunais internacionais definirem o âmbito das suas competências.
Princípios originários de DIP – respeito pela integridade territorial e soberania dos Estados; não agressão; não interferência nos assuntos internos; coexistência pacífica; autodeterminação dos povos sob ocupação estrangeira ou domínio colonial (“uti possideti iuris”); princípio da especialidade nas organizações internacionais.
Fontes indirectas ou subsidiárias 
A importância crescente da jurisprudência na construção do DIP – a jurisprudência, apesar de ser uma fonte subsidiária, tem ganho importância uma vez que o DIP é fragmentário e não está todo regulado (exceptuando as convenções internacionais).
Doutrina – tem impacto nas decisões tomadas pelas organizações internacionais e tribunais internacionais.
A problemática da equidade como fonte de Direito Internacional – esta pode ser convocada se as partes assim o quiserem, estando dependente desta escolha.
Fontes e normas
Não existe hierarquia entre fontes imediatas, a não ser entre as convenções internacionais e os actos jurídicos unilaterais não autónomos que dependem das primeiras. Existe, sim, um primado das fontes imediatas sobre as mediatas.
Interacção de fontes: a transição de fontes e a codificação do DIP
O Direito Internacional está basicamente codificado em tratados. Há uma positivação das fontes de formação espontânea em ambiente de fontes de formação voluntária, ou seja, o costume e os princípios internacionais estão reduzidos a escrito (princípio de segurança jurídica – por exigência da certeza das normas).
Hierarquia e normas de DIP
Direito imperativo ou cogente: princípios e normas convencionais ou costumeiras de aceitação geral que estribam a ordem pública internacional e constituem parâmetro de validade sobre as restantes normas;
Relações hierárquicas entre normas convencionais no quadro das organizações internacionais: o caso do primado da Carta das Nações Unidas e do Pacto do Atlântico Norte sobre as convenções celebradas pelos respectivos Estados-membros.
Relações entre normas no quadro dos princípios da cronologia e especialidade
Princípio da cronologia – o tratado posterior prevalece sobre o tratado anterior, podendo ser uma revogação ou uma derrogação. No caso do costume, este tem que ser revogado expressamente pelo novo tratado senão o costume pode ser aplicado como fonte subsidiária.
Princípio da especialidade – norma especial, posterior, tem aplicação preferente em relação à norma geral anterior. A norma geral, em regra, não prevalece sobre a especial a não ser que haja uma intenção inequívoca de pôr termo à regra anterior.
Costume internacional
Noção de costume: prática geral reiterada e efectuada com convicção da sua obrigatoriedade, por parte de sujeitos de Direito Internacional Público.
Elementos constitutivos do costume
Elemento material – o uso como conduta adoptada de uma forma reiterada e consequente num determinado sentido e que se mostra apta a constituir precedente.
Elemento psicológico – a consciencialização da obrigatoriedade jurídica de uma conduta – a “opinio juris”. O tempo é um factor essencial na formação da regra jurídica, este deve ser alargado para haver obrigatoriedade.
Concepções sobre a formação das normas consuetudinárias 
Teoria objectivista – posição adoptada: as normas consuetudinárias são formadas e aceites pelos Estados quando estes têm consciência de que o usoé, verdadeiramente, uma regra.
Os tratados
Conceito geral de tratado – acordo concluído entre dois ou mais sujeitos de Direito Internacional Público com capacidade para o efeito, destinado a produzir efeitos jurídicos regidos pelo mesmo Direito.
Conceito de tratado de acordo com o artigo 2º, parágrafo 1-a da Convenção de Viena de 1969 sobre o direito dos tratados concluídos entre Estados – um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e gerido pelo Direito Internacional.
Acordo de vontades entre Estados
Exclusão de aplicação da CV a convenções celebradas por sujeitos sem a natureza de Estado-soberano (como entre Estados e Organizações Internacionais; entre Organizações Internacionais; entre estados federados; entre casas reais; e entre Estados-soberanos e outros sujeitos com capacidade limitada, tais como estados federados, movimentos de libertação e governos no exílio).
Submissão ao Direito Internacional Público – os tratados devem reger-se e submeter-se às normas jurídicas internacionais.
Classificações de tratados
Quanto ao objecto – tratados-lei (regra geral para todas as partes, tratados-contrato (bilaterais) e tratados mistos (operam como tratado-lei e tratado-contrato).
Quanto ao âmbito material – tratados gerais (aplicam-se à generalidade dos sujeitos de Direito Internacional Público, por exemplo a Carta das Nações Unidas) e tratados especiais (têm uma parte circunscrita de aplicação; aplicam-se a uma parte da sociedade internacional).
Quanto à pluralidade de partes – tratados bilaterais e tratados multilaterais (são mais complexos por terem um conjunto de regras que não abrangem os tratados bilaterais).
Quanto à forma – tratados solenes (em dois momentos: autenticação do texto e expressão do consentimento ou ratificação) e tratados sob forma simplificada (no momento da autenticação exprime-se simultaneamente o consentimento).
A celebração das convenções internacionais
O processo de celebração das convenções bilaterais como regime geral
A negociação 
A elaboração do texto de uma convenção tem que ser feita em base ministerial. Nesta fase, os plenipotenciários reúnem-se por rondas negociais, ou seja, encontram-se nas capitais dos dois países envolvidos na convenção.
Os plenipotenciários são representantes do Estado com poder para negociar. De acordo com o artigo 7º da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados, estes intervenientes agem de acordo com uma carta de poderes que lhes é imposta, onde estão os limites dos seus mandatos que estão ligados aos princípios da boa fé e da transparência.
Os representantes do Estado que dispensam a carta de poderes, de acordo com o artigo 7º/2, são o Chefe de Estado e o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Ainda que, segundo o artigo 8º, alguém actue sem poderes, a sua acção não produz efeitos excepto se o Estado corrigir o vício.
A autenticação
Noção: fixação e certificação do texto definitivo do tratado por acordo dos plenipotenciários. O instrumento de autenticação é a assinatura. (Efeitos da assinatura como forma de autenticação nos tratados bilaterais, de acordo com o artigo 18º.)
A assinatura ad referendum e a rubrica
As convenções podem ser autenticadas através da assinatura ad referendum, sendo esta provisória na medida em que está sujeita a posterior confirmação. Forma-se, portanto, um acto de dupla assinatura. A rubrica segue o mesmo procedimento.
A vinculação 
A vinculação consiste na expressão definitiva de consentimento do Estado em relação ao tratado em causa.
Forma de vinculação nos tratados solenes
Ratificação como regra – artigo 11º;
Nos tratados solenes os actos de autenticação e de consentimento são figuras autónomas, ao passo que nos acordos sob forma simplificada passa-se pela dupla assinatura (autenticação e vinculação definitiva).
Especificidades do regime das convenções multilaterais
Processo colectivo de elaboração – consiste na participação de mais de duas partes contratantes. A elaboração é feita no âmbito deste processo abrange as convenções e as organizações internacionais.
A autenticação 
Adopção do texto (art. 9º CV) – a autenticação opera pela regra geral da unanimidade. 
Maioria de 2/3 para adopção em conferência internacional e possibilidade de por essa maioria, os Estados convencionarem outra regra distinta de votação;
Possibilidade de o tratado institutivo de organização internacional fixar uma maioria específica para a adopção de convenção pelos seus órgãos permanentes.
Assinatura diferida – preterição da assinatura do Estado que participou na negociação para o momento em que a convenção pode ficar aberta à assinatura de outros Estados que não participaram no processo negocial.
Expressão definitiva do consentimento
Convenção aberta – passíveis de serem objecto de vinculação por Estados que não participaram na negociação;
Convenção fechada – determina que apenas vinculam os Estados que fizeram parte do processo negocial;
Convenção mista – podendo ser objecto de vinculação por Estados que não participaram, não permite que todos os Estados o façam, por exemplo, entrada na UE.
Artigo 15º – consentimento do Estado através da adesão.
As reservas
Noção – acto jurídico unilateral não autónomo pelo qual um Estado, no momento da assinatura, adesão ou outra forma de vinculação a um tratado, pretende excluir ou modificar os efeitos jurídicos de algumas das normas deste, na respectiva esfera jurídica.
Figuras afins
As declarações interpretativas – correspondem a um posicionamento formal e unilateral de um Estado quanto ao sentido que confere a determinadas normas de um tratado ao qual se vinculou.
Reserva simulada – quando um Estado só se vincula a um preceito e condiciona os outros Estados a aceitação esta circunstância.
As declarações políticas – pronunciamentos políticos desprovidos de efeitos jurídicos e não representam declarações interpretativas.
As cláusulas de “opting out” – critérios de exclusão da vinculação de um Estado a certas normas de um tratado que, não sendo formalmente aceites por todos os Estados-parte, têm efeitos idênticos aos das reservas.
Requisitos para a formulação de reservas
Requisitos materiais
Princípio segundo o qual cada tratado pode estipular livremente a admissibilidade, critérios de proibição e limitações à formulação de reservas (artigo 20º da CV);
Formulação de reservas em tratados silentes: proibição de reservas incompatíveis com o objecto e fins do tratado (art. 19º/20º da CV);
Requisitos formais e circunstanciais
Forma: dever de notificação – forma escrita e dever de comunicação aos Estados contratantes e a outros que tenham o direito de aderir ao tratado (art. 23º da CV);
Requisitos circunstanciais – formulação nos momentos da assinatura, ratificação, aceitação, aprovação ou adesão (art. 19º/1 da CV); requisitos de reserva formulada sob condição (art. 23º/1 da CV).
Art. 20º/23º CV – regime de aceitação e objecção às reservas:
Dispensa de aceitação se a reserva for, sem outro condicionamento, expressamente autorizada pelo tratado;
Limite temporal de 12 meses contados da data de notificação de uma reserva para a formulação de uma objecção.
Efeitos jurídicos das reservas e das correspondentes objecções 
Formulação de reserva e respectiva aceitação – tratado aplica-se entre as partes de acordo com o sentido das reservas formuladas;
Formulação de reserva e objecção simples – as normas que são objecto da reserva não se aplicam entre o Estado que as formulou e os Estados que o objectaram;
 Formulação de reserva e objecção qualificada/ inequívoca – o tratado não se aplica na totalidade entre o Estado que formulou a reserva e os Estados que a objectaram.
De acordo com o artigo 21º podem-se revogar as reservas; contudo, existe uma obrigação de notificação para se começar a produzir os efeitos jurídicos. 
A revogação da reserva é um acto unilateral autorizado que faz com que a norma quenão estava a ser aplicada passe a ser. 
Invalidade dos tratados
Noção – desvalor jurídico traduzido na inaptidão de tratados portadores de vícios nos seus pressupostos e elementos para produzirem a totalidade dos efeitos jurídicos que tipicamente lhes corresponderiam.
Condições de validade 
Capacidade das partes;
Vontade jurídica;
Licitude do objecto (conteúdo normativo válido).
Fundamentos da invalidade
Vícios relativos capacidade das partes
Incapacidade de sujeitos de Direito Internacional Público para celebrar tratados (convenções celebradas entre Estados soberanos e Estados federados).
Vícios de consentimento e da vontade
Expressão de consentimento com violação de parâmetros do direito interno (46º CV) – quando o tratado é bilateral é inválido no seu todo; quando o tratado é multilateral, apenas o Estado prejudicado deixa de estar vinculado à convenção;
Desrespeito às restrições fixadas ao plenipotenciário para vincular o Estado a um tratado (47º CV). 
A assinatura do plenipotenciário exprime uma vinculação definitiva ao tratado. Quando este excede os seus poderes e negoceia para além destes, a invalidade pode ser invocada pelo Estado contraente, desde que se saibam os limites do mandato.
Erro (48º CV) – desconformidade entre o conhecimento e a vontade;
Dolo (49º CV) – intenção fraudulenta de induzir em erro as restantes partes. O dolo não é invocável como vício de invalidade pelo Estado que induziu o mesmo;
Corrupção do representante de Estado (50º CV) – autonomizado da figura do dolo, é um acto deliberado de atribuição de uma vantagem significativa ao plenipotenciário de outro Estado de forma a induzi-lo a vincular esse mesmo Estado ao tratado;
Coacção sobre representante de Estado (50º CV) – uso ou ameaça do uso da força, bem como outros actos graves de ameaça sobre o representante de Estado tendo em vista impelir o mesmo a vincular o respectivo Estado a um tratado;
Coacção sobre o Estado (52º CV) – uso da força ou ameaça do seu uso sobre um Estado como forma de o compelir a vincular-se a um tratado.
Ilicitude do objecto
Os tratados não devem ser imorais;
Consagração do primado do direito imperativo (jus cogens);
Tipos de ilicitudes decorrentes da violação de direito imperativo
Violação originária de direito imperativo (53º CV);
Violação superveniente de direito imperativo (64º CV).
Violação de tratados de hierarquia superior 
Regime das nulidades dos tratados inválidos 
Nulidade relativa 
Fundamentos – vícios no consentimento por violação de direito interno e restrições a mandato do plenipotenciário; erro; dolo; corrupção; ilicitude do objecto fundado da violação de tratado de hierarquia superior mas de direito não cogente. 
Efeitos – dualismo de regimes do artigo 69º da CV com efeitos sancionatórios mais rigorosos para o dolo e para a corrupção.
Divisibilidade – o tratado é divisível quanto às suas normas (44º CV).
Nulidade absoluta
Fundamentos – ilicitude do objecto (violação de uma regra originária de direito imperativo ou jus cogens – 71º) e coacção (sobre um chefe de Estado ou um Estado – 69º).
Invocabilidade – princípio da absolutidade fundada na ordem pública internacional em caso de vício de coacção e violação originária de direito imperativo. Trata-se de violações tão graves que qualquer Estado pode invocar a sua nulidade.
Efeitos – a regra é a não produção de qualquer efeito jurídico, sendo a declaração de nulidade plenamente retroactiva (improdutividade total de consequências jurídicas).
Divisibilidade – invalidade total da convenção (44º/5 CV).
A violação superveniente de direito imperativo como invalidade mista – a convenção sendo nula cessa também a sua vigência (64º; 72º/2 CV). O tratado torna-se incompatível com uma norma imperativa superveniente, dando-se a revogação total do mesmo. Neste caso, há retroactividade de efeitos desde a declaração de nulidade até à entrada em vigor da norma.
Vicissitudes na vigência das convenções 
Modificação 
Modificação por acordo explícito (39º CV) – regra de natureza supletiva;
Especialidades dos tratados multilaterais:
Tratados silentes – não vinculação às alterações pelos Estados que já são partes do tratado e que não participaram no acordo da modificação (40º CV);
Acordos que alteram tratados multilaterais apenas nas relações estabelecidas entre algumas partes, ou seja, vinculam um conjunto parcelar de Estados nas suas relações recíprocas: autorização ou não proibição do acordo modificativo; não violação dos fins e objecto do tratado; não ofensa aos direitos de partes terceiras (que não participam).
Cessação e suspensão de vigência 
Por vontade originária das partes
Cláusulas expressas de caducidade – a partir de uma determinada data, o tratado cessa a sua vigência;
Cláusulas subordinadas à superveniência de factos – quando for alcançado um determinado objectivo, o tratado cessa a sua vigência.
Cláusulas implícitas de caducidade (por exemplo um tratado-contrato);
Cláusulas de denúncia (acto jurídico unilateral não autónomo) ou recesso.
Denúncia – diz respeito a tratados bilaterais; Recesso – diz respeito a tratados multilaterais.
A denúncia é a intenção de um Estado se desvincular de certo tratado, tendo que haver uma comunicação prévia de 12 meses (56º/2 CV) para não originar prejuízos injustos, a não ser que esteja estipulado outro prazo no tratado.
Há recesso nos tratados multilaterais quando vários Estados se querem desvincular dos mesmos; o número de Estados que se quer desvincular não comporta a cessação de vigência do tratado, ao contrário do que acontece com o número necessário de Estados vinculados para a formação do tratado e sua entrada em vigor.
Ocorrência de circunstâncias não previstas na convenção
Circunstâncias ligadas ao comportamento das partes
Incumprimento substancial – violação de uma obrigação fundamental para a continuação de vigência do tratado.
Típico dos tratados bilaterais que leva a cessação da vigência dos mesmos. A parte prejudicada pode invocar essa violação para suspender ou por fim à vigência do tratado.
Ruptura de relações diplomáticas (63º CV) – cessação do tratado na medida em que as relações diplomáticas sejam indispensáveis para a sua aplicação.
Conflito armado: regras de direito costumeiro; cessação dos tratados bilaterais; suspensão dos tratados multilaterais nas relações entre as partes; subsistência de tratados relativos à condução de conflitos armados. 
Costume revogatório.
Circunstâncias independentes da vontade das partes
Estas circunstâncias não são previstas pelas partes e podem ser invocadas para a cessação da vigência da convenção.
Impossibilidade superveniente de execução (61º CV) – cessação de violência no caso de destruição definitiva do objecto indispensável à execução do tratado;
Alteração fundamental de circunstâncias para a execução do tratado (“rebus sic stantibus” – 62º CV à contrario) – alteração não prevista pelas partes de circunstâncias tidas como base essencial do consentimento para se obrigarem à convenção. Estas situações transformam radicalmente as obrigações assumidas uma vez que uma das partes fica altamente prejudicada, o que pode provocar a cessação do tratado.
Relações entre o Direito Internacional e a ordem jurídica interna dos Estados
Concepções doutrinárias
Dualismo – separação estanquicista entre os ordenamentos estaduais internos e ordenamentos internacionais e a exigência de transformação de normas internacionais mediante actos jurídicos de direito interno, como pressuposto da sua aplicação nas ordens jurídicas dos Estados.
A concepção dualista concretiza a existência de diferentes ordens jurídicas que não interagem directamente (per se) entre si, isto é, as normas de direito internacional não podem valer automaticamente na ordem jurídica interna; estas têm que se transformar em direito interno.
Monismo – comunicabilidade e inter-relação entre ordenamentos internacionaise ordenamentos estaduais.
Esta corrente consagra uma relação entre duas ordens jurídicas díspares que se materializa através de um sistema de reconhecimento e transformação, isto é, as normas de direito internacional são directamente integradas nos ordenamentos jurídicos estaduais ou internos.
2.1. Monismo com primado de Direito Internacional – determina que um tratado prevalece sobre um conflito entre direito interno e o mesmo (tese dominante).
2.2. Emergência de sistemas mistos – os países da UE tendem a ter sistemas mistos, podendo ser de pendor dualista (Alemanha) ou de pendor monista (França); a maior parte dos países tem um sistema de pendor dualista.
A relevância do Direito Internacional na ordem constitucional portuguesa – os tratados são directamente aplicados na ordem jurídica interna portuguesa, sendo o sistema adoptado de recorte monista.
3.1. A recepção automática simples do Direito Internacional geral (8º/1 CRP) – a constituição portuguesa consagra a recepção das normas de Direito Internacional na ordem jurídica interna, sendo o Direito Internacional umas das fontes de Direito interno.
O artigo 8º da CRP é artigo chave. Nos termos do 8º/1, no que toca às normas de DIP geral o comum, princípios gerais e costume, a aplicação é directa. Qualifica-se este fenómeno como recepção automática, simples (na palavra de CBM). Há também o sistema de recepção automática condicionada (8º/2). 
As normas de tratados vigoram na ordem interna, desde que publicadas no DR (condição de eficácia) e enquanto vincularem internacionalmente o Estado português, e que tenham sido validamente aprovadas e ratificadas. Reunidos os pressupostos, aplicam-se directamente.
Que dizer dos costumes bilaterais ou regionais? Haverá lacuna? CBM entende que sim: a CRP não se pronuncia. É das situações mais dificilmente solucionáveis. Silva Cunha entendia que, quanto a eles, vigorava um sistema dualista. Outros autores entendem que se deve aplicar por identidade de razão como o costume geral. CBM tende a aceitar esta tese. Faz sentido que o costume local possa valer em termos muito próximos do costume geral. É muito incomum a transformação de costume em normas de Direito interno. Mesmo nos sistemas dualistas, o costume vigora de forma imediata (Alemanha, Itália).
3.2. A recepção automática condicionada do direito convencional (8º/2 CRP) – a recepção é feita desde que preencha certos pressupostos: tem que ser publicada e ratificada (expressão de consentimento) enquanto vincular o Estado.
3.3. O regime misto aplicável ao direito derivado das organizações internacionais (8º/3, 4 CRP) – recepção automática das resoluções normativas do Conselho de Segurança das Nações Unidas, regulamentos comunitários e decisões comunitárias.
Esses actos jurídicos aplicam-se na ordem interna portuguesa nos termos que tiverem sido definidos pelos tratados constitutivos (8º/3). Há um reenvio para o regime do tratado. Na ONU, o Conselho de Segurança aprova sanções, que têm de ser aplicadas pelos Estados-membros. No caso das sanções ao Iraque, foram publicadas no DR. 
Até à revisão de 2004, era através do 8º/3 que valiam as normas de direito comunitário derivado. Nessa revisão adoptou-se um nº 4, que funciona como disposição especial em relação ao nº 3. Faz-se uma remissão para os tratados da EU: essas normas valerão nos termos previstos pelos tratados da EU.
O sistema português é misto, tendencialmente monista, tendo por vezes vectores dualistas. O 8º/2 levanta um problema, por dar a entender que os tratados se aplicam na ordem interna após a ratificação, mas para a vigência dos acordos internacionais bastará a aprovação, independentemente da assinatura do PR.
Regime de transposição de directivas e decisões-quadro europeias
Directivas – normas que visam garantir que os Estados alcancem um determinado resultado (são normas não exequíveis por si mesmas, ou seja, os Estados legislam Direito interno para concretizar os meios para certos objectivos). As directivas têm que ser transpostas para o Direito interno para serem válidas (112º/8 CRP);
Decisões-quadro – têm o mesmo regime das directivas mas aplicam-se a matérias de segurança e eficiência;
Regulamentos da UE (ou decisões) – são normas detalhadas são directamente aplicáveis. Os Estados não podem modificar o conteúdo do regulamento a não ser que este o admita.
Relações entre o Direito Internacional Público e o Direito interno português 
Direito Internacional e Direito Constitucional
Disposições internacionais que vinculam normas constitucionais
Há disposições internacionais que vinculam as normas constitucionais. O 16º/2 da CRP aponta para da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Trata-se de um documento internacional que vale como conjunto de princípios de ordem política. 
É um fenómeno de recepção formal da DUDH pela Constituição. As normas constitucionais relativas a direitos fundamentais devem ser interpretadas e integradas com recurso à DUDH. O Prof. Fausto de Quadros entende que há, aí, uma manifestação de supra-constitucionalidade. 
CBM e JM entendem que, na verdade, o que há é parametricidade interpretativa. O Tribunal Constitucional veio dizer que a DUDH só funciona como instrumento de integração quando seja mais favorável do que a CRP. O Prof. JM entende que existe prevalência do ius cogens sobre a CRP. Parte dessas regras estão previstas na CRP, desde logo. 
CBM, que discorda do Prof. JM, entende que essas normas não são de ius cogens (apenas, porventura, o princípio da independências das nações). Mesmo que fossem, valeriam como normas constitucionalizadas. As regras de ius cogens que se encontram de fora valem mais do que a Constituição, diz JM. 
CBM contrapõe que só uma disposição na própria Constituição a poderia vincular em relação a outras normas. Nada se encontra, porém. No 8º diz-se que os princípios internacionais se aplicam na ordem interna, mas nada se diz sobre o seu valor. Dir-se-á, até, que têm valor inferior, se vigoram por remissão da CRP.
Primado da Constituição sobre as normas jurídicas internacionais
A hierarquia de Direito internacional é só no âmbito do ordenamento do Direito internacional e não da relação entre o Direito internacional e o Direito interno dos Estados. CBM entende que o ius cogens vale na ordem interna como um conjunto de princípios gerais de Direito internacional comum, mas com a mesma hierarquia dos tratados (prevalecem sobre as leis ordinárias, mas submetem-se às Constituições). Num Estado soberano não há nada superior a uma decisão constituinte.
Os tratados têm um valor supralegal mas infraconstitucional: pode ser requerida a fiscalização da sua constitucionalidade.
A questão do primado da Constituição sobre as normas de direito europeu
Os tratados constitutivos da CEE nunca determinaram qualquer relação de subordinação. Determinam que teriam de ser transpostos. 
O Tribunal veio dizer que o primado do Direito europeu era uma necessidade natural e lógica, uma condição existencial do próprio Direito europeu. Dizia que não havia qualquer precedente de tribunais constitucionais dos Estados-membros declararem a inconstitucionalidade de normas comunitárias.
Desde logo alguns Estados vieram advertir para o facto de as suas Constituições terem um valor superior ao Direito comunitário. O 8º/3 da CRP foi muito criticado por não prever prevalência do Direito comunitário, criando ambiguidades.
A mais importante proposta era uma cláusula de supremacia federal: todo o Direito europeu se sobrepunha às normas de Direito interno. Contudo, a Holanda e a França reprovaram em referendo o Tratado Constitucional. O “não” francês matou o tratado. A França, um dos motores da União, assinou a sentença de morte da dita Constituição europeia. Iniciou-se, então, o processo do tratado reformador. 
O mandato de segurança europeu foi julgado inconstitucional pelo tribunal constitucional alemão. Foi a primeira vez que uma norma comunitária foi declarada inconstitucional.Tratava-se de uma decisão-quadro. O Tribunal de Justiça das Comunidades começou, ele próprio, a recuar. O TC alemão, numa sentença muito importante, a propósito do Tratado de Lisboa, não o julgou inconstitucional, mas disse que os tratados europeus não formavam uma Constituição, não prevalecendo sobre princípios estruturantes da ordem jurídica alemã; que a União tinha os poderes que lhe foram delegados pelos Estados soberanos. Ficou clara a salvaguarda dos princípios estruturantes do Estado de Direito democrático.
JM veio dizer que esses princípios deveriam ser interpretados como os princípios estruturantes de cada Estado membro. Canotilho também veio admitir que os princípios fundamentais são os das ordens jurídicas dos Estados. CBM entende que o Direito comunitário tem um valor supralegal mas infraconstitucional. Concorda com JM e Canotilho: os princípios estruturantes são os de toda a CRP e não só os do Estado de Direito democrático.
Normas de Direito Internacional e normas de direito ordinário interno
O regime da prevalência do Direito Internacional convencional sobre o direito ordinário interno nos termos do artigo 8º/2 da CRP
A norma chave é o 8º/2 da CRP. Em si, não elucida objectiva e inequivocamente quanto à existência de hierarquia. 
É também uma regra para a prevalência do Direito internacional: diz-se que as convenções internacionais vigoram na ordem interna enquanto o Estado português estiver vinculado. Na medida em que, havendo antinomia (contradição) entre lei ordinária e convenção internacional, se desse prevalência à lei ordinária (ou por se entender que ela era superior ou, entendendo que tem valor igual, porque era posterior), haveria uma violação do 8º. 
A convenção teria sido revogada apesar de continuar a vincular internacionalmente o Estado português. Só se pode interpretar no sentido de a convenção prevalecer sobre o Direito interno. Não significa que revogue, invalide, ilegalize a lei interna. Simplesmente, o aplicador, perante a antinomia, dará prioridade aplicativa à convenção, desaplicando a lei interna.
Se vigora esta regra quanto às convenções internacionais, também vigorará em relação a outras fontes de Direito internacional com o mesmo grau hierárquico (costume e princípios), por identidade de razão. 
A diferente operatividade do direito comunitário derivado
A mesma realidade se verifica quanto ao Direito internacional derivado (normas da União Europeia e resoluções da ONU). Aqui, o regime é o dos tratados institutivos – faz-se remissão. 
Contudo, devemos separar as directivas e decisões-quadro dos regulamentos e decisões. Os primeiros carecem de lei interna de corporização, que não tem valor reforçado. 
Assim, as directivas e decisões-quadro não se aplicam de per si. Se o Estado português deixar de consagrar a directiva, há um problema de responsabilidade do Estado português perante a União. Já os regulamentos e decisões aplicam-se directamente na ordem interna portuguesa. 
Os regulamentos têm carácter normativo; as decisões são próximas de actos administrativos. Os tratados institutivos prevêem que o regulamento tem primado sobre o direito interno – primado que se manifesta pelos seus efeitos directos (não aplicabilidade imediata, mas eficácia imediata). 
Ao ser invocado em juízo, o regulamento afasta direito ordinário interno contrário. Também as decisões têm este regime. Há quem fale, a este propósito, de efeito directo vertical.
A celebração de convenções internacionais pelo Estado português 
Tipologia das convenções internacionais na ordem constitucional portuguesa
Há dois tipos de convenção internacional na nossa ordem jurídica: tratados e acordos internacionais. O Prof. JM fala em tratados, acordos sob forma simplificada e acordos sob forma ultra-simplificada. Não é para usar essa nomenclatura. 
Os acordos sob forma simplificada existem na Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados e não na ordem jurídica portuguesa. Forma simplificada traduz-se no funcionamento da assinatura simultaneamente como autenticação do tratado e como instrumento de vinculação do Estado que nele é parte.
Ora, no Direito português prevê-se sempre dualidade de momentos: assinatura e expressão definitiva de consentimento. Depois da assinatura, a ratificação e a assinatura pelo PR. Não há regime de acordo sob forma simplificada. O acordo das Lajes, por exemplo, foi celebrado sob forma simplificada pelos EUA, mas Portugal não o fez dessa forma.
Fase negocial
É uma reserva de competência do Governo, no âmbito das suas funções políticas. O 197º/1/b) consagra-a. Seja em relação a tratados, seja em relação a acordos, o Governo é competente para negociar. Os órgãos do Governo com competência são, em regra, o Ministro dos Negócios Estrangeiros e as entidades que designe como plenipotenciárias. 
Reconhece-se, também, a possibilidade de outros Ministros negociarem acordos internacionais, devendo comunicar e informar permanentemente o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Isto sucede quando se trata de negociações de questões técnicas. 
É uma intervenção que está sempre condicionada à coordenação do MNE, a quem cabe a condução da política externa.
Fase instrutória
A fase instrutória é aquela em que se ouvem entidades e se pedem consultas e pareceres. Se a convenção internacional estabelecer obrigatoriedade, é obrigatória a auscultação. 
CBM entende que, mesmo que a convenção nada diga, olhando à matéria deve-se concluir, por identidade de razão com o que acontece no direito interno, que é obrigatória também. 
Se a participação das Regiões Autónomas na fase instrutória de convenções internacionais que lhes digam respeito, como manda a CRP (227º), não se verificar, a convenção, para CBM, padece de inconstitucionalidade, por identidade de razão (a CRP não o diz expressamente) com o que acontece com as leis.
Fase constitutiva
Os tratados
Distinguem-se os tratados dos acordos internacionais. A CRP consagra ou não uma reserva de tratado (matérias que só podem ser aprovadas por tratado)? O 161º/e) fala numa reserva necessária de tratado quanto às matérias lá previstas. São matérias consideradas muito importantes, devendo ser trabalhadas por tratado.
Há a possibilidade de aprovação de outras matérias por tratado, mediante decisão da AR. São matérias que versam questões da competência reservada da AR (161º, 164º E 165º - exclusiva, absoluta e relativa). A AR pode remeter para tratado a elaborar.
O Governo não tem, hoje, competência para aprovar tratados. A AR tem reserva aprovatória de tratados. A CRP não prevê maioria qualificada; entende-se que é maioria simples. JM diz que, quando a matéria incidir sobre questões de lei orgânica, se se exige maioria absoluta, para evitar fraude à Constituição, dever-se-á exigir a mesma maioria. 
CBM entende que é um bom argumento. Contudo, o 116º diz que a regra é da maioria simples – só se a CRP indicar uma maioria mais exigente é que será assim. Seria um argumento muito positivista, reconhece. Aprovado o tratado, está sujeito à ratificação pelo PR (135º/d)). Entende-se que é um acto livre (e não vinculado). A doutrina e jurisprudência entendem que o PR é livre para ratificar ou não; se o não fizer, é como se tivesse feito veto absoluto.
Acordos internacionais
Na fase constitutiva (aprovação e controlo de mérito), a AR pode aprovar também acordos internacionais. Em relação às matérias da sua competência, excepto as de reserva de tratado, pode conferir às convenções internacionais a forma de tratado ou de acordo internacional. 
Pode aprovar acordos sobre matérias da competência do Governo. O Governo pode aprovar acordos, mas pode também cometer à AR a aprovação, com o consentimento do parlamento.
Acordos sujeitos a aprovação por parte do Governo (197º/1/c)). 
Todas as matérias não incluídas no campo da competência legislativa e jurídico-internacional da AR – ou seja, as matérias concorrenciais – são atribuídas à competência jurídico-internacional do Governo.Só ele pode aprovar essas convenções, excepto se as cometer à AR. É um critério de separação material de convenções internacionais: há matérias cometidas à aprovação da AR; outras à aprovação do Governo.
O acordo é aprovado em Conselho de Ministros. Segue-se-lhe a assinatura pelo PR (134º/b)). Houve querela sobre se a assinatura era acto vinculado. Na Constituição de 1933 era. Mas hoje chega-se a conclusão diversa. Gomes Canotilho e Vital Moreira foram os primeiros a questionar a obrigatoriedade. Posteriormente, CBM e JM vieram dar-lhes razão:
A CRP de 1976 não é influenciada pelo regime de 1833;
Se a CRP não se refere à liberdade da ratificação, tão pouco se diz que é vinculada. Há espaço para que seja um acto livre;
No 134º diz-se, na verdade, que compete ao PR assinar decretos do Governo. No mesmo preceito que se refere à promulgação, fala-se de actos da AR que têm de ser assinados. Assim, poder-se-ia fazer analogia com o regime da promulgação (livre);
Se o PR recusar assinar o acordo internacional, o diploma será juridicamente inexistente (137º). Não há qualquer regra que se refira à superação desse desvalor;
O 8º/2, quando fala em “aprovados”, foi lido como estando a fazer referência aos acordos internacionais. Assim, bastaria a aprovação para superar a recusa de assinatura, já que com a aprovação entraria em vigor, ao abrigo do 8/2. Mas não é uma visão que um constitucionalista possa subscrever. O PR tem “a faca e o queijo na mão”, podendo não assinar.
Fase de eficácia interna: a publicação
Tanto os tratados como os acordos internacionais devem ser publicados (119º). A publicação é condição integrativa de eficácia.
Considerações sobre as hipotéticas e reais diferenças de âmbito material e de regime jurídico entre tratados e acordos internacionais
Tese favorável a uma reserva de tratado na disciplina primária de qualquer matéria
Há uns anos houve polémica derivada do facto de o Presidente Jorge Sampaio ter entendido, na sua interpretação da CRP, que a faculdade concedida à AR para escolher a forma de acordo ou tratado, mediante as suas conveniências, seria uma opção inaceitável, já que poderia implicar a redução dos seus poderes – teria de assinar os acordos. A AR poderia escolher sempre a forma de acordo.
O PR teve um entendimento com o Governo, então liderado por António Guterres. O Presidente enviaria para o Tribunal Constitucional uma convenção internacional que serviria como cobaia, contestando o facto de lhe ter sido dada a forma de acordo. 
O argumento baseava-se numa posição defendida por JM: os tratados deveriam ser a forma para convenções internacionais que disciplinassem inovatoriamente qualquer matéria, porque não faria sentido que se subtraísse ao poder de controlo do PR através da escolha da forma de acordo. Para os acordos ficariam as matérias sub-primárias, secundárias. 
Era posição também perfilhada por Jorge Sampaio, tendo o pedido de fiscalização sido formulado por Jorge Reis Novais.
O PR deu ao Governo a possibilidade de preparar a sua defesa, anunciando com antecedência que iria contestar. O resultado foi favorável ao Governo. CBM coordenou, na altura, os argumentos da Presidência do Conselho de Ministros. Mas foi uma “vitória de Pirro”. O argumento principal da Presidência do Conselho de Ministros prendia-se com a potencial perda de competência por parte do Governo, que deixaria de poder celebrar acordos internacionais sobre matérias inovatórias.
Posição adoptada: inexistência de uma reserva necessária de tratado conexa à disciplina primária de qualquer matéria
Não há reserva necessária de tratado para a disciplina primária das matérias:
Não há nada na CRP que o diga;
A prevalecer esse entendimento, violar-se-ia as regras da repartição de competências em matérias internacionais. A competência vem da norma e a norma é clara;
A tese de JM de que a relação entre tratado e acordo é a mesma que entre lei e regulamento não tem fundamento. 
Há tratados muito importantes; há acordos muito importantes. Assim, não se trata de maior importância das matérias. O que existe é uma relação de hierarquia entre convenções principais e convenções administrativas (que podem ser tratados ou acordos). 
Há situações em que acordos revogam tratados. O Governo celebrou uma série de tratados, no âmbito das suas competência, quando a CRP lhe permitia celebrar tratados. Hoje já não permite. Mas sobre as mesmas matérias pode celebrar, hoje, acordos (que, no limite, poderão vir a revogar aqueles tratados).
Toda esta questão surgiu por causa da ideia de que o PR tem de assinar os acordos. Mas hoje em dia a doutrina é consensual: o PR pode recusar assinatura de acordos internacionais, já que não há norma que obrigue e que há uma sanção para a não assinatura (a inexistência jurídica). O acto não tem valor jurídico se não for assinado.
É um problema de solenidade. A ideia de que as matérias primárias/inovatórias têm de ser celebradas mediante forma solene. Todavia, no Direito português os acordos têm regime de tramitação muito próximo do dos tratados. Não se justifica a preocupação porque não existe reserva material de tratado.
O regime da fiscalização da constitucionalidade do Direito Internacional na ordem jurídica portuguesa
Fiscalização preventiva
Os artigos 278º e 279º prevêem a fiscalização preventiva de normas constantes de tratados e acordos internacionais. Há uma lacuna. Os acordos internacionais da AR que são aprovados sob forma de resolução e não sob a forma de decreto. 
Contudo, a doutrina entende que o “decreto” deve ser lido como “diploma”. Nunca houve dúvidas sobre a fiscalibilidade desses acordos.
Se o TC se pronunciar pela inconstitucionalidade de uma norma, haverá ou não possibilidade de expurgar a inconstitucionalidade? 
Na fiscalização preventiva, se há pronúncia pela inconstitucionalidade, o diploma é vetado pelo PR e devolvido ao órgão que a aprovou, para que expurgue a inconstitucionalidade. 
Uma convenção internacional, em regra, não se pode renovar, porque isso implicaria uma nova negociação. O que pode suceder é a formulação de uma reserva ou de uma declaração interpretativa, dizendo que o Estado a interpreta num sentido não inconstitucional ou dizendo que ela, no todo ou em parte, não se aplica. Não é possível o expurgo; mas pode ser possível se feito nestes moldes.
Haverá diferença, quanto à confirmação, entre tratados e acordos? 
A AR pode superar veto presidencial por maioria qualificada. JM diz que nos acordos internacionais não há possibilidade de confirmação, já que só se fala na CRP de “decreto” (279º/2). Quanto aos tratados, a CRP diz que a AR pode confirmar por maioria de 2/3 (279º/4). 
CBM não concorda com isso. No que toca à fiscalização, chegámos à conclusão que se engloba as resoluções na expressão “decreto” do 278º/1. Se é assim, para que não haja quebra da lógica argumentativa, também quanto à confirmação devemos englobar.
Fiscalização abstracta e sucessiva
As convenções são fiscalizadas como normas que vigoram no Direito interno mas a irregularidade é um desvalor fraco. A CRP prevê que o acto que padeça desse vício continua a produzir efeitos. Marcelo Rebelo de Sousa diz que podem gerar responsabilidade político-administrativa, mas vigoram. A CRP prevê os pressupostos da irregularidade:
Vícios orgânicos e vícios formais;
Relativamente a tratados;
Que tenham sido regularmente ratificados; 
Quando haja violação de normas importantes/fundamentais (a violação de normas de competências só se enquadra neste ponto se se tratar de violação de reserva); 
Princípio da reciprocidade (a irregularidade ocorre quando as normas sejam também aplicadas na ordem jurídica da outra parte). 
Também se deve aplicar este regime aos acordos internacionais, por maioria de razão. O 277º está ligado com o 46º da Convenção de Viena (invocação da nulidade decorrente de vício de direito interno: se houver vício orgânico, o Estado pode arguir a nulidade da sua vinculação,nas convenções bilaterais, ou do seu consentimento, nas multilaterais). 
Se o Estado português celebra uma convenção enferma de inconstitucionalidade material, tem um problema. Não se trata de irregularidade; a convenção é nula no Direito interno; contudo, o Estado continua vinculado no plano internacional, já que o 46º só prevê a nulidade orgânica.
Tratando-se de uma inconstitucionalidade material, declarada em sede de fiscalização preventiva, a AR poderá confirmar por 2/3. Mas não sana a inconstitucionalidade. Ela poderá ser declarada em fiscalização sucessiva.
Poder-se-á fiscalizar a constitucionalidade do costume? 
JM entende que sim. É difícil. Se houver uma lei que habilita a aprovação de um regulamento, que será a consagração de um costume internacional, poder-se-ia fiscalizar preventivamente o regulamento, fiscalizando-se o costume. Só se pode fiscalizar, em bom rigor, os actos reflexos de incorporação do costume.
Os sujeitos de Direito Internacional Público
Noção de sujeito de DIP
São todos os entes que sejam titulares de direitos e destinatários de deveres estabelecidos por normas de Direito internacional. São entidades personalizadas (singulares ou colectivas). Têm personalidade jurídica activa, que lhes permite agir e reagir.
Personalidade e capacidade internacional
Nos sujeitos há personalidade (titularidade de direitos e obrigações) e capacidade (faculdade de agir) internacional. Agir através de condutas reguladas por normas de Direito internacional. 
Há sujeitos com capacidade plena e outros com capacidade limitada. Para se ter plenas capacidades, deve-se ter diversas faculdades:
Ius tractum (direito de celebrar convenções);
Ius belli (hoje, direito de se defender);
Ius legations (direito de abrir delegações internacionais)
Direito de petição (subsidiário).
Tipologia dos sujeitos em razão do critério da capacidade
Sujeitos com capacidade plena
Os sujeitos que têm capacidade plena são os Estados soberanos, desde logo. Já os Estados não soberanos (como os federados, p. ex.) poderão ter algumas, mas não todas. Alguns têm ius tractum, dependente de homologação por parte do Estado soberano. Os protectorados exercem algumas faculdades limitadamente (as representações diplomáticas do Mónaco, p. ex., são asseguradas pela França).
E quanto aos Estados que participam em organizações supra-nacionais (como a União Europeia)? Portugal é uma Estado com soberania limitada. Mas celebra tratados permanentemente, sem necessidade de permissão da União. 
Só não pode contrariar o Direito comunitário originário. Pode abrir delegações em todos os Estados do mundo (eventualmente poderá pedir a outros Estados da União que representem os seus interesses nos países onde não tenha representação). Tem, também, ius belli.
Os sujeitos de Direito internacional têm diferentes níveis de capacidade. Alguns autores juntam à capacidade plena o direito de petição (CBM desvaloriza-o – não é um atributo basilar). Dentro dos sujeitos com capacidade plena temos, desde logo, o Estado soberano; este dispõe da faculdade de tomar medidas com coercibilidade. Tem soberania externa porque não depende de outros Estados para o exercício da sua representação. O Estado soberano, mesmo quando tem soberania algo limitada (como os Estados da União Europeia), é sujeito pleno de Direito internacional.
Sujeitos com capacidade limitada
As organizações internacionais cujos tratados institutivos lhes permitam o exercício dos direitos de defesa, representação e contratação são também sujeito de capacidade plena. A União Europeia, p. ex. há organizações internacionais que não têm os três atributos (Organização Mundial da Saúde, p. ex.). Tudo depende do tratado institutivo.
De entre os sujeitos com capacidade limitada, surgem as organizações internacionais que não têm capacidade plena.
Estados de soberania diminuída, protectorados e Estados exíguos
Os protectorados de Direito internacional (relação entre um sujeito e outro, Estado ou organização, em que o protegido deve ser autorizado pelo protector para a prática de actos jurídico-públicos externos, ou sujeitá-los à sua homologação); 
Estados materialmente em situação de protectorado, como a Bósnia-Herzegovina na sequência da Guerra dos Balcãs até hoje (actos praticados pelo Estado bósnio carecem de homologação do Alto Representante da junta internacional que o protege, que pode revogar os actos e destituir os titulares dos órgãos). Estados exíguos (microestados que não têm recursos humanos e económicos para assegurar a plenitude da sua soberania, celebrando convenções com Estados vizinhos, para que estes assegurem algumas das funções da sua soberania – estes Estados passaram a estar representados na ONU;
Beligerantes e insurrectos
Beligerante hoje já não tem o mesmo sentido. Beligerante é um movimento rebelde que luta contra o poder central do Estado, dominando parte do território, tendo forças armadas próprias; o reconhecimento como beligerante serve para atestar o seu domínio. 
A responsabilidade pelos prejuízos causados por actos de guerra nesse território que ponham em causa direitos de cidadãos de Estados terceiros não recai sobre o Estado central, passando a ser do beligerante. É essa a consequência negativa do reconhecimento como beligerante. 
O beligerante pode celebrar tratados internacionais que tenham por objectivo regular o conflito ou fazê-lo cessar. O reconhecimento de um beligerante é livre. Só os Estados que assim entenderem é que reconhecem. Mas é uma figura que caiu em desuso.
Antes dizia-se que um insurrecto não era sujeito de Direito internacional. Tratava-se de um reconhecimento político. Isso acabou. A prática internacional levou a que os insurrectos pudessem celebrar tratados para regular juridicamente os conflitos. A expressão “beligerante” deixou de ser usada em Direito internacional. Hoje fala-se em insurrectos. 
A Convenção de Viena só se aplica a Estados ou organizações internacionais. Assim, os tratados que celebram estão sujeitos ao direito costumeiro dos tratados. 
Governos no exílio e movimentos de libertação nacional
Os movimentos de libertação nacional são movimentos que lutam pela independência de território sob dominação estrangeira ou domínio colonial.
A definição de movimento de libertação nacional depende muito de quem reconhece o movimento como sendo de libertação nacional. Há muitos movimentos separatistas. Mas os movimentos de libertação estão ligados a ocupação estrangeira ou domínio colonial. Quando são reconhecidos como movimentos de libertação, têm direito a representação em organizações como a ONU e direito a celebrar convenções internacionais tendo em vista a regulação dos conflitos ou a independência do território. É uma qualidade política. 
Há uma diferença entre autodeterminação externa e a interna. A interna tem a ver com populações que se consideram distintas da que reside no resto do território, defendendo a independência da sua fracção. Movimentos desta natureza, separatistas, não são bem vistos pela ONU. Só favorece a secessão quando se trata de autodeterminação externa. Não basta um movimento vir declarar a sua intenção de ver libertado um território que controla. É necessário todo um procedimento de reconhecimento e negociações.
Os governos no exílio são uma outra figura. Um Estado cujo território foi ocupado por forças estrangeiras vê o seu governo fugir para o estrangeiro. O requisito é que o governo domine uma parte do território. Mas muitas vezes este elemento é ficcionado. P. ex. quando D. João VI deslocou a corte para o Brasil, na sequência das invasões napoleónicas, não se tratou de um governo no exílio.
O indivíduo
O indivíduo pode ser sujeito de Direito internacional. Tem um conjunto de direitos e de obrigações. Tem direito de petição, p. ex. também pode apresentar queixas contra o Estado. Há uma obrigação de se apresentar a julgamento perante o Tribunal Penal Internacional, se demandado. O chefe de Estado de um país podeser julgado por crimes contra a humanidade.
E as ONG? 
Não são sujeitos de Direito internacional. Actuam muitas vezes no plano internacional, mas são associações de Direito privado. Não são organizações internacionais, porque não têm carácter público. Podem, contudo, ver algumas das suas condutas tuteladas no plano internacional.
O instituto de reconhecimento de um ente como sujeito de DIP
O reconhecimento constitutivo e o reconhecimento declarativo
Em geral, reconhecimento é o acto jurídico-internacional pelo qual um sujeito afirma que determinada situação é conforme com o Direito ou pelo qual afirma que se verificam os pressupostos exigidos por uma norma internacional para a produção de certos efeitos.
Hoje em dia prevalece a tese declarativa do reconhecimento, por ser a que melhor traduz a realidade de uma vida jurídico-internacional muito mais desenvolvida e apertada, muito mais institucionalizada e em que avultam as relações multilaterais.
É assim quanto aos Estados (e sê-lo-ia também assim quanto às organizações parauniversais, se carecessem de reconhecimento). Já o reconhecimento como beligerantes, de movimentos nacionais e de outras identidades, terá natureza constitutiva.
O reconhecimento de Estado
Na actual fase do Direito Internacional apenas é relevante o reconhecimento que outros Estados façam; não o que possam ou pretendam fazer outros sujeitos. Não há nunca um dever de reconhecimento; nenhuma Estado pode ser obrigado a reconhecer outra.
Se pode falar-se em direito de reconhecer ou não reconhecer, esse direito é de exercício limitado ou condicionado. Pressupõe um mínimo de condições objectivas e não pode traduzir-se em intervenção nos assuntos internos de outro Estado, e sobretudo, exige um comportamento de boa fé.
O reconhecimento tanto pode ser expresso como tácito e pode ser feito por diversas formas. Uma destas vem a ser a posição favorável à admissão do novo Estado numa organização internacional (maxime ONU) – o que não significa que seja esta a proceder ao reconhecimento, o que conta é a atitude dos Estados-membros da organização, não a da organização em si mesma. Pode existir reconhecimento colectivo e, como os demais actos jurídicos unilaterais, o reconhecimento é irrevogável.
O reconhecimento de Governo
Quando se fala em reconhecimento de Governo, trata-se de um conceito próprio do Direito Internacional, atinente aos poderes e responsabilidades de condução das relações externas do Estado. O princípio essencial quer de Direito Constitucional, quer de Direito Internacional Público, é o da continuidade do Estado.
Mas quem é que, em cada momento, é governante ou titular de órgão de representação internacional? No domínio de uma mesma Constituição o problema não se põe. O problema é posto em causa quando se dá uma revolução, uma mudança constitucional com ruptura ou solução de continuidade.
Decorre daqui que o único critério de reconhecimento de Governo aceitável vem a ser o da efectividade, não o de qualquer juízo sobre a natureza do regime em apreço ou sobre sentido da nova Constituição.
Logicamente, o reconhecimento de Governo tem natureza declarativa, não constitutiva. Em princípio, quaisquer actos praticados, antes e depois do reconhecimento, são juridicamente eficazes, vinculam o Estado e envolvem a sua responsabilidade.
Sujeitos de DIP examinados na especialidade
As organizações internacionais
Noção
É uma associação de sujeitos de Direito Internacional, em regra Estados, que prossegue objectivos comuns aos mesmos, mediante uma estrutura institucional própria regida por regras jurídicas internacionais.
Elementos
O substrato ou elemento material de uma organização internacional é o agrupamento de Estados e, eventualmente, de outros sujeitos. 
O elemento formal é a personalidade jurídica internacional – conferida, de forma expressa ou implícita, pelo tratado constitutivo (em Direito Internacional a subjectividade das figuras homólogas repousa no acordo entre elas, não se tendo ainda tomado a seu respeito uma norma de Direito Internacional geral ou comum, salvo quanto às organizações parauniversais).
As organizações internacionais podem ser analisadas como:
Agrupamentos de sujeitos de Direito Internacional;
Criados, ordinariamente, por tratado;
Para a prossecução de determinados fins internacionalmente relevantes;
Com duração mais ou menos longa;
Com órgãos próprios;
Dotados de personalidade internacional;
E com capacidade correspondente aos seus fins.
Modalidades de instituição 
O tratado institutivo de qualquer organização internacional estabelece os seus fins e os meios adequados à sua prossecução, as relações com os membros e com outros sujeitos de Direito Internacional, o seu âmbito geográfico e o seu carácter aberto ou fechado, o sistema de órgãos e as respectivas competências e formas de agir.
A Convenção de Viena de Direito dos Tratados declara-se aplicável a todo o tratado constitutivo de uma organização internacional, sem prejuízo das regras próprias da organização – art. 5º.
Explicita ou implicitamente, o tratado constitutivo da organização confere-lhe personalidade jurídica, a qual vale quer em relação aos Estados-membros, quer em relação a terceiros Estados e a outros sujeitos de Direito Internacional. À personalidade jurídica corresponde uma capacidade delimitada em razão dos fins de cada organização e de harmonia com um princípio de especialidade.
Tipologia 
Critério da estrutura jurídica
As organizações intergovernamentais – associações de Estados que estabelecem relações de coordenação entre as suas soberanias tendo em vista a prossecução de fins comuns.
As organizações supranacionais – associações de Estados fundadas na limitação da soberania dos mesmos, mediante um processo de delegação de poderes, dos quais decorrem relações jurídicas de subordinação de que organização é titular activa.
Critério do objecto – organizações de fins gerais; organizações de fins políticos; organizações de fins militares e de segurança; organizações de fins económicos; organizações de fins sociais, culturais ou religiosos. 
Critério do âmbito espacial de actuação – organizações universais e regionais.
A Organização das Nações Unidas como organização intergovernamental
A conferência de São Francisco de 1945 e o nascimento da ONU
A Organização das Nações Unidas surgiu marcado por circunstâncias de guerra. Foi aprovada em 26 de Junho de 1945, a Carta entrou em vigor a 25 de Outubro do mesmo ano, sendo membros originários os Estados signatários da Declaração das Nações Unidas ou presentes em São Francisco.
A Carta foi concebida como o repositório dos grandes princípios das relações entre todos os Estados e tendo primazia sobre quaisquer outras obrigações internacionais – 103º.
Só os Estados podem ser membros das Nações Unidas, havendo a distinguir entre os membros originários – art. 3º – e os admitidos – “Estados pacíficos que aceitam as obrigações da Carta e que, no juízo da Organização, são capazes de as cumprir e dispostos a cumpri-as” (art. 4º/1). 
A admissão compete à Assembleia Geral, precedendo recomendação do Conselho de Segurança – 4º/1. E é esse também o processo relativo à suspensão e à expulsão, aplicáveis a membros que violem os princípios constantes da Carta – art. 5º e 6º.
Fins das Nações Unidas – artigo 1º 
Princípios gerais das Nações Unidas – artigo 2º 
Os órgãos das Nações Unidas – artigo 7º
São órgãos das Nações Unidas a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Económico e Social, o Conselho de Tutela, o Tribunal Internacional de Justiça e o Secretário-Geral (figura que tem emergido do Secretariado-Geral).
A Assembleia Geral é o órgão de participação de todos os Estados em pé de igualdade; o Conselho de Segurança é o órgão político central de decisão, encarregado da manutenção da paz e da segurança internacionais; o Conselho Económico e Social exerce duas funções: a promoção do progresso económico e social e apromoção dos direitos do homem. Tem composição exclusivamente electiva.
A Assembleia-Geral – artigo 9º
Composição; estrutura; competências; processo de deliberação 
A Assembleia Geral tem uma competência genérica e competências específicas e está, ainda, limitada pelas competências do Conselho de Segurança – 12º. 
Aquela corresponde às relações internacionais em geral, estas à vida interna da organização; e os actos praticados ao abrigo da primeira não revestem força vinculativa para os Estados, ainda que possam dar origem à formação de normas de Direito Internacional geral ou comum.
Cada Estado tem na Assembleia Geral direito a um voto – 18º/1. As deliberações sobre questões importantes são tomadas por 2/3 dos membros presentes e votantes; sobre outras questões são tomadas por maioria dos presentes e votantes (não é necessária a unanimidade).
Questões importantes são aquelas que a Carta enuncia, bem como, ainda, aquelas que a Assembleia Geral – por maioria relativa – venha a determinar – 18º.
O Conselho de Segurança 
O órgão central da política da ONU; composição; competências; o processo de deliberação e o chamado duplo veto
O Conselho de Segurança define-se pela sua competência específica: cabe-lhe a responsabilidade principal na manutenção da paz e segurança internacionais – 24º. E os membros das Nações Unidas ficam adstritos a aceitar e a aplicar as suas decisões – 25º.
É composto por 15 membros com 5 permanentes (China, França, Rússia, Reino Unido e EUA) e 10 membros, não permanentes, escolhidos de dois em dois anos, sobretudo segundo um critério geográfico – 23º. O conselho tem funcionamento permanente – 28º.
As decisões – art. 27º – sobre questões procedimentais são tomadas por maioria de novos membros a favor (27º/2). Sobre questões não procedimentais, são tomadas por maioria de nove membros (27º/3), incluindo os membros permanentes ou sem que nenhum dos membros permanentes vote contra.
A Carta consagra, portanto o direito de veto de qualquer membro permanente do Conselho. Este direito só não existe nos casos expressamente exceptuados pela Carta: quando um membro permanente esteja envolvido num conflito ou quando seja convocada uma conferência geral para revisão da Carta – 109º/3.
E trata-se, em rigor, de duplo veto, porque a qualificação de uma questão como procedimental ou não é considerada não procedimental e sujeita a veto.
É nítida a diferença no confronto da Assembleia Geral: nesta rege o princípio da igualdade de todos os Estados, a qualificação de uma questão como importante ou não depende de maioria; no Conselho, pelo contrário, como prevalece o princípio da supremacia dos membros permanentes, a qualificação de uma questão como procedimental implica direito a veto.