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Educação inclusiva 4 Aula 1 2 3 4 5 Aula 4 Educação Inclusiva 63 Apresentação A história da Educação Especial que narramos até agora servirá de alicerce para construirmos um novo capítulo, o da Educação Especial nos dias de hoje. Episódios da viagem que fi zemos nas aulas anteriores serão, certa- mente, lembrados neste novo momento. Nas próximas páginas, você aprenderá sobre o paradigma da Educação Inclusiva, que inspira as políticas e práticas educacionais na atualidade. Conhecerá, também, os alunos que devem, de acordo com a legislação brasileira vigente, ser contemplados com os serviços educacio- nais especializados. Adicionalmente, conhecerá como e onde esses educandos devem receber atendimento. Boa aula! Objetivos Descrever o paradigma da Inclusão. Diferenciar os seguintes paradigmas: Integração, Inclusão e Inclusão Total. Diferenciar necessidades educacionais especiais de defi ciência. Identifi car as características dos alunos contem- plados pelos serviços da Educação Especial na atualidade. Identifi car as atribuições do atendimento educa- cional especializado. Aula 4 Educação Inclusiva 65 Educação Inclusiva: seus alicerces Em nossa última conversa, vimos que as políticas inspiradas no paradigma da integração resultaram em ações quase permanentes de exclusão das pessoas com defi ciência. Aliado à fragilidade do paradigma de serviços, o mundo constata, no início da década de 1990, o nefasto panorama da educação em geral. Estimava-se que 960 milhões de adultos eram analfabetos e que mais de 100 milhões de crian- ças e jovens não tinham acesso à escolarização básica, sendo que desses, 60% eram meninas (Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem, 1990). E os defi cientes? Ah! Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, eram menos de 1% recebendo algum tipo de atendimento, de acordo com registros da época (UNESCO, 1994). Essas estatísticas, expostas durante a Conferência Mundial sobre Educação para Todos (evento promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura – UNESCO, realizado na Tailândia, em 1990), fi - zeram com que diversos países olhassem para o alarmante número de alunos privados do direito de acesso, ingresso e permanência na escola básica. Essas ideias ganharam força em 1994 com a Declaração de Salamanca, documento produzido durante a Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: acesso e qualidade (evento promovido pela UNESCO, Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD). Nesse texto, considerado o mais relevante marco na propagação da fi losofi a da Educação Inclusiva, as escolas regulares passariam a: [...] acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Deveriam incluir crianças defi cientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos em desvantagens ou marginalizados (Declaração de Salamanca, 1994). Em linhas gerais, a escola regular, de acordo com a Declaração de Salaman- ca, seria um espaço capaz de combater atitudes discriminatórias, criando um ambiente acolhedor para todas as crianças, inclusive as que apresentavam defi - ciências. Uma metáfora que bem representa o paradigma da inclusão é, nesse contexto, o de um caleidoscópico, representado na Figura 1, apresentada a seguir. Paradigma da integração Modelo de educação especial vigente nas décadas de 1970 a 1990. Confi gura-se como um “paradigma de serviços” operacionalizado como um continuum, que se estende de uma educação segregada, fora do âmbito da escola regular (ex. escolas especiais) até a educação ofertada dentro da escola regular (classes especiais; classes regu- lares com serviços de apoio). Esse modelo possibilitava uma mudança de nível para o aluno, buscando um grau maior de integração escolar com base em suas potencialidades. Aula 4 Educação Inclusiva66 Figura 1 – Metáfora do Paradigma da Inclusão Fonte: <http://www.shutterstock.com/pic-2486251/stock-photo-rainbow-colored-kaleidoscope.html>. Acesso em: 11 dez. 2012. Nessa representação, conforme argumenta Carvalho: [...] todos os pedacinhos são importantes e signifi cativos para a composição da imagem. Quanto maior a diversidade, mais complexa e mais rica se torna a fi gura formada pelo conjunto das partes que a compõem. (CARVALHO, 2000a, p. 112). No modelo da inclusão, o continuum de serviços ofertados pela Educação Especial, continuaria a existir, mas de forma suplementar (FUCHS; FUCHS, 1998). A manutenção desses serviços é vista como essencial para a concretização da proposta da Educação Inclusiva. A questão, como salienta Garcia (2008), não é na existência ou não do continuum, mas na forma como o mesmo é utilizado. A meta é sempre a escola regular que, nesse novo paradigma, busca se modifi car para atender às necessidades dos alunos com defi ciência. Isso difere, conside- ravelmente, do modelo da integração, no qual o aluno deveria se modifi car, ao invés da escola. Vale registrar, ainda, que vertentes “mais radicais” do paradigma da inclusão surgiram no fi nal de 1990. Trata-se do Paradigma da Inclusão Total, no qual é proposto que os serviços da Educação Especial sejam extintos (FUCHS; FUCHS, 1998). Dois motivos servem de alicerce para essa proposta. Primeiro, argumen- ta-se que, sem serviços de apoio, a escola seria capaz de se “reinventar”, adap- tando-se às necessidades especiais dos alunos. Assim, os professores teriam que adaptar, forçosamente, suas práticas pedagógicas para atender grupos heterogê- neos de alunos. Em segundo lugar, a inserção do aluno com defi ciência apenas na sala regular legitimaria o real sentido da inclusão (FUCHS; FUCHS, 1998). Aula 4 Educação Inclusiva 67 Os que defendem a inclusão total sugerem que o principal objetivo da escola é minimizar os preconceitos, ofertar oportunidades de socialização e criar laços afetivos entre alunos com e sem defi ciência. Essa ideia é contrária à proposta da inclusão, em que é salientado o desenvolvimento de habilidades acadêmicas necessárias para a inclusão dentro e fora da escola. Em última instância, o público-alvo das duas propostas parece diferir. Para os inclusionistas, seriam os alunos com defi ciências mais brandas, como distúrbios de aprendizagem ou defi ciência intelectual leve. Para os proponentes da inclusão total, seriam os alunos com comprometimentos severos (FUCHS; FUCHS, 1998; MENDES, 2006). Para recapitularmos essa ideia, confi ra o Quadro 1 a seguir, no qual são sa- lientadas as principais diferenças desses dois modelos. Inclusão (Educação Inclusiva) Inclusão Total Educação Especial Considerado uma modalidade de ensino; o continuum de serviços é aceitável. Os serviços da Educação Especial devem ser extintos. Objetivos da escola Desenvolvimento de habilidades acadêmicas. Socialização, fazer amigos, minimizar o estigma da defi ciência. Público-alvo Alunos com defi ciências leves. Alunos com defi ciências severas. A Escola A capacidade de mudanças é fi nita. O sistema deve se adaptar às demandas do aluno. A capacidade de mudanças deve ser infi nita. O sistema deve ser “reinventado” para acomodar todos. Quadro 1 – Inclusão x Inclusão Total Mas, voltemos ao Brasil, onde o modelo adotado pelas políticas públicas é, atualmente, o da educação inclusiva ou inclusão. Isso é expresso na Lei de Di- retrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN (Lei nº 9.394/96), que enaltece o papel da escola regular e atribui àEducação Especial uma função complementar. No novo cenário, a Educação Especial passa a confi gurar-se como uma moda- lidade de educação escolar que perpassa todos os níveis e etapas do ensino, conforme ilustra a Figura 2 a seguir. 1 2 1Atividade Aula 4 Educação Inclusiva68 Figura 2 – Educação Especial enquanto modalidade de ensino Fonte: MEC (BRASIL, 2003). A Educação Especial, portanto, deve ser ofertada aos alunos com defi ciência em qualquer etapa ou modalidade da educação básica, desde a educação infantil até o ensino superior. A proposta de modifi cação do meio, como forma de aco- modar a heterogeneidade dos educandos, é refl etida no art. 59 da LDB, no qual é preconizado que “os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específi cos para atender às suas necessidades”. Bom, agora que você conheceu os três principais paradigmas que infl uencia- ram o atendimento aos alunos com defi ciência, faça a atividade a seguir. Elabore um quadro comparativo, ressaltando as principais característi- cas de cada modelo. Retome os conceitos discutidos no encontro ante- rior, se necessário. Paradigma Segregação Integração Inclusão Período Até a década de 1960 Características principais O que você pensa sobre a perspectiva da Inclusão Total, que propõe a exclusão dos serviços da Educação Especial? Aula 4 Educação Inclusiva 69 Alunos com defi ciência ou necessidades educacionais especiais? Sob a infl uência do paradigma da inclusão, os alunos, antes referidos como excepcionais ou portadores de defi ciência passaram a ser chamados de edu- candos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE). De acordo com a resolução CNE/CEB nº. 02/2001, esses indivíduos incluíam aqueles que, durante o processo educacional, apresentassem: I – difi culdades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que difi cultem o acompanhamento das atividades curri- culares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou defi ciências; II – difi culdades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III – altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (CNE/ CEB/MEC, Resolução nº 2/2001, art. 5.º). Podemos observar, nessa perspectiva, uma ampliação no leque de carac- terísticas comportamentais previamente consideradas críticas e propensas ao fracasso escolar, como os distúrbios de aprendizagem (dislexia, discalculia), os transtornos de défi cit de atenção/hiperatividade, as doenças mentais (psicoses, esquizofrenia), dentre outros quadros. Adicionalmente, como salienta Delou (2008), englobaria alunos que: [...] se diferenciam por seus ritmos de aprendizagem, sejam mais len- tos ou mais acelerados. Apresentam difi culdades de aprendizagem, que nenhum médico, psicólogo ou fonoaudiólogo conseguiu identifi car qualquer causa orgânica ou relacionada às características orgânicas [...] (DELOU, 2008, p. 16). E por que a mudança de termo? Defi ciência e necessidade educacional especial não seriam a mesma coisa? Não necessariamente. Conforme argumentam Glat e Blanco (2007): as necessidades educacionais especiais são construídas socialmente, no ambiente de aprendizagem, não sendo, portanto, consequências inevitáveis da defi ciência ou do quadro orgânico apresentado pelo indivíduo (GLAT; BLANCO, 2007, p. 28, grifo nosso). O termo Defi ciência, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, refere- -se a: perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fi siológica ou anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer Excepcionais Nomenclatura usada na década de 1960. Portadores de defi ciência Nomenclatura usada na década de 1980. Aula 4 Educação Inclusiva70 outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. Representa a exte- riorização de um estado patológico, refl etindo um distúrbio orgânico, uma perturbação no órgão (AMIRALIAN et al, 2000, p.18). Essa defi ciência pode, ou não, resultar em uma necessidade educacional especial. Por outro lado, a ideia de NEE está relacionada à interação do indivíduo com o meio. Ou seja, se a escola for capaz de atender às demandas do aluno, este não apresentará necessidades educacionais especiais (embora possa, ainda, apresentar defi ciência). Confuso? Pois bem, para esclarecer esses conceitos, imaginemos duas cenas. Cena 1 Um aluno cego em uma sala de aula onde uma professora, silenciosa- mente, escreve as instruções de uma atividade em um quadro negro. Cena 2 Um aluno cego em uma sala de aula onde uma professora: a. verbaliza as instruções de uma atividade a ser realizada pela turma; b. escreve as instruções no quadro; c. fornece uma cópia em braile da atividade para o aluno cego realizar. Agora, atente para as seguintes observações. 1) Na primeira cena, o aluno apresenta uma defi ciência? Se você disse que sim, está correto. Ele é defi ciente visual, uma condição orgânica que afeta sua capacidade de ver. 2) Na cena 1, o aluno evidencia necessidades educacionais especiais? Sim! Nesse contexto, com as instruções sendo fornecidas em uma modalidade que ele, enquanto indivíduo cego, não tem acesso (escri- ta no quadro), as necessidades educacionais especiais se manifestam. 3) Vamos à cena 2. O aluno apresenta defi ciência? Se você disse que sim, está correto. Ele é cego. 4) Na cena 2, o aluno apresenta necessidades educacionais especiais? Não! Nessa cena, embora a defi ciência exista, as acomodações feitas pela professora (verbalizar as instruções e fornecer uma cópia em braile), fazem com que as necessidades educacionais do aluno, nesse contexto, desapareçam. Braile Sistema de leitura e escrita pelo tato, tipicamente usado por pes- soas cegas. No braile, as letras do alfabeto são produzidas a partir de 6 pontos em alto relevo. 2Atividade 1 2 Aula 4 Educação Inclusiva 71 Agora é a sua vez! Imagine um aluno com uma defi ciência (visual, auditiva, física etc.), inserido na escola em que você trabalha/estuda. Indique uma atividade específi ca realizada nesse contexto. Esse aluno seria capaz de realizá-la? Discuta a ideia de NEE e defi ciência, tendo esse cenário como panorama. De acordo com o que discutimos, todo aluno com defi ciên- cia apresenta, necessariamente, uma necessidade educacio- nal especial? Aula 4 Educação Inclusiva72 Educação Inclusiva no Brasil: panorama atual Mesmo com a implementação de políticas que visavam à reestruturação dos sistemas educacionais inclusivos, os alunos com NEE continuaram apartados das classes regulares. De fato, estatísticas apresentadas pelo Censo do IBGE em 2000 indicaram que, pelo menos, 179 mil crianças brasileiras que possuíam alguma defi ciência não estavam nas escolas (KASPER; LOCH; PEREIRA, 2008). Foi nesse contexto que, em 2008, foi elaborada a Política da Educação Espe- cial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Esse documento determina que a Educação Especial, enquanto modalidade de ensino, deve ser restrita aos alunos que evidenciam defi ciências, transtornos e altas habilidades. Pois é, mudamos de nomenclatura novamente! Ao invés de educandos com necessidades educacionais especiais (NEE), termos menos amplos foram adota- dos. Assim, na atualidade, os alunos contemplados pelos serviços de Educação Especial seriam aqueles apresentados no Quadro 2. Aula 4 Educação Inclusiva 73 1. Defi ciência intelectual: funcionamento intelectual signifi cativamente inferior à média, com manifestaçãoantes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, incluindo a comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, utilização da comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer e trabalho, vida doméstica e autogoverno (WESTLING; FOX, 2004). Estima-se que, aproximadamente, 1,6% da população no Brasil apresenta defi ciência intelectual. 2. Defi ciência visual: é caracterizada por duas condições — baixa visão e cegueira. A primeira, presente em 20% dos indivíduos que apresentam defi ciência visual, caracteriza- se pela perda total da visão, até a perda da capacidade de indicar a projeção da luz. A segunda, prevalente em 80% dos casos, é descrita como perda severa da visão, não corrigível através de tratamento clínico, cirúrgico, nem de óculos convencionais (SMITH, 2008). Aproximadamente 1 a 1,5% da população no Brasil apresenta defi ciência visual. 3. Defi ciência auditiva: é defi nida como perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras. São considerados parcialmente surdos indivíduos capazes de ouvir sons a partir de 20 a 70 decibéis. Os surdos contemplam aqueles que só conseguem ouvir sons acima de 70 decibéis. Estima-se que, no Brasil, 1,5% da população tenha essa defi ciência (BRASIL, 2004). 4. Defi ciência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam difi culdades para o desempenho de funções (BRASIL, 2004). 5. Defi ciência múltipla: associação no mesmo indivíduo de duas ou mais defi ciências primárias, incluindo defi ciência física ou sensorial (WESTLING; FOX, 2004). 6. Transtornos Globais do Desenvolvimento: alunos que apresentam “alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo” (BRASIL, 2008, p. 9). Nesse grupo, estão contemplados os alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo (Transtorno de Asperger, Rett, Transtorno Desintegrador da Infância, Transtornos Invasivos do Desenvolvimento sem Outra Especifi cação) e Psicose infantil (BRASIL, 2008). 7. Altas habilidades/superdotação: de acordo com a Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva (2008), trata-se dos alunos com altas habilidades/ superdotação que [...] demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse (BRASIL, 2008, p. 9). 8. Transtornos Funcionais Específi cos: nessa condição, estariam, por exemplo, educandos com distúrbios de aprendizagem, defi nido como um grupo heterogêneo de distúrbios que se manifestam por difi culdades signifi cativas na aquisição e no uso da compreensão oral, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas (WESTLING; FOX, 2004). Défi cits de atenção, de percepção visual, de processamento da linguagem ou prejuízos motores estão, em geral, relacionados a tais distúrbios. Estima-se que, aproximadamente, 5% da população escolar tenha algum tipo de distúrbio de aprendizagem (SMITH; STRICK, 2001). Quadro 2 – Alunos contemplados pelos serviços da Educação Especial na atual Política Educacional do Brasil Aula 4 Educação Inclusiva74 E quais serviços de Educação Especial voltados aos alunos seriam esses? O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é um exemplo. Trata-se de serviços que visam identifi car, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específi cas. Ressalta-se que as atividades desenvolvidas no AEE diferenciam-se daquelas realizadas na sala regular e não podem substituir a escolarização. Por isso, o AEE é ofertado em turno inverso ao da escola. Ou seja, se a criança estuda pela manhã, deverá receber o atendimento à tarde e vice-versa. Para ser contemplado com esses serviços, o aluno deve estar matriculado na sala de aula comum ou em centros especializados que realizem o atendimento educacional. Além disso, o atendimento deve, de acordo com a legislação, ser realizado, prioritariamente, na Sala de Recursos Multifuncionais, também chamada de SRM. E o que são as SRM? São espaços organizados com materiais didáticos, pe- dagógicos, equipamentos e profi ssionais com formação para o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos que apresentam defi ciências, transtornos ou altas habilidades. Esses recursos incluem materiais didáticos e pedagógicos acessíveis (livros, desenhos, mapas, gráfi cos e jogos táteis, em LIBRAS, em braile, em caráter am- pliado, com contraste visual, imagéticos, digitais, entre outros); Tecnologias de informação e de comunicação (TICS) acessíveis (mouses e acionadores, teclados com colmeias, sintetizadores de voz, linha braile, entre outros); e recursos ópti- cos; pranchas de CAA, engrossadores de lápis, ponteira de cabeça, plano incli- nado, tesouras acessíveis, quadro magnético com letras imantadas, entre outros. Uma descrição mais aprofundada desses recursos será fornecida no decorrer de nossos próximos encontros. Resumo Leituras complementares Aula 4 Educação Inclusiva 75 Para saber mais sobre o processo de escolarização de alunos com necessi- dades educacionais especiais, consulte as referências sugeridas a seguir. Nelas, você poderá ler mais sobre os pressupostos teóricos do modelo da Educação Inclusiva e as práticas pedagógicas adotadas em escolas regulares que atendem alunos com NEE. BRASIL. Revista Inclusão. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index. php?option=com_content&view=article&id=12625&Itemid=860>. Acesso em: 22 nov. 2012. GLAT, R. (Org.). Educação inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007. MAGALHÃES, Rita de Cássia Barbosa Paiva (Org.). Educação Inclusiva: escola- rização, política e formação docente. Brasília: Liber Livro, 2011. 182 p. MARTINS, Lúcia de Araújo R.; PIRES, Gláucia N.; PIRES, J. (Org.). Inclusão Escolar: novos contextos, novos aportes. Natal: EDUFRN, 2012. MENDES, Enicéia Gonçalves; ALMEIDA, Maria Amélia (Org.). Dimensões Pe- dagógicas nas práticas de inclusão escolar. Marília: Abpee, 2012. (Coleção Inclusão Escolar). Nesta aula, você conheceu um pouco mais sobre a história da Educação Especial no país, enfocando no modelo da Educação Inclusiva. Aprendeu a distinguir os diferentes paradigmas, da perspectiva da segregação à proposta da Inclusão Total. Identifi cou as características dos educandos contemplados pelos serviços da educação especial e a forma como eram e são, na atualidade, denominados. Por fi m, considerando a atual política educacional, conheceu os espaços pedagógicos onde as pessoas com defi ciências, transtornos e altas habilidades devem estar inseridas. Aula 4 Educação Inclusiva76 Autoavaliação A ideia agora é fazermos uma atividade de campo. Portanto, visite uma escola, ou a sua universidade, e converse com os professores e gestores. Você deverá orientar-se pelo roteiro a seguir. 1) Quantos alunos com defi ciências, transtornos e altas habilidades estão regularmente matriculados na escola/ universidade? 2) O que os professores e gestores pensam sobre a inclusão desses educandos? Quais os benefícios? Quais os desafi os? 3) Os referidos alunos (das escolas) estão sendo contempladospelos serviços do atendimento educacional especializado (que lhes é de direito!) ou por algum outro atendimento diferenciado. 4) Existem salas de recursos multifuncionais? Onde estão alocadas as salas da região? Em seguida, se for possível, visite uma sala de recursos e descreva os equipamentos que encontrou. Referências AMIRALIAN, Maria L. T. et al. Conceituando defi ciência. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 34, n. 1, feb. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102000000100017&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 21 jan. 2013. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Ofi cial da União, Brasília, 23 dez. 1996. ______. Conselho Nacional de Educação. Resolução n. 2, de 11 de setembro de 2001. Institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: CNE/CEB, 2001. Aula 4 Educação Inclusiva 77 ______. Saberes e práticas da inclusão: estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília: Ministério da Educação, Se- cretaria de Educação Especial, 2003. ______. Lei 5296, artigo 70. Brasília: Ministério da Saúde, 2004a. ______. Saberes e práticas da inclusão: Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos. Brasília: MEC; SEESP, 2004b. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Na- cional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/ pdf/politica.pdf>. 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