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Dengue, Chikungunya e Zika Adriel Rêgo Barbosa Tarso Buaiz Pereira Martins Rannyery Leite da Silva Inácio Universidade Federal do Piauí Centro de ciências da saúde Departamento de Medicina Comunitária Disciplina: Doenças Infecciosas e Parasitárias Teresina, Setembro de 2016 É a forma mais importante das arboviroses, sendo transmitida, principalmente, pelo mosquito Aedes aegypti; A mais frequente: 80 milhões de pessoas, em 100 países na região intertropical, anualmente; Existem duas formas clínicas: a forma clássica se manifesta como uma síndrome febril aguda, autolimitada, evoluindo a mialgia proeminente e, às vezes, incapacitante; Febre Hemorrágica da Dengue – letalidade de 5-50%. Dengue - Generalidades Arbovírus, gênero Flavivirus, família Flaviviridae; RNA de filamento único, esférico, envelopado, medindo 60 nm; 4 sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3, DENV-4; Dengue – Agente etiológico Cerca de 100 países apresentam epidemias ou surtos; Nas américas, está presente desde os EUA até o Uruguai, com exceção de Canadá e Chile (altitude e clima); A dengue acompanha de perto a distribuição do mosquito vetor, logo, a incidência é maior no verão; Meados do século XX: epidemias crescentes e hiperendemia no sudeste asiático: aumento da população, urbanização e pobreza; Atualmente, no Brasil, ocorre como uma endemia, com múltiplas epidemias se intercalando ao longo dos anos – novos sorotipos em áreas com população suscetível. Dengue - Epidemiologia Observação quanto as sorotipos: a forma hemorrágica é mais comum em pacientes com história prévia de dengue que se infectaram com novo sorotipo. Nos últimos anos: introdução do sorotipo 4 e maior proporção de crianças acometidas; De 2006 a 2016, houve o início de uma transição de perfil : epidemias que predominavam na população adulta jovem estão aumentando na população infantil; São cada vez mais frequentes campanhas do Ministério da Saúde, sobre sinais e sintomas da dengue, formas de prevenção e conscientização. Dengue - Epidemiologia Vetores hematófagos, sendo o homem o principal reservatório; Principal transmissor - Aedes aegypt - é bem adaptado ao ambiente urbano, tendo hábitos diurnos e vespertinos; Fêmea faz postura de ovos em coleções de água estáveis mecanicamente, onde se desenvolvem as larvas; Ao se desenvolver na forma adulta, se alimentando do sangue de um reservatório infectado, na fase de viremia: 1 dia antes do aparecimento da febre até o sexto dia da doença; Após 8-12 dias, vírus se multiplica e pode haver a transmissão. Dengue – Transmissão e ciclo Autonomia de voo limitada do mosquito: a eliminação de criadouros peridomiciliares tende a impedir o contato intradomiciliar com o vetor; Obs.: ovos podem permanecer viáveis por um ano, e podem ser reidratados por novas chuvas. Transmissão transovariana do vírus para a prole do mosquito já foi sugerida e relatada; Há relatos de transmissão vertical do vírus da dengue: forma grave de dengue neonatal: merece mais estudos epidemiológicos; Importante: não há transmissão pessoa-pessoa, nem por contato com secreções diretas ou em fômites. Dengue – Transmissão e ciclo O vírus se replica inicialmente em células mononucleares dos linfonodos locais, ou nas células musculares esqueléticas, produzindo viremia; No sangue, continua a replicação nos monócitos e macrófagos, se disseminando por todo o organismo, onde passa a se reproduzir pelo sistema reticuoendotelial; O tropismo por macrófagos e, em segundo lugar, por células musculares esqueléticas explica a mialgia; A replicação estimula a produção de citocinas pelos macrófagos e, indiretamente, pelos linfócitos TCD4. TNF-alfa e IL-6, por exemplo, atuam como pirógenos, levando à síndrome febril. Dengue – Patogênese Resposta imune celular e humoral participam do controle da infecção; A partir do quarto dia: IgM anti-dengue já pode ser detectado, com pico na primeira semana, persistindo por alguns meses; IgG surge na primeira semana, com pico na segunda, mantendo-se por vários anos – imunidade sorotipo-específica por vários anos; Dengue – Patogênese Chance é maior quando a segunda infecção é pelo sorotipo 2. Em ordem decrescente, temos: 2,3,4,1; Explicação: anticorpos homólogos; anticorpos heterólogos; Teoria de Halsted: ligação de Igs heterólogos, facilitaria a penetração dos vírus os macrófagos. Maior viremia; Muito mais citocinas, tomboplastina, proteases do complemento; Mais fatores inflamatórios, pois, levam a permeabilidade capilar generalizada. Isso leva a uma hipovolemia relativa e hemoconcentração, edema e hemorragia tecidual. Trombocitopenia: destruição por IC´s e inibição da trombopoiese medular. Patogênese da forma grave Nem sempre ocorre por nova infecção por novos sorotipos. Alguns já na primo-infecção, e a explicação mais provável é por variantes genéticas; Teoria de Rosen: cepas mais virulentas do agente etiológico; Teoria da multicausalidade: as duas anteriores, somada a outros fatores predisponentes diversos, como: raça branca, lactentes, enfermidades crônicas, intervalos de 3 meses a 5 anos entre duas infecções por sorotipos diferentes; New England, 2012: disfunção endotelial: antíegno NS1 (detectado até 5 dias de sintomas) neutralizaria o glicocálix. Patogênese da forma grave Possível evolução após infecção: assintomática; forma clássica; FHD; síndrome do choque da dengue; dengue com complicações; Possíveis transições evolutivas – MS protocola abordagem clínica baseada em grupos de risco progressivo; Período de incubação: médio de 5-6 dias, variando de 3-15 dias.; Quadro clínico perdura por 5-7 dias Caso suspeito de dengue: febre com até 7 dias de duração, acompanhada de 2 ou mais de: cefaleia, dor retro-orbitária, mialgia, artralgia, prostração, exantema, (pruriginoso ou não). Além disso, te estado em área de transmissão de dengue nos últimos 15 dias. Casos suspeitos notificados à vigilância epidemiológica. Em casos graves, de forma imediata. Quadro clínico A primeira manifestação: febre alta, abrupta e, às vezes, com calafrios; Seguida por: cefaleia, dor dor retro-orbitária, mialgia intensa, artralgia, prostração, náuseas, vômitos e anorexia; Exantema morbiliforme, centrífugo, podendo aparecer no terceiro-quarto dia de sintomas.; Dor abdominal é mais comum em crianças; E.F.: pode revelar polimicroadenopatia, hepatomegalia dolorosa, episódios hemorrágicos (petéquias, equimoses, gengivorragias); Obs.: Cuidado com o termo “hemorrágico”. Dengue clássica Laboratório: leucopenia, com linfocitose relativa, acompanhada ou não de atipias linfocitárias; trombocitopenia leve; hematócrito, em geral, normal; Aminotransferases podem subir, em especial AST(2-3x). Se superiores a 10x do LSN, considerar hepatite (dengue complicada); Dengue clássica Dengue com sinais de alarme Fase crítica Diminuição da febre 3º ao 7º dia de inicio da doença Aumento da permeabilidade vascular Possível evolução para choque Dengue grave Fatores de risco História de dengue prévia Infecção atual pelo sorotipo 2 Lactentes de mães com passado de dengue Menores de 12 anos Sexo feminino, raça branca, marcadores genéticos Dengue grave Extravasamento plasmático CHOQUE Hemorragia grave Disfunção de órgãos Dengue grave Extravasamento plasmático Hipovolemia relativa Edema de interstício Derrames cavitários Derrame pleural Ascite Derrame pericárdico Choque Perda crítica de volume pelo extravasamento 24 a 48h Dengue grave Hemorragia grave Raras Aparelho digestivo: Histórico de Úlcera péptica ou gastrite Ingestão de AINEs, AAS, anticoagulantes Nem sempre associado à trombocitopenia Dengue grave Disfunção grave de órgãos Pode ocorrer sem choque associado Encefalites Convulsões, irritabilidade... Hepatites Elevação de aminotransferases e tempo de protrombina MiocarditesDisfunção, alteração de ritmo, alteração no ECG, elevação de enzimas hepáticas Fase de recuperação Reabsorção do conteúdo extravasado Débito urinário normaliza Pode ter rash cutâneo com prurido Pode aparecer infecção bacteriana Diagnóstico Confirmação diagnóstica Sorologia MAC-ELISA (a partir do 6º dia) IgM antiviral Isolamento viral Identifica o sorotipo Antígeno NS1, RT-PCR, Imuno-histoquimica Diagnóstico Diferencial Síndrome febril Enteroviroses, influenza, malária, febre tifóide... Síndrome exantemática febril Rubéola, sarampo, escarlatina, eritema infeccioso... Síndrome hemorrágica febril Hantavirose, febre amarela, leptospirose, malária grave... Síndrome dolorosa abdominal Apendicite, obstrução intestinal, abscesso hepático... Síndrome do choque Septicemia, choque cardiogênico... Síndrome meníngea Meningites virais e bacterianas, encefalite Classificação de Risco Grupo A Caso suspeito de dengue Ausência de sinais de alarme Sem comorbidades, grupo de risco ou condições clínicas especiais Grupo B Caso suspeito de dengue Ausência de sinais de alarme Petequias ou prova do laço + Comorbidades e/ou grupo de risco e/ou condições clínicas especiais Classificação de Risco Grupo C Caso suspeito de dengue Sinal de alarme presente Grupo D Caso suspeito de dengue Presença de sinais de choque, sangramento grave ou disfunção grave de órgãos FLUXOGRAMA FIGURA 7 CONDUTA Grupo A Exames a critério médico Paracetamol e/ou Dipirona Não usar AINEs Repouso, dieta e hidratação oral Orientações Retorno se agravar Criadouros Retorno na melhora da febre Notificação CONDUTA Grupo B Exames Hemograma Outros a critério médico Hidratação oral Paracetamol e/ou dipirona Reavaliação e notificação Se normal: tratamento ambulatorial Se sinal de alarme: conduta de grupo C CONDUTA Grupo C Reposição volêmica imediata Expansão e manutenção Internação até estabilização Exames laboratoriais Hemograma Albumina sérica e transaminases Exames de Imagem RX tórax (PA, perfil, incidência de Laurell) US abdominal Exames para confirmação Sorologia, PCR, isolamento viral Outros exames a critério médico (glicemia, uremia, creatinina, gasometria) CONDUTA Grupo C Paracetamol e/ou dipirona Notificação Se melhorar: Conduta grupo B (reavaliação) Se não melhorar: Conduta grupo D CONDUTA Grupo D Reposição volêmica UTI Exames laboratoriais Hemograma Albumina sérica e transaminases Exames de Imagem RX tórax (PA, perfil, incidência de Laurell) US abdominal Exames para confirmação Sorologia, PCR, isolamento viral Outros exames a critério médico (glicemia, uremia, creatinina, gasometria) Notificação Após alta, seguimento como grupo B Febre de Chikungunya Virologia - Chikungunya (CHIKV) Vírus de RNA fita única Pertence à família Togaviridae e do gênero Alphavirus. Vetores: Ae. Aegypti e Ae. Albopictus Hospedeiros: Homem (definitivo), primatas e outros mamíferos (intermediários). Foi isolado pela primeira vez na Tanzânia em 1952. Seu nome significa “aqueles que se dobram” Manifestações Clínicas A infecção é muito semelhante à infecção pelo vírus da dengue; A incubação varia de 1 a 12 dias, com média de 4-7 dias; A viremia pode persistir por até 10 dias; Nem todos os indivíduos infectados com o vírus desenvolvem sintomas. Analises sorológicas indicam que 3% a 28% das pessoas com anticorpos antiCHIKV apresentam infecção assintomática. Manifestações Clínicas Pode cursar 3 fases clínicas distintas: fase aguda, subaguda e crônica. Manifestações Clínicas FASE AGUDA: FEBRE: alta (até 40°C) e de início súbito, que dura no máximo 10 dias pode ser contínua, intermitente, ou bifásica POLIARTRALGIA: Intensa (mãos, punhos e tornozelos) Usualmente simétrica pode ser INCAPACITANTE. O edema é comum, mas não há outros sinais de inflamação; Pode ocorrer mialgia, cefaleia, exantema e conjuntivite. Fase aguda Manifestações Clínicas FASE SUBAGUDA: A febre normalmente desaparece Podendo haver persistência ou agravamento da artralgia O comprometimento articular costuma ser acompanhado por edema de intensidade variável Podem estar presentes também: astenia, prurido generalizado e exantema maculopapular Fase subaguda Manifestações Clínicas FASE CRÔNICA: Os principais fatores de risco relacionados a uma evolução crônica (>3 meses de duração) são: Idade > 45 anos Doença articular prévia Maior intensidade dos sintomas na fase aguda Manifestações Clínicas FASE CRÔNICA: Sintomas mais comuns: acometimento articular persistente ou recidivante nas mesmas articulações atingidas durante a fase aguda Dores nas regiões sacroilíaca, lombossacra e cervical Tenossinovite Fenômeno de Raynaud (cerca de 20%) Manifestações atípicas e graves Gestantes Não está relacionada a efeitos teratogênicos Há raros relatos de abortamento espontâneo A taxa de transmissão, no período intraparto, pode chegar até 49% Não há evidências de que a cesariana altere o risco de transmissão O vírus não é transmitido pelo aleitamento materno Alterações laboratoriais Leucopenia com linfopenia menor que 1.000 cels/mm3 é a observação mais frequente. Trombocitopenia (raramente) A VHS e a Proteína C-Reativa encontram-se geralmente elevadas Diagnóstico Diferencial – Fase Aguda Malária Leptospirose Febre reumática Artrite séptica Manejo clínico Tratamento Não há tratamento antiviral específico para chikungunya. A terapia utilizada é de suporte sintomático, hidratação e repouso. A droga de escolha é o paracetamol. Pode ser utilizada a dipirona para alívio da dor e febre. Zika Vírus Virologia RNA fita única Gênero Flavivirus Epidemiologia O vírus Zika teve sua primeira aparição registrada em 1947, quando foi encontrado em macacos da Floresta Zika, em Uganda. Somente em 1954 os primeiros seres humanos foram contaminados, na Nigéria. Atingiu a Oceania em 2007 e a França no ano de 2013. O Brasil notificou os primeiros casos de Zika vírus em 2015, no Rio Grande do Norte e na Bahia. Transmissão Vetor: Aedes aegypti Outras possibilidades: Sexual Perinatal Transfusional Manifestações clínicas exantema maculopapular pruriginoso, febre intermitente hiperemia conjuntival não purulenta e sem prurido artralgia mialgia cefaleia Complicações possíveis Síndrome de Guillain-Barré (autoimune) Microcefalia Diagnóstico Baseia-se na detecção direta do vírus no sangue: Isolamento viral RT-PCR Tratamento Sintomático: Paracetamol ou dipirona Repouso Ingestão de muito líquido os AINES devem ser evitados pela possibilidade de infecção simultânea pelo vírus da dengue
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