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Curso de Matema´tica 1 Aula 04 - Continuidade e Reta Tangente Objetivos da aula: Entender o conceito de continuidade Aprender os exemplos cla´ssicos de func¸o˜es cont´ınuas Utilizar o Teorema do Valor Intermedia´rio para aproximar ra´ızes de func¸o˜es complicadas Estabeler uma relac¸a˜o entre existeˆncia de reta tangente e continuidade O imposto de renda Regra do imposto em um pa´ıs imagina´rio Quem ganha ate´ 10 mil cruzetas e´ isento; quem ganha mais de 10 mil e ate´ 20 mil cruzetas paga 10% da renda de imposto; os demais pagam 20% da renda. Como a maneira de calcular 10% de um nu´mero e´ multiplica´-lo por 10/100 = 0, 1, segue da regra acima que I (r) = 0 , se 0 ≤ r ≤ 10, 0, 1r , se 10 < r ≤ 20, 0, 2r , se r > 20, onde r ≥ 0 e´ a renda em milhares em I (r) e´ o imposto de renda devido, tambe´m em milhares. O imposto de renda Note que lim r→10− I (r) = lim r→10− 0 = 0, lim r→10+ I (r) = lim r→10+ 0, 1r = 1. Os saltos do gra´fico podem provocar injustic¸as: Sala´rio bruto: 10.000,00 Imposto devido: 0,00 Sala´rio l´ıquido: 10.000,00 Sala´rio bruto: 11.000,00 Imposto devido: 1.100,00 Sala´rio l´ıquido: 9.900,00 10 20 1 2 4 O imposto de renda Novas regras do imposto Quem ganha ate´ 10 mil cruzetas e´ isento; quem ganha mais de 10 mil e ate´ 20 mil cruzetas paga 10% da renda de imposto menos uma parcela fixa de c mil cruzetas; os demais pagam 20% da renda. I1(r) = 0 , se 0 ≤ r ≤ 10, 0, 1r − c , se 10 < r ≤ 20, 0, 2r , se r > 20, Para cada escolha do valor da deduc¸a˜o c , temos uma func¸a˜o diferente. Gostar´ıamos de escolher o paraˆmetro c de modo que a injustic¸a citada anteriomente na˜o exista mais. O imposto de renda Vamos calcular os limites laterais: lim r→10− I1(r) = lim r→10− 0 = 0, lim r→10+ I1(r) = lim r→10+ (0, 1r − c) = 1− c . O limite existe se, e somente se, 0 = 1 − c , ou seja, c = 1. Portanto, os contribuintes que esta˜o na 2a faixa devem pagar 10% de sua renda menos 1 mil cruzetas. 10 20 1 4 O conceito de continuidade Seja f uma func¸a˜o definida em um intervalo aberto contendo o ponto x = a. Dizemos que ela e´ cont´ınua em x = a se lim x→a f (x) = f (a). Para que f seja cont´ınua em x = a, e´ necessa´rio que: 1 o ponto x = a esteja no dom´ınio de f ; 2 exista o limite lim x→a f (x); 3 o limite acima seja igual a f (a). Exemplo 1 Lembremos os nossos impostos I (r) e I1(r): 10 20 1 2 4 10 20 1 4 A func¸a˜o I (r) na˜o e´ cont´ınua nos pontos r = 10 e r = 20, pois na˜o existe limite nestes pontos. A func¸a˜o I1(r) na˜o e´ cont´ınua em r = 20. Pore´m, ela e´ cont´ınua em r = 10 pois lim r→10 I1(r) = 0 = I1(10). Exemplo 2 A func¸a˜o ao lado na˜o e´ cont´ınua em x = 1, porque na˜o existe o limite pela di- reita neste ponto (e portanto na˜o existe o limite quando x → 1). Note que x = 7 na˜o esta´ no dom´ınio, de modo que na˜o tem sentido perguntar sobre a continui- dade neste ponto. 1 7 2 100 150 1 2 A func¸a˜o V (p) da aula passada, cujo gra´fico esta´ ao lado, na˜o e´ cont´ınua em p = 100. Lembre que essa era exatamente a pressa˜o cr´ıtica onde o ga´s se transformava em l´ıquido. Exemplo 3 Vamos calcular a e b sabendo que a func¸a˜o abaixo e´ cont´ınua em x = 2: g(x) = x2 + a, se x < 2, b − 6, se x = 2, ax + 3, se x > 2. Os limites laterais em x = 2 sa˜o (4 + a) e (2a + 3). Como o limite existe, 4 + a = 2a + 3, isto e´, a = 1. Como g e´ cont´ınua em x = 2, temos ainda que 5 = lim x→2 g(x) = g(2) = b − 6, e portanto b = 11. Continuidade no extremos de um intervalo Seja f uma func¸a˜o definida no intervalo [a, b]. Dizemos que f e´ cont´ınua em x = a se lim x→a+ f (x) = f (a). Analogamente, f e´ cont´ınua em x = b se lim x→b− f (x) = f (b). 10 20 1 4 A func¸a˜o I1(r) e´ cont´ınua em r = 0, pois lim r→0+ I1(r) = 0 = I1(0). Note que na˜o teria sentido tentar cal- cular o limite pela esquerda. Exemplos ba´sicos Se p(x) = (b0 + b1x + · · ·+ bnxn) e´ um polinoˆmio e a ∈ R, enta˜o lim x→a p(x) = lim x→a (b0 + b1x + · · · bnxn) = (b0 + b1a + · · ·+ bnan) = p(a), e portanto todo polinoˆmio e´ cont´ınuo em todos os pontos. Mais geralmente, se p e q sa˜o polinoˆmios e q(a) 6= 0, enta˜o lim x→a p(x) q(x) = p(a) q(a) . Logo, as func¸o˜es racionais sa˜o cont´ınuas em todos os pontos do seu dom´ınio. Exemplos ba´sicos Como limθ→0 sen(θ) θ = 1, temos que lim θ→0 sen(θ) = lim θ→0 [ sen(θ) θ ] θ = 1 · 0 = 0 = sen(0), e portanto o seno e´ cont´ınuo na origem. Para o cosseno, lembre que sen2(θ) + cos2(θ) = 1, e portanto lim θ→0 cos(θ) = lim θ→0 √ 1− sen2(θ) = 1 = cos(0), de modo que o mesmo vale para o cosseno. Exemplos ba´sicos Considerando agora um ponto qualquer a ∈ R, temos lim x→a sen(x) = lim θ→0 sen(θ + a) = lim θ→0 [sen(θ) cos(a) + sen(a) cos(θ)] = sen(0) · cos(a) + sen(a) cos(0) = sen(a), e portanto o seno e´ cont´ınuo em todos os pontos do seu dom´ınio. Vale o mesmo para o cosseno, pois lim x→a cos(x) = lim θ→0 cos(θ + a) = lim θ→0 [cos(θ) cos(a)− sen(θ)sen(a)] = cos(0) cos(a)− sen(0)sen(a) = cos(a). Func¸o˜es cont´ınuas Dizemos que uma func¸a˜o e´ cont´ınua em um conjunto A do seu dom´ınio se ela for cont´ınua em todos os pontos do conjunto A. Quando A coincide com o dom´ınio de f , dizemos simplesmente que f e´ uma func¸a˜o cont´ınua. Assim, sa˜o cont´ınuas as seguintes func¸o˜es: polinoˆmios (em particular, as func¸o˜es constantes); func¸o˜es racionais, isto e´, quociente de polinoˆmios; seno e cosseno. Veremos posteriormente que sa˜o tambe´m cont´ınuas: a func¸a˜o exponencial ex ; a func¸a˜o logar´ıtmica ln(x). A´lgebra das func¸o˜es cont´ınuas Teorema 1 Se f e g sa˜o cont´ınuas no ponto no ponto x = a, enta˜o sa˜o tambe´m cont´ınuas neste ponto as func¸o˜es 1 (f + g)(x) = f (x) + g(x); 2 (f − g)(x) = f (x) − g(x); 3 (f · g)(x) = f (x)g(x); 4 (f /g)(x) = f (x) g(x) , desde que g(a) 6= 0; A prova do teorema e´ uma consequeˆncia direta das propriedades do limite. Por exemplo, se f e g sa˜o cont´ınuas em x = a, enta˜o lim x→a (f + g)(x) = lim x→a [f (x) + g(x)] = lim x→a f (x) + lim x→a g(x) = f (a) + g(a) = (f + g)(a). A´lgebra das func¸o˜es cont´ınuas Teorema 2 Se g e´ cont´ınua em x = a, f e´ cont´ınua em y = g(a) e a composic¸a˜o (f ◦ g) esta´ bem definida em um intervalo aberto contendo a, enta˜o lim x→a (f ◦ g)(x) = lim x→a f (g(x)) = f (g(a)) = (f ◦ g)(a), e portanto a composta e´ cont´ınua em x = a. Intuitivamente, quando x se aproxima de a, os valores y = g(x) se aproximam de g(a), porque g e´ cont´ınua em x = a. Por outro lado, como f e´ cont´ınua em g(a), a` medida que os valores y = g(x) se aproximam de g(a), os valores f (y) = f (g(x)) se aproximam de f (g(a)). Exemplos Usando os teoremas de limite e os dois u´ltimos resultados podemos apresentar va´rios exemplos de func¸o˜es cont´ınuas. Listamos a seguir alguns deles. √ 1 + x2 cos( √ x); x2 ln(1 + x)− x cos(x) ; a func¸a˜o tangente tan(x) = sen(x) cos(x) ; as demais func¸o˜es trigonome´tricas sec(x) = 1 cos(x) , cossec(x) = 1 sen(x) , cotan(x) = cos(x) sen(x) . O Teorema do Valor Intermedia´rio Teorema 3 Suponha que f e´ uma func¸a˜o cont´ınua no intervalo fechado [a, b]. Se y0 e´ um valor entre f (a) e f (b), enta˜o existe pelo menos um x0 ∈ [a, b] tal que f (x0) = y0. O nu´mero x0 acima pode na˜o ser u´nico. Na˜o importa qual dos dois valores f (a) e f (b) e´ maior. O teorema na˜o nos diz como encontrar o x0. a x0 b f (a) y0 f (b) Aproximandora´ızes com o TVI Considere o polinoˆmio f (x) = x3 − 2x2 − 4x − 2. como f (2) = −10, o ponto (2, f (2)) esta´ abaixo do eixo Ox . como f (6) = 118, o ponto (6, f (6)) esta´ acima do eixo Ox . O gra´fico de f deve ligar esses dois pontos com uma curva suave, sem saltos. A curva deve enta˜o interceptar o eixo Ox em um ponto cuja abscissa e´ uma raiz de f (x). Aproximando ra´ızes com o TVI Na notac¸a˜o do TVI: a func¸a˜o f (x) = x3 − 2x2 − 4x − 2 e´ cont´ınua no intervalo [a, b] = [2, 6], por ser um polinoˆmio. Ale´m disso, se y0 = 0, enta˜o f (a) = f (2) = −10 < y0 < 118 = f (6) = f (b). Segue do TVI que existe x0 ∈ [2, 6] tal que f (x0) = y0 = 0, isto e´, f possui pelo menos uma ra´ız em [2, 6]. O teorema na˜o nos permite encontrar a raiz mas, como sabemos que pelo menos uma delas pertence a [2, 6], podemos dizer que x = 4 e´ uma raiz aproximada. Na aproximac¸a˜o, estamos cometendo um erro de no ma´ximo 2. Aproximando ra´ızes com o TVI O processo acima pode ser continuado de modo a ir “cercando”a raiz. Em cada passo, o erro cometido se reduz pela metade, de modo que a aproximac¸a˜o pode ser ta˜o precisa quanto se queira, bastando para isso fazer muitos passos. x f (x) Conclusa˜o Raiz aprox. Erro 2 −10 6 118 existe raiz em [2, 6] x0 = 4 2 4 14 existe raiz em [2, 4] x0 = 3 1 3 −5 existe raiz em [3, 4] x0 = 7/2 1/2 Usando um recurso computacional, pode-se verificar que a raiz que estamos “cercando”e´ aproximadamente x0 = 3, 3652. A reta tangente Vamos lembrar que a reta tangente ao gra´fico de uma func¸a˜o f no ponto (a, f (a)) e´ a reta que passa por este ponto e tem inclinac¸a˜o f ′(a) = lim x→a f (x)− f (a) x − a , quando esse limite existe. Note que o quociente acima nada mais e´ do que a inclinac¸a˜o da reta que passa pelos pontos (a, f (a)) e (x , f (x)). a x f (a) f (x) Continuidade versus reta tangente Suponha que a func¸a˜o f possui reta tangente no ponto (a, f (a)). Isso e´ equivalente a dizer que existe o limite f ′(a) = lim x→a f (x)− f (a) x − a , Neste caso, temos que lim x→a f (x) = lim x→a [ (f (x)− f (a)) (x − a) (x − a) + f (a) ] = f ′(a) · 0 + f (a) = f (a), e portanto a func¸a˜o f e´ cont´ınua em x = a. Continuidade versus reta tangente Vamos verificar que a rec´ıproca na˜o e´ verdadeira considerando a func¸a˜o f (x) = |x |. Como lim x→0 |x | = 0 = |0|, a func¸a˜o f e´ cont´ınua em x = 0. Por outro lado, lim x→0+ f (x)− f (0) x − 0 = limx→0− |x | x = lim x→0− x x = 1, e o limite pela direita do mesmo quociente e´ igual a −1. x f (x) Assim, na˜o existe o limite lim x→0 f (x)− f (0) x − 0 na˜o havendo portanto reta tangente no ponto (0, 0). Continuidade versus reta tangente Conclu´ımos que a existeˆncia da reta tangente no ponto (a, f (a)) implica na continuidade de f em x = a. O contra´rio na˜o e´ verdade em geral. Uma func¸a˜o pode ser cont´ınua em x = a sem que exista reta tangente no ponto (a, f (a)). −1 1 3 A func¸a˜o ao lado na˜o tem reta tan- gente no ponto (3, f (3)), por na˜o ser cont´ınua em x = 3. Mesmo sendo cont´ınua nos pontos x = −1 e x = 1, ela tambe´m na˜o tem reta tangente nos pontos (−1, f (−1)) e (1, f (1)).
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