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Aulas 1 e 2 Disciplina: DIREITO PROCESSUAL CIVIL II Período Letivo: 4° Carga Horária 60 horas EMENTA: DO PROCESSO E DO PROCEDIMENTO. PROCESSO DE CONHECIMENTO: PROCEDIMENTO ORDINÁRIO. PETIÇÃO INICIAL. TUTELA ANTECIPADA. RESPOSTA DO RÉU: CONTESTAÇÃO, EXCEÇÃO, RECONVENÇÃO. REVELIA. PROCEDIMENTO SUMÁRIO. PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES. JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO. TEORIA GERAL DAS PROVAS E PROVAS EM ESPÉCIE. AUDIÊNCIAS: CONCILIAÇÃO E DE INSTRUÇÃO. SENTENÇA E COISA JULGADA. PROCESSO E DO PROCEDIMENTO. PROCESSO DE CONHECIMENTO: PROCEDIMENTO ORDINÁRIO. PETIÇÃO INICIAL 1. INTRODUÇÃO NATUREZA JURÍDICA DO PROCESSO TEORIAS Existem três teorias principais, representativas de momentos históricos distintos: a) Fase imanentista b) Fase Privatista c) Fase Publicista (atual) Processo como Procedimento Na época imanentista tecnicamente nem se concebe a existência de uma teoria do processo, em virtude da negação da autonomia do processo diante do direito material. O direito de ação era considerado o próprio direito material reagindo a uma agressão ou ameaça. O processo é confundido com procedimento, e imaginava-se que os atos processuais representassem o processo. Quando se concebe a autonomia processual, passa a ter relevância apenas histórica. Processo como Contrato Na tentativa de enquadrar o processo em fenômenos jurídicos privados, teve força no Direito Romano. Tinha como fundamento principal a “litiscontestatio”, que seria a concordância das partes em sofrer os efeitos da demanda. Como o Estado não era forte o suficiente para intervir na vida dos cidadãos, tudo dependia da concordância dos sujeitos envolvidos. Isso levou a crer que o processo seria uma espécie de negócio jurídico privado, ou seja, um contrato. Guarda apenas importância histórica. Processo como um quase contrato Teoria criada pelo francês Arnault de Guényvau, que não aceitava a natureza jurídica de um contrato nem de um delito, tendo como saída um quase contrato. A fragilidade do raciocínio desta teoria a fez ser logo abandonada. Processo como Relação Jurídica A doutrina de Oskar Von Büllow retira o processo do âmbito privatista, alçando-o ao âmbito publicista, pelo qual se encontra até hoje. É realizada uma nítida distinção da relação jurídica processual (processo) com o direito material, pelo qual: a) direito material = objeto de discussão no processo b) direito processual = estrutura por meio da qual essa discussão ocorrerá. É a doutrina mais aceita nos dias atuais, entende-se processo como a relação jurídica de direito processual, exteriorizada por meio d o procedimento. Processo como Situação Jurídica Crítico da teoria da relação jurídica, James Goldschmidt, entende que o processo tem um dinamismo que transforma o direito objetivo, que antes era estático, em meras chances, expectativas, representadas por simples possibilidades de praticar atos que levam ao reconhecimento do direito. Essa sucessão de diferentes situações jurídicas é que determina a natureza jurídica do processo. Apesar de não recepcionado pela doutrina, algumas ponderações valem até os dias de hoje, já que é correto afirmar que a relação jurídica cria em relação aos seus sujeitos, sucessivas situações jurídicas ativas e passivas no decorrer do procedimento (relação jurídica complexa). Processo como Procedimento em Contraditório Trata-se de uma crítica a teoria da relação jurídica, feita por Elio Falazzari, que defende que o procedimento contém atos ligados de maneira lógica e regido por determinadas normas, sendo que cada ato deve-se permitir a participação das partes em contraditório, sendo justamente esta a paridade de participação de cada etapa do processo. Afirma que o processo é uma espécie do gênero do contraditório. Procedimento Animado por uma Relação Jurídica em Contraditório Parcela da doutrina que se filiava a teoria da relação jurídica, diante da tese defendida por Elio Fazzalari, não se incomoda em incluir o contraditório no conceito de processo, mas entende que isso não é suficiente para a exclusão da relação jurídica do conceito. Desta forma, entende que o procedimento contém atos interligado de maneira lógica e regidos por determinadas normas, a relação jurídica e o contraditório são duas facetas de uma mesma realidade, não havendo razão para descartar um ou outra no conceito de processo. Conclusão O processo deve ser entendido como relação jurídica em contraditório. Três elementos que, façam ou não parte da natureza jurídica do processo, estarão presentes no processo: (a) procedimento (b) relação jurídica processual (c) contraditório 2. PROCEDIMENTO É a sucessão de atos interligados de maneira lógica e consensual visando a obtenção de um objetivo final. É a exteriorização do processo, seu aspecto visível. A noção do processo é teleológica, ou seja, voltada para a finalidade de exercício da função jurisdicional no caso concreto. A noção do procedimento é formal, ou seja, sendo uma sucessão de atos com um objetivo final. O processo não vive sem o procedimento, em uma relação de simbiose e não de mutualismo (Fredie Didier). 3. RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL Composição A composição mínima da relação jurídica processual: demandante, demandado, Estado-juiz. Ainda que, excepcionalmente, possa existir processo sem autor (excepcionais demandas iniciadas de ofício pelo juiz) ou sem réu (processo objetivo). Trata-se de uma relação processual tríplice. Dois são parciais, e um imparcial (juiz). A relação processual é triangular, existindo posições jurídicas diretas entre demandante e demandado: a) dever de lealdade e boa-fé recíproca entre as partes; b) obrigação de a parte derrotada reembolsar as custas adiantadas pela parte vencedora; c) possibilidade de convenção para a suspensão do processo, com efeitos ex-tunc, desde a celebração da convenção. Com a proposição da demanda já existirá uma relação jurídica, ainda que limitada ao autor e ao juiz (incompleta). Esta se completará quando houver a citação válida do réu. O processo já existe antes mesmo da citação do réu, sendo inclusive possível o juiz proferir sentença nesse momento, tanto terminativa (art. 330, NCPC), quanto definitiva (art. 332, NCPC) Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I - for inepta; II - a parte for manifestamente ilegítima; III - o autor carecer de interesse processual; IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321. Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. A citação do réu não faz surgir a relação processual, mas tão somente a complementa. É a chamada formação gradual do processo. Características da relação jurídica Autônoma a relação jurídica de direito processual quando comparada com a relação jurídica de direito material. Mesmo não existindo a segunda, existirá a primeira. Ex.: julgado improcedente o pedido do autor Complexidade é a decorrência de inúmeras e sucessivas situações jurídicas que se verificam durante o trâmite procedimental, como ônus, faculdades, direitos e deveres, formando uma relação jurídica complexa. Dinâmica Enquanto no direito material as relações são instantâneas, no direito processual são continuadas, desenvolvendo-se durante o tempo. É impossível pensar um processo instantâneo sem ofensa aos princípios processuais. Esta continuidade desenvolve o processo até seu caminho final, por meio desta atuação dinâmica dos sujeitos. Unidade Os atos praticados pelos sujeitos processuais estão todos interligados de forma lógica, dependendo o posterior de como foi praticado o anterior, o que forma a unidade. Ex.: O despacho de citação, depende da interposição da petição inicial e por aí vai. Natureza Pública A natureza pública da relação jurídica de direito processual se dá em razão da participação do juiz como representante do Estado, como também no seu interesse na boa prestação jurisdicional, que é uma aspiração da coletividade. Pressupostos Processuais O art. 104 do CC diz que a validade do negócio jurídico requer: a) agente capaz b) objeto lícito, possível, determinado ou determinável. c) forma prescrita ou não defesa em lei Pode-se afirmar que estes são os requisitos mínimos de validade de uma relação jurídica de direito material. No campo processual a relação tem os requisitos de validade e de existência, chamada de pressupostos processuais. São matérias preliminares (formalidades processuais) que são analisadas antes do juiz enfrentar o pedido do autor. Há discordância na doutrina quanto quais sejam os pressupostos (alguns apresentam rol mais amplo), e quanto à sua classificação. O critério mais tradicional: Pressupostos processuais subjetivos: a) investidura b) imparcialidade c) capacidade de ser parte d) capacidade postulatória Pressupostos processuais objetivos: a) coisa julgada b) litispendência c) perempção d) transação e) convenção de arbitragem f) falta de pagamento de custas em demanda idêntica extinta sem resol. de mérito g) demanda h) petição inicial apta i) citação válida j) regularidade formal PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS SUBJETIVOS (JUIZ) Investidura O Estado investe determinado sujeito (o juiz de direito) do Poder Jurisdicional, pra que possa exercê-lo por meio desse sujeito. Diante disso, trata-se de pressuposto processual de existência. Imparcialidade É um pressuposto processual de validade. Mostra-se essencial para a regularidade do processo, pois por mais parcial que seja o juiz, o processo nunca deixará de existir juridicamente (por isso não é de existência). Um juiz ativo e não participativo não gera parcialidade. É salutar que o juiz participe de forma ativa, não só da condução do processo, mas também de seu desenvolvimento. O juiz não deve ter, a priori, o interesse em determinado resultado em razão de vantagem pessoal de qualquer ordem, mas sim na solução do mérito, que é o fim normal do processo. Não afeta a imparcialidade a tarefa de oportunizar as partes o saneamento de vícios e correção de erros. O juiz neutro não leva a julgamento qualquer experiência da vida, ainda que lícita, sendo que são tais experiências que tornam as decisões mais humanas. Segundo o art. 146, CPC, a parte tem 15 dias, a partir da ciência do fato, para arguir a parcialidade do juiz - suspeição (prazo preclusivo para as partes, mas não para o juiz). Tal vício pode ser reconhecido de ofício pelo juiz a qualquer tempo, convalidando-se somente com o trânsito em julgado. Art. 146. No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a parte alegará o impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas. A exceção de impedimento NÃO tem prazo para interposição, cabendo inclusive ação rescisória (art. 966, II, CPC) Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente Os atos praticados pelo juiz suspeito são igualmente NULOS, aos praticados pelo juiz impedido, distinguindo-se somente a forma de alegação e reconhecimento dos vícios. A imparcialidade é diferente da impartialidade, que significa que se for parte, está impedida de julgar. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS SUBJETIVOS (PARTES) Capacidade de ser Parte É a personalidade judiciária ou personalidade jurídica, sendo a capacidade do sujeito de gozo e exercício de direitos e obrigações. Possuem as pessoas físicas, pessoas jurídicas, pessoas formais (art. 75, CPC), entes despersonalizados (Mesa do Legislativo, Casas Legislativas, Tribunais de Contas), desde que atuem nos interesses estritamente institucionais. Súmula 525, STJ - “A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.” Nem sempre a capacidade de ser parte confere a capacidade de estar em juízo (incapazes), necessitando de um representante. Trata-se de um pressuposto processual de existência (inexistente o processo contra réu morto). O STJ entende que o falecimento do autor antes da propositura da ação é caso inexistência jurídica do processo. Se o falecimento ocorrer durante o processo, é caso de mera irregularidade, pelo qual haverá o ingresso de espólio, herdeiros ou sucessores após o prazo legal. Capacidade para estar em Juízo As partes precisam ter capacidade processual (legitimatio ad processum) para praticar os atos processuais. No que tange as pessoas físicas, é preciso distinguir representação de assistência. A representação é a realização de atos de parte exclusivamente pelo representante. Já a assistência é a realização conjunta dos atos. Trata-se de um pressuposto processual de validade. Trata-se de vício sanável para adequação do processo, no qual o juiz concederá prazo, somente sendo caso de extinção do processo (autor) e revelia (réu), se houver omissão da parte em suprimir o vício. No que tange às pessoas jurídicas e formais, por serem inanimadas, precisam da presença de uma pessoa física que represente ou presente em juízo. As pessoas dos incisos V, VI, VIII, X e XI são Representadas, e as pessoas dos inc. I, II, III, IV, VII, IX são Presentadas (não exige procuração) Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão vinculado (P); II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores (P); III - o Município, por seu prefeito ou procurador (P); IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado designar (P); V - a massa falida, pelo administrador judicial (R); VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador (R); VII - o espólio, pelo inventariante (P); VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou, não havendo essa designação, por seus diretores (R); IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens (P); X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal abertaou instalada no Brasil (R); XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico (R). A PJ é representada por quem conste nos seus respectivos atos constitutivos, não havendo designação, será por seus diretores. Se for sociedade irregular, por quem administre os seus bens (não poderá opor esta irregularidade de constituição na demanda). No caso de PJ estrangeira, é feita pelo gerente, representante ou administrador da filial, agência ou sucursal no Brasil, com presunção absoluta para receber citação. Síndico ou administrador Representa o condomínio, com a juntada da ata da assembléia na qual houve eleição. Mesmo que exista lapso temporal entre o fim do mandato do síndico e a nova eleição, o antigo síndico mantpem a representação judicial. União é Presentada pelo AGU, e os demais entes da administração direta são presentados pelos procuradores. No caso do Município o prefeito também é presentante (pois nem sempre tem procuradoria). Autarquia e Fundação de direito público são presentadas por quem a lei do ente federado designar. Massa falida (é pessoa formal) tem capacidade de ser parte, estando representada por pessoa humana (seu representante legal é o administrador judicial). Herança jacente (pessoa formal) não tem personalidade jurídica, mas tem personalidade judiciária, devendo ser representada por curador indicado pelo juiz. A parte legitimada para participar de ações que de dirigiam ao de cujus não são os herdeiros, mas o espólio. O CPC de 73 exigia no caso de inventariança dativa a formação de litisconsórcio necessário entre todos os herdeiros e sucessores para representar o espólio em juízo. Já o art.75, §1º, NCPC exige apenas que eles sejam intimados no processo no qual o espólio é parte. Mesmo sendo inventariante dativo, ele que é o representante, podendo os herdeiros ingressar como assistentes litisconsorciais do espólio. Capacidade Postulatória Em regra, as partes devem ser assistidas por advogado. Exceção: Juizados Especiais, Justiça Trabalhista, Habeas Corpus, ADIN/ADECON. Nos Juizados só há a dispensa pra causas com valor inferior a 20 salários mínimos, de forma que as causas compreendidas entre 20 e 40 salários mínimos, a capacidade postulatória é pressuposto de validade. Nos Juizados Especiais Federais e da Fazenda Pública só dispensa pra causas com valor inferior a 60 salários mínimos. Nos Juizados Especiais, pra interpor recurso precisa advogado. Para o STF, no Habeas Corpus a dispensa também se estende ao agravo interno quando a ação é julgada monocraticamente. No caso do Promotor de Justiça, o mesmo detém uma capacidade postulatória suis generis ou funcional, pois é limitada aos fins institucionais do MP. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS OBJETIVOS EXTRÍNSECOS São analisados FORA da ralação jurídica processual, chamados de pressupostos processuais negativos, pois o vício verifica-se justamente com a sua presença. São eles: Coisa julgada material Litispendência Perempção Transação Convenção de arbitragem Ausência de pagamento de custas processuais em demanda idêntica extinta anteriormente por sentença terminativa (art.276, CPC). São todos pressupostos processuais de validade. A doutrina majoritária entende ser pressuposto processual de validade (corroborado pelo art. 966,IV, NCPC), enquanto a doutrina minoritária pressuposto de existência. Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: IV - ofender a coisa julgada; Entende o STJ que havendo conflito entre decisões (duas coisas julgadas), prevalecerá a que se formou por último, enquanto não desconstituída mediante ação rescisória. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS OBJETIVOS EXTRÍNSECOS São analisados DENTRO relação jurídica, sendo 04 pressupostos: Demanda Demandar significa provocar a jurisdição por meio do processo. Cabe ao interessado demandar, por ser um direito disponível, ainda que o direito material não o seja. É pressuposto proc. de existência, já que sem a provocação do interessado, a relação jurídica não chega nem a existir. Petição Inicial Apta Trata-se de um ato solene, pois precisa preencher determinados requisitos. Diante disso, é um pressuposto de validade, já que mesmo não preenchidos inicialmente, poderão ser sanados, existindo o processo. Citação Válida A relação jurídica já existe desde a propositura da demanda, mas complementa-se com a citação válida. É essencial para a regularidade do processo. Só pode ser considerada como pressuposto processual nos processos em que a citação é necessária. A doutrina majoritária entende se tratar de pressuposto processual de validade, sendo que seu vício gera nulidade absoluta (suis generis), não se convalidando NUNCA, nem com o trânsito em julgado; podendo ser alegado a qualquer tempo, até mesmo após o prazo da ação rescisória, por meio de querela nullitatis. Regularidade Formal Os atos processuais devem ser praticados na forma prevista pela lei, prestigiando a segurança jurídica da relação processual. A formalidade deve ser afastada quando o ato processual atingir a sua finalidade e não gerar prejuízo, ainda que praticado em desconformidade com a forma legal. Trata-se do PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS. 4. PROCEDIMENTO COMUM NOVO CPC/2015 Deixou de existir a divisão de ritos, ou seja, não existe mais a distinção entre sumário e ordinário. (vide art. 318 do CPC/2015). Só há o procedimento comum (do art. 318 e ss.) e os procedimentos especiais (art. 539 e ss.). O procedimento comum é o mais aplicado por ser considerado o procedimento padrão e pode ser aplicado de forma subsidiária aos procedimentos especiais e também ao processo de execução (vide art. 318, parágrafo único do CPC/2015). Qual é sequência lógica prevista pela lei processual de 2015 para o procedimento comum? Resposta: 1º petição inicial 2º Audiência de Conciliação ou Mediação 3º Contestação (com preliminares e mérito) 4º Réplica 5º Saneamento 6º AIJ – Audiência de Instrução e Julgamento 7º Sentença 5. PETIÇÃO INICIAL Requisitos, instrução, indeferimento e pedido de antecipação dos efeitos da tutela. INTRODUÇÃO Para que a atividade jurisdicional contenciosa (composição de lide) seja exercida é necessário que o interessado provoque-a, pois prevalece o "princípio da inércia". A petição inicial é o instrumento pelo qual o interessado invoca a atividade jurisdicional, fazendo surgir o processo. Nela, o interessado formula sua pretensão, o que acaba por limitar a atividade jurisdicional, pois o juiz não pode proferir sentença de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do demandado. 2. REQUISITOS DA PETIÇÃO (art. 319/CPC) A) Indicação do juízo a que é dirigida: afinal, a petição inicial é dirigida ao Estado, vez que a ele é formulada a tutela jurisdicional. Se o juízo for absolutamente incompetente, no qual todos os atos decisórios são nulos (art. 64, § 2°/CPC), o magistrado poderá encaminhá-lo ao competente; mas se deixar de fazê-lo ao despachar a petição inicial, caberá ao réu suscitar a incompetência absoluta (art. 337, II/CPC). A qualquer tempo, o réu ou o autor poderão suscitar o problema, bem como o juiz reconhecer sua própria incompetência (art. 64, §1°,CPC). Se o juízo for relativamente incompetente, a petição só poderá ser encaminhada ao juízo competente após o acolhimento da exceção de incompetênciaoposta pelo réu (art. 64/CPC); se a exceção não for oposta pelo réu, o juízo relativamente incompetenteterá a competência prorrogada; se dela o juiz não declinar a nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, poderá ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu, ou o réu não opuser exceção declinatória nos casos e prazos legais (art. 65/CPC). B) Indicação dos nomes, prenomes, estado civil, existência de união estável, profissão, domicílio e residência do autor e do réu: é necessário analisar a legitimidade do autor e do réu para serem partes, bem como individualizar e distinguir as pessoas físicas e jurídicas das demais. O estado civil faz-se necessário para verificar a regularidade da petição inicial nos casos em que o autor precisa de outorga uxória. O endereço é imprescindível para determinar a competência territorial e a citação do réu. C) Indicação do fato e dos fundamentos jurídicos do pedido: são as causas de pedir. Fato (causa de pedir remota): todo direito ou interesse a ser tutelado surge em razão de um fato ou um conjunto deles, por isso eles são necessários na petição inicial. Ex: direito de rescindir o contrato de locação (fato gerador do direito) em razão do não pagamento dos aluguéis (fato gerador da obrigação do réu). Fundamentos jurídicos (causa de pedir próxima): que não é a indicação do dispositivo legal que protege o interesse do autor. D) Indicação do pedido com as suas especificações: pois ele também limita a atuação jurisdicional. Pedido Imediato: é sempre certo e determinado. É o pedido de uma providência jurisdicional do Estado (Ex: sentença condenatória, declaratória, constitutiva, cautelar, executória etc). Pedido Mediato: pode ser genérico nas hipóteses previstas na lei. É um bem que o autor pretende conseguir com essa providência. Pedido Alternativo: (art. 325/CPC) Ex: peço anulação do casamento ou separação judicial. Pedido Cumulativo: (art. 397/CPC) desde que conexos os pedidos podem ser cumulados. Porém, nem sempre o autor pode definir o seu pedido. Nas ações universais, o autor não pode definir o pedido porque há uma universalidade de bens. Ex: petição de herança. Em algumas ações não se pode definir o quantum debeatur. Ex: indenização de danos que estão sucedendo. E) Valor da Causa: toda causa deve ter um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico (art. 291/CPC), pois tal valor presta a muitas finalidades, como: base de cálculo para taxa judiciária ou das custas (Lei Est./SP 4952/85, art. 4°) definir a competência do órgão judicial (art. 44/CPC) definir a competência dos Juizados Especiais (Lei 9099/95, art. 3°, I) base de multa imposta ao litigante de má-fé (art. 81/CPC) base para o limite da indenização Os art. 292 do CPC indicam qual o valor a ser atribuído à algumas causas, sob pena do juiz, de ofício, corrigir a petição inicial, determinando o recolhimento da diferença. F) Indicação das provas pelo autor (art. 319, VI/CPC): é praxe forense deixar de indicar as provas, apenas protestando na inicial “todas que sejam necessárias”. Em razão disso, surgiu um despacho inexistente no procedimento: "indiquem as partes as provas que efetivamente irão produzir". Tipos de provas: a) Documental: fatos que são comprovados somente por escrito. b) Pericial: fatos que dependem de parecer técnico. c) Testemunhal: fatos demonstráveis por testemunhas. 3. INSTRUÇÃO DA PETIÇÃO INICIAL O art. 320 determina que a petição será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação, inclusive com a procuração, caso o autor esteja representado por um advogado. Porém, algumas vezes, o advogado obriga- se a apresentá-la posteriormente. Há duas espécies de documentos que devem ser juntados à petição inicial: a) substanciais: os expressamente exigidos por lei, por exemplo: art. 60 da Lei 8245/91, in verbis, "Nas ações de despejo fundadas no inciso IV do art. 9º, inciso IV do art. 47 e inciso II do art. 53, a petição inicial deverá ser instruída com prova da propriedade do imóvel ou do compromisso registrado". b) fundamentais: os oferecidos pelo autor como fundamento de seu pedido, por exemplo: um contrato. A Lei 1.060/50 regula a assistência judiciária aos necessitados que também deve ser requerida na inicial. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL Ao receber a petição inicial, o juiz irá examinar se ela atende a todos os requisitos da lei. Se faltar qualquer um deles ou se a petição estiver insuficientemente instruída, o juiz apontará a falta e dará o prazo de 10 dias para que o autor a emende ou a complete (art. 321/CPC). Vindo a emenda ou sendo completada a inicial, o juiz ordenará a citação (art. 334/CPC), caso contrário a inicial é indeferida. Deve-se atentar inclusive, para o novo dispositivo estabelecido pela Lei nº 11.277/06 que inclui o artigo 332 e §§: "Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. § 1 o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição. § 2 o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos termos do art. 241. § 3 o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias. § 4 o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias." O indeferimento pode ocorrer por: a) inépcia: reconhecimento de que a petição inicial não tem aptidão para obter a prestação jurisdicional reclamada em razão de ocorrer uma das hipóteses do art. 330/CPC. b) prescrição de direito patrimonial: art. 330/CPC. c) falta de um dos requisitos da lei e pela petição não ter sido emendada no prazo estipulado. d) estar insuficientemente instruída e não ter sido completada no prazo estipulado. Indeferida a petição, põe-se fim à relação processual (art. 203, 1.009 e 331/CPC), mas o autor pode apelar no prazo de 15 dias (art. 1.003/CPC) e o juiz pode reformar sua decisão. Se não o fizer, manterá o indeferimento e encaminhará os autos ao tribunal (art. 331, §1°/CPC). PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA A Lei 8.952/94 inseriu a possibilidade de se pedir a antecipação dos efeitos da sentença que é buscada através da ação. Normalmente os efeitos da sentença somente irão ser produzidos com a sua prolação e, em alguns casos, desde que contra ela não seja interposto recurso com efeito suspensivo. A antecipação deve ser requerida pela parte e deve haver prova inequívoca que convença o julgador da verossimilhança da alegação. Porém, não basta pedir a antecipação dos efeitos da tutela, é necessário que se demonstre tais requisitos. Devemos observar que a tutela antecipada diverge das medidas cautelares, pois aquela serve para proteger o direito violado, enquanto estas servem para proteger o processo. A antecipação da tutela é provisória, pois o juiz pode modificá-la ou revogá-la aqualquer momento (art. 296/CPC).
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