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ANÁLISE DO EMBARGO ECONÔMICO: CUBA E SEUS DESDOBRAMENTOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DISCLIPLINA DE HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS III
Prof. Dr. JOSÉ RENATO FERRAZ DA SILVEIRA
ANÁLISE DO EMBARGO ECONÔMICO A CUBA E SEUS DESDOBRAMENTOS
ALEXANDER REHIMEH PIZZUTTI, GUILHERME PRATES RODRIGUES GOMES E PABLO OLIVEIRA SANCHES
Santa Maria, RS, Brasil
2017
Resumo
O presente artigo discorrerá acerca da historicidade, das causas, consequências e do impacto político e socioeconômico, interno e em uma escala global, gerado após a sanção do embargo econômico a Cuba feita pelos Estados Unidos em resposta às diretrizes tomadas pelo então governo revolucionário de Fidel Castro. Explicaremos em três tópicos como o embargo foi criado, quais foram seus impactos no sistema internacional do mundo bipolar e posteriormente os efeitos e alterações do bloqueio em um mundo pós-guerra fria.
Abstract 
This article will discuss the historicity, causes, consequences and the political and social-economic impact, internally and on a global scale engendered after the sanction of the economic block to Cuba made by the United States in response to the directives taken by the revolutionary government of Fidel Castro. We will explain in three topics how the block was created, how it impacted on the international system of the bipolar world and subsequently the effects and changes of the block in a post-cold war world.
Palavras-chave: Guerra Fria; Embargo; Cuba; Estados Unidos; Política externa.
INTRODUÇÃO
A globalização atualmente caminha a passos cada vez mais largos no que tange o seu crescimento, as trocas de informações aumentam progressivamente tanto entre atores do sistema internacional como para com a própria sociedade, a internet principalmente – apoiada de outros meios de comunicação - fazem com que a sociedade como um todo caminhe para um futuro paulatinamente mais unido e conjunto. Estudiosos já apontam que dada as novas temáticas da agenda internacional o sistema poderia vir a ter de se adaptar a uma governança global ou organizações que deveras coordenem o mesmo. 
Na contramão do que fora posto podemos identificar um caso peculiar que perdura a mais de 50 (cinquenta) anos, e ocorre ainda suplantado por uma rivalidade de outrora entre dois territórios vizinhos, totalmente antagônicos quanto à densidade demográfica e também quanto à condição socioeconômica. Estados Unidos e Cuba perduram um longo percalço no que se refere a relações tanto econômicas quanto diplomáticas e até mesmo culturais devido a divergências geradas na década de 1960 por uma reorientação política na Ilha, provocada após a revolução cubana e a tomada de poder por parte de Fidel Castro depondo o então ditador – fortemente alinhado aos Estados Unidos – Fulgêncio Batista.
Este embargo gerou além de fortes criticas por parte da Organização das Nações Unidas um impacto muito negativo, não só a Cuba como um país, mas também à sua população que viveu as mazelas de um subdesenvolvimento e de um atraso tecnológico frente a outras nações e que ainda perdura nos dias de hoje. Este atraso tecnológico referido atinge todos os âmbitos de atuação do estado incluindo a saúde pública, que se encontrou carente de equipamentos, a educação que fora prejudicada, além do sistema industrial e de produção do país que ficou deficitário.
Com a derrocada do regime bipolar da guerra fria, o que se esperava era uma possível flexibilização das medidas que restringiam o contato entre americanos e cubanos – assim como ocorrera em outros casos semelhantes como o do embargo norte americano frente à República Socialista do Vietnã, todavia o que se observou foi uma orientação das diretrizes no caminho contrário, e que dificultaram ainda mais o convívio e o desenvolvimento da ilha que fica a mais ou menos 170 (cento e setenta) quilômetros da grande superpotência. 
O EMBARGO ECONÔMICO E SUAS ORIGENS
O embargo econômico por parte dos Estados Unidos a Cuba é a mais longa sanção econômica aplicada a um país na historia moderna - ainda estando em voga e perdurando já por mais de 30 (trinta) anos – seu início está atrelado aos desfechos da revolução cubana liderada por Fidel Castro e Che Guevara que veio a interromper anos de domínio e intervenção norte americana sobre a ilha, caracterizado principalmente pela presença do ditador Fulgêncio Batista.
“El gobierno cubano percibía claramente la guerra económica que el gobierno norteamericano realizaba como represalia ante las acciones cubanas para lograr su independencia política y económica y la justicia social.” (DIÉGUEZ, 2003).
Cuba foi uma das últimas nações latino americanas a alcançarem sua independência, e daí oriunda o início das relações entre a ilha e os Estados Unidos, visto que foi com o apoio de tropas da então potência expansionista, que a antiga colônia espanhola conseguiu tornar-se independente. Os Norte americanos viam com bons olhos a nova nação, pois por se tratar de um território próximo viam ali a oportunidade de ter um “quintal de atuação” na América Latina, e considerando sua influência no processo de independência impuseram a Cuba uma série de medidas utilizadas como ferramentas que legitimassem sua intervenção quase que completa nos rumos e diretrizes da política da ilha. Este cenário perdurou intacto até a década de 1950, quando Fidel Castro e Ernesto Che Guevara à frente de um grupo guerrilheiro se opuseram ao regime de Fulgêncio Batista – famoso por negligenciar coisas básicas a população e oprimir severamente opositores – e passaram a combater as forças do governo e dominar cidades em Cuba até que em 1959 derrotam por total as forças militares e tomam o poder no país, na reivindicação de melhores condições de vida e uma maior igualdade para a população cubana.
 “(...) a revolução cubana é um dos poucos exemplos neste continente que realmente merece o nome de revolução, qualquer que seja o juízo que se faça sobre o seu caráter. Ela não é apenas um produto histórico da mobilização popular, mas é o desenvolvimento de um programa de transformações democráticas, nacionais e socialistas que modificou substancialmente a sociedade cubana nas décadas transcorridas desde a fuga de Batista para o exterior e a instalação do poder revolucionário em Havana.” (SADER, 1992).
Com isso, uma nova ordem política se instaurou em Cuba, com diretrizes totalmente opostas ao que se havia desde a independência, e totalmente opostas também ao posicionamento Norte americano, que impuseram instantaneamente restrições econômicas à importação de açúcar cubano, tendo a União Soviética comprado o excedente como forma de aproximação a então nova nação. Contudo foi a partir da reforma econômica proposta pelo governo cubano e as medidas adotadas para com as empresas americanas instaladas na ilha, além da aproximação com URSS que o governo americano comandado por John Kennedy decretou a quebra das relações diplomáticas e o endurecimento quase que total das relações econômicas com o governo cubano, que reafirmava seu alinhamento frente a União Soviética através da afirmação de Cuba como uma república socialista.
“(...) el bloqueo se ha instrumentado aduciéndose lo siguiente : 1. Cuba es un país comunista. 2. Cuba forma parte de la conspiración comunista internacional. 3. Cuba constituye un peligro para la seguridad nacional de los Estados Unidos. 4. Cuba mantiene tropas beligerantes en algunos países africanos. 5. Cuba presta ayuda a algunos movimientos de liberación en América Latina y África. 6. Cuba viola los derechos humanos. 7. Cuba ha afectado los intereses de personas y entidades norteamericanas mediante el proceso de nacionalización.” (MARTÍNEZ e LOBÁN, 1999).
Os anos que se sucederam foram marcados pelo endurecimento ainda maior das sanções a Cuba dado que em um mundo dominado pela guerra fria e regido pela ordem bipolar, uma base estratégica rival - situada a menos de 200 (duzentos) quilômetros do território norte americano - era vista como uma grande ameaça a integridade
securitária dos EUA e também despertava o receio de uma influência socialista à outros países latino americanos, sendo possível assim a formação de um bloco antiamericano posicionado muito próximo aos Estados Unidos.
EFEITOS SOCIO-ECONÔMICOS DO EMBARGO
Com o fim da Guerra Fria e a dissolução da União Soviética, o comunismo perdeu força. Logo, se esperava um amaciamento, ou até mesmo, o fim das sanções por parte dos Estados Unidos. Entretanto, apesar da Organização das Nações Unidas, votar anualmente, desde 1992, pelo fim do embargo, com taxa de aprovação maior de 95% em todos os anos, o governo americano parece simplesmente ignorar as resoluções da ONU. Inclusive, o embargo foi reforçado por duas leis criadas após o final a Guerra Fria: a Lei de Torricelli, de 1992, e o Ato de Helms-Burton de 1996, leis que penalizam empresas que fizerem negócios com Cuba com a interdição de suas trocas com os Estados Unidos e, como os EUA são o maior mercado consumidor do mundo, isso faz com que muitas empresas se afastem completamente de Cuba, restringindo bastante o mercado ao qual o país tem acesso. Isso prejudica o país de diversas formas, desde a aquisição de veículos até a compra de equipamentos para a indústria ou para os hospitais. Não se pode deixar de citar também, que os norte-americanos atrapalham e muito o comércio exterior cubano, através da proibição da entrada nos EUA de qualquer produto que tenha sido fabricado com alguma matéria prima cubana. 
“En 1997 se expresaba que la Ley Helms-Burton encareció el financiamiento y aplazó el otorgamiento de créditos, interrumpiendo, además, financiamientos vinculados a la zafra azucarera, lo que continuaba limitando el acceso a créditos de mediano plazo, dado que los aseguradores, por el “riesgo Cuba”, exigían altas tasas de interés, limitando la posibilidad cubana de asumir esos compromisos. Como consecuencia directa de la aprobación de la Ley Helms-Burton se interrumpieron flujos financieros previstos para la importación de alimentos y combustible, provocando daños adicionales a la economía” (DIÉGUEZ, 2003)
	O reflexo destas medidas é visível na atualidade. Em junho de 2012, o banco holandês ING foi multado em 619 milhões de dólares pelo governo dos Estados Unidos. O grande crime cometido foi fazer negócios com Cuba. Apesar disso, o preço pago pelo governo norte-americano para a manutenção das sanções não é baixo. A Câmara do Comércio dos Estados Unidos estima que o embargo custe por volta de 1,2 bilhões de dólares por ano em vendas e exportações. Já em 2010, cálculos de Havana afirmam que o país já teria somado perdas de cerca de US$ 104 bilhões, mais que o triplo do PIB cubano. 
As penas para americanos que violem as sanções são pesadas: até 10 anos de prisão e multas de US$ 1 milhão para corporações ou US$ 250 mil para cidadãos. Mesmo com tanto controle, os EUA são hoje o 3º maior exportador de produtos para Cuba, a maior parte alimentos e produtos agrícolas. “Isso foi fruto de um acordo humanitário, que desde o ano 2000 autoriza a entrada no país de itens de primeira necessidade, como alimentos e remédios”, afirma o historiador Luis Fernando Ayerbe, da Unesp.
Segundo a American Association for World Health (1997), o impacto do embargo reflete na qualidade da comida, da água, dos remédios e de outros itens básicos para a população cubana. A ligação entre a falta de suprimento médico e o aumento de epidemias infecciosas, além do aumento de desordens neurológicas e cegueira causada pela má nutrição abre espaço para críticas ao embargo. 
Por tais dificuldades enfrentadas pela sociedade cubana, o embargo acaba jogando a população contra o governo americano, culpando-o pela sua pobre economia, que tem enormes dificuldades de se erguer. No fim das contas, o governo americano aparece para os cubanos como o vilão da história e o governo cubano ganha a imagem de grande herói, que protege o povo cubano contra o imperialismo americano. Prova disso é que, em 1991, quando o Institute for Public Opinion Research, da Florida International University, iniciou a FIU Cuba Poll, uma pesquisa de opinião sobre a aceitação do bloqueio, 87% dos cubano-americanos apoiavam o embargo. Na última pesquisa, em 2011, ainda 53% declaravam apoio à medida – embora 80% acreditasse que ela seja pouco eficiente. 
A RETOMADA DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS ENTRE CUBA E ESTADOS UNIDOS
Após anos de silêncio nas relações entre americanos e cubanos, finalmente, em 17 de dezembro de 2014, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama e o presidente de Cuba Raúl Castro anunciaram o restabelecimento total das relações diplomáticas entre os dois países, assim como a reabertura da embaixada norte-americana em Havana – e sua contrapartida em Washington – e fim de restrições com a adoção de maiores facilidades para viagens de negócios e transações econômicas, comerciais e financeiras entre cidadãos e empresas dos dois países. O acordo foi anunciado após 18 meses de conversações secretas entre os dois governos, realizadas no Canadá e no Vaticano, com a mediação do Papa Francisco. Contudo, o Poder Executivo não tem autoridade para pôr fim ao embargo econômico, prerrogativa esta do Legislativo, o Congresso dos Estados Unidos, que deverá ter a palavra final sobre o assunto. 
Em julho de 2015, ambos os países abriram embaixadas nas respectivas capitais, que haviam sido fechadas em 1961. Para o economista colombiano Carlos Martínez, doutor em relações internacionais pela Universidade de Paris e analista geopolítico, a pressão internacional foi fundamental para a retomada do diálogo. “A América Latina e o Vaticano foram importantes instrumentos de pressão sobre o governo de Barack Obama. A ação em bloco dos países da Unasul [União das Nações Sul-Americanas] e a gestão do papa Francisco foram importantes para que os dois países dessem esse passo de reaproximação”, avalia Martínez. Entretanto, o especialista em relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Pio Penna, avalia que a pressão dos países vizinhos ou mesmo do Vaticano não foi a principal razão. “O que aconteceu foi que Obama já tinha esta meta, simplesmente pelo fato de que o embargo é anacrônico e inconcebível nos dias de hoje”, defende.
O triunfo eleitoral do republicano Donald Trump nas eleições americanas de 2016 ocorre em meio a mudanças políticas no continente sul-americano com a chegada ao poder de presidentes mais à direita no espectro político e mais abertos a uma relação com Washington que seus antecessores - casos de Argentina, Peru e Brasil.
Analistas destacam ainda um possível retrocesso em relação à retomada das relações dos Estados Unidos com Cuba promovido pelo governo de Barack Obama - Trump já ameaçou interromper o processo. Parte desse esforço para “normalizar” as relações bilaterais é o compromisso americano de iniciar em algum momento o desmonte do embargo econômico e comercial a Cuba, que começou em 1962 e se tornou uma lei em 1992. Mas com o Congresso dominado pelo Partido Republicano e com Trump na Casa Branca, as perspectivas de que o poder legislativo americano inicie este desmonte se tornam difusas.
CONCLUSÃO
O objetivo da elaboração deste artigo foi o de analisar e apresentar dados referentes ao processo de embargo à economia cubana, sancionado pelos Estados Unidos da América em outubro de 1960, como resposta do governo americano às expropriações das propriedades de cidadãos e companhias americanas na ilha, levadas a cabo pelo ainda incipiente governo revolucionário cubano. Seus efeitos para o funcionamento do sistema internacional, bem como o estudo de como Cuba reagiu a este embargo foram objetos centrais para este estudo sob a perspectiva das relações internacionais.
Os EUA e Cuba iniciaram em dezembro de 2014 um processo de normalização bilateral e em julho de 2015 restabeleceram relações diplomáticas, após mais de meio século de animosidade. No entanto, estas ações produzem apenas efeitos limitados e ainda não é o suficiente para que Cuba possa desenvolver-se economicamente. É preciso
trabalhar a favor da eliminação do bloqueio econômico, comercial e financeiro para que Cuba possa sair de seu estado de precariedade tecnológica e deixar de sofrer as mazelas de quase 60 anos de isolamento.
Referências
American Association for World Health. "Denial of Food and Medicine: The Impact Of The U.S. Embargo On The Health And Nutrition In Cuba." March 1997.
AMORIM, Fabiano. Por que o embargo econômico imposto pelos EUA a Cuba nunca tem fim? Disponível em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/mudancas-em-cuba-so-depois-do-fim-do-embargo-economico/. Acesso em 05/01/17
DIÉGUEZ, Andrés. Bloqueo, El asedio económico más prolongado de la Historia. Editorial Capitán San Luis. La Habana, 2003. Disponível em: http://www.papelesdesociedad.info/IMG/pdf/bloqueo-asedio-economico-prolongado-historia.pdf. Acesso em 05/01/17
FELIPE, Leandra. Entenda a retomada do diálogo entre EUA e Cuba. Agência Brasil, 2014. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em 11/01/17
MARTÍNEZ, Orlando Pardo e LOBÁN, Eurípedes Valdez. FUNDAMENTOS DEL BLOQUEO A CUBA : ANÁLISIS CRÍTICO, 1999. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=11010204. Acesso em 05/01/17 
O'SHAUGHNESSY, Hugh. "Young Castro steers Cuba to a new revolution". The Independent. London. 11 de fevereiro de 2012. [1]
PEPPER, Margot. "The Costs of the Embargo: The 47-year-old blockade now costs the United States far more than it costs Cuba." Dollars & Sense. Abril de 2009.
SADER, Emir. Revolução Cubana: Uma revolução na América Latina. Disponível em: http://revolucoes.org.br/v1/sites/default/files/revolucao_cubana_0.pdf. Acesso em 05/01/17.

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