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Campos Vetoriais no Plano∗ Arthur Mattuck Massachusetts Institute of Technology – MIT 1 Campos Vetoriais no Plano; Campos Gradiente Considere uma func¸a˜o do tipo F (x, y) = (M(x, y), N(x, y)) . (1) onde M e N sa˜o func¸o˜es de duas varia´veis. Para cada par de valores (x0, y0) para os quais tanto M quanto N sa˜o definidas, a func¸a˜o associa um vetor F (x0, y0) no plano. F e´ enta˜o chamada de func¸a˜o vetorial de duas varia´veis . O conjunto dos pontos (x, y) para os quais F e´ definida e´ chamado de domı´nio de F . Para visualizar a func¸a˜o F (x, y), em cada ponto (x0, y0) do domı´nio colocamos o vetor correspondente F (x0, y0), com ponto inicial em (x0, y0). Enta˜o cada ponto do domı´nio e´ o in´ıcio de um vetor, e o que obte- mos e´ o que chamamos de campo vetorial . Esse campo vetorial nos da´ uma imagem da func¸a˜o vetorial F (x, y). Reciprocamente, dado um campo vetorial numa regia˜o do plano Oxy, ele determina uma func¸a˜o vetorial do tipo (1), expressando cada vetor do campo em termos de suas componentes. Na˜o ha´ uma distinc¸a˜o real entre uma “func¸a˜o vetorial” e um “campo vetorial”. Tendo em vista as aplicac¸o˜es f´ısicas, nessas notas usaremos com mais frequ¨eˆncia “campos vetoriais”. Usaremos o mesmo s´ımbolo F para denotar tanto o campo quanto a func¸a˜o, dizendo “o campo vetorial F”, ao inve´s de “o campo vetorial correspondente a` func¸a˜o vetorial F”. ∗Traduc¸a˜o livre, por Mayra Madeira, do texto Plane Vector Fields 1 1. Campos Vetoriais no Plano; Campos Gradiente 2 Dizemos que o campo vetorial F e´ cont´ınuo em uma regia˜o do plano se M(x, y) e N(x, y) sa˜o func¸o˜es cont´ınuas nessa regia˜o. A imagem intuitiva de um campo vetorial cont´ınuo e´ aquela em que os vetores associados a pontos suficientemente pro´ximos de (x0, y0) devem ter a direc¸a˜o e mo´dulo muito pro´ximos daquelas de F (x0, y0) – em outras palavras, enquanto nos movemos pelo campo, os vetores devem mudar de direc¸a˜o e mo´dulo suavemente, sem dar saltos bruscos no tamanho ou na direc¸a˜o. Da mesma forma, dizemos que F e´ diferencia´vel em uma regia˜o se M e N sa˜o diferencia´veis. Nesse caso, todas as derivadas parciais ∂M ∂x , ∂M ∂y , ∂N ∂x , ∂N ∂y , existem na regia˜o, Dizemos que F e´ continuamente diferencia´vel na regia˜o se todas as derivadas sa˜o cont´ınuas a´ı. Em geral, os campos vetoriais mais utilizados sa˜o continuamente diferencia´veis, exceto talvez em alguns pontos isolados ou em algumas curvas. Mas, como veremos, esses pontos e curvas afetam as propriedades do campo de uma forma muito importante. Onde os campos vetoriais aparecem nas cieˆncias e nas engenharias? Uma aplicac¸a˜o importante sa˜o os campos gradientes. Se w = f(x, y) (2) e´ uma func¸a˜o diferencia´vel de duas varia´veis, enta˜o seu gradiente ∆w = ( ∂w ∂x , ∂w ∂y ) (3) e´ um campo vetorial, ja´ que ambas as derivadas parciais sa˜o func¸o˜es de x e y. Vamos relembrar a interpretac¸a˜o geome´trica do gradiente: direc¸a˜o de ∇w = a direc¸a˜o de u na qual ∂w ∂s ∣∣∣ u e´ ma´xima; ||∇w|| = o maior valor de ∂w ∂s ∣∣∣ u (4) onde ∂w ∂s ∣∣∣ u =< ∇w, u > e´ a derivada direcional de w na direc¸a˜o u. Outro importante fato sobre o gradiente e´ que se considerarmos as curvas de n´ıvel de f(x, y), que por definic¸a˜o sa˜o as curvas f(x, y) = c, c constante, enta˜o, em cada ponto (x0, y0), o vetor gradiente ∇w e´ perpen- dicular a` curva de n´ıvel que passa por esse ponto, isto e´, o campo gradiente de f e´ perpendicular as curvas de n´ıvel de f. (5) 2. Campos de Forc¸a 3 Exemplo 1 Seja w = √ x2 + y2 = r. Usando a definic¸a˜o (3) de gradiente, encontramos ∇w = (x r , y r ) = 1 r (x, y) O domı´nio de ∇w e´ o plano Oxy exceto o ponto (0, 0), e e´ continuamente diferencia´vel nesta regia˜o. Ja´ que ||(x, y)|| = r, vemos que ||∇w|| = 1. Enta˜o todos os vetores do campo vetorial ∇w sa˜o vetores unita´rios, e eles apontam radialmente para fora da origem. Isso faz sentido por (4), ja´ que a definic¸a˜o de w mostra que dw/ds deve ser ma´xima na direc¸a˜o radial apontando pra fora, e tem o valor 1 nessa direc¸a˜o. Finalmente, as curvas de n´ıvel de w sa˜o c´ırculos centrados em (0, 0), que sa˜o sempre perpendiculares aos vetores ∇w, o que esta´ de acordo com (5). 2 Campos de Forc¸a Buscando por situac¸o˜es onde os campos vetoriais aparecem, podemos citar duas situac¸o˜es f´ısicas que sa˜o descritas matematicamente por campos vetoriais. Vamos nos referir a elas com frequeˆncia no que segue, usando nossa intuic¸a˜o f´ısica para sugerir quais propriedades matema´ticas os campos vetoriais devem ter. A primeira situac¸a˜o sa˜o os Campos de Forc¸as. Da f´ısica, temos os campos de forc¸as eletrosta´ticos bidimensionais gerados por uma distribuic¸a˜o de cargas esta´ticas (i.e., que na˜o se movem) no plano. Em cada ponto (x0, y0) do plano, colocamos um vetor representando a forc¸a que agiria em uma unidade de carga positiva colocada naquele ponto. Da mesma forma, temos campos vetoriais decorrentes de distribuic¸o˜es de massa no plano Oxy, representando a forc¸a gravitacional agindo sobre uma massa unita´ria colocada em cada ponto. Ha´ tambe´m campos magne´ticos gerados por cargas ele´tricas em movimento e/ou distribuic¸o˜es de magnetos, representando a forc¸a eletromagne´tica em cada ponto. Vamos nos referir a` essas situac¸o˜es apenas como campos de forc¸as. Exemplo 2 Encontre o campo bidimensional de forc¸a eletrosta´tica F gerado por uma carga positiva colocada na origem, dado que F e´ orientado para fora da origem e tem mo´dulo c/r2. Soluc¸a˜o. Ja´ que o vetor (x, y) esta´ radialmente orientado para fora e tem mo´dulo r, ele tem a direc¸a˜o certa, e precisamos apenas fazer com que seu 3. Campos de Fluxo e de Velocidade 4 mo´dulo seja c/r2. Fazemos isso multiplicando por c/r3, que nos da´ F = (c x r3 , c y r3 ) = c (x2 + y2)3/2 (x, y). � 3 Campos de Fluxo e de Velocidade Um segundo tipo de campos vetoriais sa˜o os campos de fluxo e de velo- cidade em estado de equil´ıbrio. Imagine um fluido em movimento em um tanque horizontal raso de pro- fundidade uniforme, e assuma que o movimento t´ıpico em qualquer ponto seja puramente horizontal e na˜o mude com o tempo. Chamamos isto de um fluxo bidimensional em estado de equil´ıbrio, ou simplesmente, um fluxo. O fluxo pode ser tanto compress´ıvel (como um ga´s), como incompress´ıvel (como a a´gua). Tambe´m pode acontecer que, em va´rios pontos, o fluido esteja sendo adicionado ou retirado do fluxo; por exemplo, algue´m pode estar sobre o tanque adicionando a´gua em algum ponto ou em certa a´rea. A densidade tambe´m pode variar de ponto para ponto, como seria para um ga´s aquecido de forma desigual. Com esse tipo de fluxo podemos associar dois tipos de campos vetoriais. Ha´ o campo de velocidades v(x, y), que representa o vetor velocidade do fluido no ponto (x, y) – isto e´, sua direc¸a˜o nos da´ a direc¸a˜o do fluxo e seu mo´dulo nos da´ a velocidade do fluxo. E ha´ tambe´m o campo de fluxo definido por F = δ(x, y)v(x, y) (6) onde δ(x, y) nos da´ a densidade (massa por unidade de a´rea) do fluido no ponto (x, y). Assumindo que ela na˜o e´ 0 no ponto (x, y), podemos interpretar F (x, y) como segue: direc¸a˜o de F = direc¸a˜o do fluido em (x, y); ||F || = taxa (por unidade de comprimento por segundo) de massa transportada atrave´s da reta perpendicular a` direc¸a˜o do fluxo em (x, y) (7) De fato, vemos primeiro por (6) depois pela figura que ||F ||∆l∆t = δ||v||∆t∆l = massa em ∆A, 3. Campos de Fluxo e de Velocidade 5 de onde (7) segue dividindo-se por ∆l∆t e deixando ∆l e ∆t→ 0. Se a densidade e´ constante δ0, como e´ o caso de um fluido incompress´ıvel em uma temperatura uniforme, enta˜o por (6) os campos de fluxo e de ve- locidades sa˜oessencialmente os mesmos – os vetores de um sa˜o apenas um mu´ltiplo escalar dos vetores do outro. Exemplo 3 Descreva e interprete F = 1 x2 + y2 (x, y) como um campo de fluxo e como um campo de forc¸a. Soluc¸a˜o. Como no Exemplo 2, o campo F e´ definido em todo lugar exceto em (0, 0), e a direc¸a˜o e´ radial e para fora; agora, entretanto, o seu mo´dulo e´ r/r2, i.e., ||F || = 1/r. F e´ o campo de fluxo de uma fonte de mo´dulo 2pi na origem. Para ver isso, olhe para o c´ırculo de raio a centrado na origem. Em cada ponto P do c´ırculo, o fluxo e´ radialmente para fora e, por (7), taxa de transporte de massa em P = 1/a, enta˜o taxa de transporte de massa atrave´s do c´ırculo = (1/a)2pia = 2pi. Isso nos mostra que em um segundo, 2pi de massa flui atrave´s de todo c´ırculo centrado na origem. Esse e´ o campo de fluxo de uma fonte de mo´dulo 2pi na origem – por exemplo, podemos imaginar um cano fino sobre o tanque, introduzindo 2pi unidades de massa por segundo no ponto (0, 0). Sabemos que ||F || = δ||v|| = 1/r. Dois casos importantes sa˜o: • se o fluido e´ incompress´ıvel, como a a´gua, enta˜o a densidade e´ constante, e portanto a velocidade do fluxo tem que decrescer como 1/r – o fluxo se torna cada vez mais lento a` medida que se afasta da origem; • se o fluxo e´ compress´ıvel com um ga´s, e a velocidade do fluxo e´ cons- tante, enta˜o a densidade deve decrescer como 1/r. Agora vamos interpretar o mesmo campo como um campo de forc¸a. Suponha que pensamos no eixo Oz no espac¸o como um longo fio retil´ıneo, possuindo uma carga eletrosta´tica positiva e uniforme. Isso nos da´ um campo vetorial no espac¸o, representando o campo da forc¸a eletrosta´tica. Uma vez que uma parte do fio e´ exatamente igual a qualquer outra parte, a simetria radial nos mostra primeiro que os vetores no campo de forc¸a tem a componente do eixo Oz nula, i.e., eles apontam radialmente para fora do fio, e segundo que os mo´dulos dos vetores dependem somente da distaˆncia r do fio. Pode ser de fato mostrado que o campo de forc¸a resultante e´ F , a menos de uma constante. 3. Campos de Fluxo e de Velocidade 6 Esse tipo de campo e´ chamado de “campo bidimensional”, mesmo sendo um campo vetorial no espac¸o, porque z na˜o entra na sua descric¸a˜o – uma vez que se sabe como ele e´ no plano Oxy, sabe-se como ele e´ em todo o espac¸o. O que e´ importante notar e´ que o mo´dulo do campo de forc¸a no plano Oxy decresce como 1/r e na˜o como 1/r2, como seria se as cargas estivessem todas em um ponto. Da mesma forma, o campo gravitacional de uma distribuic¸a˜o uniforme de massa ao longo do eixo Oz seria −F , a menos de uma constante, e seria chamado de “campo gravitacional bidimensional”. Naturalmente, na˜o temos fios infinitos, mas se voceˆ tiver um longo fio reto e ficar longe das pontas, ou tiver apenas um pequeno fio reto, mas ficar pro´ximo a` ele, o campo de forc¸a se parecera´ com F pro´ximo ao fio. � Exemplo 4 Encontre o campo de velocidade de um fluido com densidade 1 na superf´ıcie de um tanque raso, girando com uma velocidade angular cons- tante ω no sentido anti-hora´rio ao redor da origem. Soluc¸a˜o. Primeiro vamos encontrar a direc¸a˜o do campo em cada ponto (x, y). Sabemos que o vetor (x, y) e´ direcionado radial- mente para fora. Enta˜o um vetor perpendicular a este no sentido anti-hora´rio (veja figura) sera´ (−y, x) (ja´ que o produto escalar com (x, y) e´ 0 e os sinais esta˜o corretos). O vetor (−y, x) tem mo´dulo r. Se a velocidade angular e´ ω, enta˜o a velocidade linear sera´ dada por: ||v|| = ω r , enta˜o para obter a velocidade do campo, devemos multiplicar o campo acima por ω: v = (−ω y, ω x). � 1 Campos Vetoriais no Plano; Campos Gradiente 2 Campos de Força 3 Campos de Fluxo e de Velocidade
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