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NOTA DE AULA Prof. Régis Gonçalves Pinheiro Disciplina Penal III – Parte Especial TÍTULO VII – DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA CAPÍTULO II – DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO REGISTRO DE NASCIMENTO INEXISTENTE Art. 241 – Promover registro civil a inscrição de registro inexistente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Exemplo do crime: registrar, (i) filho de mulher que não pariu (não estava grávida ou não nascido) (ii) filho nascido morto como se vivo fosse 1) Objeto jurídico tutelado: (i) segurança jurídica do estado de filiação (paternidade, maternidade e filiação); (ii) fé pública dos documentos oficiais obs.: a essência do crime reside na falsidade de documento público, agravada pelo fato de atingir o estado de filiação. 2) Sujeitos do crime: Sujeito ativo: (i) qualquer pessoa (homem ou mulher); (ii) concurso de pessoas (art. 29, CP): - médico que fornece atestado falso (desde que ciente da falsidade); - oficial do cartório (desde que ciente da falsidade); - eventuais testemunhas que atestem o nascimento. Sujeito passivo: (i) qualquer pessoa prejudicada pelo registro falso; (ii) o Estado. 3) Tipo objetivo: adequação típica. Promover (causar, originar, provocar, requerer, propor) no registro civil de pessoas naturais, a inscrição de registro de pessoa inexistente. Obs.1: a falsidade (material ou ideológica) integra a conduta do agente; PENAL. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO EXPEDIDO POR ÓRGÃO FEDERAL (DNER). FALSIDADE IDEOLÓGICA. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE IDONEIDADE FORMAL DO DOCUMENTO. ALTERAÇÃO EXTRÍNSECA, VÍSIVEL. CONFIGURAÇÃO DO DELITO DE FALSIFICAÇÃO (MATERIAL) DE DOCUMENTO PÚBLICO (ART. 297 DO CP). Embora os delitos de falsidade material e falsidade ideológica protejam o mesmo bem jurídico - fé pública -, existe diferença substancial entre eles no que diz com o seu modo de execução: o falso ideológico pressupõe documento formalmente perfeito, sendo, no entanto, falsa a idéia nele contida; no falso material, ao contrário, a questão não se cinge à veracidade da idéia, mas à adulteração da forma, de modo que seu aspecto externo é forjado. A aposição de dados inverídicos (carimbo e assinatura de funcionário do órgão) em documento expedido pelo extinto Departamento Nacional de Estradas e Rodagem - DNER - configura o delito de falsidade (material) de documento público. (TJPR - ACR 10033 PR 1999.70.02.010033-2) FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Centro de Ciências Jurídicas – CCJ Curso de Direito Obs.3: o crime previsto no art. 241 é especial em relação ao art. 299, e pelo princípio da especialidade e da consunção, aplica-se o art. 241. Obs.4: é irrelevante a simulação da gravidez, do parto ou dos dois; 4) Tipo subjetivo: adequação típica. Dolo – vontade livre e consciente de promover o registro civil de nascimento inexistente. Obs.: o erro do agente quanto à existência do nascimento exclui o dolo. 5) Consumação e tentativa: Consuma-se com a efetiva inscrição do registro civil de pessoas naturais; Obs.1: consuma-se o crime, independentemente de prejuízo à terceiros; Obs.2: não basta a mera declaração falsa ao oficial do registro civil. A tentativa é admissível. 6) Classificação doutrinária: Comum – qualquer pessoa pode praticar; Comissivo – vide núcleo verbal; Obs.: excepcionalmente é possível a forma comissiva por omissão (omissivo impróprio – art. 13, §2º, CP); Formal – não exige resultado naturalístico (efetivo prejuízo a terceiro); Doloso – não há previsão culposa; Forma livre – pode ser praticado por qualquer meio, forma ou modo; Instantâneo de efeitos permanentes – a consumação não se alonga no tempo, e os efeitos perduram; Unissubjetivo - pode ser praticado por apenas um agente; Plurissubsistente – pode ser desdobrado em vários atos. 7) Pena e ação penal: Reclusão de dois a seis anos. Ação penal pública incondicionada. Prescrição: começa a fluir da data em que se toma conhecimento do fato (art. 111, IV, CP). PARTO SUPOSTO. SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE DIREITO INERENTE AO ESTADO CIVIL DE RECÉM NASCIDO Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: Pena - reclusão, de dois a seis anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. 1) Objeto jurídico tutelado: (i) segurança jurídica do estado de filiação (paternidade, maternidade e filiação); (ii) fé pública dos documentos oficiais obs.: a essência do crime reside na falsidade de documento público, agravada pelo fato de atingir o estado de filiação. 2) Sujeitos do crime: Sujeito ativo: (i) qualquer pessoa (homem ou mulher); (ii) concurso de pessoas (art. 29, CP): - médico que fornece atestado falso (desde que ciente da falsidade); - oficial do cartório (desde que ciente da falsidade); - eventuais testemunhas que atestem o nascimento. (iii) modalidade dar parto alheio como próprio, somente a mulher. Sujeito passivo: Em todos os casos o Estado; (i) Dar parto alheio como próprio – os herdeiros; (ii) Registrar como seu o filho de outrem – os prejudicados com o registro; (iii) Ocultar recém-nascido, suprimindo ou alterando o direito inerente ao estado civil – o recém-nascido ocultado; (iv) Substituir recém-nascido, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil – o recém-nascido substituído; 3) Tipo objetivo: adequação típica. (04 formas de conduta) (i) Dar parto alheio como próprio – atribuir a si maternidade de filho alheio; obs.1: para configurar o crime nessa modalidade de conduta, não é necessário fazer a inscrição no Cartório de Registro Civil; obs.2: dar parto próprio como alheio não é o crime do art. 242, CPB mas pode configurar falsidade documental, art. 299, CPB. (ii) Registrar como seu o filho de outrem – também conhecida como adoção à brasileira – é o ato de registrar como próprio, o filho de outrem. (iii) Ocultar recém-nascido, suprimindo ou alterando o direito inerente ao estado civil – ocorre o nascimento, mas ela é ocultada; (iv) Substituir recém-nascido, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil – há troca material dos recém-nascidos. obs.: para configurar o crime nessa modalidade de conduta, não é necessário fazer a inscrição no Cartório de Registro Civil; Obs.: (aplicável às quatro formas de conduta) o crime previsto no art. 242 é especial em relação ao art. 299, e pelo princípio da especialidade e da consunção, aplica-se o art. 242. 4) Tipo subjetivo: adequação típica. (i) Dar parto alheio como próprio – dolo (não requer elemento subjetivo do tipo – finalidade específica); (ii) Registrar como seu o filho de outrem – dolo (não requer elemento subjetivo do tipo – finalidade específica); (iii) Ocultar recém-nascido, suprimindo ou alterando o direito inerente ao estado civil – dolo (exige a finalidade específica de suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil do recém-nascido); (iv) Substituir recém-nascido, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil – dolo (exige a finalidade específica de suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil do recém-nascido). 5) Consumação e tentativa: (i) Dar parto alheio como próprio; Consumação: momento em que é criada uma situação que importe alteração do estado civil do RN; Obs.: a simulação de gravidez não consuma o crime. Tentativa: admissível. (ii) Registrar como seu o filho de outrem; Consumação: quando da inscrição do filho alheio no registro civil; Tentativa: admissível. (iii) Ocultar recém-nascido, suprimindo ou alterando o direito inerente ao estado civil; Consumação: no momento eno local em que, em consequência do ocultamento do neonato, se tenha criado uma situação material ou formal de se poder dizer suprimido o estado civil do mesmo neonato; Obs.: se em consequência do ocultamento não se logra suprimir ou alterar direito do recém-nascido, há tentativa de crime. Tentativa: admissível. (iv) Substituir recém-nascido, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil; Consumação: no momento em que a substituição de crianças implica em alteração de direito inerente ao estado civil do recém-nascido. Obs.: a troca ou substituição de crianças, que ato contínuo ou imediatamente, vem a ser descoberta, é considerando uma tentativa, pois o agente não logrou êxito em alterar ou suprimir o estado civil do recém- nascido. Tentativa: admissível. 6) Forma privilegiada e perdão judicial: Art. 242 (…) Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. Motivo de reconhecida nobreza (altruísmo, humanidade, solidariedade). Ex.: pessoa que registra filho de mãe adolescente e miserável. 7) Classificação doutrinária: Comissivo – vide núcleo verbal; Obs.: excepcionalmente é possível a forma comissiva por omissão (omissivo impróprio – art. 13, §2º, CP); Doloso – não há previsão culposa; Instantâneo – a consumação não se alonga no tempo (salvo na modalidade ocultar); Unissubjetivo - pode ser praticado por apenas um agente; Plurissubsistente – pode ser desdobrado em vários atos. 8) Pena e ação penal: Reclusão de dois a seis anos (caput). Ação penal pública incondicionada. Prescrição: começa a fluir da data em que se toma conhecimento do fato (art. 111, IV, CP). Obs.: Forma privilegiada e o perdão judicial (parágrafo único). SONEGAÇÃO DE ESTADO DE FILIAÇÃO Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. 1) Objeto jurídico tutelado: (i) segurança jurídica do estado de filiação (paternidade, maternidade e filiação); (ii) fé pública dos documentos oficiais obs.: a essência do crime reside na falsidade de documento público, agravada pelo fato de atingir o estado de filiação, e os direitos civis do menor. 2) Sujeitos do crime: Sujeito ativo: (i) deixar filho próprio: somente os pais do infante; (ii) deixar filho alheio: qualquer pessoa. Sujeito passivo: (i) Estado; (ii) o menor prejudicado; 3) Tipo objetivo: adequação típica. Deixar (abandonar, largar) + filho próprio ou alheio + asilo de exposto ou instituição de assistência + ocultação ou atribuição de outra filiação. Obs.: o simples abandono do filho próprio ou alheio não caracteriza essa infração penal, mas abandono de incapaz ou exposição ou abandono de recém-nascido (arts. 133 e 134, CPB). 4) Tipo subjetivo: adequação típica. Dolo + elemento subjetivo do tipo Vontade livre e consciente de deixar a criança em asilo de exposto, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil do menor. 5) Consumação e tentativa: Consumação: com o abandono da criança em asilo de exposto ou outra instituição de assistência, havendo a ocultação de sua filiação ou atribuição de outra Tentativa: admissível. 6) Classificação doutrinária: Crime comum – na modalidade filho alheio; Crime Próprio – na modalidade filho próprio; Material – causa transformação no mundo exterior; De forma livre – pode ser praticado de qualquer forma ou meio; Comissivo – vide núcleo verbal; Instantâneo – a consumação não se alonga no tempo; Unissubjetivo - pode ser praticado por apenas um agente; Plurissubsistente – pode ser desdobrado em vários atos. 8) Pena e ação penal: Reclusão de um a cinco anos e multa. Ação penal pública incondicionada. Obs.: possibilidade de suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95). CAPÍTULO III – DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR ABANDONO MATERIAL Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. 1) Objeto jurídico tutelado: (i) estrutura e o organismo familiar; obs.: a finalidade da lei é tutelar a família, no que diz respeito ao amparo material, devido reciprocamente por seus membros. 2) Sujeitos do crime: Sujeito ativo e passivo: (i) deixar de prover a subsistência do cônjuge (suj. passivo): o outro cônjuge. (ii) deixar de prover a subsistência de filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho (suj. passivo): pai ou mãe (não se aplica ao avô, bisavô, etc). Obs.: caso o neto seja portador de alguma enfermidade grave, o avô poderá ter a sua conduta enquadrada na modalidade deixar de socorrer descendente gravemente enfermo. (iii) deixar de prover ascendente inválido ou maior de 60 anos (suj. passivo): o sujeito ativo é o filho, neto, bisneto. Obs.: considera-se idoso para fins criminais, a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. (iv) deixar de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo (suj. passivo): o sujeito ativo é o ascendente (pai, avô, bisavô) ou descendente (filho, neto, bisneto). 3) Tipo objetivo: adequação típica. (i) Deixar de prover (atender, abastecer, munir) os meios necessários à subsistência (alimento, remédio, vestuário, habitação) de: a) cônjuge; b) filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho; c) ascendente inválido ou maior de 60 anos. O que pode ocorrer de duas formas: a) não proporcionando os recursos necessários; ou b) faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. Obs.1: alimentos judicialmente fixados em ação de alimentos (provisórios e definitivos), ou acordados extrajudicialmente e homologados pela autoridade judicial. Obs.2: o provedor desempregado, que não possui numerário suficiente para o próprio sustento, não pratica o crime em tela (JUSTA CAUSA). Obs.3: rol taxativo, não admite primos, tios, sobrinhos, etc. (ii) Deixar de socorrer, sem justa causa, descendente ou ascendente, gravemente enfermo. Obs.: rol taxativo, não admite primos, tios, sobrinhos, etc. (iii) Conduta fraudulenta. Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada É o exemplo de quem deixa de pagar, continuamente, a pensão alimentícia, mesmo tendo condições para tanto. Caso do jogador Romário. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: (i) o tipo penal apresenta um elemento normativo justificante, que consiste na justa causa. (ii) a prática de duas ou mais condutas constitui concurso material de crimes. (iii) o agente já condenando por abandono material, e mesmo assim, prosseguir na conduta delituosa, poderá ser novamente processado, devendo ser observado o art. 71, CPB (continuidade delitiva). (iv) a prisão civil decorrente do inadimplemento de pensão alimentícia, não guarda relação com o tipo penal em análise. 4) Tipo subjetivo:adequação típica. Dolo – é a vontade livre e consciente de... a) deixar de prover a subsistência b) faltar o pagamento de pensão c) omitir socorro ...nas diversas hipóteses prevista pela lei. 5) Consumação e tentativa. Consumação: no momento em que o agente se omite. Tentativa: não é possível, pois se trata de crime omissivo permanente. 6) Classificação doutrinária: Crime Próprio – somente podem praticá-lo cônjuges, genitores, filhos, avós; Formal – não exige resultado naturalístico; Doloso – não há previsão para a modalidade culposa; De forma livre – pode ser praticado de qualquer forma ou meio; Omissivo – vide núcleo verbal; Permanente – sua consumação se alonga no tempo; Unissubjetivo - pode ser praticado por apenas um agente; Plurissubsistente – pode ser desdobrado em vários atos. 7) Pena e ação penal: Detenção de um a quatro anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo do País. Ação penal pública incondicionada. Obs.: possibilidade de suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95). ENTREGA DE FILHO MENOR A PESSOA INIDÔNEA Art. 245 - Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo: Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. § 1º - A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão, se o agente pratica delito para obter lucro, ou se o menor é enviado para o exterior. § 2º - Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro. 1) Objeto jurídico tutelado: (i) a assistência (criação e educação) familiar, especialmente a assistência aos filhos menores; 2) Sujeitos do crime: Sujeito ativo: os pais do menor. Obs.1: o tutor não se inclui no tipo penal, salvo través do concurso de pessoas. Obs.2: no caso do §2º, qualquer pessoa, inclusive o tutor. Sujeito passivo: É o filho menor de 18 anos de idade. Obs.: no caso do §2º, qualquer menor de 18 anos. 3) Tipo objetivo: adequação típica. A conduta típica do agente consiste em entregar (deixar sob os cuidados, guarda ou vigilância) filho menor de 18 anos, a pessoa capaz de coloca-lo em perigo moral (rufião, meretriz) ou material (ébrio contumaz, portador de doença infectocontagiosa, etc). Obs.1: Não é necessário que a entrega seja por tempo de média ou longa duração. Obs.2: A entrega pode ser breve, pois se trata de crime de perigo, o qual é presumido; Obs.3: O § 2º prevê conduta autônoma desprovida de perigo (envio de menor para o exterior visando lucro). Neste caso não se exige a ocorrência de perigo (material ou moral), sendo suficiente o envio do menor visando lucro; Obs.4: É irrelevante para configuração do crime, no caso de envio de menor para o exterior, o lucro provenha de conduta ilícita ou lícita, exemplo: intermediação de adoção de menor por casal estrangeiro, mediante paga. 4) Tipo subjetivo: adequação típica. Dolo – é a vontade livre e consciente de entregar filho menor Expressão “deva saber” – para parte da doutrina dolo eventual, para outra “anômala previsão da figura culposa”. 5) Consumação e tentativa. Consumação: no momento da entrega, mesmo que breve (245, caput) Obs.: no caso do art. 245, § 2º, com o auxílio dos atos praticados para enviar o menor ao exterior. Tentativa: admissível, embora dificílima. 6) Classificação doutrinária: Crime Próprio – somente podem praticá-lo os genitores, salvo com caso do art. 245, §2º, CPB; Formal – não exige resultado naturalístico, ressalvado a modalidade do art. 245, §2º, que exige o envio do menor para o exterior, por tanto material; Doloso – não há previsão para a modalidade culposa, salvo a corrente que admite “anômala previsão culposa”; De forma livre – pode ser praticado de qualquer forma ou meio; Comissivo – vide núcleo verbal, admite-se a modalidade comissivo por omissão (omissivo impróprio); Instantâneo – sua consumação não se alonga no tempo; Unissubjetivo - pode ser praticado por apenas um agente; Plurissubsistente – pode ser desdobrado em vários atos. 7) Forma qualificada (§ 1º): Há duas formas de qualificar o crime: (i) elemento subjetivo especial for obter lucro – o animus lucrandi deve ser o motivo propulsor da conduta; (ii) quando o filho é enviado para o exterior 8) Pena e ação penal: Detenção de um a dois anos (caput). Forma qualificada: reclusão de um a quatro anos (§§ 1º e 2º). Ação penal pública incondicionada. Obs.: possibilidade de suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95). ABANDONO INTELECTUAL Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. 1) Objeto jurídico tutelado: (i) a instrução fundamental dos filhos menores, a educação; 2) Sujeitos do crime: Sujeito ativo: os pais do menor. Obs.1: o tutor não se inclui no tipo penal, salvo través do concurso de pessoas. Sujeito passivo: é o filho em idade escolar obrigatória (entre 07 e 14 anos). 3) Tipo objetivo: adequação típica. A conduta típica do agente consiste em deixar de prover, providenciar a educação primária do seu filho. Elemento normativo do tipo: sem justa causa – deixar de prover sem justificativa. Causas que justificam: dificuldade de acesso às escolas, falta de escolas, além do grau de instrução nula ou rudimentar dos próprios pais. 4) Tipo subjetivo: adequação típica. Dolo – é a vontade livre e consciente de deixar de prover a instrução primária do filho menor entre 7 e 14 anos. 5) Consumação e tentativa. Consumação: (i) para parte da doutrina, o crime seria instantâneo, e estaria consumado momento em que os pais deixam de matricular o menor no estabelecimento de ensino. (ii) para outra parte da doutrina, o crime estaria consumado somente quando, por tempo juridicamente relevante, os pais não providenciarem a instrução fundamental do filho. Obs.: se o menor receber instrução em casa, o fato é considerado atípico. Tentativa, é inadmissível, pois se trata de crime omissivo próprio. 6) Classificação doutrinária: Crime Próprio – somente podem praticá-lo os genitores, em conjunto ou isoladamente; Formal – não exige resultado naturalístico, ressalvado a modalidade do art. 245, §2º, que exige o envio do menor para o exterior, por tanto material; Doloso – não há previsão para a modalidade culposa; Formal – o crime resta consumado, independente de resultado naturalístico; De forma livre – pode ser praticado de qualquer forma ou meio; Omissivo – vide núcleo verbal; Para parte da doutrina: instantâneo, pois sua consumação não se alonga no tempo (Bitencourt), para outra parte, trata-se de crime permanente, e sua consumação se alonga no tempo (Nucci), a qual preferimos; Unissubjetivo - pode ser praticado por apenas um agente; 7) Pena e ação penal: Pena alternativa de detenção de 15 dias a um mês ou multa. Ação penal pública incondicionada. Obs.: considera-se crime de menor potencial ofensivo, nos termos do art. 61, da Lei 9.099/95. Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. ABANDONO MORAL Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância: I - freqüente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida; II - freqüente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza; III - resida ou trabalheem casa de prostituição; IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. 1) Objeto jurídico tutelado: (i) O bem jurídico tutelado é a formação e educação moral do menor, visando prevenir a delinquência juvenil; 2) Sujeitos do crime: Sujeito ativo: qualquer pessoa a que o menor seja confiado, inclusive os pais, que o menor seja confiado. Sujeito passivo: é o menor de 18 anos submetido ao poder ou confiado à guarda ou vigilância do agente. 3) Tipo objetivo: adequação típica. A conduta típica do agente consiste em permitir que o menor de 18 anos, sujeito ao poder do agente ou confiado a sua guarda ou vigilância, realize qualquer das condutas previstas nos incisos I a IV. I - freqüente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida; - primeira parte habitualidade (cassinos, cabaré, etc); - segunda parte, convívio (contato habitual). II - freqüente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza; - vide art. 240 do ECA; III - resida ou trabalhe em casa de prostituição; - o filho da meretriz não pode com ela morar no local ou casa onde exerce o comércio carnal; IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública (campaixão pública): Obs.1: o comparecimento uma ou outra vez no local proibido é insuficiente para configurar o verbo frequentar, o qual tem o sentido de habitualidade; Obs.2: para a configuração da conduta prevista nos incisos I e II, há a necessidade de reiteração; Obs.3: no caso da conduta do inciso IV, lembre-se que milhares de pessoas em nosso país, vivem em condição de miserabilidade, e a mendicância como forma de sobrevivência, não se adequa ao fato típico em análise; 4) Tipo subjetivo: adequação típica. Dolo – é a vontade livre e consciente de permitir que o menor pratique uma das ações previstas no tipo penal. Obs.: para o inciso IV, se exige o elemento subjetivo do tipo (para o fim de exercitar a comiseração pública). 5) Consumação e tentativa. Consumação: (i) quando o menor pratica quaisquer das condutas previstas, no caso de permissão anterior; (ii) se a permissão for posterior a prática, a consumação dá-se com o assentimento. Para parte da doutrina, a tentativa é inadmissível, pois se trata de crime omissivo próprio (CAPEZ). Contudo, há quem defenda a possibilidade de tentativa, no caso de permissão anterior (Bitencourt). 6) Classificação doutrinária: Crime Próprio – qualidade especial do agente; Formal – não exige resultado naturalístico; Doloso – não há previsão para a modalidade culposa; De forma livre – pode ser praticado de qualquer forma ou meio; Omissivo ou comissivo – conforme o caso concreto; Instantâneo – sua consumação não se alonga no tempo; Unissubjetivo - pode ser praticado por apenas um agente; 7) Pena e ação penal: Pena alternativa de detenção de um a três meses ou multa. Ação penal pública incondicionada. Obs.: considera-se crime de menor potencial ofensivo, nos termos do art. 61, da Lei 9.099/95. Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. CAPÍTULO IV DOS CRIMES CONTRA O PÁTRIO PODER, TUTELA CURATELA INDUZIMENTO A FUGA, ENTREGA ARBITRÁRIA OU SONEGAÇÃO DE INCAPAZES Art. 248 - Induzir menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial; confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. 1) Objeto jurídico tutelado: (i) Os bens jurídicos tutelados são o pátrio poder (hoje poder familiar), a tutela ou curatela; Poder familiar: arts. 1.630 a 1.638, CC; Tutela: arts. 1.728 a 1.766, CC; Curatela: arts. 1.767 a 1.783, CC. 2) Sujeitos do crime: Sujeito ativo: qualquer pessoa; Sujeito passivo: (i) são aqueles que detêm o direito/dever de exercer o poder familiar, tutela ou curatela (pais, tutor, curador), e (ii) o menor de 18 anos e o interdito. Obs.: o pródigo não pode ser sujeito passivo, mesmo interditado, pois a curatela diz respeito somente aos bens, e não a sua pessoa. 3) Tipo objetivo: adequação típica (3 modalidades de conduta). (i) Induzir menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial. Obs.1: Deve ser no sentido de que o menor escape por seus próprios meios. Obs.2: Para parte da doutrina não basta o induzimento, é necessário a fuga (exige-se resultado naturalístico), contudo para outra corrente, o mero induzimento já configura o crime, desde que suficiente para formar opinião do menor ou interdito; Obs.3: Se o indivíduo for maior de 18 anos, louco, débil mental, sem estar interditado, não se configura o delito. (ii) confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito. Obs.1: exemplo, o diretor de um colégio, sem autorização do responsável, entrega o menor ou interdito a outrem; Obs.2: quem recebe o menor, ciente de que a entrega é arbitrária, também responderá pelo crime: (iii) deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame. (Sonegação de Incapaz). Elemento normativo: sem justa causa. 4) Tipo subjetivo: adequação típica. Dolo – é a vontade livre e consciente de praticar uma da ações previstas do tipo. Obs.: não há elemento subjetivo do tipo. 5) Consumação e tentativa. (i) induzir a fugir – consuma-se com a efetiva fuga, e a tentativa é possível quando o incapaz é impedido de fugir; (ii) confiar a outrem – consuma-se quando o menor ou interdito é entregue a outrem, e a tentativa é possível. (iii) deixar de entregar – consuma-se no momento da recusa do agente, sem justa causa, em devolver o incapaz. Trata-se de crime permanente. Obs.: por se tratar de crime omissivo puro, a tentativa não é possível. 6) Classificação doutrinária: Comum – não exige qualidade especial do agente; Formal – não exige resultado naturalístico; Doloso – não há previsão para a modalidade culposa; De forma livre – pode ser praticado de qualquer forma ou meio; Omissivo (induzir, confiar) ou comissivo (deixar de entregar) – conforme o caso concreto; Instantâneo (induzir, confiar) – sua consumação não se alonga no tempo; Permanente (deixar de entregar) – sua consumação pode se alonga no tempo; 7) Pena e ação penal: Pena alternativa de detenção de um mês ou multa. Ação penal pública incondicionada. Obs.: considera-se crime de menor potencial ofensivo, nos termos do art. 61, da Lei 9.099/95. Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. SUBTRAÇÃO DE INCAPAZES Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial: Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime. § 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda. § 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena. 1) Objeto jurídico tutelado: (i) Os bens jurídicos tutelados sãoo pátrio poder (hoje poder familiar), a tutela ou curatela; Poder familiar: arts. 1.630 a 1.638, CC; Tutela: arts. 1.728 a 1.766, CC; Curatela: arts. 1.767 a 1.783, CC. 2) Sujeitos do crime: Sujeito ativo: qualquer pessoa; Sujeito passivo: são os pais, tutores ou curadores, e o incapaz subtraído. 3) Tipo objetivo: adequação típica. A conduta típica consiste em subtrair o incapaz do poder, guarda ou vigilância de quem de direito. Obs.: se o indivíduo for maior de 18 anos ou louco ou débil mental, sem está interditado, não se configura o delito. 4) Tipo subjetivo: adequação típica. Dolo – é a vontade livre e consciente de subtrair...ciente de que encontra-se sob o poder de outrem. 5) Consumação e tentativa. Consuma-se com a subtração, mesmo que o agente não tenha a posse tranquila. A tentativa é possível. 6) Perdão judicial (§ 2º): No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena. 7) Classificação doutrinária: Comum – não exige qualidade especial do agente; Formal – não exige resultado naturalístico de efetiva privação pode poder familiar, tutela ou curatela; Doloso – não há previsão para a modalidade culposa; De forma livre – pode ser praticado de qualquer forma ou meio; Comissivo (subtrair) – sendo possível comissivo por omissão; Instantâneo – sua consumação não se alonga no tempo; 8) Pena e ação penal: Pena de detenção de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime. Ação penal pública incondicionada. Obs.: considera-se crime de menor potencial ofensivo, nos termos do art. 61, da Lei 9.099/95. Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
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