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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIA´S ´ TEOREMA DOS QUATRO VE´RTICES por Carlos Tadeo Opa Formosa outubro/2007 INTRODUC¸A˜O Neste trabalho vamos demonstrar que toda curva Simples, Fechada e Convexa tem no mı´nimo quatro ve´rtices. Para isso demonstraremos alguns teoremas e proposic¸o˜es sobre curvas, ale´m de alguns resultados de algebra linear considerados necessa´rios. Por fim mostraremos este que e´ um resultado cla´ssico da Geometria Difer- encial de Curvas e Superf´ıcies. 5 Cap´ıtulo 1 CURVAS 1.1 CURVAS PLANAS 1.1.1 Curvas Parametrizadas Definic¸a˜o 1. Uma curva diferencia´vel parametrizada e´ uma aplicac¸a˜o difer- encia´vel α : I 7→ R3 de um intervalo aberto I-(a,b) da reta real R em R 3. Isto e´, α e´ uma correspondeˆncia que leva cada t ∈ I em um ponto α(t) = (x(t), y(t), z(t)) ∈ R3. Proposic¸a˜o 1. Seja α(t) uma curva parametrizada que na˜o passa pela origem. Se α(t0) e´ o ponto do trac¸o de α mais pro´ximo da origem e α ′(t0) 6= 0, enta˜o α(t0) e´ ortogonal a α ′(t0). Demonstrac¸a˜o. Seja α(t) = (x(t), y(t), z(t)),a func¸a˜o distaˆncia entre α(t0) e a origem.Se α(t0) e´ o ponto mais pro´ximo da origem, enta˜o: d(α(t), 0) = √ ((x(t))2 + (y(t))2) + (z(t))2 Elevando-se os dois lados da igualdade ao quadrado obtemos d2(α(t), 0) = x(t)2 + y(t)2 + z(t)2 e derivando ambos os lados, segue que 0 = 2[x(t).x′(t)] + 2[y(t).y′(t)] + 2[z(t).z′(t)] pelas propriedades de produto interno(vide apeˆndice), chegamos a 0 = (x(t), y(t), z(t))(x′(t), y′(t), z′(t)) 6 portanto, substituindo t port0, temos α(t0).α ′(t0) = 0 Definic¸a˜o 2. : Dado t0 ∈ I, o comprimento do arco de uma curva parametrizada α : I 7→ R3, a partir do ponto t0, e´: S(t) = ∫ t t0 ‖α′(t)‖ dt Onde ‖α′(t)‖ =√(x′(t))2 + (y′(t))2 + (z′(t))2 Proposic¸a˜o 2. : Uma curva esta´ parametrizada pelo comprimento de arco se, e somente se ‖α′(t)‖ = 1. Demonstrac¸a˜o. : Se ‖α′(t)‖ = 1, para todo t pertecente a I, enta˜o: Lα(t) = ∫ t t0 ‖α′(ξ)‖ dξ = ∫ t t0 dξ = t− t0 Reciprocamente, se Lα = t+ c obtemos que ‖α′(t)‖ = L′α(t) = 1 Proposic¸a˜o 3. Seja α(s) uma curva parametrizada pelo comprimento do arco tal que sua derivada segunda α′′(s) seja identicamente nula, enta˜o o trac¸o de α(s) e´ uma reta. Demonstrac¸a˜o. ‖α′′(s)‖ = 0,∀s ∈ I, enta˜o α′′(s) = 0, integrando ambos os lados da igualdade temos: α′(s) = u e |u| = 1, integrando novamente, obtemos que α(s) = t+ us, logo α(s) e´ uma reta. Proposic¸a˜o 4. : Seja α : I 7→ R3, com 0 ∈ I uma curva parametrizada e seja v ∈ R3 um vetor fixado, Admita que α′(t) seja ortogonal a v para todo t ∈ I e que α(0) tambe´m seja ortogonal a v. Enta˜o α(t) e´ ortogonal a v para todo t ∈ I. 7 Demonstrac¸a˜o. : Seja α(t) = (x(t), y(t), z(t)) e v = (a, b, c), enta˜o α′(t) = (x′(t), y′(t), z′(t)). Sabemos que o produto interno entre: 〈α′(t).v〉 = 0⇐⇒ ⇐⇒ (a, b, c).(x′(t), y′(t), z′(t)) = 0⇐⇒ ⇐⇒ ax′(t) + by′(t) + cz′(t) = 0 , integrando ambos os lados da igualdade no intervalo [0,t], obtemos: a ∫ t 0 x′(t)dt+ b ∫ t 0 y′(t)dt+ c ∫ t 0 z′(t) = 0⇐⇒ ⇐⇒ a[x(t)− x(0)] + b[y(t)− y(0)] + c[z(t)− z(0)]⇐⇒ ⇐⇒ ax(t)− ax(0) + by(t)− by(0) + cz(t)− cz(0) = 0⇐⇒ ⇐⇒ ax(t) + by(t) + cz(t) = ax(0) + by(0) + cz(0)⇐⇒ ⇐⇒ (a, b, c).(x(t), y(t), z(t)) = (a, b, c).(x(0), y(0), z(0))⇐⇒ ⇐⇒ v.α(t) = v.α(0) Como v e´ ortogonal a α(0), segue que α(t) e´ ortogonal a v para todo t ∈ I. 8 Proposic¸a˜o 5. : Seja α : I 7→ R3 uma curva parametrizada, com α′(t) 6= 0, para todo t ∈ I. Enta˜o |α| e´ uma constante se, e somente se α(t) e´ ortogonal a α′(t) para todo t ∈ I. Demonstrac¸a˜o. : Por hipo´tese ‖α(t)‖=k, elevando ambos os membros da igualdade ao quadrado temos ‖α(t)‖2 = k2 ⇐⇒ logo pelas propriedade do produto interno de vetores, segue que 〈α(t), α(t)〉 = k2 Derivando ambos os lados ⇐⇒ α(t).α′(t) + α′(t).α(t) = 0⇐⇒ ⇐⇒ 2[(α(t).α′(t))] = 0⇐⇒ ⇐⇒ α(t).α′(t) = 0 Donde a volta e´ dada pelo caminho inverso. 1.1.2 Curvas Regulares e Parametrizadas pelo compri- mento do Arco Seja α : I 7→ R3 uma curva diferencia´vel parametrizada. Para cada t ∈ I tal que α′(t) 6= 0, ha´ uma reta bem definida contendo o ponto α(t) e o vetor α′(t). Essa reta e´ chamada a reta tangente a α em t. Para o desenvolvimento da geometria das curvas e´ essencial a existeˆncia de uma reta tangente em todos os pontos de α. Chamaremos ponto singular de α um ponto t ∈ I onte α′(t) = 0. Seja α : I 7−→ R2 uma curva parametrizada, dada por α(t) = (x(t), y(t)). O vetor tangente(ou vetor velocidade) de α em t0 ∈ I e´ dado por: α′(t0) = (x′(t0), y′(t0)) A velocidade escalar de α em t0 ∈ I e´ dada pelo mo´dulo do vetor veloci- dade α′(to), isto e´, ‖α′(t0)‖ = √ (x′(t0))2 + (y′(t0))2 quando α′(t0) 6= (0, 0), tal vetor aponta na direc¸a˜o tangente a` curva α em t0. 9 Definic¸a˜o 3. : Uma curva diferencia´vel parametrizada α : i 7→ R3 e´ chamada regular se α′(t) 6= 0 para todo t ∈ I. Proposic¸a˜o 6. : Seja α : I 7→ R3 uma curva parametrizada e regular em t0 ∈ I. Enta˜o existe � > 0, tal que α e´ injetiva no intervalo I0 = {t ∈ I; |t− t0| < �}. Demonstrac¸a˜o. : Como α′(t0) 6= (0, 0, 0), temos x′(t0) 6= 0, y′(t0) 6= 0 e z′(t0) 6= 0. Suponha x′(t0) 6= 0, logo como x′ e´ uma func¸a˜o cont´ınua, existe � > 0, tal que x′(t) 6= 0, para todo t ∈ I0 = (t0 − �, t0 + �). Nesse caso, x e´ estritamente mono´tona e, portanto injetiva, o que implica que α|t0 e´ injetiva. A prova de y′(t0) e z′(t0) e´ ana´loga. Definic¸a˜o 4. : Dado t0 ∈ I, o comprimento do arco de uma curva parametrizada α : I 7→ R3, a partir do ponto t0, e´: S(t) = ∫ t t0 ‖α′(t)‖ dt Onde ‖α′(t)‖ =√(x′(t))2 + (y′(t))2 + (z′(t))2 Proposic¸a˜o 7. : Uma curva esta´ parametrizada pelo comprimento de arco se, e somente se ‖α′(t)‖ = 1. Demonstrac¸a˜o. : Se ‖α′(t)‖ = 1, para todo t pertecente a I, enta˜o: Lα(t) = ∫ t t0 ‖α′(ξ)‖ dξ = ∫ t t0 dξ = t− t0 Reciprocamente, se Lα = t+ c obtemos que ‖α′(t)‖ = L′α(t) = 1 Proposic¸a˜o 8. : Seja OA um diaˆmetro de comprimento 2a, de um c´ırculo S1 e sejam OY e AV as retas tangentes a S1, respectivamente em O e A. Uma semi-reta r e´ trac¸ada a partir de O e encontra o c´ırculo S1 em C e a reta AV em B. Marque na reta OB o segmento OP de maneira que OP = BC. Girando r em torno de O, o ponto p descreve uma curva chamada Cisso´ide de Dio´cles(conforme a figura). Tomando O como a origem do plano xy, OA como eixo x e OY como o eixo y, enta˜o o trac¸o de α e´ dado por: α(t) = ( 2at2 1 + t2 , 2at3 1 + t2 ) 10 Demonstrac¸a˜o. : Temos que as equac¸o˜es da reta r : y = tx e S1 : y =√−x2 + 2ax, segue que Xc = 2a t2 + 1 , Yc = 2at t2 + 1 , Xb = 2a, Yb = S, sendo y = s 2a x, enta˜o S = 2at e o ponto P(x,xt). Por hipo´tese temos que d(B,C) = d(O,P ), logo:√( 2a t2 + 1 − 2a )2 + ( 2at t2 + 1 − 2at )2 = √ x2 + x2t2 Elevando ambos os lados da igualdade ao quadrado e fazendo a soma das frac¸o˜es , obtemos:( 2a− 2at2 − 2a t2 + 1 )2 + ( 2at− 2at3 − 2at t2 + 1 )2 = x2 + x2t2( 2at2 t2 + 1 )2 + (−2at3 t2 + 1 )2 = x2(t2 + 1) Portanto temos que: 4a2t4 + 4a2t6 (t2 + 1)2 = x2(t2 + 1) segue que: x2 = 4a2t4 + 4a2t6 (t2 + 1)3 x = √ 4a2t4 + a2t6 (t2 + 1) concluimos enta˜o que x = 2at2 1 + t2 e y = tx = 2at3 1 + t2 e o trac¸o da Cisso´ide de Dio´cles e´ dado por: α(t) = ( 2at2 1 + t2 , 2at3 1 + t2 ) Proposic¸a˜o 9. :Seja um Disco circular de raio a no plano xy, que gira sem escorregar ao longo do eixo Ox. A figura descrita por um ponto da circunfereˆncia do disco e´ chamada ciclo´ide e seu trac¸o parametrizado e´ dado por α(t) = a(t− sen(t)) + a(1 + cos(t)). 11 Demonstrac¸a˜o. : Quando o c´ırculo gira um aˆngulo t, seu centro se move um comprimento OT. Na figura temos OT=TP=at, CT=a, CA=acost e AP=asent. Portanto, ascoordenadas de P sa˜o x = O¯T − A¯P = at− asent = a(t− sent) y = A¯T = C¯T − A¯C = a− acost = a(1− cost) Essas euac¸o˜es sa˜o va´lidas para qualquer P. Logo, a equac¸a˜o vetorial da ciclo´ide e´: ~r = a(t− sent)~i+ a(1− cost)~j Proposic¸a˜o 10. : Uma hipociclo´ide e´ a curva descrita pelo movimento de um ponto fixo P, de um c´ırculo de raio b, que gira dentro de um circulo fixo de raio a, a > b(ver figura).E seu trac¸o e´ dado pela equac¸a˜o vetorial: ~r = [(a− b)cost+ bcosta− b b t]~i+ [(a− b)sent− bsenta− b b t]~j Demonstrac¸a˜o. : Suponhamos que, inicialmente o c´ırculo de raio b tangencia o c´ırculo de raio a no ponto(a,0) e que o ponto P e´ este ponto de tangeˆncia. Para parametrizar a curva, vamos analisar a figura, onde demarcamos o ponto P quando o ponto de tangeˆncia dos dois c´ırculos e´ T. Pela construc¸a˜o da curva, temos que os arcos AT e PT sa˜o iguais. Portanto: at = bα e α = at b por outro lado como β = PĈD, segue que: β = α− t = a b t− t = a− b b t queremos determinar aas coordenadas x(t) e y(t) do ponto P. temos x = OB +BM = (a− b) cos t+ b cos β 12 = (a− b) cos t+ b cos a− b b t y = PM = BN = BC − CN = (a− b)sent− bsenβ = (a− b)sent− bsena− b b t . Portanto, as equac¸o˜es parame´tricas da hipociclo´ide sa˜o: x(t) = Ct e a equac¸a˜o vetorial correspondente e´: ~r = (a− b) cos t+ b cos a− b b t+ (a− b)sent− bsena− b b t Os cu´spides ocorrem nos pontos onde o ponto de tangeˆncia dos dois c´ırculos e´ o ponto P, portanto ocorrem quando: at = n.2pib, n ∈ N t = n.2pi b a , n ∈ N 13 Cap´ıtulo 2 TEORIA LOCAL DAS CURVAS 2.1 TEORIA LOCAL DAS CURVAS PARAMETRIZADAS PELO COMPRIMENTO DE ARCO Nesta sec¸a˜o descreveremos os resultados principais sobre curvas a serem utilizados neste trabalho. Seja α : I = (a, b) 7→ R2 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco ”s”. Como o vetor tangente α′(s) e´ unita´rio, o mo´dulo |α′′| da derivada segunda mede a taxa de variac¸a˜o do aˆngulo que as tangentes vizinhas do ponto s fazem com a tangente em s. |α′′| da´ portanto, uma medida, da rapidez que a curva se afasta da tangente de s, em sua vizinhanc¸a. Definic¸a˜o 5. : Seja α : I 7→ R2, uma curva parametrizada pelo comprimento de arco s ∈ I. O nu´mero |α′′|=k(s), chama-se curvatura de α em s. Podemos observar que mudando-se a orientac¸a˜o, o vetor tangente muda de sentido, isto e´, se β(−s) = α(s), enta˜o: dβ d(−s) = − dα ds s, portanto, α′′(t) e a curvatura permanecem invariantes por uma mudanc¸a de direc¸a˜o. Proposic¸a˜o 11. : Seja α : I 7→ R2,e suponha αparametrizada pelo compri- mento de arco, enta˜o a derivada segunda α′′(s) e´ normal a derivada primeira α′(s). 14 Demonstrac¸a˜o. : como α′ e´ unita´rio, temos que α′.α′ = 1 derivando ambos os membros obtemos: α′(s).α′′(s) + α′′(s).α′(s) = 0 2.(α′(s).α′′(s) = 0 α′(s).α′′(s) = 0 logo a derivada segunda e´ normal a primeira. Definic¸a˜o 6. : Nos pontos onde k(s) 6= 0, fica bem definido pela equac¸a˜o α′′ = k(s)n(s) e seja n(s) um vetor na direc¸a˜o de α′′(s). Logo pela proposic¸a˜o anterior n(s) e´ normal a α′(s) e e´ chamado vetor normal em s. Chamamos de pano osculador, o plano determinado por α′(s) e n(s). Definic¸a˜o 7. : Fazendo t(s) = α′(s), enta˜o t′(s) = k(s)n(s), segue que o vetor unita´rio dado por b(s) = t(s) ∧ n(s) e´ normal ao planos osculador e sera´ chamado vetor binormal em s. Podemos calcular b′(s), observando que b′(s) e´ normal a b(s) e, por outro lado: b′(s) = t′(s) ∧ n(s) + t(s) ∧ n′(s) = t(s) ∧ n′(s) segue que : b′(s) = τ(s).n(s) Definic¸a˜o 8. : Seja α : I 7→ R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco s, tal que α′′ 6= 0, s ∈ I. O nu´mero τ(s) definido por b′(s) = τ(s).n(s) e´ chamado torc¸a˜o de α em s. 15 Cap´ıtulo 3 O TEOREMA DOS QUATRO VE´RTICES Nessa sec¸a˜o vamos enunciar e demosntrar a raza˜o princiapal dessa mono- grafia. Definic¸a˜o 9. Seja α : [a, b] 7→ R2 uma curva regular fechada e de classe C2, enta˜o essa curva e´ chamada ”Curva de Jordan. Teorema 1. (Teorema dos Quatro Ve´ritices) Seja α : (a, b) 7→ R2 uma curva de jordan, regular e de clase C3. Enta˜o α possui pelo menos quatro ve´rtices. Antes de provarmos esse resultado, vamos introduzir e estudar as pro- priedades de c´ırculo circunscrito ao trac¸o de uma curva fechada e regular. Seja α : [a, b] 7→ R2 uma curva fechada e regular. Como o trac¸o de α e´ limi- tado, existe pelo menos um disco fechado D(P, r) = {φ ∈ R2; ‖φ− P‖ ≤ r} que conte´m o trac¸o de α, onde P e´ o centro de D. Seja Dα o conjunto de tais discos. Lema 1. : Existe um u´nico disco D0 ∈ Dα, tal que D0 e´ o disco de menor raio dentre os elementos de Dα. Demonstrac¸a˜o. : Seja F : R2 7→ R, dada por, F (P ) = maxt∈[a,b] ‖α(t)− P‖ Como α e´ regular e esta´ definida em um intervalo fechado e limitado, o ma´ximo acima existe e ocorre em um ponto tp ∈ [a, b]. A func¸a˜o F, portanto esta´ bem definida e possui as seguintes propriedades: 16 (i) F (P ) > 0,∀P ∈ R2 De fato, se F(P)= 0, ‖α(t)− P‖ ≤ maxt⊂[a,b]; enta˜o ‖α(t)− P‖ = 0 e, portanto, a curva α seria constante, o que contradiz α ser regular. (ii) F e´ cont´ınua em R2. Com efeito, sejam P,Q ∈ R2. Pela desigualdade triangular, para todo t ∈ [a, b], ‖α(t)− P‖ ≤ ‖α(t)−Q‖+ ‖P +Q‖ ≤ F (Q)− ‖P −Q‖ e, analogamente, F (Q) = ‖α(t)−Q‖ ≤ F (P ) + ‖P −Q‖ . Logo, aplicando maxt∈[a,b] nas desigualdades acima, temos F (P ) ≤ F (Q) + ‖P −Q‖ e F (Q) ≤ F (P ) + ‖P −Q‖ Portanto, |F (P )− F (Q)| ≤ ‖P −Q‖ , o que implica que F e´ cont´ınua em R2. Para cada P ∈ R2, considere o disco Dp de centro P e raio F(P), isto e´, Dp = {U ∈ R2; ‖U − P‖ ≤ F (P )} Pela definic¸a˜o de F(P), temos que Dp ∈ Dα, para todo P ∈ R2. Considere agora D(P,r) um disco de centro P e raio r em Dα. Afirmamos que F (P ) ≤ r de fato, como o trac¸o de α esta´ contido em D(P,r), temos ‖α(t)− P‖ ≤ r para todo t ∈ [a, b]. Logo, aplicando maxt∈[a,b] nessa desigualdade, obtemos F (P ) = maxt∈[a,b] ‖α(t)− P‖ ≤ r. Portanto, entre todos os discos de centro P emDα, Dp e´ o disco de menor raio. 17 Sejam O=(0,0) e tO ∈ [a, b], tais que F (O) = ‖α(tO)−O‖ = ‖α(tO)‖ Para todo P ∈ R2, tal que ‖P‖ ≥ 2 ‖α(tO)‖ ., temos ‖α(t)− P‖ ≥ ‖P‖ − ‖α(t)‖ ≥ 2 ‖α(tO)‖ − ‖α(tO)‖ = ‖α(tO)‖ . Tomando-se o ma´ximo nas desigualdades acima, quando t varia em [a,b], obtemos que, para todo P ∈ R2, com ‖P‖ ≥ 2 ‖α(tO)‖, F (P ) ≥ ‖α(tO)‖ = F (O). Ale´m disso, pela continuidade de F, temos que F, restrita ao disco fechado D(O, r0) de centro O e raio r0 = 2 ‖α(tO)‖, assume um valor mı´nimo em um ponto P0. Esse ponto e´, de fato, ponto de mı´nimo global de F, visto que F (P0) ≤ { F (P ), se P ∈ D(O, r0), F (O) ≤ F (P ), se P 6∈ D(O, r0) O disco de centro P0 e raio F (P0) e´, portanto, um disco que conte´m o trac¸o de α e possui o menor raio entre todos os discos em Dα. Vamos provar a unicidade de tal disco. Suponha que existam dois discos D1 e D2 de raio F (P0) em Dα. Temos enta˜o que o trac¸o de α esta´ contido em D1 ∩ D2. Pela geometria elementar como D1 e D2 sa˜o disco de mesmo raio, existe um disco de raio menor, a menos que eles coincidam, que conte´m D1 ∩D2, o que contradiz a escolha de P0. Definic¸a˜o 10. : Seja α uma curva fechada e regular. O fecho do disco fechado de menor raio que conte´m o trac¸o de α e´ chamado circulo circun- scrito de α. Pelo lema anterior, cada curva fechada e regular amite um u´nico c´ırculo circunscrito que sera´ denotado por Circ(α). Estudaremos as propriedades de Circ(α). Lema 2. : Todo semi-c´ırculo fechado de Circ(α) conte´m pontos do trac¸o de α. Demonstrac¸a˜o. Vamos supor, por contradic¸a˜o, que existe um semi-c´ırculo de Circ(α) sem pontos do trac¸o de α. Vamos escolher o sistema de coordenadas Oxy de R2 de modo que Circ(α) seja um c´ırculo centrado na origem O e com raio R0, talque o trac¸o de α na˜o possuas pontos sobre o Circ(α) com x ≤ 0. Parametrize Circ(α) pelo trac¸o da aplicac¸a˜o γ : [0, 2pi] 7→ R2, dada 18 por γ(t) = R0 cos t, R0 sin t) e considere a func¸a˜o h : [ pi 2 , 3pi 2 ] 7→ R, definida por h(u) = mint∈[a,b] ‖γ(u)− α(t)‖ A func¸a˜o h e´ cont´ınua e h(u) > 0, ∀ u ∈ [pi 2 , 3pi 2 ]. Como h assume seu valor mı´nimo, temos que ξ0 = min{h(u), u ∈ pi 2 , [ 3pi 2 ]} > 0 Observe que o trac¸o de α esta´ contido no c´ırculo de centro( ξ0 2 , 0) e raio R0 sendo, portanto, poss´ıvel obtermos um disco de raio menor que R0 que ainda conte´m o trac¸o de α, visto que o trac¸o de α esta´ contido em dois discos distintos de mesmo raio, o que contradiz a definic¸a˜o de Circ(α). Este lema tem, como consequ¨eˆncia imediata, o seguinte resultado: Corola´rio 1. : O trac¸o de uma curva fechada e regular instersecta seu c´ırculo circunscrito em pelo meno dois pontos. Ale´m disso, se ele instersecta em exatamente dois pontos, tais pontos esta˜o diametralmente opostos. Vamos agora estudar o comportamento dos pontos do trac¸o de α, que esta˜o sobre Circ(α). Lema 3. : Seja α : [a, b] 7→ R2 uma curva de Jordan, regular, parametrizada pelo comprimento de arco e orientada de modo que o campo normal N aponte para a regia˜o limitada pelo seu trac¸o. Para todo t ∈ [a, b], tal que α(t) ∈ Circ(α), as retas tangentes a` α e Circ(α) coincidem em α(t) e a curvatura k de α satisfaz: k(t) ≥ 1 R0 onde R0 e´ o raio de Circ(α). Demonstrac¸a˜o. Seja P0 o centro de Circ(α). Se α(t) ∈ Circ(α), a func¸a˜o h : [a, b] 7→ R, dada por h(t) = ‖α(t)− P0‖2 , 19 possui um ma´ximo em t1. Como h na˜o se anula nesse ponto, e´ diferencia´vel em t1 e, portanto: h′(t1) = 2 〈α′(t1), α(t1)− P0〉 = 0 e h′′(t) = 2 〈α′(t1), α′(t1)〉+ 2 〈α′′(t1), α(t1)− P0〉 ≤ 0, poisopontoe´dema´ximo. A primeira equac¸a˜o nos diz que as retas tangentes de α e Circ(α) coincidem em t1, enquanto que a segunda equac¸a˜o, devido a orientac¸a˜o de α, implica que; dividindo ambos os membros por 2 e usando que 〈x, x〉=‖x2‖, 0 ≥ ‖α′(t1)‖2 + 〈α′′(t1)−R0N(t1)〉 = 1− k(t1)R0, o que conclui a prova. Agora usando os resultados obtidos acima iremos demonstrar o Teorema principal. demonstrac¸a˜o do Teorema 1. : Suponha α orientada positivamente. Pelo lema 3, existem pelo menos dois pontos P e Q do trac¸o de α pertencentes ao Circ(α). Vamos considerar Γ1 e Γ2 os arcos do trac¸o de de α determinados por P e Q. se alguns desses arcos estivessem inteiramente contido em Circ(α), a curvatura de αao longo desse arco seria constante e, portanto, α possuiria um numero infinito de ve´rtices. Vamos supor enta˜o que Γ1 e Γ2 na˜o esta˜o contidos em Circ(α). Afirmac¸a˜o 1. : Em cada Γi, i=1,2, existe um ponto α(ti), tal que k(ti) < 1 R0 , onde k(ti) e a curvatura de α em ti e R0 e´ o raio de Circ(α). Observe que, pelo lema 2, a curva α intersecta todo semi-c´ırculo fechado de Circ(α). Por- tanto, trocando Γi por algum sub-arco de Γi, podemos supor que os extremos de Γi esta˜o em um semı´-c´ırculo fechado de Circ(α). Como estamos supondo que o nu´mero de ve´rtices de α e´ finito, γi 6⊂ Circ(α), e, portanto, existe Qi ∈ Γi que pertence ao interior do disco D, delimitado por Circ(α). Ale´m disso, a reta que passa por P e Q intersecta Circ(α) transversalmente. Logo, pelo Lema 4, ela e´ transversal ao trac¸o de α, o que implica que existem pontos do trac¸o de α de amobos os lados dessa reta. Fixe um dos arcos Γi e, por 20 simplicidade, denote-o por Γ. Escolha o sistema de coordenadas Oxy de R2 de modo que a reta que passa por P e Q seja o eixo Oy, o centro de Circ(α) esteja sobre o eixo Ox e Γ possua pontos com coordenada x positiva(veja a figura abaixo). Nesse sistema de coordenadas, o centro de Circ(α) e´ da forma (x0, 0), com x0 ≤ 0. Seja S ∈ Γ um ponto no interior de D, e seja M o c´ırculo determinado por P,Q e S. Visto que S esta´ no interior de uma metade de D, o raio R¯ de M e´ estritamente maior que R0. O centro de M e´, portanto, um ponto da forma (λ, 0) com λ < 0. Considere Mi o c´ırculko de centro (λ− t, 0), t ∈ R, t ≥ 0 e raio R¯. Como Γ e´ um arco fechado, existe um u´ltimo valor de t para o qual Mi intersecta o arco Γ. Seja t1 ∈ R, tal que Mi ∩ Γ 6= ∅, pore´m, para todo t > t1, Mi ∩ Γ = ∅. Denote por M1 o c´ırculo Mt1, e seja Q¯ ∈Mt1 ∩ Γ. 21 Observe que em Q¯, as retas tangentes a Γ e M1 coincidem e, numa vizin- hanc¸a desse ponto,Γ fica no exterior de M1. Como o vetor normal a` α em Q¯ aponta para o interior de M1, um argumento ana´logo ao do Lema 4 implica que a curvatura em Q¯ satisfaz kQ¯ ≤ 1 R < 1 R0 , o que prova a afirmac¸a˜o. Decorre da afirmac¸a˜o 1 que, em cada arco Γi, α possui pontos onde a cur- vatura e´ menor que a curvatura em seus extremos. Portanto a curvatura de α possui um mı´nimo em cada Γi, digamos em α(t¯1), com k(t¯1) ≤ 1 R < 1 R0 , Logo a curva α possui pelo menos dois ve´rtices. Agora observe que os arcos determinados pelos pontos α(t¯1) possuem pontos, P e Q, com curvatura maior que a curvatura em seus extremos. Assim a curvatura de α possui um ma´ximo em cada um desses arcos, o que implica que α possui pelo menos mais dois ve´rtices, portanto, totalizando pelo menos quatro ve´rtices. 22 APEˆNDICE NOC¸O˜ES DE ALGEBRA LINEAR 3.1 PRODUTO INTERNO Definic¸a˜o 11. : Seja V um espac¸o vetorial real. Um produto interno sobre V e´ uma func¸a˜o que a cada par de vetores, v1, v2 associa um nu´mero real, denotado 〈v1, v2〉. Proposic¸a˜o 12. : Todo produto interno satisfaz as seguintes propriedades: 1. 〈v, v〉≥ 0, ∀v e 〈v, v〉 = 0 ⇔ v = 0 2. 〈αv1, v2〉=α 〈v1, v2〉 ∀α ∈ R 3. 〈v1 + v2, v3〉=〈v1, v3〉+〈v2, v3〉 4. 〈v1, v2〉=〈v2, v1〉 Demonstrac¸a˜o. 1. Seja v = (x, y, z), enta˜o 〈v, v〉=(x, y, z)(x, y, z) = x2 + y2 + z2 = v2 = |v|2 ≥ 0 2. Dados α ∈ R e v1 = x1, y1, z1 e v2 = x2, y2, z2, logo 〈αv1, v2 =〉=(αx1, αy1, αz1)(x2, y2, z2) = αx1x2+αy1y2+z1z2 = α(x1x2+ y1y2 + z1z2) = α 〈v1, v2〉 3. Sejam v1 = (x1, y1, z1); v2 = (x2, y2, z2) e v3 = (x3, y3, z3), enta˜o 〈v1 + v2, v3〉 = 〈((x1, y1, z1) + (x2, y2, z2)), (x3, y3, z3)〉 = 〈(x1 + x2, y1 + y2, z1 + z2)(x3, y3, z3)〉 = (x1x3 + x2x3 + y1y3 + y2y3 + z1z3 + z2z3) = (x1x3 + y1y3 + z1z3) + (x2x3 + y2y3 + z2z3) = 〈v1, v3〉+ 〈v2, v3〉 23 4. Sejam v1 = (x1, y1, z1); v2 = (x2, y2, z2), enta˜o 〈v1, v2〉 = 〈(x1, y1, z1)(x2, y2, z2)〉 = x1x2 + y1y2 + z1z2 = x2x1 + y2y1 + z2z1 = 〈v2, v1〉 Definic¸a˜o 12. : Seja V um espac¸o vetorial com produto interno 〈〉. Diz-se que dois vetores de V sa˜o ortogonais (em relac¸a˜o a este produro interno) se 〈v, w〉=0. No caso em que v e w sa˜o ortogonais denotamos por v⊥w. Proposic¸a˜o 13. : Em relac¸a˜o ao produto interno valem as seguintes pro- priedades: 1. 0⊥v, ∀ v ∈ V 2. v⊥w ⇒ w⊥v 3. se v⊥w, ∀ w ∈ V, enta˜o v=0 4. se v⊥w e λ e´ um escalar, enta˜o λv⊥w. 5. se v1⊥w e v2⊥w, enta˜o v1 + v2⊥w. Demonstrac¸a˜o. 1. 0 = 0.v ⇒ 〈0, v〉=〈0.v, v〉=0. 〈v, v〉=0 2. Sejam v = (x1, y1, z1) w = (x2, y2, z2), como v⊥w, enta˜o: 〈v, w〉=0, segue que: 〈v, w〉=〈(x1, y1, z1), (x2, y2, z2)〉=x1x2 + y1y2 + z1z2 = x2x1 + y2y1 + z2z1=〈w, v〉=0, portanto w⊥v 3. tome w=v e pela propriedade 1 da proposic¸a˜o anterior 〈w, v〉 = 〈v, v〉=0,logo v=0. 4. como v⊥w,temos 〈v, w〉=0, logo por 2 da proposic¸a˜o anterior 〈v, w〉=0⇒ 〈λv, w〉=λ〈v, w〉= λ.0 = 0 3.2 PRODUTO VETORIAL Nesta sec¸a˜o faremos o estudo de algumas das propriedades do produto vetorial em R3. Tais propriedades nos sera˜o u´teis no decorrer dessa mono- grafia. 24 Definic¸a˜o 13. : Dados dois vetores w1 e w2 de componentes w1 = (x1, y1, z1) e w2 = (x2, y2, z2). O produto vetorial de w1 e w2 denotado por w1 × w2, e´ definido como sendo o vetor de componentes w1 × w2 = (y1z2 − y2z1,−x1y2 + x2y1, x1y2 − x2y1). Proposic¸a˜o 14. : O produto vetorial satisfaz as seguintes propriedades: 1. |w1 × w2| = |w1| |w2| sin θ, onde θ e´ o aˆngulo entre w1 e w2.2. 〈w1 × w2, w1〉=〈w1 × w2, w2〉=0 3. w1 × w2 = 0, se e so´ se, w1 e w2 sa˜o linearmente dependentes. 4. w1 × w2 = −(w2 × w1) 5. w1 × (w2 + w3) = w1 × w2 + w1 × w3 6. (λw1)× w2 = λ(w1 × w2) 7. w1 × (w2 × w3) = 〈w1, w3〉w2 − 〈w1, w2〉w3. Onde w1, w2, w3 sa˜o vetores e λ e´ um nu´mero real. Proposic¸a˜o 15. :Seja P um plano em R3 dado pela equac¸a˜o ax+by+cz+d = 0, enta˜o o vetor (a,b.c) e´ perpendicular ao plano. Demonstrac¸a˜o. : Sejam p0 = (x0.y0, z0) e p = (x, y, z) pontos pertencentes ao plano P. Enta˜o ax0 + by0 + cz0 + d = 0 = ax + by + cz + d. Assim, a(x− x0) + b(y − y0) + c(z − z0) = 0. Como o vetor (x− x0, y − y0, z − z0) e´ paralelo a P. O vetor (a,b,c) e´ normal a P. 25
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