Buscar

Direito penal III

Prévia do material em texto

1 Introdução
1.1 Visão geral da matéria
1.2 Critérios de classificação dos crimes na parte especial
Importância dos bens; é dividido por títulos e nos títulos temos os capítulos e alguns capítulos são divididos em seções, como o dos crimes contra a liberdade individual.
1.3 Estudo estrutural do tipo
Sendo o tipo a descrição do comportamento ilícito e compreendendo as características ou elementos objetivos ( tipo objetivo) e subjetivos (tipo subjetivo) do fato punível.
2 Dos crimes contra a pessoa
2.1 Dos crimes contra a vida
CAPÍTULO 
DOS CRIMES CONTRA A VIDA
Homicídio simples
Art 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
1. Objetividade Jurídica: Tutela-se a vida extra-uterina, iniciada com o parto. Para Noronha, mesmo não tendo havido desprendimento das entranhas maternas, já se pode falar em início do nascimento, bastando a dilatação do colo do útero.
2. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa ( crime comum)
Obs.1: xifópagos ( irmãos ligados)
3. Sujeito Passivo: Qualquer pessoa.
Obs.2: Se a vitima for Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do STF, e o agente tiver motivação e objetivos políticos, o crime, em face do princípio da especialidade, será o do art. 29 da lei de Segurança Nacional ( lei 7.170/83)
4. Tipo Objetivo: A conduta típica é matar alguém, ou seja eliminar a vida de uma pessoa humana.
5. Tipo Subjetivo: A forma dolosa( direta ou eventual) , §§ 1º e 2º. A culpa vem tipificada no § 3º. O homicídio preterdoloso ( dolo na lesão e culpa na morte) se ajusta ao disposto no art.129,§3º.
6. Consumação e tentativa: Consuma-se com a morte, caracterizada pela cessação de atividade encefálica do ofendido ( crime material)
Obs.2: O homicídio será hediondo quando qualificado ( não importando a circunstância qualificadora) ou no caso de ser praticado em atividade típica de grupo de extermínio ( chacina, matança generalizada), mesmo que por um único executor do grupo.
7. Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Motivo de relevante valor social: diz respeito aos interesses de toda uma coletividade, logo, nobre e altruístico. ( ex.: indignação contra um traidor da pátria).
Relevante valor moral: liga-se aos interesses individuais.
E a última: logo em seguida a injusta provocação da vítima.Em regra, os Tribunais têm aceitado a violenta emoção do marido que colhe a mulher em flagrante adultério.
Essas circunstâncias (subjetivas) não se comunicam ( art.30 do C.P).
8.Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; ( chamado homicídio mercenário, ocorre quando o agente ou recebe um pagamento para praticá-lo ou comete ou o comete apenas porque obteve a promessa de ser recompensado pelo ato. A recompensa, segundo alguns doutrinadores, deve ser uma vantagem econômica, podendo consistir não só em dinheiro, como também em perdão de dívida, promoção em emprego e etc.) e torpe ( repugnante, ex.: jovem que matou a namorado por saber que não era mais virgem); 
II - por motivo fútil ( diferente de ausência de motivos);
III - com emprego de veneno ( se for forçada é meio cruel) , fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ( fraude, ex.: a sabotagem) ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (ex.: incêndio, deslizamento);
IV - à traição( marido que esgana a esposa durante a relação sexual), de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido( ex.: dormindo), ( dissimulação: distrai a atenção da vitima, ex.: borda de um poço);
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime ( conexão):
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Obs.: os motivos que qualificam o crime de homicídio, na hipótese de concurso de pessoas, são incomunicáveis, pois, a motivação é individual, e não constituem elementares típicas, salvo mediante paga ou promessa de recompensa, que trata-se de crime bilateral ou de concurso necessário. 
Obs.3: Tratar-se-á de genocídio se o homicídio for praticado com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso ( art. 1º da lei nº2.889/56)
9. O homicídio pode ser privilegiado-qualificado?
Sim, desde que as circunstância qualificadora que concorre com o privilégio seja objetiva ( incs.III e IV ).
10. O Homicídio privilegiado-qualificado é crime hediondo?
Duas correntes:
1c) Não. Fazendo uma analogia ao disposto no art. 67 do C.P, conclui que o privilégio, sempre subjetivo, é circunstância preponderante, desnaturando a hediondez do delito ( é a que prevalece no STF e STJ).
2c) O art. 67 não serve para analogia, pois trata do concurso de agravantes e atenuantes. No caso do homicídio privilegiado-qualificado estamos diante de um elemento qualificador e de uma causa de diminuição de pena, situação claramente distinta. 
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
Se o homicídio culposo ocorreu na direção de veículo automotor, aplica-se o disposto no art. 302 do CTB ( principio da especialidade), com pena mais rigorosa ( detenção , de 2 a 4 anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir). A diferença das reprimendas ( apesar de o mesmo resultado) faz com que parcela da doutrina questione a constitucionalidade das consequências trazidas pelo CTB. Prevalece, todavia, que é constitucional, atentando-se para o maior desvalor da conduta ( negligência no trânsito é mais perigosa).
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Obs.: Essa majorante, culposa, só aplica para o profissional.Perdão Judicial
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária
É causa extintiva de punibilidade ( CP, art.107, IX). O juiz, analisando as circunstâncias que envolvem o caso concreto, decidirá sobre a sua aplicação. Diferentemente do perdão do ofendido ( CP, art. 107, V), o perdão judial não precisa ser aceito para gerar efeitos ( ato unilateral).
Ação Penal: Pública incondicionada.
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
1. Objetividade Jurídica: Tutela-se a vida humana.
2. Sujeito ativo: Qualquer pessoa ( crime comum ).
3. Sujeito passivo: Pessoa capaz ( com consciência e discernimento ). Sendo incapaz, o crime praticado por quem a induziu, instigou ou auxiliou será de homicídio, encarando-se a incapacidade da vítima como mero instrumento daquele que lhe provocou a morte.
Obs.1: Não haverá crime se o induzimento for genérico, dirigido a pessoa incertas ( ex.: espetáculos, obras literárias endereçadas ao público em geral, discos etc.).
4.Conduta: Existem três formas de praticar o crime:
4.1 Participação moral
Induzimento: o agente faz nascer na vítima a idéia de se matar.
Instigação: o autor reforça a vontade mórbida preexistente na vítima.
4.2 Participação material
Auxilio: o agente presta efetiva assistência material, emprestando objetos ou indicando meios, sem intervir nos atos executórios.
Obs.2: o auxilio deve ser sempre acessório ( cooperação secundária ). Deixa de haver participação em suicídio quando o auxílio intervém diretamente nos atos executórios, caso em que o agente colaborador responderá por homicídio. 
Obs.3: prevalece o entendimento de que é admitida a conduta omissiva ( garantidor ).
5. Tipo Subjetivo: Dolo. Não se admite a forma culposa.
Obs.4: Crime material.É possível a tentativa, que se chama: “Tentativa qualificada”
6. Consumação e tentativa:Prevalece que o crime se consuma com a ocorrência do resultado morte ( pena de 2 a 6 anos ) ou lesão grave ( pena de 1 a 3 anos ), não admitindo a tentativa.
7 Causa de aumento de pena: a pena será duplicada se o agente é movido por motivo egoístico ( exemplo: buscando receber herança do suicida ou ocupar seu nobre cargo), ou se a vítima é menor ou diminuída a capacidade de resistência.
Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos
1. Objetividade jurídica: Tutela-se a vida. Estamos diante de forma especial de homicídio. É o homicídio praticado pela genitora contra o próprio filho, influenciada pelo estado puerperal, durante ou logo após o parto.
2. Sujeito ativo: Trata de crime próprio, só podendo ser praticado pela mãe (parturiente), sob influência do estado puerperal. 
2.1. Concurso de agentes: A doutrina, em sua maioria, admite concurso de agentes: participação ( quando há simples auxilio) e coautoria (quando outrem pratica, juntamente com a mãe, o núcleo do tipo), concluindo que o estado puerperal é elementar subjetiva do tipo, comunicável nos termos do art. 30 CP.Há opiniões em sentido contrário, alegando que estado puerperal é condição personalíssima(corrente minoritária – Hungria).
Obs.1: No caso de terceiro pratica o crime sozinho, incentivado pela parturiente em estado puerperal. Tecnicamente ambos respondem por homicídio, contudo, percebendo que se a mãe mata a criança, responde por delito menos grave ( infanticídio), a incoerência é solucionada com os dois agentes respondendo por infanticídio ( minoria), para outros, o terceiro responde por homicídio e a parturiente por infanticídio( maioria).
Obs.2: Não se aplica as agravantes do art.61, II, e, h. para não configurar bis in idem.
3. Sujeito Passivo: O ser humano, durante o parto ou logo após.
4. Conduta: Pune-se a conduta da parturiente que, sob influência do estado puerperal, mata o próprio filho. Percebe-se a existência de duas circunstâncias elementares importantes, sem as quais não se cogita de infanticídio:
a)elemento cronológico: causar a morte do próprio filho, durante ou logo após o parto, não importando, em tese, se o estado puerperal dura mais tempo, porém a doutrina tem sustentado que se deve dar uma interpretação mais ampla, para abranger todo o período do estado puerperal( seis a oito semanas);
b) elemento etiológico: ter agido esta sob a influência do estado puerperal ( deve ser provado) . Entende-se por estado puerperal aquele que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições pré-gravidez (puerpério), trazendo profundas alterações psíquicas e físicas, transformando a mãe, deixando-a sem plenas condições de entender o que está fazendo. O Brasil adotou o critério fisiopsicológico.
4.1 psicose puerperal: perde todo o controle (inimputável); depressão pós-parto: pode configurar semi-imputabilidade. 
5. Tipo Subjetivo: dolo – direto ou eventual.
Obs.2: Por qual crime responde a mãe que, sob influência do estado puerperal, imprudentemente mata o filho récem-nascido?
1-c) Nenhum, pois o fato é atípico, vez que é inviável, na hipótese, atestar a ausência da prudência (diligência) normal em mulher desequilibrada psiquicamente.
2-c) Tipifica homicídio culposo. O estado puerperal será matéria decisiva para a dosagem da pena. Corrente majoritária.
Obs.3: Se, por exemplo, extemporaneamente, o organismo feminino expulsa um feto que, por sua própria imaturidade, é inviável, mas tem sua morte inevitável antecipada por ato violento da gestante, estaríamos diante de aborto ou infanticídio? Seria crime?
Resposta: Não se trata de infanticídio por faltar-lhe o “durante ou logo após o parto”. Essa expulsão extemporânea não se confunde com parto, mesmo prematuro, e a expulsão não foi de alguém nascente, mas somente de um feto inviável. No entanto, não se configura aborto, uma vez que a expulsão do feto deu-se espontaneamente. Deste modo o fato é atípico.
Obs.4: Haverá crime impossível ( absoluta impropriedade do objeto) quando a mãe, supondo estar viva, pratica o fato com a criança morta.Não existirá crime, igualmente, quando a criança nasce morta e a mãe, com auxílio de alguém, procura desfazer-se do cadáver abandonando-o em lugar ermo.
6. Consumação e tentativa: Consuma-se com a morte do nascente ou neonato. É crime material. A tentativa é admissível ( delito plurissubsistente).
7. Confronto: Não se confunde o crime em tela com o crime de abandono de recém nascido com resultado morte ( art. 134, §2º):
Infanticídio: é crime contra a vida; é julgado pelo tribunal do júri; o agente age com dolo de dano; a morte é dolosa.
Abandono de recém nascido (art. 134§2º): é crime de periclitação da vida ou saúde; é julgado pelo juízo singular; o agente age com dolo de perigo; a morte é culposa.
8 Classificação doutrinária
Crime próprio, material, de dano, plurissubsistente, instantâneo, e doloso.
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
1. Objetividade jurídica: tutela-se a vida intra-uterina.
1.1 inicio da gravidez: prevalece que o inicio se da com a nidação. Com esse entendimento pode-se dizer que a “ pílula do dia seguinte” não configura método abortivo.
2. Sujeito ativo: as duas condutas só podem ser praticadas pela mulher grávida. Portanto trata-se de crime de mão própria.
3. Sujeito passivo: É o produto da concepção.
4. Conduta: duas formas de conduta.
5. Tipo subjetivo:dolo.
6. Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do produto da concepção. É possível a tentativa.
Obs.: É cabível a suspensão condicional do processo. Art.89 lei 9099/95
 Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
1. Objetividade jurídica: vida intra – uterina
2. Sujeito Ativo: Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
3. Sujeito Passivo: Há dupla subjetividade passiva. 
4. Conduta: Consiste em interromper, violenta e intencionalmente, uma gravidez, destruindo o produto da concepção, sem o consentimento válido da gestante.
4.1 Se a gestante for menor de quatorze anos, alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, seu consentimento não será válido.
5. Tipo Subjetivo: Dolo.
6. Consumação e tentativa: Consuma-se com a destruição do produto da concepção. Admite-se a tentativa.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
1. Objetividade jurídica: vida intra-uterina.
2. Sujeito Ativo: Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
3. Sujeito Passivo: É o produto da concepção.
4. Conduta: Provocar (ação ou omissão), a interrupção da gravidez.
4.1 O consentimento deve perdurar durante toda a execução.
5. Tipo Subjetivo: Dolo.
6. Consumação e tentativa: consuma-se com a interrupção da gravidez, sendo possível a tentativa.
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
1. Breve comentários: Não é forma qualificada, pois, não aumenta a pena no mínimo e no máximo, desse modo, trata-se de causa de aumento de pena ( majorantes).
Obs.: O art.124 não é abrangido por essa majorante, pois o direito penal não pune a autolesão. Da mesma forma não aplica-se esta causa de aumento ao participe do art. 124.
Obs.: Trata-se de crime preterdoloso. Os crimes preterdoloso não admitem tentativa. E se a mãe sofresse lesão corporal grave ou morresse e não houvesse o aborto. Neste caso, o agente responderá por tentativa de aborto qualificado? Seria uma exceção à regra de que não cabe tentativa em crime preterdoloso?
1ª C) Entende que o agente responderá pelo crime consumado, aplicando o mesmo espírito da súmula 610 do STF.
2ª C) Entende-se que se trata de uma hipótese de crime preterdoloso tentado. É a doutrina majoritária.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário ( terapêutico)
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro ( sentimental ou humanitário)
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
1. Breves comentários: A maioria da doutrina entende que trata-se de causa de exclusão da ilicitude.
2. O médico não precisa de consentimento da gestante, no caso do inc. I
3. Aborto realizado por quem não é medico ( inciso I e II)
4. Crimes de aborto e comunicação falsa de crime (na hipótese de aborto sentimental)
5. Aborto eugenésico
Questões Especiais
1.Homicídio doloso de mulher grávida e aborto: se o agente sabia que a mulher estava grávida, responde por dois crimes em concurso formal próprio ou impróprio, depende se tinha desígnios autônomos ou não ( art.70 do C.P). Caso não saiba que a mulher estava grávida, responde somente por homicídio.
2. Latrocínio de mulher grávida e aborto: Segue o mesmo raciocínio do item anterior.
3. Aborto de gêmeos: Segue o mesmo raciocínio do primeiro item.
4. Anuncio de meios abortivos ( art.20 da LCP)
5. Classificação doutrinária: Trata-se de crime de mão própria ( art.124) e crime comum (125 e 125); de dano; material; instantâneo e doloso.
Ação penal e competência.
Das Lesões Corporais
1. O crime de lesões corporais subdivide-se em duas categorias: a das lesões dolosas e a das lesões culposas. A modalidade dolosa possui quatro figuras, que dependem do resultado provocado na vítima. Assim, a lesão dolosa pode ser leve, grave, gravíssima ou seguida de morte.
Lesões leves
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
1. Objetividade jurídica: a manutenção da integridade física e da saúde das pessoas.
2. Sujeito ativo: qualquer pessoa ( crime comum)
Obs.: Se o agressor for policial em serviço, responde também por abuso de autoridade.
3. Sujeito passivo: qualquer pessoa
Obs.: Não pune a auto lesão, salvo se for com outros fins (art.171, §2º do C.P. e art. 184 do C.P.M) 
Obs.: O feto não pode ser sujeito passivo do crime de lesões corporais. Se o agente, intencionalmente, ministra medicamento a fim de provocar deformidade no feto, o fato é atípico.
4. Conduta: ofensa a integridade corporal ou à saúde.
4.1 Ofensa à integridade corporal: Pressupõe que o ato agressivo rompa ou dilacere algum tecido do corpo da vítima, externa ou internamente. Ex.: escoriações, equimose, cortes, fraturas, fissuras, hematomas, luxações, rompimento de tendões ou ligamento, queimadura e etc.
Obs.: a dor, em si mesma, desacompanhada de alteração anatômica ou ofensa à saúde, não constitui lesão.
Obs.: O corte de cabelo ou barba, não autorizado pela vítima, constitui lesão corporal, ainda que a intenção do agente seja obter vantagem econômica. Se, todavia, a intenção de quem corta os cabelos é a de humilhar a vítima, estará caracterizada uma forma qualificada do crime de injúria, chamada de injúria real. E se o agente raspa o cabelo de uma criança ou adolescente que está sob sua guarda, autoridade ou vigilância, a fim de causar vexame, haverá crime mais grave, descrito no art. 232 do ECA.
4.2 Ofensa à saúde
Abrange a provocação de perturbações fisiológicas ou mentais na vítima. Ex. fisiológica: ministrar alimentos ou medicamentos na bebida da vítima que provoquem diarréia, vômito ou náuseas. Ex. mentais: provocar convulsão, choque nervoso, doenças mentais e etc.
5. Meios de execução: ação ou omissão.
6. Consumação e tentativa: no momento em que ocorre a ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítima. A tentativa é possível.
7. Distinção entre a tentativa de lesões corporais e a contravenção de vias de fato( art.21 da LCP)
Na tentativa, o agente quer lesionar a vítima e não consegue por circunstâncias alheias à sua vontade. Na contravenção, fica demonstrado que o agente, desde o início , não tina a intenção de machucar a vítima.Ex.: empurrão, tapa, beliscão e etc.
8. Distinção entre tentativa de lesões corporais e o crime de periclitação da vida e da saúde do art.132 do Código Penal.
Na tentativa o agente, por circunstâncias alheias à sua vontade, não consegue concretizar a lesão que pretendia causar na vítima, enquanto no crime de perigo, a intenção é apenas de assustá-la, provocando-lhe situação de risco.
9. Tipo subjetivo: Dolo e culpa
10. Ação Penal: A ação penal é pública incondicionada, salvo nos casos de Lesão corporal leve:
 Lei 9.099/95 - art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
11. Lesão corporal grave:(qualificadora: aumenta a pena no mínimo e no máximo)
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
11.1 - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias: a atividade habitual a quese refere a lei é qualquer ocupação rotineira, do dia a dia da vítima, como andar, praticar esportes, alimentar-se, estudar, trabalhar etc. Desse modo crianças e aposentados também podem ser vítima desse crime.
Obs.: A vergonha de sair de casa não configura a hipótese em comento.
Obs.: a consumação do crime se dá no momento da lesão, porém para configurar o inciso I deve ser feito um exame complementar, conforme o C.P.P:
Art. 168.  Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.
§ 1o  No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
§ 2o  Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
§ 3o  A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.
11.2. Perigo de vida: é a possibilidade grave e imediata de morte. O perigo deve ser comprovado por perícia médica, e esta deve especificar em que o consistiu o perigo de vida.
11.3. Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
11.3.1 Debilidade: é sinônimo de redução ou enfraquecimento.
11.3.2 Membros: braços e pernas. Ex.: perda de um dedo, redução na mobilidade e etc.
11.3.3 Sentidos: Tato, olfato, paladar, visão e audição. Ex: redução na visão.
Obs.: A cegueira total de um olho ou a perda total da audição de um só ouvido, constitui mera debilidade , ou seja, lesão grave. Esse é o entendimento predominante na doutrina e na jurisprudência.
11.3.4 Funções: reprodutora, mastigatória, excretora, circulatória, respiratória e etc. Ex.: perda de um ou mais dentes ( mastigatória); dificuldade para respirar; perda de um testículos. 
11.3.5 Aceleração de parto: O agente deve saber da gravidez e a aceleração do parto provoca nascimento prematuro.
12. Lesões corporais gravíssimas: Essa denominação é doutrinária.
§ 2° Se resulta: (qualificadora: aumenta a pena no mínimo e no máximo)
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
12.1 Incapacidade permanente para o trabalho: É a que impede o exercício do trabalho em geral. Exige-se, portanto, a incapacitação genérica e não específica em relação ao trabalho.
12.2 Enfermidade incurável: Enfermidade incurável é a doença cuja cura não é conseguida no atual estágio de medicina, pressupondo um processo patológico que afeta a saúde em geral. Ex.: Quando agressão corporal provoca, por exemplo, a fratura de um osso da perna, pode suceder que o ofendido se cure da lesão, mas permaneça coxo, isto é, com debilidade permanente em um membro. Todavia, se ele não se cura e no osso fraturado forma-se a sede de ‘um processo osteomielítico tuberculoso’, provavelmente incurável, verifica-se a existência de enfermidade incurável.
12.3 Perda ou inutilização do membro, sentido ou função: A perda de membro pode se dar pro mutilação ou amputação. Mutilação: é o próprio golpe do agente que extirpa parte do corpo; Amputação: decorre do golpe, mas a retirada é feita por intervenção cirúrgica. A inutilização do membro pressupõe que ele permaneça, ainda que parcialmente, ligado ao corpo da vítima, mas incapacitado de realizar suas atividades próprias. Ex.: a perda de um dedo (lesão grave); a perda da mão ( inutilização do membro – lesão gravíssima); extirpação do braço ( perda do membro – lesão gravíssima).
12.4 Sentidos: Ex.: Cegueira completa dos dois olhos ( perda) 
12.5 Função: Ex.: Perda dos Testículos.
 Obs.: A extirpação do pênis também é exemplo de lesão gravíssima - perda de função sexual reprodutora.
12.6 Deformidade permanente: Deve ser dano estético; que seja um dano de certa monta; que seja permanente; que seja visível; e que provoque vexame.
Obs.: se a vítima fizer cirurgia plástica e recuperar, não se trata da qualificadora em analise.
Obs.: considera visível as partes do corpo vistas com roupa de banho.
12.7 Aborto: O agente deve saber que a vítima estava grávida, e o aborto não pode ter sido querido pelo agente, pois se fosse, seria o crime do art. 125.
13. Lesão Corporal Seguida de morte: trata-se de modalidade exclusivamente preterdolosa (dolo na lesão corporal e culpa na morte).
Lesão corporal seguida de morte (qualificadora: aumenta a pena no mínimo e no máximo)
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Obs.: Se o agente comete vias de fato e de forma culposa o agente morre, trata-se de homicídio culposo.
Obs.: Não cabe tentativa.
14.Lesão corporal privilegiada
Diminuição de pena (causa de diminuição de pena – minorante – trata-se de fração)
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Obs.: o privilégio é aplicado a todas as formas de lesão dolosa, porém não é aplicada na lesão culposa.
 15. Substituição da pena leve
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
16. Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
17. Causas de aumento de pena ( causa de aumento – majorante – trata-se de fração)
§ 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º.
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
18. Perdão judicial
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121
5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária
19. Violência domestica ( qualificadoras)
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
 Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
§ 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
(Causa de aumento – majorante – trata-se de fração)
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
§ 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
19.1 Lei Maria da Penha: Nesta lei quando a vítima for mulher não aplica-se os institutos da lei 9.099/95:
Lei Maria da Penha – lei 11.341/06- Art. 41.  Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
19.2 E a representação, prevista no art. 16 da lei Maria da Penha:
Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
ADC e Lei Maria da Penha - 1
O Plenário julgou procedente ação declaratória, ajuizada pelo Presidente da República, para assentar a constitucionalidade dos artigos 1º, 33 e 41 da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Inicialmente, demonstrou-se a existência de controvérsia judicial relevante acerca do tema, nos termos do art. 14, III, da Lei 9.868/99, tendo em conta o intenso debate instaurado sobre a constitucionalidade dos preceitos mencionados, mormente no que se refere aos princípios da igualdade e da proporcionalidade, bem como à aplicação dos institutos contidos na Lei 9.099/95. No mérito, rememorou-se posicionamento da Corte que, ao julgar o HC 106212/MS (DJe de 13.6.2011), declarara a constitucionalidade do art. 41 da Lei Maria da Penha (“Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995”). Reiterou-se a ideia de que a aludida lei viera à balha para conferir efetividade ao art. 226, § 8º, da CF. Consignou-se que o dispositivo legal em comento coadunar-se-ia com o princípio da igualdade e atenderia à ordem jurídico-constitucional, no que concerne ao necessário combate ao desprezo às famílias, considerada a mulher como sua célula básica. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012. (ADC-19)
Em seguida, o Plenário, por maioria, julgou procedente ação direta, proposta pelo Procurador Geral da República, para atribuir interpretação conforme a Constituição aos artigos 12, I; 16 e 41, todos da Lei 11.340/2006, e assentar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão corporal, praticado mediante violência doméstica e familiar contra a mulher. Preliminarmente, afastou-se alegação do Senado da República segundo a qual a ação direta seria imprópria, visto que a Constituição não versaria a natureza da ação penal — se pública incondicionada ou pública subordinada à representação da vítima. Haveria, conforme sustentado, violência reflexa, uma vez que a disciplina do tema estaria em normas infraconstitucionais. O Colegiado explicitou que a Constituição seria dotada de princípios implícitos e explícitos, e que caberia à Suprema Corte definir se a previsão normativa a submeter crime de lesão corporal leve praticado contra a mulher, em ambiente doméstico, ensejaria tratamento igualitário, consideradas as lesões provocadas em geral, bem como a necessidade de representação. Salientou-se a evocação do princípio explícito da dignidade humana, bem como do art. 226, § 8º, da CF. Frisou-se a grande repercussão do questionamento, no sentido de definir se haveria mecanismos capazes de inibir e coibir a violência no âmbito das relações familiares, no que a atuação estatal submeter-se-ia à vontade da vítima.
ADI 4424/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012. (ADI-4424)
Entendeu-se não ser aplicável aos crimes glosados pela lei discutida o que disposto na Lei 9.099/95, de maneira que, em se tratando de lesões corporais, mesmo que de natureza leve ou culposa, praticadas contra a mulher em âmbito doméstico, a ação penal cabível seria pública incondicionada. Acentuou-se, entretanto, permanecer a necessidade de representação para crimes dispostos em leis diversas da 9.099/95, como o de ameaça e os cometidos contra a dignidade sexual. Consignou-se que o Tribunal, ao julgar o HC 106212/MS (DJe de 13.6.2011), declarara, em processo subjetivo, a constitucionalidade do art. 41 da Lei 11.340/2006, no que afastaria a aplicação da Lei dos Juizados Especiais relativamente aos crimes cometidos com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista.
ADI 4424/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012. (ADI-4424)
20. Questões especiais
20.1 Intervenção cirúrgicas: em caso de emergência, seria estado de necessidade, ex.: paciente que chega desacordado em hospital; em caso de cirurgia corretiva ou terapêutica com previa autorização, seria exercício regular de direito, ex.: obstrução nasal; em caso de cirurgia estética, aplica-se o mesmo raciocínio da cirurgia terapêutica. Nota-se que com exceção da emergência os outros casos necessita de autorização, porém nas três situações será excluída a ilicitude. No primeiro caso exclui a ilicitude por ser estado de necessidade e nos outros por ser exercício regular de um direito, conforme o art. 23 do C.P:
Exclusão de ilicitude(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - em legítima defesa;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
20.2 Lesões esportivas: dentro das regras do jogo, exclui a ilicitude por ser exercício regular de direito.
20.3 Estatuto do torcedor: caso se concretizem lesões corporais em terceiros, caberá aos tribunais definirem se estas absorvem o novo crime ou o contrário ou, ainda, se ambos subsistem em concurso (material ou formal).
‘Art. 41-B.  Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restrito aos competidores em eventos esportivos:  
Pena - reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa.  
§ 1o  Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que: 
I - promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de 5.000 (cinco mil) metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante o trajeto de ida e volta do local da realização do evento; 
II - portar, deter ou transportar, no interior do estádio, em suas imediações ou no seu trajeto, em dia de realização de evento esportivo, quaisquer instrumentos que possam servir para a prática de violência. 
21. Classificação Doutrinária: Crime comum; crime material e de dano; instantâneo; podendo ser doloso, culposo e preterdoloso.
AÇÃO PENAL
1. Ação penal pública incondicionada: é aquela titularizada pelo Ministério Público e que não precisa de manifestação de vontade da vítima ou de terceiros para ser exercida. É a regra geral.
1.1. Ação penal pública condicionada: é também titularizada pelo Ministério Público, pois, trata-se de ação pública. Entretanto, porque há ofensa à vítima em sua intimidade, para o seu exercício válido, necessita de representação (condição) ou requisição do ministro da justiça ( condição).
2. Ação penal privada: Nestas hipóteses, a persecução criminal é transferida excepcionalmente ao particular que atua em nome próprio.
3. Dispositivos legais:
3.1 Código Penal:
TÍTULO VII
DA AÇÃO PENAL
Ação pública e de iniciativa privada
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguirna ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
A ação penal no crime complexo
Art. 101 - Quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Irretratabilidade da representação
Art. 102 - A representação será irretratável depois de oferecida a denúncia. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Decadência do direito de queixa ou de representação
Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Renúncia expressa ou tácita do direito de queixa
Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou tacitamente.   (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Perdão do ofendido
Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - se o querelado o recusa, não produz efeito. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
	
3.2 Código de processo penal:
TÍTULO III
DA AÇÃO PENAL
Art. 24.  Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
(...)
Art. 44.  A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.
(...)

Continue navegando